1. Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de graduação em Ciências Sociais
Professora Maria Soledad Etcheverry Orchard
Disciplina de Introdução à Sociologia
1. Livro
1.1 – ano: 2005
1.2 - 6a edição
1.3 - páginas 24 à 36
1.4 - livro: Sociologia
1.5 - capítulo 1 – O que é sociologia
1.6 - Anthony Giddens
2. Tema do livro: sociologia
2.1 - palavras-chaves: sociologia, marxismo, funcionalismo, positivismo
3. Trechos e considerações
− começo do século XXI, período marcado por mudanças. Possibilidades da humanidade
controlar seus destinos, moldar as vidas para melhor. Mas “como esse mundo surgiu? Por
que nossas condições de vida são tão diferentes daquelas de nossos pais e avós? Que direção
as mudanças tomarão no futuro? Essas questões são a principal preocupação da sociologia.
(p. 24)
− “A abrangência do estudo sociológico é extremamente vasta, incluindo desde a análise de
encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos sociais globais”
(p. 24)
− a sociologia explica que os “dados” da nossa vida são fortemente influenciados por forças
históricas e sociais; entender estas influências é fundamental para a abordagem sociológica.
− “Aprender a pensar sociologicamente – olhando – em outras palavras, de forma mais ampla
– significa cultivar a imaginação. (…) O trabalho sociológico depende daquilo que o autor
norte-americano C. Wright Mills, numa frase famosa, chamou de imaginação sociológica”
(p.24)
− o exemplo dado do hábito de tomar um café serve para mostrar esse tipo de “olhar”, de
“imaginação” que deve – precisa – ter o sociólogo. Os fatos não devem ser observados de
modo a explicarem-se em si mesmos. É preciso analisar todo o contexto em que se inserem,
encontrar e entender os motivos que levaram àqueles fatos (e não a outros), compreender
todos os desdobramentos e consequências.
− A “imaginação sociológica” permite perceber que fenômenos que, muitas vezes, parecem
ser individuais, são na verdade, questões muito mais amplas, abrangentes e que
afetam/atingem toda uma sociedade. Giddens cita o exemplo do divórcio e do desemprego.
(p. 25)
− os contextos sociais influenciam, mas não determinam o que somos e o que fazemos. “É
trabalho da sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que
fazemos de nós mesmos”. (p. 26)
− “Nossas atividades tanto estruturam – modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao
mesmo tempo, são estruturadas por esse mundo social”. (p. 26)
− conceito de estrutura social: “(...) os contextos sociais de nossas vidas não consistem apenas
em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são estruturados ou padronizados de
formas distintas. Há regularidades nos modos como nos comportamos e nos
relacionamentos que temos uns com os outros. Mas a estrutura social não é como uma
1
2. estrutura física, como um edifício que existe independentemente das ações humanas. As
sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a
todo o momento pelos próprios 'blocos de construção' que as compõem – os seres humanos
como você e eu.” (p. 26)
− como a sociologia pode ajudar em nossas vidas:
− consciência das diferenças culturais (“a sociologia nos permite ver o mundo social a partir
de outros pontos de vista que não o nosso” - p. 27)
− avaliando os efeitos das políticas
− auto-esclarecimento (“quanto mais sabemos por que agimos como agimos e como se dá o
completo funcionamento de nossa sociedade, provavelmente seremos mais capazes de
influenciar nossos próprios futuros” - p. 27)
− “a sociologia diz respeito às nossas vidas e ao nosso próprio comportamento, e estudar nós
mesmos é o mais complexo e difícil esforço que podemos empreender.” p. 27
− o cenário que dá origem à sociologia: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial
− Revolução Industrial levou a um rápido crescimento urbano e introduziu novas relações
sociais
− questões que os pensadores buscavam responder:
− o que é a natureza humana?
− por que a sociedade é estruturada da forma que é?
− como e por que as sociedades mudam?
− pensadores que contribuíram inicialmente para o pensamento sociológico:
− Augusto Comte (1798-1857)
− inventou a palavra sociologia (originalmente usava “física social”, mas como rivais
intelectuais também usavam, queria distinguir, e por isso passou a usar “sociologia”)
− “buscou criar uma ciência da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social da
mesma forma que a ciência natural explicava o funcionamento do mundo físico”. p. 28
− se conseguisse desvendar estas leis, poderiam ser modelados os destinos, a humanidade
poderia alcançar um melhor bem-estar
− visão de Comte: ciência positiva (positivismo)
− ciência deveria se preocupar somente com fatos, entidades observáveis; empirismo
− “lei dos três estágios”:
− estágio teológico: pensamentos guiados por idéias religiosas; a sociedade é expressão da
vontade de Deus
− estágio metafísico: proeminente na Renascença; sociedade vista em termos naturais e não
sobrenaturais
− estágio positivo: aplicação de técnicas científicas no mundo social; introduzido pelas
descobertas e conquistas de Copérnico, Galileu e Newton
− Comte elaborou e propôs o estabelecimento de uma “religião da humanidade”, que
abandonaria a fé e o dogma em favor de um fundamento científico (p. 28)
− ele tinha consciência da situação social e se preocupava com as desigualdades que estavam
sendo criadas pela industrialização. Sabia que isso ameaçava a coesão social
− para ele a solução seria a produção de um “consenso moral” que ajudaria a regular ou
manter unida a sociedade, apesar das desigualdades
2
3. − Émile Durkheim (1858-1917)
− impactos mais duradouros na sociologia do que Comte
− entendia que Comte não atingira seu objetivo (estabeler a sociologia numa base científica)
− muitas das idéias de Comte, para ele, eram demasiadamente vagas e especulativas
− concordava com Comte ao entender que a vida social deveria ser estudada com a mesma
objetividade com que os cientistas estudam o mundo natural
− seu princípio era “estude fatos sociais como coisas!” p. 29
− três dos principais temas de que tratou: importância da sociologia como ciência empírica; a
ascensão do indivíduo e a formação de uma nova ordem social; as fontes e o caráter da
autoridade moral na sociedade (p. 29)
− para Durkheim a principal preocupação intelectual da sociologia é o estudo de fatos sociais
− “em vez de aplicar métodos sociológicos para o estudo de indivíduos, os sociólogos
deveriam examinar os fatos sociais – os aspectos da vida social que modelam nossas ações
como indivíduos, tais como o estado da economia ou a influência da religião.” p. 29
− de acordo com Durkheim, a sociedade é mais do que simplesmente as ações e os interesses
de seus membros individuais
− “os fatos sociais são meios de agir, pensar ou sentir que são externos aos indivíduos e têm
sua própria realidade fora das vidas e das percepções das pessoas individuais.” p. 29
− as pessoas muitas vezes seguem padrões que são gerais da sociedade, entendendo que estão
agindo sem escolha, quando na verdade é a sociedade exercendo seu poder coercitivo sobre
os indivíduos
− “os fatos sociais podem forçar a ação humana numa diversidade de maneiras, indo da
punição absoluta (no caso de um crime, por exemplo) à rejeição social (no caso de um
comportamento inaceitável) e a simples incompreensão (no caso de uso inapropriado da
língua)”. p. 29
− fatos sociais são difíceis de estudar, pois por serem invisíveis e intangíveis, não podem ser
observados diretamente. Suas propriedades devem ser reveladas a partir de análises de seus
efeitos ou das tentativas de dar-lhes expressão, o que pode ser feito através de leis, textos
religiosos ou normas escritas de conduta
− importante abandonar preconceitos e a ideologia
− particularmente, Durkheim estava interessado na solidariedade social e moral – o que segura
a sociedade unida e a mantém afastada de descer ao caos
− seu primeiro trabalho importante: A divisão do trabalho na sociedade (1893)
− nesta obra, analisa a mudança social advinda da era industrial, com o surgimento de um
novo tipo de solidariedade
− ele constrastou dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica
− as relacionou com a divisão do trabalho, com o crescimento de distinções entre diferentes
ocupações
− segundo ele, culturas tradicionais com baixa divisão do trabalho são caracterizadas pela
solidariedade mecânica: os membros da sociedade estão ligados pela experiência comum e
por crenças compartilhadas; quem desafia as convenções é rapidamente punido
− mas a industrialização e a urbanização levaram a uma divisão crescente do trabalho; surge aí
a solidariedade orgânica, onde as pessoas tem uma interdependência econômica e
reconhecem a importância do trabalho de cada uma, o que leva a manter a sociedade unida
− com a expansão da divisão do trabalho, essa dependência só aumenta, tornando as pessoas
cada vez mais dependentes umas das outras
− “um dos estudos mais famosos de Durkheim ocupava-se da análise do suicídio. O suicídio
parece ser um ato puramente pessoal, o resultado da infelicidade pessoal extrema. Durkheim
mostrou, contudo, que fatores sociais exercem uma influência fundamental no
comportamento suicida – sendo que a anomia é uma dessas influências.” p. 31
− anomia: sentimento de falta de objetivos ou desespero, provocado pela vida social moderna
3
4. − Karl Marx (1818-1883)
− as idéias de Marx contrastam radicalmente com as de Comte e Durkheim, mas, como eles
buscava compreender e explicar as mudanças provocadas pela Revolução Industrial
− Marx era militante, ativista, e por suas atividades teve que sair da Alemanha, passando
brevemente pela França e se estabelecendo na Inglaterra, epicentro da Revolução Industrial
− para Marx as mudanças mais importantes estavam estreitamente ligadas ao desenvolvimento
do capitalismo
− dois elementos principais dentro das empresas capitalistas: o capital e a mão de obra
assalariada
− quem detém o capital: capitalistas (classe que domina); quem detém apenas sua força de
trabalho: assalariados, classe operária, proletariado. p. 31
− o capitalismo é um sistema caracterizado pelas classes em conflito, e a relação entre elas é
de exploração, onde os capitalistas levam vantagem
− “concepção materialista da história”
− “não são as idéias ou os valores que os seres humanos guardam que são as principais fontes
da mudança social. Em vez disso, a mudança social é estimulada primeiramente por
influências econômicas.” p. 32
− de acordo com Marx, as mudanças de modos de produção ocorrem devido às contradições
em suas economias
− devido as suas contradições, o capitalismo seria superado por outro modo de produção, o
socialismo, que ocorreria a partir de uma revolução dos trabalhadores, que construiriam uma
sociedade sem classes sociais – e portanto sem a divisão entre ricos e pobres
− o pensamento marxista teve grande alcance e influência ao longo do século XX
− Max Weber (1864-1920)
− assim como Marx, Max Weber se interessava por diversas áreas do pensamento (economia,
direito, filosofia, história, sociologia)
− “através de uma série de estudos empíricos, Weber apontou algumas das características
básicas das sociedades industriais modernas e identificou debates-chave, do ponto de vista
sociológico, que permanecem centrais para os sociólogos até hoje.” p. 32
− foi influenciado por Marx, mas era crítico com algumas das principais idéias dele; rejeitou a
concepção materialista da história e viu o conflito de classes como menos relevante do que
para Marx
− para Weber, os fatores econômicos são importantes, mas tanto quanto as idéias e os valores
− ele acreditava que a sociologia deveria se concentrar na ação social e não nas estruturas
− “sustentava que as motivações e idéias humanas eram as forças por detrás da mudança –
idéias, valores e crenças tinham o poder de ocasionar transformações.” p.33
− realizou também importantes estudos sobre as religiões na China, na Índia e no Oriente
próximo; concluiu que certos aspectos das crenças cristãs influenciaram fortemente o
surgimento do capitalismo
− importante em Weber: a idéia de “tipo ideal”
− no mundo real, tais tipos ideais raramente ou nem sequer existem; mas são referências
importantes para utilizar como comparação
− racionalização: Weber acreditava que as pessoas estavam se afastando das crenças,
superstições, tornando-se mais racionais
− para ele, o desenvolvimento da ciência, da tecnologia moderna e da burocracia expressavam
essa racionalização
− “o capitalismo não é dominado pelo conflito de classe, como acreditava Marx, mas pela
ascenção da ciência e da burocracia.” p. 34
4
5. − o termo desencantamento descrevia a maneira pela qual o pensamento científico havia
varrido as forças da sentimentalidade do passado
− temia que a sociedade moderna esmagasse o espírito humano ao tentar regular a vida social
− Harriet Martineau (1802-1876)
− tem sido chamada a primeira socióloga
− nasceu e foi educada na Inglaterra; escreveu mais de 50 livros
− introduziu a sociologia na Inglaterra, pois traduziu a obra de Comte, Filosofia Positiva
− estudou a sociedade estado-unidense nos anos de 1830, tendo escrito o livro Sociedade na
América
− insistiu que a análise de uma sociedade deve incluir estudos sobre a vida das mulheres
− incluiu em seus estudos questões como o casamento, as crianças, a vida doméstica e
religiosa e relações de raça
− para ela, os sociólogos deveriam fazer mais do que simplesmente observar, deveriam
também atuar de forma a beneficiar a sociedade
− perspectivas sociológicas mais recentes:
− três se destacam: o funcionalismo, a abordagem de conflito e o interacionismo
− “o funcionalismo sustenta que a sociedade é um sistema complexo cujas diversas partes
trabalham conjuntamente para produzir estabilidade e solidariedade. De acordo com essa
abordagem, a disciplina de sociologia deveria investigar a relação das partes da sociedade
umas com as outras e com a sociedade como um todo.” pp. 34 e 35
− “os teóricos de conflito rejeitam a ênfase funcionalista no consenso. Em vez disso, destacam
a importância das divisões na sociedade. Ao fazê-lo, concentram-se em questões de poder,
desigualdade e luta. Eles tendem a ver a sociedade como sendo composta de grupos distintos
que perseguem seus próprios interesses.” p. 35
− “as teorias de ação social dão maior atenção à ação e à interação dos membros da sociedade
ao formar aquelas estruturas. (…) o papel da sociologia é abarcar o significado da ação
social e da interação mais do que explicar quais forças externas às pessoas induzem-nas a
agir da forma que agem. (…) as teorias de ação social se concentram na análise de como os
agentes individuais se comportam ou se orientam com respeito a cada um e à sociedade.” p.
35
− “o interacionismo simbólico dirige nossa atenção ao detalhe da interação interpessoal e a
como esse detalhe é usado para dar sentido ao que os outros dizem e fazem. Os sociólogos
influenciados pelo interacionismo simbólico frequentemente se concentram na interação
face a face nos contextos da vida cotidiana. Eles destacam o papel de tal interação em criar a
sociedade e suas instituições.” p. 36
− concluindo:
− a sociologia abrange uma variedade de concepções teóricas
− essa diversidade é um sinal da sua força e vitalidade
− surgiu para estudar as sociedades modernas, mas a gama de questões que estuda é muito
mais ampla
− não é apenas um campo intelectual abstrato; tem implicações importantes na vida das
pessoas
Wladimir Berchon Crippa – 20 de setembro de 2009
5