1. Génese
Diferenças que sucinto, que suponho, que sigo.
É o adamante fervor humano,
O engorgitar de vácuos de outrem,
O carvão das noites platónicas, vão.
Cora o nosso galego mal-entendido
Com sonhos que não sonhamos,
Promessas em que ficamos,
Entes que não nos entendem,
Cegueiras efémeras, risos evanescentes.
Cospe-nos um reflexo de penitência,
A sugestão de enlaces carnais,
E na pele dual se gravam, eternos,
Os nossos remédios,
Pecados mortais.
Indefesa nos cai a noite sobre mente acesa.
Lavam-se os mucos entecidos, quase bordados e eruditos.
Rememoramos o que pelo dia esquecemos.
Contagiamos histórias de Adão e Eva.
A solidão nos preenche vazia,
Nós e ela, eu e ela,
E comemos a maçã da serpe no espelho,
Esse que é nosso, esse que é meu.
Soam-se ecos de firme natureza,
Suam-se os pregares nos corpos,
Batizam-se olhares, arremetidas
E concentram-se fulgores, revivem-se os fôlegos
2. Não querendo terminar a história da existência.
As nossas mãos roçam no calor dos corpos
Que rumam à ascendência, descendo a pique, sem pressa.
Os cabelos dela me enaltecem soltos
Com o seu brilho nos cobrindo,
Como uma flor cobre a sua beleza.
A nossa voz torna-se língua
Que nos fala pelas curvas,
Do pescoço à cintura e desce.
Tremem as nossas peles e pernas,
Que nos carecem de bravuras,
O teu corpo mais pede,
E o meu não recua,
E lá nos chamam os anjos nas alturas,
E a estocada final e os espasmos
Marcam o fim do nosso ritmo.
E em eucaristia se derramam os nossos corpos,
De sémen e corrimento.
18/02/2020
Damião