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Su g e s t ã o d a s e d it or a s : a o t e r m i n a r d e l e r, g u a rd e e / o u p a s s e a d i a nt e e s t e p a s q u i m , o u j o g u e - o n o l i x o a d e q u a d o. Vo c ê p o d e a i n d a e n ro l á - l o c om o u m c i l í n d ro e f a z e r u m a lu n e t a !




Pasquim de Bambu                                                                                                                                                                                             Visite o Blog de Bambu e leia mais
                                                                     São Paulo, 02 de outubro de 2011                                                                                                    www.blogdebambu.wordpress.com
        Pasquim de Bambu - Nº1 - Outubro/2011 - Matéria especial postada no Blog de Bambu em 02 de outubro de 2011.




                            Para poetas, para todos
                                                                                                                                             tos, e que soma cerca de 6.838.641 habitantes, ou 63% da população da cidade de São
                                                                                                                                             Paulo; encontra no boteco da esquina, não a cerveja – ou, não somente a cerveja – mas
                                                                                                                                             o estímulo necessário para se expressar no papel, no palco, na música, e sem receios.
                                                                                                                                                     Espaços      de     todos      os    tipos,    não      só     bares,    promovem        sa-
                        Organizados em botequins - e aonde for - eventos como                                                                raus semanais, mensais e anuais. Somam aproximadamente 50 na cidade.
                       o sarau da Cooperifa estimulam o surgimento de poetas e                                                               “Muita gente começou a escrever poemas por causa do sarau. Muita gente começou a ler. Mui-
                                 escritores nas periferias de São Paulo                                                                      ta gente voltou a estudar”, conta o escritor e idealizador do famigerado sarau da Cooperifa
                                                                                                                                             (Cooperativa Cultural da Periferia), no Jardim Guarujá, zona sul de São Paulo, Sérgio Vaz.
                                                                                                                                                     Seu projeto, que comemora 10 anos este mês, já lançou mais de 40 autores e produziu a anto-
                                                                                                                                             logia poética “O rastilho da pólvora”, além de um cd, ambos com versos de autores descobertos ali.
                                                                                                                                             Com a dificuldade de abarcar o mercado editorial, poetas marginais fazem as vezes
                                                                                                                                             de “merchands” de suas próprias obras, nos muitos saraus espalhados pela cidade. E,
                                                                                                                                             não raro, têm suas obras publicadas devido ao nicho criado com o êxito nesses even-
                                                                                                                                             tos na periferia, onde, diferente do que se pensa, a temática não é tão somente o social.
                                                                                                                                             “Há o erotismo, o amor. O poeta, não importa de onde, fala daquilo que o in-
                                                                                                                                             comoda, daquilo que o toca, daquilo que o faz pensar com a alma”, diz o poe-
                                                                                                                                             ta Maurício Marques, freqüentador do Sarau do Binho e “de todos os que hão por aí”.
                                                                                                                                                     Perguntado sobre o que o incomoda, responde: “O mun-
                                                                                                                                             do incomoda. A gente tem uma consciência que o equilíbrio
                                                                                                                                             do mundo é reflexo do equilíbrio individual. Eu me incomodo
                                                                                                                                             com o meu mundo individual. É tudo encíclico, né?”, filosofa.
                                                                                                                                             Aproveita também para oferecer o seu romance, “O leão sol e a
                                                                                                                                             abelha lua de mel”, “por qualquer coisinha que queira dar em tro-
                                                                                                                                             ca”. Em seu site na Internet, o livro, cuja edição fora custeada
                                                                                                                                             por ele, custa módicos vinte reais. Em tempo: a reportagem não
                                                                                                                                             aceitou a oferta ao pé do balcão do bar, injusta para com o poeta.
                                                                                                                                                     A literatura marginal, carro-chefe dos saraus, sofreu uma contunden-
                                                                                                             Foto: João Wainer               te mudança desde o seu surgimento. “Ao estudar a boemia literária européia, ve-
          Por Karina França                                                                                                                  mos que os marginais das letras faziam denúncias e promoviam o fim do regime ins-
                                                                                                                                             tituído pela aristocracia em seus textos, cunhados “subliteratos’. Eles tiveram uma
                                                                                                                                             participação fundamental na revolução francesa”, ensina Adauto Locatelli Taufer, Mes-
          “Ta olhando o quê, p&%@?”. O silêncio que se seguia à rua Avelino Lemos Júnior, no Campo Limpo,                                    tre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
          Zona Sul de São Paulo, incomodava. Mas o aglomerado de gente sob a doirada luz incandescente                                       Segundo Taufer, na década de 90 os escritores eram representantes da classe média-
          no boteco adiante, chamava a atenção. Atravessar a rua pra olhar mais de perto, é inevitável. “Tem                                 -alta, e tratavam de questões cotidianas de modo irônico. “Hoje o projeto literário dos es-
          algo de errado comigo? Hein!”, uma voz feminina, com sotaque carioca, proferia com revolta.                                        critores periféricos é fazer com que a voz dos grupos excluídos da sociedade retumbe.
              Era segunda-feira. As exatas 22h22 da noite, brilhando na tela do celular dentro da bol-                                               Guardadas as proporções, é como se voltasse às origens. Essa nova modalidade literária vem
          sa, pareciam premonitórias. Ao que tudo indicava, o bar da periferia era palco de mais uma                                         despertando o interesse dos acadêmicos, que começam a se debruçar sobre o tema”, completa Taufer.
          celeuma. Ledo engano. A mulher, franzina, continuava. “Uma idéia, só uma idéia! Ou vá-                                             Renato Palmares, poeta marginal, membro da Associação dos Escritores de Santo Amaro
          rias!! Várias idéias. E perguntas sem respostas. E vocês aí me olhando porra!”, exclamava.                                         (ASSESA), é um exemplo de “artista-cidadão” nos dizeres do “Poeta da Periferia”, Sérgio Vaz.
                  Transeuntes chegam mais perto; o bar transborda gente. E ela, avante com seu mo-                                                    Freqüentando saraus nos botecos de seu bairro, amoado em uma mesa qualquer, mas
          nólogo, apaixonadamente, sobre o tablado quatriênio do Sarau do Bar do Binho, pal-                                                 com os ouvidos bem atentos e a mente à mil, decidiu aventurar-se num concurso de poesias.
          co para artistas marginais e calouros ousados, porque ébrios – de arte, sobretudo.                                                 Até então, havia escrito “’só’ um conto e uma peça de teatro”, devidamente “expostos” no
                                                                                                                                             fundo da gaveta mais esquecida do humilde quarto-banheiro-e-nada-mais, onde morou.
          “Está vendo aquela mulher grávida ali na rua, arrastando outra criança na mão? Crian-                                              Sua arte rendeu frutos. Os cômodos aumentaram depois do prêmio que ganhou com a pri-
          ça barriguda… deve estar cheia de verme! Estão descalças, e nesse frio! Mas, e daí? Você                                           meira poesia que fez. E mais ainda com as coletâneas publicadas com os colegas de sarau.
          acha bobagem olhar pra essa realidade, não é? E o que é a verdade pra você? A verdade é                                                                                                 “A gente pede que as pessoas ousem, criem
           andar de carro zero, e fingir não ver aquele que te pede um pedaço de pão. É ir pra uma fes-                                                                                           coragem pra ir lá na frente (no palco). Isso
          ta, beber, cheirar, fumar, até cair. E depois fica rindo da desgraça alheia! Cruzar seus braços                                                                                         reflete na vida delas. Para a pessoa que se ex-
          assistindo ao Jornal Nacional. É essa é a realidade que a gente não quer olhar, né? Infelizmen-                                                                                         põe lá na frente, é uma forma de comunicar
          te, essa é a realidade de uma sociedade medíocre! Fétida! Mas, olhar pra dentro de você? Você                                                                                           e se colocar no mundo”, expõe Binho (foto).
          quer? Já olhou? Não olhou! Porque não tem coragem! Tem medo do que possa ver! Tem medo                                                                                                  Ele, que também tem seus escritos em co-
          de ver que virou um robô dessa sociedade medíocre! Desses falsos moralistas! E eu? E você?                                                                                              letâneas como a “Postersia”, onde estão
          E nós? Nós já estamos mortos em nossa ignorância. Temos medo de ver que vivemos em um                                                                                                   publicadas as poesias que ele e seus pares
          país onde a fome mata e a ignorância cega. Em cada beco, a fome é uma insaciável lâmina                                                                                                 colocavam nos postes, em meados de 2001;
          que nos rouba os sonhos, rouba a vontade de viver. Ah! Isso é bobagem? Bobagem. Boba-                                                                                                   sempre começa recitando trechos de obras
          gem é esse medo que você tem de olhar pra dentro de você! Bobagem é esse medo que eu te-                                                                                                clássicas, como “Grande Sertão: Veredas”,
          nho de olhar pra dentro de mim! E essa falta de vergonha na sua cara, e na minha cara! Bo-                                                                                              de João Guimarães Rosa. “Aqui ninguém
          bagem é não querer enxergar essa realidade. Bobagem é fechar os olhos. É não ter coragem!                                                                                               fica “ensimesmudo” (fechado, taciturno)!
          Mas eu espero, sabe? Sabe o que eu espero? Eu espero que um dia, um espelho possa refletir                                         Mesmo           que        não        escreva,       pode          ler      o        que       gos-
          em mim um sorriso. Mas um sorriso sincero, Um sorriso verdadeiro. Eu espero que a convivên-                                        ta aqui na frente”, diz, do palco, usando um neologismo roseano.
          cia comigo mesma seja ao menos suportável e que a minha loucura seja ao menos perdoável”.                                                  Gente de todas as regiões da cidade enfrenta a distância, o trânsito e a timidez para
                                                                                                                                             participar. Mais de duzentas pessoas, dentro de um botequim de esquina. “Um sarau é um
                  E, novamente, o silêncio toma o lugar, em um átimo de segundo, longo feito hora, mês,                                      catalisador: serve para divulgar outros saraus, em outras periferias. Os encontros potencia-
          século. Sucedem-se os aplausos – ainda mais apaixonados do que a encenação da atriz de                                             lizam a ação dos participantes, colocando-os em contato e fazendo idéias circularem e se
          teatro, Mariana Dias – a testemunhar o fenômeno que são os saraus na periferia paulistana.                                         expandirem. A noção de comunidade, perdida com a urbanização e já extinguida no cen-
                  Termo       vindo       do      latim       “seránus”,     ou       “entardecer”,   sa-                                    tro, se fortalece aqui da forma mais linda”, diz Sérgio Vaz, que viu ser publicada também este
          rau é uma atividade cultural que envolve dança, poesia, música e teatro.                                                           ano, a 1ª edição da revista do Projeto Cooperifa, com apoio do programa VAI (Valorização
          Diretamente ligado à literatura marginal – no Brasil, principalmente a partir da década de 70,                                     de Iniciativas Culturais), programa municipal de incentivo cultural, e pelo Itaú Cultural.
          com chamada geração do mimeógrafo”, que tentava aproximar a poesia da linguagem colo-
          quial e buscava alternativas para a produção artística, tudo isso em pleno regime militar – e                                      Aos poetas ou não – e caso ainda não conheçam – os saraus visitados. Entrada livre e gratui-
          às vanguardas artísticas, é palco para artistas de batente e de gaveta. E para quem mais quiser.                                   ta:
                  “Eu acho que o sarau é um laboratório, uma oficina. Um grande caldeirão de idéias.
          Algo em quem está sentado, só ouvindo, é modificado – pra melhor. Artistas em potencial                                            Sarau do Binho
          desabrocham e quem já está na luta há muito tempo, tem espaço pra mostrar a que veio no                                            Quando: segundas-feiras a partir das 22h
                                                                                                                                             Onde: Bar do Binho, Rua Avelino Lemos Jr., 60 – Campo Limpo
          mundo!”, explica Binho, dono do bar e organizador do sarau, que acontece todas às segundas.                                        Telefone: (11) 3535- 6463
                  Outro trunfo dos saraus é no tocante à economia: tais projetos fomen-
          taram a poesia no mercado editorial brasileiro, criando um nicho importan-                                                         Sarau da Cooperifa
          te de selos de literatura marginal por editoras como a Global, por exemplo.                                                        Quando: quartas-feiras a partir das 20h30
                                                                                                                                             Onde: Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Jardim Guarujá
                                                                                                                                             Telefone: (11) 5891-7403
          Sustentabilidade cultural                                                                                                          Blog de Sérgio Vaz: http://colecionadordepedras1.blogspot.com/
                 Carente de espaços culturais, a população periférica, distribuída em 57 distri-

          Este pasquim é parte do projeto Blog de Bambu, produzido por Juliana Closs, Maira Reis e Karina França., alunas do 3º e 4º semestre de Jornalismo, na Universidade Paulista (UNIP). Ações verdes e sociais, dicas
          culturais, e o que mais as repórteres encontram de bacana por aí no que diz respeito è SUSTENTABILIDADE, em todos os seus âmbitos.
          Leia mais no endereço www.blogdebambu.wordpress.com e siga-nos no Twitter: @blogdebambu

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Somam aproximadamente 50 na cidade. o sarau da Cooperifa estimulam o surgimento de poetas e “Muita gente começou a escrever poemas por causa do sarau. Muita gente começou a ler. Mui- escritores nas periferias de São Paulo ta gente voltou a estudar”, conta o escritor e idealizador do famigerado sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), no Jardim Guarujá, zona sul de São Paulo, Sérgio Vaz. Seu projeto, que comemora 10 anos este mês, já lançou mais de 40 autores e produziu a anto- logia poética “O rastilho da pólvora”, além de um cd, ambos com versos de autores descobertos ali. Com a dificuldade de abarcar o mercado editorial, poetas marginais fazem as vezes de “merchands” de suas próprias obras, nos muitos saraus espalhados pela cidade. E, não raro, têm suas obras publicadas devido ao nicho criado com o êxito nesses even- tos na periferia, onde, diferente do que se pensa, a temática não é tão somente o social. “Há o erotismo, o amor. O poeta, não importa de onde, fala daquilo que o in- comoda, daquilo que o toca, daquilo que o faz pensar com a alma”, diz o poe- ta Maurício Marques, freqüentador do Sarau do Binho e “de todos os que hão por aí”. Perguntado sobre o que o incomoda, responde: “O mun- do incomoda. A gente tem uma consciência que o equilíbrio do mundo é reflexo do equilíbrio individual. Eu me incomodo com o meu mundo individual. É tudo encíclico, né?”, filosofa. Aproveita também para oferecer o seu romance, “O leão sol e a abelha lua de mel”, “por qualquer coisinha que queira dar em tro- ca”. Em seu site na Internet, o livro, cuja edição fora custeada por ele, custa módicos vinte reais. Em tempo: a reportagem não aceitou a oferta ao pé do balcão do bar, injusta para com o poeta. A literatura marginal, carro-chefe dos saraus, sofreu uma contunden- Foto: João Wainer te mudança desde o seu surgimento. “Ao estudar a boemia literária européia, ve- Por Karina França mos que os marginais das letras faziam denúncias e promoviam o fim do regime ins- tituído pela aristocracia em seus textos, cunhados “subliteratos’. Eles tiveram uma participação fundamental na revolução francesa”, ensina Adauto Locatelli Taufer, Mes- “Ta olhando o quê, p&%@?”. O silêncio que se seguia à rua Avelino Lemos Júnior, no Campo Limpo, tre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Zona Sul de São Paulo, incomodava. Mas o aglomerado de gente sob a doirada luz incandescente Segundo Taufer, na década de 90 os escritores eram representantes da classe média- no boteco adiante, chamava a atenção. Atravessar a rua pra olhar mais de perto, é inevitável. “Tem -alta, e tratavam de questões cotidianas de modo irônico. “Hoje o projeto literário dos es- algo de errado comigo? Hein!”, uma voz feminina, com sotaque carioca, proferia com revolta. critores periféricos é fazer com que a voz dos grupos excluídos da sociedade retumbe. Era segunda-feira. As exatas 22h22 da noite, brilhando na tela do celular dentro da bol- Guardadas as proporções, é como se voltasse às origens. Essa nova modalidade literária vem sa, pareciam premonitórias. Ao que tudo indicava, o bar da periferia era palco de mais uma despertando o interesse dos acadêmicos, que começam a se debruçar sobre o tema”, completa Taufer. celeuma. Ledo engano. A mulher, franzina, continuava. “Uma idéia, só uma idéia! Ou vá- Renato Palmares, poeta marginal, membro da Associação dos Escritores de Santo Amaro rias!! Várias idéias. E perguntas sem respostas. E vocês aí me olhando porra!”, exclamava. (ASSESA), é um exemplo de “artista-cidadão” nos dizeres do “Poeta da Periferia”, Sérgio Vaz. Transeuntes chegam mais perto; o bar transborda gente. E ela, avante com seu mo- Freqüentando saraus nos botecos de seu bairro, amoado em uma mesa qualquer, mas nólogo, apaixonadamente, sobre o tablado quatriênio do Sarau do Bar do Binho, pal- com os ouvidos bem atentos e a mente à mil, decidiu aventurar-se num concurso de poesias. co para artistas marginais e calouros ousados, porque ébrios – de arte, sobretudo. Até então, havia escrito “’só’ um conto e uma peça de teatro”, devidamente “expostos” no fundo da gaveta mais esquecida do humilde quarto-banheiro-e-nada-mais, onde morou. “Está vendo aquela mulher grávida ali na rua, arrastando outra criança na mão? Crian- Sua arte rendeu frutos. Os cômodos aumentaram depois do prêmio que ganhou com a pri- ça barriguda… deve estar cheia de verme! Estão descalças, e nesse frio! Mas, e daí? Você meira poesia que fez. E mais ainda com as coletâneas publicadas com os colegas de sarau. acha bobagem olhar pra essa realidade, não é? E o que é a verdade pra você? A verdade é “A gente pede que as pessoas ousem, criem andar de carro zero, e fingir não ver aquele que te pede um pedaço de pão. É ir pra uma fes- coragem pra ir lá na frente (no palco). Isso ta, beber, cheirar, fumar, até cair. E depois fica rindo da desgraça alheia! Cruzar seus braços reflete na vida delas. Para a pessoa que se ex- assistindo ao Jornal Nacional. É essa é a realidade que a gente não quer olhar, né? Infelizmen- põe lá na frente, é uma forma de comunicar te, essa é a realidade de uma sociedade medíocre! Fétida! Mas, olhar pra dentro de você? Você e se colocar no mundo”, expõe Binho (foto). quer? Já olhou? Não olhou! Porque não tem coragem! Tem medo do que possa ver! Tem medo Ele, que também tem seus escritos em co- de ver que virou um robô dessa sociedade medíocre! Desses falsos moralistas! E eu? E você? letâneas como a “Postersia”, onde estão E nós? Nós já estamos mortos em nossa ignorância. Temos medo de ver que vivemos em um publicadas as poesias que ele e seus pares país onde a fome mata e a ignorância cega. Em cada beco, a fome é uma insaciável lâmina colocavam nos postes, em meados de 2001; que nos rouba os sonhos, rouba a vontade de viver. Ah! Isso é bobagem? Bobagem. Boba- sempre começa recitando trechos de obras gem é esse medo que você tem de olhar pra dentro de você! Bobagem é esse medo que eu te- clássicas, como “Grande Sertão: Veredas”, nho de olhar pra dentro de mim! E essa falta de vergonha na sua cara, e na minha cara! Bo- de João Guimarães Rosa. “Aqui ninguém bagem é não querer enxergar essa realidade. Bobagem é fechar os olhos. É não ter coragem! fica “ensimesmudo” (fechado, taciturno)! Mas eu espero, sabe? Sabe o que eu espero? Eu espero que um dia, um espelho possa refletir Mesmo que não escreva, pode ler o que gos- em mim um sorriso. Mas um sorriso sincero, Um sorriso verdadeiro. Eu espero que a convivên- ta aqui na frente”, diz, do palco, usando um neologismo roseano. cia comigo mesma seja ao menos suportável e que a minha loucura seja ao menos perdoável”. Gente de todas as regiões da cidade enfrenta a distância, o trânsito e a timidez para participar. Mais de duzentas pessoas, dentro de um botequim de esquina. “Um sarau é um E, novamente, o silêncio toma o lugar, em um átimo de segundo, longo feito hora, mês, catalisador: serve para divulgar outros saraus, em outras periferias. Os encontros potencia- século. Sucedem-se os aplausos – ainda mais apaixonados do que a encenação da atriz de lizam a ação dos participantes, colocando-os em contato e fazendo idéias circularem e se teatro, Mariana Dias – a testemunhar o fenômeno que são os saraus na periferia paulistana. expandirem. A noção de comunidade, perdida com a urbanização e já extinguida no cen- Termo vindo do latim “seránus”, ou “entardecer”, sa- tro, se fortalece aqui da forma mais linda”, diz Sérgio Vaz, que viu ser publicada também este rau é uma atividade cultural que envolve dança, poesia, música e teatro. ano, a 1ª edição da revista do Projeto Cooperifa, com apoio do programa VAI (Valorização Diretamente ligado à literatura marginal – no Brasil, principalmente a partir da década de 70, de Iniciativas Culturais), programa municipal de incentivo cultural, e pelo Itaú Cultural. com chamada geração do mimeógrafo”, que tentava aproximar a poesia da linguagem colo- quial e buscava alternativas para a produção artística, tudo isso em pleno regime militar – e Aos poetas ou não – e caso ainda não conheçam – os saraus visitados. Entrada livre e gratui- às vanguardas artísticas, é palco para artistas de batente e de gaveta. E para quem mais quiser. ta: “Eu acho que o sarau é um laboratório, uma oficina. Um grande caldeirão de idéias. Algo em quem está sentado, só ouvindo, é modificado – pra melhor. Artistas em potencial Sarau do Binho desabrocham e quem já está na luta há muito tempo, tem espaço pra mostrar a que veio no Quando: segundas-feiras a partir das 22h Onde: Bar do Binho, Rua Avelino Lemos Jr., 60 – Campo Limpo mundo!”, explica Binho, dono do bar e organizador do sarau, que acontece todas às segundas. Telefone: (11) 3535- 6463 Outro trunfo dos saraus é no tocante à economia: tais projetos fomen- taram a poesia no mercado editorial brasileiro, criando um nicho importan- Sarau da Cooperifa te de selos de literatura marginal por editoras como a Global, por exemplo. Quando: quartas-feiras a partir das 20h30 Onde: Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Jardim Guarujá Telefone: (11) 5891-7403 Sustentabilidade cultural Blog de Sérgio Vaz: http://colecionadordepedras1.blogspot.com/ Carente de espaços culturais, a população periférica, distribuída em 57 distri- Este pasquim é parte do projeto Blog de Bambu, produzido por Juliana Closs, Maira Reis e Karina França., alunas do 3º e 4º semestre de Jornalismo, na Universidade Paulista (UNIP). Ações verdes e sociais, dicas culturais, e o que mais as repórteres encontram de bacana por aí no que diz respeito è SUSTENTABILIDADE, em todos os seus âmbitos. Leia mais no endereço www.blogdebambu.wordpress.com e siga-nos no Twitter: @blogdebambu