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Lee Shulman: "O Aprendizagem
Baseada em Problemas (ABP) requer
que os estudantes assumam os
riscos de expor suas opiniões e
ideias"




Daniela Ingui. Labjor ComCiência. Lee Shulman, professor emérito da
Stanford University e da Carnegie Fundation for Advancement of Teaching é
especialista em formação de professores, avaliação do ensino e da educação
nas áreas da medicina, ciência e matemática. Mas o intelectual é
principalmente conhecido pela teoria do conhecimento pedagógico do
conteúdo. Nesta entrevista, Shulman explica como o ABP e a evolução do
conhecimento pedagógico dos professores pode contribuir para a formação
de profissionais mais bem preparados para os atuais desafios do mercado de
trabalho.

Como seu estudo com o processo de tomada de decisões na área
médica está relacionado com o ABP?Lee Shulman - Quando nós criamos
a escola de medicina na Universidade de Michigan em 1968, fomos um dos
primeiros a construir o ensino de ciências focado em problemas e grande
parte dos conceitos subjacentes ao ABP veio de meu estudo sobre como os
médicos fazem diagnósticos complexos. A partir dessa experiência, foram
surgindo vários outros temas de pesquisa, entre eles o papel dos problemas
na educação para a formação de profissionais capazes de solucionar
problemas. As pessoas podem aprender a ser criativas para solucionar os
mais diversos problemas, mas como usar sistematicamente métodos de
ensino capazes de preparar os estudantes a conviver com o inesperado, o
surpreendente e o imprevisível? Este foi justamente o foco de minha palestra
na abertura do Congresso ABP 2010 iniciado no dia 8 de fevereiro, em São
Paulo. Mostrei exemplos de nossas pesquisas na preparação de advogados,
engenheiros, enfermeiras e médicos para discutir os tipos de programas de
ensino capazes de preparar pessoas criativas na solução de problemas.

O que as pesquisas mostram quanto aos alunos que são submetidos ao
método ABP com relação àqueles que permanecem sob o método
tradicional de ensino?Shulman - Não há evidências consistentes de que os
estudantes submetidos ao ABP são mais bem sucedidos em seu trabalho ou
que se lembrem com maior facilidade dos conteúdos aprendidos do que
aqueles que estudaram sob os métodos tradicionais de ensino. No caso dos
estudantes de medicina, por exemplo, fica difícil fazer essa distinção porque
todos são submetidos aos mesmos tipos de rondas clínicas durante seus
estudos e a residência, onde eles têm a oportunidade de praticar
frequentemente a tomada de decisões. O que parece claro é que o ABP
favorece com que os estudantes sejam mais motivados e tenham atitudes
mais positivas do que os estudantes tradicionais.

Que tipo de estudante é necessário para que o ABP funcione?Shulman -
O ABP requer que os estudantes assumam os riscos de expor suas opiniões
e ideias em público e que mostrem independência para procurar informações
novas por conta própria. Geralmente esses pré-requisitos são atendidos por
alunos com perfil naturalmente mais ativo no processo de aprendizagem.
Mas, mesmo em países onde os estudantes têm a reputação de serem mais
passivos, como no caso dos países baixos e escandinavos, o ABP mostrou
bons resultados. E se os estudantes querem ser ativos profissionalmente em
suas carreiras, seja na medicina, enfermagem ou engenharia, e até mesmo se
eles querem ser cidadãos participativos dentro de uma democracia, eles
precisam desenvolver novos hábitos para a participação ativa.

Outro domínio importante de sua pesquisa é o conhecimento
pedagógico do conteúdo (do inglês, Pedagogical Content Knowledge –
PBK). O que seria exatamente isso?Shulman - Quando era professor de
psicologia educacional e educação médica na Universidade de Michigan, eu
estudei por quase dez anos o pensamento e conhecimento de médicos. Ficou
claro para mim que os médicos ganhavam uma boa quantidade de
conhecimento a partir de suas práticas e me pareceu óbvio pensar que isso
também deveria ser verdade para os professores. Quando nós somos
requisitados para explicar o que sabemos aos outros, certamente aprendemos
a entender melhor nossas disciplinas. Muitas das boas ideias vêm de nossas
experiências de ensino. É a “sabedoria da prática”, como sugere o título de
um dos meus livros (The wisdom of practice: essays on teaching, learning,
and learning to teach). Mas, além disso, há também uma evolução no
entendimento quanto aos modos de ensino capazes de transmitir o conteúdo
da forma mais compreensível possível para os outros. Era preciso pesquisar
sobre como os professores pensam e compreendem, tal como a razão de
suas principais ideias, conceitos e princípios acerca dos diferentes assuntos
que ensinam. E é essa ênfase dada ao conhecimento que sustenta o estudo
sobre o conhecimento pedagógico do conteúdo, que se tornou aspecto central
de minhas teorias.

Se o PCK é adquirido com a experiência de ensino, como se pode
explicar a existência de professores de longa data cuja didática deixa a
desejar?Shulman - É claro que professores excelentes podem desenvolver o
PCK apenas através de suas práticas de ensino, mas a experiência não é
garantia para o desenvolvimento profundo do PCK . Os professores devem
ser propositadamente ensinados a enxergar como ideias complexas de sua
área do conhecimento podem ser representadas de forma que os estudantes
compreendam melhor. E para termos um conhecimento pedagógico do
conteúdo, temos que entender o que faz algumas ideias serem de difícil
compreensão e que tipos de exemplos, analogias e problemas podem torná-
las mais claras para os alunos. Uma preparação efetiva do professor, que o
permita desenvolver o PCK , certamente proporcionará um valioso começo
em sua trajetória de ensino. É como dizemos, alguns professores têm 20 anos
de experiência, outros têm apenas um ano de experiência que eles repetem
vinte vezes. Essa é a razão de vermos tanto professores jovens e ótimos,
como professores antigos e péssimos. No ensino superior, por exemplo, os
professores são mais treinados a fazer pesquisa do que a ensinar, quando a
primeira e mais importante responsabilidade de um professor universitário é
justamente ensinar os estudantes que fazem parte da universidade. Isso
frequentemente acarreta em péssimos professores e em alunos
desinteressados por suas matérias.

Como é possível medir essas mudanças no conhecimento dos
professores?Shulman - Podemos ver a evidência do conhecimento dos
professores a partir da análise dos cursos que eles lecionam e como esses
cursos são sistematizados, das leituras que eles selecionam aos alunos, do
modo como eles ensinam e lideram discussões e da qualidade dos testes que
eles aplicam aos estudantes. Também podemos procurar por evidências nos
próprios alunos, que passam a aprender e compreender melhor o conteúdo,
além de se sentirem mais motivados e entusiasmados com o curso. Muitos
professores, mesmo os mais brilhantes em pesquisa, ensinam de um jeito que
os estudantes detestam a matéria e nunca sentem o desejo de estudá-la
novamente, o que enfraquece o futuro no campo de pesquisa em questão.
Nós podemos ver frequentemente esse fenômeno no modo como as mulheres
são ensinadas na universidade a acreditar que elas não podem aprender
matemática, ciência ou engenharia tão bem quanto os homens. Esta é uma
concepção errônea que destrói a motivação de brilhantes mulheres a darem
importantes contribuições à sociedade.

É possível traçar uma conexão entre o conhecimento pedagógico do
conteúdo e a aprendizagem baseada em problemas?Shulman - O PCK é
o que distingue um professor excelente ou um profissional de determinada
área de alguém que apenas sabe a própria disciplina. É o que distingue um
excelente biólogo de um ótimo professor de biologia, uma vez que mais do
que simplesmente conhecer sua disciplina ele também entende como
transformar seu conhecimento em experiências que irão dar suporte ao
aprendizado dos alunos. Nesse sentido, o ensino baseado no ABP requer
uma forma de conhecimento pedagógico do conteúdo porque o ensino
baseado em problemas transforma a compreensão da disciplina em formas
destinadas a estimular, engajar e aprofundar a aprendizagem e compreensão
do aluno. Engajar e motivar estudantes, guiando-os para enxergar as
conexões entre as categorias das disciplinas e os reais problemas no mundo
são aspectos do conhecimento pedagógico do conteúdo em professores.


http://www.oei.es/divulgacioncientifica/entrevistas_071.htm

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LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
 

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  • 1. Lee Shulman: "O Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) requer que os estudantes assumam os riscos de expor suas opiniões e ideias" Daniela Ingui. Labjor ComCiência. Lee Shulman, professor emérito da Stanford University e da Carnegie Fundation for Advancement of Teaching é especialista em formação de professores, avaliação do ensino e da educação nas áreas da medicina, ciência e matemática. Mas o intelectual é principalmente conhecido pela teoria do conhecimento pedagógico do conteúdo. Nesta entrevista, Shulman explica como o ABP e a evolução do conhecimento pedagógico dos professores pode contribuir para a formação de profissionais mais bem preparados para os atuais desafios do mercado de trabalho. Como seu estudo com o processo de tomada de decisões na área médica está relacionado com o ABP?Lee Shulman - Quando nós criamos a escola de medicina na Universidade de Michigan em 1968, fomos um dos primeiros a construir o ensino de ciências focado em problemas e grande parte dos conceitos subjacentes ao ABP veio de meu estudo sobre como os médicos fazem diagnósticos complexos. A partir dessa experiência, foram surgindo vários outros temas de pesquisa, entre eles o papel dos problemas na educação para a formação de profissionais capazes de solucionar problemas. As pessoas podem aprender a ser criativas para solucionar os mais diversos problemas, mas como usar sistematicamente métodos de ensino capazes de preparar os estudantes a conviver com o inesperado, o surpreendente e o imprevisível? Este foi justamente o foco de minha palestra na abertura do Congresso ABP 2010 iniciado no dia 8 de fevereiro, em São
  • 2. Paulo. Mostrei exemplos de nossas pesquisas na preparação de advogados, engenheiros, enfermeiras e médicos para discutir os tipos de programas de ensino capazes de preparar pessoas criativas na solução de problemas. O que as pesquisas mostram quanto aos alunos que são submetidos ao método ABP com relação àqueles que permanecem sob o método tradicional de ensino?Shulman - Não há evidências consistentes de que os estudantes submetidos ao ABP são mais bem sucedidos em seu trabalho ou que se lembrem com maior facilidade dos conteúdos aprendidos do que aqueles que estudaram sob os métodos tradicionais de ensino. No caso dos estudantes de medicina, por exemplo, fica difícil fazer essa distinção porque todos são submetidos aos mesmos tipos de rondas clínicas durante seus estudos e a residência, onde eles têm a oportunidade de praticar frequentemente a tomada de decisões. O que parece claro é que o ABP favorece com que os estudantes sejam mais motivados e tenham atitudes mais positivas do que os estudantes tradicionais. Que tipo de estudante é necessário para que o ABP funcione?Shulman - O ABP requer que os estudantes assumam os riscos de expor suas opiniões e ideias em público e que mostrem independência para procurar informações novas por conta própria. Geralmente esses pré-requisitos são atendidos por alunos com perfil naturalmente mais ativo no processo de aprendizagem. Mas, mesmo em países onde os estudantes têm a reputação de serem mais passivos, como no caso dos países baixos e escandinavos, o ABP mostrou bons resultados. E se os estudantes querem ser ativos profissionalmente em suas carreiras, seja na medicina, enfermagem ou engenharia, e até mesmo se eles querem ser cidadãos participativos dentro de uma democracia, eles precisam desenvolver novos hábitos para a participação ativa. Outro domínio importante de sua pesquisa é o conhecimento pedagógico do conteúdo (do inglês, Pedagogical Content Knowledge – PBK). O que seria exatamente isso?Shulman - Quando era professor de psicologia educacional e educação médica na Universidade de Michigan, eu estudei por quase dez anos o pensamento e conhecimento de médicos. Ficou claro para mim que os médicos ganhavam uma boa quantidade de conhecimento a partir de suas práticas e me pareceu óbvio pensar que isso também deveria ser verdade para os professores. Quando nós somos requisitados para explicar o que sabemos aos outros, certamente aprendemos a entender melhor nossas disciplinas. Muitas das boas ideias vêm de nossas experiências de ensino. É a “sabedoria da prática”, como sugere o título de um dos meus livros (The wisdom of practice: essays on teaching, learning, and learning to teach). Mas, além disso, há também uma evolução no entendimento quanto aos modos de ensino capazes de transmitir o conteúdo da forma mais compreensível possível para os outros. Era preciso pesquisar sobre como os professores pensam e compreendem, tal como a razão de suas principais ideias, conceitos e princípios acerca dos diferentes assuntos que ensinam. E é essa ênfase dada ao conhecimento que sustenta o estudo
  • 3. sobre o conhecimento pedagógico do conteúdo, que se tornou aspecto central de minhas teorias. Se o PCK é adquirido com a experiência de ensino, como se pode explicar a existência de professores de longa data cuja didática deixa a desejar?Shulman - É claro que professores excelentes podem desenvolver o PCK apenas através de suas práticas de ensino, mas a experiência não é garantia para o desenvolvimento profundo do PCK . Os professores devem ser propositadamente ensinados a enxergar como ideias complexas de sua área do conhecimento podem ser representadas de forma que os estudantes compreendam melhor. E para termos um conhecimento pedagógico do conteúdo, temos que entender o que faz algumas ideias serem de difícil compreensão e que tipos de exemplos, analogias e problemas podem torná- las mais claras para os alunos. Uma preparação efetiva do professor, que o permita desenvolver o PCK , certamente proporcionará um valioso começo em sua trajetória de ensino. É como dizemos, alguns professores têm 20 anos de experiência, outros têm apenas um ano de experiência que eles repetem vinte vezes. Essa é a razão de vermos tanto professores jovens e ótimos, como professores antigos e péssimos. No ensino superior, por exemplo, os professores são mais treinados a fazer pesquisa do que a ensinar, quando a primeira e mais importante responsabilidade de um professor universitário é justamente ensinar os estudantes que fazem parte da universidade. Isso frequentemente acarreta em péssimos professores e em alunos desinteressados por suas matérias. Como é possível medir essas mudanças no conhecimento dos professores?Shulman - Podemos ver a evidência do conhecimento dos professores a partir da análise dos cursos que eles lecionam e como esses cursos são sistematizados, das leituras que eles selecionam aos alunos, do modo como eles ensinam e lideram discussões e da qualidade dos testes que eles aplicam aos estudantes. Também podemos procurar por evidências nos próprios alunos, que passam a aprender e compreender melhor o conteúdo, além de se sentirem mais motivados e entusiasmados com o curso. Muitos professores, mesmo os mais brilhantes em pesquisa, ensinam de um jeito que os estudantes detestam a matéria e nunca sentem o desejo de estudá-la novamente, o que enfraquece o futuro no campo de pesquisa em questão. Nós podemos ver frequentemente esse fenômeno no modo como as mulheres são ensinadas na universidade a acreditar que elas não podem aprender matemática, ciência ou engenharia tão bem quanto os homens. Esta é uma concepção errônea que destrói a motivação de brilhantes mulheres a darem importantes contribuições à sociedade. É possível traçar uma conexão entre o conhecimento pedagógico do conteúdo e a aprendizagem baseada em problemas?Shulman - O PCK é o que distingue um professor excelente ou um profissional de determinada área de alguém que apenas sabe a própria disciplina. É o que distingue um excelente biólogo de um ótimo professor de biologia, uma vez que mais do
  • 4. que simplesmente conhecer sua disciplina ele também entende como transformar seu conhecimento em experiências que irão dar suporte ao aprendizado dos alunos. Nesse sentido, o ensino baseado no ABP requer uma forma de conhecimento pedagógico do conteúdo porque o ensino baseado em problemas transforma a compreensão da disciplina em formas destinadas a estimular, engajar e aprofundar a aprendizagem e compreensão do aluno. Engajar e motivar estudantes, guiando-os para enxergar as conexões entre as categorias das disciplinas e os reais problemas no mundo são aspectos do conhecimento pedagógico do conteúdo em professores. http://www.oei.es/divulgacioncientifica/entrevistas_071.htm