1. A cidade de Ipatinga surgiu para abrigar os trabalhadores da siderúrgica Usiminas, que construiu a cidade e dominou sua economia.
2. Após a privatização da Usiminas em 1991, houve redução no número de empregos na empresa e aumento no setor de serviços na cidade.
3. O estudo analisará os impactos da privatização no emprego e renda em Ipatinga e se a economia se diversificou em outros setores.
1. 4
Walace Vinicius Peixoto Batista
Análise da influência econômica da Usiminas na
cidade de Ipatinga: antes e após a privatização
Juiz de Fora
2011
2. 5
Walace Vinícius Peixoto Batista
Análise da influência econômica da Usiminas na
cidade de Ipatinga: antes e após a privatização
Monografia apresentada pelo acadêmico Walace
Vinícius Peixoto Batista (200605040), como
exigência do curso de graduação em Ciências
Econômicas da Universidade Federal de Juiz de
Fora, sob a orientação do professor Wilson Luiz
Rotatori Corrêa.
Juiz de Fora
2011
3. 6
RESUMO
O presente estudo examina as consequências econômicas da privatização da
siderúrgica Usiminas sobre o mercado de trabalho e a dinâmica dos setores de
atividade econômica da cidade de Ipatinga (MG). A fim de se entender se tal
processo culminou em efeitos negativos ou se os positivos os superaram. Para isso,
objetivou mensurar o quadro de empregados dos vários setores de atividades
econômicas anteriormente e após o processo de privatização. Calculou os salários
médios para cada setor e seu comportamento ao longo dos anos. E ainda, analisou
a evolução do nível educacional dos trabalhadores da cidade. Segundo as análises
realizadas, o setor industrial sofreu diminuições do contingente de empregados à
época da desestatização, entretanto, ao passar dos anos apresentou um progresso
chegando a números bem superiores aos iniciais. E os demais setores
apresentaram crescimentos no número de funcionários com o passar do tempo. Na
abordagem dos salários médios foi observado que em todos os setores houve uma
evolução do salário de seus trabalhadores, excetuando-se apenas o industrial, em
que ocorreu uma piora nos rendimentos médios. Nos níveis de instrução foi notada
uma constante melhoria do nível educacional com aumento das parcelas de melhor
grau educacional. Em suma, em relação ao emprego a economia da cidade superou
os níveis anteriores à privatização e seus impactos negativos, já a questão do
salário médio apresentou implicações diferentes em cada setor da economia do
município.
4. 7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÂO ........................................................................................................ 8
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 11
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 16
3.1 BASE DE DADOS .............................................................................................. 16
3.2 MÉTODO ........................................................................................................... 20
4 ANÁLISES DOS RESULTADOS .......................................................................... 22
4.1 ANÁLISE DE EMPREGOS E EMPREGOS POR SETOR ECONÔMICO ........... 22
4.2 ANÁLISE DE EMPREGOS POR NÍVEL EDUCACIONAL .................................. 30
4.3 ANÁLISE DE SALÁRIO POR SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA ................ 34
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 37
6 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 40
5. 8
1 INTRODUÇÂO
Ipatinga, a 200 quilômetros de Belo Horizonte, surgiu devido à criação da
indústria Usiminas. Por causa da necessidade de se criar uma estrutura de moradia
para seus trabalhadores, e em razão das oportunidades oferecidas, ocasionou a
aglomeração urbana. O local escolhido era de baixo potencial agrícola, e de
pequena população com uma produção extrativa incipiente. Foi escolhida por estar
em uma região geograficamente favorável à siderurgia, com proximidades às
regiões produtoras de minério de ferro e com transporte para escoamento da
produção. A empresa construiu a infraestrutura dos bairros onde morariam seus
empregados e continuou responsável pela dinâmica social e econômica do lugar.
Com a privatização em 1991, a participação da siderúrgica na quantidade de
postos de trabalho da cidade foi diminuída em função do desligamento de
trabalhadores e do aumento da utilização de empregados e empresas terceirizadas,
levando a um crescimento do setor de serviços e do comércio na cidade. Isso
resultou no fim do antigo modelo de grande empresa estatal de produção fordista,
uma vez que tinha uma relação estreita com a cidade tendo como principal função
ser provedora, mas também beneficiada por isso. A configuração anterior de
empresa-mãe de moldes estatais deu lugar uma nova situação mais condizente com
a realidade mundial e com a globalização. O considerável enxugamento de postos
de trabalho na siderúrgica, devido ao aumento de eficiência e produtividade,
diminuição de custos, e automação, provou um impacto na economia ipatinguense
(SOUZA; CARVALHO NETO, 2009). A antecedente alta quantidade de empregados
foi transferida para empresas terceirizadas e prestadoras de serviço a Usiminas, ou
que vendiam seus produtos para ela. Porém muitos passaram a ocupar outras
atividades, como no comércio e em bancos.
Atualmente, um novo segmento econômico que está assumindo um papel de
importância em Ipatinga: as instituições de ensino superior. Há muito tempo a cidade
dispunha de escolas de ensino fundamental e médio de alta qualidade, mas eram
poucas as de graduação e pós-graduação. Na medida em que a cidade está
relativamente distante de grandes centros, da inexistência de universidades públicas
na região e da alta oferta educacional, havia forte demanda por cursos superiores.
Isso fez com que muitas faculdades se instalassem na região. Ao se considerar a
6. 9
teoria econômica, a ascensão do nível educacional gera efeitos positivos irradiados
pelo local, como atração de profissionais e estudantes qualificados, aumentando os
níveis salariais e a qualidade das atividades e cargos. Possivelmente esse foi um
instrumento para melhorar os setores alternativos à indústria, e ser um plausível
meio de desenvolver uma a estrutura independente à Usiminas.
O presente estudo tem como objetivo analisar os impactos econômicos da
empresa Usiminas sobre a cidade de Ipatinga e as implicações decorrentes de sua
privatização, via alterações no número de empregos e renda gerada. Para isso,
buscará analisar a dinâmica de emprego no mercado formal a fim de verificar os
impactos do processo de enxugamento da mão-de-obra, devido à privatização da
Usiminas, sobre o número de trabalhadores e a massa salarial no município.
Especificamente, irá calcular a magnitude das mudanças na quantidade de postos
de trabalho na economia de Ipatinga, inferir as mudanças e conseqüências nos
salários dos diferentes setores da economia da cidade, comparar as alterações no
mercado de trabalho antes e após a privatização da empresa, e ainda, procurar
analisar a dimensão do setor de serviços e comércio, assim como sua relevância
econômica.
E com isso, analisar se foi criada uma maior diversificação da economia da
cidade em relação às atividades e conjunturas apresentadas por sua principal
indústria. E, portanto verificar a capacidade dos diversos setores que compõem a
economia municipal em lidar com as fases negativas para a siderúrgica devido às
oscilações do mercado de aço e dos preços das commodities.
O problema de pesquisa pertinente se encontra na questão de se a
privatização da Usiminas prejudicou a economia de Ipatinga ou esta foi
compensada, por uma alocação das atividades econômicas para outros setores. E
de tal forma quais foram os impactos do enxugamento de empregos industriais e as
dimensões da evolução do salário médio. Procurando avaliar a hipótese de que o
crescimento dos setores de serviço e de empresas prestadoras de serviço à própria
Usiminas ter gerado uma maior dinamização e diversificação da economia
ipatinguense.
O atual trabalho se faz necessário pela importância de se conhecer a
estrutura e as relações econômicas da cidade, podendo ser utilizado como noção
aos cidadãos e agentes competentes das necessidades e características do
7. 10
mercado de trabalho do município. O estudo se justifica assim, por gerar
conhecimento para os agentes econômicos e políticos sobre quais são as
peculiaridades do mercado de trabalho de Ipatinga e os setores que trazem mais
benefícios à economia municipal. O intuito é de se conhecer as características e
dimensão de cada divisão de atividade econômica, entre elas a indústria, construção
civil, comércio, serviços e agropecuária, e o nível atual da distribuição entre os
campos de atividades, para se intuir sobre a recente importância da indústria, em
uma cidade que foi totalmente dependente da Usiminas. E também pela falta de
estudos específicos na cidade, podendo indicar aos potenciais investidores e à
iniciativa privada os nichos de mercado atrativos e como se comporta a dinâmica
dos negócios do local. A partir disso, mostrará a importância de se criar estímulos ao
crescimento dessas atividades e políticas públicas favoráveis ao crescimento do
município.
8. 11
2 REVISÃO DE LITERATURA
O Município de Ipatinga foi escolhido para construção da empresa Usiminas,
por ter as características necessárias a uma siderúrgica. Na época não passava de
uma área de produção agrária de subsistência e de extração de carvão vegetal e
pouco habitada. A empresa teve então que construir, além de seu complexo
industrial, uma estrutura para receber os trabalhadores construtores da usina e,
após seu término, toda a base de uma cidade que pudesse abrigar os funcionários e
seus familiares (SOUZA; CARVALHO NETO, 2009). Depois disso, continuou a ter
uma importância irrestrita na vida e na economia da sociedade ipatinguense por
décadas.
Essa estrutura, porém, foi modificada com o início da desestatização da
siderúrgica. Como explicita Andrade et al. (2001), na década de 1980, a alta dívida
externa impedia a política das décadas anteriores de ativa participação do Estado na
estrutura produtiva com as empresas estatais e ainda os investimentos em aumento
da produção e da qualidade. O que fez com que as empresas estatais siderúrgicas
se encontrassem com alto endividamento, parque industrial defasado, investimentos
limitados e gestão burocrática e política. Tudo isso culminando no processo de
privatização, que levou ao fim da política de proteção e controle de preços, trazendo
maior competição ao mercado da siderurgia. Houve geração de benefícios, em
primeiro plano, aumento na produtividade, investimento em tecnologia, redução de
custos, melhoria de resultados, entrada no mercado de capitais e administração
profissional, chegando assim, ao nível dos maiores grupos internacionais. Os quais,
a propósito já participam de forma marcante no mercado nacional, devido às
atratividades conferidas indústria interna.
Ao se avaliar todo o processo de abertura e privatização nacional como um
todo, Moreira e Najberg (1999) concluíram que a abertura comercial diminui o
emprego industrial, mas aumenta o emprego na agricultura. Isso leva à indagação
sobre a possibilidade de Ipatinga ter ficado prejudicada já que dependia muito da
indústria e nunca possuiu atividades agrícolas relevantes.
Ao se considerar a desestatização nacional em conjunto, e para os diversos
setores, Pinheiro (1996) testa as hipóteses teóricas dos efeitos posteriores à
privatização, e conclui que nas empresas, após terem sido privatizadas, cresceu o
9. 12
nível da produção, a lucratividade, eficiência, melhoraram os resultados financeiros
(aumento da liquidez, do patrimônio líquido e redução do endividamento), e tiveram
aumentos no investimento. Já o fator negativo foi a diminuição no número de
empregos. O autor ressalva que mesmo com esses benefícios, para se atingir uma
eficiência completa se faz necessário que se prime pela liberalização comercial,
além de manter uma estrutura regulatória para que se garanta uma boa competição.
Paula (1997) constata que no campo da siderurgia, a privatização foi uma
das mais transparentes do mundo, principalmente por ter utilizado o método do
leilão. Foi ainda a que concedeu maior desconto para compra de suas ações aos
seus funcionários, tendo o intuito de amenizar as opiniões contrárias ao processo. Já
o maior ponto negativo foi ter sido realizada de forma concentrada, acarretando em
uma perda do lucro com a valorização das ações da empresa e perder a chance de
ter tido uma maior segurança quanto ao risco de um momento mais ou menos
favorável à venda.
Avaliando as sinergias e transbordamentos entre as regiões brasileiras,
Sesso Filho et al. (2006), chegaram ao resultado de que o setor siderúrgico tem o
maior valor em efeito transbordamento no sentido resto do Brasil para região
Sudeste, ou seja, os produtos siderúrgicos apresentam a maior importância em
valores desta região no fornecimento de bens às demais regiões. Já no caso da
região Sul ocorre no sentido contrário, no sentido Sul para as outras regiões a
siderurgia apresenta também o maior valor do multiplicador de transbordamento.
Logo a ampliação da produção desse setor no Sul causaria um alto efeito
multiplicador no restante do país.
Procurando avaliar as implicações da adoção de medidas antidumping e do
câmbio flutuante, no setor siderúrgico mineiro e nacional, Firme e Vasconcelos
(2009), utilizaram matrizes insumo-produto inter-regional para comparar o setor em
questão do estado de Minas Gerais com o resto do país. Para tal foram calculados
os multiplicadores de produção, que denotam a mudança direta e indireta da
produção total da economia como um todo em razão de uma alteração exógena na
demanda final de certo setor. Também os multiplicadores de emprego, que capturam
o número de empregos do setor devido à adição de uma unidade de produção no
mesmo. E estimaram ainda, os índices de ligação, que mostram os efeitos positivos
da produção de um setor tanto sobre os outros compradores quanto sobre os
10. 13
vendedores. Como resultado, mostrou que houve uma queda dos multiplicadores de
produção das siderúrgicas de Minas Gerais, ou seja, diminuiu o poder do setor de
gerar crescimento no estado, mas o resultado não foi o oposto no resto do país. No
tocante ao multiplicador de emprego de Minas Gerais e também dos outros estados,
aconteceu uma diminuição, assim, menos pessoas precisariam ser contratadas. É
provável que isso se deva às políticas de aumento de eficiência e produtividade
adotadas no implemento da privatização. Com isso, percebe-se que essa indústria
está ficando menos intensiva em mão-de-obra e mais em capital, como se apresenta
comumente no mundo. Como conclusões, afirmam que as medidas negativas à
exportação não causaram sérios impactos no setor, contudo provavelmente tenha
sido o câmbio flutuante que compensou o potencial efeito adverso das
regulamentações do comércio externo.
Analisando também os fatores econômicos nos diferentes setores, Chiari e
Duarte FIilho (2002), com o auxílio da matriz insumo-produto inter-regional Minas
Gerais-Resto do Brasil de 1996, estimada pela FIPE/USP e BDMG, estudaram as
características da estrutura produtiva do estado de Minas Gerais e suas relações
com o Brasil como um todo. Os multiplicadores de produção encontraram que os
principais setores foram de fabricação de outros produtos metalúrgicos, fabricação
de aparelhos e equipamentos de material elétrico, e siderurgia. Os setores-chave
para a economia de Minas Gerais foram o siderúrgico e o de fabricação de outros
produtos metalúrgicos, sendo assim, os de primeira importância para a economia do
estado. Usando a mesma matriz insumo-produto citada Domingues e Haddad (2002)
realizam um estudo relacionando as exportações de Minas Gerais. Segundo eles, as
exportações do estado foram, em 1996, de 6,4 bilhões de reais, ou 9,28% do
Produto Regional Bruto mineiro. Dessa quantidade, 67% são concentradas nos
setores: extrativa mineral, siderurgia e indústria do café. Importante salientar que
30% do total das exportações. Com tais resultados sobre a siderurgia em relação à
economia mineira, percebe-se o grande valor de tal setor para o mercado.
Um dos efeitos da mudança do mercado siderúrgico estatizado para o
privatizado foi o de levar a uma reorganização da composição da indústria. Os
processos de aquisições acarretam em uma diminuição do número de siderúrgicas,
por exemplo, a Usiminas que comprou a Cosipa. Para Gomes, Aidar e Videira
(2006), fusões aumentam lucros de toda a indústria, mas será superior para as
11. 14
autoras das compras. Para chegar a esse julgamento, eles compararam a situação
da Arcelor com a da Usiminas e concluíram que a primeira, que desempenhou mais
aquisições, teve resultados superiores
Já em relação à competitividade da siderurgia, Camargos e Paula (1997)
discorrem sobre o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento das ex-estatais.
Para eles, houve diminuição nos postos de trabalho, assim como nos outros ramos
da indústria, porém cresceu a alocação nos departamentos de pesquisa e um houve
um drástico crescimento nas despesas em P&D. Mas no geral, manteve-se a
condição anterior à privatização: a finalidade da pesquisa em adquirir tecnologias do
exterior, se concentrar em desenvolvimento de produtos e não de processos e o
baixo vigor em pesquisa. No caso da Usiminas, houve uma diminuição no número
de pesquisadores e funcionários do departamento de P&D, contudo permaneceu a
média dos gastos em pesquisa.
Para descobrir os setores de maior peso em efeitos multiplicadores de renda
e emprego, Brene et al. (2010), realizaram um estudo estimando a matriz de insumo-
produto para o município de São Bento do Sul, Santa Catarina, e seus índices
econômicos. Calcularam também os geradores de emprego, renda e produto e seus
transbordamentos para os diferentes setores da cidade.
Outro trabalho que buscou entender as relações entre os ramos de atividade
econômica foi o de Wiesbusch (2007), acerca da economia do Rio Grande do Sul.
Com o objetivo de prover conhecimento para autoridades e público, com fins de
orientar a execução de políticas públicas de desenvolvimento econômico. Chegou-
se à implicação de que o setor de abate de animais, o de beneficiamento de
produtos vegetais e a indústria de laticínios foram os que tiveram os maiores
transbordamentos de renda para a economia. Os de maior multiplicadores de
emprego foram os setores de administração pública e de couro, calçados e peles. Já
os de multiplicadores de valor adicionado que tiveram maior influência foram as
áreas de abate de animais, de comércio e de administração pública. Trazendo o
conhecimento que a região possui variados setores de importância econômica que
podem ser estimulados e terão forte impacto no crescimento das atividades
econômicas do local.
Com o intuito de realizar um estudo sobre a introdução da indústria
siderúrgica na economia do estado de Espírito Santo e a importância desse setor
12. 15
econômico, Setto, Brasil e Vieira (2005) calcularam as demandas finais por
atividade, prepararam as matrizes de insumo-produto da economia do estado,
mensuraram os resultados de choques na demanda final sobre a produção e criação
de empregos, e calcularam os índices de ligação. Pelos resultados, concluíram que
o setor siderúrgico pertence aos que geraram os mais fortes impactos na produção
da economia capixaba. Mas teve baixa importância na questão de criação de
empregos, o que pode ser explicado pela siderurgia ser intensiva em capital. Porém,
o setor foi um dos que atingiu os maiores índices de ligações. Assim conclui-se que
o setor siderúrgico é consideravelmente criador de renda, e ainda muito competente
em induzir efeitos significativos na economia do Espírito Santo.
Para um aprofundamento no caso do Vale do Aço, Soares et al. (2004),
calculam em seu trabalho que o desemprego de Ipatinga em 2004 foi de 10,9% ou
de 20,18% ao se utilizar o critério do DIEESE - Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos - que inclui o desemprego oculto por
trabalho precário ou desalento, e no Vale do Aço de 11,6% ou 21,7% por tal critério.
As taxas de desemprego são apresentadas proporcionalmente entre as cidades de
Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano e em relação ao tamanho da população. E
uma parcela considerável, 15,5% dos ocupados trabalha em cidade diferente da que
mora, explicado pela proximidade entre essas cidades.
O estudo ainda traçou o perfil social dos indivíduos com e sem emprego.
Pouco mais da metade (51,8%) dos desempregados está na faixa de renda que vai
de 0 à R$ 500,00, e quase a metade (49,5%) destes tem de 18 a 24 anos. Já em
relação aos ocupados, os autores estimaram que praticamente um terço (33,2%) do
total de trabalhadores pertencia à atividade siderúrgica ou metalúrgica, seguida pelo
setor comercial e depois pelo de serviços. Os dados atestam a particularidade da
região em ter como base a indústria siderúrgica. Além da Usiminas, em Ipatinga,
também existia a siderúrgica Acesita, em Timóteo.
13. 16
3 METODOLOGIA
3.1 BASE DE DADOS
Na realização do presente trabalho foi utilizado o sistema de dados da Rais
(Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego, que
dispõe de informações sócio-econômicas sobre o mercado de trabalho. De acordo
com os objetivos deste estudo, focou-se nos números de empregos de diferentes
setores econômicos da cidade de Ipatinga – MG, nas quantidades de trabalhadores
por níveis educacionais e nas remunerações recebidas pelos segmentos relevantes.
Tais elementos abrangem o período de 1985 a 2010, devido aos dados existentes e
por compreender os anos anteriores à privatização, durante esta, e dos anos
subseqüentes até os atuais, permitindo, assim, uma análise sobre os diferentes
momentos em relação à estruturação empregatícia da empresa siderúrgica Usiminas
e as implicações e dinâmicas do restante do mercado. A partir também da Rais foi
possível a obtenção da massa salarial dos setores e a apreciação do seu
comportamento ao longo do tempo.
Os dados consistiam em uma tabela formulada a partir do sistema on-line da
RAIS com o conjunto de informações do número de trabalhadores referentes ao
Grande Setor de Atividade Econômica do IBGE:
INDÚSTRIA: quantidade de trabalhadores da indústria no ano.
CONSTRUÇÃO CIVIL: quantidade de trabalhadores do setor da construção civil no
ano
COMÉRCIO: quantidade de trabalhadores do comércio em tal ano.
SERVIÇOS: quantidade de trabalhadores no setor serviços no ano.
AGROPECUÁRIA: soma da quantidade de trabalhadores da agricultura, pecuária,
extração vegetal, caça e pesca.
OUTROS/IGNORADO: quantidade de trabalhadores que se enquadram em outros
ou ignorado.
Divisões em relação ao nível de instrução:
ANALFABETO: número de trabalhadores Analfabetos
14. 17
5A COMPLETO FUNDAMENTAL: número de trabalhadores com 5ª ano Completo
do Ensino Fundamental
6 A 9 FUNDAMENTAL: número de trabalhadores Do 6ª ao 9ª ano Incompleto do
Ensino Fundamental
FUNDAMENTAL COMPLETO: E número de trabalhadores com Ensino Fundamental
Completo
MÉDIO INCOMPLETO: número de trabalhadores com Ensino Médio Incompleto
MÉDIO COMPLETO: número de trabalhadores com Ensino Médio Completo
SUPERIOR INCOMPLETO: número de trabalhadores com Educação Superior
Incompleta
SUPERIOR COMPLETO: número de trabalhadores com Educação Superior
Completa
MESTRADO: número de trabalhadores com Mestrado Completo
DOUTORADO: número de trabalhadores com Doutorado Completo
IGNORADO: Desconhecido
Para os cálculos dos valores dos salários médios por setor, foram utilizados
a variável de que apresenta a remuneração de cada atividade econômica e os
índices de preços do Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA.
Conforme o quadro:
REM DEZ (Remuneração de Dezembro em salários mínimos): representando o total
de salários mínimos recebidos pelo conjunto de trabalhadores do setor específico
em dezembro de cada ano.
IPCA: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo do IBGE/SNIPC (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estátistica/Sistema Nacional de Índices de Preços ao
Consumidor).
Salário Mínimo: salários mínimos nominais sancionados, do Ministério do Trabalho e
Emprego, MTE.
Multiplicador de Unificação Monetária: Conversores de unidade monetária corrente
para reais correntes. Fonte: Sistema Gerenciador de Séries temporais do Banco
Central do Brasil.
15. 18
E ainda para os anos de 2003 ao de 2010 foram utilizados os dados setoriais
do Subsetor de atividades econômicas do IBGE (SUBSIBGE), com as variáveis:
EXTRAÇÂO MINERAL: quantidade de trabalhadores da atividade Extrativa mineral
MINERAL NÃO METÁLICO: quantidade de trabalhadores da Indústria de produtos
minerais não-metálicos.
INDÚSTRIA METALÚRGICA: quantidade de trabalhadores da Indústria metalúrgica.
INDÚSTRIA MECÂNICA: quantidade de trabalhadores da Indústria mecânica.
ELETÉTRICA E COMUNICAÇÕES: quantidade de trabalhadores da Indústria do
material elétrico e de comunicações.
MATERIAL TRANSPORTE: quantidade de trabalhadores da Indústria do material de
transporte.
MADEIRA E MOBILIÁRIO: quantidade de trabalhadores da Indústria da madeira e
do mobiliário.
PAPEL E GRÁFICA: quantidade de trabalhadores da Indústria do papel, papelão,
editorial e gráfica.
BORRACHA, FUMO, COURO: quantidade de trabalhadores da Indústria da
borracha, fumo, couros, peles, similares, e indústrias diversas.
INDÚSTRIA QUÍMICA: quantidade de trabalhadores da Indústria química de
produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria.
INDÚSTRIA TÊXTIL: quantidade de trabalhadores da Indústria têxtil do vestuário e
artefatos de tecidos.
INDÚSTRIA CALÇADOS: quantidade de trabalhadores da Indústria de calçados.
ALIMENTOS E BEBIDAS: quantidade de trabalhadores da Indústria de produtos
alimentícios, bebidas e álcool etílico.
SERVIÇO UTILIDIDADE PÚBLICA: quantidade de trabalhadores em Serviços
industriais de utilidade pública.
CONSTRUÇÃO CIVIL: quantidade de trabalhadores da Construção civil.
COMÉRCIO VAREJISTA: quantidade de trabalhadores no comércio varejista.
COMÉRCIO ATACADISTA: quantidade de trabalhadores do Comércio atacadista.
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: quantidade de trabalhadores de Instituições de
16. 19
crédito, seguros e capitalização.
ADMINISTRAÇÃO TÉCNICA PROFISSIONAL: quantidade de trabalhadores em
Com. e administração de imóveis, valores mobiliários, serv. técnico...
TRANSPORTE E COMUNICAÇÕES: quantidade de trabalhadores em Transportes e
comunicações.
ALOJAMENTO COMUNICAÇÕES: quantidade de trabalhadores em Serviços de
alojamento, alimentação, reparação, manutenção e redação.
MÉDICOS, ODONTOLÓGIOS, VETERINÁRIOS: quantidade de trabalhadores em
Serviços médicos, odontológicos e veterinários.
ENSINO: quantidade de trabalhadores do Ensino
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: quantidade de trabalhadores da Administração pública
direta e autárquica
AGRICULTURA: quantidade de trabalhadores da Agricultura, silvicultura, criação de
animais e extrativismo vegetal.
OUTROS/IGNORADOS: Quantidade em outros ou ignorado.
17. 20
3.2 MÉTODO
Neste estudo, a metodologia de apreciação empregada foi a análise
descritiva, tendo o desígnio de confrontar as suposições da literatura sobre o
tema com os dados e efeitos comensuráveis.
Em virtude da importância de se mensurar as mudanças na média dos
salários da força trabalhadora do município, foi elaborada uma tabela com os
salários médios dos setores mais relevantes para o atual estudo, que são:
Indústria, Construção Civil, Comércio e Serviços.
Para tal, foi usada a variável com as quantias da remuneração recebidas
pelos trabalhadores: REM DEZ (Remuneração de Dezembro em salários
mínimos): representando o total de salários mínimos recebidos pelo conjunto de
trabalhadores do setor específico em dezembro de cada ano.
Foi preciso, porém, transformar os valores relativos a cada ano para preços
atuais, sendo possível assim comparar o real poder de compra dos salários ao
longo do tempo.
Assim, a fim de atualizar o salário do ano em questão para valores correntes
de dezembro de 2010:
: o valor do salário mínimo de cada ano em questão, atualizado
para valores de 2010.
: valor nominal do salário mínimo praticado em dezembro do ano
em questão. Fonte: site do Ministério do Trabalho e emprego
Multiplicador de Unificação Monetária mensal do Banco Central,
para o mês de dezembro do ano trabalhado, que consiste em um índice que
converte o valor da moeda corrente para o Real, do Sistema de Séries
Temporais do Banco Central.
18. 21
: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, relativo ao ano e
mês base, dezembro de 2010.
: Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, do mês de
dezembro de cada ano em qual se está abordando.
Com o intuito de se calcular uma média salarial para cada setor de interesse,
foi utilizada a seguinte equação:
: Média salarial de certo setor em valores corrigidos pela inflação.
: Soma dos salários mínimos recebidos pelos trabalhadores do setor
relevante em cada ano.
: salário mínimo do ano em valores referentes a preços de 2010,
resultado da equação anterior (1) de atualização de valores.
: número de trabalhadores de cada setor estudado ano em questão.
19. 22
4 ANÁLISES DOS RESULTADOS
4.1 ANÁLISE DE EMPREGOS E EMPREGOS POR SETOR ECONÔMICO
Pela visualização dos dados da tabela 1 de números de empregados por
setor econômico dos anos 1985 ao de 2010, construída a partir dos dados da Rais –
Relação Anual de Informações Sociais – do Ministério do Trabalho e Emprego, faz-
se possível a análise dos principais grandes setores de atividade econômica:
Indústria, Construção Civil, Comércio e Serviços. A partir dos dados dessa tabela
nota-se que nos meados da década de 80 era alto o número de empregos no setor
industrial da cidade de Ipatinga, e que com certeza a ampla maioria pertencente à
empresa Usiminas. Já do ano 1988 em diante, tem início uma diminuição desses
postos de trabalho, devido à política de aumento de eficiência com as práticas de
enxugamento de postos de emprego. Isso porque a empresa estava buscando uma
organização mais moderna comparativamente às outras estatais. E ainda por uma
necessidade de adequação prévia para o processo privatizante, que envolvia uma
melhora da eficácia, da produtividade e a limitação do contingente de funcionários.
Como resultado de tal processo, advém uma drástica diminuição de quase
três mil funcionários nesse setor do ano de 1987, quando havia 17.082 empregados
passando para 14.290 em 1988. Por outro lado, um aumento tão expressivo quanto,
se deu no setor de serviços de 1986 para 1987, apoiando a tese de que antigos
funcionários, algumas vezes aposentados, se reposicionaram como prestadores de
serviços e outra boa parcela em empresas terceirizadas atuando na própria
Usiminas. E foram registrados aumentos, apesar de menos expressivos, na seção
do comércio.
A composição percentual dos diversos setores começa a se reformular, com
a queda da ampla maioria do emprego na indústria e um crescimento da taxa no
campo de serviços, fazendo com que os dois setores cheguem a níveis próximos de
participação no total de postos de trabalho no começo dos anos 90. Não apenas na
composição percentual, mas também as quantidades absolutas de empregos se
tornam um tanto parecidas nesse período. Nos anos seguintes há uma estagnação
na indústria, conservando o número de empregos que já havia sofrido uma redução
em razão da privatização da Usiminas em 1991.
20. 23
Tabela 1 – Número de Empregados por setor no município de Ipatinga
INDÚSTRIA CONSTRUÇÃO COMÉRCIO SERVIÇOS AGROPECUÁRIA OUTROS/IGNORADO TOTAL
CIVIL
1985 16152 45.53% 4519 12.74% 3047 8.59% 11745 33.11% 5 0.01% 9 0.03% 35477
1986 16733 49.02% 3108 9.10% 3674 10.76% 10527 30.84% 24 0.07% 71 0.21% 34137
1987 17082 44.36% 2817 7.32% 3750 9.74% 14451 37.53% 1 0.00% 405 1.05% 38506
1988 14130 40.51% 1483 4.25% 3885 11.14% 14924 42.79% 0 0.00% 457 1.31% 34879
1989 14290 35.20% 3562 8.77% 4322 10.64% 17866 44.00% 11 0.03% 551 1.36% 40602
1990 13682 37.46% 2683 7.35% 4143 11.34% 14973 40.99% 22 0.06% 1023 2.80% 36526
1991 13833 37.54% 3028 8.22% 4365 11.85% 14121 38.33% 19 0.05% 1479 4.01% 36845
1992 13500 37.56% 2868 7.98% 3739 10.40% 14271 39.71% 30 0.08% 1534 4.27% 35942
1993 13602 34.67% 2702 6.89% 4254 10.84% 14554 37.10% 41 0.10% 4076 10.39% 39229
1994 14565 37.15% 4623 11.79% 4662 11.89% 14853 37.88% 87 0.22% 420 1.07% 39210
1995 14907 37.14% 5071 12.63% 5711 14.23% 14195 35.36% 56 0.14% 201 0.50% 40141
1996 15143 37.20% 4660 11.45% 5808 14.27% 14959 36.75% 93 0.23% 43 0.11% 40706
1997 15875 37.16% 5823 13.63% 6537 15.30% 14385 33.67% 92 0.22% 9 0.02% 42721
1998 15466 35.38% 4933 11.28% 7835 17.92% 15369 35.15% 115 0.26% 1 0.00% 43719
1999 15304 34.06% 5454 12.14% 8177 18.20% 15900 35.39% 98 0.22% 0 0.00% 44933
2000 15143 33.10% 4867 10.64% 8518 18.62% 17073 37.31% 155 0.34% 0 0.00% 45756
2001 15213 31.32% 6675 13.74% 9033 18.60% 17502 36.03% 150 0.31% 0 0.00% 48573
2002 14447 30.44% 4760 10.03% 9740 20.52% 18244 38.44% 271 0.57% 0 0.00% 47462
2003 14888 30.02% 5041 10.16% 10409 20.99% 19091 38.49% 171 0.34% 0 0.00% 49600
2004 15900 29.72% 5717 10.69% 11507 21.51% 20073 37.52% 300 0.56% 0 0.00% 53497
2005 16257 27.97% 8410 14.47% 12529 21.56% 20666 35.56% 256 0.44% 0 0.00% 58118
2006 17996 30.03% 7224 12.06% 12874 21.49% 21170 35.33% 321 1.09% 0 0.00% 59920
2007 19535 30.69% 8414 13.22% 13461 21.15% 21854 34.33% 387 0.61% 0 0.00% 63651
2008 21692 31.81% 9126 13.38% 14618 21.44% 22457 32.93% 299 0.44% 0 0.00% 68192
2009 23421 33.37% 7299 10.40% 15002 21.37% 24048 34.26% 424 0.60% 0 0.00% 70194
2010 26192 32.60% 12061 15.01% 15826 19.70% 25928 32.27% 341 0.42% 0 0.00% 80348
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
FONTE: RAIS - Ministério do Trabalho e Emprego (2011)
NOTA: Para o ano de 1999, para o setor INDÚSTRIA, e no ano de 2006 para AGRICULTURA, foi considerada a média dos anos anteriores e posteriores devido ao
número fornecido pela Rais não ser condizente com o contexto.
21. 24
Essa constância envolve todos os setores sendo quebrada apenas após o
ano de 1994, em função da estabilidade econômica gerada com o Plano Real e do
fim da tortuosa inflação da década anterior.
Juntando a isso o crescimento e amadurecimento da economia do
município, foi ocasionada uma retomada no aumento de funcionários no setor
industrial, inédita desde o período do processo de privatização da usina. Além deste,
os outros setores também começaram a apresentar razoável crescimento, em
especial o comércio que até então não apresentava um aumento muito abundante
em termos percentuais, mantendo um volume de empregados pouco superior em
relação aos anos anteriores. A partir daí e do ano de 1998 em diante, tem início um
constante crescimento nos postos de trabalho dos vários setores em questão.
Após o ano de 2003 inicia-se uma forte e estável evolução do número de
empregos em todos os setores de atividades da cidade. Provavelmente em razão do
crescimento da economia nacional, com o fortalecimento do mercado interno aliado
a uma conjuntura internacional positiva de também crescimento econômico, como o
da China, representando os maiores indicadores de aumento de Produto Interno
Bruto. Importante notar que o setor que teve o mais intenso progresso foi o
industrial, que pode ser explicado por todo esse ambiente favorável e o alto preço
das commodities, sobretudo o aço e o minério de ferro, produtos da Usiminas.
Do ano de 2003 a 2010 os setores de Serviços, Comércio e Construção Civil
apresentaram crescimento da ordem de cerca de 5 mil empregados cada um,
enquanto o da Indústria proporcionou sozinho um crescimento de praticamente 10
mil funcionários ao longo desse mesmos período. Com isso, a Usiminas passou dos
16 mil postos de trabalho – o mesmo nível da década de 80 – para
aproximadamente 26 mil, índice muito superior e inédito até então.
Desta forma, o montante de funcionários da indústria alcançou um patamar
superior ao do longínquo período anterior à privatização, como mostrado mais
claramente pelo gráfico 1. Sendo uma evidência de que a cidade e essa atividade
econômica superaram algumas das potenciais desvantagens da desestatização de
sua empresa siderúrgica, seu principal agente econômico.
22. 25
INDÚSTRIA
30000
25000
20000
15000
INDÚSTRIA
10000
5000
0
GRÁFICO 1 - Número de Empregos da Indústria em Ipatinga
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
Devido ao fato de a divisão “Indústria” abranger muitos tipos de atividades
distintas à da siderúrgico-metalúrgica concernente a Usiminas, pode não ficar muito
exato se foi preponderantemente nesse ramo industrial que houve o crescimento
anteriormente mencionado. Por esse motivo, examinaram-se dados com os números
de empregados em específicas seções do setor de indústrias. Construindo assim, a
tabela 2, com um detalhamento mais minucioso das atividades no período daquele
admirável crescimento do ano de 2003 ao de 2010. Ao ponderar sobre essa tabela,
fica evidente que o setor metalúrgico, que inclui a siderurgia e, por conseguinte a
própria Usiminas, é o de superior magnitude e ainda apresenta a maior elevação.
Como pode ser visualizado no gráfico 2.
Imprescindível ressaltar que o grupo “Indústria Metalúrgica” apresenta um
crescimento de aproximadamente 100% na quantia de trabalhadores ao longo
desses sete anos em questão.
Ao se comparar a tabela 2 com a tabela 1 é possível notar ainda que a
evolução de empregos na particular seção metalúrgica apresentou uma maior taxa
de crescimento que a do setor Industrial como um todo. Se o conjunto da indústria
percebeu aumento na casa de 75%, individualmente o setor da indústria
23. 26
metalúrgico-siderúrgica atingiu o dobro do número de funcionários em 2010 em
relação aos de 2003.
No trabalho de Souza e Carvalho Neto (2009), afirmou-se que os
empregados remanescentes dos desligamentos da Usiminas se remanejariam para
o setor de serviços, entretanto ao longo dos anos o setor que apresentou maior
crescimento, tanto em participação ante os demais quanto em números absolutos,
foi na verdade o comercial. Tal setor foi por muito tempo bem diminuto comparado
aos principais, industrial e serviços, contudo foi aumentando de forma estável
alcançando um número comparável e aproximadamente próximo a esses setores,
culminando de tal modo em uma forte participação na composição do mercado de
trabalho. Essa situação e a magnitude da participação dos demais setores pode ser
observado no gráfico 3.
30000
IND CALCADOS
25000
IND TEXTIL
IND QUIMICA
20000 BOR FUM COUR
PAPEL E GRAF
15000 MAD E MOBIL
MAT TRANSP
ELET E COMUN
10000
IND MECANICA
IND METALURG
5000
MIN NAO MET
EXTR MINERAL
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
GRÁFICO 2 - Composição dos Subsetores Industriais
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
24. 27
100%
90%
80%
70%
OUTROS/IGN
60% AGROPECUÁRIA
50% SERVICOS
COMÉRCIO
40%
CONSTRUÇÃO CIVIL
30% INDÚSTRIA
20%
10%
0%
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009
GRÁFICO 3 - Composição Setorial de Empregos
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
27. 30
4.2 ANÁLISE DE EMPREGOS POR NÍVEL EDUCACIONAL
Utilizando a tabela 3 e o gráfico 4 da “Quantidade de Trabalhadores por
Grupos Educacionais”, composição educacional dos trabalhadores, pode-se inferir
que na década de 80 a maior parte da força trabalhadora da cidade era composta
por indivíduos que apresentavam escolaridade apenas até o Ensino Fundamental. A
maioria, por volta de 20%, possuía o quinto ano completo do ensino fundamental.
Por volta de 15% tinham apenas até o quinto ano incompleto do ensino fundamental,
enquanto outra parcela perto de 15% possuía do sexto ao nono ano do ensino
fundamental.
100%
90%
IGNORADO
80% DOUTORADO
70% MESTRADO
SUP COMP
60%
SUP INCOMP
50% MEDIO COMPL
MEDIO INCOMP
40%
FUND COMPL
30% 6 A 9 FUND
5A CO FUND
20%
ATE 5A INC
10% ANALFABETO
0%
86 88 90 92 94 96 98 2000 2002 2004 2006 2008 2010
GRÁFICO 4 – Quantidade de Trabalhadores por Grupos Educacionais
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
30. 33
Já do ano de 1991 em diante, começa um aumento e preponderância do
conjunto dos trabalhadores com Sexto ano do Ensino Fundamental ao Nono ano,
além de um significativo aumento dos funcionários com Ensino Médio completo e
com Ensino Superior completo e incompleto. O levantamento condiz com a teoria de
que, com o processo de privatização ocorrido no mesmo ano, a empresa ao se
modernizar buscaria funcionários com maior grau educacional e mais preparados
para uma estrutura organizacional mais dinâmica e eficiente. Incluindo ainda ao
conjunto de empresas do mercado buscar também uma maior eficiência, dada a
nova economia aberta ao mercado externo.
A partir de então, nota-se uma constante diminuição do número de indivíduos
com os mais baixos graus de instrução, com os grupos de “até o quinto ano do
Ensino Fundamental” e “com quinto ano completo do Ensino Fundamental”
perdendo cada vez mais sua participação no total. Principalmente na entrada dos
anos 2000 cedendo espaço, cada vez mais, aos grupos de “Ensino Fundamental
Completo” e principalmente “Ensino Médio Completo”, além de aumentos
consideráveis nos grupos de nível superior de ensino.
Em 2010, o conjunto de “Ensino Médio Completo” abrangia praticamente
metade de toda a população trabalhadora. E, notavelmente, significativa quantidade
de indivíduos com títulos de Mestrado e Doutorado que em anos anteriores eram
ínfimos. Os avanços na escolaridade e nos títulos podem ser explicados pelo avanço
do processo educacional nas últimas décadas e pela demanda cada vez maior do
mercado por trabalhadores com alto grau de especialização.
31. 34
4.3 ANÁLISE DE SALÁRIO POR SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA
Analisando a tabela 4 e o gráfico 5 dos salários médios per capita dos
diferentes setores da cidade de Ipatinga, é possível ter uma noção global da
evolução dos rendimentos ao longo do tempo em cada setor estudado e fazer uma
comparação entre estes.
O ponto mais aparente é o de que o salário do setor industrial foi sempre o
maior entre os quatro grupos em qualquer ano observado, indicando sua importância
como maior gerador de receita para o município. Ao contrário do que poderia sugerir
a literatura sobre a desestatização acerca dos salários, não há um indício de
diminuição dos salários globais no setor logo após a privatização. Desde 1986 até
os anos seguintes à Privatização (em 1991) a média dos salários se mantém
oscilando em torno dos R$ 3.000,00.
À propósito, tal montante representa um valor bem alto ao se comparar com
os outros setores da economia, significando quase o triplo do valor do segundo setor
de maior salário, o de serviços. Nos anos de maior amplitude entre tais, é
aproximadamente seis vezes o do setor de comércio, por exemplo. Assim, constata-
se o poder de geração de renda da indústria para a economia local, como era de se
esperar pela teoria pertinente ao tema. Porém, a partir de 1996 há um estável
declínio no montante dos proveitos do grupo indústria, culminando em grande
diferença entre os salários dos anos inicias e finais da amostra, gerando então uma
razoável diminuição de sua importância, causada também pelo aumento dos
rendimentos dos outros setores. O comércio, que nos anos iniciais remunerava
muito aquém aos demais, passou a crescer sobretudo após 2005, diminuindo essa
amplitude ante aos demais grupos.
Adotando em conjunto o tema dos salários e o da evolução do número de
trabalhadores, conclui-se que houve crescimento na quantidade de pessoas
empregadas e que foram gerados aumentos reais nos valores recebidos pelos
diversos setores de atividade econômica, excetuando-se o da indústria. Apesar
disso, o resultado final é um tanto quanto dúbio. Já que por outro lado, observa-se
que o salário industrial era bem maior que os demais e foi sofrendo aguda contração
ao longo do tempo. Contrabalanceando de certa forma o efeito positivo do aumento
do número de empregos percebido pelo estudo.
32. 35
R$ 4,500.00
R$ 4,000.00
R$ 3,500.00
R$ 3,000.00
R$ 2,500.00 INDUSTRIA
CONSTR CIVIL
R$ 2,000.00
COMERCIO
R$ 1,500.00 SERVICOS
R$ 1,000.00
R$ 500.00
R$ -
GRÁFICO 5 - Salários Médios
FONTE: Elaboração do autor a partir de dados da Rais (2011)
Para completar, inicialmente a maior parte do número de empregos se dava
no setor industrial. Todavia, foi ocorrendo de modo progressivo um deslocamento
para os outros setores, decorrendo em uma configuração em que o setor de serviços
abrange parcelas muito semelhantes de participação. E o comércio e a construção
civil, parcelas muito mais relevantes do que outrora. O que resulta em uma menor
renda se comparado à suposição de que o aumento absoluto nos números de
empregos se desse na mesma estrutura anterior de participação prioritariamente
industrial, já que superior quantia da população auferiria os maiores salários médios.
34. 37
5 CONCLUSÃO
O atual estudo teve o intuito de agregar conhecimento sobre o universo
econômico da cidade de Ipatinga, em Minas Gerais. Sendo um caso específico, mas
que pode servir para exemplificar parte de uma tese macroeconômica elabora
envolvendo diferentes temas. A literatura econômica nos apresenta diversos
modelos e abordagens sobre o tema de empresas estatais e sua antagonista
privatização com toda a característica competitiva do setor privado. Se por um lado,
há toda a discussão sobre a eficiência do Estado-empresário e do monopólio
natural, por outro, os efeitos concretos e localizados serão os que realmente
importarão para ratificar as suposições da teoria.
Por tais razões e pelo interesse em se estudar os aspectos da economia
regional. Além disso, o estudo teve a finalidade de entender melhor as
conseqüências de tão intensa modificação que representa a desestatização de uma
grande empresa de tanta importância para uma cidade de médio porte.
Pelas anteriores análises ficou claro que com o plano de privatização da
Usiminas, o emprego diminuiu no processo de enxugamento de postos precedente.
E após isso, a criação de empregos em seu setor e subsetores ficou estagnada. No
entanto, assim como indicava a literatura consultada, ocorreu um deslocamento do
número de empregos para outros setores. Foram consideráveis os crescimentos nos
setores da construção civil, comércio e serviços. Em especial nos anos seguintes ao
de 1997, em que o ramo industrial apresentava baixas mudanças enquanto os
referidos setores geraram novas vagas com intensidade.
De 2003 em diante, a situação começou a se modificar. Os setores de
atividades terciárias continuam a incrementar o número de empregos, porém é a
indústria que passa a ter as maiores percentagens de ampliação no quadro de
funcionários, apresentando um cenário ainda não exposto pela literatura sobre a
cidade. E ainda, questionando as publicações que previam apenas contrações no
que concerne ao número de trabalhadores da indústria.
No que diz respeito ao nível educacional do conjunto de trabalhadores,
houve um intenso aperfeiçoamento da força trabalhadora da cidade. Em grande
parte pode ser explicado pela elevação do nível educacional no Brasil, e a cada vez
35. 38
maior exigência do mercado por mão-de-obra qualificada. De qualquer forma, indica
que a economia ipatinguense acompanhou essa evolução educacional. Sendo assim
possivelmente, um indicador de que o supracitado crescimento do montante de
postos de trabalho se deu em empregos de, ao menos, nível melhor que
subemprego.
Como foi examinado no quesito da remuneração média, ocorreram drásticas
variações no padrão dos valores pecuniários recebidos por todos os setores
estudados; Indústria, Construção Civil, Comércio e Serviços. Especificamente na
atividade indústria incidiu uma retração no salário médio, explicado pelo fato de que
era típico de uma estatal conceder maiores benefícios que o setor privado. Todavia,
salvo este setor, todos os demais apresentaram uma evolução positiva em termos
de ganhos monetários em média.
Chegando assim a uma conjectura em que um setor, a propósito o de maior
relevância econômica, aufere uma situação inferior no sentido de benefícios
monetários para seus funcionários que, no entanto, é contrabalanceada por
aumentos em sua extensão de efetivo de trabalhadores. Pesando ainda mais, tanto
a ampliação no quesito quantidade de trabalhadores em todos os grandes setores
verificados, como pelos incrementos nas remunerações monetárias desses setores.
Agregando o total dos efeitos incididos em Ipatinga, decorrentes do processo
de privatização e do desenvolvimento sócio-econômico do Brasil, conclui-se que os
setores da cidade, excetuando-se o industrial, atingiram um melhor nível de bem-
estar social, ao se levar em conta apenas os elementos examinados.
Isso em função de a população prejudicada, que seria dos funcionários da
Usiminas nos tempos anteriores a privatização que sofreram contração de seus
salários médios, representaria uma menor parcela em relação à totalidade de
trabalhadores. Já que um elevado plantel de funcionários foi acrescentado ao
quadro da empresa e dos demais setores, e que nesses outros setores, além disso,
os empregados tiveram ganhos na média salarial. Culminando assim, em uma
superior situação econômica social do município comparada à fase estatal de sua
principal empresa.
Levando em conta que este estudo enfocou apenas as características do
mercado de trabalho, seria interessante que futuros trabalhos buscassem mensurar
o crescimento do PIB, as mudanças nas quantidades de estabelecimentos de
36. 39
negócios dos vários segmentos e a evolução das arrecadações tributárias
municipais. A fim de incluir outros fatores econômicos, aperfeiçoando assim, o
entendimento da evolução da economia da cidade.
E ainda, para se contextualizar a situação particular do mercado de trabalho
ipatinguense, seria importante calcular os salários médios de cada setor em outras
cidades ou regiões, tornando possível uma comparação mais abrangente.
37. 40
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