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Revista Jane Austen Portugal




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Abadia de Northanger
          Maio 2011 | Nº 5

         janeaustenpt.blogs.sapo.pt

         Conteúdo original © Jane Austen Portugal
Sumário
1. Sugestões Austenianas                              03
2. Quando Conheci Jane Austen                         04
3. Jane Austen e Eu                                   06
4. Porquê “Northanger Abbey” como Título?             08
5. Lendo a Abadia de Northanger                       09
6. As Minhas Impressões sobre Northanger Abbey        11
7. Em Defesa de Northanger Abbey                      13
8. A Sátira de Northanger Abbey                       15
9. Blaize Castle em Northanger Abbey                  16
10. Northanger Abbey 1986                             18   2
11. Northanger Abbey 2007                             19
12. Adaptação de 2007                                 21
13. Expiação, Jane Austen e Northanger Abbey          23
14. Catherine Morland o Patinho Feio de Jane Austen   25
15. Henry Tilney                                      27
16. Eleanor Tilney: A Amiga Sincera                   29
17. As Torpezas de Thorpe                             31
18. James Morland e Isabella Thorpe                   33
19. O General Sem Coração                             36
20. A Grande Família Morland                          38
21. Frederick Tilney                                  40
22. Mr. e Mrs. Allen                                  41
23. Pais e Filhos                                     43
24. Sabias Que…                                       44
[SUGESTÕES AUSTENIANAS]
  MARINA NUNES


Livro
Adoro livros… Vou sugerir o livro que estou a ler actualmente: Tieta do Agreste de
Jorge Amado… Apaixonante… está a ser o meu primeiro contacto com Jorge
Amado e estou apaixonada pela sua escrita. Entramos naquele mundo que ele
descreve… Reconhecemos a linguagem própria que ele não “dissimula” em cada
situação. Estou a adorar e já estou a chegar ao final.
E não posso de sugerir a maior parte das obras de Julio Dinis: A Morgadinha
dos Canaviais, As Pupilas do Sr. Reitor, Uma família Inglesa, Os fidalgos da Casa
Mourisca, entre outros… Gosto da escrita que nos faz sentir cheiros, que nos
faz bater o coração! E “As Horas”… Um livro apaixonante que nos faz sorrir no                            3
final: afinal estava        tudo ligado…


                               Música
                               Qualquer álbum do Rodrigo Leão… A musica de Rodrigo Leão é intensa,
                                forte, tem emoção… A minha musica favorita “La Fête” do álbum Cinema,
                                álbum através do qual descobri esta musica maravilhosa, é simplesmente
                                 divina…



                                                                                     Filme
                                                                       “O Véu Pintado”…
 Um filme maravilhoso que descobri por acaso mas que se tornou um dos meus favoritos
                                                                de sempre… Têm de ver!


                                    Blogue
                                    FutLol… porque gosto de futebol, porque é engraçado e
                                    porque o meu primo participa…
Por Luísa (Luh do Blogue
                                               Currently-Reading)


Desde bastante nova que tenho um               arrepender-me       de     ter   visto   as
enorme gosto pela leitura, com uma             adaptações, pois acho que perdi muito         4
preferência especial por clássicos e           da experiência da leitura, embora
romances        históricos.        Tenho       “Orgulho e Preconceito” seja um dos
igualmente por hábito basear as                meus livros preferidos.
minhas escolhas em pesquisas de
opiniões de outros leitores e listas de        Mas    antes   de    ler     “Orgulho    e
recomendações. Quando, por acaso               Preconceito” e pouco depois de ter
me deparei com uma lista do género             descoberto Jane Austen, numa visita à
“Cem livros que deve ler antes de              Biblioteca da minha escola secundária,
morrer”    onde,   entre      muitos,   se     deparei-me com um volume de bolso,
encontrava “Orgulho e Preconceito” de          bastante fino e com uma capa de cores
Jane Austen. Reconheci o nome da               desmaiadas onde se lia “Sensibilidade e
autora e fiz uma pesquisa acerca da            Bom Senso” de Jane Austen. Escusado
obra e fiquei fascinada! Quando                será dizer que o requisitei e nessa
descobri que existiam séries e filmes          noite, comecei logo a lê-lo, no entanto,
baseados   no livro,    não consegui           não me senti muito entusiasmada
descansar sem os ver todinhos. Mais            durante a leitura e não me identifiquei
tarde quando li o livro, cheguei a             muito com as personagens. Talvez
fosse ainda demasiado jovem para                   A obra de Jane Austen prima pela
perceber e apreciar a sensibilidade da             exímia crítica social que transparece
obra pois, recentemente, decidi dar-               em      personagens      ridículos        e
lhe outra oportunidade e achei-o um                frequentemente                    patéticos,
livro     maravilhoso.          Depois    desta    estereotípicos    das   classes     sociais
primeira leitura de uma obra de Jane               contemporâneas da autora e essa é
Austen, a minha vontade de ler mais                uma das coisas que mais me apraz na
livros da autora esmoreceu.                        sua escrita.


No Verão, há cerca de dois anos,                   Um romance de Jane é como uma
comprei “Orgulho e Preconceito”, mais              pequena máquina do tempo que me
até pela memória que guardava da                   transporta sempre para um mundo à
adaptação da BBC de 1995, do que                   parte, para uma época de costumes e
pelo que já tinha lido da autora.                  convivência social tão diferentes do
Comecei a ler e não consegui parar e               que temos hoje em dia e que, na
foi a partir daí que começou a minha               minha opinião, tinha uma magia e
obsessão saudável com Jane Austen e a              sentimento próprios que se perderam            5
sua obra. Quase de seguida comprei                 com o tempo.
uma edição em inglês com todos os
romances acabados da autora e li                   Jane Austen depressa se tornou uma
“Emma” e reli “Sensibilidade e Bom                 das minhas autoras predilectas e tenho
Senso”.      Mais      recentemente           li   sempre um prazer especial em ler e
“Persuasão” e “Northanger Abbey”.                  reler tudo o que escreveu. Nos dias
                                                   mais preguiçosos, gosto sempre de ver
“Persuasão”, a par de “Orgulho e                   uma ou outra adaptação dos seus
Preconceito”     são       os     meus    livros   romances.
preferidos de Austen, li-os quase de
uma       assentada    e        fiquei   sempre    Agradeço aqui o convite que me foi
fascinada pelas heroínas maravilhosas,             feito pela Clara, do Jane Austen
estórias envolventes e pelos heróis                Portugal, para escrever este pequeno
galantes.                                          texto, que me deixou muito contente!
                                                   Muito obrigada!
Minha cara Jane,                                 que me rodeia e o efeito que tem em
novamente       me    deparei    com       uma   mim; observei os lugares que costumo
dificuldade nesta carta. O tema da nossa         frequentar e... De repente... Tinha uma
adorável    revista    é    a    Abadia     de   ideia para esta carta.
Northanger e, mais uma vez, em
semelhança à edição anterior, não li             Porque, tal como a Jane sabe, nada é mais
(ainda!) a obra.                                 importante para um autor do que
                                                 observar. E a Jane fez isso muito bem.
Mais uma vez, colocava-se a questão: "o                                                           6
que escrever à minha cara Jane?". Bom,           Os seus livros contêm uma grande
certamente poderia contar-lhe o quão             observação     das       relações   que     se
horrível é estudar para exames tão perto         estabelecem entre as pessoas; de tal
uns dos outros que mais parecem                  forma, que, por vezes, me surpreendo
moscas; ou poderia ainda falar-lhe da            com a maneira como é capaz de
imensidão de projectos que planeava              descrever algumas personagens menos...
fazer durante as férias e agora não me           recomendáveis, de forma tão fiel que me
apetece realizar; ou poderia, até, contar-       fazem lembrar alguém.
lhe a minha questão existencial "ir ou
não   ir   ao   exame       de   recurso    de   A   Jane     tem     uma      extraordinária
Economia?",           mas        parece-me...    capacidade de nos "obrigar" a apaixonar
despropositado.                                  ou a odiar certas personagens com
                                                 poucas palavras.         Efectivamente,    não
Em vez disso, comecei a pensar no que            necessita de grandes discursos ou de uma
poderia contar-lhe; observei as ruas e as        lista de defeitos tão grande como o
pessoas por quem passo praticamente              Kilimanjaro para percebermos o carácter
todos os dias; observei a (pouca) natureza       daquela    pessoa        em   particular    e,
consequentemente,     vamos lentamente      Ora, a esses senhores e senhoras tenho a
entranhando aquilo que sentimos em          dizer     (com    todo      o   respeito      pela
relação a esta última, de uma forma tão     subjectividade de cada opinião cuja
subtil que nem damos conta de o fazer.      inexistência é impossível) que, pura e
Mas a sua observação é ainda mais           simplesmente, a Jane fez aquilo que se
interessante noutro aspecto: os locais      espera de um escritor: conseguir contar-
onde as obras decorrem.                     nos       uma    história       com     palavras
A Jane não foi daqueles autores que         suficientemente          sucintas     para    que
falam do Parque X ou da Terra Y, que        descrições          exacerbadas              sejam
fica algures entre A e B e que, quando      desnecessárias       e,      simultaneamente,
vamos a ver, não existem. Ou estão          mostrar-nos o seu mundo como você o
incorrectas. Ou nem sequer sabemos o        vê, ou seja, explicando o que sabe, não o
que se quer dizer.                          que pensa saber. Se isto é ser alguém
                                            incapaz de escrever, ou cuja escrita é
A minha cara teve uma grande atenção        rudimentar ou, ainda, com uma completa
nesses pormenores e é sabido de muitos      falta     de     tacto      para      todos     os
que tentava obter informações de vários     acontecimentos que a rodeiam, então                  7
locais através dos seus conhecidos. Por     penso que, hoje em dia, alcançámos o
essa mesma razão, quando nos fala de        hecatombe da literatura, desde vampiros
um local em particular, sabemos que         que brilham a sereias que andam em
podemos confiar no seu julgamento do        terra e a deuses que, originalmente, são
mesmo para o retratar mentalmente e         pai e filho, se tornarem irmãos.
isso é uma grande vantagem.
Além disso, tal fidelidade permite aos      Mas eu não cedo (completamente) ao
leitores conhecerem mais sobre si e sobre   desespero, Jane, pois sei que, em tempos
o ambiente em que vivia. Essa é a mais-     de grande desespero posso pegar num
valia de todas as suas obras.               livro seu, deliciar-me com uma bonita e
                                            interessante história de amor e sonhar
E devo, aqui, aproveitar, para fazer uma    com o mundo que você viu. Quem sabe,
pequena anotação.       Deparei-me, por     quando criarem uma máquina que
vezes, com opiniões de outros autores e     permita viajar no tempo eu lhe faça uma
críticos da literatura em como a Jane se    visita?
agarrava apenas àquilo que conhecia e
que a sua escrita era muito... seca, por    Até à próxima carta,
falta de melhor expressão.
[PORQUÊ NORTHANGER ABBEY COMO TÍTULO?]
  SANDRA FREITAS

                                           
                             NÃO FOI JANE AUSTEN QUE O ESCOLHEU

                                              



                                                         castelos e abadias são retratados como lugares
    Northanger Abbey refere-se ao nome do castelo        assustadores e arrepiantes e os seus títulos
    pertencente a uma das famílias envolvidas nesta
    obra de Jane Austen, os Tilneys. Contudo, com
                                                         apontavam quase sempre para os lugares onde            8
                                                         decorria a acção. Da mesma forma, Northanger
    este título parece que toda a acção do livro teria   Abbey ajuda os leitores a adivinhar a intenção
    lugar na abadia quando, na verdade, a acção só       satirizante da obra.
    aí começa a desenrolar-se a partir do vigésimo
    capítulo. Então, porquê este título?

                                                         Outra explicação possível para o título reflecte uma
                                                         das principais preocupações temáticas do romance.
Primeiro, é importante ressaltar que não foi Jane        Catherine Morland, a protagonista do livro é
Austen que o escolheu. O livro só foi publicado após     obcecada       com     romances       góticos     e,
a sua morte e foi o seu irmão quem escolheu este         consequentemente com Northanger Abbey a partir
título. A autora havia-o intitulado de ‘Catherine’,      do momento em que ouve falar dela. Todavia, ao
nome da protagonista. Isto levanta a questão de          longo da história aprende que a vida não é um
saber porque é que o irmão de Jane Austen achou          romance gótico e que a Abadia de Northanger é
que ‘Northanger Abbey’ seria um título mais              apenas a residência da família Tilney e não um
adequado.                                                lugar que possa satisfazer os seus desejos de
                                                         aventuras góticas.


Uma possível explicação reside no conteúdo da
obra. A Abadia de Northanger satiriza os populares
romances góticos do século XIX e neles, os antigos
[LENDO A ABADIA DE NORTHANGER]
CLARA FERREIRA

                                                   
                            "NORTHANGER ABBEY IS JANE AUSTEN’S AMUSING AND BITINGLY
                            SATIRICAL PASTICHE OF THE GOTHIC ROMANCES POPULAR IN HER
                                                          DAY”

                                                          
Julga-se que foi a primeira obra completada                  Elinor, de quem se torna muito amiga durante a
para publicação 1803), embora se saiba que já                sua estadia em Bath. Durante a sua estada em
tinha começado a escrever "Sensibilidade e Bom               Northanger Abbey uma série de mistérios e
Senso" (Sense and Sensibility) e "Orgulho e                  enganos acontecem, resultando numa partida
Preconceito" (Pride and Prejudice).                          inesperada.
                                                                                                              9
De acordo com a irmã, o seu título inicial era
"Susan" e terá sido escrito entre 1798-1799.
Contudo,     só       foi   publicado   em        1817,
postumamente, juntamente com "Persuasão"
(Persuasion).




Catherine Morland, a heroína desta obra de Jane
Austen, com apenas 17 anos, parte para Bath
com um casal amigo da família, Mr. e Mrs.
Allen.

Em Bath, toma o primeiro contacto com a
sociedade, em tudo diferente de Fullerton, a sua
terra natal (no campo). Aí conhece uma grande
amiga Isabella Thorpe de quem terá uma
enorme decepção.

Mais     tarde    é     convidada    para    ir    para
Northanger Abbey com Mr. Tilney e a sua irmã,
Catherine, é descrita, como uma fervorosa        Henry Tilney não é tão sentida pelo leitor como
leitora de romances góticos, de imaginação       em Persuasão, por exemplo.
muito fértil, um charme muito próprio, uma
ingenuidade característica da idade e uma        Henry Tilney, é um personagem muito especial,
bondade gigantesca. Penso que a empatia com a    bastante sensato e razoável, quase perfeito, diria
personagem não é imediata, eu pelo menos,        eu!
cansei-me, por vezes, da sua insensatez e
                                                 É também uma crítica à sociedade fútil, e a
imaturidade.
                                                 alguns "personagens-tipo", tal como Isabella e
                                                 John Thorpe.


O amor nesta obra não é tão forte como noutras   No fim da história vemos uma clara evolução no
obras de Jane Austen. A relação entre ela e      pensamento      de    Catherine,    ela    cresce,
                                                 decididamente, durante toda a obra.




                                                                                                  10
[AS MINHAS IMPRESSÕES SOBRE NORTHANGER ABBEY]
PAULA FREIRE

                                                 
                                             EU ADOREI ESTE ENSAIO!

                                                     


Quando comecei a leitura deste livro vinha-me               independência, o amor fraternal que nutria pela
sempre à cabeça a frase do personagem                       irmã e o respeito que, apesar das suas
masculino do filme "O clube de leitura de Jane              brincadeiras, tinha por Catherine. Era um
Austen". Segundo aquele, esta obra era um mero              homem vertical.
ensaio de Jane Austen. Através dele a autora fez
uma viagem de descoberta sobre o seu estilo.                Ao longo da leitura, não fui capaz de me         11
Aqui ainda não está definido. Existiam dúvidas.             desligar de algumas frases proferidas por Henry
Ou pelo menos parece havê-las. Creio que não                que são dignas de registo e também algumas
se trata de uma verdadeira obra acabada. Foi                posições por ele tomadas. Atrevo-me a pensar
com essa impressão que terminei a leitura deste             que se tratavam de posições assumidas pela
livro.                                                      própria Jane Austen. Merece destaque uma nota
                                                            interessante sobre romances versus história.
Todavia,     gostei   do     enredo.    Gostei     das      Henry e Catherine falavam acerca de livros e do
personagens,      principalmente        de       Henry      pouco reconhecimento dos romances que ela
Tilney. Adorei a inocência de Catherine e a                 defendia em detrimento da leitura livros de
sua incrível imaginação que ao longo do livro               história que causavam grande "tormento" às
nos oferecem momentos de boa disposição e                   crianças. A discussão leva-os para o patamar da
leveza. Catherine era uma peça em bruto que                 educação e Henry termina muito bem dizendo
apenas precisava das mãos certas para se tornar             (...) Mas os historiadores não são os responsáveis
numa obra de arte inteligente e delicada. E a               pelas dificuldades na aprendizagem da leitura, e
sua      transformação     pela   mão   de     Henry?       até mesmo a menina, que não me parece, no
Adorável. A forma como ele brincava com a sua               fundo, ser partidária de uma aplicação severa e
inocência e simultaneamente a protegia não                  intensa, pode vir a reconhecer que vale bem a
passam despercebidas. Convenceram-me logo.                  pena ser atormentado por dois ou três anos da
Ele conseguia aliar estes dois traços com perfeita          vida em prol de ser capaz de ler tudo o que
elegância. Encantou-me a sua inteligência, a sua            falta. Imagine, se a leitura não fosse ensinada, a
senhora Radcliffe teria escrito em vão ou até       fortuna. E considera que casar por dinheiro é a
talvez nem o tivesse feito. Esta discussão é        coisa mais ignóbil da existência.
relevante no sentido de mostrar a preocupação
que Jane Austen com a educação das mulheres.        Neste livro encontramos também, ainda que de
Ela conseguia alcançar as vantagens de esta         forma sucinta e rápida, uma abordagem à
existir no círculo feminino. É também Henry         política do país, o que me surpreendeu pelo
que afirma que ser-se sempre firme pode ser         facto de este ter sido escrito cedo.
uma obstinação. E saber relaxar é o verdadeiro
                                                    Mas a grande marca que este livro me deixa é a
desafio. Ou, ainda, ser-se levado por conjecturas
                                                    crítica aberta que Jane Austen deixa à literatura
de segunda mão é uma pena. Mas a que mais
                                                    fantástica. A certa altura a autora mostra
me marcou foi sem dúvida esta: já ouvi falar em
                                                    claramente a sua aversão por este tipo de escrita
fiéis acções. Mas uma promessa fiel, a fidelidade
                                                    e aponta-lhe consequências pouco felizes. Diz
de prometer! É uma palavrinha bem poderosa,
                                                    que todo o sofrimento de Catherine resulta
pois pode muito bem decepcioná-la (ar) e
                                                    sobretudo da influência dos livros que até aí
magoá-la (ar).
                                                    lera, afirmando que por muito encantadores
Existe outra   passagem      que,    no     meu     que fossem os livros da senhora Radcliffe, e
entender, consubstancia uma crítica feita tanto     mesmo os livros dos que a imitavam, não era
aos homens como às mulheres, o que não deixa        com certeza neles que a natureza humana devia
                                                    ser procurada, pelo menos ali, nos condados
de ser interessante. Diz a determinada altura a                                                      12
                                                    centrais de Inglaterra. (...) Mas na parte central
autora que as vantagens da tolice natural numa
bela jovem já se encontram realçadas pela           de Inglaterra havia, com certeza, alguma
importante pena de uma companheira de               segurança, mesmo para a vida de uma mulher
escrita e, quanto à forma como trata do assunto,    que não fosse amada, conferida pelas leis da
limito-me a acrescentar, fazendo justiça aos        terra e os hábitos da época. O assassínio não era
homens, que, embora para a maior e mais             tolerado, os criados não eram escravos, nem se
frívola parte deste sexo a imbecilidade nas         arranjavam poções para dormir, como o
mulheres seja considerada uma enorme                ruibarbo, em todos os farmacêuticos.            A
vantagem para realçar os seus encantos              referência à natureza humana e à essência do
naturais, existe um outro grupo bastante            ser humano são, para mim, o alicerce de todas
grande, suficiente e razoavelmente bem              as estórias de Jane Austen. Por isso acredito que
informado, que deseja algo mais numa mulher         este tenha sido um ensaio, muito bom, que Jane
do que ignorância.                                  terá feito para definir a sua escrita e para
                                                    sedimentar a estrutura que a iria sustentar. O
                                                    resultado está à vista. Jane é uma escritora que
                                                    fala sobre pessoas reais; sobre a sociedade e
A crítica clara ao casamento por dinheiro está      sobre    sentimentos.    E    fá-lo    bem.   Com
também presente nesta obra. Através de              inteligência.
Catherine, Jane afirma que detesta a ideia de
uma grande fortuna procurar outra grande            Eu adorei este ensaio!
[EM DEFESA DE NORTHANGER ABBEY]
CLARA FERREIRA

                                         
                HÁ MEDIDA QUE O TEMPO PASSA VOU GOSTANDO CADA VEZ
                       MAIS DA PUREZA DE CATHERINE MORLAND

                                             




                                                                                                 13

                                                                         medida que o tempo
                                                                         passa,    vou   gostando
                                                                         cada vez mais da pureza
                                                                         de Catherine Morland.

                                                                         "She was born to be an
                                                                         heroine"...



Lê-se muito a respeito de Northanger Abbey,        Deixo aqui um comentário que encontrei no site
essa sombra na obra de Jane Austen.                Jane Austen Society UK e que achei interessante
                                                   pois dá uma perspectiva engraçada sobre o
Pergunto-me, será por a heroína não possuir
                                                   Romance. Na altura em que li Northanger
um carácter sólido, forte e maduro? Será por ser
                                                   Abbey nunca tinha pensado nele como um
ingénua, pura e infantil?
                                                   Romance que idolatrava outro Romance, o que é
Devo confessar que não fiquei extasiada da         bastante curioso!
primeira vez que li Northanger Abbey. Mas há
                                                   Defesa do Romance:
Northanger Abbey (Abadia de Northanger)            Camila ou Belinda", ou, dentro de pouco tempo,
contém a mais famosa defesa da arte do             apenas algum trabalho no qual os maiores
Romance por Jane Austen.                           poderes da mente estão dispostos, no qual o
                                                   mais completo conhecimento da natureza
A leitura preferida de Catherine Morland são       humana, a mais feliz delineação das suas
Romances.   "Sim,   Romances",   escreve   Jane    variedades, as mais vivas efusões de inteligência
Austen, "qual o mal de uma heroína de um           e humor, estão expressas para o mundo na
Romance ser idolatrada por a de outro              melhor lingua possível.
Romance, de quem pode ela esperar protecção e
consideração?". Ela dá um exemplo:                 É uma ironia engraçada embora perigosa
                                                   quando confundida com a vida real, os
"E o que está a ler, Menina ? " "Oh, é apenas um   Romances podem verdadeiramente dar-nos
Romance!" responde a senhorita, enquanto           conhecimento dos nossos parceiros humanos
pousa o seu livro com indiferença forçada ou       podendo      ultrapassar     o    conhecimento
vergonha momentânea. "É somente Cecilia ou         conseguido pela vida real de facto.




                                                                                                   14
[A SÁTIRA DE “ABADIA DE NORTHANGER”]
CLARA FERREIRA

                                           
                       PARA PERCEBER ABADIA DE NORTHANGER NA TOTALIDADE É
                         NECESSÁRIO LER “THE MYSTERIES OF UDOLPHO”

                                                    


                        Já li escrito que para       "The Mysteries of Udolpho" foi publicado em
                        perceber a "Abadia de        1794 (Northanger Abbey foi escrito entre 1798
                        Northanger"            na    e 1799 e publicado em 1803).
                        totalidade, é necessário                                                     15
                        conhecer a obra de Ann
                        Radcliffe "The Mysteries
                                                     A acção decorre em 1584 e conta-nos a história
                        of Udolpho", uma vez
                                                     de Emily St. Aubert, uma jovem francesa que
                        que toda a obra de Jane
                                                     fica orfã depois da morte do pai. É um romance
                        Austen se baseia nela,
                                                     gótico, repleto de incidentes de terror, castelos
                        satirizando             e
                                                     sombrios, eventos sobrenaturais, vilões e uma
parodiando com os romances góticos, tão em
                                                     heroína perseguida.
voga naquela altura.



                                                     Emily é feita prisioneira num castelo após a
"The Mysteries of Udolpho" é o romance que a
                                                     morte do pai pelo Sr. Montoni, um criminoso
nossa heroína Catherine       Morland devora
                                                     italiano que casou com sua tia, Madame
avidamente ao longo da história. No fundo, é
                                                     Cheron. Emily apaixona-se por Valancourt, um
um romance dentro do romance. Como nunca li
                                                     jovem conheceu numa viagem que fez com o
nem conhceço minimamente o enredo (e talvez
                                                     pai à Suiça, todavia, o seu encarceramento
não seja a única), procurarei dar a informação
                                                     afasta-a dele. No sombrio castelo de Udolpho
possível para uma leiga em romances góticos.
                                                     onde está prisioneira, estão escondidos variados
                                                     mistérios e um deles envolve o seu pai e uma
                                                     Marquesa de Villeroi.
[BLAIZE CASTLE EM NORTHANGER ABBEY]
CLARA FERREIRA

                                     
                  BLAIZE CASTLE, O CENÁRIO QUE SERVE PARA AFASTAR
                   CATHERINE DO COMBINADO COM MISS TILNEY

                                         

Vamos ser capazes de fazer pelo menos mais        - É o lugar mais bonito de Inglaterra, que em
umas dez coisas. Kingsweston! Claro! E o          qualquer ocasião merece que se façam
Castelo de Blaize também, e tudo aquilo que nos   cinquenta milhas para ser visitado.
lembramos. Mas aqui a sua irmã diz que não
vem!                                              - Mas é mesmo um castelo? Um castelo antigo?
                                                                                                 16
- Castelo de Blaize! - exclamou Catherine - Mas   - O mais antigo de todo o reino.
o que é isso?
                                                  - Mas é como aqueles que lemos nos livros?
- Exactamente.                                  Catherine do combinado com Miss Tilney,
                                                fortemente influenciada pela artimanha de         17
- Fale a sério... e tem mesmo torres e longas   Thorpe que a convence de que estes não irão
galerias?                                       cumprir o prometido de ir passear com ela.

- Às dúzias."                                   Na realidade este castelo existiu e existe nos dias
                                                de hoje. É uma construção moderna em formato
Capítulo 11, tradução de Luiza Mascarenhas
                                                triangular, que foi mandada construir por
                                                Thomas Farr em 1766; situada em Henbury,
                                                muito para lá de Bristol, nos terrenos de uma
É assim que Jane Austen nos apresenta Blaize    mansão neoclássica, foi acabada de construir em
Castle, o cenário que serve para afastar        1790           por           William           Pet

                                                Como vêem, Blaise Caslte não passa de um
                                                castelo "a fingir", Thorpe estava, mais uma vez, a
                                                ludibriar a nossa ingénua heroína e a fazer-lhe
                                                passar uma imagem totalmente falsa daquilo
                                                que Blaise Castle era na realidade.
[NORTHANGER ABBEY 1986]
CLARA FERREIRA

                                               
                    COMECEI A GOSTAR MAIS DO FILME, PRINCIPALMENTE A PARTIR DA
                                     CHEGADA A NORTHANGER ABBEY

                                                



Confesso que achei esta versão                                          embora Felicity Jones lhe
a coisa mais horrenda que se                                            fique cem vezes à frente.
podia fazer com a obra de                                                                             18
Jane Austen. Isto no início.

Fazem-se           adulterações                                         No desenrolar da história
imensas à história e a meu ver,                                         comecei a gostar mais do
sem qualquer nexo. Os irmãos                                            filme, principalmente a partir
Thorpe são odiosos e numa                                               da chegada a Northanger
interpretação terrível pois vê-                                         Abbey, onde, apesar de tudo
se a milhas de distância que                                            se     consegue    vislumbrar
são   uns   tremendos      interesseiros   e   nem   partes da história original.
Catherine Morland se deixaria enganar. Os
                                                     A cena em que Tilney encontra Catherine no
banhos romanos... meu deus... Pergunto-me
                                                     quarto da mãe está tal e qual o texto original, o
qual a lógica de colocarem aquilo no filme?!
                                                     único ponto a favor que consigo encontrar no
                                                     meio de tanta criatividade pouco inteligente.


A banda sonora é outra coisa terrível, péssima e
irritante! Mr. Tilney às vezes parece-se mais
                                                     No início achei deplorável a adulteração, no
com o irmão, nalgumas atitudes. Gostei da actriz
                                                     entanto, o fim mostrou-se bem mais agradável..
[NORTHANGER ABBEY 2007]
VERA SANTOS

                                          
                A QUÍMICA ENTRE CATHERINE E O SEU MR. TILNEY ERA BOA

                                              




                                                                                                  19




                                                    Jones, eram muito bons além disso a química
                                                    entre Catherine e o seu Mr. Tilney era boa.
Ainda não li este livro, tal como ainda não li o
Parque de Mansfiled e se ver a adaptação de
                                                    Catherine pareceu-me bem diferente das outras
2007, foi um verdadeiro turn off para ler em
                                                    heroínas de Jane, na medida em que era bem
seguida o livro, o mesmo não posso dizer desta
                                                    mais ingénua e parecia ter a cabeça menos no
adaptação. Não sei até que ponto é fiel ao livro,
                                                    lugar, mas não era necessariamente uma tola ou
mas é decididamente fiel ao espÍrito de Jane
                                                    leviana. Mas de certa forma pensei que ela
Austen e aquilo a que ela nos habituou. O leque
                                                    talvez pudesse ser o género de pessoa que se
de actores reunidos, todos desconhecidos para
                                                    deixa levar e cair em desgraça como acontece
mim, com excepção de Carey Mulligan e Felicity
como Isabella, mas mais pela sua ingenuidade    constante, no qual ela nunca percebe se há
de que pela sua vontade de ser como ela.        veracidade ou apenas uma brincadeira.




Já em Mr. Tilney encontramos um homem com       De resto e como sempre, os cenários, guarda-
uma postura menos séria e muito mais            roupa e música não desiludem. Penso que é
                                                                                               20
descontraída do que outros homens criados por   impossível não gostar de Catherine Morland, eu
Jane, e talvez por isso, penso que ambos se     pelo menos gostei muito dela até porque tal
tornam o par perfeito, ela com a sua            como ela facilmente entro nos livros que estou a
ingenuidade e ele com aquele troçar dela        ler!
[A ADAPTAÇÃO DE 2007]
CLARA FERREIRA

                                         
                    QUANTO MAIS VEJO (ESTA ADAPTAÇÃO) MAIS GOSTO DELA

                                             




                                                                                                   21




Confesso que a primeira vez que vi esta série       Esta adaptação consegue transportar para o ecrã
não gostei particularmente, achei que não fazia     os verdadeiros irmãos Thorpe no seu melhor.
jus à obra. Mas a verdade é que, quanto mais        Isabella foi terrivelmente bem interpretada.
vezes a vejo mais gosto dela e ultimamente          Eleanor Tilney mostrou-se no ecrã com a
tenho criado uma grande paixão tanto por esta       postura e doçura com que é descrita na obra.
adaptação como pelo romance.                        Henry Tilney está no seu melhor com J.J. Field,
                                                    todo o "gozo" que faz com Catherine é genuíno e
Escusado será dizer que, entre esta adaptação e a   consegue ter aquele toque irónico e humorístico
de 1986, esta está cem vezes melhor e mais          com o qual o romance nos apresenta.
rigorosa em relação à obra, para alem de gostar
muito mais deste Henry Tilney do que do outro       Gostei muito de rever Sylvestra aqui no papel de
e o mesmo se passar com Catherine.                  Mrs. Allen, muito bem feito, a cena da corrida
para
os




lugares no salão de Bath está hilariante.          Catherine no quarto da mãe, nesta versão o
Também gostei muito da cena na ópera e das         texto é alterado e Henry não é tão duro com
desculpas de Catherine por não ter cumprido        Catherine.
com o acordado e ter faltado ao passeio. Os
passeios com Eleanor e Henry também são            O fim desta versão é adorável, o pedido de
muito enternecedores.                              casamento é "romantiquíssimo" e a atrapalhação
                                                   do beijo final amorosa, digna da nossa heroína
Ao contrário da versão de 86 que segue à risca o   Catherine Morland!                           22
texto original da cena em que Henry apanha
[EXPIAÇÃO, AUSTEN E NORTHANGER ABBEY]
CLARA FERREIRA


                                        
                ATONEMENT TEM MAIS LIGAÇÃO A JANE AUSTEN DO QUE EU
                                      JULGAVA

                                              




Quais as semelhanças de Expiação (Atonement)
com a obra de Jane Austen, isto claro, para além                                                23
de Keira Knightley ter sido a protagonista em
ambas adaptações, do Director de Realização ser
o mesmo de Orgulho e Preconceito (2005) e do
actor principal (James McAvoy) também ter
participado no filme Becoming Jane?

Pois bem, confrontei-me com esta questão
enquanto explorava pela net. Expiação está no
número um dos meus melhores filmes de
sempre e desde que li o livro ainda me tornei
numa fã mais fervorosa.

Embora quase que venere o filme, e já o tenha
visto repetidas vezes, nunca me tinha passado
pela cabeça qualquer relação com Jane Austen.
Mas a verdade é que há.

Neste artigo, "Shades of Austen in McEwan's
Atonement", esse tema é muito desenvolvido.        A epígrafe do livro Atonement, traz o seguinte
                                                   excerto de Abadia de Northanger de Jane
                                                   Austen:
"Dear Miss Morland, consider the dreadful
nature of the suspicions you have entertained.
What have you been judging from? Remember
the country and the age in which we live.
Remember that we are English: that we are
Christians. Consult your own understanding,
your own sense of the probable, your own
observation of what is passing around you. Does
our education prepare us for such atrocities?
Do our laws connive at them? Could they be
perpetrated without being known in a country                 encontrar paralelos entre a obra de Jane
like this, where social and literary intercourse is          Austen e a sua obra.
on such a footing, where every man is                       Segundo, existe também uma suspeita
surrounded by a neighbourhood of voluntary                   mal interpretada e errada feita por
spies, and where roads and newspapers lay                    Briony      Tallis,     que     resulta     numa
everything open? Dearest Miss Morland, what                  consequência muito mais grave que a de
ideas have you been admitting?"                              Catherine Morland.
                                                            Terceiro,     o       próprio   Ian            24
                                                                                                       McEwan
                                                             descreveu a sua obra como "o seu
Esta passagem de A Abadia de Northanger tem                  romance Jane Austen".
vários efeitos na obra de Ian McEwan:

      Primeiro, encoraja os leitores a tentar
                                                      O artigo é extenso, mas penso que já transmiti a
                                                      ideia que desejava. Na verdade, Atonement, tem
                                                      mais ligação a Jane Austen do que eu julgava.
                                                      De facto, a suspeita criada por Briony é idêntica
                                                      à de Catherine, ambas acusam, sem provas,
                                                      alguém de um crime horrendo. Mas em
                                                      Catherine não há consequências de maior, pois a
                                                      história não desenvolve por aí, mas em Briony, as
                                                      consequências são terríveis e a personagem é
                                                      perseguida toda a sua vida por essa suspeita que
                                                      levantou. Confesso que o fim de Atonement me
                                                      colocou a chorar feita criança, e agora que sei
                                                      que tem ligações em Jane Austen, vou idolatrar
                                                      este filme e livro ainda mais!
[CATHERINE MORLAND, O “PATINHO FEIO” EM JANE AUSTEN                             ]
FÁTIMA VELEZ DE CASTRO

                                            
                 UM AUTÊNTICO PATINHO FEIO QUE VAI DESABROCHANDO AO
                                  LONGO DA HISTÓRIA

                                             




                                                                                                 25




                                                                                               De

A“Abadia de Northanger” é um romance de Jane
                                                    qualquer modo aprecio Catherine Morland
Austen que não me cativa. Embora pareça que
                                                    como protagonista, um autêntico patinho feio
os leitores (em geral) simpatizem menos com o
                                                    que vai desabrochando ao longo da história. A
“Parque     de    Mansfield”,   sobretudo   pelas
                                                    autora prepara-nos logo no início, afirmando
características aparentemente amorfas da sua
                                                    que “ninguém que alguma vez tivesse conhecido
heroína – Fanny Price – no meu caso isso não
                                                    Catherine Morland na infância poderia supor
acontece.
                                                    que ela nascera para se tornar uma heroína”. E
                                                    nem sei se no final lhe podemos chamar heroína
                                                    de facto, porém destaca-se nesta personagem o
                                                    seu crescimento e formação de carácter.
familiar. Esta é uma ideia
                                                                     permanente na obra de
                                                                     Austen, a de que a razão
                                                                     deve     dar       atenção    ao
                                                                     coração e não às questões
                                                                     materiais.




                                                                     Mas não foram apenas as
                                                                     experiências desagradáveis
                                                                     que      fizeram      Catherine
                                                                     crescer enquanto pessoa. A
                                                                     paixão       por    Tilney,    o
                                                                     “choque” de personalidades
                                                (o sarcasmo, a intrepidez e a intensidade), e toda
A menina travessa, a jovem que sonha com os     a aprendizagem que faz com ele, é vital para
romances de mistério, move-se inicialmente      que entre na idade adulta “com os pés na terra”,
num meio muito limitado que não lhe abre os     percebendo até onde pode ir a fantasia e a
                                                realidade.
horizontes sociais e intelectuais, mas que ao                                                       26
mesmo tempo a protege. A ida para Bath foi
uma excelente oportunidade para contactar
com outros grupos da sociedade e aprender com   Catherine Morland parece ser a menina mais
as “armadilhas” dos supostos amigos. Também a   rebelde, a mais “maria-rapaz”, a mais criativa
estadia em Northanger e a forma como evoluiu    sonhadora de todas as personagens de Jane
a relação com o general Tilney a fez            Austen… será que alguma de nós foi um dia
amadurecer, aprendendo como as questões de      assim também?
fortuna podem perigar a felicidade conjugal e
[HENRY TILNEY]
LILIANA ISABEL

                                        
                     UMA DAS COISAS QUE MAIS ADORO EM TILNEY É O SEU SENTIDO
                                         DE HUMOR

                                            



Gosto muito desta personagem e é
das personagens masculinas que
mais gosto nas obras de Jane                                                   27
Austen.    É    uma      personagem
simpática e acessível. Eu penso que
Tinley é até muitas vezes uma
versão em upgrade de Darcy, pois
Darcy tinha o charme e o bom
coração, mas não tinha a aptidão
comunicativa que Henry Tilney
tem. Podemos afirmar que é o
homem perfeito. Se é que isso existe
e se é que as mulheres estão
verdadeiramente interessadas no
homem "perfeito".


Uma das coisas que mais adoro em
Henry é o seu sentido de humor. Se
há   coisas    que    nós   mulheres
apreciamos num homem é o seu
sentido de humor, e nisso Henry
ganha muitos pontos. Catherine
que o diga, pois não lhe resistiu.
Uma das grandes
                                                                               diferenças        entre
                                                                               Henry e os restantes
                                                                               heróis de Austen é
                                                                                que     ele     não   é
                                                                                descrito como um
                                                                                                homem
                                                                                      particularmente
                                                                                 belo, mas não é
                                                                                 por     isso   menos
                                                                                         interessante,
                                                   muito pelo contrário. Em relação aos seus
Trata-se de um homem decidido e que sabe           sentimentos por Catherine sabemos que foi
aquilo que diz e aquilo que sente. Uma das         Catherine quem primeiro se apaixonou e que
personagens que mais expõe as suas opiniões        Henry só mais tarde se aproximou dela
em relação aos seus pontos de vista (na sua        romanticamente. No entanto, foi das primeiras
grande    maioria   inteligentemente   expostos)   pessoas a entender e aprender a gostar de
torna-o uma personagem forte não só de             Catherine apesar da sua personalidade que
Northanger Abbey como de toda a obra de Jane       tanto ou quando "especial" e até ingénua. Foi
Austen.                                            fantástico poder falar de Henry Tilney de quem     28
                                                   eu tanto gosto e que tanto tem " a ver comigo".
[ELEANOR TILNEY: A AMIGA SINCERA]
EVA SOUSA

                                        
                                  PENSO QUE ELEANOR É TRISTE

                                            

                                                  o casamento entra, claramente, nesta linha". W.
                                                  H. Auden concorda, dizendo que Smith gostava
Contudo, se aceitarmos a possibilidade de Jane    de criar imagens que poderiam ser chamadas de
Austen ter conhecido e ter sido inspirada por     estilo barroco ridículo".
Sydney Smith, uma comparação entre os dois
pode explicar muito sobre Henry. Por exemplo,
Sydney Smith "gostava de falar a brincar sobre                                                  29
matéria sérias, produzindo linhas de imagens      É certo que Jane Austen sempre disse que não
ridículas para provar o seu ponto de vista; a     baseava os seus personagens em pessoas reais.
comparação de                                     (...)
Henry        Tilney
entre a dança e
Eu    vejo      em
Eleanor Tilney a
encarnação das
qualidades que
uma boa amiga
deve ter. Ela é
uma
personagem que
passou         por
dificuldades na
vida, apesar de
provir       duma
família abastada
é órfã de Mãe
(da qual nem
teve oportunidade de se despedir) vive com uma      encarna as qualidades que uma amiga fiel deve
Pai cujo respeito lhe inspira medo e mesmo          ter.
nestas ásperas circunstâncias, às quais se alia a
escassez de amigas da sua idade tem esta            É a verdadeira amiga de Catherine, não faz
capacidade inata para a amizade, de certo           grande alarido, limita-se a estar lá e a ser, sem
                                                                            grande brilho aparente,
                                                                            um      apoio       para        a
                                                                            heroína desta história.

                                                                            Eleanor                 faz-me
                                                                            lembrar        as       pessoas
                                                                            realmente       boas          que
                                                                            encontramos na vida e
                                                                            das     quais       não       nos
                                                                            apercebemos                 muito,
                                                                            pois,    por        o       serem
                                                                            naturalmente            e     sem
                                                                            vaidade     não         sentem
                                                                            necessidade             de      o
                                                    publicitar.
criada de forma autodidacta, por inspiração de                                                               30
um coração e puro!

Eleanor é um exemplo de graça feminino,             Apesar de todas estas qualidades penso que
candura fragilidade e força em simultâneo e         Eleanor é triste! Não revoltada, mas uma pessoa
                                                    triste com a vida…
[AS TORPEZAS DE THORPE]
CÁTIA PEREIRA

                                       
                      “ESTE AINDA VAI DAR MAIS TRABALHO DO QUE MERECE”

                                           



Dentre os "canalhas" que Jane Austen desenhou    enquanto deu um toque ligeiro e indiferente na
na sua escrita, John Thorpe é o mais medíocre    mão de Isabella, na direcção de Catherine
de todos. Os outros, apesar de canalhas,         atirou o pé atrás e fez uma meia vénia. Era um
possuem algum encanto - mesmo que ilusório e     jovem robusto, de estatura média, com um rosto
superficial. Com Thorpe isto não acontece.       normal e sem qualquer graciosidade, que          31
Desde a primeira linha escrita sobre ele         parecia recear parecer demasiado interessante a
constatamos que ele é medíocre e execrável.      não ser que vestisse o fato de lacaio e
Estarei a ser                                                                         demasiado
cruel? Talvez.                                                                    cavalheiro se
Mas,         em                                                                   não       fosse
nenhum                                                                              descontraído
momento, ao                                                                       quando devia
longo        de                                                                   ser educado, e
Northanger                                                                             descarado
Abbey,                                                                            quando      lhe
consegui                                                                          era permitido
sentir     outro                                                                              ser
sentimento                                                                        descontraído"
que não fosse
aversão      por
John Thorpe.
                                                                                  Encontro uma
                                                                                  grande ironia
                                                                                  na voz de Jane
"John                                                                             Austen      nesta
Thorpe,(…)                                                                        descrição     de
John Thorpe. Neste parágrafo, ela deixa bem           espírito que não tenha tido oportunidade de se
                                                               cultivar. Apesar de não ter muitas
                                                               posses     não     seria      propriamente
                                                               destituído. Poderia ser uma pessoa
                                                               melhor se o quisesse.




                                                               Eu não acredito que John Thorpe
                                                               tivesse algum tipo de sentimento de
                                                               enamoramento         ou       paixão      por
                                                               Catherine Morland que justificasse um
                                                               assédio tão acentuado. Este assédio é
                                                               tão intenso e despropositado que
                                                               chega a ser irritante.

                                                               Então, o que terá despertado esta
                                                               atitude? Apesar da inocência, da
                                                               beleza e da candura que tornam
                                                               Catherine encantadora, penso que a
                                                               resposta    reside       em                 32
                                                                                                  argumentos
                                                               frívolos. A conveniência dela ser irmã
                                                               do pretendente da irmã de Thorpe e
                                                               uma suposta herança que os Allen lhe
                                                      atribuiriam serão as duas respostas para esta
claro quem ele é. Deixa-nos de sobreaviso,            questão. O assédio seria resultado desta busca
como quem diz "cuidado, este ainda vai dar            pela conveniência e pelo dinheiro.
mais trabalho do que merece!".
                                                      Não posso dizer que ele reconhecesse o risco
                                                      que representava Mr. Tilney. Não o via como
                                                      "concorrência" ao coração de Catherine. Acho
Busquei a palavra ideal para defini-lo. Não
                                                      que ele apenas o via como uma distracção a ser
encontrei. Lembrei de fazer esta brincadeira
                                                      extinta, mas não com força suficiente para
com a sonoridade do nome dele: torpe. Contudo,
                                                      ofuscar o seu próprio brilho. Isto porque John
ele é bem mais do que isso. Esgoto toda a
                                                      Thorpe    sempre    agiu    como       se    Catherine
adjectivação que encontro e a lista seria
                                                      Morland fosse uma presa fácil e uma conquista
infindável, porque John Thorpe possui todas as
                                                      garantida.
características que são abomináveis aos meus
olhos: mal-educado, pretensioso, arrogante,           Se eu pudesse oferecer um presente a John
interesseiro, grosseiro, indiscreto, inconveniente,   Thorpe este presente seria um espelho. Um
mentiroso, intriguista, vaidoso, enfadonho e          espelho bem grande. E um par de óculos. Talvez,
pouco inteligente. Tudo isto não resulta de um        assim, ele se enxergasse.
[JAMES MORLAND E ISABELLA THORPE]
MARINA NUNES

                                              
                                 ISABELLA THORPE (…) NÃO É UMA PESSOA BOA

                                                    



Não me consigo decidir pelo "grau" em que            "... sendo de disposição muito amigável e
gosto desta obra de Jane Austen... Que gosto é       sinceramente dedicado à irmã,...", mas o seu 33
certo, porque gosto de todas as suas obras que já    papel "principal" nesta obra é como apaixonado
li, e gosto num grau muití ssimo elevado, mas        por Isabella, que o leva até a ser menos
este livro tem qualquer coisa
que me faz colocá-lo logo
abaixo     de         Orgulho   e
Preconceito e Persuasão mas
acima do Parque do Mansfield...
Mas em relação a Emma, por
exemplo, não sei "como o
colocar". As personagens que
me "coube" apresentar neste
blogue são James Morland e
Isabella Thorpe. Opto por uma
apresentação     em       conjunto
porque no fundo a personagem
de J.Morland tem interesse não
tanto como irmão de Catherine,
mas sim como "apaixonado e
cego" por Isabella.


J. Morland é apresentado como
"dedicado" a sua irmã.
James estudou com o
irmão      de     Isabella        e
tornou-se "próximo" da
família.                       Esta
proximidade         permitiu-
lhe encontrar a irmã em
Bath, mas acima de tudo
fez com que ele abrisse o
seu     coração       à       linda
Isabella. Este sentimento
que     ele     nutre          por
Isabella tornou-o "cego"
aos defeitos desta. Não é
que        outros         menos
apaixonados         ou         sem
paixão, não o tivessem
sido também (como é o
caso de Catherine) mas
J.Morland                 entrega                                                                     34
completamente             o     seu
coração e a sua vida a
esta.      Isabella           tendo
perfeita      noção           deste
facto utiliza mesmo esta ascendência sobre ele       carta amargurada à sua irmã em que lhe diz "...
para os seus "caprichos". "... era a primeira vez    espero que perdoes tudo ao teu irmão menos a
que o seu próprio irmão se colocava contra           loucura de pensar que os seus afectos eram
ela..." e esta sua atitude era completamente         retribuidos."
condicionada por Isabella que "... entretanto,
levara um lenço aos olhos e Morland, infeliz         Isabella Thorpe, como se pode verificar pelo que
perante tal visão, não se controla...".              refiro anteriormente não é uma "pessoa boa". É
                                                     vaidosa, "sequiosa" de atenção e, considero até,
Considero que Morland era um rapaz sério e           "falsa"... Estarei a ser demasiado dura com ela? A
por isso levou a sério a sua relação com Isabella,   própria mãe de Isabella ao apresentá-la diz: " A
chegando a falar com o seu pai. O seu                mais alta chama-se Isabella, é a minha mais
sentimento por Isabella era tão forte que não lhe    velha, e é ou não uma bela rapariga?".
permitiu agir na altura certa quando viu o que
Isabella "andava a fazer"... Aliás quando            Isabella sabe que é bonita e manipula todos a
finalmente "se rende às evidências" e desfaz o       seu belo prazer: sabe ser dócil e simpática para
seu compromisso com Isabella escreve uma             cativar todos... Quando conhece Catherine
partilha a sua
                                                                                  amizade          e
                                                                                  atenção com um
                                                                                            terceiro
                                                                                  interveniente e
                                                                                  começa          a
                                                                                      comprometer
                                                                                  alguns      planos
                                                                                  de Isabella, ela
                                                                                  mostra     o   seu
                                                                                  verdadeiro "eu".
                                                                                  E        Catherine
                                                                                  começa          a
desde logo a cativa com os seus modos. "A        perceber esta "falsidade" de Isabella em algumas
evolução da amizade entre Catherine e Isabella   situações, nomeadamente na "busca" de atenção
fora tão rápida como caloroso o seu inicio, e    como com F.Thorpe.
passaram tão depressa pelas várias fases de
desenvolvimento da ternura que em breve nem      Aliás, após alguns "deslizes" de Isabella e depois
ela nem os amigos do inicio se lembravam.        do que ela faz ao seu irmão Catherine diz:
Chamavam-se pelo nome, quando passeavam          "Tanto pior para Isabella e para a nossa          35
iam sempre de braço dado, apanhavam a cauda      intimidade (...) Ela não passa de uma vaidosa (...)
do vestido uma à outra para dançar, e não se     Não acredito que tenha qualquer consideração
afastavam um segundo sequer."                    por James ou por mim, e como desejava nunca a
                                                 ter conhecido." Não concordo com Catherine...
A sua amizade com Catherine parece forte mas     ainda bem que Isabella existe nesta obra...
parece-me que é apenas conveniente e serve os    torna-a muito mais viva!
propósitos de Isabella. Assim que Catherine
[O GENERAL SEM CORAÇÃO]
CÁTIA PEREIRA

                                          
                                 ELE SERIA UM LIBERTINO REPRIMIDO

                                               

General Tilney é o patriarca da família Tilney. É
um senhor de posses e de posição social. É uma         A impressão geral que eu tive sobre o General
pessoa obscura, antipática e perfeccionista.           Tilney, ao longo do livro, era de que ele seria um
Exigente na pontualidade. Exigente também na           libertino reprimido. Mais concretamente, eu
aplicação de regras e leis por ele impostas no         passei quase toda a leitura do livro a pensar que
seio do seu lar. É evidente, aos olhos dos leitores,   o General     Tilney estaria interessado em
que os seus filhos dedicam-lhe mais receio do          conquistar   Catherine.    Eu    não   conseguia  36
que respeito. E ele, cultiva a solidão e os dias       perceber o porquê da sua imprevista simpatia
sombrios em cada passo que dá.                         para com ela, já que ele era absolutamente
                                                       amargo no pouco que dizia às outras pessoas.
                                                                                                      Não
                                                                                                      pude
                                                                                                  deixar
                                                                                                 de    rir
                                                                                                 de mim
                                                                                                 própria
                                                                                                 quando
pai dela exigia
                                                                                que ela partisse
                                                                                de     imediato       a
                                                                                meio     da       noite.
                                                                                Que      tipo        de
                                                                                pessoa é que põe
                                                                                um       convidado
                                                                                para fora de casa
                                                                                a      meio          da
                                                                                       madrugada?
                                                                                Ainda por cima,
                                                                                uma pessoa tão
                                                                                adorável      e     tão
descobri que afinal o seu interesse centrava-se   frágil quanto Catherine? Atitude vil e cobarde, a
numa pretensa herança de que Catherine viria a    meu ver. E, é de destacar, ela não tinha qualquer
herdar dos Allen. Nunca passou pela minha         culpa do engano criado.
mente que pudesse ser esta a razão do interesse
dele simplesmente porque Catherine nunca deu      Se eu ainda tinha alguma solidariedade pelo
esta impressão a ninguém. Este enredo de          facto dele ter perdido a mulher perdia-a
enganos criado por John Thorpe, que terá dito     totalmente com esta atitude cruel. Preferia que      37
isto ao General Tilney, criou uma dinâmica à      ele fosse realmente um libertino reprimido,
história muito interessante. E, gerou também a    sempre seria mais interessante do que um
cena fulcral na Abadia de Northanger, que         homem desprovido de sentimentos.
acontece quando Eleanor diz à Catherine que o
[A GRANDE FAMÍLIA MORLAND]
CLARA FERREIRA

                                          
                       FULLERTON PARCE SER UM AUTÊNTICO PARAÍSO NA TERRA

                                              

Jane Austen apresenta-nos uma enorme família      O pai era padre; mas como nunca se mostrara
em Northanger Abbey. Mr. e Mrs. Morland           desmazelado ou pobre, todos o respeitavam,
parecem respirar de uma imensa felicidade, que    embora se chamasse Richard e nunca tivesse
também passam aos filhos. Fullerton parece ser    sido bonito. Possuía considerável independência
um autêntico paraíso na terra, e enquanto         que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca
leitores somos imbuídos dessa alegria, harmonia   tivera por costume cercear a liberdade das       38
e paz - em Fullerton não há problemas, não há     filhas. A mãe era uma mulher de senso prático,
manhas nem artimanhas, tudo é genuíno e puro.     de bom génio, e, o mais importante, de boa
                                                  constituição física. Quando Catherine nasceu já
                                                  ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à
                                                  luz o último, como qualquer pessoa esperaria,
Mr. e Mrs. Morland são apresentados ao leitor
                                                  continuou a viver. Viveu para ter mais seis
da seguinte maneira:
                                                  filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de
                                                  excelente saúde.




                                                                         A senhora Morland era
                                                                         uma excelente senhora e
                                                                         queria que os seus filhos
                                                                         obtivessem os maiores
                                                                         êxitos, mas tinha o
                                                                         tempo tão ocupado com
                                                                         os partos e com o ensino
                                                                         dos mais pequenos, que
                                                                         as filhas mais velhas
                                                                         ficaram inevitavelmente
abandonadas a si próprias. (1º Capítulo)           do perigo que daí pudesse advir para a sua filha.

                                                   As suas advertências limitaram-se a isto: -
                                                   Catarina, vê lá se agasalhas bem a garganta
Não é um início muito auspicioso, mas também       quando fores à noite aos salões. Gostava que
não é um início inteiramente censurável - Mrs.     apontasses todas as tuas despesas. Para isso toma
Morland sofria daquilo que muitos pais sofrem      lá este livrito.
hoje em dia - falta de tempo. O que seria de
esperar com dez crianças a cargo.                  Mas os Morland não eram tão obtusos como
                                                   posso estar a fazer passar. Podiam não estar
Também não estavam totalmente informados,          conscientes dos perigos da sociedade citadina,
viviam circunscritos a Fullerton e por isso,       mas souberam refrear a chegada solitária da
afastados do "mal" do mundo. A partida de          filha depois de ser expulsa de Northanger:
Catherine com os Allen era, por um lado, triste,
por implicar a ausência da filha; mas por outro,   Não eram pessoas que se irritassem de ânimo
um alívio, por ficarem com menos um filho          leve ou que julgassem com azedume as afrontas
para se preocuparem, Catherine estava, aos seus    com que os melindravam. Mas, neste caso,
olhos, inteiramente segura na companhia dos        quando tudo foi conhecido, consideraram-no
vizinhos e amigos Allen.                           como um insulto que se não devia pôr de parte,
                                                   nem ser facilmente perdoado. Sem sofrerem
Era de supor que, à medida que se aproximava a     nenhum susto romântico por pensarem na          39
hora da partida, aumentassem as preocupações       longa e solitária viagem da filha, os pais sabiam
da senhora Morland, e que mil pressentimentos      que devia ter sido muito desagradável para ela,
alarmantes, motivados pela separação da sua        e isso é que eles nunca quereriam que lhe
querida Catherine, lhe enchessem o coração de      tivesse acontecido.
tristeza, e a fizessem chorar nos últimos dois
dias que estiveram juntas; e que na hora da
separação, quando estivessem no seu quarto, ela    Nós somos o espelho da educação que
prudentemente lhe desse os melhores conselhos,     recebemos e a nossa base constrói-se a partir do
para a precaver dos fidalgos e barões que se       berço, Catherine é o claro exemplo disso.
divertem a forçar as raparigas
a ir para alguma quinta
afastada. Era assim que, nesse
momento, deveria aliviar o
coração. Quem é que não
pensaria deste modo? Mas a
senhora Morland sabia tão
pouco de lordes e barões que
não tinha a mínima ideia da
sua maldade, nem suspeitava
[FREDERICK TILNEY]
  PAULA FREIRE

                                              
                         FREDERICK É UM HOMEM ELEGANTE E BONITO QUE GOSTA
                                DE NAMORSICAR RAPARIGAS BONITAS

                                                    

O capitão Frederick Tilney (Frederick) é o filho mais   flirt casual mais que notório. É a marca de
velho do General Tilney e o possível herdeiro da        Frederick. Terminada a sua estadia, termina também
Abadia de Northanger. Trata-se de um personagem         a   brincadeira   e   as   consequências      não   são
secundário que surge apenas na segunda parte do         preocupação sua. Segundo Eleanor, este jurou que
livro e que prima pela total ausência de discurso.      mulher nenhuma merecia o seu amor. Guardava
Tudo o que sabemos de Frederick é-nos dado a
conhecer      pelas      demais     personagens     ,
                                                        apenas orgulho no seu coração. E, segundo Henry,
                                                        era vaidoso e teimoso. O respeito que este nutria
                                                                                                              40
nomeadamente Henry, Catherine, Eleanor e Isabella.      pelo General não era nenhum. Parecia gostar de o
                                                        contrariar em tudo e jamais lhe prestava qualquer
Frederick é um homem elegante e moderno que             satisfação.
gosta de namoriscar raparigas bonitas. Os seus
modos e atitudes não causaram impressão à nossa         Mas, seria Frederick assim por natureza ou teria
jovem Catherine que os encontrou inferiores aos do      acontecido algo que tivesse determinado o seu
seu irmão Henry. É um misto de Mr. Darcy com            carácter? Eu penso que terá sofrido bastante com a
Whickam.      Confuso?    Não.    Frederick   tem   a   morte precoce da mãe por quem teria nutrido
arrogância inicial de Mr. Darcy. Quando é               verdadeiro afecto. O facto de o pai ser um homem
apresentado em Bath, num baile, protesta com o          frio e distante terão contribuído para o seu
irmão por este o querer ver dançar e fá-lo de modo      sofrimento. Estes dois factores que poderão ter
bastante audível. Mas também é, como referido, um       influenciado a tomada de posição em não se querer
homem que adora "coleccionar" damas e adora             apaixonar por nenhuma mulher já que o sofrimento
quebrar as regras da boa educação, características      da perda estaria assim latente na sua vida.
que tanto marcaram a personagem de Whicham e
Willoughby.                                             Para mim, Frederick é o molde de outros
                                                        personagens de Jane Austen.
O alvo da sua conquista será Isabella. Tola e
convencida, troca a o amor sincero de James por um
[MR. E MRS. ALLEN]
CLARA FERREIRA

                                         
                      MRS. ALLEN DÁ UMA ENORME E PERIGOSA LIBERDADE A
                                        CATHERINE

                                                


                                                 propriedades de Fullerton, a aldeia de Wiltshire
Mr. e Mrs. Allen partilham a mesma alegria do    onde viviam os Morlands, foi aconselhado a ir
casal Croft em Persuasão, embora não se          para Bath para tratar a gota. A esposa, uma
completem tão harmoniosamente. Os Allen são      senhora alegre e amiga de Catherine Morland,
um casal sem filhos e com uma considerável       sabendo que quando não acontecem aventuras
                                                                                                41
fortuna. São vizinhos dos Morland e amigos da    a uma rapariga na sua terra, ela tem de as
família, daí que levem Miss Morland consigo na   procurar fora, convidou-a a ir com eles. O casal
viagem para Bath.                                Morland concordou de boa vontade. (1º
                                                 Capítulo)


Mr.Allen, que possuía a maior parte das
Mrs. Allen era daquelas muitas mulheres cuja
                                                    convivência      consegue     surpreender,    se
                                                    pensarmos que houve um homem que pudesse
                                                    gostar dela, a ponto de a desposar. Não era uma
                                                    beleza nem uma inteligência; não tinha talento
                                                    nem maneiras finas. Foi o seu porte senhoril,
                                                    uma bondade pacífica e inactiva e certa
                                                    propensão para a frivolidade que fizeram dela a
                                                    escolhida de um homem inteligente e sensato,
                                                    como o senhor Allen. De certa maneira, estava
                                                    realmente talhada para introduzir uma rapariga
                                                    na sociedade, porque gostava de ir a toda a
                                                    parte e de ver tudo como se ainda fosse jovem.
                                                    Os vestidos eram a sua paixão. Tinha grande
                                                    prazer em andar sempre bem posta; por isso a
                                                    apresentação da nossa heroína na sociedade não
                                                    se pôde fazer antes de ter comprado um vestido
Mr. Allen faz-me lembrar um pouco Mr.               da última moda para a sua protegida, depois de
Bennet, contudo, ao contrário do último, Mr.        ambas passarem três ou quatro dias a saber o
Allen nutre uma verdadeira afeição pela             que mais se usava. (2º Capítulo)               42
mulher; e à semelhança de Mr. Bennet, também
a trata com a devida condescendência.




Mrs. Allen é um pouco fútil, a "moda" parece ser
a única coisa que lhe interessa e que a preenche.
Mrs. Allen deveria assumir na história o lugar
de "conselheira" de Catherine, guiando-a na sua
"introdução" à sociedade. Isso não acontece,
aliás, Mrs. Allen dá uma enorme e perigosa
liberdade a Catherine e deixa-a fazer tudo o que
ela quer. Como li algures, ela tem o papel de
"não fazer nada de nada".
[PAIS E FILHOS]
CÁTIA PEREIRA

                                          
                  EM NENHUMA DAS SUAS OBRAS ENCONTRAMOS UM PAI TÃO SEM
                                      CORAÇÃO

                                               
 “(…)deixo que seja decidido por quem o             Mr. Tilney, de ter ido ao encontro de Catherine
pretender fazer se a tendência deste livro é a de   após ela ter sido banida da Abadia. Nem a
fazer a apologia da tirania parental ou premiar     tirania do pai nem a desobediência do filho
a desobediência filial”                             parecem-me ser o motor deste livro.


                                                                                                   43
                                                    A alma deste livro se divide em duas partes. Por
                                                    um lado, é o coração puro e a imaginação
Jane Austen termina a Abadia de Northanger          infindável de Catherine. Por outro lado, somos
com esta frase. Dá a entender que o motor desta     todos nós, leitores do romance que vivemos e
história prende-se à esta dinâmica entre “tirania   criamos as nossas próprias expectativas e
parental” e “desobediência filial”. Ao longo de     conclusões. Vejo a Abadia de Northanger como
todas as obras de Jane Austen podemos ver que       uma grande interrogação sobre o papel do leitor
esta dinâmica relacional é uma marca presente       e a sua interacção com a obra.
e constante. Mas, em nenhuma de suas obras,
encontramos um pai tão sem coração. Terá a
vida tornado o General Tilney frio e insensível?
Terá sido a perda da sua mulher? A única
desobediência filial que podemos apontar é a de
Sabias Que…
 A primeira adaptação da obra Abadia de Northanger44
 data de 1968. Uma adaptação espanhola, sendo que a
 inglesa apenas viria a surgir em 1986. Esta versão
 espanhola teve dez episódios e não segue à risca a obra.
 Parece que nesta versão Catalina (Catherine) e Isabel
 (Isabella) apaixonam-se ambas por Henry, cuja mãe foi
 assassinada na Abadia. Catalina e Isabel vão ambas para
 Northnager investigar cada membro da família Tilney,
 tal e qual como uma história de detectives.
Quem desejar ver o seu texto publicado na Revista
         Jane Austen Portugal, basta enviar um email para
         janeaustenpt@sapo.pt com o artigo até dia 30 de
               Julho de 2011 – mais informações em
            www.wix.com/janeaustenpt/janeaustenportugal


                      O tema da próxima edição é:

                                     Emma



                                                                         45


Colaboradores nesta Edição:

         Cátia Pereira
         Clara Ferreira
               Eva Sousa
Fátima Velez de Castro
              Laura Silva
          Liliana Isabel
                    Luísa
         Marina Nunes
           Paula Freire
        Sandra Freitas
           Vera Santos



                              Conteúdo original © Jane Austen Portugal

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Revista Jane Austen Portugal: A Abadia de Northanger

  • 1. Revista Jane Austen Portugal 1 Abadia de Northanger Maio 2011 | Nº 5 janeaustenpt.blogs.sapo.pt Conteúdo original © Jane Austen Portugal
  • 2. Sumário 1. Sugestões Austenianas 03 2. Quando Conheci Jane Austen 04 3. Jane Austen e Eu 06 4. Porquê “Northanger Abbey” como Título? 08 5. Lendo a Abadia de Northanger 09 6. As Minhas Impressões sobre Northanger Abbey 11 7. Em Defesa de Northanger Abbey 13 8. A Sátira de Northanger Abbey 15 9. Blaize Castle em Northanger Abbey 16 10. Northanger Abbey 1986 18 2 11. Northanger Abbey 2007 19 12. Adaptação de 2007 21 13. Expiação, Jane Austen e Northanger Abbey 23 14. Catherine Morland o Patinho Feio de Jane Austen 25 15. Henry Tilney 27 16. Eleanor Tilney: A Amiga Sincera 29 17. As Torpezas de Thorpe 31 18. James Morland e Isabella Thorpe 33 19. O General Sem Coração 36 20. A Grande Família Morland 38 21. Frederick Tilney 40 22. Mr. e Mrs. Allen 41 23. Pais e Filhos 43 24. Sabias Que… 44
  • 3. [SUGESTÕES AUSTENIANAS] MARINA NUNES Livro Adoro livros… Vou sugerir o livro que estou a ler actualmente: Tieta do Agreste de Jorge Amado… Apaixonante… está a ser o meu primeiro contacto com Jorge Amado e estou apaixonada pela sua escrita. Entramos naquele mundo que ele descreve… Reconhecemos a linguagem própria que ele não “dissimula” em cada situação. Estou a adorar e já estou a chegar ao final. E não posso de sugerir a maior parte das obras de Julio Dinis: A Morgadinha dos Canaviais, As Pupilas do Sr. Reitor, Uma família Inglesa, Os fidalgos da Casa Mourisca, entre outros… Gosto da escrita que nos faz sentir cheiros, que nos faz bater o coração! E “As Horas”… Um livro apaixonante que nos faz sorrir no 3 final: afinal estava tudo ligado… Música Qualquer álbum do Rodrigo Leão… A musica de Rodrigo Leão é intensa, forte, tem emoção… A minha musica favorita “La Fête” do álbum Cinema, álbum através do qual descobri esta musica maravilhosa, é simplesmente divina… Filme “O Véu Pintado”… Um filme maravilhoso que descobri por acaso mas que se tornou um dos meus favoritos de sempre… Têm de ver! Blogue FutLol… porque gosto de futebol, porque é engraçado e porque o meu primo participa…
  • 4. Por Luísa (Luh do Blogue Currently-Reading) Desde bastante nova que tenho um arrepender-me de ter visto as enorme gosto pela leitura, com uma adaptações, pois acho que perdi muito 4 preferência especial por clássicos e da experiência da leitura, embora romances históricos. Tenho “Orgulho e Preconceito” seja um dos igualmente por hábito basear as meus livros preferidos. minhas escolhas em pesquisas de opiniões de outros leitores e listas de Mas antes de ler “Orgulho e recomendações. Quando, por acaso Preconceito” e pouco depois de ter me deparei com uma lista do género descoberto Jane Austen, numa visita à “Cem livros que deve ler antes de Biblioteca da minha escola secundária, morrer” onde, entre muitos, se deparei-me com um volume de bolso, encontrava “Orgulho e Preconceito” de bastante fino e com uma capa de cores Jane Austen. Reconheci o nome da desmaiadas onde se lia “Sensibilidade e autora e fiz uma pesquisa acerca da Bom Senso” de Jane Austen. Escusado obra e fiquei fascinada! Quando será dizer que o requisitei e nessa descobri que existiam séries e filmes noite, comecei logo a lê-lo, no entanto, baseados no livro, não consegui não me senti muito entusiasmada descansar sem os ver todinhos. Mais durante a leitura e não me identifiquei tarde quando li o livro, cheguei a muito com as personagens. Talvez
  • 5. fosse ainda demasiado jovem para A obra de Jane Austen prima pela perceber e apreciar a sensibilidade da exímia crítica social que transparece obra pois, recentemente, decidi dar- em personagens ridículos e lhe outra oportunidade e achei-o um frequentemente patéticos, livro maravilhoso. Depois desta estereotípicos das classes sociais primeira leitura de uma obra de Jane contemporâneas da autora e essa é Austen, a minha vontade de ler mais uma das coisas que mais me apraz na livros da autora esmoreceu. sua escrita. No Verão, há cerca de dois anos, Um romance de Jane é como uma comprei “Orgulho e Preconceito”, mais pequena máquina do tempo que me até pela memória que guardava da transporta sempre para um mundo à adaptação da BBC de 1995, do que parte, para uma época de costumes e pelo que já tinha lido da autora. convivência social tão diferentes do Comecei a ler e não consegui parar e que temos hoje em dia e que, na foi a partir daí que começou a minha minha opinião, tinha uma magia e obsessão saudável com Jane Austen e a sentimento próprios que se perderam 5 sua obra. Quase de seguida comprei com o tempo. uma edição em inglês com todos os romances acabados da autora e li Jane Austen depressa se tornou uma “Emma” e reli “Sensibilidade e Bom das minhas autoras predilectas e tenho Senso”. Mais recentemente li sempre um prazer especial em ler e “Persuasão” e “Northanger Abbey”. reler tudo o que escreveu. Nos dias mais preguiçosos, gosto sempre de ver “Persuasão”, a par de “Orgulho e uma ou outra adaptação dos seus Preconceito” são os meus livros romances. preferidos de Austen, li-os quase de uma assentada e fiquei sempre Agradeço aqui o convite que me foi fascinada pelas heroínas maravilhosas, feito pela Clara, do Jane Austen estórias envolventes e pelos heróis Portugal, para escrever este pequeno galantes. texto, que me deixou muito contente! Muito obrigada!
  • 6. Minha cara Jane, que me rodeia e o efeito que tem em novamente me deparei com uma mim; observei os lugares que costumo dificuldade nesta carta. O tema da nossa frequentar e... De repente... Tinha uma adorável revista é a Abadia de ideia para esta carta. Northanger e, mais uma vez, em semelhança à edição anterior, não li Porque, tal como a Jane sabe, nada é mais (ainda!) a obra. importante para um autor do que observar. E a Jane fez isso muito bem. Mais uma vez, colocava-se a questão: "o 6 que escrever à minha cara Jane?". Bom, Os seus livros contêm uma grande certamente poderia contar-lhe o quão observação das relações que se horrível é estudar para exames tão perto estabelecem entre as pessoas; de tal uns dos outros que mais parecem forma, que, por vezes, me surpreendo moscas; ou poderia ainda falar-lhe da com a maneira como é capaz de imensidão de projectos que planeava descrever algumas personagens menos... fazer durante as férias e agora não me recomendáveis, de forma tão fiel que me apetece realizar; ou poderia, até, contar- fazem lembrar alguém. lhe a minha questão existencial "ir ou não ir ao exame de recurso de A Jane tem uma extraordinária Economia?", mas parece-me... capacidade de nos "obrigar" a apaixonar despropositado. ou a odiar certas personagens com poucas palavras. Efectivamente, não Em vez disso, comecei a pensar no que necessita de grandes discursos ou de uma poderia contar-lhe; observei as ruas e as lista de defeitos tão grande como o pessoas por quem passo praticamente Kilimanjaro para percebermos o carácter todos os dias; observei a (pouca) natureza daquela pessoa em particular e,
  • 7. consequentemente, vamos lentamente Ora, a esses senhores e senhoras tenho a entranhando aquilo que sentimos em dizer (com todo o respeito pela relação a esta última, de uma forma tão subjectividade de cada opinião cuja subtil que nem damos conta de o fazer. inexistência é impossível) que, pura e Mas a sua observação é ainda mais simplesmente, a Jane fez aquilo que se interessante noutro aspecto: os locais espera de um escritor: conseguir contar- onde as obras decorrem. nos uma história com palavras A Jane não foi daqueles autores que suficientemente sucintas para que falam do Parque X ou da Terra Y, que descrições exacerbadas sejam fica algures entre A e B e que, quando desnecessárias e, simultaneamente, vamos a ver, não existem. Ou estão mostrar-nos o seu mundo como você o incorrectas. Ou nem sequer sabemos o vê, ou seja, explicando o que sabe, não o que se quer dizer. que pensa saber. Se isto é ser alguém incapaz de escrever, ou cuja escrita é A minha cara teve uma grande atenção rudimentar ou, ainda, com uma completa nesses pormenores e é sabido de muitos falta de tacto para todos os que tentava obter informações de vários acontecimentos que a rodeiam, então 7 locais através dos seus conhecidos. Por penso que, hoje em dia, alcançámos o essa mesma razão, quando nos fala de hecatombe da literatura, desde vampiros um local em particular, sabemos que que brilham a sereias que andam em podemos confiar no seu julgamento do terra e a deuses que, originalmente, são mesmo para o retratar mentalmente e pai e filho, se tornarem irmãos. isso é uma grande vantagem. Além disso, tal fidelidade permite aos Mas eu não cedo (completamente) ao leitores conhecerem mais sobre si e sobre desespero, Jane, pois sei que, em tempos o ambiente em que vivia. Essa é a mais- de grande desespero posso pegar num valia de todas as suas obras. livro seu, deliciar-me com uma bonita e interessante história de amor e sonhar E devo, aqui, aproveitar, para fazer uma com o mundo que você viu. Quem sabe, pequena anotação. Deparei-me, por quando criarem uma máquina que vezes, com opiniões de outros autores e permita viajar no tempo eu lhe faça uma críticos da literatura em como a Jane se visita? agarrava apenas àquilo que conhecia e que a sua escrita era muito... seca, por Até à próxima carta, falta de melhor expressão.
  • 8. [PORQUÊ NORTHANGER ABBEY COMO TÍTULO?] SANDRA FREITAS  NÃO FOI JANE AUSTEN QUE O ESCOLHEU  castelos e abadias são retratados como lugares Northanger Abbey refere-se ao nome do castelo assustadores e arrepiantes e os seus títulos pertencente a uma das famílias envolvidas nesta obra de Jane Austen, os Tilneys. Contudo, com apontavam quase sempre para os lugares onde 8 decorria a acção. Da mesma forma, Northanger este título parece que toda a acção do livro teria Abbey ajuda os leitores a adivinhar a intenção lugar na abadia quando, na verdade, a acção só satirizante da obra. aí começa a desenrolar-se a partir do vigésimo capítulo. Então, porquê este título? Outra explicação possível para o título reflecte uma das principais preocupações temáticas do romance. Primeiro, é importante ressaltar que não foi Jane Catherine Morland, a protagonista do livro é Austen que o escolheu. O livro só foi publicado após obcecada com romances góticos e, a sua morte e foi o seu irmão quem escolheu este consequentemente com Northanger Abbey a partir título. A autora havia-o intitulado de ‘Catherine’, do momento em que ouve falar dela. Todavia, ao nome da protagonista. Isto levanta a questão de longo da história aprende que a vida não é um saber porque é que o irmão de Jane Austen achou romance gótico e que a Abadia de Northanger é que ‘Northanger Abbey’ seria um título mais apenas a residência da família Tilney e não um adequado. lugar que possa satisfazer os seus desejos de aventuras góticas. Uma possível explicação reside no conteúdo da obra. A Abadia de Northanger satiriza os populares romances góticos do século XIX e neles, os antigos
  • 9. [LENDO A ABADIA DE NORTHANGER] CLARA FERREIRA  "NORTHANGER ABBEY IS JANE AUSTEN’S AMUSING AND BITINGLY SATIRICAL PASTICHE OF THE GOTHIC ROMANCES POPULAR IN HER DAY”  Julga-se que foi a primeira obra completada Elinor, de quem se torna muito amiga durante a para publicação 1803), embora se saiba que já sua estadia em Bath. Durante a sua estada em tinha começado a escrever "Sensibilidade e Bom Northanger Abbey uma série de mistérios e Senso" (Sense and Sensibility) e "Orgulho e enganos acontecem, resultando numa partida Preconceito" (Pride and Prejudice). inesperada. 9 De acordo com a irmã, o seu título inicial era "Susan" e terá sido escrito entre 1798-1799. Contudo, só foi publicado em 1817, postumamente, juntamente com "Persuasão" (Persuasion). Catherine Morland, a heroína desta obra de Jane Austen, com apenas 17 anos, parte para Bath com um casal amigo da família, Mr. e Mrs. Allen. Em Bath, toma o primeiro contacto com a sociedade, em tudo diferente de Fullerton, a sua terra natal (no campo). Aí conhece uma grande amiga Isabella Thorpe de quem terá uma enorme decepção. Mais tarde é convidada para ir para Northanger Abbey com Mr. Tilney e a sua irmã,
  • 10. Catherine, é descrita, como uma fervorosa Henry Tilney não é tão sentida pelo leitor como leitora de romances góticos, de imaginação em Persuasão, por exemplo. muito fértil, um charme muito próprio, uma ingenuidade característica da idade e uma Henry Tilney, é um personagem muito especial, bondade gigantesca. Penso que a empatia com a bastante sensato e razoável, quase perfeito, diria personagem não é imediata, eu pelo menos, eu! cansei-me, por vezes, da sua insensatez e É também uma crítica à sociedade fútil, e a imaturidade. alguns "personagens-tipo", tal como Isabella e John Thorpe. O amor nesta obra não é tão forte como noutras No fim da história vemos uma clara evolução no obras de Jane Austen. A relação entre ela e pensamento de Catherine, ela cresce, decididamente, durante toda a obra. 10
  • 11. [AS MINHAS IMPRESSÕES SOBRE NORTHANGER ABBEY] PAULA FREIRE  EU ADOREI ESTE ENSAIO!  Quando comecei a leitura deste livro vinha-me independência, o amor fraternal que nutria pela sempre à cabeça a frase do personagem irmã e o respeito que, apesar das suas masculino do filme "O clube de leitura de Jane brincadeiras, tinha por Catherine. Era um Austen". Segundo aquele, esta obra era um mero homem vertical. ensaio de Jane Austen. Através dele a autora fez uma viagem de descoberta sobre o seu estilo. Ao longo da leitura, não fui capaz de me 11 Aqui ainda não está definido. Existiam dúvidas. desligar de algumas frases proferidas por Henry Ou pelo menos parece havê-las. Creio que não que são dignas de registo e também algumas se trata de uma verdadeira obra acabada. Foi posições por ele tomadas. Atrevo-me a pensar com essa impressão que terminei a leitura deste que se tratavam de posições assumidas pela livro. própria Jane Austen. Merece destaque uma nota interessante sobre romances versus história. Todavia, gostei do enredo. Gostei das Henry e Catherine falavam acerca de livros e do personagens, principalmente de Henry pouco reconhecimento dos romances que ela Tilney. Adorei a inocência de Catherine e a defendia em detrimento da leitura livros de sua incrível imaginação que ao longo do livro história que causavam grande "tormento" às nos oferecem momentos de boa disposição e crianças. A discussão leva-os para o patamar da leveza. Catherine era uma peça em bruto que educação e Henry termina muito bem dizendo apenas precisava das mãos certas para se tornar (...) Mas os historiadores não são os responsáveis numa obra de arte inteligente e delicada. E a pelas dificuldades na aprendizagem da leitura, e sua transformação pela mão de Henry? até mesmo a menina, que não me parece, no Adorável. A forma como ele brincava com a sua fundo, ser partidária de uma aplicação severa e inocência e simultaneamente a protegia não intensa, pode vir a reconhecer que vale bem a passam despercebidas. Convenceram-me logo. pena ser atormentado por dois ou três anos da Ele conseguia aliar estes dois traços com perfeita vida em prol de ser capaz de ler tudo o que elegância. Encantou-me a sua inteligência, a sua falta. Imagine, se a leitura não fosse ensinada, a
  • 12. senhora Radcliffe teria escrito em vão ou até fortuna. E considera que casar por dinheiro é a talvez nem o tivesse feito. Esta discussão é coisa mais ignóbil da existência. relevante no sentido de mostrar a preocupação que Jane Austen com a educação das mulheres. Neste livro encontramos também, ainda que de Ela conseguia alcançar as vantagens de esta forma sucinta e rápida, uma abordagem à existir no círculo feminino. É também Henry política do país, o que me surpreendeu pelo que afirma que ser-se sempre firme pode ser facto de este ter sido escrito cedo. uma obstinação. E saber relaxar é o verdadeiro Mas a grande marca que este livro me deixa é a desafio. Ou, ainda, ser-se levado por conjecturas crítica aberta que Jane Austen deixa à literatura de segunda mão é uma pena. Mas a que mais fantástica. A certa altura a autora mostra me marcou foi sem dúvida esta: já ouvi falar em claramente a sua aversão por este tipo de escrita fiéis acções. Mas uma promessa fiel, a fidelidade e aponta-lhe consequências pouco felizes. Diz de prometer! É uma palavrinha bem poderosa, que todo o sofrimento de Catherine resulta pois pode muito bem decepcioná-la (ar) e sobretudo da influência dos livros que até aí magoá-la (ar). lera, afirmando que por muito encantadores Existe outra passagem que, no meu que fossem os livros da senhora Radcliffe, e entender, consubstancia uma crítica feita tanto mesmo os livros dos que a imitavam, não era aos homens como às mulheres, o que não deixa com certeza neles que a natureza humana devia ser procurada, pelo menos ali, nos condados de ser interessante. Diz a determinada altura a 12 centrais de Inglaterra. (...) Mas na parte central autora que as vantagens da tolice natural numa bela jovem já se encontram realçadas pela de Inglaterra havia, com certeza, alguma importante pena de uma companheira de segurança, mesmo para a vida de uma mulher escrita e, quanto à forma como trata do assunto, que não fosse amada, conferida pelas leis da limito-me a acrescentar, fazendo justiça aos terra e os hábitos da época. O assassínio não era homens, que, embora para a maior e mais tolerado, os criados não eram escravos, nem se frívola parte deste sexo a imbecilidade nas arranjavam poções para dormir, como o mulheres seja considerada uma enorme ruibarbo, em todos os farmacêuticos. A vantagem para realçar os seus encantos referência à natureza humana e à essência do naturais, existe um outro grupo bastante ser humano são, para mim, o alicerce de todas grande, suficiente e razoavelmente bem as estórias de Jane Austen. Por isso acredito que informado, que deseja algo mais numa mulher este tenha sido um ensaio, muito bom, que Jane do que ignorância. terá feito para definir a sua escrita e para sedimentar a estrutura que a iria sustentar. O resultado está à vista. Jane é uma escritora que fala sobre pessoas reais; sobre a sociedade e A crítica clara ao casamento por dinheiro está sobre sentimentos. E fá-lo bem. Com também presente nesta obra. Através de inteligência. Catherine, Jane afirma que detesta a ideia de uma grande fortuna procurar outra grande Eu adorei este ensaio!
  • 13. [EM DEFESA DE NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA  HÁ MEDIDA QUE O TEMPO PASSA VOU GOSTANDO CADA VEZ MAIS DA PUREZA DE CATHERINE MORLAND  13 medida que o tempo passa, vou gostando cada vez mais da pureza de Catherine Morland. "She was born to be an heroine"... Lê-se muito a respeito de Northanger Abbey, Deixo aqui um comentário que encontrei no site essa sombra na obra de Jane Austen. Jane Austen Society UK e que achei interessante pois dá uma perspectiva engraçada sobre o Pergunto-me, será por a heroína não possuir Romance. Na altura em que li Northanger um carácter sólido, forte e maduro? Será por ser Abbey nunca tinha pensado nele como um ingénua, pura e infantil? Romance que idolatrava outro Romance, o que é Devo confessar que não fiquei extasiada da bastante curioso! primeira vez que li Northanger Abbey. Mas há Defesa do Romance:
  • 14. Northanger Abbey (Abadia de Northanger) Camila ou Belinda", ou, dentro de pouco tempo, contém a mais famosa defesa da arte do apenas algum trabalho no qual os maiores Romance por Jane Austen. poderes da mente estão dispostos, no qual o mais completo conhecimento da natureza A leitura preferida de Catherine Morland são humana, a mais feliz delineação das suas Romances. "Sim, Romances", escreve Jane variedades, as mais vivas efusões de inteligência Austen, "qual o mal de uma heroína de um e humor, estão expressas para o mundo na Romance ser idolatrada por a de outro melhor lingua possível. Romance, de quem pode ela esperar protecção e consideração?". Ela dá um exemplo: É uma ironia engraçada embora perigosa quando confundida com a vida real, os "E o que está a ler, Menina ? " "Oh, é apenas um Romances podem verdadeiramente dar-nos Romance!" responde a senhorita, enquanto conhecimento dos nossos parceiros humanos pousa o seu livro com indiferença forçada ou podendo ultrapassar o conhecimento vergonha momentânea. "É somente Cecilia ou conseguido pela vida real de facto. 14
  • 15. [A SÁTIRA DE “ABADIA DE NORTHANGER”] CLARA FERREIRA  PARA PERCEBER ABADIA DE NORTHANGER NA TOTALIDADE É NECESSÁRIO LER “THE MYSTERIES OF UDOLPHO”  Já li escrito que para "The Mysteries of Udolpho" foi publicado em perceber a "Abadia de 1794 (Northanger Abbey foi escrito entre 1798 Northanger" na e 1799 e publicado em 1803). totalidade, é necessário 15 conhecer a obra de Ann Radcliffe "The Mysteries A acção decorre em 1584 e conta-nos a história of Udolpho", uma vez de Emily St. Aubert, uma jovem francesa que que toda a obra de Jane fica orfã depois da morte do pai. É um romance Austen se baseia nela, gótico, repleto de incidentes de terror, castelos satirizando e sombrios, eventos sobrenaturais, vilões e uma parodiando com os romances góticos, tão em heroína perseguida. voga naquela altura. Emily é feita prisioneira num castelo após a "The Mysteries of Udolpho" é o romance que a morte do pai pelo Sr. Montoni, um criminoso nossa heroína Catherine Morland devora italiano que casou com sua tia, Madame avidamente ao longo da história. No fundo, é Cheron. Emily apaixona-se por Valancourt, um um romance dentro do romance. Como nunca li jovem conheceu numa viagem que fez com o nem conhceço minimamente o enredo (e talvez pai à Suiça, todavia, o seu encarceramento não seja a única), procurarei dar a informação afasta-a dele. No sombrio castelo de Udolpho possível para uma leiga em romances góticos. onde está prisioneira, estão escondidos variados mistérios e um deles envolve o seu pai e uma Marquesa de Villeroi.
  • 16. [BLAIZE CASTLE EM NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA  BLAIZE CASTLE, O CENÁRIO QUE SERVE PARA AFASTAR CATHERINE DO COMBINADO COM MISS TILNEY  Vamos ser capazes de fazer pelo menos mais - É o lugar mais bonito de Inglaterra, que em umas dez coisas. Kingsweston! Claro! E o qualquer ocasião merece que se façam Castelo de Blaize também, e tudo aquilo que nos cinquenta milhas para ser visitado. lembramos. Mas aqui a sua irmã diz que não vem! - Mas é mesmo um castelo? Um castelo antigo? 16 - Castelo de Blaize! - exclamou Catherine - Mas - O mais antigo de todo o reino. o que é isso? - Mas é como aqueles que lemos nos livros?
  • 17. - Exactamente. Catherine do combinado com Miss Tilney, fortemente influenciada pela artimanha de 17 - Fale a sério... e tem mesmo torres e longas Thorpe que a convence de que estes não irão galerias? cumprir o prometido de ir passear com ela. - Às dúzias." Na realidade este castelo existiu e existe nos dias de hoje. É uma construção moderna em formato Capítulo 11, tradução de Luiza Mascarenhas triangular, que foi mandada construir por Thomas Farr em 1766; situada em Henbury, muito para lá de Bristol, nos terrenos de uma É assim que Jane Austen nos apresenta Blaize mansão neoclássica, foi acabada de construir em Castle, o cenário que serve para afastar 1790 por William Pet Como vêem, Blaise Caslte não passa de um castelo "a fingir", Thorpe estava, mais uma vez, a ludibriar a nossa ingénua heroína e a fazer-lhe passar uma imagem totalmente falsa daquilo que Blaise Castle era na realidade.
  • 18. [NORTHANGER ABBEY 1986] CLARA FERREIRA  COMECEI A GOSTAR MAIS DO FILME, PRINCIPALMENTE A PARTIR DA CHEGADA A NORTHANGER ABBEY  Confesso que achei esta versão embora Felicity Jones lhe a coisa mais horrenda que se fique cem vezes à frente. podia fazer com a obra de 18 Jane Austen. Isto no início. Fazem-se adulterações No desenrolar da história imensas à história e a meu ver, comecei a gostar mais do sem qualquer nexo. Os irmãos filme, principalmente a partir Thorpe são odiosos e numa da chegada a Northanger interpretação terrível pois vê- Abbey, onde, apesar de tudo se a milhas de distância que se consegue vislumbrar são uns tremendos interesseiros e nem partes da história original. Catherine Morland se deixaria enganar. Os A cena em que Tilney encontra Catherine no banhos romanos... meu deus... Pergunto-me quarto da mãe está tal e qual o texto original, o qual a lógica de colocarem aquilo no filme?! único ponto a favor que consigo encontrar no meio de tanta criatividade pouco inteligente. A banda sonora é outra coisa terrível, péssima e irritante! Mr. Tilney às vezes parece-se mais No início achei deplorável a adulteração, no com o irmão, nalgumas atitudes. Gostei da actriz entanto, o fim mostrou-se bem mais agradável..
  • 19. [NORTHANGER ABBEY 2007] VERA SANTOS  A QUÍMICA ENTRE CATHERINE E O SEU MR. TILNEY ERA BOA  19 Jones, eram muito bons além disso a química entre Catherine e o seu Mr. Tilney era boa. Ainda não li este livro, tal como ainda não li o Parque de Mansfiled e se ver a adaptação de Catherine pareceu-me bem diferente das outras 2007, foi um verdadeiro turn off para ler em heroínas de Jane, na medida em que era bem seguida o livro, o mesmo não posso dizer desta mais ingénua e parecia ter a cabeça menos no adaptação. Não sei até que ponto é fiel ao livro, lugar, mas não era necessariamente uma tola ou mas é decididamente fiel ao espÍrito de Jane leviana. Mas de certa forma pensei que ela Austen e aquilo a que ela nos habituou. O leque talvez pudesse ser o género de pessoa que se de actores reunidos, todos desconhecidos para deixa levar e cair em desgraça como acontece mim, com excepção de Carey Mulligan e Felicity
  • 20. como Isabella, mas mais pela sua ingenuidade constante, no qual ela nunca percebe se há de que pela sua vontade de ser como ela. veracidade ou apenas uma brincadeira. Já em Mr. Tilney encontramos um homem com De resto e como sempre, os cenários, guarda- uma postura menos séria e muito mais roupa e música não desiludem. Penso que é 20 descontraída do que outros homens criados por impossível não gostar de Catherine Morland, eu Jane, e talvez por isso, penso que ambos se pelo menos gostei muito dela até porque tal tornam o par perfeito, ela com a sua como ela facilmente entro nos livros que estou a ingenuidade e ele com aquele troçar dela ler!
  • 21. [A ADAPTAÇÃO DE 2007] CLARA FERREIRA  QUANTO MAIS VEJO (ESTA ADAPTAÇÃO) MAIS GOSTO DELA  21 Confesso que a primeira vez que vi esta série Esta adaptação consegue transportar para o ecrã não gostei particularmente, achei que não fazia os verdadeiros irmãos Thorpe no seu melhor. jus à obra. Mas a verdade é que, quanto mais Isabella foi terrivelmente bem interpretada. vezes a vejo mais gosto dela e ultimamente Eleanor Tilney mostrou-se no ecrã com a tenho criado uma grande paixão tanto por esta postura e doçura com que é descrita na obra. adaptação como pelo romance. Henry Tilney está no seu melhor com J.J. Field, todo o "gozo" que faz com Catherine é genuíno e Escusado será dizer que, entre esta adaptação e a consegue ter aquele toque irónico e humorístico de 1986, esta está cem vezes melhor e mais com o qual o romance nos apresenta. rigorosa em relação à obra, para alem de gostar muito mais deste Henry Tilney do que do outro Gostei muito de rever Sylvestra aqui no papel de e o mesmo se passar com Catherine. Mrs. Allen, muito bem feito, a cena da corrida
  • 22. para os lugares no salão de Bath está hilariante. Catherine no quarto da mãe, nesta versão o Também gostei muito da cena na ópera e das texto é alterado e Henry não é tão duro com desculpas de Catherine por não ter cumprido Catherine. com o acordado e ter faltado ao passeio. Os passeios com Eleanor e Henry também são O fim desta versão é adorável, o pedido de muito enternecedores. casamento é "romantiquíssimo" e a atrapalhação do beijo final amorosa, digna da nossa heroína Ao contrário da versão de 86 que segue à risca o Catherine Morland! 22 texto original da cena em que Henry apanha
  • 23. [EXPIAÇÃO, AUSTEN E NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA  ATONEMENT TEM MAIS LIGAÇÃO A JANE AUSTEN DO QUE EU JULGAVA  Quais as semelhanças de Expiação (Atonement) com a obra de Jane Austen, isto claro, para além 23 de Keira Knightley ter sido a protagonista em ambas adaptações, do Director de Realização ser o mesmo de Orgulho e Preconceito (2005) e do actor principal (James McAvoy) também ter participado no filme Becoming Jane? Pois bem, confrontei-me com esta questão enquanto explorava pela net. Expiação está no número um dos meus melhores filmes de sempre e desde que li o livro ainda me tornei numa fã mais fervorosa. Embora quase que venere o filme, e já o tenha visto repetidas vezes, nunca me tinha passado pela cabeça qualquer relação com Jane Austen. Mas a verdade é que há. Neste artigo, "Shades of Austen in McEwan's Atonement", esse tema é muito desenvolvido. A epígrafe do livro Atonement, traz o seguinte excerto de Abadia de Northanger de Jane Austen:
  • 24. "Dear Miss Morland, consider the dreadful nature of the suspicions you have entertained. What have you been judging from? Remember the country and the age in which we live. Remember that we are English: that we are Christians. Consult your own understanding, your own sense of the probable, your own observation of what is passing around you. Does our education prepare us for such atrocities? Do our laws connive at them? Could they be perpetrated without being known in a country encontrar paralelos entre a obra de Jane like this, where social and literary intercourse is Austen e a sua obra. on such a footing, where every man is  Segundo, existe também uma suspeita surrounded by a neighbourhood of voluntary mal interpretada e errada feita por spies, and where roads and newspapers lay Briony Tallis, que resulta numa everything open? Dearest Miss Morland, what consequência muito mais grave que a de ideas have you been admitting?" Catherine Morland.  Terceiro, o próprio Ian 24 McEwan descreveu a sua obra como "o seu Esta passagem de A Abadia de Northanger tem romance Jane Austen". vários efeitos na obra de Ian McEwan:  Primeiro, encoraja os leitores a tentar O artigo é extenso, mas penso que já transmiti a ideia que desejava. Na verdade, Atonement, tem mais ligação a Jane Austen do que eu julgava. De facto, a suspeita criada por Briony é idêntica à de Catherine, ambas acusam, sem provas, alguém de um crime horrendo. Mas em Catherine não há consequências de maior, pois a história não desenvolve por aí, mas em Briony, as consequências são terríveis e a personagem é perseguida toda a sua vida por essa suspeita que levantou. Confesso que o fim de Atonement me colocou a chorar feita criança, e agora que sei que tem ligações em Jane Austen, vou idolatrar este filme e livro ainda mais!
  • 25. [CATHERINE MORLAND, O “PATINHO FEIO” EM JANE AUSTEN ] FÁTIMA VELEZ DE CASTRO  UM AUTÊNTICO PATINHO FEIO QUE VAI DESABROCHANDO AO LONGO DA HISTÓRIA  25 De A“Abadia de Northanger” é um romance de Jane qualquer modo aprecio Catherine Morland Austen que não me cativa. Embora pareça que como protagonista, um autêntico patinho feio os leitores (em geral) simpatizem menos com o que vai desabrochando ao longo da história. A “Parque de Mansfield”, sobretudo pelas autora prepara-nos logo no início, afirmando características aparentemente amorfas da sua que “ninguém que alguma vez tivesse conhecido heroína – Fanny Price – no meu caso isso não Catherine Morland na infância poderia supor acontece. que ela nascera para se tornar uma heroína”. E nem sei se no final lhe podemos chamar heroína de facto, porém destaca-se nesta personagem o seu crescimento e formação de carácter.
  • 26. familiar. Esta é uma ideia permanente na obra de Austen, a de que a razão deve dar atenção ao coração e não às questões materiais. Mas não foram apenas as experiências desagradáveis que fizeram Catherine crescer enquanto pessoa. A paixão por Tilney, o “choque” de personalidades (o sarcasmo, a intrepidez e a intensidade), e toda A menina travessa, a jovem que sonha com os a aprendizagem que faz com ele, é vital para romances de mistério, move-se inicialmente que entre na idade adulta “com os pés na terra”, num meio muito limitado que não lhe abre os percebendo até onde pode ir a fantasia e a realidade. horizontes sociais e intelectuais, mas que ao 26 mesmo tempo a protege. A ida para Bath foi uma excelente oportunidade para contactar com outros grupos da sociedade e aprender com Catherine Morland parece ser a menina mais as “armadilhas” dos supostos amigos. Também a rebelde, a mais “maria-rapaz”, a mais criativa estadia em Northanger e a forma como evoluiu sonhadora de todas as personagens de Jane a relação com o general Tilney a fez Austen… será que alguma de nós foi um dia amadurecer, aprendendo como as questões de assim também? fortuna podem perigar a felicidade conjugal e
  • 27. [HENRY TILNEY] LILIANA ISABEL  UMA DAS COISAS QUE MAIS ADORO EM TILNEY É O SEU SENTIDO DE HUMOR  Gosto muito desta personagem e é das personagens masculinas que mais gosto nas obras de Jane 27 Austen. É uma personagem simpática e acessível. Eu penso que Tinley é até muitas vezes uma versão em upgrade de Darcy, pois Darcy tinha o charme e o bom coração, mas não tinha a aptidão comunicativa que Henry Tilney tem. Podemos afirmar que é o homem perfeito. Se é que isso existe e se é que as mulheres estão verdadeiramente interessadas no homem "perfeito". Uma das coisas que mais adoro em Henry é o seu sentido de humor. Se há coisas que nós mulheres apreciamos num homem é o seu sentido de humor, e nisso Henry ganha muitos pontos. Catherine que o diga, pois não lhe resistiu.
  • 28. Uma das grandes diferenças entre Henry e os restantes heróis de Austen é que ele não é descrito como um homem particularmente belo, mas não é por isso menos interessante, muito pelo contrário. Em relação aos seus Trata-se de um homem decidido e que sabe sentimentos por Catherine sabemos que foi aquilo que diz e aquilo que sente. Uma das Catherine quem primeiro se apaixonou e que personagens que mais expõe as suas opiniões Henry só mais tarde se aproximou dela em relação aos seus pontos de vista (na sua romanticamente. No entanto, foi das primeiras grande maioria inteligentemente expostos) pessoas a entender e aprender a gostar de torna-o uma personagem forte não só de Catherine apesar da sua personalidade que Northanger Abbey como de toda a obra de Jane tanto ou quando "especial" e até ingénua. Foi Austen. fantástico poder falar de Henry Tilney de quem 28 eu tanto gosto e que tanto tem " a ver comigo".
  • 29. [ELEANOR TILNEY: A AMIGA SINCERA] EVA SOUSA  PENSO QUE ELEANOR É TRISTE  o casamento entra, claramente, nesta linha". W. H. Auden concorda, dizendo que Smith gostava Contudo, se aceitarmos a possibilidade de Jane de criar imagens que poderiam ser chamadas de Austen ter conhecido e ter sido inspirada por estilo barroco ridículo". Sydney Smith, uma comparação entre os dois pode explicar muito sobre Henry. Por exemplo, Sydney Smith "gostava de falar a brincar sobre 29 matéria sérias, produzindo linhas de imagens É certo que Jane Austen sempre disse que não ridículas para provar o seu ponto de vista; a baseava os seus personagens em pessoas reais. comparação de (...) Henry Tilney entre a dança e Eu vejo em Eleanor Tilney a encarnação das qualidades que uma boa amiga deve ter. Ela é uma personagem que passou por dificuldades na vida, apesar de provir duma família abastada é órfã de Mãe (da qual nem
  • 30. teve oportunidade de se despedir) vive com uma encarna as qualidades que uma amiga fiel deve Pai cujo respeito lhe inspira medo e mesmo ter. nestas ásperas circunstâncias, às quais se alia a escassez de amigas da sua idade tem esta É a verdadeira amiga de Catherine, não faz capacidade inata para a amizade, de certo grande alarido, limita-se a estar lá e a ser, sem grande brilho aparente, um apoio para a heroína desta história. Eleanor faz-me lembrar as pessoas realmente boas que encontramos na vida e das quais não nos apercebemos muito, pois, por o serem naturalmente e sem vaidade não sentem necessidade de o publicitar. criada de forma autodidacta, por inspiração de 30 um coração e puro! Eleanor é um exemplo de graça feminino, Apesar de todas estas qualidades penso que candura fragilidade e força em simultâneo e Eleanor é triste! Não revoltada, mas uma pessoa triste com a vida…
  • 31. [AS TORPEZAS DE THORPE] CÁTIA PEREIRA  “ESTE AINDA VAI DAR MAIS TRABALHO DO QUE MERECE”  Dentre os "canalhas" que Jane Austen desenhou enquanto deu um toque ligeiro e indiferente na na sua escrita, John Thorpe é o mais medíocre mão de Isabella, na direcção de Catherine de todos. Os outros, apesar de canalhas, atirou o pé atrás e fez uma meia vénia. Era um possuem algum encanto - mesmo que ilusório e jovem robusto, de estatura média, com um rosto superficial. Com Thorpe isto não acontece. normal e sem qualquer graciosidade, que 31 Desde a primeira linha escrita sobre ele parecia recear parecer demasiado interessante a constatamos que ele é medíocre e execrável. não ser que vestisse o fato de lacaio e Estarei a ser demasiado cruel? Talvez. cavalheiro se Mas, em não fosse nenhum descontraído momento, ao quando devia longo de ser educado, e Northanger descarado Abbey, quando lhe consegui era permitido sentir outro ser sentimento descontraído" que não fosse aversão por John Thorpe. Encontro uma grande ironia na voz de Jane "John Austen nesta Thorpe,(…) descrição de
  • 32. John Thorpe. Neste parágrafo, ela deixa bem espírito que não tenha tido oportunidade de se cultivar. Apesar de não ter muitas posses não seria propriamente destituído. Poderia ser uma pessoa melhor se o quisesse. Eu não acredito que John Thorpe tivesse algum tipo de sentimento de enamoramento ou paixão por Catherine Morland que justificasse um assédio tão acentuado. Este assédio é tão intenso e despropositado que chega a ser irritante. Então, o que terá despertado esta atitude? Apesar da inocência, da beleza e da candura que tornam Catherine encantadora, penso que a resposta reside em 32 argumentos frívolos. A conveniência dela ser irmã do pretendente da irmã de Thorpe e uma suposta herança que os Allen lhe atribuiriam serão as duas respostas para esta claro quem ele é. Deixa-nos de sobreaviso, questão. O assédio seria resultado desta busca como quem diz "cuidado, este ainda vai dar pela conveniência e pelo dinheiro. mais trabalho do que merece!". Não posso dizer que ele reconhecesse o risco que representava Mr. Tilney. Não o via como "concorrência" ao coração de Catherine. Acho Busquei a palavra ideal para defini-lo. Não que ele apenas o via como uma distracção a ser encontrei. Lembrei de fazer esta brincadeira extinta, mas não com força suficiente para com a sonoridade do nome dele: torpe. Contudo, ofuscar o seu próprio brilho. Isto porque John ele é bem mais do que isso. Esgoto toda a Thorpe sempre agiu como se Catherine adjectivação que encontro e a lista seria Morland fosse uma presa fácil e uma conquista infindável, porque John Thorpe possui todas as garantida. características que são abomináveis aos meus olhos: mal-educado, pretensioso, arrogante, Se eu pudesse oferecer um presente a John interesseiro, grosseiro, indiscreto, inconveniente, Thorpe este presente seria um espelho. Um mentiroso, intriguista, vaidoso, enfadonho e espelho bem grande. E um par de óculos. Talvez, pouco inteligente. Tudo isto não resulta de um assim, ele se enxergasse.
  • 33. [JAMES MORLAND E ISABELLA THORPE] MARINA NUNES  ISABELLA THORPE (…) NÃO É UMA PESSOA BOA  Não me consigo decidir pelo "grau" em que "... sendo de disposição muito amigável e gosto desta obra de Jane Austen... Que gosto é sinceramente dedicado à irmã,...", mas o seu 33 certo, porque gosto de todas as suas obras que já papel "principal" nesta obra é como apaixonado li, e gosto num grau muití ssimo elevado, mas por Isabella, que o leva até a ser menos este livro tem qualquer coisa que me faz colocá-lo logo abaixo de Orgulho e Preconceito e Persuasão mas acima do Parque do Mansfield... Mas em relação a Emma, por exemplo, não sei "como o colocar". As personagens que me "coube" apresentar neste blogue são James Morland e Isabella Thorpe. Opto por uma apresentação em conjunto porque no fundo a personagem de J.Morland tem interesse não tanto como irmão de Catherine, mas sim como "apaixonado e cego" por Isabella. J. Morland é apresentado como
  • 34. "dedicado" a sua irmã. James estudou com o irmão de Isabella e tornou-se "próximo" da família. Esta proximidade permitiu- lhe encontrar a irmã em Bath, mas acima de tudo fez com que ele abrisse o seu coração à linda Isabella. Este sentimento que ele nutre por Isabella tornou-o "cego" aos defeitos desta. Não é que outros menos apaixonados ou sem paixão, não o tivessem sido também (como é o caso de Catherine) mas J.Morland entrega 34 completamente o seu coração e a sua vida a esta. Isabella tendo perfeita noção deste facto utiliza mesmo esta ascendência sobre ele carta amargurada à sua irmã em que lhe diz "... para os seus "caprichos". "... era a primeira vez espero que perdoes tudo ao teu irmão menos a que o seu próprio irmão se colocava contra loucura de pensar que os seus afectos eram ela..." e esta sua atitude era completamente retribuidos." condicionada por Isabella que "... entretanto, levara um lenço aos olhos e Morland, infeliz Isabella Thorpe, como se pode verificar pelo que perante tal visão, não se controla...". refiro anteriormente não é uma "pessoa boa". É vaidosa, "sequiosa" de atenção e, considero até, Considero que Morland era um rapaz sério e "falsa"... Estarei a ser demasiado dura com ela? A por isso levou a sério a sua relação com Isabella, própria mãe de Isabella ao apresentá-la diz: " A chegando a falar com o seu pai. O seu mais alta chama-se Isabella, é a minha mais sentimento por Isabella era tão forte que não lhe velha, e é ou não uma bela rapariga?". permitiu agir na altura certa quando viu o que Isabella "andava a fazer"... Aliás quando Isabella sabe que é bonita e manipula todos a finalmente "se rende às evidências" e desfaz o seu belo prazer: sabe ser dócil e simpática para seu compromisso com Isabella escreve uma cativar todos... Quando conhece Catherine
  • 35. partilha a sua amizade e atenção com um terceiro interveniente e começa a comprometer alguns planos de Isabella, ela mostra o seu verdadeiro "eu". E Catherine começa a desde logo a cativa com os seus modos. "A perceber esta "falsidade" de Isabella em algumas evolução da amizade entre Catherine e Isabella situações, nomeadamente na "busca" de atenção fora tão rápida como caloroso o seu inicio, e como com F.Thorpe. passaram tão depressa pelas várias fases de desenvolvimento da ternura que em breve nem Aliás, após alguns "deslizes" de Isabella e depois ela nem os amigos do inicio se lembravam. do que ela faz ao seu irmão Catherine diz: Chamavam-se pelo nome, quando passeavam "Tanto pior para Isabella e para a nossa 35 iam sempre de braço dado, apanhavam a cauda intimidade (...) Ela não passa de uma vaidosa (...) do vestido uma à outra para dançar, e não se Não acredito que tenha qualquer consideração afastavam um segundo sequer." por James ou por mim, e como desejava nunca a ter conhecido." Não concordo com Catherine... A sua amizade com Catherine parece forte mas ainda bem que Isabella existe nesta obra... parece-me que é apenas conveniente e serve os torna-a muito mais viva! propósitos de Isabella. Assim que Catherine
  • 36. [O GENERAL SEM CORAÇÃO] CÁTIA PEREIRA  ELE SERIA UM LIBERTINO REPRIMIDO  General Tilney é o patriarca da família Tilney. É um senhor de posses e de posição social. É uma A impressão geral que eu tive sobre o General pessoa obscura, antipática e perfeccionista. Tilney, ao longo do livro, era de que ele seria um Exigente na pontualidade. Exigente também na libertino reprimido. Mais concretamente, eu aplicação de regras e leis por ele impostas no passei quase toda a leitura do livro a pensar que seio do seu lar. É evidente, aos olhos dos leitores, o General Tilney estaria interessado em que os seus filhos dedicam-lhe mais receio do conquistar Catherine. Eu não conseguia 36 que respeito. E ele, cultiva a solidão e os dias perceber o porquê da sua imprevista simpatia sombrios em cada passo que dá. para com ela, já que ele era absolutamente amargo no pouco que dizia às outras pessoas. Não pude deixar de rir de mim própria quando
  • 37. pai dela exigia que ela partisse de imediato a meio da noite. Que tipo de pessoa é que põe um convidado para fora de casa a meio da madrugada? Ainda por cima, uma pessoa tão adorável e tão descobri que afinal o seu interesse centrava-se frágil quanto Catherine? Atitude vil e cobarde, a numa pretensa herança de que Catherine viria a meu ver. E, é de destacar, ela não tinha qualquer herdar dos Allen. Nunca passou pela minha culpa do engano criado. mente que pudesse ser esta a razão do interesse dele simplesmente porque Catherine nunca deu Se eu ainda tinha alguma solidariedade pelo esta impressão a ninguém. Este enredo de facto dele ter perdido a mulher perdia-a enganos criado por John Thorpe, que terá dito totalmente com esta atitude cruel. Preferia que 37 isto ao General Tilney, criou uma dinâmica à ele fosse realmente um libertino reprimido, história muito interessante. E, gerou também a sempre seria mais interessante do que um cena fulcral na Abadia de Northanger, que homem desprovido de sentimentos. acontece quando Eleanor diz à Catherine que o
  • 38. [A GRANDE FAMÍLIA MORLAND] CLARA FERREIRA  FULLERTON PARCE SER UM AUTÊNTICO PARAÍSO NA TERRA  Jane Austen apresenta-nos uma enorme família O pai era padre; mas como nunca se mostrara em Northanger Abbey. Mr. e Mrs. Morland desmazelado ou pobre, todos o respeitavam, parecem respirar de uma imensa felicidade, que embora se chamasse Richard e nunca tivesse também passam aos filhos. Fullerton parece ser sido bonito. Possuía considerável independência um autêntico paraíso na terra, e enquanto que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca leitores somos imbuídos dessa alegria, harmonia tivera por costume cercear a liberdade das 38 e paz - em Fullerton não há problemas, não há filhas. A mãe era uma mulher de senso prático, manhas nem artimanhas, tudo é genuíno e puro. de bom génio, e, o mais importante, de boa constituição física. Quando Catherine nasceu já ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à luz o último, como qualquer pessoa esperaria, Mr. e Mrs. Morland são apresentados ao leitor continuou a viver. Viveu para ter mais seis da seguinte maneira: filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de excelente saúde. A senhora Morland era uma excelente senhora e queria que os seus filhos obtivessem os maiores êxitos, mas tinha o tempo tão ocupado com os partos e com o ensino dos mais pequenos, que as filhas mais velhas ficaram inevitavelmente
  • 39. abandonadas a si próprias. (1º Capítulo) do perigo que daí pudesse advir para a sua filha. As suas advertências limitaram-se a isto: - Catarina, vê lá se agasalhas bem a garganta Não é um início muito auspicioso, mas também quando fores à noite aos salões. Gostava que não é um início inteiramente censurável - Mrs. apontasses todas as tuas despesas. Para isso toma Morland sofria daquilo que muitos pais sofrem lá este livrito. hoje em dia - falta de tempo. O que seria de esperar com dez crianças a cargo. Mas os Morland não eram tão obtusos como posso estar a fazer passar. Podiam não estar Também não estavam totalmente informados, conscientes dos perigos da sociedade citadina, viviam circunscritos a Fullerton e por isso, mas souberam refrear a chegada solitária da afastados do "mal" do mundo. A partida de filha depois de ser expulsa de Northanger: Catherine com os Allen era, por um lado, triste, por implicar a ausência da filha; mas por outro, Não eram pessoas que se irritassem de ânimo um alívio, por ficarem com menos um filho leve ou que julgassem com azedume as afrontas para se preocuparem, Catherine estava, aos seus com que os melindravam. Mas, neste caso, olhos, inteiramente segura na companhia dos quando tudo foi conhecido, consideraram-no vizinhos e amigos Allen. como um insulto que se não devia pôr de parte, nem ser facilmente perdoado. Sem sofrerem Era de supor que, à medida que se aproximava a nenhum susto romântico por pensarem na 39 hora da partida, aumentassem as preocupações longa e solitária viagem da filha, os pais sabiam da senhora Morland, e que mil pressentimentos que devia ter sido muito desagradável para ela, alarmantes, motivados pela separação da sua e isso é que eles nunca quereriam que lhe querida Catherine, lhe enchessem o coração de tivesse acontecido. tristeza, e a fizessem chorar nos últimos dois dias que estiveram juntas; e que na hora da separação, quando estivessem no seu quarto, ela Nós somos o espelho da educação que prudentemente lhe desse os melhores conselhos, recebemos e a nossa base constrói-se a partir do para a precaver dos fidalgos e barões que se berço, Catherine é o claro exemplo disso. divertem a forçar as raparigas a ir para alguma quinta afastada. Era assim que, nesse momento, deveria aliviar o coração. Quem é que não pensaria deste modo? Mas a senhora Morland sabia tão pouco de lordes e barões que não tinha a mínima ideia da sua maldade, nem suspeitava
  • 40. [FREDERICK TILNEY] PAULA FREIRE  FREDERICK É UM HOMEM ELEGANTE E BONITO QUE GOSTA DE NAMORSICAR RAPARIGAS BONITAS  O capitão Frederick Tilney (Frederick) é o filho mais flirt casual mais que notório. É a marca de velho do General Tilney e o possível herdeiro da Frederick. Terminada a sua estadia, termina também Abadia de Northanger. Trata-se de um personagem a brincadeira e as consequências não são secundário que surge apenas na segunda parte do preocupação sua. Segundo Eleanor, este jurou que livro e que prima pela total ausência de discurso. mulher nenhuma merecia o seu amor. Guardava Tudo o que sabemos de Frederick é-nos dado a conhecer pelas demais personagens , apenas orgulho no seu coração. E, segundo Henry, era vaidoso e teimoso. O respeito que este nutria 40 nomeadamente Henry, Catherine, Eleanor e Isabella. pelo General não era nenhum. Parecia gostar de o contrariar em tudo e jamais lhe prestava qualquer Frederick é um homem elegante e moderno que satisfação. gosta de namoriscar raparigas bonitas. Os seus modos e atitudes não causaram impressão à nossa Mas, seria Frederick assim por natureza ou teria jovem Catherine que os encontrou inferiores aos do acontecido algo que tivesse determinado o seu seu irmão Henry. É um misto de Mr. Darcy com carácter? Eu penso que terá sofrido bastante com a Whickam. Confuso? Não. Frederick tem a morte precoce da mãe por quem teria nutrido arrogância inicial de Mr. Darcy. Quando é verdadeiro afecto. O facto de o pai ser um homem apresentado em Bath, num baile, protesta com o frio e distante terão contribuído para o seu irmão por este o querer ver dançar e fá-lo de modo sofrimento. Estes dois factores que poderão ter bastante audível. Mas também é, como referido, um influenciado a tomada de posição em não se querer homem que adora "coleccionar" damas e adora apaixonar por nenhuma mulher já que o sofrimento quebrar as regras da boa educação, características da perda estaria assim latente na sua vida. que tanto marcaram a personagem de Whicham e Willoughby. Para mim, Frederick é o molde de outros personagens de Jane Austen. O alvo da sua conquista será Isabella. Tola e convencida, troca a o amor sincero de James por um
  • 41. [MR. E MRS. ALLEN] CLARA FERREIRA  MRS. ALLEN DÁ UMA ENORME E PERIGOSA LIBERDADE A CATHERINE  propriedades de Fullerton, a aldeia de Wiltshire Mr. e Mrs. Allen partilham a mesma alegria do onde viviam os Morlands, foi aconselhado a ir casal Croft em Persuasão, embora não se para Bath para tratar a gota. A esposa, uma completem tão harmoniosamente. Os Allen são senhora alegre e amiga de Catherine Morland, um casal sem filhos e com uma considerável sabendo que quando não acontecem aventuras 41 fortuna. São vizinhos dos Morland e amigos da a uma rapariga na sua terra, ela tem de as família, daí que levem Miss Morland consigo na procurar fora, convidou-a a ir com eles. O casal viagem para Bath. Morland concordou de boa vontade. (1º Capítulo) Mr.Allen, que possuía a maior parte das
  • 42. Mrs. Allen era daquelas muitas mulheres cuja convivência consegue surpreender, se pensarmos que houve um homem que pudesse gostar dela, a ponto de a desposar. Não era uma beleza nem uma inteligência; não tinha talento nem maneiras finas. Foi o seu porte senhoril, uma bondade pacífica e inactiva e certa propensão para a frivolidade que fizeram dela a escolhida de um homem inteligente e sensato, como o senhor Allen. De certa maneira, estava realmente talhada para introduzir uma rapariga na sociedade, porque gostava de ir a toda a parte e de ver tudo como se ainda fosse jovem. Os vestidos eram a sua paixão. Tinha grande prazer em andar sempre bem posta; por isso a apresentação da nossa heroína na sociedade não se pôde fazer antes de ter comprado um vestido Mr. Allen faz-me lembrar um pouco Mr. da última moda para a sua protegida, depois de Bennet, contudo, ao contrário do último, Mr. ambas passarem três ou quatro dias a saber o Allen nutre uma verdadeira afeição pela que mais se usava. (2º Capítulo) 42 mulher; e à semelhança de Mr. Bennet, também a trata com a devida condescendência. Mrs. Allen é um pouco fútil, a "moda" parece ser a única coisa que lhe interessa e que a preenche. Mrs. Allen deveria assumir na história o lugar de "conselheira" de Catherine, guiando-a na sua "introdução" à sociedade. Isso não acontece, aliás, Mrs. Allen dá uma enorme e perigosa liberdade a Catherine e deixa-a fazer tudo o que ela quer. Como li algures, ela tem o papel de "não fazer nada de nada".
  • 43. [PAIS E FILHOS] CÁTIA PEREIRA  EM NENHUMA DAS SUAS OBRAS ENCONTRAMOS UM PAI TÃO SEM CORAÇÃO  “(…)deixo que seja decidido por quem o Mr. Tilney, de ter ido ao encontro de Catherine pretender fazer se a tendência deste livro é a de após ela ter sido banida da Abadia. Nem a fazer a apologia da tirania parental ou premiar tirania do pai nem a desobediência do filho a desobediência filial” parecem-me ser o motor deste livro. 43 A alma deste livro se divide em duas partes. Por um lado, é o coração puro e a imaginação Jane Austen termina a Abadia de Northanger infindável de Catherine. Por outro lado, somos com esta frase. Dá a entender que o motor desta todos nós, leitores do romance que vivemos e história prende-se à esta dinâmica entre “tirania criamos as nossas próprias expectativas e parental” e “desobediência filial”. Ao longo de conclusões. Vejo a Abadia de Northanger como todas as obras de Jane Austen podemos ver que uma grande interrogação sobre o papel do leitor esta dinâmica relacional é uma marca presente e a sua interacção com a obra. e constante. Mas, em nenhuma de suas obras, encontramos um pai tão sem coração. Terá a vida tornado o General Tilney frio e insensível? Terá sido a perda da sua mulher? A única desobediência filial que podemos apontar é a de
  • 44. Sabias Que… A primeira adaptação da obra Abadia de Northanger44 data de 1968. Uma adaptação espanhola, sendo que a inglesa apenas viria a surgir em 1986. Esta versão espanhola teve dez episódios e não segue à risca a obra. Parece que nesta versão Catalina (Catherine) e Isabel (Isabella) apaixonam-se ambas por Henry, cuja mãe foi assassinada na Abadia. Catalina e Isabel vão ambas para Northnager investigar cada membro da família Tilney, tal e qual como uma história de detectives.
  • 45. Quem desejar ver o seu texto publicado na Revista Jane Austen Portugal, basta enviar um email para janeaustenpt@sapo.pt com o artigo até dia 30 de Julho de 2011 – mais informações em www.wix.com/janeaustenpt/janeaustenportugal O tema da próxima edição é: Emma 45 Colaboradores nesta Edição: Cátia Pereira Clara Ferreira Eva Sousa Fátima Velez de Castro Laura Silva Liliana Isabel Luísa Marina Nunes Paula Freire Sandra Freitas Vera Santos Conteúdo original © Jane Austen Portugal