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A REDUÇÃO SOCIOLÓGICA DE GUERREIRO RAMOS
Viegas Fernandes da Costa
Professor de História do IFSC
Objetivo:
Nesta obra, originalmente publicada em 1958, Guerreiro Ramos
pretende discutir um conjunto de regras metodológicas para a
Sociologia, que chama de Redução Sociológica, bem como inserir o
debate sobre a sociologia brasileira em um contexto “universal”. A
pretensão é, de modo geral, propor um método sociológico nacional.
Metodologia:
O autor reúne pressupostos teóricos que desenvolveu em aulas e
conferências, para discutir um método sociológico nacional. O
autor reconhece tratar-se de um esboço. Na realidade, trata-se
de um exercício teórico que parte da própria Redução
Sociológica, para pensar a reflexão sociológica brasileira como
condição das estruturas de desenvolvimento nas quais o Brasil
se encontrava no tempo da redação do livro.
Principais conceitos:
Redução sociológica, um método de análise de concepções e
fatos sociais. Segundo Ramos, “a redução sociológica é um método
destinado a habilitar o estudioso a praticar a transposição do
conhecimento e de experiências de uma perspectiva para outra.” (p.
54).
Por Redução, o autor compreende a ideia de eliminar tudo aquilo
que lhe é desnecessário, uma depuração.
Por desenvolvimento Ramos compreende “a promoção mediante
a qual as regiões e nações passam de uma estrutura a outra
superior” (p. 149). Estruturas elevadas são aquelas capazes de
liberar a mão de obra do setor primário e transferi-la para o
secundário.
PRESSUPOSTOS
Ramos parte do pressuposto de que existe uma perspectiva
brasileira para a sociologia, e reconhece a emergência de uma
consciência crítica da realidade nacional, verificada a partir das
primeiras décadas do século XX. O Brasil deixou de ser mero
reflexo colonial, e assumiu consciência própria, motivada pelo
surgimento de uma infraestrutura e dos “imperativos de
desenvolvimento”, promovendo uma autoconsciência coletiva.
Abandonou, assim, sua condição vegetativa, larvar. Ao afirmar isto,
Ramos retoma a controvertida tese dos povos naturais X povos
históricos, e defende que, ao assumir a compreensão da sua própria
situação, eleva-se à condição histórica, à “consciência da
liberdade”. Liberdade no sentido de uma dependência menor em
relação às tradições, de uma “personalização”, ou “personalidade
histórica”, que é aquela que possui consciência autônoma.
A consciência crítica constitui-se na capacidade de um povo refletir
sobre seus determinantes (p. 61), que é o que distingue a pessoa da
coisa. Ramos cita o exemplo das nações asiáticas e africanas que
lutavam contra o nacionalismo enquanto sistema, e não apenas de
forma reativa, pela sobrevivência. A consciência crítica “é a luta pela
posse de um destino próprio” (p. 62), que implica em uma
autodeterminação que não exclui o diálogo com aquilo que o autor
chama de consciência universal. Ou seja, a consciência crítica coloca
o autor coletivo em uma posição que não se confunde com o
nacionalismo que exclui o universal.
Fatores que permitiram o surgimento de uma consciência crítica
no Brasil
Industrialização.
Urbanização.
mudanças nos hábitos de consumo.
“Quanto mais uma população assimila hábitos de consumo não
vegetativos, tanto mais cresce uma consciência política, e maior se
torna a sua pressão no sentido de obter recursos que lhe asseguram
níveis superiores de existência” (p. 78).
A Redução Sociológica é uma atitude metódica que obedece
regras e depura objetos. Parte do pressuposto de que a realidade
social é dotada de sentido. Postula uma noção de mundo, ou seja,
estabelece que consciência e objetos estão relacionados. É
perspectivista, porque entende que o sentido dado a um objeto só é
possível dentro do seu contexto. Seus suportes são coletivos, na
medida em que um ponto de vista é limitado pela sua situação.
Estabelece um procedimento crítico-assimilativo da experiência
estrangeira e é uma atitude que mostra os pressupostos histórico-
sociais dos objetos.
Antecedente filosófico
A fenomenologia, principalmente de Husserl e Heidegger, com a
ideia do sujeito enquanto ser-no-mundo, sem transcedentalidade.
Para Ramos, “um objeto cultural é constituído não só pelos seus
elementos objetivos, mas também pela função que exerce no
sistema de objetos de que faz parte” (p. 98). Daí o entendimento de
Ramos de que produtos culturais não produzem os mesmos efeitos
em contextos diferentes daqueles para os quais foram criados. Uma
sociedade que substitui suas estruturas, precisa substituir também
seus conceitos teóricos, até então importados por sua condição
colonial.
Antecedentes sociológicos
Sociologia do conhecimento, o materialismo de Marx e a
sociologia compreensiva de Monnerot, que apresenta a tese de
que a condição humana está sempre situada e datada.
A redução sociológica busca “descobrir as implicações
referenciais, de natureza histórico-social, de toda sorte de
produção intelectual e em referir sistematicamente essa produção
ao contexto em que se verifica, para apreender exaustivamente o
seu significado” (p. 105).
Outros antecedentes sociológicos provêm de Mannheim, Marx,
Luckács, etc, principalmente dos estudos que consideram o papel
da ideologia na ciência.
Leis da Redução Sociológica
Lei do comprometimento: a redução sociológica só pode ocorrer
a um sociólogo de um país periférico se este estiver conscientemente
engajado com seu contexto, ou seja, não há ciência imune à
condicionamentos, porque “vivemos necessariamente a visão de
mundo da nossa época e da nossa nação” (p. 115).
Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira:
uma teoria, um conceito e uma técnica são criados para atender a
uma intencionalidade. “Ao utilizarmos um objeto ou produto, sem
reduzi-lo, somos envolvidos pela intencionalidade de que é portador”
(p. 122). É, portanto, a própria sociedade que deve impor ao
sociólogo seus objetos, e a produção teórica estrangeira deve ser
condicionada aos fatos particulares desta sociedade.
Lei da universalidade dos enunciados gerais da ciência: reconhece que
só há universalidade no domínio dos enunciados gerais. Os cientistas
integram uma rede de trocas, que é universal, e ocupam um mesmo campo
semântico com um repertório de enunciados amplamente aceito e
compartilhado. Fora isto, a sociologia é nacional, na medida em que seus
sociólogos são motivados por uma nova condição social, não colonial, à qual
são convocados a responder. Esta sociologia nacional, entretanto, não se
reduz a uma sociologia aplicada.
Lei das fases: a fase em que se encontra uma sociedade interfere nas
possibilidades da redução sociológica. Ramos parte de Marx, quando este
escreve que filósofos não brotam da terra como cogumelos, mas são frutos
do seu tempo. Ou seja, a noção de razão histórica. É forte a influência do
marxismo nesta lei, bem como de Mauss e sua ideia de “fenômeno social
total”: “o pensamento em termos de fase fundamenta-se na categoria de
totalidade. A fase é uma totalidade histórico-social, cujas partes estão
dialeticamente relacionadas” (p. 142).
Critérios de avaliação do desenvolvimento
Estão relacionados aos aspectos econômicos, principalmente do
aumento de produtividade e sua relação com as melhorias nos níveis de
vida.
Ramos divide as condições para o desenvolvimento em termos primários
e secundários, e defende que, para se analisar as condições de
desenvolvimento dos países periféricos, é fundamental que se
reconheçam seus termos primários, e que estes sejam diferenciados dos
secundários. Por termos primários compreende-se: distribuição de mão
de obra pelos ramos da atividade econômica, renda nacional per capita,
consumo per capita de energia, urbanização e produção industrial (p.
155).
Considerações finais
A proposta de Ramos apresentou um exercício de reflexão sociológica
nacional. Seus méritos estão na defesa de uma assimilação crítica dos
instrumentos teóricos da sociologia, desenvolvidos nos EUA e Europa. Algo
que no campo artístico ficou conhecido como “movimento antropofágico”. O
que Ramos propõe para a sociologia foi o que Mário e Oswald de Andrade
propuseram para a produção intelectual e artística brasileira após 1922.
Também o entendimento fenomenológico e culturalista do campo semântico
das ciências sociais contribuiu para problematizar a assimilação literal de
postulados, atitude própria do colonialismo. Por outro lado, a proposta
encontra-se desatualizada, principalmente naquilo que diz respeito ao
entendimento que faz do conceito de desenvolvimento, submetendo-o às
perspectivas econômicas e atrelando-o a uma perspectiva teleológica. Sua
proposta, no contexto em que foi apresentada, encontrou dificuldades de lidar
com a realidade do socialismo de Estado, à época uma realidade. Por outro
lado, há de se considerar sob a perspectiva da Redução Sociológica a
proposta de redução sociológica de Ramos. Neste sentido, conclui-se este
como o resultado de sua visão de mundo motivada por sua época e sua
nação.

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  • 1. A REDUÇÃO SOCIOLÓGICA DE GUERREIRO RAMOS Viegas Fernandes da Costa Professor de História do IFSC
  • 2. Objetivo: Nesta obra, originalmente publicada em 1958, Guerreiro Ramos pretende discutir um conjunto de regras metodológicas para a Sociologia, que chama de Redução Sociológica, bem como inserir o debate sobre a sociologia brasileira em um contexto “universal”. A pretensão é, de modo geral, propor um método sociológico nacional.
  • 3. Metodologia: O autor reúne pressupostos teóricos que desenvolveu em aulas e conferências, para discutir um método sociológico nacional. O autor reconhece tratar-se de um esboço. Na realidade, trata-se de um exercício teórico que parte da própria Redução Sociológica, para pensar a reflexão sociológica brasileira como condição das estruturas de desenvolvimento nas quais o Brasil se encontrava no tempo da redação do livro.
  • 4. Principais conceitos: Redução sociológica, um método de análise de concepções e fatos sociais. Segundo Ramos, “a redução sociológica é um método destinado a habilitar o estudioso a praticar a transposição do conhecimento e de experiências de uma perspectiva para outra.” (p. 54). Por Redução, o autor compreende a ideia de eliminar tudo aquilo que lhe é desnecessário, uma depuração. Por desenvolvimento Ramos compreende “a promoção mediante a qual as regiões e nações passam de uma estrutura a outra superior” (p. 149). Estruturas elevadas são aquelas capazes de liberar a mão de obra do setor primário e transferi-la para o secundário.
  • 5. PRESSUPOSTOS Ramos parte do pressuposto de que existe uma perspectiva brasileira para a sociologia, e reconhece a emergência de uma consciência crítica da realidade nacional, verificada a partir das primeiras décadas do século XX. O Brasil deixou de ser mero reflexo colonial, e assumiu consciência própria, motivada pelo surgimento de uma infraestrutura e dos “imperativos de desenvolvimento”, promovendo uma autoconsciência coletiva. Abandonou, assim, sua condição vegetativa, larvar. Ao afirmar isto, Ramos retoma a controvertida tese dos povos naturais X povos históricos, e defende que, ao assumir a compreensão da sua própria situação, eleva-se à condição histórica, à “consciência da liberdade”. Liberdade no sentido de uma dependência menor em relação às tradições, de uma “personalização”, ou “personalidade histórica”, que é aquela que possui consciência autônoma.
  • 6. A consciência crítica constitui-se na capacidade de um povo refletir sobre seus determinantes (p. 61), que é o que distingue a pessoa da coisa. Ramos cita o exemplo das nações asiáticas e africanas que lutavam contra o nacionalismo enquanto sistema, e não apenas de forma reativa, pela sobrevivência. A consciência crítica “é a luta pela posse de um destino próprio” (p. 62), que implica em uma autodeterminação que não exclui o diálogo com aquilo que o autor chama de consciência universal. Ou seja, a consciência crítica coloca o autor coletivo em uma posição que não se confunde com o nacionalismo que exclui o universal.
  • 7. Fatores que permitiram o surgimento de uma consciência crítica no Brasil Industrialização. Urbanização. mudanças nos hábitos de consumo. “Quanto mais uma população assimila hábitos de consumo não vegetativos, tanto mais cresce uma consciência política, e maior se torna a sua pressão no sentido de obter recursos que lhe asseguram níveis superiores de existência” (p. 78).
  • 8. A Redução Sociológica é uma atitude metódica que obedece regras e depura objetos. Parte do pressuposto de que a realidade social é dotada de sentido. Postula uma noção de mundo, ou seja, estabelece que consciência e objetos estão relacionados. É perspectivista, porque entende que o sentido dado a um objeto só é possível dentro do seu contexto. Seus suportes são coletivos, na medida em que um ponto de vista é limitado pela sua situação. Estabelece um procedimento crítico-assimilativo da experiência estrangeira e é uma atitude que mostra os pressupostos histórico- sociais dos objetos.
  • 9. Antecedente filosófico A fenomenologia, principalmente de Husserl e Heidegger, com a ideia do sujeito enquanto ser-no-mundo, sem transcedentalidade. Para Ramos, “um objeto cultural é constituído não só pelos seus elementos objetivos, mas também pela função que exerce no sistema de objetos de que faz parte” (p. 98). Daí o entendimento de Ramos de que produtos culturais não produzem os mesmos efeitos em contextos diferentes daqueles para os quais foram criados. Uma sociedade que substitui suas estruturas, precisa substituir também seus conceitos teóricos, até então importados por sua condição colonial.
  • 10. Antecedentes sociológicos Sociologia do conhecimento, o materialismo de Marx e a sociologia compreensiva de Monnerot, que apresenta a tese de que a condição humana está sempre situada e datada. A redução sociológica busca “descobrir as implicações referenciais, de natureza histórico-social, de toda sorte de produção intelectual e em referir sistematicamente essa produção ao contexto em que se verifica, para apreender exaustivamente o seu significado” (p. 105). Outros antecedentes sociológicos provêm de Mannheim, Marx, Luckács, etc, principalmente dos estudos que consideram o papel da ideologia na ciência.
  • 11. Leis da Redução Sociológica Lei do comprometimento: a redução sociológica só pode ocorrer a um sociólogo de um país periférico se este estiver conscientemente engajado com seu contexto, ou seja, não há ciência imune à condicionamentos, porque “vivemos necessariamente a visão de mundo da nossa época e da nossa nação” (p. 115). Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira: uma teoria, um conceito e uma técnica são criados para atender a uma intencionalidade. “Ao utilizarmos um objeto ou produto, sem reduzi-lo, somos envolvidos pela intencionalidade de que é portador” (p. 122). É, portanto, a própria sociedade que deve impor ao sociólogo seus objetos, e a produção teórica estrangeira deve ser condicionada aos fatos particulares desta sociedade.
  • 12. Lei da universalidade dos enunciados gerais da ciência: reconhece que só há universalidade no domínio dos enunciados gerais. Os cientistas integram uma rede de trocas, que é universal, e ocupam um mesmo campo semântico com um repertório de enunciados amplamente aceito e compartilhado. Fora isto, a sociologia é nacional, na medida em que seus sociólogos são motivados por uma nova condição social, não colonial, à qual são convocados a responder. Esta sociologia nacional, entretanto, não se reduz a uma sociologia aplicada. Lei das fases: a fase em que se encontra uma sociedade interfere nas possibilidades da redução sociológica. Ramos parte de Marx, quando este escreve que filósofos não brotam da terra como cogumelos, mas são frutos do seu tempo. Ou seja, a noção de razão histórica. É forte a influência do marxismo nesta lei, bem como de Mauss e sua ideia de “fenômeno social total”: “o pensamento em termos de fase fundamenta-se na categoria de totalidade. A fase é uma totalidade histórico-social, cujas partes estão dialeticamente relacionadas” (p. 142).
  • 13. Critérios de avaliação do desenvolvimento Estão relacionados aos aspectos econômicos, principalmente do aumento de produtividade e sua relação com as melhorias nos níveis de vida. Ramos divide as condições para o desenvolvimento em termos primários e secundários, e defende que, para se analisar as condições de desenvolvimento dos países periféricos, é fundamental que se reconheçam seus termos primários, e que estes sejam diferenciados dos secundários. Por termos primários compreende-se: distribuição de mão de obra pelos ramos da atividade econômica, renda nacional per capita, consumo per capita de energia, urbanização e produção industrial (p. 155).
  • 14. Considerações finais A proposta de Ramos apresentou um exercício de reflexão sociológica nacional. Seus méritos estão na defesa de uma assimilação crítica dos instrumentos teóricos da sociologia, desenvolvidos nos EUA e Europa. Algo que no campo artístico ficou conhecido como “movimento antropofágico”. O que Ramos propõe para a sociologia foi o que Mário e Oswald de Andrade propuseram para a produção intelectual e artística brasileira após 1922. Também o entendimento fenomenológico e culturalista do campo semântico das ciências sociais contribuiu para problematizar a assimilação literal de postulados, atitude própria do colonialismo. Por outro lado, a proposta encontra-se desatualizada, principalmente naquilo que diz respeito ao entendimento que faz do conceito de desenvolvimento, submetendo-o às perspectivas econômicas e atrelando-o a uma perspectiva teleológica. Sua proposta, no contexto em que foi apresentada, encontrou dificuldades de lidar com a realidade do socialismo de Estado, à época uma realidade. Por outro lado, há de se considerar sob a perspectiva da Redução Sociológica a proposta de redução sociológica de Ramos. Neste sentido, conclui-se este como o resultado de sua visão de mundo motivada por sua época e sua nação.