1) O documento discute os passos que as bibliotecas podem tomar para se tornarem bibliotecas 2.0, incluindo adotar ferramentas sociais e de software livre para permitir a colaboração e participação dos usuários;
2) A Web 2.0 proporcionou uma revolução através da inteligência coletiva e compartilhamento, embora existam desigualdades de acesso;
3) Uma biblioteca 2.0 deve ser centrada no usuário, oferecer experiências multimídia e ser socialmente rica e
1. Oficina de formação “Biblioteca Escolar 2.0” Sessão 2
A WEB 2.0 e a Biblioteca 2.0
Tarefa 1 – Fórum 1
Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um modelo de
biblioteca 2.0?
Cada vez mais se constata que as bibliotecas, sejam elas públicas ou escolares, mudam
constantemente a forma como trabalham com a comunidade em que estão inseridas. Existe a prática
da partilha e da colaboração, não só entre os bibliotecários e os usuários das mesmas, mas entre elas,
o que representa uma atitude a dignificar. A par desta dinâmica, encontram-se igualmente com
carências de vária ordem; recursos informáticos insuficientes, equipas de trabalho com pouca
disponibilidade, falta de formação nas TIC, apoio insuficiente por parte dos órgãos de gestão das
escolas e pouca abertura da comunidade ao uso de ferramentas da Web2.0 (nomeadamente o
Facebook, Twitter,..) por se considerarem “brinquedos maléficos” para os alunos.
A insegurança gera medo e rejeição de tudo que é inovador. Se os nossos alunos mexem sem
medo e usam indevidamente as ferramentas da Web2.0, cabe à escola formar os seus agentes para a
inovação, enquanto assim é considerada e não quando esta já se encontra obsoleta. Só assim, em
igualdade de circunstâncias, os agentes educativos poderão, perspetivar a postura 2.0 em simultâneo.
A crescente Sociedade da Informação tem exigido por parte não só das bibliotecas, mas
também dos seus bibliotecários e inclusive de toda a equipa que delas fazem parte, uma reflexão
profunda, onde devem questionar-se, repensar o seu papel na sociedade e partir dessa reflexão para
uma mudança de paradigma, com novas estratégias, ideias, atitudes, desafios e serviços voltados
para as novas necessidades do público de modo a satisfazer uma realidade exigente e em constante
mudança, como é a sociedade atual. Portanto, só tomando uma atitude realista, flexível, inovadora e
adaptável à diversidade de circunstâncias se poderá criar uma biblioteca em que o utilizador é um
agente dinamizador, construtor do seu próprio conhecimento, onde tudo é planeado para satisfazer
as suas necessidades, bem como as de toda a comunidade onde a biblioteca está inserida, sem
exceções. A biblioteca quer seja pública ou escolar deve permitir à sociedade a permanente
aprendizagem ao longo da vida, por forma a facilitar a sua inserção e combater a exclusão do
conhecimento ou info-exclusão, tornando-se uma biblioteca inclusiva (UMBERTO ECO).
Nesta linha de pensamento Teresa Calçada, 2008 refere que “A literacia ou as multiliteracias
exigidas para aprender e para aprender ao longo da vida têm e devem ser adquiridas precocemente
e durante o percurso escolar, convocando para tal metodologias de pesquisa e de investigação que
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resultem do trabalho colaborativo da biblioteca com todos os elementos da escola, viabilizando- se,
assim, a construção do saber.”
É segundo esta perspetiva que o trabalho do professor bibliotecário assenta. Deve ser o
interlocutor entre biblioteca, currículo e agentes de flexibilização entre as partes. Cabe aos,
bibliotecários, professores, alunos e restante comunidade participar na dinâmica de aprendizagem ao
longo da vida. A aprendizagem precoce durante todo o percurso escolar deve assentar em
compromissos entre a tutela, políticas vigentes e órgãos de gestão das escolas, disponibilizando
meios e formação suficiente e de qualidade, dentro da dinâmica Web 2.0, aos agentes implicados
neste processo. Neste sentido a postura 2.0 poderá começar desde muito cedo e continuar ao longo
da vida. O egoísmo 2.0, ainda muito praticado, tem atrasado substancialmente a postura Web2.0 e o
desenvolvimento do paradigma biblioteca 2.0 nas nossas escolas, motivo que leva a que algumas
bibliotecas, em simultâneo, se encontrem na fase inicial da Web e Web2.0. Apesar da
disponibilização de software livre em grande quantidade, há falta de conhecimento do mesmo e
aqueles que o dominam não se preocupam em transmiti-lo. Usam-no isoladamente.
Afinal em que consiste a Web2.0?
O termo cunhado por Tim O’Reilly, em 2004, num discurso numa conferência do
renascimento e evolução da Web, designa uma nova forma de serviços Web (Flirkr, MySpace, You
Tube, Facebook, Blogger, WordPress, wikipédia, Twitter, del.icio.us),baseados na participação dos
usuários, que fazem o motor básico do sistema de informação. Segundo o autor este conceito está
assente em mais princípios, que revolucionaram a forma de estar na Web e, consequentemente, a
forma de estar de determinados serviços que utilizam a plataforma Web e não se limita à mera
criação de conteúdos.
O conceito nasce de um núcleo central que considera a Web uma plataforma assente em
vários princípios: o aproveitamento da inteligência coletiva, o reconhecimento de que as
experiências dos utilizadores são enriquecedoras para o desenvolvimento das interfaces, o fim do
ciclo das atualizações de versões dos softwares comerciais, a procura da simplicidade na utilização
de interfaces gráficos e na arquitetura da informação, o confirmar que a gestão de dados é uma
competência de todos, que os softwares podem e devem ser de utilização gratuita e melhoram com o
crescimento de uma comunidade que os utiliza, que as ferramentas e os conteúdos estão na Web e
não nos computadores do utilizador, que a atualização e a criação de conteúdos é realizada de forma
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dinâmica por todos os interessados, dando um sentido igualitário e colocando a confiança entre os
pares, o produtor e o utilizador. (COBO ROMANÍ ET AL.2007)
Eco na sociedade!
Em dezembro de 2006, o famoso número da revista Time elegeu-nos “a todos” como a
personalidade do ano. A justificação para esta eleição deveu-se ao fenómeno nunca antes visto, um
crescimento rápido de uma comunidade de partilha entre um número infindável de pessoas. Esta
nova versão da comunidade passou a ligar não apenas a comunidade científica, mas também milhões
e milhões de cidadãos anónimos em todo o mundo.
A WEB2.0 foi vista por muitos como um aperfeiçoamento da democracia. Isto porque
enquanto o primeiro boom da Internet se centrou nos negócios, nas empresas, universidades e
instituições em geral, o segundo WEB2.0 centrou-se no utilizador. “Há mais acessos e todos os que
acedem podem ser fornecedores de conteúdos” (Fernandes 2006).
Os mais radicais vêm a Internet como a “WEB do Povo”. Consideram-na uma das maiores
revoluções sociais. Uma rebelião popular eletrónica que tem na sua vanguarda o glorioso canal do
proletariado (YouTube), grande enciclopédia dos trabalhadores (Wikipédia) e o heroico jornal do
povo (Blogger).
Ainda nesta linha de pensamento, Fernandes (2006) considera que, quer à escala global quer
nas micro escalas nacionais, quem já tem poder, seja ele político ou económico, mantém-no na Net e
tem muito mais possibilidade de o multiplicar. Os mais pobres terão o mesmo acesso à Net que têm
em relação aos outros bens que consideramos essenciais, ou seja, nenhum. Que “a tão exaltada
Web2.0, de um ponto de vista meramente quantitativo, é um amontoado de lixo. O facto de cada um
se exprimir não quer dizer que tenha, necessariamente, algo de útil a dizer à comunidade”.
De acordo coma estas posturas, também Umberto Eco considera que a “Web 2.0 explora a
estupidez das multidões, bem como a sua sabedoria”.
Especialistas de Silicon Vallery, denominaram este fenómeno (WEB2.0) como uma simples
atualização de um software obsoleto.
Várias visões, todas elas pertinentes, manifestam a importância deste fenómeno para o
avanço da sociedade e ao mesmo tempo a dificuldade de adaptação que a sociedade tem
relativamente à inovação. As desigualdades sociais que são relatadas anteriormente existem e
persistirão ao longo dos séculos. Caberá à escola, em momentos e espaços igualitários, minorá-las,
sendo a biblioteca um dos meios mais privilegiados para o fazer.
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O facto de milhões e milhões de pessoas anónimas em todo o mundo poderem partilhar,
investigar, colaborar e participar da inteligência coletiva fez desta ferramenta, altamente poderosa. O
termo Web2.0 proporcionou a verdadeira revolução das mentalidades, o intercâmbio, a distribuição
do conhecimento e a interatividade coletiva (COBO ROMANÍ ET Al. 2007). Os utilizadores da
Web são criadores de conteúdos textuais, audiovisuais, de software, …e ao mesmo tempo
consumidores. Os blogues e os wikis, duas das ferramentas do conjunto das novas tecnologias
surgidas, são um potencial neste processo coletivo de construção de conteúdos, a par de outras
ferramentas como as folkosonomias para a organização de informação, a sindicação (possibilidade
de leitura, num agregador feeds) e gestão de imagens através do Flickr.
Que mudanças perspetiva a Web2.0 na nova versão de biblioteca 2.0?
Como o processo de criação, distribuição e acesso à informação mudou, o conceito de
biblioteca mostrou-se insuficiente. Armazenar, organizar e dar acesso à informação em formato
impresso ou digital tinha que complementar-se com serviços orientados para o usuário. Os
profissionais da informação sentiram necessidade de estabelecer um novo modelo de biblioteca onde
os serviços bibliotecários aprofundem e fortaleçam a participação dos usuários, tendo sempre em
conta as tecnologias disponíveis (ferramentas sociais, software livre, licenças não comerciais,…) e a
ideologia da Web2.0 (arquitetura da participação e aposta no saber coletivo).
Michael Casey cria o termo biblioteca 2.0 no seu blog LibraryCrunch, em setembro de 2005,
referindo que “A biblioteca 2.0 é um modelo de funcionamento que não permite que abandonemos
os nossos usuários atuais ou a nossa missão. É uma filosofia de mudança rápida, das estruturas de
organização flexíveis, das ferramentas novas da Web2.0, e da participação do usuário que colocará a
biblioteca numa posição muito mais forte, que resolve com eficácia as necessidades de uma
população de usuários muito maior.”
Nas bibliotecas, de entre os novos serviços direcionados para os usuários encontram-se os
blogs que atingiram o seu boom em 2007. Esta ferramenta possibilitou às bibliotecas novas formas
de comunicar e de sair de dentro dos seus espaços físicos, tornando-as mais ativas e mais
participativas. Possibilitou a difusão de conteúdos de qualidade e fomentou o aparecimento de
utilizadores com objetivos similares aos da biblioteca. Estes usuários passaram a poder interagir
mais através da caixa de comentários, dando sugestões, opiniões e desenvolvendo o seu sentido
crítico.
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Respondendo à questão inicial Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se
aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0? atrevo-me a dizer que cabe aos profissionais
da informação o desafio e a oportunidade de modernizarem os seus centros de trabalho, criando
serviços baseados em ambientes colaborativos e participativos, tirando partido da inteligência
coletiva e do desenvolvimento das ferramentas tecnológicas de software livre e ou social: blogs,
wikis, sindicação de conteúdos, etiquetado colaborativo, etc.
Na perspetiva de MARGAIX, 2007 “ Biblioteca 2.0, não é suficiente que se refira a migração
das novas tecnologias da Web 2.0 para serviços da biblioteca, é necessário reforçar as atitudes do
profissional da informação nas novas tecnologias (Web2.0), é imprescindível que este atraia novos
utilizadores e que crie canais de comunicação para que estes em espaços de interação, opinem,
avaliem, perguntem e respondam, criando conteúdos sociais”.
A Biblioteca 2.0 deve apresentar-se como uma atitude que orienta informação para
determinados utilizadores, incorpora novas ferramentas e serviços, e constrói com os utilizadores
conteúdos significativos. Neste sentido, os utilizadores habituais sentir-se-ão mais apoiados e existe
a possibilidade de haver mais interessados tanto física como virtualmente.
Para que a biblioteca se afirme e se torne num organismo vivo, não pode permanecer
estanque, tem de acompanhar a metamorfose, desenvolvendo esforços para se tornar biblioteca 2.0.
É neste sentido que Maness (2006) apresenta quatro princípios que caracterizam a Biblioteca 2.0 e
sobre os quais o bibliotecário e restante equipa devem debruçar-se afincadamente:
i) Centrada no utilizador - O utilizador participa na criação de conteúdos e serviços disponibilizados
na Web pela biblioteca. ii) Disponibiliza uma experiência multimédia - Tanto as coleções como os
serviços da biblioteca 2.0 contêm componentes vídeo, áudio e realidade virtual. iii) Socialmente rica -
Interage com os utilizadores quer de forma síncrona quer de forma assíncrona. iv) Inovadora ao
serviço da comunidade - Procura constantemente a inovação e acompanha as mudanças que ocorrem
na comunidade, adaptando os seus serviços para permitir aos utilizadores procurar, encontrar e
utilizar a informação.
Considero que para que as “bibliotecas” se aproximem mais da biblioteca 2.0, além do que foi
dito anteriormente é necessário, como refere David Lee King, que a transformação da “biblioteca”
numa biblioteca 2.0 se faça segundo ondas, de círculos concêntricos que uma pedra faz na água ao
cair. O esquema coloca a “biblioteca” no centro do círculo menor e as ondas representam, face à
“biblioteca”, as melhorias introduzidas com os motores de busca, as bases de dados online e do
correio eletrónico; a necessidade de responder às pesquisas atuais e futuras de projetos piloto,
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aprendizagem da dinâmica da biblioteca 2.0 começando a editar blogues, wikis, …; a oportunidade
de participação dada ao utilizador, da informação ao envolvimento da comunidade.
Para que a biblioteca se aproxime mais da biblioteca 2.0 é fundamental que o professor
bibliotecário opte por uma postura 2.0. Que o seu trabalho tenha como base a prática de partilha de
informação e conhecimentos e a colaboração. É importante que além de recompilar a informação,
a trate e a disponibilize a toda a comunidade. Acima de tudo, que seja um agente interessado em
acompanhar os booms da Web, que prontamente passarão a ser ainda mais exigentes e inovadoras,
nomeadamente a Web3.0, …
E para terminar esta pesquisa/reflexão cito Umberto Eco, através de um excerto de como
poderemos continuar a perspetivar as nossas bibliotecas, sejam elas 2.0, 3.0,…
“Na biblioteca do futuro os livros passam a ser impulsos eletrónicos, acessíveis a partir de
vulgares computadores domésticos e de qualquer ponto da Aldeia Global, num mundo dominado
pelas redes de informação”.
"É difícil prever qual será o futuro das bibliotecas tal como é igualmente difícil prever qual
irá ser o futuro das tecnologias da informação mas, de momento, somos levados a crer que o livro
continuará a coexistir com os novos suportes de informação." Umberto Eco, A Biblioteca
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