O consumo de músicas via Youtube - Apresentação do trabalho no I Comusica
Jornalismo online e redes sociais na internet um estudo de caso dos portais cada minuto, tudo na hora e gazetaweb
1. TIAGO ALVES NOGUEIRA DE SOUZA
JORNALISMO ONLINE E REDES SOCIAIS NA INTERNET: UM
ESTUDO DE CASO DOS PORTAIS CADA MINUTO, TUDO NA
HORA E GAZETAWEB
MACEIÓ - AL
2011
2. TIAGO ALVES NOGUEIRA DE SOUZA
JORNALISMO ONLINE E REDES SOCIAIS NA INTERNET: UM
ESTUDO DE CASO DOS PORTAIS CADA MINUTO, TUDO NA
HORA E GAZETAWEB
Monografia, apresentada ao Curso de
Comunicação Social – Habilitação
Jornalismo - da Universidade Federal
de Alagoas como requisito para
obtenção do título de bacharel em
Comunicação Social.
MACEIÓ - AL
2011
3. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
COMUNICAÇÃO SOCIAL
TERMO DE APROVAÇÃO
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, avalia a Monografia
Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de caso dos
portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb, elaborada por Tiago Alves
Nogueira de Souza.
Monografia examinada:
Maceió, _____de___________de 20____.
Comissão Examinadora:
______________________________________________
Orientador: Prof. Ph.D Sivaldo Pereira da Silva
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Profª. Ms.Andréa Moreira Gonçalves De Albuquerque
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Prof. Ms.Érico de Melo Abreu
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Profª. Dr. Magnolia Rejane Andrade dos Santos
Universidade Federal de Alagoas
Maceió
2011
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu papai e à minha mamãe por todo apoio que sempre precisei.
Não poderia ser diferente, afinal, são meus pais. Gostaria também de dizer o
quanto sou grato aos meus amigos pessoais, Ubiratan, Lucas e Paulo e à minha
companheira de alma, Lay, pelos excelentes momentos de relaxamento, paz e
lazer que auxiliaram no desafio desta criação. Agradeço ao professor Ronaldo
Bispo por ter me introduzido na vida acadêmica e ter me servido de inspiração.
Foram dias incríveis durante a pesquisa e devo muito a ele por diversas coisas
que aprendi na área de comunicação. Queria lembrar também de meus amigos
da época do Colégio, cuja atual distância não os tornam menos especiais: André,
Henkeo, Jamerson e Fábio.
Alguns personagens não poderiam ficar de lado. Obrigado Gregory House e
Dexter Morgan pelas implacáveis noites de Vicodin e Etorfina que me
tranquilizaram e deram paciência para continuar este trabalho, mesmo ao ver o
Sol nascer pelo reflexo do monitor de meu notebook. Gostaria de agradecer ao
meu notebook, mas só gostaria mesmo. Travou bastante, bateria sempre fraca e
monitor com defeito. Nunca comprem um Dell.
Um “muito obrigado” à Plus! Agência Digital por permitir que eu pudesse por em
prática minhas ideias e estudos na área de mídias sociais. Um verdadeiro ninho
de criatividade. Sem vocês, dificilmente estaria onde estou neste momento.
Finalmente, obrigado à banca que aceitou participar desta avaliação mesmo com
o prazo curtíssimo e em um período praticamente sem aulas na Ufal. Deixa eu ver
quem mais... Não, é isso.
6. NOGUEIRA, Tiago. Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de
caso dos portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb.2011, 85f. Monografia
(Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade
Federal de Alagoas, Maceió, 2011.
RESUMO
O jornalismo online se modificou nos últimos anos com o crescimento das
plataformas de mídias sociais, especialmente com o desenvolvimento de sites de
redes sociais na internet como o Twitter e o Facebook. Praticamente não há mais
nenhum portal de notícias no país que não tenha percebido o potencial de
distribuição e aquisição de informações através das redes sociais na internet.
Este trabalho procura:fazer uma linha do tempo sobre a evolução do jornalismo
online em comparação com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
e a Cibercultura; define o momento atual do jornalismo online ao conectá-lo com
duas características principais: personalização e interação; faz apontamentos
sobre a modificação do jornalismo contemporâneo com base na internet e; analisa
os três portais alagoanos com maior presença nos Sites de Redes Sociais com
base em pontos qualitativos e quantitativos.
Palavras-chave: redes sociais, jornalismo online.
7. NOGUEIRA, Tiago. Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de
caso dos portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb.2011, 85f. Monografia
(Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade
Federal de Alagoas, Maceió, 2011.
ABSTRACT
Online Journalism has changed in the last few years with the growing of social
media platforms, especially with the development of Social Network Sites Twitter
and Facebook. Practically there isn‟t any news site at Brazil that has not
discovered yet the potential of distribute and acquire information thru the social
network sites. This monograph pursuit to:timeline the evolution of online
journalism with the new technologies of information and communication; define the
nowadays online journalism by connecting it with two main characteristics:
personalization and interactivity; do appointments about the change in
contemporary journalism at internet and; analyze three local portals of Alagoas
with biggest presence at Social Networks Sites by quantitative and qualitative
points.
Keywords:social networks, online journalism.
8. LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Esferas que ilustram a delimitação das terminologias .......................... 36
Gráfico 1–O crescimento do tráfego via web até meados dos anos 2000. .......... 39
Gráfico 2 - Índice de volume de buscas pra a palavra “web” vem caindo desde
2005. ..................................................................................................................... 40
Gráfico 3 -Índice de volume de buscas para a palavra “online” cresceu bastante
entre os anos de 2007 e 2010............................................................................... 40
Quadro 1 - JDBD: novo paradigma surge entre a 3ª e a 4ª geração .................... 43
Figura 2 - Da esquerda para a direita: redes centralizada, descentralizada e
distribuída.............................................................................................................. 56
Figura 3 - Página inicial de login do Facebook em novembro de 2011 ................. 58
Figura 4 - Página inicial de login do Twitter em novembro de 2011. ..................... 59
Figura 5 - Usuários de mídias sociais e suas principais utilizações ...................... 67
Figura 6 - Página inicial do portal Tudo na Hora em novembro de 2011 .............. 79
Figura 7 - Página inicial do portal Cada Minuto em novembro de 2011 ................ 80
Figura 8 - Página inicial do portal Gazetaweb em novembro de 2011 .................. 81
Figura 9 - Página do Facebook do TNH publica uma imagem agradecendo aos
usuários que curtiram a página. ............................................................................ 82
Figura 10 - No dia 13 de novembro, o Gazetaweb publicou um novo layout ........ 83
Figura 11 - Durante 48 horas entre os dias 21, 22 e 23 de novembro, a página
inicial do Cada Minuto se transformou num banner interativo que ocupava toda
área do monitor, agradecendo aos 6 mil fãs no Facebook. .................................. 84
Gráfico4 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @tudonahora ......... 85
Gráfico 5 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @gazetaweb ........ 86
Gráfico 6 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @cadamin ............ 87
Gráfico 7- Número de menções aos perfis dos portais no Twitter......................... 88
Gráfico 8 - Número de seguidores no Twitter por mês .......................................... 88
Gráfico 9 – Quanto os meios cresceram ou diminuíram entre 2009 e 2010 ......... 95
9. LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção
e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo. ............................ 36
Tabela 2 - Proporção de indivíduos que já acessaram a internet - Percentual
sobre o total da população. ................................................................................... 44
Tabela 3 - Fases do jornalismo online e suas características dominantes ........... 52
Tabela 4 - Número de comentários no Facebook e no site da revista Veja .......... 78
Tabela 5 - Número de interações nas páginas de Facebook dos portais. ............ 92
10. SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
2. Comunicação, jornalismo e cibercultura ...................................................................... 13
2.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 13
2.2 Adeus mundo linear ............................................................................................... 17
2.3 Cibercultura: contextualização ............................................................................... 21
2.4 Era da Informação ................................................................................................. 25
2.5 Breves considerações necessárias sobre digital e virtual ...................................... 29
3. JORNALISMO E INTERNET ....................................................................................... 32
3.1 Ao Jornalismo Contemporâneo .............................................................................. 32
3.2 Nomenclaturas: por que jornalismo online? ........................................................... 33
3.3 Jornalismo Online .................................................................................................. 41
3.4 A Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo digital online .................... 45
4. JORNALISMO NA ERA DAS REDES SOCIAIS E DAS MÍDIAS SOCIAIS .................. 53
4.1 Redes sociais ........................................................................................................ 53
4.2 Redes sociais na Internet....................................................................................... 54
4.3 Facebook ............................................................................................................... 57
4.4 Twitter .................................................................................................................... 60
4.5 Comunidades virtuais ............................................................................................ 62
4.6 Mídias Sociais........................................................................................................ 64
4.7 Jornalismo Participativo, Jornalismo em Rede e Social Journalism ....................... 68
4.8 Jornalismo online e Redes Sociais na Internet....................................................... 73
4.9 A distribuição da informação .................................................................................. 76
5. ESTUDO DE CASO .................................................................................................... 79
5.1 Metodologia ........................................................................................................... 79
5.2 Tudo na Hora ......................................................................................................... 80
5.3 Cada Minuto .......................................................................................................... 81
11. 5.4 GazetaWeb ............................................................................................................ 81
5.5 Uso das Redes Sociais .......................................................................................... 82
5.6 Uso do Twitter pelos portais................................................................................... 85
5.7 Uso do Facebook pelos portais .............................................................................. 90
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 94
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 97
12. INTRODUÇÃO
O jornalismo,enquanto instituição, não tem suporte. Ou poderíamos ainda afirmar
que o jornalismo pode ser executado em qualquer lugar. Vivemos numa era em
que não podemos mais fazer citações do tipo “com o advento da internet”. A
internet já está aí, bem na frente de nossos seus olhos. Até mesmo a grande
mídia tradicional já sucumbiu aos “encantos” do mundo digital. O jornalismo
mudou. E continuará mudando.
Para navegar nesses oceanos, entretanto, é necessário bagagem. E velocidade.
Os termos mudam numa velocidade incrível, as páginas se atualizam, e quem
não for rápido o suficiente será colocado de lado. Mas não é somente sobre
velocidade, é também sobre querer e poder. Estamos num momento em que não
somente jornalistas estão presentes nos meios de comunicação, mas também os
chamados “usuários comuns”. Através as mídias sociais eles geram conteúdo
que, a um clique de distância, pode viralizar e contagiar toda a internet. Com suas
redes sociais em ambientes facilmente administráveis, conduzem todos os seus
contatos a lerem e replicarem seus conteúdos. É assustador. E fantástico.
No primeiro capítulo deste trabalho, enfatizamos alguns aspectos teóricos
necessários para a compreensão do jornalismo online e fazemos conexão com a
cibercultura e evolução dos meios até o atual momento. Discutimos a questão da
mensagem, do conteúdo e do valor por trás da meio internet. Apresentamos o
mundo não-linear, através de hiperlinks, hiperdocumentos e hipertexto. Vemos o
que é a comunicação muitos-para-muitos e fundamentos da cibercultura. Por fim,
compreendemos que os limites da era da informação impõem um novo modelo de
jornalismo, onde a informação quer e deve ser livre e grátis.
No segundo capítulo, avaliamos o jornalismo contemporâneo através da óptica da
internet. Trabalhamos as nomenclaturas para o jornalismo praticado com novas
tecnologias e explicamos o porquê da nossa proposta com jornalismo online.
Apontamos questões sobre Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo
digital online. Afirmamos que cada geração do jornalismo online possui uma
11
13. característica dominante e que, na quarta geração, as características dominantes
são a interação e a personalização.
No terceiro capítulo trabalhamos a influencia direta das mídias e redes sociais no
jornalismo online. Desenvolvemos os conceitos de redes sociais na internet,
apresentamos o Facebook e o Twitter e destacamos a importância das
comunidades virtuais no processo de construção das interações mediadas por
computador. Apresentamos também as definições de mídias sociais, de
Jornalismo Participativo, Jornalismo em Rede e Social Journalism e
demonstramos como são feitas as distribuições de informações nas redes sociais.
O quarto e último capítulo apresenta o estudo de caso sobre os portais Tudo na
Hora, Cada Minuto e Gazetaweb, com entrevistas e análises de dados dos
portais. São feitas análise do Twitter e do Facebook dos portais, com gráficos e
projeções das ações.A distribuição e aquisição de informações através das redes
sociais tornam mais eficazes as práticas jornalísticas e ajudam a consolidar o
jornalismo online.
12
14. 1. Comunicação, jornalismo e cibercultura
1.1 Considerações iniciais
São muitas as possibilidades de se iniciar um TCC sobre jornalismo Online, mas
uma abordagem com números parece ser a mais eficiente para demonstrar a
importância sobre o assunto. Segundo o F/Nazca, somos 81,3 milhões de
internautas brasileiros (a partir de 12 anos)1. Já para o Ibope/Nielsen, somos 78
milhões (a partir de 16 anos - setembro/2011)2. De acordo com a Fecomércio-
RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados à internet aumentou de 27%
para 48%, entre 2007 e 2011. O principal local de acesso é a lan house (31%),
seguido da própria casa (27%) e da casa de parente ou amigos, com 25%
(abril/2010)3. O Brasil é o 5º país com o maior número de conexões à Internet. O
último relatório do instituto ComScore4 sobre a ascensão das redes sociais na
América Latina aponta que 90,8% dos brasileiros que acessam a internet
acessam redes sociais. O que isso significa para o jornalismo?
A evolução do jornalismo se confunde com a evolução dos meios de
comunicação. A apropriação dos meios para o jornalismo contemporâneo é
constante. O suporte muda com o passar dos anos, adquirindo novas feições.
Mesmo em uma única mídia existem diferenças. No impresso, o jornalismo ocorre
nos jornais propriamente ditos, nas revistas, nos folhetins, nos livros-reportagem.
Na televisão, o jornalismo ocorre em programas com diferentes formatos: desde o
padrão Jornal Nacional até a revista eletrônica semanal, Fantástico.Isso apenas
para citar exemplos globais.
Na internet não poderia ser diferente. O formato jornalístico começou com os
famosos portais, dominadores nas primeiras décadas da internet, mas já existem
diversos modos de se fazer jornalismo online. Blogs5, wikis6, tumblrs7, fotologs8,
1
http://www.adnews.com.br/internet/110788.html (Acessado em 21/11/2011 )
2
http://info.abril.com.br/noticias/internet/internet-no-brasil-chega-a-78-mi-de-usuarios-12092011-5.shl
(Acessado em 22/11/2011 )
3
http://info.abril.com.br/noticias/internet/metade-da-populacao-possui-acesso-a-internet-08112011-46.shl
(Acessado em 21/11/2011 )
4
http://www.missmoura.com/panorama-do-brasil-nas-redes-sociais-em-2011-com-dados-comscore
(Acessado em 22/11/2011 )
5
Plataforma que permite a hospedagem e publicação de conteúdo na internet.
6
Plataformas que permitem a edição de conteúdo por qualquer usuário.
13
15. redes sociais9. As possibilidades são muitas. Em seu livro Jornalismo Opinativo,
José Marques de Melo expõe sua opinião sobre o jornalismo e os suportes de
comunicação:
O jornal, assim como a revista, ou o rádio e a televisão, constitui
instrumento indispensável para o exercício do jornalismo, mas não
exclusivamente. É possível encontrar um jornal que contenha
apenas matérias jornalísticas. Mas é possível encontrar um jornal
que só contenha anúncios (propaganda) e nenhuma matéria
vinculada ao universo da informação de atualidades. Logo, o
jornalismo articula-se necessariamente com os veículos que tornam
públicas suas mensagens, sem que isso signifique dizer que todas
as mensagens ali contidas são de natureza jornalística. (MARQUES
DE MELO, 2003, p. 16)
Marques de Melo, portanto, aponta para a ausência de suporte na atividade
jornalística. Ou para que qualquer meio pode conter informações jornalísticas,
desde que esses meios tornem públicas as mensagens, algo que as redes sociais
e as mídias sociais fazem com maestria, como veremos mais à frente.
Para o jornalista brasileiro Luis Nassif (2011), a blogosfera, por exemplo, já é
utilizada pelas mais diversas camadas da sociedade, mas a questão jornalística
não está na tecnologia utilizada: “a questão mais importante não é a tecnologia
em si, que está em constante transformação, mas nos valores por trás dela.”10
Para o jornalista, os valores da informação são mais importante que o meio em
que ela está vinculada.
A questão do meio é, entretanto, trabalhada em outra óptica através dos estudos
de Marshall McLuhan em Os meios de comunicação como extensões do homem
(understanding media). Para o autor, “o meio é a mensagem”:
Isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de
qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das extensões de nós
mesmos – constituem o resultado do novo estalão introduzido em
nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós
mesmos. (MCLUHAN, 1995, p. 21).
7
Um tipo de plataforma de blogs que permite a replicação de conteúdos.
8
Blogs cujo principal foco está na publicação de fotos e imagens.
9
Ver capítulo “Jornalismo , redes sociais e mídias sociais”
10
http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=740019(Acessado em 22/11/2011 )
14
16. McLuhan explica ainda que o meio é a mensagem “porque é o meio que configura
e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas. O conteúdo
ou usos desses meios são tão diversos quão ineficazes na estruturação da forma
das associações humanas.” (idem, p. 23). É correto, portanto, afirmar que o
conteúdo vinculado nos suportes online, por serem meiosdistintos, possui uma
carga diferente das informações vinculadas nos suportes “tradicionais”. A questão
do valor retorna ainda mais à frente em seu texto:
Ao aceitar um grau honorífico [...] Gen. David Sanoff declarou o
seguinte: “Estamos sempre inclinados a transformar o instrumental
técnico em bode expiatório dos pecados praticados por aqueles que
os manejam. Os produtos da ciência moderna, em si mesmos, não
são bons nem maus: é o modo com que são empregados que
determinam o seu valor.” Aqui temos a voz do sonambulismo de
nossos dias. É o mesmo que dizer: “Uma torta de maçãs, em si
mesma, não é boa nem má: o seu valor depende do modo com que
é utilizada.” [...] E ainda: “As armas de fogo, em si mesmas, não
são boas nem más: o seu valor é determinado pelo modo como são
empregadas.” Vale dizer: se os estilhaços atingem as pessoas
certas, as armas são boas; se o tubo da televisão detona a munição
certa e atinge o público certo, então ele é bom. Não estou querendo
ser maldoso. Na afirmação de Sarnoff praticamente nada resiste à
análise, pois ela ignora a natureza do meio, dos meios em geral e
de qualquer meio em particular [...] (MCLUHAN, 1995, p. 25)
O autor afirma que cada produto da ciência traz consigo implicações próprias para
a vinculação da mensagem. Embora a questão do meio pareça estar bem
vinculada ao valor por trás de seu uso, e nesse ponto McLuhan e Nassif parecem
estar em lados opostos, ainda é interessante expor o pensamento de Marc
Bresseel (2010), vice-presidente da Microsoft Advertising. Ele defende que o
conteúdo deve se adaptar a qualquer suporte, ou seja, nem só o jornalista é
multimídia11, a notícia também o é12:
Costumávamos dizer que o meio era a mensagem, mas agora não
faz mais sentido. O meio é o que menos importa num mundo
11
No contexto do jornalismo online, multimidialidade, refere-se àconvergência dos formatos das
mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico. A convergência torna-se
possível em função do processo de digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou
disponibilização em múltiplas plataformas e suportes, numa situação de agregação e
complementaridade.
12
http://www.webdialogos.com/2010/cibercultura/o-meio-ainda-e-a-mensagem/(Acessado em
22/11/2011 )
15
17. multimidiático como o de hoje em dia [...] agora uma boa história
que se adapte a todos os suportes é necessária.
Essa abordagem, entretanto, carece de uma reflexão mais profunda. Se o que
mais importa é uma história que se adapte a todos os suportes, então estamos
numa era em que toda história deve ser feita pensando em todos os meios. Ou
seja, compreender que cada meio possui um ponto característico. Alex Primo e
Marcelo Ruschel Träsel (2006) tentam uma abordagem conciliatória nesse
sentido, afirmando que, enquanto fenômeno midiático, o jornalismo mantém
íntima relação com os canais tecnológicos, seus potenciais e limitações. Embora
a matéria do estudo esteja focada no jornalismo, é bem verdade que a aplicação
pode ser ampliada em outras modalidades. Para os autores:
Como processo complexo, a alteração do canal repercute de forma
sistêmica sobre o processo comunicacional como um todo. A
produção e leitura de textos em jornal impresso e online se
transformam em virtude dos condicionamentos do meio. Isso não é
o mesmo que defender algum tipo de determinismo tecnológico
(perspectiva que se desvincula de outros condicionamentos sociais,
políticos, culturais etc.), nem adotar impunemente a máxima
macluhaniana de que o meio é a mensagem. Mas aceitar que o
meio também é mensagem. Se a relação entre homem e técnica é
recursiva, o processo comunicacional (ou mais especificamente o
jornalístico) demanda rearticulações a partir das estruturas
tecnológicas em jogo. (PRIMO; TRÄSEL, 2006, p. 3). [grifo nosso]
Aceitar que o meio também é mensagem é compreender que existem vários
pontos próprios numa comunicação, e cada um desses pontos modifica a
mensagem de maneira própria. Quando Nassif aponta a questão do valor em
detrimento do meio, aponta principalmente para o valor ético, embora este não
seja o único tipo de valor. Pode-se ainda argumentar sobre os valores
socioeconômicos, culturais, mercadológicos, ideológicos, e numa grande
amplitude de valores. Para nós, é importante analisar os valores por trás da
cultura digital, da cibercultura, pois ela influencia diretamente os fazeres
jornalísticos nas redações dos portais digitais. Ao perceber como funcionam as
comunidades virtuais, a comunicação não-linear, a interação, entre outras
características a cibercultura e do ambiente em rede, o jornalista abre um leque
com diversas opções para a aquisição, a produção, a distribuição e o consumo de
informações.
16
18. 1.2 Adeus mundo linear
A comunicação em sociedade inicia com a linguagem. O primeiro suporte da
história da comunicação foi o próprio corpo humano, através dos gestos, dos
grunhidos, dos olhares. Com a evolução da habilidade, o homem passou a
transcrever sua mente para as paredes das cavernas através das pinturas
rupestres. A representação através de imagens não sofreu grandes mudanças até
o surgimento do alfabeto. Por isso,
[...] embora tenha surgido há mais de 3.500 anos antes de Cristo,
inventada pelos sumérios, a escrita e toda a sua carga linear não se
ratificaram como meio de comunicação de massa até a invenção da
moderna tipografia (ou imprensa) com caracteres metálicos móveis,
por Gutenberg, por volta de 1440, em Estrasbrugo. (ESTRÁZULAS,
2010, p. 29).
Ou seja, desde o surgimento das primeiras formas de comunicação humana, a
expressão prosseguiu de maneira linear. Até aquele momento, para compreender
um texto, era necessário percorrê-lo da primeira à última página.
Pierre Lévy argumentará em Cibercultura (2000), entretanto, que o primeiro
modelo de leitura não-linear surgiu antes dos meios digitais. Através do
hipertexto, presente em enciclopédias, o homem conhece sistemas de navegação
por documentos que facilitam a busca e a leitura de conteúdo específico. Foram
os sumários e os índices que permitiram a leitura não-linear:
A abordagem mais simples do hipertexto é descrevê-lo, em
oposição a um texto linear, como um texto estruturado em rede. O
hipertexto é constituído por nós (os elementos de informação,
parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e por links
entre esses nós, referências, notas, ponteiros, “botões” indicando a
passagem de um nó a outro (LÉVY, 2000, p. 55-56).
No artigo Jornalismo Online, informação e memória: apontamentos para debate,
Marcos Palacios (2002)13 estudou algumas das características do jornalismo
desenvolvido para Web, afirmando que a hipertextualidade:
Possibilita a interconexão de textos através de links (hiperligações).
Canavilhas (1999) e Bardoel & Deuze (2000) chamam a atenção
13
http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2002_palacios_informacaomemoria.pdf(Acessado em
22/11/2011 )
17
19. para a possibilidade de, a partir do texto noticioso, apontar-se (fazer
links) para “várias pirâmides invertidas da notícia”, bem como para
outros textos complementares (fotos, sons, vídeos, animações etc),
outros sites relacionados ao assunto, material de arquivo dos
jornais, textos jornalísticos ou não que possam gerar polémica em
torno do assunto noticiado, publicidade etc. (PALACIOS, 2002, p. 3)
Embora o hipertexto tenha surgido antes das tecnologias digitais, é fato que sua
relevância tenha sido enormemente ampliada graças aos suportes baseados em
hiperlinks, aí sim, totalmente digitais. Hiperlinks são parte dos fundamentos das
linguagens usadas para construção de páginas naWeb e em outros meios digitais.
Geralmente são elementos clicáveis, em forma de texto ou imagem, que levam a
outras partes de um site. “Navegar na web” é, portanto, seguir uma sequência de
links. Os links agregam interatividade no documento. Ao leitor torna-se possível
localizar rapidamente conteúdo sobre assuntos específicos.
É a interatividade, portanto, que fundamenta o hipertexto digital. Os hiperlinks vão
além da não-linearidade. Jimi Aislan Estrázulas explica o início da linguagem
digital com base na interação no que ele chama de mundo mosaico:
A linguagem do meio digital foi inicialmente parasitária, pois
dependia das linguagens do impresso, do rádio e da televisão. Com
a confluência, tornava-se difícil manter as linguagens separadas,
porque diferente dos meios analógicos, o meio digital criava de fato
um diálogo, que foi nomeado de interatividade. [...] É possível
interagir com o meio digital, responder às críticas, e no extremo da
participação, criar páginas de interação próprias. (ESTRÁZULAS,
2010, p. 79).
Quando o autor fala que “no extremo da participação” o usuário pode criar página
própria, a situação é parece complexa demais. E de fato era. No passado, o
usuário precisava ter conhecimentos de técnicas de edição de texto em HTML, de
hospedagem e de servidores na internet. Enfim, não era algo que leigos poderiam
fazer. Hoje, com as plataformas de User generated content14 (UGC), praticamente
14
Em português: Conteúdo gerado pelo usuário. Esse termo é usado quando empresas ou instituições criam
alguma ferramenta que possibilite o usuário criar o conteúdo. O termo surgiu em torno de 2005
juntamente com a web 2.0, onde a interatividade e o diálogo tornaram-se as principais características da
web. Com isso a informação tornou-se mais democrática, não estando somente nas mãos das grandes
corporações midiáticas. Qualquer pessoa com o conhecimento mínimo de informática poderia opinar e
criar algum tipo de conteúdo, seja ele um blog, um comentário, um vídeo, uma fotomontagem, entre tantas
outras possibilidades.
18
20. qualquer usuário pode construir páginas de interação próprias, mesmo que
hospedadas por terceiros.
Palacios (2002) considera que a interatividade é uma chave fundamental para o
jornalismo online. A notícia tem uma capacidade de fazer com que o leitor sinta-se
parte do processo jornalístico num grau mais elevado, através de diversas formas
de interação:
[...] Isto pode acontecer de diversas maneiras: pela troca de e-mails
entre leitores e jornalistas, através da disponibilização da opinião
dos leitores, como é feito em sites que abrigam fóruns de
discussões, através de chats com jornalistas etc. Machado (1997)
ressalta que a interactividade ocorre também no âmbito da própria
notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto também pode ser
classificada como uma situação interactiva. Adopta-se o termo
multi-interactivo para designar o conjunto de processos que
envolvem a situação do leitor de um jornal na Web. Diante de um
computador conectado à Internet e a acessar um produto
jornalístico, o Utente estabelece relações: a) com a máquina; b)
com a própria publicação, através do hipertexto; e c) com outras
pessoas – autor(es) ou outro(s) leitor(es) - através da máquina
(Lemos, 1997; Mielniczuk, 1998).(PALACIOS, 2002, p. 3)
O jornalismo é uma atividade interativa. Mas antes das Novas Tecnologias da
Informação e de Comunicação, essa interatividade esteve presente na aquisição
e produção de informações. No cenário digital online, a distribuição e o consumo
de informações se tornaram interativos também. Voltaremos mais à frente no
trabalho a tratar da interatividade em termos sociais no capítulo 2.4,A Web 2.0,
interação e a quarta geração do jornalismo digital online.
No hipertexto digital, Alex Primo e Marcelo Ruschel Träsel (2006)15, trabalharam
também os conceitos de Landow (1997), que transforma os usuários em “co-
autores” do processo textual:
Durante os primeiros tempos do hipertexto digital, Landow (1997) já
apontava que a fronteira entre autor e leitor estava borrada. O
modelo transmissionista (emissor -> mensagem -> canal ->
receptor), que parecia para alguns ser o modelo natural da
comunicação de massa, ganha nova maquiagem. O fluxo jornalista
-> notícia -> jornal -> leitor, por exemplo, renova-se em jornalista -
15
http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/webjornal.pdf(Acessado em 22/11/2011 )
19
21. >notícia ->site -> “usuário” [...] É verdade, porém, que escrita e
leitura tornam-se hipertextuais, o que em si já altera o processo
interativo. Conforme Landow, a leitura no hipertexto demanda que o
internauta assuma uma postura ativa na seleção dos links que
apontam para diferentes lexias na estrutura hipertextual, o que o
converteria necessariamente em co-autor.(PRIMO, TRÄSEL; 2006:
p. 2) [grifo nosso]
Destacamos no texto acima o “usuário” como peça fundamental no processo
introdutório do hipertexto digital. No meio digital, não mais um leitor, mas sim um
usuário. Além dos hipertextos e da interatividade, outro elemento fundamental
para o surgimento do mundo “não-linear” é o modelo comunicacional muitos-para-
muitos. Em artigo para o 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação
intitulado Mídias Sociais na Educação: inteligência coletiva entre docentes e
discentes, foi explicado,através dos conceitos de Lévy (1998), como funciona a
comunicação muitos-para-muitos:
O meio digital permite um alcance de nível global, mantendo,
entretanto, as características pessoais de um diálogo, ou melhor,
de um multílogo (Lévy, 1998). As mídias sociais podem ser
compreendidas como espaços virtuais onde a troca de informações
é caracterizada de maneira não hierárquica. Não existe um grande
emissor que detém o poder das informações, nem existe um único
meio de enviá-las. O repasse de informações ocorre de forma igual
para todos, de maneira colaborativa, onde o homem é emissor e
receptor ao mesmo. É a comunicação muitos-para-muitos.
(SANTOS; NOGUEIRA, 2010, p. 6)
Em Britto (2009), encontramos que na comunicação muitos-para-muitos a
referência de emissor e receptor é atenuada, já que existe a troca, a interação, o
diálogo, citando Lévy: “No ciberespaço, em troca, cada um é potencialmente
emissor e receptor num espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto
pelos participantes, explorável” (LÉVY apud BRITTO, 2009, p. 145).
O mundo “não-linear” (ou mundohiperlinkado) modificou profundamente o modo
como as pessoas adquirem informações. E se o jornalismo é, par excellence, uma
atividade vinculada à aquisição, distribuição, consumo e produção de
informações, é lógico que esta atividade “sofrerá” grandes consequências.
20
22. 1.3 Cibercultura: contextualização
“A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço,
simulação, tempo real, processos de virtualização etc.), vai criar uma nova
relação entre a técnica e a vida social que chamaremos de cibercultura.” (LEMOS,
2002: p. 15). Se o novo jornalista online não compreende os processos de
comunidades virtuais, meritocracia, ética hacker, apenas para citar alguns pontos
da cibercultura, ele não será capaz de extrair ao máximo as informações da rede.
Após dois anos de estudos sobre o futuro do jornalismo, Sandra Ordonez16
publicou um post17 no Media Shift, expondo quais seriam as principais
qualificações necessárias para os novos jornalistas. Segue a lista:
1. Ser multitarefa tendo várias responsabilidades e papéis, muitos dos quais
podem não ter nada a ver com o jornalismo "tradicional".
2. Ter excelente conhecimento tecnológico, tendo pelo menos um
conhecimento básico de programação, ferramentas web e cultura web.
3. Ser um gatekeeper em diferentes ritmos, direcionando os leitores para as
notícias mais atuais e confiáveis, independentemente de quem a escreveu
ou onde está alojado.
4. Ser um contador de histórias versátil (storytelling), que sabe como
apresentar uma linha de história em vários formatos.
5. Ser um gerente de comunidades e de marcas, cultivando uma conversa
constante e interativa com seus leitores.18
Temos aí, portanto, diversos pontos propostos onde somente uma pessoa
completamente imersa na tecnologia e cibercultura poderá atingi-los.
16
http://www.pbs.org/mediashift/sandra-ordonez-1/
17
http://www.pbs.org/mediashift/2010/06/what-skills-will-future-journalists-need160.html
18
Traduçãoprópria do original eminglês: “A multitasker, juggling various responsibilities and roles,
many which may have nothing to do with "traditional" journalism. Technologically savvy, having at
least a basic understanding of programming, web tools, and web culture. A gatekeeper for a
particular beat, directing readers to the most current and trustworthy news, regardless of who wrote
it or where it's housed. A versatile storyteller, who knows how to present a story online in various
formats.Abrand and a community manager, who cultivates a constant and interactive conversation
with their readership.
21
23. Um conceito de cibercultura conhecido é o pensamento de Pierre Lévy (2005).
Para Lévy, a essência da cibercultura está no universo sem totalidade, isto é, na
ampliação do ciberespaço e da inteligência coletiva:
“Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna „universal‟,
e menos o mundo informacional se torna totalizável. O universal da
cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem
conteúdo particular. Ou antes, ele os aceita todos, pois se contenta
em colocar em contato um ponto qualquer com qualquer outro, seja
qual for a carga semântica das entidades relacionadas” (LÉVY,
2005, p. 111).
Esse novo universal seria diferente das formas culturais que vieram antes dele,
pois ele se constrói justamente na indeterminação de um sentido global qualquer.
O ciberespaço seria a dimensão que possibilita a conexão de todas as qualidades
subjetivas, que permite que os bilhões de cérebros sejam considerados como
neurônios de um grande cérebro universal.
“O ciberespaço é uma espécie de objetivação ou de simulação da
consciência humana global que afeta realmente essa consciência,
exatamente como fizeram o fogo, a linguagem, a técnica, a religião,
a arte e a escrita, cada etapa integrando as precedentes e levando-
as mais longe ao longo de uma progressão de dimensão
exponencial.” (LÉVY apud BRITTO, 2009, p. 141).
Para André Lemos, o ciberespaço pode ser entendido ainda a partir de duas
perspectivas:
[...] como o lugar onde estamos quando entramos num ambiente
virtual (realidade virtual), e como o conjunto de redes de
computadores, interligadas ou não, em todo o planeta (BBS,
videotextos, Internet...). Estamos caminhando para uma interligação
total dessas duas concepções do ciberespaço, pois as redes vão se
interligar entre si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por
mundos virtuais em três dimensões. O ciberespaço é assim uma
entidade real, parte vital da cibercultura planetária que está
crescendo sob os nossos olhos. (Lemos apud Mielniczuk; 2003, p.
3).
A questão das tecnologias indeterminantes é igualmente fundamental para a
compreensão do potencial da internet no jornalismo online. Embora as novas
tecnologias tenham um papel importante na evolução do jornalismo (aqui
22
24. evolução como adaptação, não necessariamente uma melhoria), é mais correto
afirmar que as novas tecnologias são condicionantes, e não determinantes no
surgimento de novas práticas na redação:
Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas
possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não
poderiam ser pensadas a sério sem sua presença. Mas muitas
possibilidades são abertas, e nem todas são aproveitadas [...] A
prensa de Gutenberg não determinou a crise da Reforma, nem o
desenvolvimento da moderna ciência europeia, tampouco o
crescimento dos ideais iluministas e a força crescente da opinião
pública no século XVIII – apenas condicionou-as. Contentou-se em
fornecer uma parte indispensável do ambiente global no qual essas
formas culturais surgiram. (LÉVY, 2005: p. 26-27)
O resgate às informações passadas permite uma ampliação sem limites dos
portais de notícias. Pegue o melhor e mais completo jornal de domingo da sua
cidade. Quantas informações estão presentes nele? Agora visite um modesto
portal de notícias da sua região. Pode até mesmo ser um portal sobre o seu
bairro. Inevitavelmente ele conterá muito mais informações acessíveis naquele
instante. Naquele instante. Um jornal online possui mais acesso à informação
devido ao seu mecanismo de estoque, de banco de dados, de memória 19.
Grandes jornais como a Folha e o Globo possuem muitas informações
armazenadas em suas milhares de edições anteriores. Mas esta não é uma
informação acessível instantaneamente, como o jornalismo online permite. Talvez
essa seja uma das questões mais importantes da influência da cibercultura no
jornalismo online. Não há limites (incluímos aí também imagens, vídeos,
comentários, comunidade e uma infinidade de outros elementos dinâmicos.).
Compreender que a técnica condiciona é perceber que as novas tecnologias
digitais permitem um grande número de novas possibilidades no jornalismo
online.
19
Palacios (1999) argumenta que a acumulação de informações é mais viável técnica e
economicamente na Web do que em outras mídias. Desta maneira, o volume de informação
anteriormente produzida e directamente disponível ao Utente e ao Produtor da notícia é
potencialmente muito maior no jornalismo online, o que produz efeitos quanto à produção e
recepção da informação jornalística, como veremos adiante. (PALACIOS, 2002: p. 4).
23
25. Como demonstraremos mais à frente neste TCC, o Twitter20, por exemplo,
permitiu importantes pautas para o jornalismo online alagoano. Nas páginas de
Facebook21, sugestões de pautas são realizadas pelo leitores, que se sentem
muito mais confortáveis em realizar a denúncia num ambiente conhecido por eles.
As novas técnicas (tecnologias) dão novas condições para o jornalismo
contemporâneo, permitindo a realização de novas práticas:
A prática jornalística tem sido, historicamente, dependente da
tecnologia, como afirma Deuze (2006, p. 17): “A profissão conta
com a tecnologia para a recolha, edição, produção e disseminação
da informação.” É a tecnologia, segundo o autor, que tem permitido
ao jornalismo se organizar a partir de um principio básico: transmitir
informações de maneira rápida. Para ele, a história da tecnologia
na comunicação social permite associar a imprensa escrita ao
século XIX, o rádio e a TV ao século XX e as plataformas
multimídias e digitais ao século XXI. (RODRIGUES, 2009: p. 15).
O jornalismo contemporâneo está intrinsecamente ligado às novas tecnologias de
informação e comunicação. O jornalismo deve acompanhar a velocidade em que
os consumidores adquirem novos hábitos, conforme adquirem novas tecnologias.
Um grande exemplo dessa transformação atual está no boom de vendas dos
tablets22. No Brasil, o Estadão foi o primeiro jornal online a ter uma versão
exclusiva para tablets através de uma assinatura de R$29,90 por mês.Cada
edição avulsa do Estadão para este dispositivo custa US$ 1,99, e pode ser
baixada na App Store23.A diferença do Estadão em relação aos modelos
existentes no País é que toda a concepção teve como foco o ponto de vista do
usuário de iPad24 e suas necessidades. Uma das mudanças, por exemplo, é a
possibilidade de leitura sem dependência da web. Ou seja, depois de baixar a
edição, o usuário não terá de se manter conectado à internet 3G ou Wi-Fi para
navegar ou ler as matérias. E, ainda assim, tem um botão no aplicativo caso
deseje se conectar para ver mais novidades no portal do jornal.
20
É uma plataforma de “microblogging”, isto é, uma plataforma de blogs que apenas permite publicações
curtas, em até 140 caracteres. O conceito será estudado no decorrer do trabalho.
21
Plataforma de Rede Social. O conceito será estudado no decorrer do trabalho.
22
É um dispositivo pessoal em formato de prancheta que pode ser usado para acesso à Internet,
organização pessoal, visualização de fotos, vídeos, leitura de livros, jornais e revistas e para entretenimento
com jogos.
23
Loja virtual para venda de produtos comercializados pela empresa Apple
24
Tablet fabricado pela Apple, considerado um divisor de águas na era da computação pessoal móvel.
24
26. 1.4 Era da Informação
Considerar que a sociedade informacional é um fenômeno positivo ou negativo
não é de interesse deste trabalho. Mas de afirmar que o culto ao número, à
padronização e à globalização mudaram de forma permanente o percurso do
jornalismo nos séculos XX e XXI.“É fato que o homem sempre teve vontade,
interesse e aptidão para saber o que se passa. Informar e informar-se constituiu o
requisito básico da sociabilidade.” (MELO, p. 19: 2003). Portanto, não é de hoje
que o homem tem vontade de viver num ambiente completamente informacional,
mas a vontade nunca esteve tão próxima da realidade como visualizamos nos
últimos anos. Serão feitas breves discussões sobre sociedade informacional, mas
não da sociedade informacional.25
O desenvolvimento da tecnologia da informação motivou o surgimento do
informacionalismo como a base para a nova sociedade informacional. No
informacionalismo, a geração de riqueza, o exercício do poder e a criação de
símbolos culturais passaram a depender da capacidade tecnológica das
sociedades e dos indivíduos, sendo a tecnologia da informação um dos elementos
principais dessa capacidade.
A tecnologia da informação tornou-se ferramenta indispensável para a
implantação efetiva dos processos de reestruturação social e econômica. Seu
papel permitiu a formação de redes de modo dinâmico e auto-expansível. A venda
de informações (independente de seu formato) se tornou um dos principais
negócios no século XXI. Cabe lembrar, entretanto, que a informação, per se, em
muitos casos, não é diretamente lucrativa. A publicidade e a propaganda
aparecem de forma simbiótica na aquisição de informações, estas sim,
responsáveis pelo lucro.
O excesso de informações dispostas na internet gera um novo paradigma no
jornalismo. Primeiro: Se a informação é abundante, para que a necessidade de
25
Um entendimento mais completo sobre a noção pode ser obtida no livro“História da sociedade da
informação”, de Armand Mattelart (2006).
25
27. jornalistas? Segundo: como os jornais poderiam sobreviver online com tanta
informação em diversos locais?
Começamos a reposta às perguntas com as afirmações do jornalista e sociólogo
espanhol Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique. Segundo Ramanet
"Hoje a informação é superabundante e, por isso, não tem mais valor em si, é
gratuita. [...] Por isso, há qualidades do jornalismo tradicional, no tratamento da
informação, que não podem ser eliminadas e contribuem para qualificar o uso das
novas tecnologias".
Para a segunda pergunta, voltaremos à 1984, quando o jornalista Steven Levy
publicou Hackers: Heroes of the computer Revolution, relatando a vida da
subcultura digital dos hackers e da comunidade virtual da internet. Ele relacionou,
durante seu trabalho, sete princípios da “ética dos hackers”. Entre os sete, o mais
famoso é o número 3: “Toda a informação deve ser grátis”. Em seu livro Free,
Chris Anderson (2009), procura remontar a origem dessa frase. Para o autor, foi
Stewart Brand, criador do livro Whole Earth Catalog, que
[...] reelaborou a regra número 3 de uma forma que viria a definir a
era digital que despontava na época [1984]. Ele disse: “Por um
lado, a informação quer ser cara, por ser tão valiosa. A informação
certa no lugar certo muda a sua vida. Por outro lado, a informação
quer ser grátis, porque o custo de acessá-la está sempre caindo.
Então você tem essas duas forças lutando uma com a outra”
(ANDERSON, 2009: p. 97).
Para o autor, o melhor modo de entender a frase de Brand seria: “A informação
commoditizada (todo mundo recebe a mesma versão) quer ser grátis. A
informação customizada (você recebe algo único e que faz sentido para você)
quer ser cara. [...] Mas essa forma de dizer também não está totalmente correta
[...] vamos tentar novamente: A informação abundante quer ser grátis. A
informação escassa quer ser cara.” (ANDERSON, 2009: p. 98).
Então não é toda informação que é grátis. Quando questionado sobre o futuro do
jornalismo durante a quinta Bienal Internacional do Livro de Alagoas, o jornalista e
escritor Fernando Morais respondeu que o jornal impresso deveria sobreviver
através do vinculação de fatos exclusivos, do jornalismo investigativo, da
informação em primeira mão. Isto é: ele falava da informação escassa.
26
28. Mas, enquanto o jornalismo impresso não tenta mudar a sua redação, Anderson
demonstra como alguns jornais estão sobrevivendo à era da informação grátis
através de outros métodos:
Os jornais perceberam que a geração do Google podia não adotar
o hábito dos pais de pagar diariamente por um jornal impresso, de
forma que lançaram jornais gratuitos direcionados a jovens adultos
e começaram a distribuí-los em esquinas e estações de metrô.
Outros jornais mantiveram o preço, mas incorporaram brindes, de
prataria à [CDs e DVDs de] música. Enquanto o restante da
indústria dos jornais decaía, os jornais gratuitos continuaram como
uma solitária luz de esperança, crescendo 20% ao ano (em sua
maioria, na Europa) e respondendo por 7% da circulação total de
jornais em 2007. (ANDERSON, 2009: p. 142).
Para além da mídia tradicional, novos veículos (em especial os blogs) já estão
adaptando seus formatos de financiamento. Os portais gratuitos são uma
realidade (embora muitos ainda insistam em cobrar uma mensalidade de seus
usuários). Mas os modelos publicitários não vão muito além dos links
patrocinados (Google Adsense26) ou dos banners. Fred Wilson, venture
capitalist27 de Nova York, acredita que...
a maioria das aplicações da Web será monetizada com algum tipo
de modelo de mídia. Não pense em anúncios em banners quando
eu digo isso. Pense em todas as várias formas como um público
que está prestando atenção a seu serviço pode ser pago por
empresas e pessoas que querem um pouco dessa
atenção.(ANDERSON, 2009, p. 145).
De fato, tweets28 e posts29 patrocinados no Facebook já se tornaram rotina para
profissionais de conteúdo que não têm vínculo com a mídia tradicional. Em alguns
casos, são criadas verdadeiras matérias pagas (posts publicitários) e sessões
com nomes de empresas (branded channels30). Empresas tradicionais de
26
Formato de anúncio publicitário que “lê” a página para retornar anúncios textuais relevantes.
27
Investidor de risco
28
Tweet é uma postagem feita no Twitter.
29
Postagem. Atualização. Colocar algo em alguma plataforma de conteúdo.
30
Formato publicitário em que uma parte do site é completamente modificada para se adequar a um
anunciante.
27
29. comunicação ainda não perceberam o potencial da mídia muito além dos
banners31.
Marcos Palacios, em artigo intitulado “Jornalismo online, Informação e Memória:
apontamentos para debate” (2002), cita Dominique Wolton para demonstrar a
necessidade dos jornalistas na era da informação:
Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance
técnica. Isso apela para sonhos de liberdade individual, mas é
ilusório. A Rede pode dar acesso a uma massa de informações,
mas ninguém é um cidadão do mundo, querendo saber tudo, sobre
tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informação há, maior é a
necessidade de intermediários- jornalistas, arquivistas, editores etc-
que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém quer assumir o papel de
editor chefe a cada manhã. A igualdade de acesso à informação
não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisa com
a outra é tecno-ideologia. (WOLTON,1999, p 85 apud PALACIOS,
2002, p. 4).32
Palácios sugere que o jornalismo não irá desaparecer com o crescimento da
massa de informações disponíveis aos cidadãos. Ao contrário: “torna-se ainda
mais fundamental o papel desempenhado por profissionais que exercem funções
de „filtragem e ordenamento‟ desse material, seja a nível jornalístico, académico,
lúdico etc.” (PALÁCIOS, 2002: p. 5).
Em uma busca pelo “problema do conteúdo” nas instituições jornalísticas,
Rodrigues (2009) busca apoio em Castillho, encontrando características da
profissão que não estariam relacionadas apenas ao uso de ferramentas e das
transformações tecnológicas trazidas pela Internet:
Castilho, quando afirma que o “jornalismo on-line está empurrando
a profissão para sua maior transformação desde o surgimento dos
jornais, há quase 350 anos” (2005, p. 234), está se referindo ao fato
de que as NTICs [Novas tecnologias de informação e comunicação]
estão alterando profundamente o modo de produção de notícias.
Essas transformações, é importante observar, não afetariam
apenas aqueles que se dedicam à prática do webjornalismo, mas
todos os profissionais do jornalismo. (RODRIGUES, 2009, p. 19)
31
Típico formato de anúncio publicitário em que uma parte do site é cedida para anunciantes.
32
http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2002_palacios_informacaomemoria.pdf(Acessado em
22/11/2011 )
28
30. Para Castilho, entre as principais mudanças, está justamente o fato dos
jornalistas estarem “perdendo” o controle da informação, já que o leitor pode
buscar informações em outras fontes da imensa Internet (blogs, wikis, redes
sociais etc.). Outra mudança é que “o ambiente web traz um novo conceito de
notícia, transformada „num processo contínuo de informação‟” (RODRIGUES,
2009: P. 19). Essa ideia é importantíssima para compreendermos o jornalismo em
tempo real. Este já é praticado com eficiência através das rádios e das emissoras
de televisão, mas na web ganha um novo conceito, já que o usuário tem mais
controle sobre suas escolhas e sobre a construção do conteúdo. Em tempo real
também são os tweets quando determinado evento acontece, ou os comentários
em páginas de Facebook. Tempo real também quer dizer “o tempo real do leitor”.
Isto é, a informação aparece para o leitor no tempo em que ele quiser, não tendo
necessariamente que se submeter ao tempo que a televisão ou a rádio levam
para trazer a informação ao espectador.
1.5 Breves considerações necessárias sobre digital e virtual
Compreender o jornalismo digital requer o conhecimento das novas tecnologias
de comunicação. A cada nova tecnologia de comunicação, o jornalismo se
adapta. Para finalizarmos os conceitos teóricos sobre a internet, vamos verificar
brevemente questões como o digital, o virtual e as atualidades da cibercultura.
A terminologia “comunicação digital” deve acabar na próxima década. Não porque
as mídias digitais vão desaparecer, mas porque a tendência é que as mídias mais
utilizadas pelo homem “se tornem” digitais. Portanto, utilizar o termo
“comunicação digital” (que hoje diferencia basicamente a comunicação de massas
da comunicação via computadores, internet e dispositivos móveis) no futuro será
o mesmo que utilizar o termo “comunicação”, propriamente dito. A TV já deu um
grande passo para a digitalização, e até 2016 todas as televisões brasileiras
deverão abandonar o formato analógicos, quer seja através da compra de novos
aparelhos ou através da compra de adaptadores para o formato digital.
Da mesma forma surge a rádio digital, a tecnologia de rádio que utiliza sinais
digitais para transmissão da informação através do método de modulação digital.
29
31. As principais vantagens do rádio digital estão na melhoria da qualidade do som
(rádio AM com qualidade de FM e rádio FM com qualidade de CD) e em mais
opções para o ouvinte, através da interatividade, por exemplo. O Ministério das
Comunicações no Brasil já está testando e avaliando sistemas de rádio digital e
abriu chamada pública para envio das avaliações dos sistemas atualmente
existentes.
Um sistema digital é um conjunto de dispositivos de transmissão, processamento
ou armazenamento de sinais digitais que usam valores descontínuos (zeros e
uns). Em contraste, os sistemas analógicos usam um intervalo contínuo de
valores para representarem informação. A informação digital quando
representada pode ser discreta, como números, letras, ou icones, ou contínua,
como sons, imagens etc. Os circuitos digitais são circuitos eletrônicos que
baseiam o seu funcionamento na lógica binária, em que toda a informação é
guardada e processada sob a forma de zero (0) e um (1). Esta representação é
conseguida usando dois níveis discretos de Tensão elétrica.Desse modo,
praticamente todas as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs)
são digitais. Entretanto, tem-se feito uma verdadeira confusão entre os termos
digital e virtual, que são, em essência, muito distintos.
O virtual, muitas vezes tratado simplesmente como ausência de existência e de
realidade é, possui, na verdade, um sentido muito mais amplo. Sua concepção,
inclusive, é muito mais antiga que a era computacional, remetendo à filosofia
grega. Para Lévy (1998), o virtual é o que existe como problemático e não em ato.
É o que está disponível, mas que não foi realizado (ainda): “Em termos
rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade
e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes.” (LÉVY, 1998: p. 15). O
virtual é aquilo que existe enquanto potencia, mas que ainda não foi realizado
(embora isso não signifique que de fato um dia seja realizado): “Virtual, no caso,
quer dizer integralmente vivo: o mundo pode crescer por aqui ou por ali, na
medida em que a atenção se coloca aqui ou ali. O mundo é uma imensa reserva
de virtualidades porque nutrimos temores e projetos, porque imaginamos e
desejamos.” (LÉVY apud BRITTO, 2009: p. 142). Portanto, o virtual é algo que é
apenas potencial ainda não realizado. É uma categoria tão verdadeira como a
30
32. real, sendo oposto, em fato, da atualidade, porque o virtual carrega uma potência
de ser, enquanto o atual já é (ser).
31
33. 2. Jornalismo e Internet
2.1 Ao Jornalismo Contemporâneo
Nunca tantas tecnologias de informação e comunicaçãonovas foram introduzidas
ao homem num espaço tão curto de tempo como nas últimas décadas. O
jornalismo, uma profissão que necessita de informações para se desenvolver, viu-
se diante de profundas mudanças em um curto período de tempo. Nenhuma
delas, entretanto, tão profunda como a que a Rede propôs. Isso porque, como foi
explicado, a internet não é uma tecnologia de cunho único, isto é, assim como a
eletricidade, muito mais importante não é o que ela é, mas sim o que ela
possibilita. A internet não cabe em si, transborda.
Emails33, chats34, Instant messengers35, comunidades virtuais, blogs, Fotologs,
vlogs36, microblogs, redes sociais, favoritos, Questions & Answers37, Live
Streaming38, ecommerce39, social commerce40, crowdsourcing41, Wikis,
Buscadores, Podcasts42, Fóruns, Redes de nichos, Sistemas de comentários,
Sistemas de reputação, geolocalização, Sharing43, taggings44 e mundos virtuais.
Só para citar alguns dos serviços criados pela internet. Todos podem ser
perfeitamente utilizados pelos jornalistas.
Embora o surgimento da Internet remonte à década de 60, foi somente na década
de 80 que seu uso passou a ser de “domínio público”, e apenas na década de 90
que se tornou comercialmente importante, graças à Web.
As primeiras experiências de jornalismo online datam da década 80, nos Estados
Unidos, a partir de sistemas de videotexto produzidos por empresas como a Time,
33
Sistema de correspondência online.
34
Salas de bate papo online.
35
Sistemas de comunicação instantânea via internet.
36
Formato de blog em vídeo.
37
Plataformas que permitem a construção e resposta de perguntas.
38
Sistemas que permitem a transmissão ao vivo de áudio ou vídeo.
39
Comércio eletrônico (geralmente via web sites).
40
Comércio eletrônico com foco em mídias sociais
41
Plataformas que permitem a participação de colaboradores na resolução de problemas.
42
Gravações em áudio, geralmente no formato de programa de rádio, que podem ser baixados e escutados
a qualquer momento.
43
Sistemas de compartilhamento de informações.
44
Sistemas de etiquetagem. Permitem que os usuários possam definir certos elementos na web.
32
34. Times-Mirror e a Knight-Ridder. No final da década de 80, com a ainda incipiente
expansão da Internet, jornais digitais eram mantidos por empresas de serviços
online, como a American Online e a Prodigy. Em 1993, existiam apenas 20 jornais
online, todos eles norte-americanos.
A maioria dos sites jornalísticos surgiram como meros reprodutores
do conteúdo publicado em papel. Apenas numa etapa posterior é
que começaram a surgir veículos realmente interativos e
personalizados. O pioneiro foi o norte-americano The Wall Street
Journal, que em março de 1995 lançou o Personal journal, veículo
entendido pela mídia como sendo o “primeiro jornal com tiragem de
um exemplar.” (FERRARI, 2009: p. 23)
O primeiro site jornalístico brasileiro apareceria no mesmo ano. Em 1995 o
tradicional Jornal do Brasil, entraria na versão online. Curiosamente, após uma
profunda crise, em julho de 2010, anunciou o fim da edição impressa do jornal
que, a partir de 1 de setembro do mesmo ano, existiria somente em versão online,
com alguns conteúdos restritos a assinantes através do JB Premium. Hoje o JB
agora autodenomina-se "O Primeiro jornal 100% digital do País!". Mas seria
apenas em 1997 que o termo “portal” seria adotado com o significado de “portal
de entrada”, ou seja, o primeiro site a ser acessado quando se entra na internet.
2.2 Nomenclaturas: por que jornalismo online?
Hoje o uso da internet para fins jornalísticos não é mais nenhuma novidade e
existem centenas de portais e milhares de blogs jornalísticos espalhados pelo
país. Entretanto, numa busca rápida por artigos sobre jornalismo e internet,
encontraremos diversas nomenclaturas sobre o assunto. Aqui é demonstrado o
porquê da escolhado termo “online” ao trabalhar o jornalismo com redes sociais.
Para Helder Bastos (2000) após realização de um levantamento bibliográfico
contendo a opinião de diversos autores, termo jornalismo eletrônico serve para
englobar duas vertentes de jornalismo: o online e o digital. Segundo o autor, as
práticas do jornalismo assistido por computador estão integradas com a pesquisa
online, a qual ele denomina de jornalismo online. O jornalismo online seria, então,
a pesquisa realizada através da internet em tempo real e cujo objetivo é a
33
35. apuração jornalística (pesquisa de conteúdos, recolha de informações e contato
com fontes). As possibilidades referentes à disponibilização de informações
jornalísticas na rede são denominadas, pelo autor, de jornalismo digital. Para o
autor, fazer apuração é jornalismo online; desenvolver e disponibilizar produtos,
jornalismo digital.
Outro autor, Elias Machado (2000), pensando na questão do suporte, prefere a
denominação jornalismo digital a jornalismo online. Segundo o autor, o conceito
de digital está alinhado com o novo suporte e o termo online seria mais restrito do
que digital, referindo-se a apenas a uma característica do meio, não
contemplando todas as especificidades da nova realidade, por isso seria melhor
utilizar o termo jornalismo digital:
Jornalismo digital é todo produto discursivo que constrói a realidade
por meio da singularidade dos eventos, que tem como suporte as
redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por onde se
transmitam sinais numéricos e que incorpore a interação com os
usuários ao longo do processo produtivo. É uma das atividades que
se desenvolve no ciberespaço (MACHADO, 2000, p.19).
Já Luciana Mielniczuk propõe uma sistematização que privilegia os meios
tecnológicos, através dos quais as informações são trabalhadas, como fator
determinante para elaborar a denominação do tipo de prática jornalística, tanto na
produção, como na disseminação de informações jornalísticas. Para a autora,
existem os âmbitos eletrônico, digital, ciber, online e web.
O âmbito eletrônico:
[...] seria o mais abrangente de todos, visto que a aparelhagem
tecnológica que se utiliza no jornalismo é, em sua maioria, de
natureza eletrônica, seja ela analógica ou digital. Assim, ao utilizar
aparelhagem eletrônica seja para a captura de informações, seja
para a disseminação das mesmas, estaria-se exercendo o
jornalismo eletrônico. (MIELNICZUK, 2003, p. 2).
Dentro do espectro eletrônico, existe, como dito anteriormente, a tecnologia
digital, que ocupa um espaço maior a cada dia que passa, uma vez que diversos
meios eletrônicos estão deixando de serem analógicos e passando a se tornarem
digitais. Esse crescimento acontece tanto na captura, processamento ou
disseminação das informações. Ainda segundo a autora, o jornalismo digital
34
36. também seria denominado de jornalismo multimídia, pois implica na possibilidade
da manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas, como
texto, som e imagem.
Já o prefixo ciber remete à palavra cibernética, cibercultura, ciberespaço.
Portanto, o ciberjornalismo:
[...] vai remeter ao jornalismo realizado com o auxílio de
possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética ou ao
jornalismo praticado no - ou com o auxílio do - ciberespaço. A
utilização do computador para gerenciar um banco de dados na
hora da elaboração de uma matéria é um exemplo da prática do
ciberjornalismo. (MIELNICZUK, 2003, p. 3).
Continuando, o termo online reporta à idéia de conexão em tempo real, ou seja,
fluxo de informação contínuo e praticamente instantâneo. As possibilidades de
acesso e transferência de dados online utilizam-se, na maioria dos casos, de
tecnologia digital. Porém, nem tudo o que é digital é online, e nem tudo que está
no ciberespaço está necessariamente online.
Por fim, temos o Webjornalismo. Ele refere-se a uma parte específica da Internet,
que disponibiliza interfaces gráficas de uma forma bastante amigável, a Web. A
Internet envolve recursos e processos que são mais amplos do que a web,
embora esta seja, sem sombra de dúvidas, a maior aplicação da Internet. O
quadro a seguir, produzido por Mielniczuk (2003), apresenta, de forma resumida,
as delimitações terminológicas elaboradas:
35
37. Nomenclatura Definição
Jornalismo eletrônico utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos
Jornalismo digital ou emprega tecnologia digital, todo e qualquer
Jornalismo procedimento que implica no tratamento de dados em
multimídia forma de bits
Ciberjornalismo envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço
Jornalismo online é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão
de dados em rede e em tempo real
Webjornalismo diz respeito à utilização de uma parte específica da
Internet, que é a web
Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção
e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo.
Fonte: Mielniczuk (2003, p. 4)
Cada uma das definições apresentadas encontram-se dentro de esferas, de
acordo com a sua abrangência. Mielniczuk (2003) produziu também a ilustração
abaixo, onde ela relativiza o posicionamento dos tipos de jornalismo de acordo
com as novas tecnologias:
36
38. FIGURA 1 – Esferas que ilustram a delimitação das terminologias.
Fonte:Mielniczuk (2003, p. 5)
Na rotina de um jornalista contemporâneo estão presentes atividades que se
enquadram em todas essas nomenclaturas. Para exemplificar: durante o dia
numa redação, não raro os jornalistas utilizam o rádio e a TV, meios eletrônicos,
para adquirir novas informações (jornalismo eletrônico); usam o computador para
redigir suas matérias (jornalismo digital); consultam informações produzidas em
wikis e em comunidades virtuais (ciberjornalismo); enviamemails para fontes e
fazem entrevistas (jornalismo online); e finalmente visitam e leemsites noticiosos
disponibilizados na web (webjornalismo).
E o material veiculado final pode se enquadrar também em cada uma dessas
áreas e, para nós, é isso que vai identificar o tipo de jornalismo em questão. Ora,
o jornalista pode se valer de diversas técnicas para adquirir informações
suficientes para sua produção, mas é o meio no qual a matéria será veiculada que
determinará o tipo de jornalismo.
37
39. Usamos a nomenclatura Jornalismo Online por acreditarmos que serve melhor ao
nosso trabalho. Outras nomenclaturas como jornalismo eletrônico e jornalismo
digital foram logo descartadas principalmente pelo fato de que, no futuro, toda a
mídia eletrônica será digital. Isso é uma tendência. Pode-se trabalhar com
ciberjornalismo também, mas a premissa do “tempo real” é fundamental para este
trabalho. Por fim, o webjornalismo é descartado neste trabalho por restringir o
jornalismo às plataformas web. Isso não significa que não falaremos sobre
webjornalismo, pelo contrário. Quando falamos de redes sociais e de plataformas
móveis, já estamos saindo do campo do webjornalismo. A web, por sinal, está
perdendo força no ambiente online.
Emartigopara a revista Wired, Chris Anderson e Michael Wolff 45sentenciaram:
“The Web is dead. Long live the Internet.” As frases tiveram grade repercussão no
mundo inteiro. Com base em diversos estudos, entre eles uma importante análise
dos dados trafegados através de sistemas CISCO nos Estados Unidos, eles
observaram que o uso da web nos últimos anos vem diminuindo quando
comparado com outras atividades na internet. Para eles, hoje é possível passar o
dia todo usando a internet sem acessar um site sequer através de navegadores e
da Web. Podemos ler jornais, acessar e-mails e mandar mensagens instantâneas
através de aplicativos específicos. Com o domínio dos smartphones46 e tablets e
dos apps especializados produzidos para estes gadgets47, estamos utilizando
cada vez menos a web no dia a dia.
45
http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/all/1(Acessado em 22/11/2011 )
46
Smartphone (em português: telefone inteligente) é um telefone celular com funcionalidades avançadas
que podem ser estendidas por meio de programas executados por seu sistema operacional.
47
Gadget (emportuguês: geringonça, dispositivo) é um equipamento que tem um propósito e uma função
específica, prática e útil no cotidiano. São comumente chamados de gadgets dispositivos eletrônicos
portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de mp3, entre outros. Em outras palavras, é uma
"geringonça" eletrônica.
38
40. Gráfico 1 – O crescimento do tráfego via web até meados dos anos 2000. Na
década atual esse volume de informações caiu consideravelmente.
Fonte:http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/all/1(Acessado em 13
de Outubro de 2011).
Outra análise muito interessante pode ser feita através da ferramenta Google
Trends48. O Google Trends é uma ferramenta da Google que mostra os mais
populares termos buscados em um passado recente. A ferramenta apresenta
gráficos com a freqüência em que um termo particular é procurado em várias
regiões do mundo, e em vários idiomas. O eixo horizontal do gráfico representa
tempo (a partir de algum tempo em 2004), e o vertical mostra em que freqüência
um termo é buscado globalmente. Também permite o usuário comparar o volume
de procuras entre duas ou mais condições. Notícias relacionadas aos termos
buscados são mostradas ao lado e relacionadas com o gráfico, apresentando
possíveis motivos para um aumento ou diminuição do volume de buscas.
Utilizamos essa ferramenta para verificar o percentual de buscas contendo a
palavra “web” no mundo inteiro, o resultado aparece no gráfico seguinte:
48
http://www.google.com/trends?q=web&ctab=0&geo=all&date=all&sort=0(Acessado em
22/11/2011 )
39
41. Gráfico 3 – Índice de volume de buscas pra a palavra “web” vem caindo desde
2005.
Fonte: Google Trends
Se buscarmos, entretanto, a palavra “online”, perceberemos que seu uso vem
crescendo a cada ano:
Gráfico 4 – O índice de volume de buscas para a palavra “online” cresceu
bastante entre os anos de 2007 e 2010.
Fonte: Google Trends
Outras questões que nos levam a não utilizar o termo webjornalismo é justamente
o crescimento do uso de plataformas móveis para adquirir informações. Nesses
casos, os usuários geralmente utilizam aplicativos específicos para obter
informações. Leitores de feeds, apps de redes sociais, sistemas de mensagens
instantâneas etc. não são necessariamente acessados de um navegador web.
40
42. 2.3 Jornalismo Online
Em 2000, Cabrera Gonzalez49 identificou quatro fases da evolução do jornalismo
nos primeiros anos de formação em Portugal. Apesar do modelo ter sido
desenvolvido em outro país, podemos perceber que no Brasil não foi diferente.
Para o autor, a primeirafase denominada Fac-simile, corresponde à reprodução
de páginas da versão impressa, quer através da sua digitalização em HTML ou
em PDF, sem nenhum recurso de interação. Asegunda fase, chamada de
“modelo adaptado”. Os conteúdos da web ainda são iguais aos das versões
escritas dos jornais, mas a informação é apresentada num layout próprio. Nesta
fase começam a aparecer também os links nos textos. Na terceira fase - modelo
Digital – os jornais têm um layout pensado e desenvolvido para o meio online. A
utilização do hipertexto e a possibilidade de comentar se tornam presença
praticamente obrigatória e as notícias de última hora se tornam um grande
diferencial em relação às versões imprensas, aproximando-se muito mais do rádio
e da televisão em termos de instantaneidade. Ao final do século XX, surge o
quarto modelo, o Multimídia, uma fase em que as publicações tiram
aproveitamento máximo das características do meio, principalmente da
interatividade e da possibilidade de integrar de som, vídeo e animações nas
notícias.
No Brasil, em 2002, Silva Jr.50discorreu sobre a relação das interfaces enquanto
mediadoras de conteúdo do jornalismo na internet, e estabelecer três principais
estágios de desenvolvimento dos sites de jornais. Não muito diferente de
Gonzalez, Silva Jr. Propôs os seguintes estágios de desenvolvimento. O primeiro
seria otranspositivo, como modelo eminentemente presente nos primeiros
jornais online onde a formatação e organização seguia diretamente o modelo do
impresso. “Trata-se de um uso mais hermético e fiel da idéia da metáfora,
seguindo muito de perto o referente pré-existente como forma de manancial
simbólico disponível.” (SILVA JR., 2002, p.4).
49
http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-jornalismo-online-webjornalismo.pdf(Acessado em
22/11/2011 )
50
http://www.compos.org.br/data/biblioteca_711.pdf
41
43. O perceptivo seria um segundo nível de desenvolvimento, onde há uma maior
agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao
jornalismo online:
Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por
rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal,
há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o
impresso. Gerando o reaproveitamento para a versão online. No
entanto há a percepção por parte desses veículos, de elementos
pertinentes à uma organização da notícia na rede. (Silva Jr., 2002,
p.4)
Depois viria o hipermidiático, onde é possível constatar que há demonstrações
de uso hipermidiático por alguns veículos online:“o uso de recursos mais
intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes
(multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas
e/ou serviços informativos”. (SILVA JR., 2002, p.5).
Entretanto essas fases cobrem apenas a primeira década do jornalismo online.
Na segunda e mais recente década, o jornalismo (impresso e online) sofreu
outras mudanças, principalmente por conta da chamada web 2.0, da banda larga
e das mídias sociais. Carla Schwingel chega a afirmar inclusive que “Do nosso
ponto de vista, o ciberespaço é plural e pode ser somente usado como suporte ou
mesmo para a elaboração e divulgação de produtos híbridos. Porém, a
preocupação aqui apresentada é para com aqueles processos característicos da
terceira fase do Jornalismo Digital. E vamos além, afirmando que somente nela é
que o termo concretiza-se.” (SCHWINGEL, 2005: p. 2).
Com base no trabalho de Mielniczuk e na categorização de Silva Jr., Suzana
Barbosa (2007), durante o período correspondente ao ano de publicação de sua
Tese Jornalismo Digital em Banco de Dados, afirmou que estaria ocorrendo uma
fase de transição do 3º estágio (o Hipermidiático) para um 4º estágio (ainda sem
nomenclatura). Segundo Barbosa, essa etapa intermediária estaria movendo a
segunda década de jornalismo digital online através do emprego das tecnologias
de base de dados, de participação e de interação, conforme a autora ilustra:
42
44. Quadro1 – JDBD: novo paradigma surge entre a 3ª e a 4ª geração.
Fonte:Barbosa (2007)
A autora, entretanto, não entra em detalhes sobre o que seria esta 4ª fase do
jornalismo digital online, mas afirma que a fase de transição ocorre em função da
complexificação dos processos para a implementação de produtos jornalísticos no
ciberespaço. É curioso notar que uma das exigências para esta nova fase seria a
evolução no nível de exigências do consumidor final, o usuário. É nessa mesma
época que começa a ocorrer uma grande mudança no padrão dos acessos à
internet no país. Segundo dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (CETIC), de 200551 à 200752, o crescimento na
proporção de indivíduos que já acessaram a internet entre as classes B e C foi
tremendo, como podemos observar na tabela abaixo:
51
http://www.cetic.br/usuarios/tic/2005/rel-int-04.htm(Acessado em 23/11/2011 )
52
http://www.cetic.br/usuarios/tic/2007/rel-int-01.htm(Acessado em 23/11/2011 )
43
45. Classe 2005 2006 2007
social
A 85,57% 95,08% 94,00%
B 63,31% 72,29% 73,00%
C 27,40% 38,85% 47,00%
D-E 7,65% 12,23% 17,00%
Tabela 2 - proporção de indivíduos que já acessaram a internet - Percentual
sobre o total da população.
Fonte: Adaptação de dados constantes em http://www.cetic.br/
Dados mais recentes, referentes ao ano de 201053, apontam que mais da metade
da Classe C já se acessou a internet. Aproximadamente uma a cada quatro das
classes D e E já acessaram também. A internet cresceu rapidamente nesta fase
de transição entre as gerações do jornalismo digital online. Os produtos
jornalísticos neste ambiente precisaram (e ainda precisam) adequar melhor seus
formatos para tornarem cada vez mais autêntica, envolvente e participativa a
experiência dos usuários. Isso significa também que os produtores de notícias
online deverão modificar a estratégia econômica de seus produtos. Barbosa
afirma ainda que:
Os avanços na tecnologia de base de dados as tornaram a solução
para compatibilizar a incorporação de recursos novos e linguagens
de programação para dar forma a produtos dinâmicos e melhor
elaborados, a partir do desenvolvimento de sistemas de gestão de
conteúdos, visando: aperfeiçoar os sistemas de produção,
assegurar maior agilidade, qualidade e descomplicar o trabalho dos
jornalistas, entregando sistemas mais fáceis de operar e
compatíveis com as características do jornalismo no suporte digital:
hipertextualidade, interatividade, multimidialidade,
personalização54, memória/arquivo, atualização contínua55.
(BARBOSA; 2007: p. 151).
53
http://www.cetic.br/usuarios/tic/2010/rel-int-01.htm(Acessado em 23/11/2011 )
54
Também denominada individualização, a personalização ou customização consiste na opção
oferecida ao Utente para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses
individuais. Há sites noticiosos que permitem a pré-selecção dos assuntos, bem como a sua
hierarquização e escolha de formato de apresentação visual (diagramação). Assim, quando o site
44
46. Pollyana Ferrari aponta que o público com maior domínio das ferramentas online
é não somente ativo - como também proativo. Isso significa que esse público
possui maior controle das próprias escolhas e ações frente às situações impostas
pelos meios. São comportamentos que vão além do básico, em que o usuário
busca espontaneamente por mais informações que possam preencher a sua
curiosidade:
Diversas pesquisas apontam ainda que o público on-line tende a
ser mais ativo do que o de veículos impressos e mesmo do que um
espectador de TV, optando por buscar mais informações em vez de
aceitar passivamente o que lhe é apresentado. É importante
também, de acordo com Dube, pensar quais são os objetivos do
seu público. “Como o seu leitor está acessando as notícias on-line,
há mais chances de ele se interessar por matérias relacionadas à
Internet do que leitores de jornais ou espectadores de TV”, afirmou.
“Por isso, faz sentido dar mais ênfase a esses assuntos.”
(FERRARI, 2009: p. 47)
2.4 A Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo digital online
O período que vivemos atualmente reflete uma quarta fase de jornalismo online.
Durante os últimos anos vários pesquisadores apontaram diferentes direções
sobre o qual seria a característica dominante desta fase. Outro ponto é que
parece ter acontecido um certo “esfriamento” sobre a questão. Não há artigos
recentes (2010-2011) sobre a “quarta” fase do jornalismo online56, ou até mesmo
sobre uma “quinta” fase. Nossa hipótese é a de que o jornalismo online e a
internet evoluíram tão rapidamente após a proclamação da “web 2.0” que faz
pouco sentido tentar etiquetar algo que vai mudar nos próximos meses. Nesse
sentido, procuramos uma definição abrangente para o período atual do jornalismo
online, de forma que não se torne obsoleta pelo menos nos próximos dois anos.
é acessado, a página de abertura é carregada na máquina do Utente atendendo a padrões
previamente estabelecidos, de sua preferência. (PALACIOS, 2002: p. 3-4).
55
A rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção e de disponibilização,
propiciadas pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas, permitem uma
extrema agilidade de actualização do material nos jornais da Web. Isso possibilita o
acompanhamento contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior
interesse. (PALACIOS, 2002: P.4)
56
Como indicamos, as nomenclaturas jornalismo online, web jornalismo, jornalismo digital e
ciberjornalismo estão presentes em muitos artigos como sinônimos. Em nosso trabalho,
utilizaremos jornalismo online para designar as questões referentes às fases brasileiras.
45
47. O termo “web 2.0” surgiu em 2004, embora só viesse a tomar forma no final de
2005, no artigo de Tim O‟Reilly, O que é Web 2.0. Para o autor, a web teria se
tornado uma plataforma: “A Web como plataforma - Como muitos conceitos
importantes, o de Web 2.0 não tem fronteiras rígidas, mas, pelo contrário, um
centro gravitacional. Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de
princípios e práticas que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que
demonstram alguns ou todos esses princípios e que estão a distâncias variadas
do centro.” (O‟REILLY; 2005: p. 2)57 No outro ano58, O‟Reilly conceituaria
novamente a web 2.0: “Web 2.0 é a revolução de negócios na indústria de
computadores causada pela mudança da internet para plataforma, e uma
tentativa de entender as regras para o sucesso nessa nova plataforma. Entre
várias regras, a principal é esta: construir aplicações para aproveitar os efeitos da
rede para se tornarem melhores conforme mais pessoas o utilizem. (Isto é o que
eu tenho chamado de „aproveitamento da inteligência coletiva‟).” 59 (O‟REILLY;
2006: online). Desde então, esta definição se tornou padrão em diversos outros
artigos e resumiu bem a era da web 2.0. Alex Primo (2007, p.1-2)60, entretanto,
vai além, apontando que a web 2.0 não é apenas uma combinação de técnicas
informáticas. Tem repercussões sociais importantes:
A Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se
por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e
organização de informações, além de ampliar os espaços para a
interação entre os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se
não apenas a uma combinação de técnicas informáticas (serviços
Web, linguagem Ajax, Web syndication etc.), mas também a um
determinado período tecnológico, a um conjunto de novas
estratégias mercadológicas e a processos de comunicação
mediados pelo computador. [...] A Web 2.0 tem repercussões
sociais importantes, que potencializam processos de trabalho
coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações,
de construção social de conhecimento apoiada pela informática.
São essas formas interativas, mais do que os conteúdos produzidos
57
http://www.cipedya.com/doc/102010(Acessado em 23/11/2011 )
58
http://radar.oreilly.com/2006/12/web-20-compact-definition-tryi.html(Acessado em 23/11/2011 )
59
Tradução literal nossapara: “Web 2.0 is the business revolution in the computer industry caused
by the move to the internet as platform, and an attempt to understand the rules for success on that
new platform. Chief among those rules is this: Build applications that harness network effects to get
better the more people use them. (This is what I've elsewhere called „harnessing collective
intelligence.‟)”
60
http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf(Acessado em 24/11/2011 )
46