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Universidade das Quebradas
Linguagem e Expressão
http://www.youtube.com/watch?v=mFFtEumVPPc&feature=share
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Linguagem e Expressão
“Senti uma emoção que nunca tinha sentido
antes. Foi a primeira vez que vi uma orquestra
ao vivo e adorei. Agora vou procurar sempre
ir. Tirei várias fotos para dividir esse momento
com a minha família.”
Edna Costa, em post sobre o 9º Ensaio Aberto da
Orquestra Petrobras Sinfônica
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Linguagem e Expressão
https://www.youtube.com/watch?v=8C3OiX08Ikc
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Linguagem e Expressão
Dando um exemplo
Quem diz isso cai num raciocínio elitista segundo o qual
“o povo” não precisa de certas coisas, que seriam “muito
finas”, “eruditas”. “O povo”, como qualquer outra classe
social, tem direito a todos os níveis da experiência
humana. Isso ficou provado na Venezuela (antes do
coronel Chávez) quando se começou um movimento de
educação musical voltado para as classes mais humildes.
Dali surgiram realidades notáveis como a Orquestra
Simon Bolivar e seu carismático maestro Gustavo
Dudamel, hoje titular da Sinfônica de Los Angeles.
(O Globo, 05/05/13)
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Linguagem e Expressão
Por mais egoístas que consideremos os seres humanos, existem claramente
certos princípios em sua natureza que os levam a ter participação no destino
dos outros, e para eles fazem mesmo a felicidade destes outros ser uma
necessidade, embora não tirem disso nenhuma outra vantagem a não ser o
prazer de testemunhar. Um princípio desta espécie é a piedade ou a compaixão,
o sentimento que experimentamos pela miséria de outros logo que a vejamos,
ou logo que nos seja descrita vivamente de modo que possamos senti-la. O fato
de muitas vezes sentirmos desgosto porque outras pessoas estão cheias de
desgosto é uma realidade por demais patente para que precisemos de
exemplos para prová-la; pois este sentimento, como todos os outros afetos
primitivos do ser humano, não está de forma alguma restrito aos virtuosos e
aos que têm sentimentos humanos, embora talvez estes o possam viver com
mais sensibilidade, mas até mesmo a pessoa mais grosseira, o desprezador
mais endurecido das leis da comunidade não está inteiramente desprovido
deste sentimento.
Adam Smith. Teoria dos sentimentos morais.
Universidade das Quebradas
Linguagem e Expressão
Entrevista com José Outeiral, autor do livro “Ensaios sobre a
maldade”.
Revista O Globo - Quais são as questões que você discute
nesses ensaios sobre a maldade?
José Outeiral - A primeira questão está na banalização da
violência. O que a filósofa alemã Hannah Arendt diz é que a
violência age de tal forma no ser humano, que não deixa
registro simbólico, não sustenta a memória. Fica um registro
quase sensorial, uma angústia difusa. Tanto que a palavra
genocídio só surge na Segunda Guerra. Antes, os turcos
aniquilaram os armênios e praticamente não restou
memória dessa barbárie. O avanço da tecnologia de guerra
surge em paralelo com a destruição traumática da memória.
É por isso que o Museu do Holocausto é necessário, para
que torne isso vivo, para que não se esqueça. Algo
semelhante ocorre com jovens brasileiros que vivem só
violência e barbárie. Viver é não viver, não existir e não
pensar.
(Revista O Globo - 25/06/06)
Universidade das Quebradas
Linguagem e Expressão
A condescendência com que os brasileiros têm convivido com a corrupção
não é propriamente algo que fale bem de nosso caráter. Conviver e
condescender com a corrupção não é, contudo, praticá-la, como queria um
líder empresarial que assegurava sermos todos corruptos.
Somos mesmo?
Um rápido olhar sobre nossas práticas cotidianas registra a amplitude e a
profundidade da corrupção, em várias intensidades. Há a pequena corrupção,
cotidiana e muito difundida. É, por exemplo, a da secretária da repartição
pública que engorda seu salário datilografando trabalhos “para fora”,
utilizando máquina, papel e tempo que deveriam servir à instituição. Os
chefes justificam esses pequenos desvios com a alegação de que os salários
públicos são baixos. Assim, estabelece-se um pacto: o chefe não luta por
melhores salários de seus funcionários, enquanto estes, por sua vez, não
“funcionam”. O outro exemplo é o do policial que entra na padaria do bairro
em que faz ronda e toma de graça um café com coxinha. Em troca, garante
proteção extra ao estabelecimento comercial, o que inclui, eventualmente, a
liquidação física de algum ladrão pé-de-chinelo.
PINSKY, Jaime/ELUF, Luzia Nagib. Brasileiro(a) é assim mesmo. Ed. Contexto.
Universidade das Quebradas
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  • 3. “Senti uma emoção que nunca tinha sentido antes. Foi a primeira vez que vi uma orquestra ao vivo e adorei. Agora vou procurar sempre ir. Tirei várias fotos para dividir esse momento com a minha família.” Edna Costa, em post sobre o 9º Ensaio Aberto da Orquestra Petrobras Sinfônica Universidade das Quebradas Linguagem e Expressão
  • 5. Dando um exemplo Quem diz isso cai num raciocínio elitista segundo o qual “o povo” não precisa de certas coisas, que seriam “muito finas”, “eruditas”. “O povo”, como qualquer outra classe social, tem direito a todos os níveis da experiência humana. Isso ficou provado na Venezuela (antes do coronel Chávez) quando se começou um movimento de educação musical voltado para as classes mais humildes. Dali surgiram realidades notáveis como a Orquestra Simon Bolivar e seu carismático maestro Gustavo Dudamel, hoje titular da Sinfônica de Los Angeles. (O Globo, 05/05/13) Universidade das Quebradas Linguagem e Expressão
  • 6. Por mais egoístas que consideremos os seres humanos, existem claramente certos princípios em sua natureza que os levam a ter participação no destino dos outros, e para eles fazem mesmo a felicidade destes outros ser uma necessidade, embora não tirem disso nenhuma outra vantagem a não ser o prazer de testemunhar. Um princípio desta espécie é a piedade ou a compaixão, o sentimento que experimentamos pela miséria de outros logo que a vejamos, ou logo que nos seja descrita vivamente de modo que possamos senti-la. O fato de muitas vezes sentirmos desgosto porque outras pessoas estão cheias de desgosto é uma realidade por demais patente para que precisemos de exemplos para prová-la; pois este sentimento, como todos os outros afetos primitivos do ser humano, não está de forma alguma restrito aos virtuosos e aos que têm sentimentos humanos, embora talvez estes o possam viver com mais sensibilidade, mas até mesmo a pessoa mais grosseira, o desprezador mais endurecido das leis da comunidade não está inteiramente desprovido deste sentimento. Adam Smith. Teoria dos sentimentos morais. Universidade das Quebradas Linguagem e Expressão
  • 7. Entrevista com José Outeiral, autor do livro “Ensaios sobre a maldade”. Revista O Globo - Quais são as questões que você discute nesses ensaios sobre a maldade? José Outeiral - A primeira questão está na banalização da violência. O que a filósofa alemã Hannah Arendt diz é que a violência age de tal forma no ser humano, que não deixa registro simbólico, não sustenta a memória. Fica um registro quase sensorial, uma angústia difusa. Tanto que a palavra genocídio só surge na Segunda Guerra. Antes, os turcos aniquilaram os armênios e praticamente não restou memória dessa barbárie. O avanço da tecnologia de guerra surge em paralelo com a destruição traumática da memória. É por isso que o Museu do Holocausto é necessário, para que torne isso vivo, para que não se esqueça. Algo semelhante ocorre com jovens brasileiros que vivem só violência e barbárie. Viver é não viver, não existir e não pensar. (Revista O Globo - 25/06/06) Universidade das Quebradas Linguagem e Expressão
  • 8. A condescendência com que os brasileiros têm convivido com a corrupção não é propriamente algo que fale bem de nosso caráter. Conviver e condescender com a corrupção não é, contudo, praticá-la, como queria um líder empresarial que assegurava sermos todos corruptos. Somos mesmo? Um rápido olhar sobre nossas práticas cotidianas registra a amplitude e a profundidade da corrupção, em várias intensidades. Há a pequena corrupção, cotidiana e muito difundida. É, por exemplo, a da secretária da repartição pública que engorda seu salário datilografando trabalhos “para fora”, utilizando máquina, papel e tempo que deveriam servir à instituição. Os chefes justificam esses pequenos desvios com a alegação de que os salários públicos são baixos. Assim, estabelece-se um pacto: o chefe não luta por melhores salários de seus funcionários, enquanto estes, por sua vez, não “funcionam”. O outro exemplo é o do policial que entra na padaria do bairro em que faz ronda e toma de graça um café com coxinha. Em troca, garante proteção extra ao estabelecimento comercial, o que inclui, eventualmente, a liquidação física de algum ladrão pé-de-chinelo. PINSKY, Jaime/ELUF, Luzia Nagib. Brasileiro(a) é assim mesmo. Ed. Contexto. Universidade das Quebradas Linguagem e Expressão