Este documento discute como as mídias sociais estão afetando o processo de aprendizagem de jovens no Brasil. Ele apresenta pesquisas que mostram que os brasileiros passam muito tempo em redes sociais e analisa como estudantes e professores podem usar essas ferramentas para melhorar a educação. O documento argumenta que as mídias sociais permitem novas formas de aprendizado colaborativo.
Mídias sociais na educação inteligência coletiva entre docentes e discentes
1. Mídias Sociais na Educação: inteligência coletiva
entre docentes e discentes
Tiago Alves Nogueira de Souza1 (SOUZA, TAN)
Ana Célia da Rocha Santos 2 (SANTOS, ACR)
Resumo:
Este estudo se propõe a compreender a maneira como as mídias sociais
estão melhorando/interferindo no processo de aprendizado dos jovens do
ensino fundamental e médio do Brasil. A metodologia, amparada em bases
qualitativas e quantitativas, compreende leituras dirigidas sobre os
fundamentos da chamada Web 2.0, em especial estudos de Pierre Lévy
sobre Inteligência Coletiva, Cibercultura e Virtual, atualizando-os ao novo
contexto das mídias sociais emergentes. Analisamos num segundo
momento, para entender o comportamento e o perfil do usuário de
internet no país, dados dos institutos de pesquisa Pew e Nielsen Online
(2010), que compreendem o tempo gasto pelo brasileiro na web; e dados
do instituto Nielsen Wire (2010), que consideram a maneira como os
brasileiros utilizam/gerenciam suas redes sociais online e blogs.
Contrapomos, num terceiro momento, o número de internautas ativos no
país e em países desenvolvidos, com o intuito de entender o que torna
possível ao Brasil estar entre as nações que mais passam tempo em redes
sociais online e blogs. Por fim, a pergunta-chave que buscamos responder é
de que maneira os estudantes e professores brasileiros podem se valer
dessas ferramentas para apreenderem e proverem uma melhor educação.
Palavras-chave: Mídias-sociais, Cibercultura, Inteligência-coletiva.
Abstract:
This study aims to understand how social media are enhancing/interfering
in the learning process of young people from primary and secondary
education in Brazil. The methodology, supported by qualitative and
quantitative bases, includes readings regarding the foundations of Web
2.0, in particular studies of Pierre Lévy on collective intelligence,
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 1
2. Cyberculture and Virtual, updating them to the new context of emerging
social media. To understand the behavior and profile of internet users in
the country, we analyzed, at a second moment, data from the Pew and
Nielsen Online (2010) research institutes, which include the time spent by
Brazilian on Web; and data from the Institute Nielsen Wire (2010) who
consider the way Brazilian use/manage their online social networks and
blogs. We compare, at a third moment, the number of active Internet
users in the country and in developed countries, in order to understand
what makes it possible for Brazil to be among the nations that spend more
time online, on social networks and blogs. Finally, the key question we
seek to answer is how the Brazilian students and professors can take
advantage of these tools to grasp and to provide a better education.
Palavras-chave: palavra-chave1, palavra-chave2, palavra-chave3
A Web Social
Recentemente, a internet vivenciou uma mudança nos paradigmas de
construção de web sites. O foco deixou de ser o site em si e passou a ser o
visitante, o usuário, o colaborador. Os sites deixaram de ter características de
portais, senhores da informação, e passaram a permitir - cada vez mais - que todos
os usuários tivessem voz, opinião e visibilidade de forma igualitária. É justamente
essa descentralização da informação que permite a construção de redes sociais
mais igualitárias (Recuero, 2008). A internet deu um grande passo para assumir de
uma vez por todas aquilo que assumiu como direito seu: a sociabilidade global.
Nesse mesmo período, surgiu uma nova definição para as atividades virtuais:
as mídias sociais. Embora seus primeiros empregos datem de um tempo anterior ao
da internet, somente agora, graças aos meios digitais, estes se potencializaram
para trabalhar com a aldeia global em tempo real. Hoje, há exemplos comuns de
mídias sociais, tais como os blogs, os microblogs, as redes sociais, os wikis1, os
1
Ferramentas de criação e edição de textos colaborativos. O exemplo mais popular é a Wikipédia.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 2
3. mundos virtuais, os jogos sociais, além de incontáveis plataformas que possibilitam
a interação e participação entre os usuários.
Segundo dados dos institutos de pesquisa Pew e Nielsen Online (2010), 22%
do tempo total do usuário na web é gasto com redes sociais, excluindo-se desta
consideração, outras mídias sociais, como blogs e wikis. Além disto, segundo o
instituto Nielsen Wire (2010), 86% dos usuários brasileiros de internet usam, tem ou
gerenciam alguma rede social ou blog.
Apesar do número de usuários de internet no Brasil ainda ser pequeno
quando comparado aos países desenvolvidos – 36,2% (ITU, 2009) da população
brasileira acessa à internet, contra 74,1% (Nielsen Online, 2009) dos Estados Unidos
– o Brasil está entre os 10 países que mais passam tempo em redes sociais online ou
em blogs, ocupando a sexta posição, com uma média de 5h03min por mês (Nielsen
Wire, 2010).
Sabe-se que a cada nova mídia, novas maneiras de interação e de cultura
surgem. A educação dessa nova geração de jovens, que desenvolveu-se com a
internet presente no dia-a-dia, em lan-houses2, na escola ou em casa, é
diferenciada de alguma forma da geração anterior. Com o número de usuário de
internet em crescimento no Brasil e no mundo, se faz necessário atentar-se a duas
questões que concernem tanto à sociedade atual como ao futuro da aldeia global:
como os jovens brasileiros estão utilizando as mídias sociais na construção de seus
conhecimentos; e como os professores poderiam utilizar essas ferramentas para
melhorar o aproveitamento das aulas num ambiente extra sala de aula?
Muitos acadêmicos consideram a internet como uma mídia muito nova para
ser estudada. Entretanto, seus efeitos já foram sentidos pela sociedade há muito
tempo. Não se deve compreender a sociedade da informação como uma realidade
atual no sentido de que ela acaba de acontecer, mas no sentido de que ela já está
em rumo há tempos. O barco não saiu do porto há poucos instantes, ele já está no
meio do oceano:
2
Estabelecimento comercial onde, à semelhança de um cyber café, as pessoas podem pagar para utilizar um computador com
acesso à Internet
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 3
4. A escolha não é entre a nostalgia de um real datado e um virtual
ameaçador ou excitante, mas entre diferentes concepções do virtual. A
alternativa é simples. Ou o ciberespaço reproduzirá o mediático, o
espetacular, o consumo de informação mercantil e a exclusão numa escala
ainda mais gigantesca que hoje. Esta é, a grosso modo, a tendência natural
das “supervias da informação” ou da “televisão interativa”; Ou
acompanhamos as tendências mais positivas da evolução em curso e
criamos um projeto de civilização centrado sobre os coletivos inteligentes.
(Lévy, 1999: 117-118)
A partir das concepções de Pierre Lévy sobre inteligência coletiva (1998),
virtualidade (1999) e ciberespaço (2000), procuraremos a seguir examinar as
perspectivas acerca das mídias sociais no contexto da educação de nível médio no
cenário brasileiro, principalmente o grau de importância que os jovens estão dando
às, relativamente, novas formas de obtenção de conhecimento.
Para melhor embasarmos este trabalho, realizamos pesquisa empírica com
117 alunos, concluintes do ensino médio no ano de 2010, de escolas das redes
pública e paricular de ensino. As perguntas visaram descobrir de quais meios os
alunos se utilizam para adquirir informações, de que maneira as mídias sociais se
configuram como ferramenta na educação e como eles se relacionam com os
professores nesse ambiente virtual.
A Ágora Virtual
Para Andreas Kaplan e Michael Haenlein (2010):
“as mídias sociais são um grupo de aplicações para Internet construído
com base nos fundamentos ideológicos e tecnológicos da Web 2.0, e que
permitem a criação e troca de Conteúdo Gerado pelo Utilizador (UCG).”
(KAPLAN e HAENLEIN: 2010, online)
Apesar de ser um relato verídico do significado de mídias sociais atual,
deve-se levar em consideração que as mídias sociais surgiram muito antes das
plataformas online que levam o crédito desta nomenclatura: os blogs, as redes de
relacionamento, os wikis, etc.
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5. As mídias sociais, protagonistas da chamada web 2.0, são um termo, na
verdade, mais amplo e antigo do que comumente se assume. Embora seja
empregado hoje como um sinônimo de atualidade, sua história pode remontar-se
através das ágoras3, as praças públicas das antigas cidades gregas. O importante
dessa descrição é observar que as mídias sociais não são um fenômeno moderno:
foram (e ainda são) uma condição para a coexistência humana.
Pode-se entender melhor o conceito de mídias sociais ao isolar-se as duas
palavras e analisar-nas separadamente: por mídia, compreende-se aquilo que
realiza a mediação, ou seja, que faz a ligação, ou comunicação, entre duas
entidades – também chamados seres – comunicacionais. Em seu livro Understanding
media, Marshall McLuhan (1995), entende que os meios atuam como extensões do
corpo humano, permitindo que seus pensamentos e ações atinjam proporções
maiores. É, portanto, mídia, qualquer coisa que faça a mediação de uma troca de
informações, unilateral ou não, entre dois ou mais agentes.
Completando a terminologia, por "social" entende-se o que é relativo à
sociedade, à comunhão de duas ou mais pessoas em um terreno que permita sua
proliferação ideal e física. Recorramos novamento ás praças públicas, templos e
bibliotecas que existem a milhares anos já mediavam a comunicação da sociedade
há muito tempo: o que há de novo na moderna concepção de "mídia social"? A
tecnologia. As ágoras são, neste momento, virtuais (Lévy, 1998): os locais de troca
de informações estão desterritorializados. Não existe um aqui, agora, definido em
termos de fronteiras geográficas. O aqui, agora, pode ser em qualquer lugar, a
qualquer momento.
Essas ágoras virtuais são mais suscetíveis a uma forma de comunicação do
tipo molecular (Lévy, 1998). A comunicação molecular contrapõe-se às formas de
comunicação molares. Entende-se por formas de comunicação molares aquelas que
3
As ágoras eram locais aonde a população grega costumava socializar-se com os demais habitantes da Pólis. De
maneira semelhante, pode-se utilizar como exemplo os mercados públicos ou os banhos romanos.
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6. interpretam todos os receptores como uma massa única, ou seja, os meios de
comunicação de massas (jornal, rádio, televisão). Os meios moleculares
interpretam os receptores individualmente, entendendo suas características
próprias como seres humanos.
Se, nas ágoras antigas, os seres humanos eram compreendidos como
indivíduos, graças a seus nomes, características físicas e pensamentos distintos,
hoje, nas ágoras virtuais, os usuários, navegadores, surfistas da web, são tratados
individualmente através de seus avatares, perfis e endereços eletrônicos digitais. O
meio digital permite um alcance de nível global, mantendo, entretanto, as
características pessoais de um diálogo, ou melhor, de um multílogo (Lévy, 1998).
As mídias sociais podem ser compreendidas como espaços virtuais onde a
troca de informações é caracterizada de maneira não hierárquica. Não existe um
grande emissor que detém o poder das informações, nem existe um único meio de
enviá-las. O repasse de informações ocorre de forma igual para todos, de maneira
colaborativa, onde o homem é emissor e receptor ao mesmo. É a comunicação
muitos-para-muitos.
O poder de disseminação das informações, entretanto, varia
consideravelmente de individuo para individuo. Deve-se atentar, portanto, que o
que está sendo democratizado com as mídias sociais são as ferramentas. Quanto
maior o prestígio do indivíduo, maior a sua capacidade de atingir um grande
público. Por outro lado, no cenário das mídias sociais, o fator capital influencia
cada vez menos no prestígio do emissor, pois a ferramenta é igual tanto para o
apresentador de TV, como para o estudante de ensino médio.
É inegável, todavia, que o alcance de um apresentador seja maior que o de
um estudante. Isso ocorre pelo fato de que o apresentador carrega consigo parte da
sua aparição na TV para a web - fator este que não é decisivo. O ciberespaço
desenvolveu uma forma de pontuar as personalidades da web de acordo com os
seus feitos para a comunidade. Essa pontuação é conhecida como whuffie, karma,
ou ainda como mérito.
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7. Qualquer que seja a forma pela qual atenda, essa pontuação representa um
capital social (Dias, 2009). Quanto mais ativo o usuário, quanto mais contribuições,
quanto maior os benefícios que trouxer para a comunidade, maior seu capital
social. Por este motivo, o apresentador de tv, em caráter inicial, terá
inegavelmente um alcance maior do que o do estudante, mas apenas no começo de
sua atividade. Se as contribuições do estudante forem maiores que as do
apresentador na web, com o desenrolar do tempo, a popularidade do desconhecido
deverá ultrapassar a do apresentador.
Porém, existem ressalvas: o capital social funcionará apenas, no caso do
estudante, em suas áreas de interesse. Este fenômeno ocorre porque existe uma
tendência na web de se aprofundar cada vez mais na chamada cultura de nichos.
Na era das comunicações de massas, bastava participar ativamente de
transmissões midiáticas para que o agente se tornasse popular, uma vez que
existiam poucas formas de se conseguir conteúdo. A internet propicia uma forma
diferente de absorção de informações: a notícia não é mais remetida em direção ao
consumidor, o movimento se torna oposto – é o consumidor quem busca as
informações de interesse pessoal.
No ambiente virtual, o chamado navegador se apresenta ao usuário
essencialmente vazio, ou numa única página. O indivíduo é responsável pelos
passos seguintes. Dessa maneira, ele deverá primar pelas notícias de seu interesse,
encontrando, neste movimento, seus formadores de opinião. Hoje, dentro de sua
área de atuação, acredita-se um adolescente pode ter o mesmo poder de influência
que um apresentador de TV, ainda que este seja um fenômeno, atualmente, pouco
teorizado e que merece maior atenção da comunidade científica.
É importante analisar que essas mudanças também se refletem no dia-a-dia.
Os extremistas estão equivocados: a internet não está ditando o modo de agir dos
usuários. Menos ainda, o modo de agir da sociedade constrói o conteúdo da
internet isoladamente. Existe um intercâmbio entre os dois fatoers, as mudanças
ocorrem em conjunto, uma vez que ambos se configuram como seres midiáticos.
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8. Ao observar-se, por exemplo, o estereótipo da “garota popular” das escolas,
pode-se notar algumas mudanças na juventude. Enquanto no passado sua
popularidade se limitava à escola onde estudava, ou à sua rua, com as mídias
sociais ela busca exercer sua influência até onde seus próprios limites
possibilitarem. Seu capital social é o número de amigos e de pessoas que a
conhecem. Existe uma necessidade real de aparecer para um número cada vez
maior de pessoas, que se reflete na web. Por sua vez a web amplia seu mundo real,
garantindo-lhe cada vez mais possibilidade de interação em diversos locais. Para
este grupo de pessoas, a internet já não é mais uma questão de escolha, não existe
distinção entre o real e o virtual. A simbiose existe.
A inteligência coletiva brasileira
Quando se fala da internet brasileira, ela é automaticamente associada ao
bom humor e à hospitalidade inerente ao país. Embora falar de tal maneira
represente um estereótipo do povo brasileiro, é importante observar que o “boom”
da internet no Brasil coincidiu justamente com o aparecimento da web 2.0 e das
mídias sociais.
O Brasil entrou numa web bem diferente daquela que os países
desenvolvidos desembarcaram nos anos 90. Enquanto muitos dos usuários desses
países tiverem resistência às mídias sociais, os brasileiros as abraçaram com força.
Os blogs, apesar de não serem utilizados em larga escala pelos brasileiros,
representam uma força significativa. O serviço de microblogging, entretanto, está
surgindo como a mais nova sensação brasileira: apesar do número de usuários no
Brasil ser pequeno quando comparado com países desenvolvidos, o número de
brasileiros nestes serviços é consideravelmente grande.
Dados levantados pela Com Score (2010) demonstram que o Brasil é o país
que mais utiliza, proporcionalmente, o Twitter no mundo. Se considerar-se o
volume total de visitas que o Twitter recebe, os Estados Unidos indubtavelmente
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9. representam o maior índice, totalizando mais de 30% dos acessos do microblog no
mundo. Entretanto, ao comparar-se o número de acessos com o número de pessoas
presentes na rede, os Estados Unidos ficam com pouco mais de 12% dos acessos. O
Brasil, por outro lado, totaliza um quarto desta estatística.
Das várias mídias sociais que entraram para a agenda brasileira, talvez a que
mais tenha mudado e destruído paradigmas na educação brasileira tenha sido a
wiki. Esse sistema permite a criação de uma coleção de documentos em hipertexto4
na web, de maneira colaborativa, onde as pessoas podem criar, editar e excluir
conteúdo.
Em nossa pesquisa, fica clara a presença desta ferramenta no dia-a-dia do
alunado brasileiro: questionados se já utilizaram alguma ferramenta social do tipo
wiki para procurar informações sobre seus estudos no colégio, 96,49% dos alunos da
rede privada responderam afirmativamente, como pode ser conferido no quadro
abaixo. Desse percentual, 80,70% responderam que sempre utilizam wikis em seus
estudos. Na rede pública, o número é menor, mas bastante expressivo: 86,67%
responderam que utilizam os wikis.
Quadro 1: Questionário
Rede da Você já utilizou alguma ferramenta social do tipo wiki (exemplo: Wikipédia)
Escola para procurar informações sobre seus estudos no colégio?
Sim, sempre Sim, mas com pouca frequência Não, nunca
Pública 51,67% 35,00% 13,33%
Privada 80,70% 15,79% 3,51%
Neste contexto, não pôde ser identificado qualquer mudança no conteúdo da
web ou como este se apresenta, porém é visível uma mudança na estrutura de
como as informações seriam compiladas, como um grande documento que
comtesse de todo o conhecimento humano.
4
Texto em formato digital, onde outros conjuntos de informação como textos, palavras, imagens ou sons são
agregados.
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10. Os filtros de que Pierre Lévy (1998) falava que seriam necessários para
encontrarmos a “agulha”, conhecimento, no “palheiro”, internet, deixaram de ser
utopia e hoje fazem parte do nosso dia-a-dia. Foram os documentos compilados em
wikis que permitiram a disseminação dos conhecimentos para essa geração.
Por este motivo, entendemos a importância do incentivo por parte dos
professores, ao seu alunado, para que sejam desenvolvidos novos tópicos e novas
wikis em conjunto, fomentando a inteligência coletiva na sala de aula. Outra
ferramenta que se configura pertinente e útil neste contexto são os hotsites5, em
formato de wiki, onde os alunos construiriam uma espécie de diário de classe,
baseado no conhecimento e na pesquisa de cada aluno individualmente que, ao
agregar esses conhecimentos, se resultasse num espaço, ou ciberespaço, do saber
daquela determinada classe.
A verdade é que muitos dos colaboradores dos projetos wikis entram por
vontade própria e aprendem praticamente sozinhos a editar e criar conteúdo. Não
existe uma alfabetização digital, muito menos uma alfabetização virtual,
colaborativa, no ensino brasileiro. Neste sentido, os cibercolaboradores se
apresentam como autodidatas.
Pessoas autodidatas, em sua maioria, enfrentam alguma dificuldade no início
de seu processo de aprendizado. Para se tornar um bem-sucedido autodidata, faz-
se necessário uma grande carga de leitura e pesquisa sobre o tema estudado, de
forma a suprir-se a ausência de um professor ou mestre, o qual traria a resposta de
forma mais fácil e objetiva. Entretanto, a internet, hoje, possui mecanismos para
uma busca otimizada das informações, através de filtros e classificações,
facilitando o autodidatismo no século XXI.
5
Também chamado Micro-site ou Mini-site: pequeno site planejado para apresentar e destacar uma ação ou conteúdo pontual
e específico.
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11. Considerando este novo contexto, não é surpreendente a resposta do
alunado à seguinte questão: “Quando você tem dúvidas sobre uma determinada
matéria, a qual desses meios você recorre? ”. Na rede particular, 40,74% dos alunos
recorrem à internet antes mesmo do professor. Na rede pública, o número de
alunos que recorrem primeiro à internet ultrapassou o número de pessoas que
recorrem aos livros, com 25% e 20%, respectivamente. Todavia, deve-se admitir
que certas especificidades técnicas e sócio-econômicas atribuem uma relevância
particular à informação dada pelo professor na rede pública de ensino.
Ainda que, no Brasil, existam ações como o Programa Banda Larga nas
Escolas, que atende atualmente a 47.204 instituições de ensino públicas urbanas de
todo o país, segundo a Anatel - cerca 72,75% dos estabelecimentos municipais,
estaduais e federais localizados em zona urbana brasileira - a maneira como este
acesso se dá ainda é voltada ao entretenimento, visto que estes alunos não são
orientados a utilizar a internet de maneira construtiva: se deparam com a
novidade, a enxurrada de informações que lhes é oferecida – porém não conseguem
filtrar habilmente o que lhes seria pertinente.
Por um lado, dentre os alunos da rede particular de ensino, o
deslumbramento inicial com a Grande Rede já foi superado, estimulando estes a
apreender novas maneiras de se utilizar da ferramenta para a busca de soluções
visando a socialização de informações e do acesso, bem como o oferecimento de
serviços e de informações a partir dos recursos já disponibilizados, e permitindo,
desta maneira, a criação de novas aplicações a partir das peculiaridades do novo
veículo.
O aluno da rede pública, todavia, ainda se surpreende com a imediaticidade
na troca de informações, onde pessoas que nunca se conheceram trocam e
ampliam seus conhecimentos, contribuindo para otimizar o acesso aos recursos da
Rede.
Neste sentido, podemos identificar a seguinte situação: ainda interligado
mundialmente através da internet, o alunado brasileiro, especialmente nas escolas
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 11
12. da rede pública, continua o mesmo: a inovação tecnológica com a massificação da
internet não o levou a uma mudança de paradigma ou comportamento, mas sim
permitiu um novo suporte para que as mesmas pessoas pudessem continuar se
relacionando através das mídias sociais.
Quadro 2: Questionário
Quando você tem dúvidas sobre uma determinada matéria, a qual desses
meios você recorre?
Professor Colega Pai/Mãe Livros Internet
Privada 22,22% 24,07% 5,56% 7,41% 40,74%
Pública 35,59% 15,25% 3,39% 20,34% 25,42%
Estamos presenciando um aumento significativo no número de autodidatas
no mundo inteiro, ao mesmo passo em que o papel do professor/mestre, no sentido
clássico do professor como proprietário do saber, mas extramamente útil na
acepção da palavra, diminui. A desvalorização do professor, entretanto, não é um
fenômeno recente, advém de cada nova revolução do conhecimento.
McLuhan, ainda em 1964, advertia que o número de estudantes desistentes
tendia a crescer, devido à frustração em relação à sua participação no processo de
ensino. Um professor que não passa o conteúdo corretamente a seus alunos estará
fadado a ser substituído pelos vários serviços que a internet dispõe. As mídias
sociais estão tendo um papel fundamental neste processo.
Deve-se entender, entretanto, a desvalorização do professor no sentido de
detentor do conhecimento: ele não pode competir em conhecimento com as
ferramentas que a internet dispõe 24 horas por dia, atualizadas a cada segundo,
seus e-books, vídeo aulas, blogs e enciclopédias virtuais, por exemplo. A aula deixa
de ser propriedade do professor e passa a ser propriedade dos alunos, que podem
alterar e modificar os assuntos, sendo instigados a pesquisar e a criticar a matéria.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 12
13. Esta concepção pode justificar a inquietação do aluno na sala de aula
tradicional, relatada por diversos professores durante nossas entrevistas: o
ambiente lhe é desfavorável. Todos são tratados igualmente, como uma massa. A
sala de aula tradicional é um ambiente molar; a internet, molecular. Neste
sentido, consideramos que o professor deve adotar uma postura mais aberta aos
questionamentos, instigar os alunos à discussão, seja em plataformas reais, como
grupos de discussão em sala de aula, ou virtuais, em plataformas como o
Formspring6, que permite quês questionamentos sejam feitos, inclusive,
anonimamente.
Mídias Sociais para Educação
É sabido que o homem só consegue sobreviver em comunidade, mas no
passado as fronteiras geográficas castraram boa parte da sociabilidade do homem:
hoje não mais. As únicas fronteiras são a economia e a educação. O homem não
tem mais de desenvolver capacidades molares: ele pode terceirizar as técnicas que
não são de seu interesse ou que não são da sua área - ao mesmo tempo em que, se
lhe for de interesse aprendê-las, assim o fará em pouquíssimo tempo graças ao
conteúdo online.
A abrangência que se procura hoje é a abrangência da percepção, da visão,
do saber se é possível, não a abrangência do conhecimento em si. O homem deve
estar ciente das possibilidades nas mais diversas áreas, mas não precisa deter o
conhecimento específico para si: a web fornece essas ferramentas de
terceirização. É observável que o que se procura em um profissional, atualmente, é
que ele detenha a especialização típica da manufatura, mas que também tenha o
conhecimento do produto por inteiro, como o artesão. O artesanato digital
funciona em regime de colaboração em tempo real.
6
Consiste num perfil pessoal onde usuários da web podem fazer e responder perguntas.
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 13
14. Praticar a colaboração online estimula os alunos, uma vez que eles podem
visualizar a construção do seu conhecimento a cada segundo. Em nosso
questionários, indagou-se, ainda, se, caso o professor estivesse presente em
alguma mídia social, o alunado utilisaria este meio para sanar dúvidas e; segundo,
se os alunos procurariam interagir com seus colegas para discutir os assuntos das
aulas nas mídias sociais.
Quadro 3: Questionário
Rede da Se o seu professor estivesse presente em alguma mídia social, você usaria
Escola este meio para tirar dúvidar e tentar compreender melhor o assunto?
Sim Não
Privada 70,18% 29,82%
Pública 85,00% 15,00%
Procuraria interagir com os colegas e discutir o rendimento das aulas?
Privada 85,00% 15,00%
Pública 81,13% 18,87%
Pode-se observar uma grande necessidade da presença dos professores nas
mídias sociais, especialmente nas redes públicas de ensino, onde a formação dos
alunos carentes demanda maior atenção, tendo em vista as precárias estruturas
que comumente acometem as instituições.
Os alunos buscam significação naquilo que aprendem. Anseiam ver uma
aplicação prática dos seus estudos no dia-a-dia. Construir blogs, responder
comentários, até mesmo ensinar seus colegas torna-se uma experiência prazerosa
na busca pelo saber. Os termos “cola” e “cópia” precisam ser reavaliados. Deve-se
ensinar aos alunos, principalmente, as habilidades de pesquisa, crítica e de ensino.
Pode-se, por exemplo, criar um hotsite de recuperação/revisão na web onde os
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 14
15. próprios alunos sejam instigados a responder às dúvidas e questionamentos dos
colegas.
Configura-se numa pertinente sugestão, ainda, que o professor empenhe-se
em transformar a própria sala de aula numa mídia social, num ambiente onde a
comunicação se transforme numa ferramenta de ensino, tal qual a ágora
representou para a política da antiga Grécia, visto que as mídias sociais já fazem
parte do dia-a-dia do alunado, que está acostumado a emitir opinião pública.
Estamos diante de uma nova geração, que não nasceu numa época de
privacidade e de poucas possibilidades de comunicação. O jovem atual já nasceu
num meio onde os celulares eram comuns e com internet banda larga, e os efeitos
possíveis deste fenômeno merecem ser estudados de forma mais aprofundada.
Mesmo nos locais mais pobres, existe a figura da lan-house, que conecta os jovens
à internet - e, em especial, às mídias sociais virtuais.
Direcionar essas ferramentas, que hoje são usadas para o entretenimento, ao
conhecimento ainda é um desafio. Mas a chave não está em retirar o
entretenimento, mas em tornar a própria educação numa atividade prazerosa. Os
jogos sociais, por exemplos, tem se configurado numa ferramenta valiosa para uma
educação sadia.
Quando questionados sobre o uso das mídias sociais nos estudos do colégio,
as respostas foram muito semelhantes entre os alunos de ambas as redes de ensino:
Quadro 4: Questionário
Você já utilizou alguma mídia social para procurar informações sobre
seus estudos do Colégio?
Rede de Ensino Sim, sempre Sim, mas com pouca frequência Não, nunca
Privada 36,84% 50,88% 12,28%
Pública 36,67% 51,67% 11,67%
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 15
16. Diante destes dados, compreendemos que os jovens devem ser ensinados
também em termos de colaboração. Muito se discute em ferramentas
colaborativas, em trabalhar em equipe, em liderança, porém a forma de avaliação
aplicada na maioria das escolas restringe o aluno ao trabalho individual, a
avaliações em que a consulta aos colegas é passível de punição. Deve-se primar
pelo estímulo à colaboração mútua, à participação, interação, em que ambas as
partes contribuam de maneira equilibrada.
O que esta pesquisa sugere, portanto, é que se encoraje os alunos no sentido
de trabalharem em grupo, onde, através da inteligência coletiva, possam fazer uma
atividade de qualidade muito superior à que seria feita individualmente. As várias
mentes devem trabalhar de maneira tal que se configurem numa só, uma
verdadeira inteligência coletiva, através da colaboração real e virtual, tanto na
sala de aula como no ciberespaço.
Dá-se voz, desta maneira, a uma convergência. Permite-se uma educação
compatível com a realidade das mídias sociais. O novo cenário já não é mais uma
questão de escolha. Os efeitos da internet podem ser sentidos em cada centímetro
da sociedade, mas ainda há os que teimam pela antiga sociedade da informação
estática. O próprio mundo é o meio.
Os docentes estão em fase de atualização. Assim também está a sociedade
contemporânea. Independentemente do que o futuro reserve, o fato é que a
humanidade jamais viu avanços tecnológicos em tão alta velocidade como a atual.
Das duas uma: ou a forma de ensino dos dias de hoje se obsoletiza, ou o professor.
A escolha, mais uma vez, pertence a todos, pois, na sociedade, tudo se cria a
partir do coletivo.
Referências Bibliográficas
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Organizado por: Juliano Spyer. Brasil: S.e., 1ª Edição.
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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação 17
18. 1
Tiago Alves Nogueira de SOUZA, Bacharelando
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Departamento de Comunicação Social
tiago.nt@hotmail.com
2
Ana Célia da Rocha SANTOS, Bacharelando
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Departamento de Comunicação Social
anacrochas@gmail.com