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JORNAL MENSAL DA SUBCULTURA ZERO
MAIO 2013
DYED
SOUNDOROM
MAGAZINO
SEXTA03
OSCAR MULERO / RODRIGUEZ JR / DJ VIBE / VISIONQUEST / SASCHIENNE
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
Este é o SUBZERO.
Um jornal que se foca na
subcultura ZERO: no Club, nos
artistas, nos convidados e na
paixão pela música. O ZERO
é por isso o ponto de partida
para visões e escutas variadas,
deixando possibilidades em
aberto a cada fim-de-semana.
A cada mês. Não falamos para
todos, mas para aqueles que
procuram a novidade. Não somos
os que seguem multidões, mas os
que correm atrás da sonoridade
ainda fresca. Logo, estas não são
apenas páginas para folhear.
São novas ideias a reter como
uma boa música, que toca mais
além do que o ouvido.
NÚMERO ZERO / MAIO 2013 / FICHA TÉCNICA
Director Criativo: Gil Correia / Editora: Ana Castanho / Colaboradores: Hugo Branco, Filipe Alves, Francisco Morgado Véstia,
João Pires e Rui Murka / Direcção ZERO: João Gonçalves / Informações e Booking: info@zerolisboa.pt / Impressão: Gráfica
Funchalense / Tiragem: 3000 exemplares / Depósito Legal: 31517SN / O jornal SUBZERO é uma publicação gratuita do Club
ZERO que não pode ser vendida. Mais info: zerolisboa.pt ou facebook.com/zeroclub.official
MAIO 2013
03 Dyed Soundorom +
Magazino
04 Ka§par + Vahagn
10 Dj Vibe
11 Bloop After Party (dOP):
Rodriguez Jr + Zé Salvador
17 Mike Denhert + Jiggy
18 Visionquest vs Innervisions:
Shaun Reeves + Marcus
Worgull + Zé Salvador
24 Oscar Mulero + Freshkitos
25 Saschienne Live+djset +
Zé Salvador + Gilvaia
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
Eis o aguardado regresso do francês Dye Soundorom, já presente
em outras ocasiões na cidade, pela mão da Bloop Recordings e
Circoloco. Desta feita, junta-se a Magazino para uma noite que
promete muitas mãos no ar e pista cheia.
DYED SOUNDOROM
MAGAZINO
SEXTA03
APOLLONIA
MÉNAGE
Texto por Ana Castanho
Já sabemos muito sobre Dyed
Soundorom, cuja relação com
Portugal se foi estreitando pelas
mãos da Bloop Recordings, em
passagens que deixaram boa
memória. Mas como francês que
é, puxa-nos um lado por explorar:
o da ménage, claro. Essa trindade
que nos revela uma editora a
três, a honrar outras três do ramo
da música já muito distante –
Apollonia.
Com Ghenacia e Shonky, parceiros de
igual renome na cena musical, Dyed
fundou editora com nome de girl band.
Sim, a mesma Apollonia que Prince
lançou nos anos 80. Apollonia 6, para
a precisão, era um trio de meninas que
sucedeu ao projecto Vanity 6, depois
da vocalista das Vanity ter abandonado
o projecto e a entourage do músico
para se dedicar a projectos de
mowtown. Prince desencadeou então
a procura cerrada pela próxima estrela
do grupo e das filmagens de Purple Rain
– onde se estreou como actor, para
além de compositor da famosa banda
sonora. Procurou e achou-a: Patricia
Kotero, rebaptizada de Apollonia,
reconfigurando o trio sob influências
Disco, Funk e House. Estava lá tudo,
inesperadamente bem.
Sobre estas bases, Dyed descreve o
encontro perfeito na música “where
white soul meets black music”. E foi com
esse feel que pegou nos resquícios da
editora Freak’N Chic para começar um
novo projecto, a três, extrapolando com
Ghenacia e Shonky os limites de género
na electrónica.
Ganharam por isso o devido lugar nas
noites Circoloco. Back-to-back sessions
onde cruzam o house mais underground
com a electrónica, com reconhecida
alma, intensidade e maturação. E
nenhum destes factores irá faltar à noite
que se faz aguardar.
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
Texto por Ana Castanho
“So get up! Forget the past. Go
outside and have a blast.”. Era
o que dizia a letra, por Darin
Pappas, que agora ecoa de
outra maneira. De uma maneira
revivalista, mas boa.
Tó Pereira, DJ Vibe, é um marco na
música de dança dentro e fora do
panorama nacional. E quanto a isso
nada se pode retirar, havendo tanto
mais a acrescer. Principalmente sob
esta sensação de “bom regresso”, que
não o é, mas parece ser.
Nos anos 90, Portugal parecia fervilhar
com música e semear dança por
aí: produtoras, festas, agências, DJs,
mixes, remixes, volumes de numeração
avançada, compilações, tops e hypes
de uma noite que parecia não acabar.
Kaos, Alcântara Mar, X-Club, X-Man
XL Garcia, Jiggy e Vibe – entre outros
nomes da cena electrónica e espaços
onde dançar – ficaram para os
anuários e continuaram a fazer história.
Essa que se reinventa, mesmo que por
períodos de latência dê lugar a outras
curiosidades.
Vibe não se “recicla”. Hoje levanta
o volume para algo novo, tão
genuinamente bom como na primeira
vez em que se fez ouvir, nos primeiros
anos em que todo este cenário era
pura descoberta. Claro, palmilhou
caminho por muitos – aquando o house
era elitista e o techno para massas,
mesmo que hoje se revelem tendências
opostas. Mas essas, como o tempo,
também mudam. Não deixam é ter o
seu espaço, o seu mérito, a sua casa. E
Vibe tem aqui a sua.
A CENA
EM ASCENSÃO
KA§PAR + VAHAGN
SÁBADO04
DJ VIBE
SEXTA10
HAVE
A BLAST
Texto por Rui Murka
Fotografia por Valeria Galizzi Santacroce
A história da música de dança
é feita de pessoas que em
determinados momentos
resolvem ‘fazer acontecer’.
Frequentemente, essa atitude
é reflexo de uma insatisfação,
de uma procura ou de não
se reverem no que as rodeia.
Outras vezes, é mais simples.
É, apenas, reflexo das suas
influências estéticas. Mas o
que faz realmente as coisas
acontecerem? Quais as
dificuldades? Que tipo de
indivíduos e situação são mais
ou menos propícias?
Muitas vezes o limite é a inércia interior
de cada agente, o apenas ver os
aspectos negativos e as dificuldades,
o sentir-se isolado, o não ter uma visão
prática para comunicar o que produz.
Mas, raramente, há momentos em que
várias pessoas sentem e comunicam o
mesmo entre si conseguem fazer algo
de único e mágico.
Algo que é dinâmico e em que não
se percebe quem influência quem
e que, lentamente, todos começam
a ter consciência do que se está a
passar. Este é, talvez, o momento que
define os acontecimentos como algo
de duradouro e consequente, ou
apenas como algo de circunstancial.
Sem perceberem como, estas pessoas
vêem-se envolvidas em algo a que se
chama “cena”.
O facto de alguém se sentir pertença
de um movimento e de, ao olharem
para o lado, ver outros criadores,
artistas, agentes,‘business man’ a
produzir funciona como uma das
principais motivações, que leva todos
a acreditar. É possível e as dúvidas
dissipam-se . É possível fazer igual
aquelas pessoas, movimentos e clubs
que sempre tiveram como referência,
mas com a particularidade de agora
não serem apenas espectadores/
consumidores. São actores no seu
próprio filme.
Não há regras, mas há felizes
conjugações para tudo isto acontecer.
Por vezes é preciso esperar muitos
anos para vermos os resultados. Algo
de muito dinâmico se está a passar
por cá e, ao contrário de outras
situações anteriores, não é isolado.
É consequente. Neste sentido, as
sonoridades Techno e House, nas suas
vertentes mais cósmicas e abstractas
estão a assistir à afirmação de 2
representantes, que há muito espalham
a música pelos clubs portugueses. Ao
fechar os olhos para ouvir as recentes
produções de Ka§par e Vahagn,
facilmente somos transportados para
territórios onde os países não contam.
Ka§par lança Ascensus, pela 4Lux,
e celebra a conquista em casa,
partilhando chão com Vahagn, cujo
trabalho com The Sky People está
prestes a voar por aí. Entre um e outro,
somos levados para a dimensão do
Techno de Detroit, onde confundiríamos
as suas produções com temas de
Moodymann, Carl Craig ou Theo
Parrish. Exagero? Talvez. O tempo assim
o confirmará, ou não. Até lá, resta-nos
dançar num espaço onde encontramos
estes e outros djs que fazem parte de
toda esta cena, da nossa cena. Ou seja,
é lá que cena, também, se passa.
Que a festa continue.
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
BLOOP AFTER PARTY (dOP)
RODRIGUEZ JR + ZÉ SALVADOR
SÁBADO11
O CULTO
DA FESTA
Texto por Francisco Morgado Véstia
Damien, Clément e Jonathan,
são tão franceses que irritam.
Irritam no sentido que fazem
tudo bem, seja house-sinfónica,
techno-orgânico, trip-hop
tripalhoco ou hip-hop do chá
das cinco. Decidiram que a
electrónica não se faz só de
electrónica, quea tem lugar
a instrumentos de sopro,
guitarras, congas e oboés,
e que meter fronteiras num
género é limitar a criatividade,
e isso, à falta de melhores
palavras, é muito estúpido.
O “Sub Rosa EP” toca assim intimista
pelos tímpanos adentro, e eu aproveito
para agradecer a Deus e ao Paypal
pelos pagamentos electrónicos que
me permitem a conta premium,
os headphones de construção
dinamarquesa e os fim de tarde de
paisagem lisboeta. Tudo envolto numa
névoa e fervor domingueiros, enquanto
uma voz de sotaque com demasiado
jet-lag me sussurra: “you descend from
the lighthouse”.
A minha cadeira agora baloiça, tenta
resistir a tentação de ir à cozinha fazer
um gin-tónico em passo de dança. Algo
frutado, afinal de contas agora toca
“Take Care of Me” e acho que também
tenho direito a tomar conta do meu
palato e do meu bem-estar.
Isto merecia um palco, merecia
aquelas tardes em que o calor já
se confunde com o compassar dos
corpos que ambicionam mais ritmo
que alimento, mais inspiração que
cansaço. Mais festa, talvez até aquelas
madrugadas que nos fazem encontrar
uma excelente desculpa para levar
óculos de sol para um club.
dOP, 11 de Maio, 48 horas antes de mais
um aniversário de uma alucinação
colectiva com direito a mosteiro no
oeste Português. Os três franceses
trazem-nos uma matiné, também de
alucinação colectiva, que depois
poderemos batizar de milagre, esticar
a festa até a mais uma madrugada no
ZERO, e começar uma religião, quem
sabe…
Afinal de contas estou a ouvir a melhor
versão de “Nature Boy” desde Nat-King
Cole e agora acredito que tudo é
possível. Até milagres.
Outro que não é santo, mas francês
concerteza, é Rodriguez Jr. que os
acompanha numa noite que se
espera... Abençoada.
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
Texto por Ana Castanho
Visionquest e Innervisions.
Mais do que editoras...
chamemos-lhe cenários de
visão, de demanda interior
como nos rituais chamânicos,
quando em busca de guia - ou
de uma identidade própria.
Elas nada têm de etéreo nem
de esotérico, mas a verdade é
que quando se fala de música,
a procura pede introspecção.
Seguramente, para chegar a
um registo de unicidade que
marque, que se estabeleça
para a vida. E se possa
construir em cima dela.
Para a Visionquest a clarividência fez-se
de um ritual de passagem. Fez-se na
evolução (ou revolução) da Era de
Detroit, tão poderosa como inspiradora,
em especial para a House Music. Se
Detroit foi chão fértil para o boogie,
disco, dub, electro, funk e soul até aos
anos 80, seria natural - então - que
a semente crescesse, olhando para
o seu passado, mas com uma visão
de futuro. Foi aqui que o House fez
caminho nas suas inúmeras variantes,
entre o deep o vocal ou o acid. Mas,
mais recentemente, reinventado pelas
mãos de novos guias. Shaun Reeves é
um deles, ao lado de Seth Troxler, Ryan
Crosson e Lee Curtiss. Herdeiros reais de
um património tão rico que - por si - é
quase espiritual, fazendo destes um
um DJ combo dos mais apetecidos no
planeta. Reeves conta, por isso, com
remixes recentes para Tracey Thorn
(Strange Feeling), doP & Seuil (Eklo) e
Paul Ritch & D’Julz (Quartz Music). E ele
e os irmãos não páram por aqui.
Assim como o séquito da Innervisions,
cuja demanda se faz pela
reinterpretação das influências de
Detroit, desta feita a partir de Berlim.
Pelas mãos dos sábios Dixon e Âme,
Marcus Worgull não é um iniciado, é DJ
e produtor cujo alcance já vai longe.
Com alma quanto baste. E só por isso já
se espera uma noite única, sob o chão
do nosso Club.
Façam caminho.
MIKE DEHNERT + JIGGY
SEXTA17
TECHNO
VISIONQUEST vs INNERVISIONS:
SHAUN REEVES + MARCUS
WORGULL + ZÉ SALVADOR
SÁBADO18
Texto por Hugo Branco
Fotografia por Marie Staggat
Algures dentro de um
grande cofre, a escuridão
e a neblina são cortadas
por intermitentes rajadas de
luzes azuis e vermelhas, e o
silêncio de uma área urbana
outrora adormecida vê-se
agora invadido por golpes
graves, que ecoam e se
fazem mais fortes à medida
que atravessamos um longo
corredor.
Chegamos por fim a uma sala de tecto
baixo, onde uma pequena multidão se
contorce exaltada ao som dos densos
graves e das batidas repetitivas do
último grito em música electrónica de
dança..
Actualmente considerada a capital do
estilo, Berlim assume a sua aventura
amorosa com o Techno por volta de
1991, por trás das pesadas portas de um
velho cofre chamado Tresor. Oriundos
de ambos os lados de uma cidade
outrora dividida, os jovens berlinenses
tinham finalmente encontrado um
denominador comum: o Techno viajara
uns bons milhares de quilómetros desde
Detroit, e viera para ficar.
Mike Dehnert é herdeiro directo deste
movimento e, se “real” e “cru” parecem
ser os adjectivos mais correntemente
utilizados para definir a sua sonoridade,
“consistente” será talvez aquele que
melhor se adequa ao seu trabalho.
Dono das conceituadas Fachwerk e
MD2, Dehnert tem desde 2007 vindo a
editar consistentemente a sua música
também em outras editoras de renome
como a holandesa Clone Records.
Forte e envolvente, faz-se hoje em dia
dançar um pouco por todo o mundo,
mas sobretudo nos melhores clubes
da cidade que o acolheu, dos quais
o consagrado Berghain e o já referido
Tresor são os perfeitos exemplos: Techno
sem espinhas nascido e criado em
Berlim.
RITUAL DE
PASSAGEM
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
OSCAR MULERO
FRESHKITOS
SEXTA24
DE
pedra
E cal
Texto por Filipe Alves
Fotografia por Jerry Knies
Após um período onde, aos
olhos de alguns, o techno
parecia hibernado, arredado
das primeiras filas e num
estado letárgico, eis que volta
a cair sobre o género todo
um foco de atenções como se
nestes dias o moribundo tivesse
ressuscitado. Nada de mais
errado.
Por esse mundo, em estudios caseiros
improvisados, o techno continuava
a reinventar-se, editoras de cariz
amador davam a conhecer-nos as
novas tendências, djs em clubes mais
ou menos underground faziam soar
os temas que exploravam as infinitas
capacidades do género face a um
publico sedento pela novidade. Assim
prosseguiu o techno o seu percurso,
iniciado há quase 3 décadas, indiferente
a modas conjecturais, abstraindo-se de
tendências, assumindo-se naturalmente
vanguardista e inconformado. E assim
é Oscar Mulero, que em meados de 90
na cidade de Madrid abre o clube The
Omen, furando o marasmo reinante na
capital do Estado Espanhol. Foi uma
curta aventura, de um par de anos,
mas tornou-se um ícone ainda hoje
celebrado, e na altura uma autêntica
Meca para os devotos do estilo. Esse
mesmo inconformismo serve hoje
de motivação para o seu trabalho,
desdobrando-se em projectos que
refletem as suas diversas facetas - Trolley
Route, Dr. Smoke - criando editoras
que promovem a sua musica e a dos
seus conterrâneos - Warm Up, Pole -
diversificando a selecção musical a
cada dj set.
Se “Grey Fades to Green”, primeiro
álbum de originais, constituía-se
como uma homenagem aos anos
90 e aos artistas que para si melhor
representavam esse período - Jeff
Mills, Dave Clarke ou Surgeon - o
posterior “Black Propaganda” reflecte a
sonoridade com que hoje se encontra
mais identificado, onde pontificam
nomes como os de Perc, Lucy ou
Obtane. Nos seus dj sets, profundos e
sombrios, não tivesse sido O.M. devoto
seguidor da E.B.M. e Industrial, ambos
os períodos históricos se cruzam e
complementam numa amálgama
sonora que em tudo faz sentido. “Proper
techno will always be here to stay” dizia
em entrevista seguramente traduzida.
E este autor não podia estar mais de
acordo.
subzero#0
maio/2013
subzero#0
maio/2013
Texto por Ana Castanho
Como Ike e Tina, Sunny e Cher,
Annie Lenox e David Stewart ou
os White Stripes – que não eram
irmãos, não senhor.
O amor tem estranhas formas de se
expressar, mais ainda de se consolidar.
Valha-nos o tempo, a paciência e a
esperança suficientes de que resulte. Ou
voltar a tentar. Quando há uma paixão
comum, vá-se lá saber porquê, parece
multiplicar-se a batida. Prolongar-se o
compasso cardíaco, já de si musicado,
em especial se acompanhados da
banda sonora que parece fazer sentido.
Uma muito própria, única.
Este é o caso de muitos casais que,
só de vez em quando, surgem em
verdadeira parelha musical, quando
o amor foi mais longe e onde seria
improvável chegar. Saschienne são
disso um bom exemplo, sem as marcas
de Ike e Tina, sem o espectáculo de
Sunny e Cher, mais comedidos que
Annie Lenox e David Stewart, e sem as
ambiguidades de Jack e Megan White.
Este é um casal de bom resultado
e de boa viagem. Sascha Funke e
Julienne Dessagne são Saschienne.
Ele, protagonista do techno alemão
com 13 anos de carreira e por trás das
editoras Bravo e Mango, apaixonou-
se pelo seu complementar. Por ela,
instrumentista multi-facetada, cantora
e mulher. Um complemento que foi
porta aberta para a inspiração e (re)
equilíbrio, quando Sascha já caía num
cinzentismo musical – numa daquelas
fases que calham a todos.
Pista para dois
De volta à Kompakt, fala de uma
sonoridade espontânea, harmonia
no meio do caos que cada beat
pode provocar. Techno a dois, que
não se pode dizer romântico se já
não o fosse. Explorando comunhão e
discórdia, que o amor também os traz,
enriquecendo o que chega à pista e
aos apaixonados pela música.
SASCHIENNE LIVE+DJSET
ZÉ SALVADOR + GILVAIA
SÁBADO25
Zero maio(2)

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100 CAGE
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Zero maio(2)

  • 1. JORNAL MENSAL DA SUBCULTURA ZERO MAIO 2013 DYED SOUNDOROM MAGAZINO SEXTA03 OSCAR MULERO / RODRIGUEZ JR / DJ VIBE / VISIONQUEST / SASCHIENNE
  • 2. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 Este é o SUBZERO. Um jornal que se foca na subcultura ZERO: no Club, nos artistas, nos convidados e na paixão pela música. O ZERO é por isso o ponto de partida para visões e escutas variadas, deixando possibilidades em aberto a cada fim-de-semana. A cada mês. Não falamos para todos, mas para aqueles que procuram a novidade. Não somos os que seguem multidões, mas os que correm atrás da sonoridade ainda fresca. Logo, estas não são apenas páginas para folhear. São novas ideias a reter como uma boa música, que toca mais além do que o ouvido. NÚMERO ZERO / MAIO 2013 / FICHA TÉCNICA Director Criativo: Gil Correia / Editora: Ana Castanho / Colaboradores: Hugo Branco, Filipe Alves, Francisco Morgado Véstia, João Pires e Rui Murka / Direcção ZERO: João Gonçalves / Informações e Booking: info@zerolisboa.pt / Impressão: Gráfica Funchalense / Tiragem: 3000 exemplares / Depósito Legal: 31517SN / O jornal SUBZERO é uma publicação gratuita do Club ZERO que não pode ser vendida. Mais info: zerolisboa.pt ou facebook.com/zeroclub.official MAIO 2013 03 Dyed Soundorom + Magazino 04 Ka§par + Vahagn 10 Dj Vibe 11 Bloop After Party (dOP): Rodriguez Jr + Zé Salvador 17 Mike Denhert + Jiggy 18 Visionquest vs Innervisions: Shaun Reeves + Marcus Worgull + Zé Salvador 24 Oscar Mulero + Freshkitos 25 Saschienne Live+djset + Zé Salvador + Gilvaia
  • 3. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 Eis o aguardado regresso do francês Dye Soundorom, já presente em outras ocasiões na cidade, pela mão da Bloop Recordings e Circoloco. Desta feita, junta-se a Magazino para uma noite que promete muitas mãos no ar e pista cheia. DYED SOUNDOROM MAGAZINO SEXTA03 APOLLONIA MÉNAGE Texto por Ana Castanho Já sabemos muito sobre Dyed Soundorom, cuja relação com Portugal se foi estreitando pelas mãos da Bloop Recordings, em passagens que deixaram boa memória. Mas como francês que é, puxa-nos um lado por explorar: o da ménage, claro. Essa trindade que nos revela uma editora a três, a honrar outras três do ramo da música já muito distante – Apollonia. Com Ghenacia e Shonky, parceiros de igual renome na cena musical, Dyed fundou editora com nome de girl band. Sim, a mesma Apollonia que Prince lançou nos anos 80. Apollonia 6, para a precisão, era um trio de meninas que sucedeu ao projecto Vanity 6, depois da vocalista das Vanity ter abandonado o projecto e a entourage do músico para se dedicar a projectos de mowtown. Prince desencadeou então a procura cerrada pela próxima estrela do grupo e das filmagens de Purple Rain – onde se estreou como actor, para além de compositor da famosa banda sonora. Procurou e achou-a: Patricia Kotero, rebaptizada de Apollonia, reconfigurando o trio sob influências Disco, Funk e House. Estava lá tudo, inesperadamente bem. Sobre estas bases, Dyed descreve o encontro perfeito na música “where white soul meets black music”. E foi com esse feel que pegou nos resquícios da editora Freak’N Chic para começar um novo projecto, a três, extrapolando com Ghenacia e Shonky os limites de género na electrónica. Ganharam por isso o devido lugar nas noites Circoloco. Back-to-back sessions onde cruzam o house mais underground com a electrónica, com reconhecida alma, intensidade e maturação. E nenhum destes factores irá faltar à noite que se faz aguardar.
  • 4. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 Texto por Ana Castanho “So get up! Forget the past. Go outside and have a blast.”. Era o que dizia a letra, por Darin Pappas, que agora ecoa de outra maneira. De uma maneira revivalista, mas boa. Tó Pereira, DJ Vibe, é um marco na música de dança dentro e fora do panorama nacional. E quanto a isso nada se pode retirar, havendo tanto mais a acrescer. Principalmente sob esta sensação de “bom regresso”, que não o é, mas parece ser. Nos anos 90, Portugal parecia fervilhar com música e semear dança por aí: produtoras, festas, agências, DJs, mixes, remixes, volumes de numeração avançada, compilações, tops e hypes de uma noite que parecia não acabar. Kaos, Alcântara Mar, X-Club, X-Man XL Garcia, Jiggy e Vibe – entre outros nomes da cena electrónica e espaços onde dançar – ficaram para os anuários e continuaram a fazer história. Essa que se reinventa, mesmo que por períodos de latência dê lugar a outras curiosidades. Vibe não se “recicla”. Hoje levanta o volume para algo novo, tão genuinamente bom como na primeira vez em que se fez ouvir, nos primeiros anos em que todo este cenário era pura descoberta. Claro, palmilhou caminho por muitos – aquando o house era elitista e o techno para massas, mesmo que hoje se revelem tendências opostas. Mas essas, como o tempo, também mudam. Não deixam é ter o seu espaço, o seu mérito, a sua casa. E Vibe tem aqui a sua. A CENA EM ASCENSÃO KA§PAR + VAHAGN SÁBADO04 DJ VIBE SEXTA10 HAVE A BLAST Texto por Rui Murka Fotografia por Valeria Galizzi Santacroce A história da música de dança é feita de pessoas que em determinados momentos resolvem ‘fazer acontecer’. Frequentemente, essa atitude é reflexo de uma insatisfação, de uma procura ou de não se reverem no que as rodeia. Outras vezes, é mais simples. É, apenas, reflexo das suas influências estéticas. Mas o que faz realmente as coisas acontecerem? Quais as dificuldades? Que tipo de indivíduos e situação são mais ou menos propícias? Muitas vezes o limite é a inércia interior de cada agente, o apenas ver os aspectos negativos e as dificuldades, o sentir-se isolado, o não ter uma visão prática para comunicar o que produz. Mas, raramente, há momentos em que várias pessoas sentem e comunicam o mesmo entre si conseguem fazer algo de único e mágico. Algo que é dinâmico e em que não se percebe quem influência quem e que, lentamente, todos começam a ter consciência do que se está a passar. Este é, talvez, o momento que define os acontecimentos como algo de duradouro e consequente, ou apenas como algo de circunstancial. Sem perceberem como, estas pessoas vêem-se envolvidas em algo a que se chama “cena”. O facto de alguém se sentir pertença de um movimento e de, ao olharem para o lado, ver outros criadores, artistas, agentes,‘business man’ a produzir funciona como uma das principais motivações, que leva todos a acreditar. É possível e as dúvidas dissipam-se . É possível fazer igual aquelas pessoas, movimentos e clubs que sempre tiveram como referência, mas com a particularidade de agora não serem apenas espectadores/ consumidores. São actores no seu próprio filme. Não há regras, mas há felizes conjugações para tudo isto acontecer. Por vezes é preciso esperar muitos anos para vermos os resultados. Algo de muito dinâmico se está a passar por cá e, ao contrário de outras situações anteriores, não é isolado. É consequente. Neste sentido, as sonoridades Techno e House, nas suas vertentes mais cósmicas e abstractas estão a assistir à afirmação de 2 representantes, que há muito espalham a música pelos clubs portugueses. Ao fechar os olhos para ouvir as recentes produções de Ka§par e Vahagn, facilmente somos transportados para territórios onde os países não contam. Ka§par lança Ascensus, pela 4Lux, e celebra a conquista em casa, partilhando chão com Vahagn, cujo trabalho com The Sky People está prestes a voar por aí. Entre um e outro, somos levados para a dimensão do Techno de Detroit, onde confundiríamos as suas produções com temas de Moodymann, Carl Craig ou Theo Parrish. Exagero? Talvez. O tempo assim o confirmará, ou não. Até lá, resta-nos dançar num espaço onde encontramos estes e outros djs que fazem parte de toda esta cena, da nossa cena. Ou seja, é lá que cena, também, se passa. Que a festa continue.
  • 5. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 BLOOP AFTER PARTY (dOP) RODRIGUEZ JR + ZÉ SALVADOR SÁBADO11 O CULTO DA FESTA Texto por Francisco Morgado Véstia Damien, Clément e Jonathan, são tão franceses que irritam. Irritam no sentido que fazem tudo bem, seja house-sinfónica, techno-orgânico, trip-hop tripalhoco ou hip-hop do chá das cinco. Decidiram que a electrónica não se faz só de electrónica, quea tem lugar a instrumentos de sopro, guitarras, congas e oboés, e que meter fronteiras num género é limitar a criatividade, e isso, à falta de melhores palavras, é muito estúpido. O “Sub Rosa EP” toca assim intimista pelos tímpanos adentro, e eu aproveito para agradecer a Deus e ao Paypal pelos pagamentos electrónicos que me permitem a conta premium, os headphones de construção dinamarquesa e os fim de tarde de paisagem lisboeta. Tudo envolto numa névoa e fervor domingueiros, enquanto uma voz de sotaque com demasiado jet-lag me sussurra: “you descend from the lighthouse”. A minha cadeira agora baloiça, tenta resistir a tentação de ir à cozinha fazer um gin-tónico em passo de dança. Algo frutado, afinal de contas agora toca “Take Care of Me” e acho que também tenho direito a tomar conta do meu palato e do meu bem-estar. Isto merecia um palco, merecia aquelas tardes em que o calor já se confunde com o compassar dos corpos que ambicionam mais ritmo que alimento, mais inspiração que cansaço. Mais festa, talvez até aquelas madrugadas que nos fazem encontrar uma excelente desculpa para levar óculos de sol para um club. dOP, 11 de Maio, 48 horas antes de mais um aniversário de uma alucinação colectiva com direito a mosteiro no oeste Português. Os três franceses trazem-nos uma matiné, também de alucinação colectiva, que depois poderemos batizar de milagre, esticar a festa até a mais uma madrugada no ZERO, e começar uma religião, quem sabe… Afinal de contas estou a ouvir a melhor versão de “Nature Boy” desde Nat-King Cole e agora acredito que tudo é possível. Até milagres. Outro que não é santo, mas francês concerteza, é Rodriguez Jr. que os acompanha numa noite que se espera... Abençoada.
  • 6. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 Texto por Ana Castanho Visionquest e Innervisions. Mais do que editoras... chamemos-lhe cenários de visão, de demanda interior como nos rituais chamânicos, quando em busca de guia - ou de uma identidade própria. Elas nada têm de etéreo nem de esotérico, mas a verdade é que quando se fala de música, a procura pede introspecção. Seguramente, para chegar a um registo de unicidade que marque, que se estabeleça para a vida. E se possa construir em cima dela. Para a Visionquest a clarividência fez-se de um ritual de passagem. Fez-se na evolução (ou revolução) da Era de Detroit, tão poderosa como inspiradora, em especial para a House Music. Se Detroit foi chão fértil para o boogie, disco, dub, electro, funk e soul até aos anos 80, seria natural - então - que a semente crescesse, olhando para o seu passado, mas com uma visão de futuro. Foi aqui que o House fez caminho nas suas inúmeras variantes, entre o deep o vocal ou o acid. Mas, mais recentemente, reinventado pelas mãos de novos guias. Shaun Reeves é um deles, ao lado de Seth Troxler, Ryan Crosson e Lee Curtiss. Herdeiros reais de um património tão rico que - por si - é quase espiritual, fazendo destes um um DJ combo dos mais apetecidos no planeta. Reeves conta, por isso, com remixes recentes para Tracey Thorn (Strange Feeling), doP & Seuil (Eklo) e Paul Ritch & D’Julz (Quartz Music). E ele e os irmãos não páram por aqui. Assim como o séquito da Innervisions, cuja demanda se faz pela reinterpretação das influências de Detroit, desta feita a partir de Berlim. Pelas mãos dos sábios Dixon e Âme, Marcus Worgull não é um iniciado, é DJ e produtor cujo alcance já vai longe. Com alma quanto baste. E só por isso já se espera uma noite única, sob o chão do nosso Club. Façam caminho. MIKE DEHNERT + JIGGY SEXTA17 TECHNO VISIONQUEST vs INNERVISIONS: SHAUN REEVES + MARCUS WORGULL + ZÉ SALVADOR SÁBADO18 Texto por Hugo Branco Fotografia por Marie Staggat Algures dentro de um grande cofre, a escuridão e a neblina são cortadas por intermitentes rajadas de luzes azuis e vermelhas, e o silêncio de uma área urbana outrora adormecida vê-se agora invadido por golpes graves, que ecoam e se fazem mais fortes à medida que atravessamos um longo corredor. Chegamos por fim a uma sala de tecto baixo, onde uma pequena multidão se contorce exaltada ao som dos densos graves e das batidas repetitivas do último grito em música electrónica de dança.. Actualmente considerada a capital do estilo, Berlim assume a sua aventura amorosa com o Techno por volta de 1991, por trás das pesadas portas de um velho cofre chamado Tresor. Oriundos de ambos os lados de uma cidade outrora dividida, os jovens berlinenses tinham finalmente encontrado um denominador comum: o Techno viajara uns bons milhares de quilómetros desde Detroit, e viera para ficar. Mike Dehnert é herdeiro directo deste movimento e, se “real” e “cru” parecem ser os adjectivos mais correntemente utilizados para definir a sua sonoridade, “consistente” será talvez aquele que melhor se adequa ao seu trabalho. Dono das conceituadas Fachwerk e MD2, Dehnert tem desde 2007 vindo a editar consistentemente a sua música também em outras editoras de renome como a holandesa Clone Records. Forte e envolvente, faz-se hoje em dia dançar um pouco por todo o mundo, mas sobretudo nos melhores clubes da cidade que o acolheu, dos quais o consagrado Berghain e o já referido Tresor são os perfeitos exemplos: Techno sem espinhas nascido e criado em Berlim. RITUAL DE PASSAGEM
  • 7. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 OSCAR MULERO FRESHKITOS SEXTA24 DE pedra E cal Texto por Filipe Alves Fotografia por Jerry Knies Após um período onde, aos olhos de alguns, o techno parecia hibernado, arredado das primeiras filas e num estado letárgico, eis que volta a cair sobre o género todo um foco de atenções como se nestes dias o moribundo tivesse ressuscitado. Nada de mais errado. Por esse mundo, em estudios caseiros improvisados, o techno continuava a reinventar-se, editoras de cariz amador davam a conhecer-nos as novas tendências, djs em clubes mais ou menos underground faziam soar os temas que exploravam as infinitas capacidades do género face a um publico sedento pela novidade. Assim prosseguiu o techno o seu percurso, iniciado há quase 3 décadas, indiferente a modas conjecturais, abstraindo-se de tendências, assumindo-se naturalmente vanguardista e inconformado. E assim é Oscar Mulero, que em meados de 90 na cidade de Madrid abre o clube The Omen, furando o marasmo reinante na capital do Estado Espanhol. Foi uma curta aventura, de um par de anos, mas tornou-se um ícone ainda hoje celebrado, e na altura uma autêntica Meca para os devotos do estilo. Esse mesmo inconformismo serve hoje de motivação para o seu trabalho, desdobrando-se em projectos que refletem as suas diversas facetas - Trolley Route, Dr. Smoke - criando editoras que promovem a sua musica e a dos seus conterrâneos - Warm Up, Pole - diversificando a selecção musical a cada dj set. Se “Grey Fades to Green”, primeiro álbum de originais, constituía-se como uma homenagem aos anos 90 e aos artistas que para si melhor representavam esse período - Jeff Mills, Dave Clarke ou Surgeon - o posterior “Black Propaganda” reflecte a sonoridade com que hoje se encontra mais identificado, onde pontificam nomes como os de Perc, Lucy ou Obtane. Nos seus dj sets, profundos e sombrios, não tivesse sido O.M. devoto seguidor da E.B.M. e Industrial, ambos os períodos históricos se cruzam e complementam numa amálgama sonora que em tudo faz sentido. “Proper techno will always be here to stay” dizia em entrevista seguramente traduzida. E este autor não podia estar mais de acordo.
  • 8. subzero#0 maio/2013 subzero#0 maio/2013 Texto por Ana Castanho Como Ike e Tina, Sunny e Cher, Annie Lenox e David Stewart ou os White Stripes – que não eram irmãos, não senhor. O amor tem estranhas formas de se expressar, mais ainda de se consolidar. Valha-nos o tempo, a paciência e a esperança suficientes de que resulte. Ou voltar a tentar. Quando há uma paixão comum, vá-se lá saber porquê, parece multiplicar-se a batida. Prolongar-se o compasso cardíaco, já de si musicado, em especial se acompanhados da banda sonora que parece fazer sentido. Uma muito própria, única. Este é o caso de muitos casais que, só de vez em quando, surgem em verdadeira parelha musical, quando o amor foi mais longe e onde seria improvável chegar. Saschienne são disso um bom exemplo, sem as marcas de Ike e Tina, sem o espectáculo de Sunny e Cher, mais comedidos que Annie Lenox e David Stewart, e sem as ambiguidades de Jack e Megan White. Este é um casal de bom resultado e de boa viagem. Sascha Funke e Julienne Dessagne são Saschienne. Ele, protagonista do techno alemão com 13 anos de carreira e por trás das editoras Bravo e Mango, apaixonou- se pelo seu complementar. Por ela, instrumentista multi-facetada, cantora e mulher. Um complemento que foi porta aberta para a inspiração e (re) equilíbrio, quando Sascha já caía num cinzentismo musical – numa daquelas fases que calham a todos. Pista para dois De volta à Kompakt, fala de uma sonoridade espontânea, harmonia no meio do caos que cada beat pode provocar. Techno a dois, que não se pode dizer romântico se já não o fosse. Explorando comunhão e discórdia, que o amor também os traz, enriquecendo o que chega à pista e aos apaixonados pela música. SASCHIENNE LIVE+DJSET ZÉ SALVADOR + GILVAIA SÁBADO25