SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 11
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
Módulo 5 – Sistema Integrado de Controle Parasitário - SICOPA 
Marcelo Beltrão Molento 
Médico Veterinário, PhD em Parasitologia 
Laboratório de Doenças Parasitárias, DMV 
Universidade Federal do Paraná, UFPR 
________________________________________________________________ 
Introdução 
O sucesso de um programa de controle parasitário não depende somente de um esquema de tratamento eficaz, mas também de uma combinação de práticas de manejo que possam ser adotadas em várias ocasiões. Os métodos utilizados devem sempre observar a epidemiologia do parasita em sua relação com a atividade desenvolvida na propriedade. Existem algumas técnicas já em uso ou sendo desenvolvidas que podem auxiliar no combate dos efeitos negativos dos parasitas. Estas estratégias visam principalmente reduzir a contaminação dos animais e da pastagem, assim como manter a eficácia das drogas antiparasitárias. O produtor ou técnico responsável deve sempre ter em mente que não existem fórmulas prontas de um controle parasitário perfeito e sim a análise caso-a-caso para um melhor aproveitamento dos recursos humano e animal. Abaixo seguem algumas dicas que podem ser utilizadas separadamente ou em conjunto. 
Usando o SICOPA: flexibilização de técnicas com conhecimento 
1. Selecionar as drogas antiparasitárias: A seleção de qual composto antiparasitário será utilizado é muito importante. Em relação a isto, existem duas características básicas para qualquer droga: (1) espectro de ação e (2) persistência no organismo animal. Espectro de ação: A indicação técnica é, de preferência, utilizar grupos específicos de drogas para os organismos presentes. Para utilizar tal estratégia
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
é necessário conhecer contra quais organismos se esta combatendo, realizando exames de OPG e coprocultura. Hoje, existe a disposição um número relativamente grande de famílias que apresentam curto-, médio- e largo-espectro de ação (ver tabela). Deve-se, sempre que possível, evitar o uso de compostos de largo-espectro. Persistência no organismo animal: Além do Bem-estar dos animais, a preocupação dos produtores hoje em dia é com o nível tóxico das drogas principalmente no leite e na carne. Porém, se tem dado pouca ênfase em relação ao efeito prolongado, às vezes pouco eficaz, contra os parasitas. Em relação à permanência da droga na circulação, deve-se evitar compostos de famílias que apresentam longa permanência (lactonas macrocíclicas), com o objetivo de reduzir o processo de seleção de indivíduos resistentes. 
2. Determinar corretamente o peso dos animais: No Brasil, é comum que os produtores façam a pesagem dos animais “a olho”, dando margem a sub-dosagem e ao desperdício. Os animais devem ser tratados de acordo com seu peso mais aproximado, sendo necessário dividir as categorias em lotes. O grupo mais leve deve receber medicação diferenciada do que o grupo mais pesado. O objetivo é não administrar doses elevadas em animais leves. Ao contrário do que se imagina, a sub-dose diminui significativamente o processo de seleção para a resistência. 
3. Cuidar com administração de medicação oral: Deve-se tomar muito cuidado para que ocorra uma perfeita administração do medicamento. Existem evidências de que o fechamento da goteira esofágica possa influenciar a ação das drogas utilizadas por via oral em ruminantes. A goteira esofágica é ativada quando a cabeça do animal fica estendida acima da linha horizontal do dorso. Foi determinado que o oxibendazole pode ter sua passagem acelerada, perdendo até 40% de sua eficácia mesmo contra organismos susceptíveis. 
4. Diminuir o número de tratamentos: Por motivos econômicos óbvios e para retardar o aparecimento da resistência parasitária se recomenda prescrever o menor número de tratamentos por ano, mesmo para propriedades com exploração de leite ou
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
cordeiro premium. Como viso anteriormente, existe uma íntima relação entre o número de tratamentos e a seleção parasitária. Nesta relação, quanto menor o número de tratamentos maior será o período de utilização de uma droga, pois se permitirá a reprodução e a manutenção de parasitas com genética susceptível em maior proporção do que os resistentes. 
5. Fazer a rotação lenta das famílias de vermífugos: Foi comprovado que a rotação rápida de bases químicas acelera o processo de seleção parasitária. Pior do que isto, causa a resistência anti-helmíntica múltipla (RAM). Estipulou-se que o período mínimo para a rotação de drogas seja de um ano no caso de ovinos e caprinos e após 8 a 12 tratamentos para bovinos. O critério para esta recomendação é que, dentro de várias gerações a seleção parasitária será inevitável, então ao trocar de bases, ocorrerá uma alternância estratégica da seleção química, com conseqüente redução da presença dos genes resistentes do ano anterior. Pode-se perguntar: O que ocorrerá em longo prazo? Resposta: RAM, muito provavelmente! 
Preconiza-se também o uso contínuo (indefinidamente) de determinada droga, com constante monitoramento por OPG, para somente depois de determinada redução da eficácia (abaixo de 80%) proceder com a mudança da base química. Desta forma a droga seria utilizada até sua exaustão. 
6. Testar a eficácia das drogas antes de iniciar o tratamento: A melhor situação é quando o proprietário e o técnico entendem que o problema da falta de eficácia das drogas é serio e pode causar graves prejuízos econômicos. Sugere-se que seja feito um teste de eficácia para respaldar as decisões do programa sanitário. 
Para aquelas situações onde se deseja utilizar a rotação lenta de bases, se indica proceder com o exame de OPG antes da substituição, determinando a eficácia da droga que será utilizada. O cálculo da eficácia é estabelecido a partir da fórmula que utiliza os valores da OPG antes e após o tratamento. 
Média da OPG no dia 0 – média da OPG no dia 10 /média da OPG do dia 0 x 100= % E
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
7. Utilizar esquema de tratamento tático: Esta estratégia deve se basear na obtenção dos resultados da OPG. Os dados oriundos deste teste, mesmo moderadamente precisos, auxiliam na decisão da época de administração de do medicamento. Esta estratégia deve ser utilizada para evitar épocas de surtos parasitários. 
8. Tratar larvas em hipobiose (desenvolvimento interrompido): Esta condição dependerá da localização geográfica e das condições climáticas apropriadas. Se este for o caso, deve-se utilizar medicamentos capazes de eliminar este estádio no hospedeiro. 
9. Utilizar animais mais velhos da mesma espécie. A imunidade adquirida ocorre quando os animais adultos já tiveram contato com determinado parasita e tornam-se aptos a superar tal infecção. Pode-se então, utilizar estes animais considerados “imunes” incompletos juntos, ou antes, dos animais jovens. O objetivo é diminuir a concentração de larvas infectantes no pasto e a taxa de infecção dos animais jovens. 
10. Utilizar animais de espécies diferentes: Partindo do princípio de que não haverá perigo de infecção cruzada, a prática de alternar o pastoreio de animais ruminantes e não ruminantes pode ser útil, contribuindo para o que se chama de “diluição de larvas infectantes” na pastagem. Os outros animais farão a retirada das larvas da pastagem com mais eficiência do que na indicação acima. 
11. Alternar agricultura & pecuária: O objetivo desta estratégia é reduzir o número de larvas infectantes na pastagem ao máximo, gerando um ambiente pouco propício para sua sobrevivência. Desta forma os animais que estiverem em áreas que foram utilizadas para cultivo agrícola anteriormente a pastagem, possuem baixo risco de infecção. Esta situação é transitória e de curta duração, devido à carga parasitária trazida pelos animais.
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
12. Introduzir cepas susceptíveis: Embora esta estratégia seja de difícil aceitação por parte de técnicos e produtores, pode ser a última saída em situações catastróficas, como ocorre na África do Sul, no Brasil e muitos outros países. Sugere-se então, que sejam adquiridos animais oriundos de propriedades com alto índice de susceptibilidade e que estes sejam introduzidos sem tratamento prévio. Isto produzirá um cruzamento entre as diferentes cepas de parasitas, podendo ocasionar uma redução significativa dos níveis de resistência. Esta estratégia ainda está em fase de testes, devido à possibilidade da dominância dos genes resistentes. 
13. Combinar (misturar) as bases químicas: A combinação de drogas de famílias distintas é uma prática rotineira entre produtores. Sua fundamentação, não equivocada, é de que a utilização de tal estratégia apresenta maior eficácia, mantendo- a alta por um período prolongado. Outra vantagem é a altíssima eliminação de genes RR, reduzindo consideravelmente as chances deste genótipo se elevar. Neste caso, também se espera que exista um efeito aditivo de eliminação dos genes susceptíveis (S) durante o período de utilização. 
No entanto, deve-se utilizar esta estratégia de controle somente quando a eficácia das drogas, isoladamente, for maior do que 95%. Se caso uma das bases químicas já apresentar certo grau de resistência, então esta estratégia não é aconselhável. Como conseqüência, se estará desenvolvendo a resistência para a outra droga mais rapidamente. Além do planejamento inicial existem outros fatores importantes em relação ao uso da combinação de drogas, como por exemplo: vias de aplicação, dosagens iniciais, especificidade de cada droga, tolerância do hospedeiro e muito importante, o alto custo. No Brasil existem várias companhias que utilizam esta estratégia. Vale ressaltar que em muitos casos a utilização da combinação representa uma grande desvantagem. 
14. Utilizar vacinas. Nada poderia ser mais bem recebido do que uma vacina eficaz para o amplo controle de helmintos. Porém a eficácia das vacinas testadas desagrada à opinião científica. A única vacina que foi desenvolvida com algum sucesso
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
contra helmintos em Medicina Veterinária foi obtida através de larvas irradiadas contra Dictyocaulus viviparus e ao D. filaria na Alemanha e ao Ancylostomum caninum. 
15. Restringir o alimento (jejum) antes do tratamento. A redução da quantidade de alimento promove uma redução da motilidade do trato digestório permitindo uma melhor absorção e maior permanência do medicamento no organismo animal. Os produtos antiparasitários de administração oral trazem em sua formulação um veículo oleoso que se adere ao alimento. Pode-se então manter os animais em jejum de 10 - 12h antes do tratamento (durante a noite), mantendo os animais somente com água por outras seis horas (perto do meio-dia), até soltar no pasto novamente. Períodos de restrição de 12 e 24 horas podem aumentar a eficácia de drogas como o albendazole ou oxfendazole em 50 e 120%, respectivamente. Deve-se evitar tratar fêmeas próximas do parto, animais fracos ou febris e animais em condições de estresse com esta forma de manejo. 
16. Manejar a lotação dos piquetes e horário de pastejo. Vários estudos da década de 60 definiram mais claramente o comportamento de parasitas na pastagem. Foi determinado que larvas presentes nas fezes de ovinos e caprinos se afastam muito pouco do bolo fecal (média de 8 cm) e sobem a uma altura média de 6 a 10 cm, auxiliadas pela umidade e orvalho. Então, uma boa estratégia de pastejo é soltar os animais somente após a secagem do orvalho na ponta do pasto. Pode-se também evitar a superpopulação nos piquetes, pois quando isto ocorre os animais pastam até as partes mais baixas do capim, aumentando a taxa de contaminação devido a maior presença das larvas. 
17. Tratar animais gestantes e antes do período de desmama: Animais gestantes devem receber tratamento tático entre 30 e 15 dias antes do parto devido a sua maior susceptibilidade para infecções. Estes animais, quando não tratados, podem disseminar grande quantidade de ovos na pastagem devido a maior susceptibilidade ao parasita. Animais jovens devem ser avaliados preventivamente a partir do 20o dia de
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
vida. Para ambos os casos o ideal é que se faça exame clínico (inspeção visual) e OPG com coprocultura. 
18. Tratar animais recém-adquiridos: Deve-se tomar muito cuidado com animais recém-adquiridos, pois estes poderão ser a fonte de disseminação de ovos/larvas de parasitas resistentes. Deve-se ter o conhecimento do histórico de tratamentos anteriores e possíveis problemas relacionados com parasitismo. Talvez esta informação seja bem difícil de obter! O controle preventivo se faz, tratando todos os animais antes que estes adentrem ao novo lote, respeitando um intervalo de duas semanas para o segundo tratamento. 
19. Tratar duas vezes vs. Dobrar a dose: É mais indicado tratar os animais duas vezes com intervalo de 12 h do que utilizar um medicamento que contenha concentrações elevadas em dose única. Como foi determinada, desta forma a concentração da droga será suficiente para alcançar a eficácia desejada, mantendo-a alta por mais tempo. A razão técnica é que existirá uma saturação da droga no parasita. Por outro lado, o tratamento em dose dobrada aumenta a pressão de seleção e acelera o processo de resistência. 
20. Tratar e mudar (dose and move). Alguns técnicos indicam o esquema baseado no princípio “tratar e mudar” como alternativa de manejo parasitário. A estratégia consiste na transferência dos animais, após o tratamento, para piquete “limpo”, teoricamente sem a presença de ovos ou larvas. O proprietário deve ser cuidadosamente alertado dos riscos de se utilizar tal mecanismo, visto que esta alternativa pode ser boa caso não existam cepas resistentes e má quando se suspeita da presença da resistência. Este fato foi comprovado após utilizar esta técnica, demonstrando que a pastagem poderá ser contaminada definitivamente somente com organismos altamente resistentes (RR). O ideal é que os animais sejam tratados somente após a transferência para o pasto novo, carregando e disseminando todos os genótipos presentes na refugia.
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
21. Tratar o rebanho de forma seletiva. Na maioria dos casos, as infecções por helmintos têm distribuição dispersa, isto é, muitos hospedeiros com baixa carga parasitária e poucos hospedeiros com alta carga parasitária. A estratégia de tratamento seletivo consiste em identificar os animais mais infectados através de diagnóstico clínico individual ou laboratorial. Devido à complexidade em relação a quais animais devem ser tratados e quais devem ser poupados, três medidas de avaliação foram propostas para auxiliar no acompanhamento das infecções: 
 Avaliação terapêutica: Identificar através de diagnóstico clínico o animal com grau parasitário que necessita tratamento imediato, utilizando critérios como: anemia, diarréia, edema submandibular (papeira) e estado corporal. Foi desenvolvido na África do Sul o método Famacha, que é um sistema de avaliação terapêutica simples e eficiente para controlar o Haemonchus contortus. 
 Avaliação da produção: Através desta avaliação mede-se o efeito das infecções parasitárias sub-clínicas a partir de parâmetros produtivos, como ganho de peso e produção de leite, antes que ocorra a fase clínica. No caso particular da produção leiteira deve-se tratar fêmeas de alta produção e as de primeira cria (primíparas). 
 Avaliação preventiva: Prediz infecções futuras através de exames laboratoriais. Esta estratégia possibilita a aplicação de medidas de controle apropriadas, sem perdas produtivas. Neste caso, a proposta é o tratamento tático. 
22. Utilizar o método Famacha Foi determinado que existe uma grande variação na resposta às infecções parasitárias entre animais da mesma raça/rebanho. Esta variabilidade pode ser medida clinicamente através do grau de anemia de cada animal, visando o tratamento seletivo dos animais. O método Famacha correlaciona diferentes tons da coloração da conjuntiva dos animais com valores de hematócrito, selecionando individualmente os animais que receberão tratamento ou não. Dentre as vantagens deste método se destacam: identificar animais resistentes e resilientes, diminuir o número de tratamentos, gerar grande economia na produção e prolongar a
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
eficácia das drogas anti-helmínticas. Este método foi utilizado durante o período de 1998 a 1999 avaliando 10 rebanhos ovinos em diferentes regiões da África do Sul. Após este período, foi observada uma redução de 58% (38 a 96%) na utilização dos medicamentos. No Brasil, dados preliminares revelaram que após a utilização deste método durante um período de 120 dias (março a junho de 2000), foi possível reduzir em 79,5% as aplicações com medicação antiparasitária. Embora com alguns pontos críticos, dados de várias regiões também comprovaram a sua aplicabilidade em caprinos. Dentro desta realidade, a utilização do método Famacha como meio alternativo de manejo parasitário é de grande valia para ovinos e caprinos. 
23. Selecionar hospedeiros resistentes: A seleção de hospedeiros geneticamente resistentes aos parasitas tem grande potencial para ser outra valiosa alternativa. A resistência do hospedeiro provavelmente opera de dois modos: (1) através de reações imunológicas ou (2) através da obtenção de indivíduos resilientes a infecção, que significa que estes animais devem possuir aptidão em compensar os danos causados pela ação parasitária. O maior fator limitante neste caso é determinar um método de seleção de animais resistentes que não os exponha a doses de infecção parasitária letais. 
24. Utilizar marcadores genéticos: Através de ferramentas da biologia molecular (PCR, pirosequenciamento), parâmetros como a hemoglobina, anemia e a OPG podem ser utilizados como identificadores de animais resistentes às infecções parasitárias. Um pouco futurista, será a descoberta de sítios no DNA de raças resistentes aos parasitas que possam ser implantados em outras raças – rebanho transgênico. 
25. Utilizar formas de controle biológico: O controle biológico de pragas vem ganhando muito destaque, utilizando agentes como fungos (Duddingtonia flagrans), bactérias e insetos, para combater as mais variadas pragas. Embora em fase de teste por grupos do mundo inteiro, já se podem encontrar alternativas viáveis para o controle
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
parasitário. Estas alternativas devem ser acompanhadas por exames periódicos para se evitar o aparecimento de surtos ou óbitos. 
26. Utilizar a homeopatia: Embora os resultados ainda sejam inconsistentes, o uso de medicação homeopática tem atraído pesquisadores e produtores no Brasil e no mundo. No entanto, pouco se sabe sobre a ação destes remédios nos organismos em questão e como um técnico poderá utilizar este recurso, que sabidamente respeita a resposta individual, em um rebanho pouco uniforme e em grande escala. Na maioria das vezes, a indicação do fabricante é misturar o pó homeopático no sal comum, o que contraria a principal regra desta ciência. 
27. Utilizar a fitoterapia: Este recurso é muito promissor e o resultados das pesquisas é encorajador. A fitoterapia tem potencial para participar ativamente em programas de controle parasitário, em associação a outras formas de controle, inclusive reduzindo o uso de compostos químicos. A utilização tanto da homeopatia, quanto da fitoterapia deve ser aceita de forma gradual, sem eufemismos ou falsas expectativas. 
Conclusão 
O descobrimento de novos grupos anti-helmínticos e outros métodos de controle parasitário é estrategicamente necessário para a preservação da economia rural e a manutenção da saúde dos animais. A realidade é que o fenômeno da resistência parasitária deverá ser agravado a continuar com a venda de produtos veterinários diretamente ao produtor. Devemos exigir uma maior fiscalização quanto ao registro de novos produtos e o monitoramento de sua eficácia. Por outro lado, sabemos do árduo trabalho de esclarecimento com produtores na adoção de novas tecnologias e na contínua necessidade de reduzir custos. Como já foi mencionado, é muito difícil um produtor rural adotar medidas alternativas de controle parasitário sem antes ter observado prejuízo. Outra dificuldade é provar que estas perdas são decorrentes de falhas no tratamento.
Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. 
Curso Online: Controle parasitário em ovinos e 
caprinos 
As metodologias desenvolvidas no presente, seleção genética, controle biológico, fitoterapia e tratamento seletivo, podem ter um impacto muito importante no controle parasitário, prolongando a vida útil das drogas. Estas áreas de estudos não são novas para a parasitologia veterinária, porém é necessário maior conhecimento sobre o mecanismo de ação de fungos ou bactérias, assim como do grau de imunidade necessário para definir um animal resistente. Estudiosos estão na procura das respostas: A estratégia funcionará?; Qual será seu custo?; Sua implementação será fácil? e Isto será sustentável? 
O SICOPA, apresentado aqui, tem o objetivo de reduzir os custos diretos de produção, procurando incentivar a diminuição do uso de drogas antiparasitárias. Conforme foi abordado, torna-se fundamental a adoção de medidas drásticas em curto, médio e longo prazo visando à contenção da resistência parasitária. Deve-se então utilizar a informação disponível para desenvolver um conjunto de estratégias que este ou aquele produtor seja capaz de executar, baseado no princípio que ela seja simples, lógica e eficaz.

Weitere ähnliche Inhalte

Ähnlich wie SICOPA: técnicas flexíveis com conhecimento para controle parasitário em ovinos e caprinos

Como reduzir a taxa de mortalidade de suínos
Como reduzir a taxa de mortalidade de suínosComo reduzir a taxa de mortalidade de suínos
Como reduzir a taxa de mortalidade de suínosRafael Portinho
 
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...Rural Pecuária
 
Controlo de pragas
Controlo de pragasControlo de pragas
Controlo de pragasrita51096
 
Controlo de pragas
Controlo de pragasControlo de pragas
Controlo de pragasrita51096
 
Colecao atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011
Colecao   atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011Colecao   atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011
Colecao atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011König Brasil
 
Mastite bovina e o uso de antissépticos
Mastite bovina e o uso de antissépticosMastite bovina e o uso de antissépticos
Mastite bovina e o uso de antissépticosRural Pecuária
 
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLE
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLEMANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLE
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLEGeagra UFG
 
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídio
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídioComunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídio
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídioJoão Siqueira da Mata
 
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfFarmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfMarciaRodrigues615662
 
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfFarmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfMarciaRodrigues615662
 
Encarte farm acia_hospitalar_pb72
Encarte farm acia_hospitalar_pb72Encarte farm acia_hospitalar_pb72
Encarte farm acia_hospitalar_pb72jaquelinepires
 
Tratar a planta e não à doença
Tratar a planta e não à doençaTratar a planta e não à doença
Tratar a planta e não à doençaWitalo Silva
 
Manual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalManual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalEduarda Emanuela
 
Métodos contraceptivos trabalho internato
Métodos contraceptivos   trabalho internatoMétodos contraceptivos   trabalho internato
Métodos contraceptivos trabalho internatoThiago Henrique
 

Ähnlich wie SICOPA: técnicas flexíveis com conhecimento para controle parasitário em ovinos e caprinos (20)

Como reduzir a taxa de mortalidade de suínos
Como reduzir a taxa de mortalidade de suínosComo reduzir a taxa de mortalidade de suínos
Como reduzir a taxa de mortalidade de suínos
 
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...
Avaliação da Eficiência de vermífugos comerciais e microrganismos probióticos...
 
I.1 boas praticas fitossanitarias
I.1  boas praticas fitossanitariasI.1  boas praticas fitossanitarias
I.1 boas praticas fitossanitarias
 
Controlo de pragas
Controlo de pragasControlo de pragas
Controlo de pragas
 
Controlo de pragas
Controlo de pragasControlo de pragas
Controlo de pragas
 
Colecao atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011
Colecao   atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011Colecao   atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011
Colecao atualizacao em parasitologia - v1 n5-2011
 
Mastite bovina e o uso de antissépticos
Mastite bovina e o uso de antissépticosMastite bovina e o uso de antissépticos
Mastite bovina e o uso de antissépticos
 
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLE
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLEMANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLE
MANEJO DO BICUDO NO ALGODOEIRO E ALTERNATIVAS DE CONTROLE
 
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídio
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídioComunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídio
Comunicado 14 leite de vaca cru para o controle de oídio
 
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfFarmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
 
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdfFarmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
Farmácia Clínica _ Passei Direto.pdf
 
I.1 boas praticas fitossanitarias
I.1  boas praticas fitossanitariasI.1  boas praticas fitossanitarias
I.1 boas praticas fitossanitarias
 
I.1 boas praticas fitossanitarias
I.1  boas praticas fitossanitariasI.1  boas praticas fitossanitarias
I.1 boas praticas fitossanitarias
 
Estado
Estado Estado
Estado
 
Estado
Estado Estado
Estado
 
4f7baaa94a068
4f7baaa94a0684f7baaa94a068
4f7baaa94a068
 
Encarte farm acia_hospitalar_pb72
Encarte farm acia_hospitalar_pb72Encarte farm acia_hospitalar_pb72
Encarte farm acia_hospitalar_pb72
 
Tratar a planta e não à doença
Tratar a planta e não à doençaTratar a planta e não à doença
Tratar a planta e não à doença
 
Manual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalManual terapia nutricional
Manual terapia nutricional
 
Métodos contraceptivos trabalho internato
Métodos contraceptivos   trabalho internatoMétodos contraceptivos   trabalho internato
Métodos contraceptivos trabalho internato
 

SICOPA: técnicas flexíveis com conhecimento para controle parasitário em ovinos e caprinos

  • 1. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos Módulo 5 – Sistema Integrado de Controle Parasitário - SICOPA Marcelo Beltrão Molento Médico Veterinário, PhD em Parasitologia Laboratório de Doenças Parasitárias, DMV Universidade Federal do Paraná, UFPR ________________________________________________________________ Introdução O sucesso de um programa de controle parasitário não depende somente de um esquema de tratamento eficaz, mas também de uma combinação de práticas de manejo que possam ser adotadas em várias ocasiões. Os métodos utilizados devem sempre observar a epidemiologia do parasita em sua relação com a atividade desenvolvida na propriedade. Existem algumas técnicas já em uso ou sendo desenvolvidas que podem auxiliar no combate dos efeitos negativos dos parasitas. Estas estratégias visam principalmente reduzir a contaminação dos animais e da pastagem, assim como manter a eficácia das drogas antiparasitárias. O produtor ou técnico responsável deve sempre ter em mente que não existem fórmulas prontas de um controle parasitário perfeito e sim a análise caso-a-caso para um melhor aproveitamento dos recursos humano e animal. Abaixo seguem algumas dicas que podem ser utilizadas separadamente ou em conjunto. Usando o SICOPA: flexibilização de técnicas com conhecimento 1. Selecionar as drogas antiparasitárias: A seleção de qual composto antiparasitário será utilizado é muito importante. Em relação a isto, existem duas características básicas para qualquer droga: (1) espectro de ação e (2) persistência no organismo animal. Espectro de ação: A indicação técnica é, de preferência, utilizar grupos específicos de drogas para os organismos presentes. Para utilizar tal estratégia
  • 2. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos é necessário conhecer contra quais organismos se esta combatendo, realizando exames de OPG e coprocultura. Hoje, existe a disposição um número relativamente grande de famílias que apresentam curto-, médio- e largo-espectro de ação (ver tabela). Deve-se, sempre que possível, evitar o uso de compostos de largo-espectro. Persistência no organismo animal: Além do Bem-estar dos animais, a preocupação dos produtores hoje em dia é com o nível tóxico das drogas principalmente no leite e na carne. Porém, se tem dado pouca ênfase em relação ao efeito prolongado, às vezes pouco eficaz, contra os parasitas. Em relação à permanência da droga na circulação, deve-se evitar compostos de famílias que apresentam longa permanência (lactonas macrocíclicas), com o objetivo de reduzir o processo de seleção de indivíduos resistentes. 2. Determinar corretamente o peso dos animais: No Brasil, é comum que os produtores façam a pesagem dos animais “a olho”, dando margem a sub-dosagem e ao desperdício. Os animais devem ser tratados de acordo com seu peso mais aproximado, sendo necessário dividir as categorias em lotes. O grupo mais leve deve receber medicação diferenciada do que o grupo mais pesado. O objetivo é não administrar doses elevadas em animais leves. Ao contrário do que se imagina, a sub-dose diminui significativamente o processo de seleção para a resistência. 3. Cuidar com administração de medicação oral: Deve-se tomar muito cuidado para que ocorra uma perfeita administração do medicamento. Existem evidências de que o fechamento da goteira esofágica possa influenciar a ação das drogas utilizadas por via oral em ruminantes. A goteira esofágica é ativada quando a cabeça do animal fica estendida acima da linha horizontal do dorso. Foi determinado que o oxibendazole pode ter sua passagem acelerada, perdendo até 40% de sua eficácia mesmo contra organismos susceptíveis. 4. Diminuir o número de tratamentos: Por motivos econômicos óbvios e para retardar o aparecimento da resistência parasitária se recomenda prescrever o menor número de tratamentos por ano, mesmo para propriedades com exploração de leite ou
  • 3. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos cordeiro premium. Como viso anteriormente, existe uma íntima relação entre o número de tratamentos e a seleção parasitária. Nesta relação, quanto menor o número de tratamentos maior será o período de utilização de uma droga, pois se permitirá a reprodução e a manutenção de parasitas com genética susceptível em maior proporção do que os resistentes. 5. Fazer a rotação lenta das famílias de vermífugos: Foi comprovado que a rotação rápida de bases químicas acelera o processo de seleção parasitária. Pior do que isto, causa a resistência anti-helmíntica múltipla (RAM). Estipulou-se que o período mínimo para a rotação de drogas seja de um ano no caso de ovinos e caprinos e após 8 a 12 tratamentos para bovinos. O critério para esta recomendação é que, dentro de várias gerações a seleção parasitária será inevitável, então ao trocar de bases, ocorrerá uma alternância estratégica da seleção química, com conseqüente redução da presença dos genes resistentes do ano anterior. Pode-se perguntar: O que ocorrerá em longo prazo? Resposta: RAM, muito provavelmente! Preconiza-se também o uso contínuo (indefinidamente) de determinada droga, com constante monitoramento por OPG, para somente depois de determinada redução da eficácia (abaixo de 80%) proceder com a mudança da base química. Desta forma a droga seria utilizada até sua exaustão. 6. Testar a eficácia das drogas antes de iniciar o tratamento: A melhor situação é quando o proprietário e o técnico entendem que o problema da falta de eficácia das drogas é serio e pode causar graves prejuízos econômicos. Sugere-se que seja feito um teste de eficácia para respaldar as decisões do programa sanitário. Para aquelas situações onde se deseja utilizar a rotação lenta de bases, se indica proceder com o exame de OPG antes da substituição, determinando a eficácia da droga que será utilizada. O cálculo da eficácia é estabelecido a partir da fórmula que utiliza os valores da OPG antes e após o tratamento. Média da OPG no dia 0 – média da OPG no dia 10 /média da OPG do dia 0 x 100= % E
  • 4. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos 7. Utilizar esquema de tratamento tático: Esta estratégia deve se basear na obtenção dos resultados da OPG. Os dados oriundos deste teste, mesmo moderadamente precisos, auxiliam na decisão da época de administração de do medicamento. Esta estratégia deve ser utilizada para evitar épocas de surtos parasitários. 8. Tratar larvas em hipobiose (desenvolvimento interrompido): Esta condição dependerá da localização geográfica e das condições climáticas apropriadas. Se este for o caso, deve-se utilizar medicamentos capazes de eliminar este estádio no hospedeiro. 9. Utilizar animais mais velhos da mesma espécie. A imunidade adquirida ocorre quando os animais adultos já tiveram contato com determinado parasita e tornam-se aptos a superar tal infecção. Pode-se então, utilizar estes animais considerados “imunes” incompletos juntos, ou antes, dos animais jovens. O objetivo é diminuir a concentração de larvas infectantes no pasto e a taxa de infecção dos animais jovens. 10. Utilizar animais de espécies diferentes: Partindo do princípio de que não haverá perigo de infecção cruzada, a prática de alternar o pastoreio de animais ruminantes e não ruminantes pode ser útil, contribuindo para o que se chama de “diluição de larvas infectantes” na pastagem. Os outros animais farão a retirada das larvas da pastagem com mais eficiência do que na indicação acima. 11. Alternar agricultura & pecuária: O objetivo desta estratégia é reduzir o número de larvas infectantes na pastagem ao máximo, gerando um ambiente pouco propício para sua sobrevivência. Desta forma os animais que estiverem em áreas que foram utilizadas para cultivo agrícola anteriormente a pastagem, possuem baixo risco de infecção. Esta situação é transitória e de curta duração, devido à carga parasitária trazida pelos animais.
  • 5. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos 12. Introduzir cepas susceptíveis: Embora esta estratégia seja de difícil aceitação por parte de técnicos e produtores, pode ser a última saída em situações catastróficas, como ocorre na África do Sul, no Brasil e muitos outros países. Sugere-se então, que sejam adquiridos animais oriundos de propriedades com alto índice de susceptibilidade e que estes sejam introduzidos sem tratamento prévio. Isto produzirá um cruzamento entre as diferentes cepas de parasitas, podendo ocasionar uma redução significativa dos níveis de resistência. Esta estratégia ainda está em fase de testes, devido à possibilidade da dominância dos genes resistentes. 13. Combinar (misturar) as bases químicas: A combinação de drogas de famílias distintas é uma prática rotineira entre produtores. Sua fundamentação, não equivocada, é de que a utilização de tal estratégia apresenta maior eficácia, mantendo- a alta por um período prolongado. Outra vantagem é a altíssima eliminação de genes RR, reduzindo consideravelmente as chances deste genótipo se elevar. Neste caso, também se espera que exista um efeito aditivo de eliminação dos genes susceptíveis (S) durante o período de utilização. No entanto, deve-se utilizar esta estratégia de controle somente quando a eficácia das drogas, isoladamente, for maior do que 95%. Se caso uma das bases químicas já apresentar certo grau de resistência, então esta estratégia não é aconselhável. Como conseqüência, se estará desenvolvendo a resistência para a outra droga mais rapidamente. Além do planejamento inicial existem outros fatores importantes em relação ao uso da combinação de drogas, como por exemplo: vias de aplicação, dosagens iniciais, especificidade de cada droga, tolerância do hospedeiro e muito importante, o alto custo. No Brasil existem várias companhias que utilizam esta estratégia. Vale ressaltar que em muitos casos a utilização da combinação representa uma grande desvantagem. 14. Utilizar vacinas. Nada poderia ser mais bem recebido do que uma vacina eficaz para o amplo controle de helmintos. Porém a eficácia das vacinas testadas desagrada à opinião científica. A única vacina que foi desenvolvida com algum sucesso
  • 6. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos contra helmintos em Medicina Veterinária foi obtida através de larvas irradiadas contra Dictyocaulus viviparus e ao D. filaria na Alemanha e ao Ancylostomum caninum. 15. Restringir o alimento (jejum) antes do tratamento. A redução da quantidade de alimento promove uma redução da motilidade do trato digestório permitindo uma melhor absorção e maior permanência do medicamento no organismo animal. Os produtos antiparasitários de administração oral trazem em sua formulação um veículo oleoso que se adere ao alimento. Pode-se então manter os animais em jejum de 10 - 12h antes do tratamento (durante a noite), mantendo os animais somente com água por outras seis horas (perto do meio-dia), até soltar no pasto novamente. Períodos de restrição de 12 e 24 horas podem aumentar a eficácia de drogas como o albendazole ou oxfendazole em 50 e 120%, respectivamente. Deve-se evitar tratar fêmeas próximas do parto, animais fracos ou febris e animais em condições de estresse com esta forma de manejo. 16. Manejar a lotação dos piquetes e horário de pastejo. Vários estudos da década de 60 definiram mais claramente o comportamento de parasitas na pastagem. Foi determinado que larvas presentes nas fezes de ovinos e caprinos se afastam muito pouco do bolo fecal (média de 8 cm) e sobem a uma altura média de 6 a 10 cm, auxiliadas pela umidade e orvalho. Então, uma boa estratégia de pastejo é soltar os animais somente após a secagem do orvalho na ponta do pasto. Pode-se também evitar a superpopulação nos piquetes, pois quando isto ocorre os animais pastam até as partes mais baixas do capim, aumentando a taxa de contaminação devido a maior presença das larvas. 17. Tratar animais gestantes e antes do período de desmama: Animais gestantes devem receber tratamento tático entre 30 e 15 dias antes do parto devido a sua maior susceptibilidade para infecções. Estes animais, quando não tratados, podem disseminar grande quantidade de ovos na pastagem devido a maior susceptibilidade ao parasita. Animais jovens devem ser avaliados preventivamente a partir do 20o dia de
  • 7. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos vida. Para ambos os casos o ideal é que se faça exame clínico (inspeção visual) e OPG com coprocultura. 18. Tratar animais recém-adquiridos: Deve-se tomar muito cuidado com animais recém-adquiridos, pois estes poderão ser a fonte de disseminação de ovos/larvas de parasitas resistentes. Deve-se ter o conhecimento do histórico de tratamentos anteriores e possíveis problemas relacionados com parasitismo. Talvez esta informação seja bem difícil de obter! O controle preventivo se faz, tratando todos os animais antes que estes adentrem ao novo lote, respeitando um intervalo de duas semanas para o segundo tratamento. 19. Tratar duas vezes vs. Dobrar a dose: É mais indicado tratar os animais duas vezes com intervalo de 12 h do que utilizar um medicamento que contenha concentrações elevadas em dose única. Como foi determinada, desta forma a concentração da droga será suficiente para alcançar a eficácia desejada, mantendo-a alta por mais tempo. A razão técnica é que existirá uma saturação da droga no parasita. Por outro lado, o tratamento em dose dobrada aumenta a pressão de seleção e acelera o processo de resistência. 20. Tratar e mudar (dose and move). Alguns técnicos indicam o esquema baseado no princípio “tratar e mudar” como alternativa de manejo parasitário. A estratégia consiste na transferência dos animais, após o tratamento, para piquete “limpo”, teoricamente sem a presença de ovos ou larvas. O proprietário deve ser cuidadosamente alertado dos riscos de se utilizar tal mecanismo, visto que esta alternativa pode ser boa caso não existam cepas resistentes e má quando se suspeita da presença da resistência. Este fato foi comprovado após utilizar esta técnica, demonstrando que a pastagem poderá ser contaminada definitivamente somente com organismos altamente resistentes (RR). O ideal é que os animais sejam tratados somente após a transferência para o pasto novo, carregando e disseminando todos os genótipos presentes na refugia.
  • 8. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos 21. Tratar o rebanho de forma seletiva. Na maioria dos casos, as infecções por helmintos têm distribuição dispersa, isto é, muitos hospedeiros com baixa carga parasitária e poucos hospedeiros com alta carga parasitária. A estratégia de tratamento seletivo consiste em identificar os animais mais infectados através de diagnóstico clínico individual ou laboratorial. Devido à complexidade em relação a quais animais devem ser tratados e quais devem ser poupados, três medidas de avaliação foram propostas para auxiliar no acompanhamento das infecções:  Avaliação terapêutica: Identificar através de diagnóstico clínico o animal com grau parasitário que necessita tratamento imediato, utilizando critérios como: anemia, diarréia, edema submandibular (papeira) e estado corporal. Foi desenvolvido na África do Sul o método Famacha, que é um sistema de avaliação terapêutica simples e eficiente para controlar o Haemonchus contortus.  Avaliação da produção: Através desta avaliação mede-se o efeito das infecções parasitárias sub-clínicas a partir de parâmetros produtivos, como ganho de peso e produção de leite, antes que ocorra a fase clínica. No caso particular da produção leiteira deve-se tratar fêmeas de alta produção e as de primeira cria (primíparas).  Avaliação preventiva: Prediz infecções futuras através de exames laboratoriais. Esta estratégia possibilita a aplicação de medidas de controle apropriadas, sem perdas produtivas. Neste caso, a proposta é o tratamento tático. 22. Utilizar o método Famacha Foi determinado que existe uma grande variação na resposta às infecções parasitárias entre animais da mesma raça/rebanho. Esta variabilidade pode ser medida clinicamente através do grau de anemia de cada animal, visando o tratamento seletivo dos animais. O método Famacha correlaciona diferentes tons da coloração da conjuntiva dos animais com valores de hematócrito, selecionando individualmente os animais que receberão tratamento ou não. Dentre as vantagens deste método se destacam: identificar animais resistentes e resilientes, diminuir o número de tratamentos, gerar grande economia na produção e prolongar a
  • 9. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos eficácia das drogas anti-helmínticas. Este método foi utilizado durante o período de 1998 a 1999 avaliando 10 rebanhos ovinos em diferentes regiões da África do Sul. Após este período, foi observada uma redução de 58% (38 a 96%) na utilização dos medicamentos. No Brasil, dados preliminares revelaram que após a utilização deste método durante um período de 120 dias (março a junho de 2000), foi possível reduzir em 79,5% as aplicações com medicação antiparasitária. Embora com alguns pontos críticos, dados de várias regiões também comprovaram a sua aplicabilidade em caprinos. Dentro desta realidade, a utilização do método Famacha como meio alternativo de manejo parasitário é de grande valia para ovinos e caprinos. 23. Selecionar hospedeiros resistentes: A seleção de hospedeiros geneticamente resistentes aos parasitas tem grande potencial para ser outra valiosa alternativa. A resistência do hospedeiro provavelmente opera de dois modos: (1) através de reações imunológicas ou (2) através da obtenção de indivíduos resilientes a infecção, que significa que estes animais devem possuir aptidão em compensar os danos causados pela ação parasitária. O maior fator limitante neste caso é determinar um método de seleção de animais resistentes que não os exponha a doses de infecção parasitária letais. 24. Utilizar marcadores genéticos: Através de ferramentas da biologia molecular (PCR, pirosequenciamento), parâmetros como a hemoglobina, anemia e a OPG podem ser utilizados como identificadores de animais resistentes às infecções parasitárias. Um pouco futurista, será a descoberta de sítios no DNA de raças resistentes aos parasitas que possam ser implantados em outras raças – rebanho transgênico. 25. Utilizar formas de controle biológico: O controle biológico de pragas vem ganhando muito destaque, utilizando agentes como fungos (Duddingtonia flagrans), bactérias e insetos, para combater as mais variadas pragas. Embora em fase de teste por grupos do mundo inteiro, já se podem encontrar alternativas viáveis para o controle
  • 10. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos parasitário. Estas alternativas devem ser acompanhadas por exames periódicos para se evitar o aparecimento de surtos ou óbitos. 26. Utilizar a homeopatia: Embora os resultados ainda sejam inconsistentes, o uso de medicação homeopática tem atraído pesquisadores e produtores no Brasil e no mundo. No entanto, pouco se sabe sobre a ação destes remédios nos organismos em questão e como um técnico poderá utilizar este recurso, que sabidamente respeita a resposta individual, em um rebanho pouco uniforme e em grande escala. Na maioria das vezes, a indicação do fabricante é misturar o pó homeopático no sal comum, o que contraria a principal regra desta ciência. 27. Utilizar a fitoterapia: Este recurso é muito promissor e o resultados das pesquisas é encorajador. A fitoterapia tem potencial para participar ativamente em programas de controle parasitário, em associação a outras formas de controle, inclusive reduzindo o uso de compostos químicos. A utilização tanto da homeopatia, quanto da fitoterapia deve ser aceita de forma gradual, sem eufemismos ou falsas expectativas. Conclusão O descobrimento de novos grupos anti-helmínticos e outros métodos de controle parasitário é estrategicamente necessário para a preservação da economia rural e a manutenção da saúde dos animais. A realidade é que o fenômeno da resistência parasitária deverá ser agravado a continuar com a venda de produtos veterinários diretamente ao produtor. Devemos exigir uma maior fiscalização quanto ao registro de novos produtos e o monitoramento de sua eficácia. Por outro lado, sabemos do árduo trabalho de esclarecimento com produtores na adoção de novas tecnologias e na contínua necessidade de reduzir custos. Como já foi mencionado, é muito difícil um produtor rural adotar medidas alternativas de controle parasitário sem antes ter observado prejuízo. Outra dificuldade é provar que estas perdas são decorrentes de falhas no tratamento.
  • 11. Reprodução parcial ou total apenas sob autorização da AgriPoint Consultoria Ltda. Curso Online: Controle parasitário em ovinos e caprinos As metodologias desenvolvidas no presente, seleção genética, controle biológico, fitoterapia e tratamento seletivo, podem ter um impacto muito importante no controle parasitário, prolongando a vida útil das drogas. Estas áreas de estudos não são novas para a parasitologia veterinária, porém é necessário maior conhecimento sobre o mecanismo de ação de fungos ou bactérias, assim como do grau de imunidade necessário para definir um animal resistente. Estudiosos estão na procura das respostas: A estratégia funcionará?; Qual será seu custo?; Sua implementação será fácil? e Isto será sustentável? O SICOPA, apresentado aqui, tem o objetivo de reduzir os custos diretos de produção, procurando incentivar a diminuição do uso de drogas antiparasitárias. Conforme foi abordado, torna-se fundamental a adoção de medidas drásticas em curto, médio e longo prazo visando à contenção da resistência parasitária. Deve-se então utilizar a informação disponível para desenvolver um conjunto de estratégias que este ou aquele produtor seja capaz de executar, baseado no princípio que ela seja simples, lógica e eficaz.