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Carlos Vinicius Veneziani dos Santos
 Cena musical da década de 1960. 
 Bossa Nova. 
 Jovem Guarda. 
 Música de protesto. 
 Beatles. 
 Festivais (Excelsior, Record, Globo) na TV. 
 1968 -
 Triagem e mistura 
 Movimento de triagem estética com a Bossa 
Nova. 
 Tomada de poder pelos militares, acirrando a 
atitude musical politizada. 
 Espécie de hipertriagem com a música de 
protesto. 
 Irrompimento do tropicalismo
 Samba-canção da década de 1940: 
 Embora tenha aprimorado consideravelmente 
o modo romântico de compor e deixado uma 
verdadeira coleção de clássicos (...), o estilo 
samba-canção se sobrepôs de tal forma às 
demais dicções da canção brasileira que, na 
década de 1950, quase se converteu em 
padrão único de criação (...). (Tatit, p. 99)
 De todo modo, o sucesso das canções 
passionais também desencadeou uma 
vertente de produções melodramáticas que 
acabou por desmotivar o consumo da classe 
média mais instruída e, em especial, dos 
estudantes que vinham se tornando uma das 
principais forças culturais das grandes 
metrópoles. (Tatit, p. 100)
 Para esse ouvinte diferenciado e com bom 
poder aquisitivo, o samba-canção, 
identificado como música de “dor-de-cotovelo”, 
veiculava uma “estética” do 
excesso que não contribuía para o 
refinamento do gosto. O excesso era antes 
de tudo semântico, na medida em que 
reinava um sentimentalismo desenfreado, 
quase sempre beirando à pieguice (...). 
(Tatit, p. 100)
 Boemia, aqui me tens de regresso 
 E suplicante te peço a minha nova inscrição. 
 Voltei pra rever os amigos que um dia 
 Eu deixei a chorar de alegria; me acompanha 
o meu violão. 
 Boemia, sabendo que andei distante, 
 Sei que essa gente falante vai agora ironizar: 
 "Ele voltou! O boêmio voltou novamente. 
 Partiu daqui tão contente. Por que razão 
quer voltar?"
 Acontece que a mulher que floriu meu caminho 
 De ternura, meiguice e carinho, sendo a vida do 
meu coração, 
 Compreendeu e abraçou-me dizendo a sorrir: 
 "Meu amor, você pode partir, não esqueça o seu 
violão. 
 Vá rever os seus rios, seus montes, cascatas. 
 Vá sonhar em novas serenatas e abraçar seus 
amigos leais. 
 Vá embora, pois me resta o consolo e alegria 
 De saber que depois da boemia 
 É de mim que você gosta mais".
• Bossa Nova, a partir de 1958: 
• Nesse mesmo período, alguns músicos jovens 
mostravam-se especialmente sintonizados 
com a tendência do mundo ocidental pós- 
Segunda Guerra de se encantar com os 
progressos e as conquistas do povo norte-americano. 
O interesse pelos mestres do jazz 
e, sobretudo, pelo fenômeno pop Frank 
Sinatra, que arrebanhou uma legião de fãs 
em todo o mundo, tomou de assalto a 
juventude brasileira que, justamente, 
buscava uma alternativa mais refinada para 
desfazer a supremacia passional.
• A bossa nova constituiu, assim, uma triagem 
de ordem estética, cujo gesto fundamental 
de eliminação dos excessos passou a ser 
constantemente reconvocado pelos agentes 
musicais toda vez que se faz necessário 
sanear alguma “exorbitância” no mundo da 
canção. Mesmo o improviso, tão caro ao jazz, 
é considerado uma complicação inútil 
incompatível com a precisão da bossa nova. 
(Tatit, p. 101)
 Vai minha tristeza 
 E diz a ela que sem ela não pode ser 
 Diz-lhe numa prece 
 Que ela regresse 
 Porque eu não posso mais sofrer 
 Chega de saudade 
 A realidade é que sem ela 
 Não há paz não há beleza 
 É só tristeza e a melancolia 
 Que não sai de mim 
 Não sai de mim 
 Não sai
 Mas se ela voltar 
 Se ela voltar que coisa linda 
 Que coisa louca 
 Pois há menos peixinhos a nadar no mar 
 Do que os beijinhos 
 Que eu darei na sua boca 
 Dentro dos meus braços, os abraços 
 Hão de ser milhões de abraços 
 Apertado assim, colado assim, calado assim 
 Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim 
 Que é pra acabar com esse negócio 
 De você viver sem mim 
 Não quero mais esse negócio 
 De você longe de mim 
 Vamos deixar esse negócio 
 De você viver sem mim
• A primeira consequência da nova ordem se 
fez sentir nas letras das canções que foram 
gradativamente retomando o peso 
semântico, agora não mais no campo 
amoroso e sim na forma de posicionamento 
ideológico que compreendia a reabilitação 
dos valores regionais, a denúncia de 
injustiças sociais e o anúncio de uma 
revolução iminente e inevitável. Logo depois, 
as melodias também recuperaram as 
inflexões grandiloquentes de tempos 
passados para dar cobertura compatível à 
oratória engajada. (Tatit, p. 102)
 Nessas circunstâncias, irrompe a figura de 
Geraldo Vandré, compositor e intérprete 
vencedor de festivais e com prestígio no 
meio artístico, tentando promover o que 
poderíamos chamar de hipertriagem: fazer 
com que a música popular de interesse 
naquele momento histórico fosse unicamente 
a canção engajada, de preferência a de sua 
autoria e criação interpretativa. (Tatit, p. 
103)
 Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim 
 Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim 
 Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção 
 Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão 
 Eu vou levando a minha vida enfim 
 Cantando e canto sim 
 E não cantava se não fosse assim 
 Levando pra quem me ouvir 
 Certezas e esperanças pra trocar 
 Por dores e tristezas que bem sei 
 Um dia ainda vão findar 
 Um dia que vem vindo 
 E que eu vivo pra cantar 
 Na Avenida girando, estandarte na mão pra anunciar.
• Se a música de protesto era contra a ditadura 
militar, o tropicalismo manifestava-se em boa 
medida contra a música de protesto e o seu 
espírito de exclusão, o que não significava, 
muito pelo contrário, que os tropicalistas 
nutrissem qualquer simpatia pelos usurpadores 
do poder político. (...)
 Das atitudes consumistas (e “alienadas”) da 
jovem guarda ou da anarquia manipulada pelo 
programa de auditório do Chacrinha até a 
expressão kitsch de Vicente Celestino ou as 
novidades do rock internacional, passando pelo 
flerte explícito com o mercado cultural e com os 
símbolos da contemporaneidade (história em 
quadrinhos, Coca-cola, astronauta, sexo etc.), o 
tropicalismo deu a entender que a canção 
brasileira é formada por todas as dicções – 
nacionais ou estrangeiras, vulgares ou elitizadas, 
do passado ou do momento, e não suportaria 
qualquer gesto de exclusão. (Tatit, p. 103)
• Por todas essas razões, pela primeira vez a 
mistura não se processou naturalmente e seu 
surgimento abrupto surtiu efeitos de tratamento 
de choque sobre a MPB da época. E na 
assimilação desbragada tanto de valores culturais 
considerados positivos como dos 
terminantemente rejeitados pelos grupos de 
esquerda, a atuação tropicalista foi avaliada ora 
como portadora de enriquecimentos à música 
popular, ora como profanação de suas conquistas 
já sacramentadas. De todo modo, a partir de 
então, o gesto dos artistas baianos foi 
incorporado à história da canção como um 
dispositivo de mistura a ser acionado toda vez 
que ocorrer a ameaça de exclusão. (Tatit, p. 
104)
 Caminhando contra o vento 
 Sem lenço e sem documento 
 No sol de quase dezembro 
 Eu vou 
 O sol se reparte em crimes 
 Espaçonaves, guerrilhas 
 Em cardinales bonitas 
 Eu vou
 Em caras de presidentes 
 Em grandes beijos de amor 
 Em dentes, pernas, bandeiras 
 Bomba e Brigitte Bardot 
 O sol nas bancas de revista 
 Me enche de alegria e preguiça 
 Quem lê tanta notícia 
 Eu vou
 Por entre fotos e nomes 
 Os olhos cheios de cores 
 O peito cheio de amores vãos 
 Eu vou 
 Por que não, por que não?
 Ela pensa em casamento 
 E eu nunca mais fui à escola 
 Sem lenço e sem documento 
 Eu vou 
 Eu tomo uma Coca-Cola 
 Ela pensa em casamento 
 E uma canção me consola 
 Eu vou
 Por entre fotos e nomes 
 Sem livros e sem fuzil 
 Sem fome, sem telefone 
 No coração do Brasil 
 Ela nem sabe até pensei 
 Em cantar na televisão 
 O sol é tão bonito 
 Eu vou
 Sem lenço, sem documento 
 Nada no bolso ou nas mãos 
 Eu quero seguir vivendo, amor 
 Eu vou 
 Por que não, por que não? 
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Tropicalismo

  • 2.  Cena musical da década de 1960.  Bossa Nova.  Jovem Guarda.  Música de protesto.  Beatles.  Festivais (Excelsior, Record, Globo) na TV.  1968 -
  • 3.  Triagem e mistura  Movimento de triagem estética com a Bossa Nova.  Tomada de poder pelos militares, acirrando a atitude musical politizada.  Espécie de hipertriagem com a música de protesto.  Irrompimento do tropicalismo
  • 4.  Samba-canção da década de 1940:  Embora tenha aprimorado consideravelmente o modo romântico de compor e deixado uma verdadeira coleção de clássicos (...), o estilo samba-canção se sobrepôs de tal forma às demais dicções da canção brasileira que, na década de 1950, quase se converteu em padrão único de criação (...). (Tatit, p. 99)
  • 5.  De todo modo, o sucesso das canções passionais também desencadeou uma vertente de produções melodramáticas que acabou por desmotivar o consumo da classe média mais instruída e, em especial, dos estudantes que vinham se tornando uma das principais forças culturais das grandes metrópoles. (Tatit, p. 100)
  • 6.  Para esse ouvinte diferenciado e com bom poder aquisitivo, o samba-canção, identificado como música de “dor-de-cotovelo”, veiculava uma “estética” do excesso que não contribuía para o refinamento do gosto. O excesso era antes de tudo semântico, na medida em que reinava um sentimentalismo desenfreado, quase sempre beirando à pieguice (...). (Tatit, p. 100)
  • 7.  Boemia, aqui me tens de regresso  E suplicante te peço a minha nova inscrição.  Voltei pra rever os amigos que um dia  Eu deixei a chorar de alegria; me acompanha o meu violão.  Boemia, sabendo que andei distante,  Sei que essa gente falante vai agora ironizar:  "Ele voltou! O boêmio voltou novamente.  Partiu daqui tão contente. Por que razão quer voltar?"
  • 8.  Acontece que a mulher que floriu meu caminho  De ternura, meiguice e carinho, sendo a vida do meu coração,  Compreendeu e abraçou-me dizendo a sorrir:  "Meu amor, você pode partir, não esqueça o seu violão.  Vá rever os seus rios, seus montes, cascatas.  Vá sonhar em novas serenatas e abraçar seus amigos leais.  Vá embora, pois me resta o consolo e alegria  De saber que depois da boemia  É de mim que você gosta mais".
  • 9. • Bossa Nova, a partir de 1958: • Nesse mesmo período, alguns músicos jovens mostravam-se especialmente sintonizados com a tendência do mundo ocidental pós- Segunda Guerra de se encantar com os progressos e as conquistas do povo norte-americano. O interesse pelos mestres do jazz e, sobretudo, pelo fenômeno pop Frank Sinatra, que arrebanhou uma legião de fãs em todo o mundo, tomou de assalto a juventude brasileira que, justamente, buscava uma alternativa mais refinada para desfazer a supremacia passional.
  • 10. • A bossa nova constituiu, assim, uma triagem de ordem estética, cujo gesto fundamental de eliminação dos excessos passou a ser constantemente reconvocado pelos agentes musicais toda vez que se faz necessário sanear alguma “exorbitância” no mundo da canção. Mesmo o improviso, tão caro ao jazz, é considerado uma complicação inútil incompatível com a precisão da bossa nova. (Tatit, p. 101)
  • 11.  Vai minha tristeza  E diz a ela que sem ela não pode ser  Diz-lhe numa prece  Que ela regresse  Porque eu não posso mais sofrer  Chega de saudade  A realidade é que sem ela  Não há paz não há beleza  É só tristeza e a melancolia  Que não sai de mim  Não sai de mim  Não sai
  • 12.  Mas se ela voltar  Se ela voltar que coisa linda  Que coisa louca  Pois há menos peixinhos a nadar no mar  Do que os beijinhos  Que eu darei na sua boca  Dentro dos meus braços, os abraços  Hão de ser milhões de abraços  Apertado assim, colado assim, calado assim  Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim  Que é pra acabar com esse negócio  De você viver sem mim  Não quero mais esse negócio  De você longe de mim  Vamos deixar esse negócio  De você viver sem mim
  • 13. • A primeira consequência da nova ordem se fez sentir nas letras das canções que foram gradativamente retomando o peso semântico, agora não mais no campo amoroso e sim na forma de posicionamento ideológico que compreendia a reabilitação dos valores regionais, a denúncia de injustiças sociais e o anúncio de uma revolução iminente e inevitável. Logo depois, as melodias também recuperaram as inflexões grandiloquentes de tempos passados para dar cobertura compatível à oratória engajada. (Tatit, p. 102)
  • 14.  Nessas circunstâncias, irrompe a figura de Geraldo Vandré, compositor e intérprete vencedor de festivais e com prestígio no meio artístico, tentando promover o que poderíamos chamar de hipertriagem: fazer com que a música popular de interesse naquele momento histórico fosse unicamente a canção engajada, de preferência a de sua autoria e criação interpretativa. (Tatit, p. 103)
  • 15.  Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim  Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim  Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção  Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão  Eu vou levando a minha vida enfim  Cantando e canto sim  E não cantava se não fosse assim  Levando pra quem me ouvir  Certezas e esperanças pra trocar  Por dores e tristezas que bem sei  Um dia ainda vão findar  Um dia que vem vindo  E que eu vivo pra cantar  Na Avenida girando, estandarte na mão pra anunciar.
  • 16. • Se a música de protesto era contra a ditadura militar, o tropicalismo manifestava-se em boa medida contra a música de protesto e o seu espírito de exclusão, o que não significava, muito pelo contrário, que os tropicalistas nutrissem qualquer simpatia pelos usurpadores do poder político. (...)
  • 17.  Das atitudes consumistas (e “alienadas”) da jovem guarda ou da anarquia manipulada pelo programa de auditório do Chacrinha até a expressão kitsch de Vicente Celestino ou as novidades do rock internacional, passando pelo flerte explícito com o mercado cultural e com os símbolos da contemporaneidade (história em quadrinhos, Coca-cola, astronauta, sexo etc.), o tropicalismo deu a entender que a canção brasileira é formada por todas as dicções – nacionais ou estrangeiras, vulgares ou elitizadas, do passado ou do momento, e não suportaria qualquer gesto de exclusão. (Tatit, p. 103)
  • 18. • Por todas essas razões, pela primeira vez a mistura não se processou naturalmente e seu surgimento abrupto surtiu efeitos de tratamento de choque sobre a MPB da época. E na assimilação desbragada tanto de valores culturais considerados positivos como dos terminantemente rejeitados pelos grupos de esquerda, a atuação tropicalista foi avaliada ora como portadora de enriquecimentos à música popular, ora como profanação de suas conquistas já sacramentadas. De todo modo, a partir de então, o gesto dos artistas baianos foi incorporado à história da canção como um dispositivo de mistura a ser acionado toda vez que ocorrer a ameaça de exclusão. (Tatit, p. 104)
  • 19.  Caminhando contra o vento  Sem lenço e sem documento  No sol de quase dezembro  Eu vou  O sol se reparte em crimes  Espaçonaves, guerrilhas  Em cardinales bonitas  Eu vou
  • 20.  Em caras de presidentes  Em grandes beijos de amor  Em dentes, pernas, bandeiras  Bomba e Brigitte Bardot  O sol nas bancas de revista  Me enche de alegria e preguiça  Quem lê tanta notícia  Eu vou
  • 21.  Por entre fotos e nomes  Os olhos cheios de cores  O peito cheio de amores vãos  Eu vou  Por que não, por que não?
  • 22.  Ela pensa em casamento  E eu nunca mais fui à escola  Sem lenço e sem documento  Eu vou  Eu tomo uma Coca-Cola  Ela pensa em casamento  E uma canção me consola  Eu vou
  • 23.  Por entre fotos e nomes  Sem livros e sem fuzil  Sem fome, sem telefone  No coração do Brasil  Ela nem sabe até pensei  Em cantar na televisão  O sol é tão bonito  Eu vou
  • 24.  Sem lenço, sem documento  Nada no bolso ou nas mãos  Eu quero seguir vivendo, amor  Eu vou  Por que não, por que não?  Por que não, por que não?  Por que não, por que não?  Por que não, por que não?