Palestra de Abertura - Pós Graduação (Estácio de Sá)
Modelo de Jogo
1. Leandro Zago
Básica 3 – Modelo de Jogo
1. O que é Modelo de Jogo ?
O conceito de modelo
de jogo (MJ) aparece
nesse momento muito
pertinente nas
literaturas buscadas
pelos profissionais que
estão sempre à
procura de evolução
sobre questões ligadas
aos esportes coletivos
e almejam tornar cada vez mais consistente sua filosofia de trabalho. Enquanto no
Brasil pouquíssimo material foi produzido sobre o tema, na Europa ele é alvo de
discussões há muito tempo, como podemos observar nesse trecho escrito por
Teodurescu em 1984, em que o autor considera que “o modelo de jogo é uma
referência, construída a partir de outras referências de ordem de rendimento
superior, que postulam um conjunto de ações individuais e coletivas dos jogadores
e da equipe, integradas com o espírito físico e psíquico característico do jogo”. Na
década de 90, o autor Júlio Garganta escreveu bastante sobre o assunto, devido à
relação que o mesmo tem com sua proposta metodológica de ensino para os jogos
desportivos coletivos. A partir do pressuposto que o processo de ensino /
aprendizagem deve pautar-se pela eficácia, isto é, pela capacidade de produzir os
efeitos pretendidos, torna-se imprescindível a existência de referenciais que, para
além de possibilitarem a definição dos objetivos, orientem a seleção dos meios e
métodos mais adequados para alcançá-los (Garganta, 1985). Complementando
2. Leandro Zago
este conceito, defende que o processo de ensino do Futebol deve reportar-se a um
conjunto de princípios ou idéias (modelos), que expressam os aspectos a que se
atribui maior importância e que se pretende ver cumpridos.
2. Definições de Modelo de Jogo na Universidade e no Campo
Recentemente, José
Mourinho (2006),
afirmou que ter um
modelo de jogo definido
é o mais importante para
uma equipe de futebol, e
tal modelo é um
conjunto de princípios
que dão organização a
sua equipe por isso deve ter relevância especial desde o primeiro dia de trabalho. O
treinador português define MJ como a direção que faz com que os jogadores
possam nos quatro momentos do jogo (veremos mais à frente este tema), pensar
sob a mesma perspectiva.
Para o treinador Rafa Benitez (2007) o MJ é a finalidade a que se destinam os
treinamentos para dar uma identidade de jogo à equipe. Leitão (2009) define MJ
como a orientação (norte) que permite a todos os jogadores de uma equipe ter a
mesma leitura do jogo, de forma organizada em todos os momentos do jogo.
O treinadores e os autores, em publicações com intervalos maiores ou menores de
tempo referem-se ao conceito de MJ com muita proximidade, apesar de utilizam-se
de algumas palavras distintas para descrevê-lo, de acordo com o enfoque com que
cada um tem sobre o mesmo tema.
3. Leandro Zago
3. O Conteúdo do Modelo de Jogo
Segundo Bayer (1986), os princípios de jogo representam a fonte da ação, definem
as propriedades invariáveis sobre as quais se realizarão as estruturas fundamentais
do desenrolar dos acontecimentos. Os princípios de jogo aplicados pelo jogador e
pela equipe devem manter uma congruência muito grande entre eles e com o
Modelo de Jogo pretendido para a equipe. Castelo (1996) afirma que o MJ
compreende a evolução dinâmica e criativa do jogo ao longo do seu processo de
desenvolvimento. Durante a evolução do jogo, vão se alternando as exigências de
resposta a cada situação problema, tornando imprescindível coordenação entre as
resposta dos jogadores e suas equipes para que os padrões coletivos comecem a
dar identidade ao sistema (equipe).
Figura 1 – Grandes Princípios segundo Vítor Frade (2002)
Sem aprofundar-se na discussão em relação às bolas paradas (se é que podemos
assim chamar) se pertencem ou não a um dos quatro primeiros grupos (figura 1),
pode-se observar que o Professor Vítor Frade (2002) dividiu toda a estrutura
acontecimental do jogo em quatro grandes momentos, como já havia sido citado
4. Leandro Zago
por José Mourinho. Para o autor, todas as ações do jogo estão contidas em um
desses quatro momentos, por ele denominados de Grandes Princípios. O nome
Grandes Princípios vem em decorrência de, dentro de cada deles, existirem os
respectivos Princípios de Jogo, que contém os seus respectivos Sub-Princípios, onde
se encontram os Sub-Princípios dos Sub-Princípios e assim sucessivamente. Todos
subjugados ao MJ e respeitando uma hierarquia de acordo com o nível em que se
encontra.
4. O Processo de Construção de um Modelo de Jogo
O modelo de jogo é o núcleo de toda a periodização tática, sem a definição do
modelo torna-se descontextualizado o trabalho sob a perspectiva da periodização
tática. O foco nesse novo cenário está na forma de jogar que será construída ao
longo da temporada, visando uma regularidade competitiva e evolução constante
nos comportamentos da dominante tática para que se atinja o “pico do modelo de
jogo” como objetivo do processo.
Figura 2 – Do Modelo Idealizado ao Modelo Concreto
5. Leandro Zago
A periodização deve englobar a especificidade do MJ adotado em aspectos
cognitivos, físicos, táticos, técnicos e psicológicos, além dos princípios e sub-
princípios de jogo que serão aplicados pela equipe nas organizações ofensiva,
defensiva e nas transições defesa - ataque e ataque-defesa. A modelação (figura 2)
é um processo que acontece quando o Modelo Idealizado, e que guia o processo de
treinamento, vai se concretizando em comportamentos apresentados de forma
individual e coletiva com uma regularidade que permite tornar a equipe um modelo
único.
Construir um MJ a partir das metodologias tradicionais soa incoerente, porque de
um lado estão as teorias pautadas na complexidade, integração (MJ) e de outro,
processos fragmentadores, característica comum aos métodos de treinamento
atualmente utilizados em que tática, técnica, preparação física e emocional são
trabalhadas de maneira isolada.
5. Ter ou não um Modelo de Jogo é uma opção ?
Portanto, modelo de jogo não é somente a tática usada pelo treinador, mas sim um
conjunto de ações, pensamentos e princípios seguidos pela equipe. Ao elaborar os
treinos, deve-se levar em conta o MJ previamente definido, ou seja, o processo de
treinamento deve englobar exercícios que seguem o MJ escolhido pelo treinador. E
que fique claro que todas as equipes possuem um MJ, independente do método de
treino aplicado e do conhecimento do treinador sobre o tema, o que poderá variar é
o quão elaborado (ou não) é o MJ que determinada equipe apresenta no campo.
Colocar onze jogadores no campo defensivo e “dar chutões” ou jogar realizando
uma zona pressionante são dois MJ com um grau de complexidade bem distinto,
desde a forma como se operacionalizar um treinamento para construí-los, passando
pela assimilação dos atletas, até sua aplicação no jogo.
O treinador, na fase inicial do trabalho deve definir o modelo de jogo da equipe
junto com sua comissão técnica, levando em conta sua idéia de jogo, a
6. Leandro Zago
característica dos jogadores, os princípios de jogo, a organização funcional e a
estrutura do clube. O modelo de jogo deve ter objetivos bem definidos e bem claros
para todos, para que cheguem a atingir tais metas. Porém, devem saber que esse
modelo de jogo pode sofrer ajustes, para que haja um aperfeiçoamento gradativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre
o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor.
Bayer, C (1986) La enseñanza de los juegos desportivos colectivosl. Hispano
Europea. Barcelona.
Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção
de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.
Oliveira, B. et al (2006) Mourinho: Porquê tantas vitórias?. Editora Gradiva.
Teodurescu, L. (1984) Problemas de Teoria e Metodologia nos Jogos
Desportivos. Livros Horizonte.