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Folhetim do
Informativo do CAP - Ensino, Pesquisa e Atendimento em Psicanálise e Psicopedagogia - Ano VII - Julho de 2009 - nº 7


              VII JORNADA ABERTA DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA

            “Em Pauta: A Partitura do Humano -
            Melodia do Paciente e do Analista”
                                                14 E 15 DE AGOSTO DE 2009
                                                                        Público Alvo:
                                                Profissionais e estudantes da área da saúde e educação.
                                                                           Objetivo:
                                Estabelecer aproximações possíveis entre psicanálise, psicopedagogia e música.
                                Refletir sobre alguns recortes clínicos, tendo a música como metáfora da técnica.


                   Dia 14 /08 – Sexta-feira                                                          Dia 15 /08 – Sábado
                                  Temas Livres                                        08h 50 – Mesa de discussão – Melodias da Clínica com Andréa Pereira
                                                                                   e Viviane Borin – Psicanalistas.
       16h – A criança com visão normal e a criança com deficiência visual em         10h – Coffe Break.
    diálogo com Winnicott. Creusa Marques – Psicopedagoga.                            10h 30 – Mesa de discussão – Recorte Clínico Psicopedagógico. Adriana
       16h 40 – Ressignificando a função materna. Olga Bevonesi – Psicope-         Fischer – Mestre em educação e Psicopedagoga.
    dagoga.                                                                           11h 40 – Discussão Clínica – Composições em Análise. Heloisa Helena
       17h 20 – Pssicopedagogia institucional em um centro de formação de          Marcon – Psicanalista participante da APPOA, coordenadora do grupo
    condutores: abrindo espaço de autoria. Juliana Morschbächer – Pedagoga         temático “Psicanálise e Música”(APPOA), saxofonista amadora.
    especialista em educaçaõ especial inclusiva, Psicopedagoga.                       12h 45 – Encerramento – Iara Maria Pereira – Coordenadora do Depar-
       18h – Que a faca que corte dê talho sem dor. Loraine Schuch – Mestre        tamento Científico do CAP.
    em Psicologia UFRGS e Psicanalista.
       18h 30 – Credenciamento.
       18:45 – Abertura – Viviane Borin – Presidente do CAP.                                                     VALoRES
       19h – Conferência de Abertura – Psicanálise e musicalidade. Heloisa
    Helena Marcon – Psicanalista participante da APPOA, coordenadora do             Inscrições                           Até 10/08                   Após
    grupo temático “Psicanálise e Música”(APPOA), saxofonista amadora.
       20h:15 – Mesa de discussão – Sons, ritmos e silêncio: entre a experiência    Sócios e Estudantes                   R$ 60,00              R$ 70,00
    musical e a musicalidade do paciente, com Iara Maria Pereira – Psicopeda-
    goga, Psicanalista em formação pela APPOA e Leandro Michel Antonelo             Profissionais	                        R$	70,00	             R$	80,00
    Pereira – Advogado, especialista e mestrado na área de proteção interna-
    cional das obras de arte, músico.


   Local: Hotel Holiday Inn.Av. Carlos Gomes, 565 – Bela Vista – Porto Alegre/RS                                InSCRIçõES:
                                                                                                    Mediante depósito bancário para Banco Itaú
                             VAGAS LIMITADAS                                                           Agência 0579 – conta corrente 32897-2 e
     Sede do CAP – Av. Caçapava, 537 conj. 206 – Petrópolis – Porto Alegre/RS                      confirmação do mesmo até o dia 13 de agosto.
                       Contatos: (51) 3388.6403 / 9314.3783                                   Na instituição – horário de funcionamento da secretaria:
                         E-mail: cappsic@terra.com.br                                                      segunda a quinta das 14h às 18h




                      ENTREVISTA COM OS CONVIDADOS DA JORNADA
    Heloisa Helena Marcon                                                   Leandro Michel Antonelo Pereira
                       Página central                                                                 Página Central

Seleção aberta para o curso: Diálogos entre Psicanálise e Psicopedagogia - Página 2
2 l Julho 2009


 editorial                                            As primeiras escritas como carícia
    O CAP ouve as sutilezas que                                                                                                                     Marlise Von Reisswitz
 nos são endereçadas e se propõe,
 durante todo o primeiro semestre             As primeiras escritas são os in-                                                        melodia própria. O bebê também
 de 2009 , a estudar questões da mu-      tercâmbios das carícias entre a mãe                                                         faz ações, sente o corpo materno,
                                          e o bebê. Essas carícias deixam                                                             produzindo gestos, olhares, sons
 sicalidade , do silêncio, das pausas
                                          marcas como toda a escrita. Pode-                                                           diferenciadores.
 e dos ritmos que perpassam a clíni-      se imaginar essa primeira cena de                                                               É verdadeiramente uma cena
 ca psicanalítica e psicopedagógica.      escrita: a mãe acaricia o rosto do                                                          de inscrição, uma cena matriz do
    Afinamos nossa escuta. Nos            bebê, passa a mão, o dedo, na pele                                                          escrever, do ler, do aprender, do
 deixamos tocar pela sensibilidade        do bebê, faz o contorno do rosto,                                                           aprender a ler e escrever. É uma
 e pelo encantamento que a música         o dedo acompanha o contorno,                                                                cena que evidencia dois corpos,
 suscita. A partir de então, compu-       deixa leve um traço.                                                                        muito juntos, que vão processar
 semos uma partitura inusitada, que           A mãe fala com seu bebê. Sua                                                            uma longa trajetória de inscrições
 expressa a melodia do CAP neste          voz é uma carícia, uma carícia no                                                           mútuas, que transformam a mu-
 momento de sua história. Instante        ar que envia sons, ritmos, pausas,                                                          lher em mãe e o bebê em filha ou
                                          melodia que escreve/inscreve a                                                              filho. Esse lugar que a mãe oferece
 pautado por outros tons, novos
                                          possibilidade da escuta do bebê.                                                            e que o bebê “toma” (assim como
 sons... Toquemos pois uma nova               O essencial é a concepção do                                                            ele toma o leite) diz de uma matriz,
 música! Que o folhetim deste ano         escrever como acariciar, poder                                                              de uma modalidade de aprendiza-
 seja o Prelúdio de uma bela Jorna-       se pensar a simultaneidade dos                                                              gem, como diz Alícia Fernández.
 da de Estudos! Boa leitura a todos!      processos de ser escrito e de ser                                                           Existe, nesta cena, alguém que
                                          acariciado. Pensar primeiro a es-                                                           oferece seu corpo, sua pele, seu
      Iara MarIa PereIra                  crita como advinda da primeira                                                              olhar, a melodia de sua voz, como
 Coordenadora CIentífICa do CaP           carícia, seja do toque, seja da voz,                                                        espaço para o bebê se constituir,
                                          seja do cheiro. Esta idéia resgata o                                                        poder habitar, se aninhar. Ele “faz
                                          corpo que existe na escrita.                                                                coisas, toma coisas, agarra coisa”,
                                              É Ricardo Rodulfo que fala das                                                          quem escreve desse modo, com
 SELEÇÃO ABERTA PARA                      cenas de carícias como as primei-                                                           estas palavras é Rodulfo. A pe-
                                          ras escrituras.                                                                             quena criança brinca para estar na
  O CURSO: DIÁLOGOS                           A carícia diz da superfície e do         outro, pele na pele, voz no ouvido que         presença do outro e/ou também,
                                          contato direto entre peles – rosto e dedo,   escuta, a mão traçando linhas, futuras     para se ausentar. Estes são processos
 ENTRE PSICANÁLISE E                      entre a melodia da voz e sua recepção        letras, vírgulas, pontos no outro. A       que vão permitir ao bebê constituir-se
                                                                                       escrita através de carícias faz surgir
   PSICOPEDAGOGIA                         pelo infante. Parece que o dedo faz
                                          aparecer o escrever como acariciar, é        significados acariciadores e significan-
                                                                                                                                  como semelhante e ao mesmo tempo
                                                                                                                                  singular. Eles instauram a diferenciação.
     O objetivo do curso é fundamen-
                                          ele que, na pele do outro, se mostra         tes acariciantes. A falta de carícias ou   Nesses processos o bebê é lido e escrito
 tar a prática clínica do psicopedago-
 go através do diálogo da psicanálise     fazendo algo, fazendo gestos e marcas        os maus-tratos sobre o organismo do        pela mãe ( ou quem faz esta função) e
 freudiana com a psicopedagogia de        na superfície corpórea. Essa cena lembra     bebê atrapalham na constituição do         o bebê também ocupa o lugar de leitor
 orientação analítica. Conta-se com       outra descrita por Ricardo Rodulfo, so-      corpo e na possibilidade de desejar. .     e escritor. Ele lê o corpo da mãe, vai
 a participação de psicanalistas e        bre um bebê que brinca com o botão da            Estas idéias propõem escrever          experimentar seu seio, seu corpo, com a
 psicopedagogos que proporcionam          blusa da mãe. Esse brincar é uma forma       como acariciar no lugar de escrever        boca, com as mãos, com as pernas, com
 uma visão mais ampla da relação          de escrita, de proto-escritura. Rodulfo      relacionada só com a fala. Esta con-       o olhar, com o nariz, com todo o seu
 terapêutica.                             escreve que este brincar é o primeiro        cepção pode produzir outros efeitos.       corpo e também deixa marcas no corpo
     Estrutura do Curso: Duração - 4      texto escrito que o bebê produz. O bebê      Pode-se dizer que a escrita não tem        da mãe, criando-se a subjetividade entre
 módulos , de um semestre cada, sen-      faz o gesto em direção ao botão da blusa     só a ver com a linguagem falada, a         a mãe e seu filho ou filha.
 do os dois primeiros introdutórios e     da mãe, gesto que denota o desejo de         língua oral, não é a sua transcrição. A       O bebê vai aprendendo com o tato,
 os dois últimos avançados. Cada mó-      pegar o botão, a mãe permite que o filho     escrita também tem a ver com marcas        com os gestos, com as produções de
 dulo possui 2 seminários semanais,                                                    que se olham, que são sentidas, que se
                                          use-o para brincar, que o invente como                                                  som, com as ações, as inscrições, que
 de 1 hora e meia de duração. Tur-                                                     deixam ler.
 mas especiais para profissionais do      brinquedo, que o use para aquilo que                                                    ambos têm corpos diferentes, ritmos
                                          não foi feito. O brincar faz surgir uma          No corpo da mãe o bebê se ani-         diferentes, pensamentos diferentes.
 interior.
                                          terceira zona, entre a mãe e o bebê, que     nha, coloca coisas suas nesse espaço,      São dois e não um só, e que precisam
     Público Alvo: Psicopedagogos,                                                     tira coisas do corpo materno, mora
 Profissionais da Saúde e Educação.       Winnicot (1975) propõe como espaço                                                      para ser um só, aprender sobre o
                                          transicional.                                neste lugar. O corpo da mãe é supor-       outro, sobre si mesmo e simultanea-
     Valor: 12 parcelas de R$150,00                                                    te para o bebê colocar em processo
                                              Mãe e bebê precisam se escrever                                                     mente sobre o mundo.
 	  INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES             para serem escritos. São inscritos pelas     a sua subjetividade. Ele permite à
     PELOS FONES (51) 3388.6403 (51)                                                   criança instalar-se subjetivamente a                RODULFO, Ricardo. La constitución
                                          marcas das carícias, corpo no corpo do
     9314.3783, ou na sede da Institui-                                                partir do outro, junto com o outro,           del juguete como protoescritura. In:Revista
     ção- Av. Caçapava, 537 conj. 206,                                                                                                                   E.P.S.I.B.A. nº 4. 1996.
                                                                                       possibilitando o desencadear de pro-
     diariamente, das 13h às 17h.         A mãe fala com seu bebê. Sua                                                               ________. Dibujos fuera del papel. Buenos
                                                                                       cessos narcisistas, que fazem parte                                 Aires: Paidós. 1999.
 	  PROGRAMA DISPONÍVEL NA               voz é uma carícia, uma carícia               do processo de simbolização. A mãe
     INSTITUIÇÃO OU VIA E-MAIL ca-
     ppsic@terra.com.br
                                          no ar que envia sons, ritmos,                funciona como suporte e superfície
                                          pausas, melodia que escreve/                 do bebê. É também marcadora de
 DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA: CUR-                                                         inscrições e constitui junto com o bebê                     Marlise Von Reisswitz
   RICULUM VITAE E AUTOBIOGRAFIA          inscreve a possibilidade da                  o corpo dele Ela faz isto tocando a                                Psicopedagoga
                                          escuta do bebê.                              criança, olhando-a, falando com uma                        marlisevr@terra.com.br


expediente
       Folhetim do CAP é uma publicação do Centro de Ensino, Pesquisa
            e Atendimento em Psicanálise e Psicopedagogia - CAP.
  Rua Caçapava, 537 conj. 206 Petrópolis - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3388-6403
   Responsáveis: Andréa Pereira, Iara Pereira, Veruska Bonete e Viviane Borin.
      Editoração eletrônica: Bem Estar Comunicação - Fone: (51) 3026.7515



                 CAP - Fones: (51) 3388.6403/ 9314.3783
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artigos                                                           Julho 2009 l 3


      Capacidade para desfrutar                                                                          (Des)afinados
             o silêncio!                                                                andréa fernandes PereIra* | VIVIane araMburu borIn**

                             ADRIANA FISCHER*                                             O psicanalista está atravessado
                                                                                      pela curiosidade. Que mundo mora
                                            Imagem: Francis Bacon
   Escrevo sobre                                               destinado somente      naquele outro? É pela palavra (nas
algo que julgo im-                                             a função protetora e   crianças o brincar) que o outro co-
portante para a área                                           defensiva, de algum    munica o seu mundo. A psicanálise
da Psicopedagogia                                              modo, cristalizado     é atenta ao mundo falado. O de-
e que é anterior a                                             e inerte, que pode     safino no discurso destas palavras
capacidade de pen-                                             resultar em certa      são protagonistas da cena analítica.
sar ou mesmo de                                                precariedade de seu    Essa cena é permeada pelo canto
pensar junto com                                               mundo interno e        do paciente que através da palavra
um outro. Refiro-me                                            em alguma pobreza      comunica a sua dor. De certa forma      na sessão analítica é atravessada
a conquista daqui-                                             em sua vida cul-       a melodia que habita a voz do fa-       pelos ruídos, dissintonia, e pelo de-
lo que vou nomear                                              tural. Em lugar do     lante parece alienada (do latim alie    safino do paciente, se encaminhando
como uma capaci-                                               desenvolvimento        num=pertence a outro) ao mundo          pelo processo analítico para dueto
dade para desfrutar                                            da pessoa através      psicanalítico.                          musical. Os acordes vão ser tocados
o silêncio. Pretendo                                           da experiência e da        O Cap em sua última jornada         a partir da transferência. O analista
lançar luz sobre uma                                           sua relação com a      “escuta” os participantes que pedem     com seu ouvido musical vai apu-
das características                                            cultura, vai se ar-    um tema onde a poesia fizesse pre-      rando o tom através do desafino do
do silêncio na rela-                                           mando um modelo        sença constante. Se na prosa existe     paciente, é justamente naquilo que
ção terapêutica e diz respeito a uma       feito de peças isoladas, uma espécie       uma sucessão temporal que constitui     o paciente desafina que comunica o
conquista do paciente para desfrutar       de colagem. O sujeito apresenta-se         o enunciado, na poesia isso é rompi-    simbólico. Clarice Lispector já dizia:
do silêncio, em um ambiente seguro,        então, com uma pseudo-subjetividade        do. A poesia tem razões que a prosa     “ ...Eu me defrontei com o impossível
que constituirá uma das bases para o       que tem pouco de original.                 desconhece. Será a música tecida de     de mim mesma..Aí eu desafinei sem
pensar. A escolha do termo capacida-           É neste caminho que pretendo           razões que a poesia e a psicanálise     querer...Um sopro de vida.”.
de é proposital pois desejo falar sobre    pensar a agitação excessiva de algu-       também desconhecem?                          A curiosidade não pertence so-
uma conquista do sujeito no caminho        mas crianças, traduzida por seus pais          A poesia da música esta em não      mente ao mundo analítico, é inerente
de sua constituição, portanto, que         como barulho. Dizem eles: “Só temos        pedir licença. Ela penetra o ouvinte.   a humanidade. A curiosidade ana-
pode ocorrer ou não.                       o Joaõzinho, mas é como se tivéssemos      Somos desde que nascemos mergu-         lítica se distancia do suposto saber
   No início da constituição de um         uma turma inteira lá em casa.”             lhados no mundo sonoro o ouvido         á medida que o outro dá a nota e
sujeito, a imagem, a palavra, a presen-        Penso que uma forma de dar senti-                                              seguem tocando construindo uma
                                                                                          A poesia da música esta em não
ça viva da mãe, os outros, o entorno       do a esse “barulho” seria compreendê-                                              partitura musical. “O analista con-
organizam a construção da subjetivi-       lo como uma saída utilizada pelos          pedir licença. Ela penetra o ouvinte.   voca o paciente em certa hora do dia,
dade em uma estrutura que articulará       sujeitos para se desligarem de seu                  Somos desde que nascemos       deixa-o falar, escuta-o, depois lhe fala
o corpo, os afetos e o pensamento.         mundo interno, restando um sujeito              mergulhados no mundo sonoro        e deixa-o escutar.” Para além das pa-
Desta forma, as experiências corporais     com pouco potencial criativo. Neste              o ouvido único buraco humano      lavras pode-se ouvir o tom e a riqueza
e emocionais, amparadas pelo suporte       caso, é necessário criar condições, na                impossível de ser tapado.    contida na melodia que habita na voz
ambiental se traduzem em vivências         relação terapêutica, para que o silêncio                                           do paciente de cada dia. Os tristes
que começam a ter representação            possa ser vivenciado com prazer e não      único buraco humano impossível          com seu tom baixo, os eufóricos com
psíquica. Origina-se a constituição de     com angústia. Um silêncio no qual seja     de ser tapado. Não há cultura sem       tom alto os agressivos agudo.
um sujeito que percebe seu próprio         possível desligar-se temporariamente       musicalidade. Musicalidade que é             Ouvindo Tom:
existir, representa-o e dá-lhe sentido,    do mundo externo para se ligar ao          apresentada ao BB no berço. Esse             “... Você com a sua música esque-
registrando-se como protagonista de        mundo interno, dos afetos, ampliando       mesmo BB que no colo irá brincar de     ceu o principal
uma história com continuidade no           a trama psíquica. Este silêncio é visto    dança com seu corpo. Na evolução             Que no peito dos desafinados
tempo. Suas novas experiências são         como a criação de uma capacidade           será tocado pelas cantigas infantis.         No fundo do peito
agregadas a esse núcleo, gerando a         psíquica, amparado por um ambiente         Qual adolescência que não foi “ta-           Bate calado, que no peito dos
noção de que tudo o que experimenta,       facilitador, que fornece apoio para este   tuada” pela capacidade subversiva       desafinados
da ordem do prazer ou do desprazer,        sujeito antes que a integração seja um     musical? Sem falar no jogo amoroso.          Também bate um coração...”
pertence-lhe e forma uma unidade,          fato, capaz de permitir ao paciente        Qualquer amor que se presa possui            Essa foi uma primeira nota fica o
                                           “ouvir”, ou seja, sentir e perceber a si   uma música que marca tanto o en-        convite para seguirmos tocando na
     Um silêncio no qual seja possível     mesmo e, portanto, comunicar-se com        contro quanto o desencontro. A mu-      Jornada “Em pauta: A Partitura do
        desligar-se temporariamente        o terapeuta a partir de uma relação        sicalidade como a poesia quebra com     Humano.”
                                           mais verdadeira. Muitos pacientes em       a temporalidade. Transporta-nos a
      do mundo externo para se ligar                                                  memórias por vezes esquecidas nos
                                           início de tratamento ainda não con-                                                  1. Música e Psicanálise - Mª de
       ao mundo interno, dos afetos,       quistaram essa capacidade e é nesta        invocando a sentimentos rompendo        Lourdes Sekeff
         ampliando a trama psíquica.       direção que o acompanhamento pode          recalcamentos.                            ** Sigmund Freud.
                                           ser realizado.                                 “Como a música carrega em seus
um sujeito único. Gradualmente esse            Este é apenas um ensaio sobre o        flancos o não cs e como a psicanálise            andréa fernandes Pereira*
sujeito se torna coeso e se integra, não   tema. Há muito mais a ser pensado          carrega em torno daquilo que escapa               andreiapsica@gmail.com
precisando cindir nem negar o perce-       e debatido.                                a cs a aproximação se reforça.” Po-               Viviane aramburu borin**
bido e o experimentado.                                                               deríamos pensar que o carregado é                    viviborin@hotmail.com
   A integração se realiza entre corpo,        Adriana Fischer - psicopedagoga        o mundo simbólico. A música tocada                             Psicanalistas
afeto e pensamento e esses três níveis               (afischer.ez@terra.com.br)
formam uma trama, constituindo o
tecido psíquico que será capaz de
aprender, ou seja, conter e elaborar to-
das as novas experiências ao longo da
vida. Em termos gerais, teríamos um
sujeito que conservou sua originalida-
de e sua potencialidade de mudança
e crescimento através da experiência
e da aprendizagem.
   A dificuldade seria descrita como
um aspecto deste sujeito que perma-
neceu precocemente consolidado,
VII JORN
                                      “Em Pauta: A Partitura do Humano -
     ENTREVISTA COM HELOISA HELENA MARCON
Psicanalista, participante da APPOA,               realizar idas e vindas a esse Outro, justo a          crença monoteísta. Foi só a partir do séc. IV,       de ler Freud, que tem como efeito, um outro
coordenadora do grupo temático                     partir disso que escapa, construindo, assim,          quando o imperador Constantino I converteu-          modo de fazer clínica. Em termos gerais eu
“Psicanalise e Música” (APPOA),                    um lugar de enunciação!                               se ao Cristianismo que surgiram as condições         diria que a leitura de Freud feita por Lacan
                                                                                                         para que esse canto se transformasse ou fosse        propicia uma abertura, bem de acordo com
saxofonista amadora.
                                                       Folhetim do CAP - Pensamos que a mú-              transformado	–	foi	unificado	no	final	do	sé-         o modo lacaniano de pensar o inconsciente -
                                                   sica está enraizada na cultura brasileira. E          culo VI pelo Papa Gregório Magno – no que            hiância.	Desde	o	próprio	objetivo	da	análise	
    Folhetim do CAP - Heloisa, como psi-
                                                   no fazer clinico dos psicanalistas de nosso           hoje é chamado de canto gregoriano. Ele é            que	não	é	mais	o	de	indentificar-se	ao	ego	do	
canalista e música nos conta sobre este
                                                   país, existe um lugar para a música?                  uma música vocal pura, ou seja, canto sem            analista, até o modo de vestir-se do analista e
encontro quando o ritmo entra no teu
                                                       Heloisa - Bom, eu não sei responder dos           qualquer tipo de acompanhamento instrumen-           o	tempo	da	sessão	que	ficam	livres	de	regras	
fazer clinico...
                                                   psicanalistas brasileiros em geral. Falei um          tal. Ainda mais: canto coletivo em uníssono,         fixas, pré-determinadas; bom, eram pré-
    Heloisa - Eu diria que na minha clínica o
                                                   pouco de como isso se passa para mim. O               cantado apenas por vozes masculinas. Todos           determinadas certamente com base em algo
ritmo surgiu primeiramente como intuição –
                                                   máximo que eu me arrisco a dizer é que acho,          cantavam a mesma melodia ao mesmo tempo.             que não tem a ver com o inconsciente e seu
como acontece quase sempre comigo, aliás.
                                                   sim, que a música está enraizada na cultura           Bom, acho que só com esse exemplo já con-            funcionamento...
Isso porque aos poucos algo que hoje é bem
                                                   aqui no Brasil e que, de alguma forma, é              seguimos sentir o quanto a música ocidental              E no campo da música, talvez, - eu subli-
claro e explícito para mim foi me fazendo
                                                   muito provável que a clínica de muitos cole-          se transformou desde aí... Acompanhamento            nho esse talvez - pois é uma intuição inicial
questão: que tanto o sentido quanto isso que
                                                   gas esteja atravessada pela musicalidade da           instrumental, diferentes melodias, diferentes        ainda, talvez essa virada tenha relação com
escapa ao sentido (e que é justamente o objeto
                                                   nossa língua, da nossa cultura. Eu posso dizer        escalas e divisões rítmicas são alguns elemen-       a diferença do tonalismo para o atonalismo.
da nossa escuta na psicanálise, o sujeito do
                                                   também - ao menos eu espero isso - que, na            tos	que	se	modificaram	ao	longo	do	tempo	no	         Pensei nisso, pois o tonalismo é um sistema
inconsciente) aparecem, se fazem escutar, se
                                                   clínica dos lacanianos, existe um lugar para          campo da música e o diferente arranjo desses         baseado numa certa lógica, ordenação e hie-
utilizam do ritmo. Claro, isso surgiu na minha
                                                   a música e para a musicalidade da fala. Para          elementos vai compondo a história da música          rarquia dos sons a partir das escalas tonais e
própria fala na minha análise e, depois, na
                                                   a música no sentido da pulsão invocante,              ocidental até a contemporaneidade.                   das relações entre os sons em cada escala (de
análise dos que escuto.
                                                   dos movimentos produzidos num sujeito                                                                      terças,	 de	 quartas,	 enfim...).	 No	 atonalismo	
    O ritmo tem a ver com acentuação e com
                                                   verdadeiramente afetado por uma música e                  Folhetim do CAP - O tema da nossa                há o emprego igualitário de todas as notas da
duração das sílabas e das palavras quando
                                                   da fertilidade de falar disso numa análise. E         jornada nasce do movimento de sair da                escala cromática, havendo superação da dico-
falamos. Sabemos que quando falamos uma
                                                   da musicalidade num sentido mais geral, das           prosa e entrar na poética. Como tu vês esse          tomia	consonância	X	dissonância.	O	que	que-
palavra podemos acabar dizendo outra pela
                                                   homofonias	significantes,	do	ritmo	da	fala,	da	       movimento na música?                                 rem os compositores atonais é a emancipação
forma, pela entonação, pela acentuação que
                                                   voz na sua corporeidade, da necessidade da                Heloisa - Sair da prosa e entrar na poéti-       da	dissonância,	que	não	é	mais	evitada	como	
lhe damos ao falar. Numa análise, por exem-
                                                   prosódia musical na voz da mãe e dos efeitos          ca para mim já tem a ver com a música, ou            no tonalismo, mas incluída como nota real.
plo,	o	significante	‘desistir’	que	se	repete	a	
                                                   de quando isso não acontece, dentre outros.           melhor, com a musicalidade. Me faz lembrar           Talvez haja uma relação entre esses pontos
cada	tanto,	pode	estar	dizendo	‘de	existir’,	da	
                                                                                                         de uma citação espe-                                                          de virada, mas ainda
existência desse que fala, o sujeito do incons-
                                                       Folhetim do CAP - Diante dos ruídos               cífica de Lacan feita          É isso que se faz quando se destaca,           não consigo articular,
ciente! Quando fazemos uma pausa ao falar,
                                                   dos pacientes, é possível compor uma me-              pelo Didier-Weiill que            se sublinha, se recorta, se retira          é uma intuição inicial.
para respirar, por exemplo, e por essa pausa
                                                   lodia pessoal? Como?                                  diz mais ou menos                do contexto, desse indefinido, um
botamos um ponto ou uma vírgula num lugar
                                                       Heloisa - Diante dos ruídos? Se tomar-            o seguinte: que só a                                                              Folhetim do CAP
diferente daquele que pretendíamos colocar, é                                                                                         significante que se repete na cadeia de - Qual a importância
                                                   mos o termo ruído no seu sentido musical              poesia permite a inter-
também um momento em que opera o ritmo                                                                                                  significantes de um sujeito que está
                                                   e lembrarmos que é um som de freqüência               pretação, poesia que é                                                        da pulsão invocante
fazendo aparecer outra coisa que aquela que                                                                                             falando em transferência para nós. E
                                                   indefinida	 (indefinida	 justo	 por	 ter	 muitas	     efeito de sentido, mas                                                        para a constituição
pensávamos estar dizendo. É um pouco isso
                                                   freqüências), acabo de pensar pela questão            também efeito de furo. com isso, com esse trabalho na análise, da cça?
um exemplo que aparece no texto do Thrasy-
                                                   de vocês, que o trabalho de análise, o traba-         Nesse efeito de furo acho que sim, que podemos dizer que                          Heloisa - A pul-
bulos Georgiades intitulado “A língua como
                                                   lho de escuta é justo de escuta e de destaque         que ali comparece que           o analisante acaba por compor uma             são invocante é muito
ritmo”, que traduzi há pouco e encontra-se no
                                                   desses sons que estão ali nesse ruído como            eu encontro a diferença                                                       importante na cons-
Correio da APPOA de maio. Ele fala de uma                                                                                                     melodia pessoal, singular.
                                                   indefinidos. É isso que se faz quando se              fundamental da prosa e                                                        tituição da criança,
tradução do Hölderlin para uma frase para
                                                   destaca, se sublinha, se recorta, se retira do        da poesia.                                                                    do sujeito psíquico,
a qual ele dá duas opções. “Lira de Ouro!
                                                   contexto,	 desse	 indefinido,	 um	 significante	          A pergunta de vocês me faz pensar tam-           porque ela introduz o bebê, pela música da
De Apollo e às tranças escuras...” e “Lira de
                                                   que	 se	 repete	 na	 cadeia	 de	 significantes	 de	   bém em Joyce, no seu Finnegans Wake. Isso            voz da mãe, que lhe chama, lhe invoca, para
ouro de Apolo! E nas tranças escuras...” Bem
                                                   um sujeito que está falando em transferência          porque,	ficou	como	marca	da	minha	pequena	           dentro da linguagem. Mas se trata de um para
diferentes...
                                                   para nós. E com isso, com esse trabalho na            experiência de leitura dessa obra, que a via         dentro muito especial, porque é um para den-
    Claro que ele, como historiador da músi-
                                                   análise, acho que sim, que podemos dizer que          de acesso é pela leitura em voz alta, quando         tro da linguagem no que ela tem de indizível,
ca, está interessado apenas em como o sujeito
                                                   o analisante acaba por compor uma melodia             pelo som, alguma coisa surge, brilha, ressoa.        de	inefável,	de	fora	da	significação,	fora	da	
da consciência (o sujeito da ciência desde
                                                   pessoal, singular.                                    Talvez	eu	não	saiba	o	suficiente	de	história	da	     relação	 significante	 –significado.	 Chama	 o	
Descartes) aparece e pode se utilizar do ritmo
                                                                                                         música ocidental para responder, mas do que          sujeito como sujeito do desejo – o que é fun-
para enfatizar algo quando fala. Ele toma o
                                                       Folhetim do CAP - A psicanálise com               eu estudei, diria que não é essa – da prosa e        damental para a constituição psíquica – isso
alemão representando as línguas modernas
                                                   o passar do tempo vem se transformando,               da poesia - a questão ali que se desdobra. Eu        porque a pulsão faz um trajeto, um percurso,
e o grego antigo para compará-los - usando
                                                   abrindo diálogos para dar conta das ques-             consigo pensar que é mais de uma narrativi-          contornando o objeto de desejo. Se ela o con-
ainda	um	Lied	do	Schubert	para	exemplificar	
                                                   tões clinicas. E com a música acontece o              dade ou de uma pureza do som o que vai se            torna, deixa ali um buraco. Por isso Lacan diz
- quanto à possibilidade de o sujeito usar o
                                                   mesmo movimento?                                      desdobrando na efetividade das tendências,           que ele é, no fundo, o objeto causa de desejo
ritmo da língua na formação do sentido. Mas
                                                       Heloisa - Não sei se sei responder. Vou ar-       movimentos ou escolas que se sucedem e               e não simplesmente objeto de desejo. A mãe,
quando ele fala do grego é que aparece isso
                                                   riscar falar um pouquinho do que me ocorre. A         dialogam na música. A narratividade eu até           ao dar o lugar de sujeito do desejo para seu
que nos interessa na clínica, porque quando
                                                   música, ao menos a música ocidental, vem se           consigo associar com a prosa, mas a pureza           bebê e promover o circuito da pulsão, recorta
um grego falava o grego antigo alguma coisa
                                                   transformando. No entanto, ela muda em fun-           não tem a ver, ao menos diretamente, com a           o corpo do bebê, o erotizando.
sempre lhe escapava, esta língua tinha uma
                                                   ção de mudanças sociais e ou por discussões           poética; talvez algo do lado da livre experi-            A voz, por exemplo, enquanto objeto da
                    rítmica musical autônoma,
                                                   teóricas sobre o conceito de música e para quê        ência com a sonoridade.                              pulsão, é justo o que cai, o que se solta, o que
                    então, o sujeito que falava
                                                   ela deveria servir, isto é, se é que ela deveria                                                           se desprende do que é dito quando falamos!
                    se comportava também
                                                   ter, necessariamente, uma função utilitária.              Folhetim do CAP - Tu enxergas um pon-            Ou seja, ela não é o que falamos, mas o que
                    como ouvinte, pois per-
                                                   Tomando o início da música ocidental nos              to de virada no movimento psicanalítico? E           falta ali. E o sujeito, enquanto desejante, é o
                    cebia a língua como uma
                                                   cantos cristãos de antes do século IV, eram           com a música isto também acontece? Estes             que se estrutura, se constitui a partir, em fun-
                    realidade o ultrapassan-
                                                   cantos coletivos dos cristãos de diferentes           pontos se relacionam?                                ção, em torno dessa falta. Essa falta que, em
                    do. Mais ou menos como
                                                   nacionalidades que traziam sua experiência                Heloisa - Sim, acho que há uma virada            suma,	é	a	falta-a-ser,	a	hiância,	o	inconsciente.
                    acontece numa análise
                                                   na sua comunidade quando se reuniam com               com a saída de Lacan da IPA. Acho que                    A gente pode pensar, inclusive, a partir do
                    com o que Lacan chamou
                                                   outros nas catacumbas para louvar a Deus.             aquele modo ortodoxo de fazer psicanálise            que coloquei da pulsão invocante, a diferença
                    de Outro. Numa análise,
                                                   Mas os cristãos naquele momento eram per-             ficou	 restrito	 a	 esse	 âmbito	 (da	 IPA	 e	 seus	 disso para o mamanhês, pois ali (no mama-
                    o sujeito que fala, sendo
                                                   seguidos pelos romanos em função de sua               seguidores) e foi inaugurado um outro modo           nhês) há uma fusão, uma língua transparente,
                    o do inconsciente, vai
Setembro 2007 l 4/5

NADA...
- Melodia do Paciente e do Analista”
 em que a mãe entende tudo que seu bebê lhe
 diz, lhe demanda. Claro, isso também é fun-
                                                      é isso que vem à tona nessa experiência. De
                                                      qualquer modo, nós como analistas, quando
                                                                                                                   A LINGUAGEM MUSICAL
 damental para o bebê que, no seu desamparo           escutamos e, com isso, propiciamos esse re-
 e dependência do outro, precisa que alguém           corte, acabamos dando o suporte que Ulisses           Leandro Michel Antonelo Pereira –       é expressa pelo autor de “Assim Fa-
 entenda o que ele precisa. Mas isso é bem            não tinha e por isso teve de se amarrar para          Advogado, especialista e mestrado       lava Zaratustra” que reproduz uma
 diferente do que ocorre na pulsão invocante          resistir ao chamado, à invocação, ao canto das         na área de proteção internacional      passagem da obra “Mundo como
 enquanto tal, pois ela, eu diria, introduz expli-    sereias. Eu queria chamar a atenção sobre um                  das obras de arte, músico.      Vontade e Representação”. Scho-
 citamente o campo do equívoco, a alteridade,         detalhe nessa metáfora: as sereias de Ulisses                                                 penhauer faz uma distinção entre
 a diferença primordial, dando possibilidade          podiam cantar com uma suavidade e harmonia                                                    o mundo fenomênico, a natureza,
                                                                                                               INTRODUÇÃO
 para o nascimento do sujeito do desejo!              inatingíveis às vozes humanas. Quando can-                                                    e a música, considerando esta uma
                                                                                                               Neste artigo serão expostos al-
     Como as demais pulsões, também a in-             tavam enchiam o ar com a doçura venenosa                                                      expressão do mundo, uma lingua-
 vocante vai produzir, no seu caminho, uma            de suas vozes...                                     guns pontos de vista sobre a lin-
                                                                                                           guagem musical, a sua relação com        gem universal. Essa universalidade,
 reversão do sujeito: de sujeito invocado                                                                                                           entretanto, não seria a universalida-
 torna-se invocante, na medida em que há um               Folhetim do CAP - No mundo atual a               o sujeito e o discurso musical. Será
                                                                                                           considerada a música como mani-          de vazia da abstração, pois estaria
 retorno para o sujeito, disso que vem primeiro       imagem fala. Qual o lugar do sonoro no
                                                                                                           festação que antecede a palavra,         ligada a uma completa e clara deter-
 do campo do Outro, no caso aqui a mãe, que           mundo de hj?
                                                                                                           logo, não será analisada a posição       minante. Para a compreensão dessa
 lhe invoca e isso é necessário para que depois           Heloisa - Eu acho que o sonoro também
                                                                                                           segundo a qual a linguagem verbal        ligação, Schopenhauer equipara a
 ele possa invocar, chamar, ter voz! É mais           fala e fala muito no mundo de hoje. Se a
 complexo que isso, mas, a grosso modo, dá            gente pensar o quanto se produz no campo             seria o fundamento de qualquer ou-       música às figuras geométricas e aos
 para	simplificar	assim.                              da música na atualidade... e a música está           tra linguagem, como defendido por        números, que, como formas univer-
                                                      em tudo, desde publicidade, nesse lugar, por         Hegel e Lacan.                           sais de todos os objetos possíveis
      Folhetim do CAP - Como a melodia                excelência,	 das	 imagens,	 nos	 filmes,	 e	 no	         Inicialmente, será tratada a ques-   da experiência e aplicáveis a priori
 da voz materna influencia no psiquismo               teatro, e nos carros, e nos cafés, e nos bares,      tão do surgimento do discurso mu-        a todos, não são, todavia, abstratos,
 infantil?                                            enfim,	 está	 até	 difícil	 achar	 um	 lugar	 com	   sical, com a ênfase ao seu caráter       mas intuitivos e completamente
      Heloisa - A melodia na música funciona          silêncio hoje em dia... hehehe Sim, aí eu estou      dionisíaco, em oposição ao apolíneo,     determinados.
 um pouco como aquilo que cantamos quando             tomando o sonoro incluindo os ruídos ou o            analisando-se as ponderações de              Ainda pelo mesmo autor, as
 cantamos uma música. Isso para diferenciar           puro som nesse campo, um pouco como John             Schopenhauer e Nietzsche, que as         infinitas melodias possíveis, na
 da harmonia. Então eu diria que a melodia            Cage, embora lhe agradassem todos os ruídos,         relações entre música, conceito e        universalidade da mera forma, ex-
 da mãe é o que vai inscrever, marcar, certos         diferentemente de como isso funciona comi-           abstração com a vontade e distinção
 significantes	na	criança.		Isso	no	melhor	dos	       go... hehehe Mas pensando, por exemplo, nos          da música das demais artes. Em              Ainda pelo mesmo autor, as infinitas
 casos. É fundamental lembrar que a mãe, ao           filmes,	as	trilhas	sonoras	são	tão	importantes	      seguida, serão salientadas as afirma-      melodias possíveis, na universalidade
 falar com seu bebê, na linguagem maternante,         ou mais do que as imagens para dizer o que                                                        da mera forma, exprimiriam a alma
                                                                                                           ções de Adorno sobre a proibição aos
 funda (ou não) a matriz simbólica na criança,        se pretende, ou melhor, para causar o impacto                                                   mais íntima do homem, ou seja, tudo
                                                                                                           modos musicais queixosos ou moles
 ou seja, funda ou não as condições para que          que se pretende nos espectadores. Se tomamos                                                       aquilo que a razão lança no amplo
                                                                                                           e a determinados instrumentos mu-
 ali germine a linguagem. A melodia da voz da                                                                                                             conceito negativo de sentimento.
 mãe tem um papel fundamental na estrutura-           Escutar, pensando na escuta psicanalítica, é         sicais na República de Platão, como
 ção do psiquismo infantil na medida em que é          totalmente outra coisa: é escutar isso que          exemplo de restrições à manifestação
                                                                                                           musical.                                 primiriam a alma mais íntima do
 na melodia da fala da mãe, ou seja, nos picos        comparece, que vem junto, quando alguém                                                       homem, ou seja, tudo aquilo que a
 prosódicos que se produzem na fala da mãe              fala, ou seja, o sujeito do inconsciente.              A seguir, passar-se-á a abordar
                                                                                                           a relação do sujeito com a música,       razão lança no amplo conceito nega-
 quando se dirige a seu bebê, que se produz
                                                                                                           conforme os autores Anchyses Jobim       tivo de sentimento. Acrescenta que
 cortes e se introduz articulações simbólicas         a	obra	do	Hitchcock	,	por	exemplo,	fica	muito	
                                                                                                           Lopes e Pierre Kauffmann. A voz          a música difere de todas as outras
 no corpo da criança, ao mesmo tempo o ero-           evidente,	pois	o	filme	Psicose	só	é	o	que	é,	ou	
 tizando. Mas esse mamanhês só vai ter efeito         seja, só produz o que produz na gente em função      materna e a primeira voz serão apre-     artes ao não ser cópia do fenômeno
 fundante para a criança porque a mãe, quando         da música, da trilha sonora. Já na obra do Woody     sentadas traçando-se um paralelo         ou da objetividade adequada da
 fala, faz paradas. Mas não se trata de prosódia      Allen e do Emir Kusturica eu sinto um pouco          com o estádio de espelho de Lacan        vontade, mas cópia imediata da
 mais	paradas	ou	alternância	no	ritmo	é	igual	        diferente. A música dá o tom, o clima, como          e a ruptura pela qual é responsável      própria vontade, apresentando o
 à matriz simbolizante. É porque ao fazer tudo        que “fecha com chave de ouro” aquilo que os          a voz paterna como a linguagem           correlato metafísico das coisas físi-
 isso, na sua espontaneidade e implicação             personagens dizem e a imagem que estamos             pré-verbal. Por fim, tratar-se-á dos     cas, “para todo fenômeno a coisa em
 maternal, a mãe supõe ali um sujeito, por            vendo deles e o que se passa com eles.               tempos lógicos da relação musical        si”, podendo-se denominar o mundo
 isso	 ela	 abre	 espaço,	 produz	 alternância	 no	       Fala um pouco da diferença entre ouvir           apontados por Didier-Weill.              tanto de música corporificada como
 ritmo, estabelece uma convocatória ao outro,         e escutar.                                                                                    de vontade corporificada.
 instituindo uma alteridade.                              Bom, ouvir é da ordem da comunicação,               1 A MÚSICA COMO CÓPIA                     Schopenhauer aborda também a
                                                      ou seja, do sujeito (da consciência) que sabe        DIONISÍACA DA VONTADE.                   questão da associação da música a
     Folhetim do CAP - Tu pensas que na               exatamente o que diz para aquele que ouve e             A questão da música está direta-      um poema como canto, a uma ence-
 música existe um potencial mortífero,                entende exatamente o que foi dito. Escutar,          mente associada ao imaginário, ao        nação, ou, ao que ele considerou a
 assim como percebemos na metáfora do                 pensando na escuta psicanalítica, é totalmente                                                união de ambos, à ópera. E cabe aqui,
                                                                                                           sentimento oceânico descrito por
 canto da sereia?                                     outra coisa: é escutar isso que comparece,                                                    como fez Nietzsche, reproduzir na
                                                                                                           Freud e ao gozo além do fálico de
     Heloisa - Pois é... eu acho que não está         que vem junto, quando alguém fala, ou seja,                                                   íntegra o texto desse pensador: “Tais
                                                                                                           Lacan. Ao adotar, contudo, a posição
 exatamente na música o potencial mortífero.          o sujeito do inconsciente. É isso que se escuta                                               imagens singulares da vida humana,
 Ela pode provocar uma alienação total de             na fala em análise.                                  de que a música antecede a palavra,
                                                                                                           é necessário passar pelas reflexões      associadas à linguagem universal da
 um sujeito a isso que, naquele momento,                                                                                                            música, nunca estão ligadas a ela ou
 lhe é outro e surge na música, um pouco                  Folhetim do CAP - A música pode ser              de Schopenhauer sobre o tema, que
                                                                                                           influenciaram o pensamento de            lhe correspondem com necessidade
 como o que Nietzsche fala do dionisíaco na           escutada como uma forma de comunica-
                                                                                                           Nietzsche.                               completa: estão para ela apenas na
 tragédia, ou seja, fusão, embriaguez, falta de       ção?
                                                                                                              Na obra “O Nascimento da              relação de um exemplo arbitrário
 contorno. Sim, isso pode ser mortífero, mas              Heloisa - Acho que pode ser escutada
                                                                                                           Tragédia no Espírito da Música”,         para um conceito universal: expõem
 não necessariamente, porque, por exemplo,            assim, quando ela diz algo para quem escuta.
 se um sujeito faz essa alienação, mas fala           E também, há, na música ocidental, a proposta        Friedrich Nietzsche (1844-1900), ao      na determinidade do efetivo aquilo
 disso numa análise, fala disso que lhe toca,         de alguns compositores e movimentos, de              indagar a relação da música com a        que a música enuncia na universali-
 que provoca essa embriaguez, essa entrada            produzir propriamente uma narrativa musi-            imagem e o conceito, socorre-se de       dade da mera forma”.
 poderosa no Outro, ao falar disso, produz            cal, contar uma história, descrever algo da          Arthur Schopenhauer (1788-1860).             Quanto à distinção ou, de certa
 a	 distância,	 se	 separa	 dessa	 experiência	 de	   natureza ou uma paixão, ainda mais, mostrar          A aceitação das ideias desse filósofo    forma, oposição, entre conceitos
 fusão e insere na sua fala a sua questão, pois       os movimentos das paixões.
6 l Julho 2009                                                                                artigos

e música, esclarece que os primeiros         constava a proibição tanto dos modos                                                      possui o seu fraseado, suas “palavras”,
conteriam apenas as primeiras formas         musicais queixosos ou moles, que o                                                        acentuações e toda a estruturação de
abstraídas da intuição, como que a casca     filósofo associava aos modos mixolídio,                                                   um discurso que reproduziria o estágio
exterior tirada das coisas, sendo, portan-   lídio, hipolídio e jônico, que deu origem                                                 de infans.
to, propriamente abstrações, a música,       ao nosso modo maior, sem que se sou-                                                          Por fim, destaca-se a posição de
por outro lado, daria o mais íntimo          besse por qual motivo atribuiu essas                                                      Didier-Weill que apresenta quatro
núcleo que precede toda a formação,          características a esses modos. Também                                                     tempos lógicos de relação musical, a
ou “o coração das coisas”.                   eram proibidos os instrumentos que não                                                    partir da pergunta: o melômano ouve
    Retomando essas ideias, Nietzs-          imitassem de forma adequada a voz e                                                       como sujeito ou como Outro? No
che avança ao colocar que “imagem            a expressão do homem, como a flauta                                                       primeiro tempo o ouvinte melômano
e conceito, sob a ação de uma música         e os instrumentos de muitas cordas.                                                       ouviria no lugar do Outro, que recebe-
verdadeiramente correspondente,              Concluiu que nos atrativos proibidos                                                      ria do músico-sujeito a resposta a sua
chegam a uma significação aumenta-           estariam entrelaçadas a variedade do           sustenta que “as respostas especulares     própria questão, até então mantida
da”. Assim, enumera dois efeitos que         prazer dos sentidos e a consciência            da ninfa Eco e a perigosa sedução do       inconsciente. No segundo tempo, o
costumariam exercer a arte dionisíaca        diferenciada.                                  canto das sereias ilustrariam bem o po-    Outro-ouvinte coloca-se na posição
sobre a faculdade apolínea: “a música            Conforme exposto, a música estaria         der de fascinação da voz, precisamente     de sujeito, por ter como que recupe-
incita a uma intuição alegórica da uni-      ligada à vontade, ao dionisíaco, sendo         quando ela evoca, um pouco de perto        rado sua questão e tê-la enunciado.
versalidade dionisíaca para em seguida       uma linguagem universal anterior à             demais, o vestígio sensorial da primei-    O terceiro tempo, o melômano trans-
fazer aparecer a imagem alegórica em         linguagem verbal, ligado ao sentimento         ra voz em que o sujeito, no estágio de     formado em sujeito, logo identificar-
sua mais alta significação, para chegar      oceânico, sendo formadora do mito trá-         infans, ficou como que suspenso. Eco,      se-ia com o músico com o outro do
a conclusão da música como formadora         gico. O sentimento de gozo que acom-           excessivamente falastrona para o gosto     amor transferencial, que sustentaria a
do mito trágico, ou seja, aquele que fala    panha essa manifestação será tratado a         de Juno, a quem manteve entretida com      demanda do sujeito, sem satisfazê-la.
do conhecimento dionisíaco em alego-         seguir, desde a voz primeira até o êxtase      suas palavras enquanto as ninfas deixa-    No último, haveria a emergência da
rias, ao contrário do poema lírico, mais     da “nota azul”.                                vam-se abordar por Júpiter, incorreu na    “nota azul”, ao introduzir a explosão
vinculado às imagens apolíneas”. Inte-                                                      cólera da deusa e foi condenada a repe-    temporal.
ressante o pensamento de Nietzsche: “A           2. O SUJEITO E A MÚSICA.                   tir os sons emitidos por uma primeira          Dessa forma, a música estaria ligada
alegria metafísica face ao trágico é uma         Após ser tratada a questão do discur-      voz. Duplo sonoro de um Narciso espe-      à voz primordial e a ruptura simbó-
transposição da sabedoria dionisíaca         so musical como uma manifestação dio-          cular, conhecemos a queixa melancólica     lica caracterizada pela voz paterna, a
instintiva e inconsciente na linguagem       nisíaca e a sua relação com a vontade, os      de Eco e o lento ressecamento mineral      presença do ritmo, o surgimento dos
da imagem: o herói, esse supremo fe-         conceitos e a abstração, determinando a        de seu corpo. Certamente poderíamos        elementos musiciais e a possibilidade
nômeno da vontade, é eliminado, para         distinção entre a música e as demais ar-       interpretar a história de Eco como o       de se chegar ao gozo, que seria o quarto
nosso prazer, porque, justamente, ele        tes, é necessária uma análise da relação       retorno do sujeito a uma fase primitiva    tempo da relação da música apontado
é apenas fenômeno, e a vida eterna da        da música com o su-                                              de seu desenvolvi-       por Didier-Weill.
vontade não é tocada por seu aniquila-       jeito. Para que se che- A música permitiria a contemplação mento, na qual a voz
mento. ‘Acreditamos na vida eterna’,         gue a uma pequena               e a reconciliação com as         ouvida constituiu o          CONSIDERAÇÕES FINAIS
assim exclama a tragédia, enquanto a         compreensão desse                                                único traço distinti-        Para traçar um panorama das rela-
                                                                          contradições, os conflitos, do
música é a ideia imediata dessa vida”        tema. Parte-se, assim, trágico universal, em uma grande vo de seu universo,               ções do discurso musical, primeiro foi
    Anchyses Jobim Lopes, em seu texto       da voz primeira, da                                              traço cujas primeiras    visto que a música como uma lingua-
                                                                            celebração da existência.         modulações ele já po-
“Afinal, que Quer a Música?”, comenta        ruptura representada                                                                      gem universal, seria cópia da vonta-
a teoria de Schopenhauer: “Entretanto,       pela voz paterna e a                                             dia discernir no seu     de, diferente dos conceitos, ou seja, o
no sistema schopenhauriano a música          presença do ritmo para se chegar ao            estágio de infans”.                        “coração das coisas”, como lembrou
se distingue de todas as outras artes,       sujeito e à possibilidade de gozo.                 O mesmo autor, ao afirmar que a        Nietzsche, ao desenvolver as teorias de
carece do duplo movimento em direção             A questão da pulsão invocante foi          psicanálise se interessa pela voz, tanto   Schopenhauer.
à Verdade. A música: trata-se de uma         inicialmente esboçada por Lacan e de-          a voz materna, que marcaria o universo         Logo em seguida, foi estabelecida a
imediata objetivação, de uma cópia dire-     senvolvida na obra de Didier-Weill. Essa       sonoro primitivo, como a voz paterna,      caracterização da música como forma-
ta de toda vontade. A música, portanto,      pulsão, que traria à tona o sujeito, seria     responsável pela ruptura simbólica,        dora do mito trágico, aquele que fala do
de modo algum é semelhante às outras         o traço unitário, inscrito primeiramente       aborda a ideia do gozo: “O momento         conhecimento dionisíaco em alegorias,
artes, ou seja, cópia de ideias, mas cópia   como uma forma musical. A voz mater-           hegeliano da ‘consciência infeliz’ que     diferentemente do poema lírico, mais
da vontade mesma, cuja objetividade          na, por sua vez, não seria invocante pelo      o filósofo compara a um ‘estado que        vinculado às imagens apolíneas.
também são as Ideias. Emanação direta        que diz, mas sim pelo tom, ou afeto, do        leva ao gozo’, calcado na nostálgica           Dessa diferenciação, possou-se para
da Vontade, Schopenhauer postula a           que diz. Nas palavras de Jobim Lopes:          felicidade do ser que medita sobre a       as considerações de Adorno sobre a
música como uma linguagem univer-            “E o invocado não permanece como               sua própria incompletude. Além da          proibição em relação a alguns modos e
sal anterior a toda outra linguagem,         uma mera resposta – informação ou              insatisfação existencial que incita o      instrumentos musicais na República de
plástica ou verbal”. Acrescenta que          reflexo –, que fosse apenas uma voz, um        artista a tender para a criação efetiva    Platão como forma de ilustrar as barrei-
essas ideias teriam sido retomadas na        som, um movimento labial mã (que em            (os Wirklichkeiten de Freud), a música     ras que podem ser levantadas contra a
obra de Didier-Weill a partir de um          todos os idiomas assemelha-se a palavra        remeteria a esse gozo impossível de        liberdade do discurso musical.
prisma psicanalítico, ao sustentar que       que designa mãe), mas como toda uma            dizer e impossível de pensar, um gozo          Na segunda parte, tratou-se da rela-
a experiência trazida pela música seria      abertura à existência. O que é invocado,       externo ao significante e cuja natureza    ção do sujeito e da música, enfocando os
próxima da experiência mística, na qual      também é gesto, que com o crescer do           explicaria sua dificuldade de se deixar    trabalhos de Pierre Kauffmann e Ana-
o sujeito é oceanicamente contemplado        infans torna-se dança, o prazer de come-       na linguagem. Talvez, assim, possamos      chyses Jobim Lopes, com ponderações
pelo Outro, mas de modo oposto ao da         morar pelo ritmo a leveza do corpo. Ou         imaginar a música como aquilo que, do      a respeito dos ensinamentos de Lacan
invasão do Outro e de seu olhar medú-        mesmo a embriaguez dionisíaca, prazer          som ligado à palavra do ‘traço mnêmi-      e Alain Didier-Weill, iniciando pela voz
sico como psicose. A música permitiria       que todas as crianças obtêm girando até        co sensorial’ (Freud), teria escapado à    primeira até chegar à possibilidade de
a contemplação e a reconciliação com         perderem o equilíbrio. Do som original         dominação do ‘simbólico’ (Lacan), ou       gozo, a nota azul de Chopin, terminan-
as contradições, os conflitos, do trágico    invocado, que com o crescer do infans          dito de outra maneira, como aquilo no      do com os quatro tempos lógicos da
universal, em uma grande celebração          é decomposto em fonemas e repetido             som que permaneceria irredutível ao        relação musical de Didier-Weill.
da existência.                               em sílabas, originar-se-ia a linguagem.        significante”.                                 De todo o exposto, conclui-se que o
    Essa celebração, no decorrer da          A mesma trilha nietzschiana, da música             Elemento integrante do discurso        estudo que busca estabelecer a relação
história, fez surgir padrões cujas ori-      até a palavra.” Pode-se inferir daí, que       musical, o ritmo também se faz presente    entre música e psicanálise passa pela
gens são, em sua grande parte, desco-        se do gesto se originou a dança, dos sons      nesse universo sonoro primitivo, pela      questão da abordagem filosófica do co-
nhecidas. Os estudos dos pitagóricos         teria surgido a música como um discur-         pulsação do coração da criança que mar-    nhecimento dionisíaco e de abstrações e
desvendaram as relações matemáticas          so estruturado, com regras próprias.           ca o discurso materno e a ruptura da voz   conceitos. Percorre, também, o caminho
das estruturas musicais. Escalas, modos,         Sobre a questão da primeira voz, e         paterna, acelerando ou diminuindo a        da pulsão invocante, do ritmo cardíaco
ritmos, intervalos harmônicos e meló-        fazendo uma simetria com a questão             velocidade cardíaca conforme vivência      no estádio de espelho, da ruptura repre-
dicos, deram forma a essa linguagem,         do estádio do espelho de Lacan, que,           essas experiências, bem como o próprio     sentada pela voz paterna e os elementos
sendo, muitas vezes, contudo, objeto         tal como a situação de captação do             ritmo das vozes maternas e paternas.       que compõem o discurso musical, ser-
de proibições e restrições. Theodor          olhar pela forma especular, poder-se-ia        Dessa forma, esses elementos engendra-     vindo de um campo de pesquisa que
Wiesengrund-Adorno (1903-1969) em            imaginar um mesmo efeito em relação            ram o discurso musical a polifonia, os     necessita de um olhar mais atento dos
sua obra “O Fetichismo na Música”            à captação da voz, Pierre Kauffmann,           ritmos, os modos, as melodias, o contra-   teóricos tanto do lado da ciência musical
aponta que já na República de Platão         em seu trabalho “Psicanálise e Música”,        ponto e a harmonia. Também a música        como da psicanálise.
artigos                                                              Julho 2009 l 7


     FREUD: um homem de muitos adjetivos [1]
                                                edson LuIz andre de sousa[2
                                                       PauLo endo[3]
       “É necessário viver a vida ao limite,   seu fino senso de humor: “Sua linda         de sua queda e as faltas dele, a fonte de
      não segundo os dias, mas segundo a       fotografia. A princípio, quando tinha o     sua felicidade”.
                            profundidade”      original na minha frente, não pensava           Crítico: O espírito crítico foi um
                     Rainer Maria Rilke        muito nela; mas agora, quanto mais a        dos alimentos essenciais da vida de
                                               contemplo, mais ela se assemelha ao         Freud. Sempre foi muito claro em suas
    Freud foi um homem múltiplo e são          objeto amado; fico esperando que as         posições e raramente abria mão de seu
muitos os caminhos através dos quais           faces pálidas corem até ficarem como as     compromisso com a verdade em prol de
a profundidade de sua vida se revela.          nossas rosas, que os braços delicados se    alguma conveniência ou vantagem em
Apresentamos uma pequena partitura             separem da superfície e peguem a mi-        sua vida. Pelo contrário, em inúmeras
como acorde inicial de uma vida que            nha mão, mas a querida fotografia não       vezes defendeu posições difíceis indo
mostrou a todos a experiência do limite.       se move, apenas parece dizer: Paciência!    contracorrente do senso comum e tendo
    Bibliófilo: Freud relata na “Interpre-     Paciência! Sou apenas um símbolo, uma       que pagar um preço caro por isto. Sabe-
tação dos Sonhos” (1900) um curioso            sombra lançada no papel, a pessoa ver-      mos que suas teorias sobre o sonho, as      que encontrava na natureza desapa-
episódio que aconteceu com ele quan-           dadeira vai voltar e então você poderá      hipóteses sobre a sexualidade infantil      receria um dia e assim só conseguia
do tinha 5 anos de idade e sua irmã 3          me esquecer outra vez.”                     e suas experiências com a cocaína não       ver o mundo de forma pessimista. Eis a
anos. O seu pai lhes dera de presente              Ciumento: Freud também surpreen-        foram, no primeiro momento, bem rece-       resposta de Freud ao autor das clássicas
um livro sobre uma viagem a Pérsia,            deu em seu ciúme. Sua noiva, antes de       bidas pela comunidade científica. Freud     “Elegias de Duíno”:
com muitas imagens coloridas. Faz              conhecer Freud, se interessara por um       sempre criticou os profetas de plantão          “Neguei ao poeta pessimista que
referência a “uma alegria infinita” com        primo cujo nome era Max Mayer. Freud        com suas “visões de mundo” sedutoras.       o caráter de transitoriedade do belo
que arrancara as folhas do livro junto         se sente muito vulnerável sempre que        A psicanálise foi construída justamente     implicasse em sua desvalorização. Pelo
com a irmã. Escreve Freud: “Mais tarde         Marta fala do Max e ,simplesmente, a        para implodir as novas formas de alie-      contrário, encontramos ali um incre-
uma paixão por livros. Associei sempre         proíbe de chamá-lo pelo seu prenome.        nação das pedagogias do viver, hoje tão     mento de valor. A qualidade do transi-
essa primeira paixão àquela impressão          Ela devia chamá-lo Sr. Mayer.               em moda. Freud defendia a idéia que         tório comporta um valor de raridade no
de infância”.                                      Deprimido: Freud sempre enfrentou       cada um deveria desenhar e instaurar        tempo. As limitadas possibilidades de
    Precoce: Em uma carta a Fliess             com muita determinação suas adversi-        o seu percurso a partir do confronto/       gozá-lo o tornam tanto mais precioso.
ficamos sabendo de um episódio que             dades. Muitas vezes, contudo, relatou       encontro com o desejo inconsciente.         Manifestei, pois, minha compreensão
marcou muito a vida de Freud e que             ter enfrentado estados de depressão ,       Vejamos em um dos clássicos textos de       de que a efemeridade da beleza pudesse
nos indica o quanto algumas imagens            desamparo e angústia. Em seu inicio         Freud de 1926 intitulado “Inibição, Sin-    perturbar o gozo que nos proporciona.
infantis funcionam como motor de               de vida profissional, chegou a usar a       toma e Angústia” uma passagem que           No curso de nossa existência vemos
muitos acontecimentos futuros.. Freud          cocaína como anestésico e também an-        indica este princípio crítico de Freud:     esgotar-se para sempre a beleza do hu-
tinha 7 anos e urinou voluntariamente          tídoto contra a depressão. O interesse          “Eu não sou de modo algum favo-         mano rosto e corpo, mas esta fugacidade
no quarto dos pais. Seu pai irritado o         pela cocaína foi despertado por um          rável à fabricação de visões de mundo.      agrega a seus encantos algo novo. Uma
repreende: “Este menino nunca vai ser          artigo do dr. Théodor Aschenbrandt          Deixa-se esta tarefa aos filósofos que      flor não nos parece menos esplêndida
nada na vida!” Freud ficou muito ma-           em dezembro de 1883 quando Freud            confessadamente acham impossível em-        se suas pétalas só estiverem viçosas
goado com a frase e esta cena retornou         tinha 27 anos. Retomando as teses do        preender a viagem da vida sem um guia       durante uma noite”.
incessantemente em seus sonhos. Disse          psicofarmacologista italiano Paolo          turístico tal, que forneça informações          Resignado: Aceitar as limitações da
ele: “Nos meus sonhos, essa cena se            Mantegazza (1831-1910), Freud via, na       sobre tudo. Aceitemos humildemente o        vida, a lógica da natureza, as determina-
repetia muito seguido, sempre acom-            cocaína, uma “droga mágica”, capaz          desprezo com que nos olham, sobran-         ções do inconsciente, a fúria do destino
panhada de uma enumeração dos meus             de restaurar as forças e curar desde a      ceiros, desde o ponto de vista de suas      sempre esteve na ordem do dia para
trabalhos e dos meus sucessos, como            impotência até a congestão nasal. Nunca     necessidades superiores. Porém, já que      Freud. Uma das experiências mais dolo-
se eu quisesse dizer: “viu, eu me tornei       foi um viciado na droga, e Jürgen von       também não podemos recusar nosso or-        rosas de sua vida foram os quase 16 anos
alguém!”                                       Scheidt, que escreveu um ensaio sobre       gulho narcísico, procuremos nosso con-      em que conviveu com um câncer no
    Trabalhador idealista: Freud muitas        essas experiências de Freud, insiste em     solo na consideração de que todos esses     maxilar direito. Teve que colocar uma
vezes trabalhava sem receber nada. São         que isso se deveu ao gênio e à perso-       “guias de vida” rapidamente envelhe-        prótese na boca, que nomeou como“O
muitos os pacientes que acolheu de situ-       nalidade do mestre vienense. Também         cem, que é justamente nosso pequeno         monstro”. Esta prótese era uma espécie
ação financeira precária. Muitos deles se      é importante sublinhar aqui um dado         trabalho, limitado em sua miopia, que       de dentadura ampliada destinada a
analisaram quase sem custos. Em uma            histórico que faz toda a diferença na       torna necessárias novas edições destes,     separar a boca da cavidade nasal. Eis o
carta a Marta de maio de 1886 vemos            relação de Freud com a cocaína e suas       e que mesmo os mais modernos guias          que diz Freud em uma carta de 1924 a
com clareza sua posição: “Vejo que, para       pesquisas: na segunda metade do século      são tentativas de substituir o velho, tão   Lou Andreas Salomé:
um médico, trabalho e renda são duas           19, não havia proibição ao uso da coca-     confortável e tão completo catecismo.           “Aqui está uma pessoa que, em vez
coisas muito diferentes. As vezes se faz       ína .Era consumida em chás, cápsulas,       Sabemos precisamente quão pouca luz         de trabalhar duro até a velhice e então
dinheiro sem levantar um dedo, outras          vinhos com cocaína e até mesmo na           a ciência até agora pode lançar sobre os    morrer sem preliminares, contrai uma
vezes se trabalha como escravo sem             popular coca-cola, que, até 1903, tinha     enigmas deste mundo: todo o barulho         doença horrível na idade madura, tem
recompensa. Anteontem, por exemplo,            esse produto na sua composição.             dos filósofos não poderá alterar nada       de ser tratada e operada, dissipa seu
um médico americano veio ver-me com                                                        neste quadro, apenas a paciente conti-      dinheirinho ganho com sacrifício, gera
uma doença nervosa, caso complicado               Eis o que diz a Marta em uma carta       nuação do trabalho que subordina tudo       e desfruta descontentamento e, em se-
que me interessa tanto que o aceitei sem       de abril de 1884:                           a uma exigência de certeza, pode lenta-     guida, se arrasta por aí indefinidamente
receber nada.”                                    “Em minha última crise séria de de-      mente produzir uma mudança. Quando          como um inválido”
    Apaixonado: Freud sempre se en-            pressão, voltei a tomar cocaína, e uma      o caminhante canta na escuridão, recusa
tregou às suas paixões de corpo e alma:        pequena dose bastou para me levar           seu estado de angústia, mas não por isso        A cada leitor de ampliar este pe-
aos amores, às amizades, aos pacientes         sensacionalmente às alturas. Estou, no      pode ver mais claramente”.                  queno esboço de adjetivos como a nota
e, sobretudo, ao conhecimento. Em              momento ocupado, para seu louvor,               Otimista: Como grande criador, po-      inicial de uma musica ainda a ser escrita
sua correspondência temos inúmeros             em fazer um levantamento da literatura      demos dizer que Freud segue o adágio        e reescrita indefinidamente.
relatos do seu envolvimento absoluto           científica relativa a essa droga mágica.”   proposto por Albert Camus “Criar é
com aquilo que estava lhe instigando              Dois anos depois em outra carta para     viver duas vezes”. Assim, vemos atra-          [1] Neste pequeno texto apresenta-
em determinado momento. Em sua                 Marta escreve: “A pitada de cocaína que     vés de sua obra uma vida expandida e        mos um brevíssimo fragmento do livro
correspondência com a noiva Marta              acabei de tomar está me pondo tagarela,     a presença sempre de uma aposta do          Sigmund Freud: Ciência, Arte e Política,
Bernays encontramos preciosidades de           minha mulherzinha. Vou continuar a          poder salvador da palavra. Um diálo-        LPM, Porto Alegre, 2009.
imagens sobre a paixão. Vejamos este           escrever para comentar a sua critica à      go comovente sobre esta questão entre
pequeno trecho em que faz dialogar de          minha miserável pessoa. Você compre-        Freud e o poeta Rainer Maria Rilke está
forma instigante a fotografia e a vida.        ende a estranheza da construção de um       relatado por Freud em um belo texto de          [2] Psicanalista. Membro da APPOA.
Em trechos como estes, vemos também            ser humano, dá-se conta de que as vir-      1915 que nomeou “Transitoriedade”.                               Professor da UFRGS
a desenvoltura estilística de Freud e o        tudes dele muitas vezes são a semente       Rilke se queixava de que toda a beleza            [3] Psicanalista. Professor da USP
Folhetim do Cap - ano 209

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Folhetim do Cap - ano 209

  • 1. Folhetim do Informativo do CAP - Ensino, Pesquisa e Atendimento em Psicanálise e Psicopedagogia - Ano VII - Julho de 2009 - nº 7 VII JORNADA ABERTA DE PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA “Em Pauta: A Partitura do Humano - Melodia do Paciente e do Analista” 14 E 15 DE AGOSTO DE 2009 Público Alvo: Profissionais e estudantes da área da saúde e educação. Objetivo: Estabelecer aproximações possíveis entre psicanálise, psicopedagogia e música. Refletir sobre alguns recortes clínicos, tendo a música como metáfora da técnica. Dia 14 /08 – Sexta-feira Dia 15 /08 – Sábado Temas Livres 08h 50 – Mesa de discussão – Melodias da Clínica com Andréa Pereira e Viviane Borin – Psicanalistas. 16h – A criança com visão normal e a criança com deficiência visual em 10h – Coffe Break. diálogo com Winnicott. Creusa Marques – Psicopedagoga. 10h 30 – Mesa de discussão – Recorte Clínico Psicopedagógico. Adriana 16h 40 – Ressignificando a função materna. Olga Bevonesi – Psicope- Fischer – Mestre em educação e Psicopedagoga. dagoga. 11h 40 – Discussão Clínica – Composições em Análise. Heloisa Helena 17h 20 – Pssicopedagogia institucional em um centro de formação de Marcon – Psicanalista participante da APPOA, coordenadora do grupo condutores: abrindo espaço de autoria. Juliana Morschbächer – Pedagoga temático “Psicanálise e Música”(APPOA), saxofonista amadora. especialista em educaçaõ especial inclusiva, Psicopedagoga. 12h 45 – Encerramento – Iara Maria Pereira – Coordenadora do Depar- 18h – Que a faca que corte dê talho sem dor. Loraine Schuch – Mestre tamento Científico do CAP. em Psicologia UFRGS e Psicanalista. 18h 30 – Credenciamento. 18:45 – Abertura – Viviane Borin – Presidente do CAP. VALoRES 19h – Conferência de Abertura – Psicanálise e musicalidade. Heloisa Helena Marcon – Psicanalista participante da APPOA, coordenadora do Inscrições Até 10/08 Após grupo temático “Psicanálise e Música”(APPOA), saxofonista amadora. 20h:15 – Mesa de discussão – Sons, ritmos e silêncio: entre a experiência Sócios e Estudantes R$ 60,00 R$ 70,00 musical e a musicalidade do paciente, com Iara Maria Pereira – Psicopeda- goga, Psicanalista em formação pela APPOA e Leandro Michel Antonelo Profissionais R$ 70,00 R$ 80,00 Pereira – Advogado, especialista e mestrado na área de proteção interna- cional das obras de arte, músico. Local: Hotel Holiday Inn.Av. Carlos Gomes, 565 – Bela Vista – Porto Alegre/RS InSCRIçõES: Mediante depósito bancário para Banco Itaú VAGAS LIMITADAS Agência 0579 – conta corrente 32897-2 e Sede do CAP – Av. Caçapava, 537 conj. 206 – Petrópolis – Porto Alegre/RS confirmação do mesmo até o dia 13 de agosto. Contatos: (51) 3388.6403 / 9314.3783 Na instituição – horário de funcionamento da secretaria: E-mail: cappsic@terra.com.br segunda a quinta das 14h às 18h ENTREVISTA COM OS CONVIDADOS DA JORNADA Heloisa Helena Marcon Leandro Michel Antonelo Pereira Página central Página Central Seleção aberta para o curso: Diálogos entre Psicanálise e Psicopedagogia - Página 2
  • 2. 2 l Julho 2009 editorial As primeiras escritas como carícia O CAP ouve as sutilezas que Marlise Von Reisswitz nos são endereçadas e se propõe, durante todo o primeiro semestre As primeiras escritas são os in- melodia própria. O bebê também de 2009 , a estudar questões da mu- tercâmbios das carícias entre a mãe faz ações, sente o corpo materno, e o bebê. Essas carícias deixam produzindo gestos, olhares, sons sicalidade , do silêncio, das pausas marcas como toda a escrita. Pode- diferenciadores. e dos ritmos que perpassam a clíni- se imaginar essa primeira cena de É verdadeiramente uma cena ca psicanalítica e psicopedagógica. escrita: a mãe acaricia o rosto do de inscrição, uma cena matriz do Afinamos nossa escuta. Nos bebê, passa a mão, o dedo, na pele escrever, do ler, do aprender, do deixamos tocar pela sensibilidade do bebê, faz o contorno do rosto, aprender a ler e escrever. É uma e pelo encantamento que a música o dedo acompanha o contorno, cena que evidencia dois corpos, suscita. A partir de então, compu- deixa leve um traço. muito juntos, que vão processar semos uma partitura inusitada, que A mãe fala com seu bebê. Sua uma longa trajetória de inscrições expressa a melodia do CAP neste voz é uma carícia, uma carícia no mútuas, que transformam a mu- momento de sua história. Instante ar que envia sons, ritmos, pausas, lher em mãe e o bebê em filha ou melodia que escreve/inscreve a filho. Esse lugar que a mãe oferece pautado por outros tons, novos possibilidade da escuta do bebê. e que o bebê “toma” (assim como sons... Toquemos pois uma nova O essencial é a concepção do ele toma o leite) diz de uma matriz, música! Que o folhetim deste ano escrever como acariciar, poder de uma modalidade de aprendiza- seja o Prelúdio de uma bela Jorna- se pensar a simultaneidade dos gem, como diz Alícia Fernández. da de Estudos! Boa leitura a todos! processos de ser escrito e de ser Existe, nesta cena, alguém que acariciado. Pensar primeiro a es- oferece seu corpo, sua pele, seu Iara MarIa PereIra crita como advinda da primeira olhar, a melodia de sua voz, como Coordenadora CIentífICa do CaP carícia, seja do toque, seja da voz, espaço para o bebê se constituir, seja do cheiro. Esta idéia resgata o poder habitar, se aninhar. Ele “faz corpo que existe na escrita. coisas, toma coisas, agarra coisa”, É Ricardo Rodulfo que fala das quem escreve desse modo, com SELEÇÃO ABERTA PARA cenas de carícias como as primei- estas palavras é Rodulfo. A pe- ras escrituras. quena criança brinca para estar na O CURSO: DIÁLOGOS A carícia diz da superfície e do outro, pele na pele, voz no ouvido que presença do outro e/ou também, contato direto entre peles – rosto e dedo, escuta, a mão traçando linhas, futuras para se ausentar. Estes são processos ENTRE PSICANÁLISE E entre a melodia da voz e sua recepção letras, vírgulas, pontos no outro. A que vão permitir ao bebê constituir-se escrita através de carícias faz surgir PSICOPEDAGOGIA pelo infante. Parece que o dedo faz aparecer o escrever como acariciar, é significados acariciadores e significan- como semelhante e ao mesmo tempo singular. Eles instauram a diferenciação. O objetivo do curso é fundamen- ele que, na pele do outro, se mostra tes acariciantes. A falta de carícias ou Nesses processos o bebê é lido e escrito tar a prática clínica do psicopedago- go através do diálogo da psicanálise fazendo algo, fazendo gestos e marcas os maus-tratos sobre o organismo do pela mãe ( ou quem faz esta função) e freudiana com a psicopedagogia de na superfície corpórea. Essa cena lembra bebê atrapalham na constituição do o bebê também ocupa o lugar de leitor orientação analítica. Conta-se com outra descrita por Ricardo Rodulfo, so- corpo e na possibilidade de desejar. . e escritor. Ele lê o corpo da mãe, vai a participação de psicanalistas e bre um bebê que brinca com o botão da Estas idéias propõem escrever experimentar seu seio, seu corpo, com a psicopedagogos que proporcionam blusa da mãe. Esse brincar é uma forma como acariciar no lugar de escrever boca, com as mãos, com as pernas, com uma visão mais ampla da relação de escrita, de proto-escritura. Rodulfo relacionada só com a fala. Esta con- o olhar, com o nariz, com todo o seu terapêutica. escreve que este brincar é o primeiro cepção pode produzir outros efeitos. corpo e também deixa marcas no corpo Estrutura do Curso: Duração - 4 texto escrito que o bebê produz. O bebê Pode-se dizer que a escrita não tem da mãe, criando-se a subjetividade entre módulos , de um semestre cada, sen- faz o gesto em direção ao botão da blusa só a ver com a linguagem falada, a a mãe e seu filho ou filha. do os dois primeiros introdutórios e da mãe, gesto que denota o desejo de língua oral, não é a sua transcrição. A O bebê vai aprendendo com o tato, os dois últimos avançados. Cada mó- pegar o botão, a mãe permite que o filho escrita também tem a ver com marcas com os gestos, com as produções de dulo possui 2 seminários semanais, que se olham, que são sentidas, que se use-o para brincar, que o invente como som, com as ações, as inscrições, que de 1 hora e meia de duração. Tur- deixam ler. mas especiais para profissionais do brinquedo, que o use para aquilo que ambos têm corpos diferentes, ritmos não foi feito. O brincar faz surgir uma No corpo da mãe o bebê se ani- diferentes, pensamentos diferentes. interior. terceira zona, entre a mãe e o bebê, que nha, coloca coisas suas nesse espaço, São dois e não um só, e que precisam Público Alvo: Psicopedagogos, tira coisas do corpo materno, mora Profissionais da Saúde e Educação. Winnicot (1975) propõe como espaço para ser um só, aprender sobre o transicional. neste lugar. O corpo da mãe é supor- outro, sobre si mesmo e simultanea- Valor: 12 parcelas de R$150,00  te para o bebê colocar em processo Mãe e bebê precisam se escrever mente sobre o mundo.  INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES para serem escritos. São inscritos pelas a sua subjetividade. Ele permite à PELOS FONES (51) 3388.6403 (51) criança instalar-se subjetivamente a RODULFO, Ricardo. La constitución marcas das carícias, corpo no corpo do 9314.3783, ou na sede da Institui- partir do outro, junto com o outro, del juguete como protoescritura. In:Revista ção- Av. Caçapava, 537 conj. 206, E.P.S.I.B.A. nº 4. 1996. possibilitando o desencadear de pro- diariamente, das 13h às 17h. A mãe fala com seu bebê. Sua ________. Dibujos fuera del papel. Buenos cessos narcisistas, que fazem parte Aires: Paidós. 1999.  PROGRAMA DISPONÍVEL NA voz é uma carícia, uma carícia do processo de simbolização. A mãe INSTITUIÇÃO OU VIA E-MAIL ca- ppsic@terra.com.br no ar que envia sons, ritmos, funciona como suporte e superfície pausas, melodia que escreve/ do bebê. É também marcadora de DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA: CUR- inscrições e constitui junto com o bebê Marlise Von Reisswitz RICULUM VITAE E AUTOBIOGRAFIA inscreve a possibilidade da o corpo dele Ela faz isto tocando a Psicopedagoga escuta do bebê. criança, olhando-a, falando com uma marlisevr@terra.com.br expediente Folhetim do CAP é uma publicação do Centro de Ensino, Pesquisa e Atendimento em Psicanálise e Psicopedagogia - CAP. Rua Caçapava, 537 conj. 206 Petrópolis - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3388-6403 Responsáveis: Andréa Pereira, Iara Pereira, Veruska Bonete e Viviane Borin. Editoração eletrônica: Bem Estar Comunicação - Fone: (51) 3026.7515 CAP - Fones: (51) 3388.6403/ 9314.3783 E-mail: cappsic@terra.com.br
  • 3. artigos Julho 2009 l 3 Capacidade para desfrutar (Des)afinados o silêncio! andréa fernandes PereIra* | VIVIane araMburu borIn** ADRIANA FISCHER* O psicanalista está atravessado pela curiosidade. Que mundo mora Imagem: Francis Bacon Escrevo sobre destinado somente naquele outro? É pela palavra (nas algo que julgo im- a função protetora e crianças o brincar) que o outro co- portante para a área defensiva, de algum munica o seu mundo. A psicanálise da Psicopedagogia modo, cristalizado é atenta ao mundo falado. O de- e que é anterior a e inerte, que pode safino no discurso destas palavras capacidade de pen- resultar em certa são protagonistas da cena analítica. sar ou mesmo de precariedade de seu Essa cena é permeada pelo canto pensar junto com mundo interno e do paciente que através da palavra um outro. Refiro-me em alguma pobreza comunica a sua dor. De certa forma na sessão analítica é atravessada a conquista daqui- em sua vida cul- a melodia que habita a voz do fa- pelos ruídos, dissintonia, e pelo de- lo que vou nomear tural. Em lugar do lante parece alienada (do latim alie safino do paciente, se encaminhando como uma capaci- desenvolvimento num=pertence a outro) ao mundo pelo processo analítico para dueto dade para desfrutar da pessoa através psicanalítico. musical. Os acordes vão ser tocados o silêncio. Pretendo da experiência e da O Cap em sua última jornada a partir da transferência. O analista lançar luz sobre uma sua relação com a “escuta” os participantes que pedem com seu ouvido musical vai apu- das características cultura, vai se ar- um tema onde a poesia fizesse pre- rando o tom através do desafino do do silêncio na rela- mando um modelo sença constante. Se na prosa existe paciente, é justamente naquilo que ção terapêutica e diz respeito a uma feito de peças isoladas, uma espécie uma sucessão temporal que constitui o paciente desafina que comunica o conquista do paciente para desfrutar de colagem. O sujeito apresenta-se o enunciado, na poesia isso é rompi- simbólico. Clarice Lispector já dizia: do silêncio, em um ambiente seguro, então, com uma pseudo-subjetividade do. A poesia tem razões que a prosa “ ...Eu me defrontei com o impossível que constituirá uma das bases para o que tem pouco de original. desconhece. Será a música tecida de de mim mesma..Aí eu desafinei sem pensar. A escolha do termo capacida- É neste caminho que pretendo razões que a poesia e a psicanálise querer...Um sopro de vida.”. de é proposital pois desejo falar sobre pensar a agitação excessiva de algu- também desconhecem? A curiosidade não pertence so- uma conquista do sujeito no caminho mas crianças, traduzida por seus pais A poesia da música esta em não mente ao mundo analítico, é inerente de sua constituição, portanto, que como barulho. Dizem eles: “Só temos pedir licença. Ela penetra o ouvinte. a humanidade. A curiosidade ana- pode ocorrer ou não. o Joaõzinho, mas é como se tivéssemos Somos desde que nascemos mergu- lítica se distancia do suposto saber No início da constituição de um uma turma inteira lá em casa.” lhados no mundo sonoro o ouvido á medida que o outro dá a nota e sujeito, a imagem, a palavra, a presen- Penso que uma forma de dar senti- seguem tocando construindo uma A poesia da música esta em não ça viva da mãe, os outros, o entorno do a esse “barulho” seria compreendê- partitura musical. “O analista con- organizam a construção da subjetivi- lo como uma saída utilizada pelos pedir licença. Ela penetra o ouvinte. voca o paciente em certa hora do dia, dade em uma estrutura que articulará sujeitos para se desligarem de seu Somos desde que nascemos deixa-o falar, escuta-o, depois lhe fala o corpo, os afetos e o pensamento. mundo interno, restando um sujeito mergulhados no mundo sonoro e deixa-o escutar.” Para além das pa- Desta forma, as experiências corporais com pouco potencial criativo. Neste o ouvido único buraco humano lavras pode-se ouvir o tom e a riqueza e emocionais, amparadas pelo suporte caso, é necessário criar condições, na impossível de ser tapado. contida na melodia que habita na voz ambiental se traduzem em vivências relação terapêutica, para que o silêncio do paciente de cada dia. Os tristes que começam a ter representação possa ser vivenciado com prazer e não único buraco humano impossível com seu tom baixo, os eufóricos com psíquica. Origina-se a constituição de com angústia. Um silêncio no qual seja de ser tapado. Não há cultura sem tom alto os agressivos agudo. um sujeito que percebe seu próprio possível desligar-se temporariamente musicalidade. Musicalidade que é Ouvindo Tom: existir, representa-o e dá-lhe sentido, do mundo externo para se ligar ao apresentada ao BB no berço. Esse “... Você com a sua música esque- registrando-se como protagonista de mundo interno, dos afetos, ampliando mesmo BB que no colo irá brincar de ceu o principal uma história com continuidade no a trama psíquica. Este silêncio é visto dança com seu corpo. Na evolução Que no peito dos desafinados tempo. Suas novas experiências são como a criação de uma capacidade será tocado pelas cantigas infantis. No fundo do peito agregadas a esse núcleo, gerando a psíquica, amparado por um ambiente Qual adolescência que não foi “ta- Bate calado, que no peito dos noção de que tudo o que experimenta, facilitador, que fornece apoio para este tuada” pela capacidade subversiva desafinados da ordem do prazer ou do desprazer, sujeito antes que a integração seja um musical? Sem falar no jogo amoroso. Também bate um coração...” pertence-lhe e forma uma unidade, fato, capaz de permitir ao paciente Qualquer amor que se presa possui Essa foi uma primeira nota fica o “ouvir”, ou seja, sentir e perceber a si uma música que marca tanto o en- convite para seguirmos tocando na Um silêncio no qual seja possível mesmo e, portanto, comunicar-se com contro quanto o desencontro. A mu- Jornada “Em pauta: A Partitura do desligar-se temporariamente o terapeuta a partir de uma relação sicalidade como a poesia quebra com Humano.” mais verdadeira. Muitos pacientes em a temporalidade. Transporta-nos a do mundo externo para se ligar memórias por vezes esquecidas nos início de tratamento ainda não con- 1. Música e Psicanálise - Mª de ao mundo interno, dos afetos, quistaram essa capacidade e é nesta invocando a sentimentos rompendo Lourdes Sekeff ampliando a trama psíquica. direção que o acompanhamento pode recalcamentos. ** Sigmund Freud. ser realizado. “Como a música carrega em seus um sujeito único. Gradualmente esse Este é apenas um ensaio sobre o flancos o não cs e como a psicanálise andréa fernandes Pereira* sujeito se torna coeso e se integra, não tema. Há muito mais a ser pensado carrega em torno daquilo que escapa andreiapsica@gmail.com precisando cindir nem negar o perce- e debatido. a cs a aproximação se reforça.” Po- Viviane aramburu borin** bido e o experimentado. deríamos pensar que o carregado é viviborin@hotmail.com A integração se realiza entre corpo, Adriana Fischer - psicopedagoga o mundo simbólico. A música tocada Psicanalistas afeto e pensamento e esses três níveis (afischer.ez@terra.com.br) formam uma trama, constituindo o tecido psíquico que será capaz de aprender, ou seja, conter e elaborar to- das as novas experiências ao longo da vida. Em termos gerais, teríamos um sujeito que conservou sua originalida- de e sua potencialidade de mudança e crescimento através da experiência e da aprendizagem. A dificuldade seria descrita como um aspecto deste sujeito que perma- neceu precocemente consolidado,
  • 4. VII JORN “Em Pauta: A Partitura do Humano - ENTREVISTA COM HELOISA HELENA MARCON Psicanalista, participante da APPOA, realizar idas e vindas a esse Outro, justo a crença monoteísta. Foi só a partir do séc. IV, de ler Freud, que tem como efeito, um outro coordenadora do grupo temático partir disso que escapa, construindo, assim, quando o imperador Constantino I converteu- modo de fazer clínica. Em termos gerais eu “Psicanalise e Música” (APPOA), um lugar de enunciação! se ao Cristianismo que surgiram as condições diria que a leitura de Freud feita por Lacan para que esse canto se transformasse ou fosse propicia uma abertura, bem de acordo com saxofonista amadora. Folhetim do CAP - Pensamos que a mú- transformado – foi unificado no final do sé- o modo lacaniano de pensar o inconsciente - sica está enraizada na cultura brasileira. E culo VI pelo Papa Gregório Magno – no que hiância. Desde o próprio objetivo da análise Folhetim do CAP - Heloisa, como psi- no fazer clinico dos psicanalistas de nosso hoje é chamado de canto gregoriano. Ele é que não é mais o de indentificar-se ao ego do canalista e música nos conta sobre este país, existe um lugar para a música? uma música vocal pura, ou seja, canto sem analista, até o modo de vestir-se do analista e encontro quando o ritmo entra no teu Heloisa - Bom, eu não sei responder dos qualquer tipo de acompanhamento instrumen- o tempo da sessão que ficam livres de regras fazer clinico... psicanalistas brasileiros em geral. Falei um tal. Ainda mais: canto coletivo em uníssono, fixas, pré-determinadas; bom, eram pré- Heloisa - Eu diria que na minha clínica o pouco de como isso se passa para mim. O cantado apenas por vozes masculinas. Todos determinadas certamente com base em algo ritmo surgiu primeiramente como intuição – máximo que eu me arrisco a dizer é que acho, cantavam a mesma melodia ao mesmo tempo. que não tem a ver com o inconsciente e seu como acontece quase sempre comigo, aliás. sim, que a música está enraizada na cultura Bom, acho que só com esse exemplo já con- funcionamento... Isso porque aos poucos algo que hoje é bem aqui no Brasil e que, de alguma forma, é seguimos sentir o quanto a música ocidental E no campo da música, talvez, - eu subli- claro e explícito para mim foi me fazendo muito provável que a clínica de muitos cole- se transformou desde aí... Acompanhamento nho esse talvez - pois é uma intuição inicial questão: que tanto o sentido quanto isso que gas esteja atravessada pela musicalidade da instrumental, diferentes melodias, diferentes ainda, talvez essa virada tenha relação com escapa ao sentido (e que é justamente o objeto nossa língua, da nossa cultura. Eu posso dizer escalas e divisões rítmicas são alguns elemen- a diferença do tonalismo para o atonalismo. da nossa escuta na psicanálise, o sujeito do também - ao menos eu espero isso - que, na tos que se modificaram ao longo do tempo no Pensei nisso, pois o tonalismo é um sistema inconsciente) aparecem, se fazem escutar, se clínica dos lacanianos, existe um lugar para campo da música e o diferente arranjo desses baseado numa certa lógica, ordenação e hie- utilizam do ritmo. Claro, isso surgiu na minha a música e para a musicalidade da fala. Para elementos vai compondo a história da música rarquia dos sons a partir das escalas tonais e própria fala na minha análise e, depois, na a música no sentido da pulsão invocante, ocidental até a contemporaneidade. das relações entre os sons em cada escala (de análise dos que escuto. dos movimentos produzidos num sujeito terças, de quartas, enfim...). No atonalismo O ritmo tem a ver com acentuação e com verdadeiramente afetado por uma música e Folhetim do CAP - O tema da nossa há o emprego igualitário de todas as notas da duração das sílabas e das palavras quando da fertilidade de falar disso numa análise. E jornada nasce do movimento de sair da escala cromática, havendo superação da dico- falamos. Sabemos que quando falamos uma da musicalidade num sentido mais geral, das prosa e entrar na poética. Como tu vês esse tomia consonância X dissonância. O que que- palavra podemos acabar dizendo outra pela homofonias significantes, do ritmo da fala, da movimento na música? rem os compositores atonais é a emancipação forma, pela entonação, pela acentuação que voz na sua corporeidade, da necessidade da Heloisa - Sair da prosa e entrar na poéti- da dissonância, que não é mais evitada como lhe damos ao falar. Numa análise, por exem- prosódia musical na voz da mãe e dos efeitos ca para mim já tem a ver com a música, ou no tonalismo, mas incluída como nota real. plo, o significante ‘desistir’ que se repete a de quando isso não acontece, dentre outros. melhor, com a musicalidade. Me faz lembrar Talvez haja uma relação entre esses pontos cada tanto, pode estar dizendo ‘de existir’, da de uma citação espe- de virada, mas ainda existência desse que fala, o sujeito do incons- Folhetim do CAP - Diante dos ruídos cífica de Lacan feita É isso que se faz quando se destaca, não consigo articular, ciente! Quando fazemos uma pausa ao falar, dos pacientes, é possível compor uma me- pelo Didier-Weiill que se sublinha, se recorta, se retira é uma intuição inicial. para respirar, por exemplo, e por essa pausa lodia pessoal? Como? diz mais ou menos do contexto, desse indefinido, um botamos um ponto ou uma vírgula num lugar Heloisa - Diante dos ruídos? Se tomar- o seguinte: que só a Folhetim do CAP diferente daquele que pretendíamos colocar, é significante que se repete na cadeia de - Qual a importância mos o termo ruído no seu sentido musical poesia permite a inter- também um momento em que opera o ritmo significantes de um sujeito que está e lembrarmos que é um som de freqüência pretação, poesia que é da pulsão invocante fazendo aparecer outra coisa que aquela que falando em transferência para nós. E indefinida (indefinida justo por ter muitas efeito de sentido, mas para a constituição pensávamos estar dizendo. É um pouco isso freqüências), acabo de pensar pela questão também efeito de furo. com isso, com esse trabalho na análise, da cça? um exemplo que aparece no texto do Thrasy- de vocês, que o trabalho de análise, o traba- Nesse efeito de furo acho que sim, que podemos dizer que Heloisa - A pul- bulos Georgiades intitulado “A língua como lho de escuta é justo de escuta e de destaque que ali comparece que o analisante acaba por compor uma são invocante é muito ritmo”, que traduzi há pouco e encontra-se no desses sons que estão ali nesse ruído como eu encontro a diferença importante na cons- Correio da APPOA de maio. Ele fala de uma melodia pessoal, singular. indefinidos. É isso que se faz quando se fundamental da prosa e tituição da criança, tradução do Hölderlin para uma frase para destaca, se sublinha, se recorta, se retira do da poesia. do sujeito psíquico, a qual ele dá duas opções. “Lira de Ouro! contexto, desse indefinido, um significante A pergunta de vocês me faz pensar tam- porque ela introduz o bebê, pela música da De Apollo e às tranças escuras...” e “Lira de que se repete na cadeia de significantes de bém em Joyce, no seu Finnegans Wake. Isso voz da mãe, que lhe chama, lhe invoca, para ouro de Apolo! E nas tranças escuras...” Bem um sujeito que está falando em transferência porque, ficou como marca da minha pequena dentro da linguagem. Mas se trata de um para diferentes... para nós. E com isso, com esse trabalho na experiência de leitura dessa obra, que a via dentro muito especial, porque é um para den- Claro que ele, como historiador da músi- análise, acho que sim, que podemos dizer que de acesso é pela leitura em voz alta, quando tro da linguagem no que ela tem de indizível, ca, está interessado apenas em como o sujeito o analisante acaba por compor uma melodia pelo som, alguma coisa surge, brilha, ressoa. de inefável, de fora da significação, fora da da consciência (o sujeito da ciência desde pessoal, singular. Talvez eu não saiba o suficiente de história da relação significante –significado. Chama o Descartes) aparece e pode se utilizar do ritmo música ocidental para responder, mas do que sujeito como sujeito do desejo – o que é fun- para enfatizar algo quando fala. Ele toma o Folhetim do CAP - A psicanálise com eu estudei, diria que não é essa – da prosa e damental para a constituição psíquica – isso alemão representando as línguas modernas o passar do tempo vem se transformando, da poesia - a questão ali que se desdobra. Eu porque a pulsão faz um trajeto, um percurso, e o grego antigo para compará-los - usando abrindo diálogos para dar conta das ques- consigo pensar que é mais de uma narrativi- contornando o objeto de desejo. Se ela o con- ainda um Lied do Schubert para exemplificar tões clinicas. E com a música acontece o dade ou de uma pureza do som o que vai se torna, deixa ali um buraco. Por isso Lacan diz - quanto à possibilidade de o sujeito usar o mesmo movimento? desdobrando na efetividade das tendências, que ele é, no fundo, o objeto causa de desejo ritmo da língua na formação do sentido. Mas Heloisa - Não sei se sei responder. Vou ar- movimentos ou escolas que se sucedem e e não simplesmente objeto de desejo. A mãe, quando ele fala do grego é que aparece isso riscar falar um pouquinho do que me ocorre. A dialogam na música. A narratividade eu até ao dar o lugar de sujeito do desejo para seu que nos interessa na clínica, porque quando música, ao menos a música ocidental, vem se consigo associar com a prosa, mas a pureza bebê e promover o circuito da pulsão, recorta um grego falava o grego antigo alguma coisa transformando. No entanto, ela muda em fun- não tem a ver, ao menos diretamente, com a o corpo do bebê, o erotizando. sempre lhe escapava, esta língua tinha uma ção de mudanças sociais e ou por discussões poética; talvez algo do lado da livre experi- A voz, por exemplo, enquanto objeto da rítmica musical autônoma, teóricas sobre o conceito de música e para quê ência com a sonoridade. pulsão, é justo o que cai, o que se solta, o que então, o sujeito que falava ela deveria servir, isto é, se é que ela deveria se desprende do que é dito quando falamos! se comportava também ter, necessariamente, uma função utilitária. Folhetim do CAP - Tu enxergas um pon- Ou seja, ela não é o que falamos, mas o que como ouvinte, pois per- Tomando o início da música ocidental nos to de virada no movimento psicanalítico? E falta ali. E o sujeito, enquanto desejante, é o cebia a língua como uma cantos cristãos de antes do século IV, eram com a música isto também acontece? Estes que se estrutura, se constitui a partir, em fun- realidade o ultrapassan- cantos coletivos dos cristãos de diferentes pontos se relacionam? ção, em torno dessa falta. Essa falta que, em do. Mais ou menos como nacionalidades que traziam sua experiência Heloisa - Sim, acho que há uma virada suma, é a falta-a-ser, a hiância, o inconsciente. acontece numa análise na sua comunidade quando se reuniam com com a saída de Lacan da IPA. Acho que A gente pode pensar, inclusive, a partir do com o que Lacan chamou outros nas catacumbas para louvar a Deus. aquele modo ortodoxo de fazer psicanálise que coloquei da pulsão invocante, a diferença de Outro. Numa análise, Mas os cristãos naquele momento eram per- ficou restrito a esse âmbito (da IPA e seus disso para o mamanhês, pois ali (no mama- o sujeito que fala, sendo seguidos pelos romanos em função de sua seguidores) e foi inaugurado um outro modo nhês) há uma fusão, uma língua transparente, o do inconsciente, vai
  • 5. Setembro 2007 l 4/5 NADA... - Melodia do Paciente e do Analista” em que a mãe entende tudo que seu bebê lhe diz, lhe demanda. Claro, isso também é fun- é isso que vem à tona nessa experiência. De qualquer modo, nós como analistas, quando A LINGUAGEM MUSICAL damental para o bebê que, no seu desamparo escutamos e, com isso, propiciamos esse re- e dependência do outro, precisa que alguém corte, acabamos dando o suporte que Ulisses Leandro Michel Antonelo Pereira – é expressa pelo autor de “Assim Fa- entenda o que ele precisa. Mas isso é bem não tinha e por isso teve de se amarrar para Advogado, especialista e mestrado lava Zaratustra” que reproduz uma diferente do que ocorre na pulsão invocante resistir ao chamado, à invocação, ao canto das na área de proteção internacional passagem da obra “Mundo como enquanto tal, pois ela, eu diria, introduz expli- sereias. Eu queria chamar a atenção sobre um das obras de arte, músico. Vontade e Representação”. Scho- citamente o campo do equívoco, a alteridade, detalhe nessa metáfora: as sereias de Ulisses penhauer faz uma distinção entre a diferença primordial, dando possibilidade podiam cantar com uma suavidade e harmonia o mundo fenomênico, a natureza, INTRODUÇÃO para o nascimento do sujeito do desejo! inatingíveis às vozes humanas. Quando can- e a música, considerando esta uma Neste artigo serão expostos al- Como as demais pulsões, também a in- tavam enchiam o ar com a doçura venenosa expressão do mundo, uma lingua- vocante vai produzir, no seu caminho, uma de suas vozes... guns pontos de vista sobre a lin- guagem musical, a sua relação com gem universal. Essa universalidade, reversão do sujeito: de sujeito invocado entretanto, não seria a universalida- torna-se invocante, na medida em que há um Folhetim do CAP - No mundo atual a o sujeito e o discurso musical. Será considerada a música como mani- de vazia da abstração, pois estaria retorno para o sujeito, disso que vem primeiro imagem fala. Qual o lugar do sonoro no festação que antecede a palavra, ligada a uma completa e clara deter- do campo do Outro, no caso aqui a mãe, que mundo de hj? logo, não será analisada a posição minante. Para a compreensão dessa lhe invoca e isso é necessário para que depois Heloisa - Eu acho que o sonoro também segundo a qual a linguagem verbal ligação, Schopenhauer equipara a ele possa invocar, chamar, ter voz! É mais fala e fala muito no mundo de hoje. Se a complexo que isso, mas, a grosso modo, dá gente pensar o quanto se produz no campo seria o fundamento de qualquer ou- música às figuras geométricas e aos para simplificar assim. da música na atualidade... e a música está tra linguagem, como defendido por números, que, como formas univer- em tudo, desde publicidade, nesse lugar, por Hegel e Lacan. sais de todos os objetos possíveis Folhetim do CAP - Como a melodia excelência, das imagens, nos filmes, e no Inicialmente, será tratada a ques- da experiência e aplicáveis a priori da voz materna influencia no psiquismo teatro, e nos carros, e nos cafés, e nos bares, tão do surgimento do discurso mu- a todos, não são, todavia, abstratos, infantil? enfim, está até difícil achar um lugar com sical, com a ênfase ao seu caráter mas intuitivos e completamente Heloisa - A melodia na música funciona silêncio hoje em dia... hehehe Sim, aí eu estou dionisíaco, em oposição ao apolíneo, determinados. um pouco como aquilo que cantamos quando tomando o sonoro incluindo os ruídos ou o analisando-se as ponderações de Ainda pelo mesmo autor, as cantamos uma música. Isso para diferenciar puro som nesse campo, um pouco como John Schopenhauer e Nietzsche, que as infinitas melodias possíveis, na da harmonia. Então eu diria que a melodia Cage, embora lhe agradassem todos os ruídos, relações entre música, conceito e universalidade da mera forma, ex- da mãe é o que vai inscrever, marcar, certos diferentemente de como isso funciona comi- abstração com a vontade e distinção significantes na criança. Isso no melhor dos go... hehehe Mas pensando, por exemplo, nos da música das demais artes. Em Ainda pelo mesmo autor, as infinitas casos. É fundamental lembrar que a mãe, ao filmes, as trilhas sonoras são tão importantes seguida, serão salientadas as afirma- melodias possíveis, na universalidade falar com seu bebê, na linguagem maternante, ou mais do que as imagens para dizer o que da mera forma, exprimiriam a alma ções de Adorno sobre a proibição aos funda (ou não) a matriz simbólica na criança, se pretende, ou melhor, para causar o impacto mais íntima do homem, ou seja, tudo modos musicais queixosos ou moles ou seja, funda ou não as condições para que que se pretende nos espectadores. Se tomamos aquilo que a razão lança no amplo e a determinados instrumentos mu- ali germine a linguagem. A melodia da voz da conceito negativo de sentimento. mãe tem um papel fundamental na estrutura- Escutar, pensando na escuta psicanalítica, é sicais na República de Platão, como ção do psiquismo infantil na medida em que é totalmente outra coisa: é escutar isso que exemplo de restrições à manifestação musical. primiriam a alma mais íntima do na melodia da fala da mãe, ou seja, nos picos comparece, que vem junto, quando alguém homem, ou seja, tudo aquilo que a prosódicos que se produzem na fala da mãe fala, ou seja, o sujeito do inconsciente. A seguir, passar-se-á a abordar a relação do sujeito com a música, razão lança no amplo conceito nega- quando se dirige a seu bebê, que se produz conforme os autores Anchyses Jobim tivo de sentimento. Acrescenta que cortes e se introduz articulações simbólicas a obra do Hitchcock , por exemplo, fica muito Lopes e Pierre Kauffmann. A voz a música difere de todas as outras no corpo da criança, ao mesmo tempo o ero- evidente, pois o filme Psicose só é o que é, ou tizando. Mas esse mamanhês só vai ter efeito seja, só produz o que produz na gente em função materna e a primeira voz serão apre- artes ao não ser cópia do fenômeno fundante para a criança porque a mãe, quando da música, da trilha sonora. Já na obra do Woody sentadas traçando-se um paralelo ou da objetividade adequada da fala, faz paradas. Mas não se trata de prosódia Allen e do Emir Kusturica eu sinto um pouco com o estádio de espelho de Lacan vontade, mas cópia imediata da mais paradas ou alternância no ritmo é igual diferente. A música dá o tom, o clima, como e a ruptura pela qual é responsável própria vontade, apresentando o à matriz simbolizante. É porque ao fazer tudo que “fecha com chave de ouro” aquilo que os a voz paterna como a linguagem correlato metafísico das coisas físi- isso, na sua espontaneidade e implicação personagens dizem e a imagem que estamos pré-verbal. Por fim, tratar-se-á dos cas, “para todo fenômeno a coisa em maternal, a mãe supõe ali um sujeito, por vendo deles e o que se passa com eles. tempos lógicos da relação musical si”, podendo-se denominar o mundo isso ela abre espaço, produz alternância no Fala um pouco da diferença entre ouvir apontados por Didier-Weill. tanto de música corporificada como ritmo, estabelece uma convocatória ao outro, e escutar. de vontade corporificada. instituindo uma alteridade. Bom, ouvir é da ordem da comunicação, 1 A MÚSICA COMO CÓPIA Schopenhauer aborda também a ou seja, do sujeito (da consciência) que sabe DIONISÍACA DA VONTADE. questão da associação da música a Folhetim do CAP - Tu pensas que na exatamente o que diz para aquele que ouve e A questão da música está direta- um poema como canto, a uma ence- música existe um potencial mortífero, entende exatamente o que foi dito. Escutar, mente associada ao imaginário, ao nação, ou, ao que ele considerou a assim como percebemos na metáfora do pensando na escuta psicanalítica, é totalmente união de ambos, à ópera. E cabe aqui, sentimento oceânico descrito por canto da sereia? outra coisa: é escutar isso que comparece, como fez Nietzsche, reproduzir na Freud e ao gozo além do fálico de Heloisa - Pois é... eu acho que não está que vem junto, quando alguém fala, ou seja, íntegra o texto desse pensador: “Tais Lacan. Ao adotar, contudo, a posição exatamente na música o potencial mortífero. o sujeito do inconsciente. É isso que se escuta imagens singulares da vida humana, Ela pode provocar uma alienação total de na fala em análise. de que a música antecede a palavra, é necessário passar pelas reflexões associadas à linguagem universal da um sujeito a isso que, naquele momento, música, nunca estão ligadas a ela ou lhe é outro e surge na música, um pouco Folhetim do CAP - A música pode ser de Schopenhauer sobre o tema, que influenciaram o pensamento de lhe correspondem com necessidade como o que Nietzsche fala do dionisíaco na escutada como uma forma de comunica- Nietzsche. completa: estão para ela apenas na tragédia, ou seja, fusão, embriaguez, falta de ção? Na obra “O Nascimento da relação de um exemplo arbitrário contorno. Sim, isso pode ser mortífero, mas Heloisa - Acho que pode ser escutada Tragédia no Espírito da Música”, para um conceito universal: expõem não necessariamente, porque, por exemplo, assim, quando ela diz algo para quem escuta. se um sujeito faz essa alienação, mas fala E também, há, na música ocidental, a proposta Friedrich Nietzsche (1844-1900), ao na determinidade do efetivo aquilo disso numa análise, fala disso que lhe toca, de alguns compositores e movimentos, de indagar a relação da música com a que a música enuncia na universali- que provoca essa embriaguez, essa entrada produzir propriamente uma narrativa musi- imagem e o conceito, socorre-se de dade da mera forma”. poderosa no Outro, ao falar disso, produz cal, contar uma história, descrever algo da Arthur Schopenhauer (1788-1860). Quanto à distinção ou, de certa a distância, se separa dessa experiência de natureza ou uma paixão, ainda mais, mostrar A aceitação das ideias desse filósofo forma, oposição, entre conceitos fusão e insere na sua fala a sua questão, pois os movimentos das paixões.
  • 6. 6 l Julho 2009 artigos e música, esclarece que os primeiros constava a proibição tanto dos modos possui o seu fraseado, suas “palavras”, conteriam apenas as primeiras formas musicais queixosos ou moles, que o acentuações e toda a estruturação de abstraídas da intuição, como que a casca filósofo associava aos modos mixolídio, um discurso que reproduziria o estágio exterior tirada das coisas, sendo, portan- lídio, hipolídio e jônico, que deu origem de infans. to, propriamente abstrações, a música, ao nosso modo maior, sem que se sou- Por fim, destaca-se a posição de por outro lado, daria o mais íntimo besse por qual motivo atribuiu essas Didier-Weill que apresenta quatro núcleo que precede toda a formação, características a esses modos. Também tempos lógicos de relação musical, a ou “o coração das coisas”. eram proibidos os instrumentos que não partir da pergunta: o melômano ouve Retomando essas ideias, Nietzs- imitassem de forma adequada a voz e como sujeito ou como Outro? No che avança ao colocar que “imagem a expressão do homem, como a flauta primeiro tempo o ouvinte melômano e conceito, sob a ação de uma música e os instrumentos de muitas cordas. ouviria no lugar do Outro, que recebe- verdadeiramente correspondente, Concluiu que nos atrativos proibidos ria do músico-sujeito a resposta a sua chegam a uma significação aumenta- estariam entrelaçadas a variedade do sustenta que “as respostas especulares própria questão, até então mantida da”. Assim, enumera dois efeitos que prazer dos sentidos e a consciência da ninfa Eco e a perigosa sedução do inconsciente. No segundo tempo, o costumariam exercer a arte dionisíaca diferenciada. canto das sereias ilustrariam bem o po- Outro-ouvinte coloca-se na posição sobre a faculdade apolínea: “a música Conforme exposto, a música estaria der de fascinação da voz, precisamente de sujeito, por ter como que recupe- incita a uma intuição alegórica da uni- ligada à vontade, ao dionisíaco, sendo quando ela evoca, um pouco de perto rado sua questão e tê-la enunciado. versalidade dionisíaca para em seguida uma linguagem universal anterior à demais, o vestígio sensorial da primei- O terceiro tempo, o melômano trans- fazer aparecer a imagem alegórica em linguagem verbal, ligado ao sentimento ra voz em que o sujeito, no estágio de formado em sujeito, logo identificar- sua mais alta significação, para chegar oceânico, sendo formadora do mito trá- infans, ficou como que suspenso. Eco, se-ia com o músico com o outro do a conclusão da música como formadora gico. O sentimento de gozo que acom- excessivamente falastrona para o gosto amor transferencial, que sustentaria a do mito trágico, ou seja, aquele que fala panha essa manifestação será tratado a de Juno, a quem manteve entretida com demanda do sujeito, sem satisfazê-la. do conhecimento dionisíaco em alego- seguir, desde a voz primeira até o êxtase suas palavras enquanto as ninfas deixa- No último, haveria a emergência da rias, ao contrário do poema lírico, mais da “nota azul”. vam-se abordar por Júpiter, incorreu na “nota azul”, ao introduzir a explosão vinculado às imagens apolíneas”. Inte- cólera da deusa e foi condenada a repe- temporal. ressante o pensamento de Nietzsche: “A 2. O SUJEITO E A MÚSICA. tir os sons emitidos por uma primeira Dessa forma, a música estaria ligada alegria metafísica face ao trágico é uma Após ser tratada a questão do discur- voz. Duplo sonoro de um Narciso espe- à voz primordial e a ruptura simbó- transposição da sabedoria dionisíaca so musical como uma manifestação dio- cular, conhecemos a queixa melancólica lica caracterizada pela voz paterna, a instintiva e inconsciente na linguagem nisíaca e a sua relação com a vontade, os de Eco e o lento ressecamento mineral presença do ritmo, o surgimento dos da imagem: o herói, esse supremo fe- conceitos e a abstração, determinando a de seu corpo. Certamente poderíamos elementos musiciais e a possibilidade nômeno da vontade, é eliminado, para distinção entre a música e as demais ar- interpretar a história de Eco como o de se chegar ao gozo, que seria o quarto nosso prazer, porque, justamente, ele tes, é necessária uma análise da relação retorno do sujeito a uma fase primitiva tempo da relação da música apontado é apenas fenômeno, e a vida eterna da da música com o su- de seu desenvolvi- por Didier-Weill. vontade não é tocada por seu aniquila- jeito. Para que se che- A música permitiria a contemplação mento, na qual a voz mento. ‘Acreditamos na vida eterna’, gue a uma pequena e a reconciliação com as ouvida constituiu o CONSIDERAÇÕES FINAIS assim exclama a tragédia, enquanto a compreensão desse único traço distinti- Para traçar um panorama das rela- contradições, os conflitos, do música é a ideia imediata dessa vida” tema. Parte-se, assim, trágico universal, em uma grande vo de seu universo, ções do discurso musical, primeiro foi Anchyses Jobim Lopes, em seu texto da voz primeira, da traço cujas primeiras visto que a música como uma lingua- celebração da existência. modulações ele já po- “Afinal, que Quer a Música?”, comenta ruptura representada gem universal, seria cópia da vonta- a teoria de Schopenhauer: “Entretanto, pela voz paterna e a dia discernir no seu de, diferente dos conceitos, ou seja, o no sistema schopenhauriano a música presença do ritmo para se chegar ao estágio de infans”. “coração das coisas”, como lembrou se distingue de todas as outras artes, sujeito e à possibilidade de gozo. O mesmo autor, ao afirmar que a Nietzsche, ao desenvolver as teorias de carece do duplo movimento em direção A questão da pulsão invocante foi psicanálise se interessa pela voz, tanto Schopenhauer. à Verdade. A música: trata-se de uma inicialmente esboçada por Lacan e de- a voz materna, que marcaria o universo Logo em seguida, foi estabelecida a imediata objetivação, de uma cópia dire- senvolvida na obra de Didier-Weill. Essa sonoro primitivo, como a voz paterna, caracterização da música como forma- ta de toda vontade. A música, portanto, pulsão, que traria à tona o sujeito, seria responsável pela ruptura simbólica, dora do mito trágico, aquele que fala do de modo algum é semelhante às outras o traço unitário, inscrito primeiramente aborda a ideia do gozo: “O momento conhecimento dionisíaco em alegorias, artes, ou seja, cópia de ideias, mas cópia como uma forma musical. A voz mater- hegeliano da ‘consciência infeliz’ que diferentemente do poema lírico, mais da vontade mesma, cuja objetividade na, por sua vez, não seria invocante pelo o filósofo compara a um ‘estado que vinculado às imagens apolíneas. também são as Ideias. Emanação direta que diz, mas sim pelo tom, ou afeto, do leva ao gozo’, calcado na nostálgica Dessa diferenciação, possou-se para da Vontade, Schopenhauer postula a que diz. Nas palavras de Jobim Lopes: felicidade do ser que medita sobre a as considerações de Adorno sobre a música como uma linguagem univer- “E o invocado não permanece como sua própria incompletude. Além da proibição em relação a alguns modos e sal anterior a toda outra linguagem, uma mera resposta – informação ou insatisfação existencial que incita o instrumentos musicais na República de plástica ou verbal”. Acrescenta que reflexo –, que fosse apenas uma voz, um artista a tender para a criação efetiva Platão como forma de ilustrar as barrei- essas ideias teriam sido retomadas na som, um movimento labial mã (que em (os Wirklichkeiten de Freud), a música ras que podem ser levantadas contra a obra de Didier-Weill a partir de um todos os idiomas assemelha-se a palavra remeteria a esse gozo impossível de liberdade do discurso musical. prisma psicanalítico, ao sustentar que que designa mãe), mas como toda uma dizer e impossível de pensar, um gozo Na segunda parte, tratou-se da rela- a experiência trazida pela música seria abertura à existência. O que é invocado, externo ao significante e cuja natureza ção do sujeito e da música, enfocando os próxima da experiência mística, na qual também é gesto, que com o crescer do explicaria sua dificuldade de se deixar trabalhos de Pierre Kauffmann e Ana- o sujeito é oceanicamente contemplado infans torna-se dança, o prazer de come- na linguagem. Talvez, assim, possamos chyses Jobim Lopes, com ponderações pelo Outro, mas de modo oposto ao da morar pelo ritmo a leveza do corpo. Ou imaginar a música como aquilo que, do a respeito dos ensinamentos de Lacan invasão do Outro e de seu olhar medú- mesmo a embriaguez dionisíaca, prazer som ligado à palavra do ‘traço mnêmi- e Alain Didier-Weill, iniciando pela voz sico como psicose. A música permitiria que todas as crianças obtêm girando até co sensorial’ (Freud), teria escapado à primeira até chegar à possibilidade de a contemplação e a reconciliação com perderem o equilíbrio. Do som original dominação do ‘simbólico’ (Lacan), ou gozo, a nota azul de Chopin, terminan- as contradições, os conflitos, do trágico invocado, que com o crescer do infans dito de outra maneira, como aquilo no do com os quatro tempos lógicos da universal, em uma grande celebração é decomposto em fonemas e repetido som que permaneceria irredutível ao relação musical de Didier-Weill. da existência. em sílabas, originar-se-ia a linguagem. significante”. De todo o exposto, conclui-se que o Essa celebração, no decorrer da A mesma trilha nietzschiana, da música Elemento integrante do discurso estudo que busca estabelecer a relação história, fez surgir padrões cujas ori- até a palavra.” Pode-se inferir daí, que musical, o ritmo também se faz presente entre música e psicanálise passa pela gens são, em sua grande parte, desco- se do gesto se originou a dança, dos sons nesse universo sonoro primitivo, pela questão da abordagem filosófica do co- nhecidas. Os estudos dos pitagóricos teria surgido a música como um discur- pulsação do coração da criança que mar- nhecimento dionisíaco e de abstrações e desvendaram as relações matemáticas so estruturado, com regras próprias. ca o discurso materno e a ruptura da voz conceitos. Percorre, também, o caminho das estruturas musicais. Escalas, modos, Sobre a questão da primeira voz, e paterna, acelerando ou diminuindo a da pulsão invocante, do ritmo cardíaco ritmos, intervalos harmônicos e meló- fazendo uma simetria com a questão velocidade cardíaca conforme vivência no estádio de espelho, da ruptura repre- dicos, deram forma a essa linguagem, do estádio do espelho de Lacan, que, essas experiências, bem como o próprio sentada pela voz paterna e os elementos sendo, muitas vezes, contudo, objeto tal como a situação de captação do ritmo das vozes maternas e paternas. que compõem o discurso musical, ser- de proibições e restrições. Theodor olhar pela forma especular, poder-se-ia Dessa forma, esses elementos engendra- vindo de um campo de pesquisa que Wiesengrund-Adorno (1903-1969) em imaginar um mesmo efeito em relação ram o discurso musical a polifonia, os necessita de um olhar mais atento dos sua obra “O Fetichismo na Música” à captação da voz, Pierre Kauffmann, ritmos, os modos, as melodias, o contra- teóricos tanto do lado da ciência musical aponta que já na República de Platão em seu trabalho “Psicanálise e Música”, ponto e a harmonia. Também a música como da psicanálise.
  • 7. artigos Julho 2009 l 7 FREUD: um homem de muitos adjetivos [1] edson LuIz andre de sousa[2 PauLo endo[3] “É necessário viver a vida ao limite, seu fino senso de humor: “Sua linda de sua queda e as faltas dele, a fonte de não segundo os dias, mas segundo a fotografia. A princípio, quando tinha o sua felicidade”. profundidade” original na minha frente, não pensava Crítico: O espírito crítico foi um Rainer Maria Rilke muito nela; mas agora, quanto mais a dos alimentos essenciais da vida de contemplo, mais ela se assemelha ao Freud. Sempre foi muito claro em suas Freud foi um homem múltiplo e são objeto amado; fico esperando que as posições e raramente abria mão de seu muitos os caminhos através dos quais faces pálidas corem até ficarem como as compromisso com a verdade em prol de a profundidade de sua vida se revela. nossas rosas, que os braços delicados se alguma conveniência ou vantagem em Apresentamos uma pequena partitura separem da superfície e peguem a mi- sua vida. Pelo contrário, em inúmeras como acorde inicial de uma vida que nha mão, mas a querida fotografia não vezes defendeu posições difíceis indo mostrou a todos a experiência do limite. se move, apenas parece dizer: Paciência! contracorrente do senso comum e tendo Bibliófilo: Freud relata na “Interpre- Paciência! Sou apenas um símbolo, uma que pagar um preço caro por isto. Sabe- tação dos Sonhos” (1900) um curioso sombra lançada no papel, a pessoa ver- mos que suas teorias sobre o sonho, as que encontrava na natureza desapa- episódio que aconteceu com ele quan- dadeira vai voltar e então você poderá hipóteses sobre a sexualidade infantil receria um dia e assim só conseguia do tinha 5 anos de idade e sua irmã 3 me esquecer outra vez.” e suas experiências com a cocaína não ver o mundo de forma pessimista. Eis a anos. O seu pai lhes dera de presente Ciumento: Freud também surpreen- foram, no primeiro momento, bem rece- resposta de Freud ao autor das clássicas um livro sobre uma viagem a Pérsia, deu em seu ciúme. Sua noiva, antes de bidas pela comunidade científica. Freud “Elegias de Duíno”: com muitas imagens coloridas. Faz conhecer Freud, se interessara por um sempre criticou os profetas de plantão “Neguei ao poeta pessimista que referência a “uma alegria infinita” com primo cujo nome era Max Mayer. Freud com suas “visões de mundo” sedutoras. o caráter de transitoriedade do belo que arrancara as folhas do livro junto se sente muito vulnerável sempre que A psicanálise foi construída justamente implicasse em sua desvalorização. Pelo com a irmã. Escreve Freud: “Mais tarde Marta fala do Max e ,simplesmente, a para implodir as novas formas de alie- contrário, encontramos ali um incre- uma paixão por livros. Associei sempre proíbe de chamá-lo pelo seu prenome. nação das pedagogias do viver, hoje tão mento de valor. A qualidade do transi- essa primeira paixão àquela impressão Ela devia chamá-lo Sr. Mayer. em moda. Freud defendia a idéia que tório comporta um valor de raridade no de infância”. Deprimido: Freud sempre enfrentou cada um deveria desenhar e instaurar tempo. As limitadas possibilidades de Precoce: Em uma carta a Fliess com muita determinação suas adversi- o seu percurso a partir do confronto/ gozá-lo o tornam tanto mais precioso. ficamos sabendo de um episódio que dades. Muitas vezes, contudo, relatou encontro com o desejo inconsciente. Manifestei, pois, minha compreensão marcou muito a vida de Freud e que ter enfrentado estados de depressão , Vejamos em um dos clássicos textos de de que a efemeridade da beleza pudesse nos indica o quanto algumas imagens desamparo e angústia. Em seu inicio Freud de 1926 intitulado “Inibição, Sin- perturbar o gozo que nos proporciona. infantis funcionam como motor de de vida profissional, chegou a usar a toma e Angústia” uma passagem que No curso de nossa existência vemos muitos acontecimentos futuros.. Freud cocaína como anestésico e também an- indica este princípio crítico de Freud: esgotar-se para sempre a beleza do hu- tinha 7 anos e urinou voluntariamente tídoto contra a depressão. O interesse “Eu não sou de modo algum favo- mano rosto e corpo, mas esta fugacidade no quarto dos pais. Seu pai irritado o pela cocaína foi despertado por um rável à fabricação de visões de mundo. agrega a seus encantos algo novo. Uma repreende: “Este menino nunca vai ser artigo do dr. Théodor Aschenbrandt Deixa-se esta tarefa aos filósofos que flor não nos parece menos esplêndida nada na vida!” Freud ficou muito ma- em dezembro de 1883 quando Freud confessadamente acham impossível em- se suas pétalas só estiverem viçosas goado com a frase e esta cena retornou tinha 27 anos. Retomando as teses do preender a viagem da vida sem um guia durante uma noite”. incessantemente em seus sonhos. Disse psicofarmacologista italiano Paolo turístico tal, que forneça informações Resignado: Aceitar as limitações da ele: “Nos meus sonhos, essa cena se Mantegazza (1831-1910), Freud via, na sobre tudo. Aceitemos humildemente o vida, a lógica da natureza, as determina- repetia muito seguido, sempre acom- cocaína, uma “droga mágica”, capaz desprezo com que nos olham, sobran- ções do inconsciente, a fúria do destino panhada de uma enumeração dos meus de restaurar as forças e curar desde a ceiros, desde o ponto de vista de suas sempre esteve na ordem do dia para trabalhos e dos meus sucessos, como impotência até a congestão nasal. Nunca necessidades superiores. Porém, já que Freud. Uma das experiências mais dolo- se eu quisesse dizer: “viu, eu me tornei foi um viciado na droga, e Jürgen von também não podemos recusar nosso or- rosas de sua vida foram os quase 16 anos alguém!” Scheidt, que escreveu um ensaio sobre gulho narcísico, procuremos nosso con- em que conviveu com um câncer no Trabalhador idealista: Freud muitas essas experiências de Freud, insiste em solo na consideração de que todos esses maxilar direito. Teve que colocar uma vezes trabalhava sem receber nada. São que isso se deveu ao gênio e à perso- “guias de vida” rapidamente envelhe- prótese na boca, que nomeou como“O muitos os pacientes que acolheu de situ- nalidade do mestre vienense. Também cem, que é justamente nosso pequeno monstro”. Esta prótese era uma espécie ação financeira precária. Muitos deles se é importante sublinhar aqui um dado trabalho, limitado em sua miopia, que de dentadura ampliada destinada a analisaram quase sem custos. Em uma histórico que faz toda a diferença na torna necessárias novas edições destes, separar a boca da cavidade nasal. Eis o carta a Marta de maio de 1886 vemos relação de Freud com a cocaína e suas e que mesmo os mais modernos guias que diz Freud em uma carta de 1924 a com clareza sua posição: “Vejo que, para pesquisas: na segunda metade do século são tentativas de substituir o velho, tão Lou Andreas Salomé: um médico, trabalho e renda são duas 19, não havia proibição ao uso da coca- confortável e tão completo catecismo. “Aqui está uma pessoa que, em vez coisas muito diferentes. As vezes se faz ína .Era consumida em chás, cápsulas, Sabemos precisamente quão pouca luz de trabalhar duro até a velhice e então dinheiro sem levantar um dedo, outras vinhos com cocaína e até mesmo na a ciência até agora pode lançar sobre os morrer sem preliminares, contrai uma vezes se trabalha como escravo sem popular coca-cola, que, até 1903, tinha enigmas deste mundo: todo o barulho doença horrível na idade madura, tem recompensa. Anteontem, por exemplo, esse produto na sua composição. dos filósofos não poderá alterar nada de ser tratada e operada, dissipa seu um médico americano veio ver-me com neste quadro, apenas a paciente conti- dinheirinho ganho com sacrifício, gera uma doença nervosa, caso complicado Eis o que diz a Marta em uma carta nuação do trabalho que subordina tudo e desfruta descontentamento e, em se- que me interessa tanto que o aceitei sem de abril de 1884: a uma exigência de certeza, pode lenta- guida, se arrasta por aí indefinidamente receber nada.” “Em minha última crise séria de de- mente produzir uma mudança. Quando como um inválido” Apaixonado: Freud sempre se en- pressão, voltei a tomar cocaína, e uma o caminhante canta na escuridão, recusa tregou às suas paixões de corpo e alma: pequena dose bastou para me levar seu estado de angústia, mas não por isso A cada leitor de ampliar este pe- aos amores, às amizades, aos pacientes sensacionalmente às alturas. Estou, no pode ver mais claramente”. queno esboço de adjetivos como a nota e, sobretudo, ao conhecimento. Em momento ocupado, para seu louvor, Otimista: Como grande criador, po- inicial de uma musica ainda a ser escrita sua correspondência temos inúmeros em fazer um levantamento da literatura demos dizer que Freud segue o adágio e reescrita indefinidamente. relatos do seu envolvimento absoluto científica relativa a essa droga mágica.” proposto por Albert Camus “Criar é com aquilo que estava lhe instigando Dois anos depois em outra carta para viver duas vezes”. Assim, vemos atra- [1] Neste pequeno texto apresenta- em determinado momento. Em sua Marta escreve: “A pitada de cocaína que vés de sua obra uma vida expandida e mos um brevíssimo fragmento do livro correspondência com a noiva Marta acabei de tomar está me pondo tagarela, a presença sempre de uma aposta do Sigmund Freud: Ciência, Arte e Política, Bernays encontramos preciosidades de minha mulherzinha. Vou continuar a poder salvador da palavra. Um diálo- LPM, Porto Alegre, 2009. imagens sobre a paixão. Vejamos este escrever para comentar a sua critica à go comovente sobre esta questão entre pequeno trecho em que faz dialogar de minha miserável pessoa. Você compre- Freud e o poeta Rainer Maria Rilke está forma instigante a fotografia e a vida. ende a estranheza da construção de um relatado por Freud em um belo texto de [2] Psicanalista. Membro da APPOA. Em trechos como estes, vemos também ser humano, dá-se conta de que as vir- 1915 que nomeou “Transitoriedade”. Professor da UFRGS a desenvoltura estilística de Freud e o tudes dele muitas vezes são a semente Rilke se queixava de que toda a beleza [3] Psicanalista. Professor da USP