2. Produtores Independentes – Parte 3 (final)
o outroBrasil
do petróleo por Cassiano Viana
O pré-sal ronda a atividade petrolífera em
Sergipe desde a descoberta, em 1963, do campo
de Carmópolis, a 60 km ao norte da capital.
E
ste campo, situado 30 mil para quase 76 mil barris e desenvolvimento, sendo respon-
no pré-sal, embora de petróleo por dia. sável por cerca de 16% do Produto
terrestre, é o mar- Apesar da tradição no culti- Interno Bruto (PIB) de Sergipe.
co da indústria pe- vo da cana-de-açúcar, laranja e Lá, também, a Petrobras – se-
troleira no estado, coco, a exploração do petróleo é gunda maior geradora de ICSM
ainda que as pr i- hoje uma das mais importantes (Imposto sobre Operações rela-
meiras descobertas de indícios atividades geradoras de recursos tivas à Circulação de Mercado-
de hidrocarbonetos tenham sido
feitas dois anos antes, no campo
terrestre de Riachuelo, a 40 km
de Aracaju.
Mas foi apenas com a des-
coberta, em 1968, do campo de
Guaricema, localizado na foz do
rio Vasa Barris, que Sergipe se
consagraria como um estado pio-
Foto: Banco de Imagens TN Petróleo
neiro na exploração offshore de
petróleo no Brasil.
Trinta e nove anos depois, em
2007, com a instalação do poço de
Para chegar à ilha fluvial onde estão os poços
Piranema, no litoral sul, os ser-
de Carapitanga, é preciso descer o canal do
gipanos viram a produção local Pomonga, braço do São Francisco.
mais do que dobrar, passando de
TN Petróleo 72 31
3. independentes – parte 3
Carapitanga, Cidade de Aracaju,
Campos marginais reativados Produção (m³) Foz do Vaza Barris, Harpia e Ti-
Campo UF Contrato Operadora Total Média/Mês gre. E tem ainda a maior mina de
potássio da América Latina, loca-
Tigre SE 2005 Severo Villares 8917 297
lizada no município de Rosário do
Vaza Barris SE 2005 Ral Engenharia 1375 115
Catete, explorada pela Vale.
Carapitanga SE 2005 Silver Marlin/Engepet 238 26
Cidade de Aracaju BA 2005 Pioneira/Alvorada 1843 66 Grandes expectativas
Bom Lugar BA 2005 Pioneira/Alvorada 4723 169 Descoberto pela Petrobras em
Araçás Leste BA 2005 Egesa Engenharia 756 34 1983, o campo de Carapitanga
Jiribatuba BA 2005 Pioneira/Alvorada 935 67 fica no município de Brejo Gran-
Sempre Viva BA 2005 Orteng Equip/Delp/Logos 753 42 de, distante 145 km de Aracaju.
Morro do Barro BA 2005 ERG/Panergy 874 42 Os poços ficam na Ilha da Cruz,
Riacho Velho RN 2006 Genesis 2000 485 40 uma ilha fluvial próxima (10 a
Chauá RN 2006 Sóllita Eng. e Construção 97 24
12 km) da Reserva Biológica de
Santa Izabel. Para chegar à ilha é
Rio Ipiranga ES 2006 Cheim Transportes 4297 269
preciso descer o canal do Pomon-
Crejoá ES 2006 Koch Petróleo do Brasil 1127 63
ga, braço do São Francisco.
rias e Prestação de Serviços de hoje como o terceiro maior pro- O campo – que ent rou em
Transporte Interestadual e Inter- dutor independente de petróleo operação no mesmo ano de sua
municipal e de Comunicação) – no país (excluindo a Petrobras), descoberta e teve, até 1989, uma
explora campos de petróleo e gás com dez campos em atividade produção acumulada de 48 mil
natural em terra como no mar. nas mãos de companhias priva- m³ (301,9 mil barris) de óleo de
A menor das unidades fede- das: BT-Seal-13, BT-Seal-16, BT- 36° API e 8,2 milhões m³ de gás.
rativas brasileiras posiciona-se Seal-18, BT-Seal-20, BT-Seal-22, Os reservatórios, a 1.500 m de
32 TN Petróleo 72
4. SH Acessos
Univen ou Daxoil) e da solução Estruturas tubulares
técnica e economicamente do des- de acesso
carte de água. Toda produção da
Engepet é hoje transportada para Tecnologia e segurança em
a Univen, em São Paulo. “Gasta- equipamentos que ajudam
mos cerca de R$ 40 mil por ano você a chegar lá.
só em frete para comercializar
nossa produção. Se entregás-
semos em Recife, por exemplo,
esse custo cairia para mil reais.
profundidade, tem volumes origi- A rentabilidade do campo seria
nais in situ de 197 mil m³ (1,239 outra”, avalia.
milhão de barris) de petróleo e Outra alternativa para solucio-
21,1 milhões m³ de gás natural, nar o problema da comercializa-
estimados pela Petrobras quando ção da produção seria através da
ela detinha essas áreas. criação de uma EPE que viabili-
Os blocos foram arrematados zasse uma estação de tratamento
em 2007 pela Silver Marlin. No cujo investimento entre R$ 500
entanto, quem opera a área é a mil a R$ 1 milhão. “Isso criaria
sergipana Engepet, que participa a possibilidade de vender para
do prospecto desde o início, ainda Petrobras, pois estaríamos com o
na fase de construção e estrutu- óleo adequado às exigências da
ração do empreendimento. A em- mesma e reduziria custo de frete.
presa ficou conhecida inicialmen- Para a venda a outras empresas,
te pelo seu Sistema Pneumático possibilita termos um preço me-
de Elevação tipo BPZ, sistema de lhor por bbl”, afirma.
bombeamento desenvolvido em O ca mp o de C a r apit a nga
parceria com a Petrobras, com será operado pela EPG Brasil
características semelhantes ao Ltda, quando da autorização da
processo de gaslift e com capa- Agência Nacional de Petróleo,
cidade de realizar operações em Gás Natural e Biocombustíveis
grandes profundidades. (ANP) para transferência do cam- LOCAÇÃO, MONTAGEM E VENDA
A produção atual, feita por po. E no Maranhão, o consórcio
• Estruturas tubulares convencionais
surgência intermitente (aflora- que será responsável pelo cam-
• Torres modulares de encaixe
mento natural), é de cerca de 12 po é a Oeste de Canoas Petróleo • Plataformas de trabalho
a 15 bbl/dia e 200 Nm³/dia de gás e Gás Ltda. Os dois consórcios
que é ventilado em um dispersor têm como sócios a Engepet e a Acessos para Montagem
na estação de produção. “Estamos Perícia Engenharia. e Manutenção Industrial em
em fase final da manutenção do conformidade com a NR-18.
compressor que fornecerá gás Tartaruga
comprimido para o sistema de Outro campo em produção em
elevação artificial BPZ. Após a Sergipe é Tartaruga. Descober-
entrada do sistema a expectativa to pela Petrobras em outubro de
é produzir em torno de 60 bbl/dia 1994, Tartaruga está localizado
de óleo e 2.000 Nm³/dia de gás, no povoado Lagoa Redonda, mu-
fôrmas • andaimes • escoramentos
que será aproveitado pela Brasil nicípio de Pirambu, cerca de 70
GNC”, revela Francisco Bezerra, km ao norte de Aracaju. Rio de Janeiro • São Paulo • Minas Gerais
coordenador de Engenharia da O primeiro poço do campo foi Espírito Santo • Paraná • Rio Grande do Sul
Bahia • Ceará • Pernambuco • Goiás
Engepet. perfurado nos anos 1970. Exis-
Distrito Federal • Mato Grosso
Segundo ele, o aumento da tem sete poços perfurados dentro Mato Grosso do Sul • Pará
produção irá depender da facili- do campo, sendo um no mar e
dade da venda do óleo (Petrobras, seis em terra, destes, cinco estão www.sh.com.br
0800 282-2125
5. independentes – parte 3
Em Tartaruga os poços são direcionais. em zona de transição, avançando
A cabeça do poço está em terra, mas o objetivo por um trecho de mar.
(fundo do poço) está no mar. Estar tão próximo de uma área
de proteção ambiental como uma
Rebio (Reserva Biológica) faz com
que se passe por muita burocracia
para se conseguir licenças, bem
como suas condicionantes. “A úl-
tima licença para perfuração de
dois poços levou cinco anos para
ser emitida. Isso atrasa bastante
nosso projeto de explorar o cam-
po”, diz. “Mas estamos atuando a
mais de dez anos na localidade e
nunca tivemos nenhum acidente
ambiental. A UP Petróleo é uma
empresa que sempre prezou pelo
meio ambiente e segurança, mas
mesmo assim a burocracia é bas-
tante grande.”
Reservatório quase intacto
Arrematado na Sétima Rodada
de Licitações da ANP, pela pau-
lista Severo Villares, o Bloco Ti-
Foto: Banco de Imagens TN Petróleo
gre está situado na porção emersa
da Bacia de Sergipe-Alagoas, no
município de Pacatuba, litoral
norte de Sergipe, a 70 km da ca-
pital Aracaju. O polígono do Blo-
co Tigre totaliza 20,03 km².
Dois campos petrolíferos con-
abandonados e um com tampão O óleo produzido é de 41º API. “A tíguos, denominados Tigre (TG)
temporário. Um deles é produtor reserva é grande e como só existe e Ponta dos Mangues (PDM),
e outro está aguardando licença um poço produzindo não temos integram o bloco de concessão,
ambiental para começar a produ- certeza o seu tamanho, mas o onde foram perfurados 20 poços:
zir. Ambos são poços direcionais. poço hoje produtor (1-SES-107D) dez deles na área do antigo cam-
A cabeça do poço está em terra, produz desde 1994 e continua po de Ponta dos Mangues (cinco
mas o objetivo (fundo do poço) surgente”, conta Oscar Auma- poços produtores) e dez no antigo
está no mar. ri, diretor de Operações da UP campo de Tigre (seis poços pro-
O bloco foi ar rematado na Petróleo. dutores).
Rodada Zero. Tartaruga foi um A UP Petróleo tem interesse Em 1969 foi descoberto o cam-
campo antes pertencente à Pe- em desenvolver o campo perfu- po de Ponta dos Mangues, e, em
trobras que passou o direito de rando mais poços, mas conseguir 1971, o Tigre. A área produziu
exploração à UP Petróleo, opera- licenças em uma área tão pró- de 1969 até 1989, e registra uma
dora desde 1999. A companhia foi xima a uma Reserva Biológica produção acumulada, em ambos
a primeira petroleira estrangeira não é fácil. os campos, de 66,7 mil m³ (420
a produzir petróleo no Brasil. O campo está localizado em mil barris) de óleo de 21º API a
O campo possui apenas um uma região de alta sensibilidade, 41º API e 9,7 milhões m³ de gás.
poço produtor no momento e está próximo à reserva ambiental de Os volumes originais in situ de
produzindo em média 360m³/mês Santa Isabel, área de desova de óleo e gás estimados são da or-
de petróleo com um BSW de 2%. tartarugas marinhas, e também dem de 648 mil m³ (cerca de 4,0
34 TN Petróleo 72
6. milhões barris) e 28,3 milhões m³, a aquisição, reprocessamento e
respectivamente. reinterpretação de dados geofí-
A Severo Villares iniciou suas sicos (sísmica 3D e gravimetria),
atividades como concessionária análise e controle estratigráfico/
e operadora em janeiro de 2006. estrutural e modelagem geológi-
Durante a fase de avaliação, que ca dos reservatórios.
teve duração de dois anos, foram Os resultados da interpretação
reabilitados e equipados dez po- sísmica 3D indicam alto poten-
ços para produção e um prepara- cial geológico para perfuração
do para injeção/descarte da água de novos poços e expansão das
produzida. outubro de 2007 e já foram pro- reser vas. “Trabalhamos com a
Resultados preliminares dos duzidos cerca de 9.500 m³ (cerca possibilidade de perfuração de
Testes de Longa Duração apon- de 60 mil barris) de óleo leve com no mínimo seis novos poços”, a-
taram para a viabilidade técnico- API médio de 35º. A produção firma Claudio Goraieb, da Severo
econômica do Bloco Tigre. Para média diária é de 60 a 70 barris. Villares.
desenvolver o projeto de reativa- A empresa possui contrato de co- Segundo Goraieb, a existên-
ção do campo foram construídas mercialização com a Petrobras cia de 20 poços já perfurados no
duas estações (Tigre e Ponta dos desde janeiro de 2008. bloco (11 produtores) com res-
Mangues) e implantados os res- Com a certeza de que os re- pectivos dados geológicos e geo-
pectivos sistemas de coleta, sepa- servatórios da região estão vivos químicos, além da boa resolução
ração, armazenamento, medição e e passando muito bem, obrigado, sísmica 3D, são fatores que con-
transferência do óleo, tratamento e a petroleira vem desenvolven- tribuem para a melhor avaliação
descarte da água produzida. do novos estudos objetivando do prospecto, reduzindo assim o
A retomada da produção pela aumentar as possibilidades do risco exploratório e aumentando
Severo Villares teve início em campo, dentre os quais se inclui a chance de sucesso.
7. independentes – parte 3
Foto: Banco de Imagens TN Petróleo
paraíso
vivendo no
É
impossível, visitando abriga uma das bases do Projeto Ta- minhados em invólucro próprio
os campos em Sergipe mar – um dos principais centros de para a coleta de lixo do município
– todos eles emoldura- estudos das tartarugas marinhas e e os resíduos sólidos contaminados
dos em um magnífico de recuperação e manutenção das com óleo serão armazenados em
cartão-postal natural –, espécies – e a Reserva Ecológica de embalagens próprias e encami-
escapar ao questionamento: qual o Santa Isabel. nhados para o mesmo destino da
nível de comprometimento e preo- Com uma área de 2.776 hecta- água produzida.
cupação das petroleiras com o meio res, a reserva foi criada em 1988 “Temos um contrato com em-
ambiente? Afinal, além da ocorrên- com o objetivo de proteger ecos- presa especializada que faz o mo-
cia de tartarugas marinhas, esta é sistemas costeiros compostos de nitoramento ambiental da área em
uma região de proteção de outras dunas fixas e/ou móveis, mangue- volta do campo, fazendo análises
importantes classes de animais e zais e lagoas temporárias e per- da água dos rios e canais, bem
vegetais. manentes. como inspeção para identificar
No litoral norte de Sergipe, Segundo Francisco Bezerra, da qualquer resíduo de óleo e iden-
a Costa dos Manguezais abriga Engepet, durante a operação do tificar se tem origem em nossa ati-
uma região de praias inexploradas, campo de Carapitanga não existi- vidade ou não”, explica.
como a de Ponta dos Mangues, no rá descarte na área do campo. Os Segundo Bezerra, toda a insta-
município de Pacatuba. O pantanal fluidos (óleo e água) serão enviados lação (estação de produção e esta-
de Pacatuba, o pantanal Nordes- para nossa estação de carregamento ção de carregamento) é monitorada
tino, tem 40 km², sendo a maior e colocados em caminhões próprios por um sistema supervisório, que
área alagada do Nordeste. A re- para envio do petróleo a uma refi- recebe dados dos diversos instru-
gião abriga mais de cem espécies naria, e a água produzida ou con- mentos e sensores instalados, per-
de aves e animais ameaçados de taminada com óleo, para empresa mitindo identificar com rapidez
extinção, como o jacaré-de-papo- autorizada em descarte de efluentes qualquer anomalia nas instalações,
amarelo. líquidos. possibilitando ação dos operadores
Outra praia, a de Pirambu, dis- Os resíduos sólidos comuns para que não ocorra qualquer inci-
tante 76 km da capital, com 45 km (comida, papel, etc.) serão enca- dente. “Operamos desde 2008 sem
36 TN Petróleo 72
8. qualquer incidente. Todas as nossas
Foto: Cortesia Severo Villares
atividades são acompanhadas pelo
órgão ambiental estadual. Assim,
é plenamente possível termos a
atividade de exploração de petró-
leo e gás convivendo com áreas de
proteção ambiental”, frisa.
Benefício para todos
Outrora operados pela Petro-
bras, Tigre e Ponta dos Mangues
são campos contíguos e consi-
A Associação de Artesanato e Apicultura do
derados como um único campo, povoado de Tigre contou com o apoio da Severo
villares para a construção da sede própria.
para efeito de bloco de concessão
e licenciamento ambiental. A área pedagogos qualificados e treinados
tem uma densidade populacional realizam palestras periódicas de
relativamente alta, sobretudo ao conscientização e apoio às comu-
longo dos acessos, incluindo os nidades locais.
povoados de Tigre e Junça. “É possível compatibilizar a
Os dois campos abrangem áreas atividade produtiva com o meio
de coqueirais, pastagens nativas, ambiente. O fato de a área estar
campos de dunas e áreas alagadi- Os comerciantes também am- localizada no entorno de uma re-
ças, em parte situadas no entor- pliaram seus negócios para atender serva biológica, obrigatoriamente,
no da Reserva Biológica de Santa as demandas da empresa e seus implica maior responsabilidade e
Isabel, administrada pelo Instituto prestadores de serviços. A Asso- cuidados redobrados por parte da
Chico Mendes. ciação de Artesanato e Apicultura empresa, mas não é um fator im-
Por tratar-se de uma região de do povoado contou com o apoio peditivo”, avalia. “Por outro lado,
grande suscetibilidade ambiental, da empresa para a construção da a atividade em si passa a ser uma
os aspectos ligados ao meio ambien- sede própria. A empresa também forma de aliviar a pressão sobre a
te e à segurança operacional são mantém uma artesã profissional área da reserva, uma vez que são
considerados prioritários no desen- para dar aulas para pessoas da criadas novas possibilidades de
volvimento das atividades de explo- comunidade, agregando valor ao trabalho e emprego para as comu-
ração e produção de petróleo. produto e facilitando a divulgação nidades locais que, muitas vezes,
“A retomada das atividades de e a comercialização das peças. En- se veem obrigados a buscar seu
produção foram realizadas com a genheiros ambientais, psicólogos e sustento dentro da reserva.”
adoção de todas as medidas neces-
sárias para prevenir a ocorrência Carmópolis – 47 anos em produção
de acidentes e minimizar os im-
Foto: Agência Petrobras
pactos decorrentes das operações”, RESULTADo DE SUCESSIvAS pes-
comenta Claudio Goraieb. quisas iniciadas em 1955 pelo corpo
Como forma de controle, pre- técnico da recém-criada Petrobras,
venção e mitigação dos impactos em 1963, foi descoberto, na Fazenda
aos recursos naturais, e também mercês, em Carmópolis, o maior campo
proporcionando melhorias do terrestre do país em volume recuperável
ponto de vista socioeconômico, de óleo do Brasil.
a petroleira vem desenvolvendo Estão em operação, hoje, 47 anos
programas ambientais de educa- depois, em Carmópolis, mais de mil po-
ção e comunicação social, controle ços, responsáveis por 80% da produção
de poluição e monitoramento da da Unidade de Produção em Sergipe. planeja alocar US$ 700 milhões na
qualidade da água e do solo, com Sua produção atual é de 42 mil barris modernização das estações e revitaliza-
impactos muito positivos sobre a por dia e com os investimentos previs- ção do campo –, a produção alcançará a
comunidade local. tos para os próximos anos – a Petrobras marca de 54 mil barris por dia.
TN Petróleo 72 37
9. independentes – parte 3
Produção independente
de óleo e gás beneficia economias regionais
Estudo elaborado pelo Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade
Federal da Bahia (Ufba) demonstra que a atividade independente de
petróleo e gás natural, destinada exclusivamente ao segmento de
exploração e produção, vem gerando impacto positivo na região Nordeste
do país. Nos próximos meses, a pesquisa será estendida até onde atuam
as independentes, no Nordeste e Espírito Santo. por Maria Fernanda Romero
O
trabalho utiliza o muni- Os indicadores sociais ainda es- ampliação das instalações e da
cípio baiano de Mata de tão sendo trabalhados e apontam capacidade da rede de energia
São João, como estudo de para correlações interessantes. elétrica e saneamento básico.
caso, já que naquela área o pe- No momento, estamos estabele- Em alguns casos, a perspectiva
tróleo é produzido por um único cendo correlações com emprego de firmar contratos de longo
pequeno operador. E revela que e renda municipal”, diz o espe- prazo promoveu a formalização
a produção em pequenos campos cialista. de algumas atividades.
com acumulações marginais no A atuação da PetroRecôncavo A pesquisa da Ufba iden-
município responde por cerca de em Mata de São João sozinha tificou, particularmente, em
40% do Produto Interno Bruto respondeu por 14,4% do total Mata de São João, a presença
(PIB) da cidade. de Imposto sobre Serviço (ISS) de 20 segmentos fornecedores:
Segundo o responsável pelo arrecadado pelo município em diretamente para a exploração e
estudo, o professor Doneivan 2009, enquanto as empresas produção de óleo e gás (20 em-
Ferreira, doutor fornecedoras contratadas por presas); materiais de construção
em economia do ela movimentaram 3,4% do ISS. (cinco); materiais e acessórios
petróleo, os da- Dessa forma, ao todo, a atua- industriais (45); outros metalúr-
dos são prelimi- ção da petroleira foi capaz de gicos (oito); informática (18); ma-
nares e ainda não responder por 18% da tributação, terial elétrico (12); consultorias
é possível quanti- cerca de R$ 3 milhões. e assessorias (seis); construção
ficar o benefício Entre as contratações diretas civil (oito); equipamento eletroe-
da atuação desse e indiretas de um independente, letrônico (seis); veículos e peças
grupo de petroleiras além do é possível destacar os serviços (22); produtos químicos (nove);
registrado em Mata de São João. de transporte, básicos (como artigos plásticos (três); trei-
Mas, um modelo conceitual já energia), comércio varejista, namentos empresariais (sete);
permite ensaios que apontam construção civil, hospedagem, comércio e serviços básicos (29);
para resultados ainda mais ex- alimentação, além da compra transporte (17); instituições
pressivos em outros municípios, de produtos industrializados. financeiras (cinco); serviços de
como em Catu e São Sebastião do A chegada das petroleiras de saúde (quatro); outros serviços
Passé, no Recôncavo Baiano. pequeno e médio portes ainda técnicos (oito); máquinas e equi-
“A participação de produtores geram investimento em infra- pamentos (15); e outros (32).
independentes nesse nascente estrutura e serviços públicos, a Ainda segundo a Ufba, as pe-
nicho de mercado faz algumas exemplo da construção e reforma quenas petroleiras apresentam
pequenas economias girarem. de estradas, acesso à telefonia, vantagem socioeconômica sobre
38 TN Petróleo 72
10. o outro brasil do petróleo
as empresas de maior porte
por vários aspectos, como
Abpip em números
• 18 associadas
a contratação de bens e servi-
ços localmente, próximo do • Produção média de 1,5 mil bpd
local de atuação, e o incenti- • Atuação em bacias terrestres dos
vo à cadeia produtiva. Devido estados de Alagoas, Bahia, Espírito
à escala de seus negócios, as Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte
grandes operadoras promo- • De 2005 a 2009, já investiram
vem concorrências globais R$ 2 bilhões, além do comprometido
ou contratam nos grandes com a ANP na assinatura do contrato
centros urbanos, onde estão de concessão
suas sedes, enquanto as
independentes são obrigadas começam a perceber que poços
a desenvolver uma rede de parados e campos subutiliza-
fornecimento regional. dos representam oportunidades
A presença de petroleiras latentes ou desperdiçadas para
de pequeno e médio porte em suas economias locais.
bacias terrestres brasileiras “Apenas a iniciativa polí-
Foto: Banco de Imagens TN Petróleo
foi idealizada pelo governo tica permitirá que áreas cujas
exatamente como um fator de reservas condizem com o perfil
desenvolvimento regional, a do segmento independente sejam
partir da abertura de merca- repassadas para as petroleiras
do, em 1997, tomando como de menor porte,
exemplo o sucesso de outros seja via con-
países. tratação das
No entanto, a manuten- (Abpip) no Congresso. Apro- independentes
ção do segmento esbarra na veitando a discussão sobre um como operado-
escassez de oferta de áreas para novo marco regulatório para o ras, seja pela
exploração e produção. Este tem setor, esse grupo de petroleiras liberação direta
sido tema de intenso debate, espera garantir o desenvolvi- dessas áreas
estimulado pela Associação mento de políticas públicas que para que sejam leiloadas”, afirma
Brasileira dos Produtores In- permitam ampliar seus investi- o presidente da Abpip, Oswaldo
dependentes de Petróleo e Gás mentos. Os gestores municipais Pedrosa.
Banho de água fria
leiloados pela Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustí-
veis (ANP).
ESTA REPoRTAGEm já ESTAvA dia- “Essa atitude contraria a trajetória No documento divulgado pela Ab-
gramada, quando, no dia 30 de junho, de estímulo ao investimento e diver- pip, os produtores independentes fri-
era sancionado o projeto de lei para a sificação do setor, que vinha sendo sam que a manutenção do segmento
capitalização da Petrobras. ocorria, ali, perseguida desde 1997, a partir da aber- tem esbarrado na escassez de oferta
o veto ao artigo que permitiria à estatal tura do mercado. o veto não se alinha, de áreas para exploração e produção,
entregar à União campos marginais também, com a Resolução n. 10/2008 o que, na visão das pequenas com-
como compensação de parte da cessão do CNPE, que prevê o desenvolvimento panhias, limita a implementação de
onerosa de reservas no pré-sal. da pequena indústria petrolífera em áre- logística própria ou consorciada para
o veto foi solicitado pelo mi- as fora do pré-sal”, diz a nota divulgada tratamento, escoamento e comerciali-
nistério de minas e Energia, sob pela Associação Brasileira dos Produto- zação do petróleo produzido.
o argumento de que o uso desses res de Petróleo e Gás (Abpip), institui- “Dessa forma, o sucesso finan-
campos deveria fazer parte de uma ção que reúne os pequenos produtores ceiro do negócio fica comprometido.
política energética a ser estabe- de petróleo no Brasil. Esvai-se também a oportunidade de
lecida pelo Conselho Nacional de Se o artigo fosse sancionado, desenvolvimento regional por meio da
Política Energética (CNPE), e não de os campos marginais liberados pela atuação de petroleiras de pequeno e
um projeto de lei. Petrobras poderiam ser novamente médio porte”, diz a nota.
TN Petróleo 72 39
11. independentes – parte 3
A hora do pré-sal e dos pequenos
produtores de petróleo e gás
Com a maior parte do marco regulatório do pré-sal já
aprovado pelo Congresso, o Brasil está prestes a entrar de
vez em uma nova era de sua história econômica.
N
ão tenho dúvidas de que o nosso país será muito beneficiado
com a exploração dessas novas reservas, acelerando seu cres-
cimento, investindo em setores estratégicos como educação,
ciência e tecnologia, desenvolvimento sustentável e combate à pobreza.
Nos próximos anos, tenho certeza, veremos o Brasil se transformar em
grande produtor de petróleo e gás e grande exportador de produtos
derivados dessa produção, fortalecendo ainda mais sua indústria.
Sem dúvida, estamos na hora do pré-sal, mas também no momen-
to decisivo para a consolidação do segmento de pequenos e médios
produtores de petróleo e gás. Como a TN Petróleo mostrou em suas
últimas edições, um punhado de empresas vem lutando nos últimos anos
para manter e ampliar sua produção de petróleo e gás. Seja na Bahia,
em Sergipe, Alagoas ou no Rio Grande do Norte, essas companhias
representam a oportunidade de emprego e melhorias para algumas
das regiões mais pobres do país e, ao mesmo tempo, são muito im-
portantes para a indústria nacional, em especial a focada em fornecer
equipamentos para o setor de petróleo e gás, que encontram nessas
pequenas e médias empresas uma chance de diversificar sua atuação.
As vendas da indústria para essas empresas, segundo levantamento
da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e
Gás (Abpip) já somam R$ 2 bilhões desde 2003.
Desde essa época venho alertando para a importância de termos
no Brasil um segmento de pequenas e médias empresas no setor de
petróleo e gás. Em 2005 e 2006, a ANP realizou as duas rodadas de
Áreas com Acumulações Marginais. Novas rodadinhas não foram
realizadas porque a ANP não dispõe de novas áreas, contudo elas
existem. Na Bahia, segundo pesquisa feita pela Universidade Federal
da Bahia (Ufba), elas somam entre 1,6 mil e 1,8 mil poços subutilizados
ou praticamente parados.
Não podemos desperdiçar o petróleo e o gás que ainda se encontram
nesses campos onde a exploração já não é economicamente atrativa
Haroldo Lima é diretor para as grandes empresas. Estados Unidos e Canadá têm, respectiva-
geral da Agência mente, 7 mil e 1.500 empresas de pequeno porte, que são responsáveis
Nacional de Petróleo,
Gás Natural e Biocom-
pela criação de mais de 300 mil postos de trabalho e uma produção de
bustíveis – ANP. 2 milhões de barris de petróleo por dia.
40 TN Petróleo 72
12. No Brasil ainda estamos longe disso. Em janeiro de horizonte vai sufocar a maioria delas, fazendo
de 2010, 23 pequenas e médias empresas produzi- aumentar o número de poços e campos marginais
ram juntas cerca de 1,7 mil barris por dia. É menos ociosos. Outra empresa tem planos para perfurar
de 1% da produção nacional, hoje. No entanto, está novos poços em seu campo, mas tem adiado o inves-
comprovado que cada emprego criado em uma dessas timento diante da falta de definição sobre o futuro
empresas de petróleo e gás corresponde a criação para o segmento.
de dez novos postos de trabalho de prestadores de Não podemos desperdiçar essa oportunidade.
serviço na área. Repito, os campos marginais estão Caso as pequenas e médias empresas não consigam
localizados, em sua maioria, em áreas pobres do se firmar, quem vai perder serão os moradores de
Nordeste brasileiro. Mata do São João, na Bahia, ou da cidade de Brejo,
Atualmente, todo o esforço feito para criar o seg- em Sergipe. Nessas cidades já foram abertos res-
mento de pequenas e médias empresas está amea- taurantes, pousadas e outros prestadores de serviço
çado. As empresas enfrentam dificuldades imensas, que ali se instalaram para atender a necessidade
como por exemplo, a Engepet, em Sergipe, que é da empresa que explora o campo marginal. Muitas
obrigada a mandar o seu petróleo para a Univen, outras cidades ainda não tiveram essa chance porque
em São Paulo, a mais de 3.000 km de distância, já os poços lá existentes continuam fechados.
que a unidade da Petrobras que fica a pouco mais Como disse no início deste artigo, estamos na hora
de 200 km não o compra, argumentando falta de do pré-sal, que vai modificar a realidade brasileira.
capacidade, embora opere com ociosidade. Em vez Mas também estamos no momento decisivo para os
de gastar cerca de R$ 4 mil por ano com frete, a menores produtores de petróleo e gás, que já estão
Engepet gasta R$ 40 mil. melhorando a vida de muitos brasileiros no interior
A falta de novas áreas impede que essas empre- do Nordeste. O Brasil precisa dos dois: do macro
sas ampliem sua produção e façam novos investi- em petróleo – o pré-sal; e do micro – os pequenos e
mentos. A continuar assim, no médio prazo, a falta médios produtores de óleo.