O documento apresenta recursos pedagógicos sobre Camões para professores, incluindo um texto para leitura e atividades de gramática, oralidade, escrita e avaliação. As atividades abordam um retrato de Camões na prisão e propõem a comparação com um retrato contemporâneo, além de questões sobre o texto e exercícios gramaticais.
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AOS PROFESSORES
O articulador dos materiais e atividades propostos é o RETRATO DE CAMÕES.
Estes recursos destinam-se a um uso muito livre, adequado a cada turma e ao trabalho
desenvolvido por cada professor.
São recursos que podem ser usados:
- isoladamente, cada um de per si;
- em pequenos conjuntos;
- na totalidade.
Podem ainda ser usados para:
- avaliação oral e escrita;
- avaliação oral;
- avaliação escrita;
- treino na aula ou em casa.
Leitura
Propõe-se um texto com questionário de resposta fechada (V/F) facilitador da correção
sem, no entanto, deixar de avaliar, a um nível global, a capacidade de compreensão do
texto. (Este questionário pode ser ser distribuído, projetado ou lido pelo professor.)
Gramática
Na sequência da leitura do texto, propomos um conjunto de questões gramaticais,
centradas sobretudo na lexicologia: formação de palavras, relações etimológicas e
semânticas entre palavras.
Oralidade
A comparação entre dois retratos de Camões, um do século XVI e outro contemporâneo,
permite uma interessante abordagem à atualidade e perenidade do poeta.
Escrita
A imagem contemporânea é usada para duas atividades de escrita de natureza muito
diferente e que servem objetivos igualmente diferentes.
MATERIAIS PARA AVALIAÇÃO E TREINO
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NOME: __________________________________________ N.º: ___ TURMA: ___ ANO LETIVO: _____/_____
PROFESSOR: ______________________________________________________ DATA: _____/_____/_____
TEXTO
Lê, com muita atenção, o texto a seguir transcrito.
O retrato de Camões na prisão
Sendo um testemunho muito importante, este retrato não é
propriamente uma obra de arte. A peça é de execução tão imperfeita
quanto colorida. O desenho é tosco e desajeitado, com flagrantes erros
de perspetiva e de escala. Mostra um Camões arruivado, de guias do
bigode assimétricas, sentado a uma mesa, segurando uma travessa na
mão direita e uma pequena peça escura na esquerda. Estará prestes a
trabalhar num dos cantos de Os Lusíadas (o décimo para Maria
Antonieta Soares de Azevedo, que revelou o retrato em 1972).
O poeta parece dispor de um certo «conforto intelectual»: vemos
vários cartapácios na parede, pode consultar uma carta geográfica que
tem perto de si, certamente para verificar qualquer afirmação ou
referência do poema. Mas o gibão está roto na manga esquerda e a
comida representada não parece abundante, não se percebendo bem que
objecto mostra na mão esquerda.
Pode confirmar-se que ele está a trabalhar no Canto X exatamente
por ter aquela carta geográfica aberta para consulta. Isto porque, n’Os
Lusíadas, na descrição geográfica da Europa, feita no Canto III (6-20),
não faria qualquer sentido serem representadas as embarcações que ali
são figuradas. Não assim na longa descrição geográfica da Ásia feita no
Canto X (10-73), entremeada com as profecias dos feitos dos portugueses. Embarcações semelhantes às
representadas nessa carta, movidas à vela (com a cruz de Cristo) e a remos, podem ver-se desenhadas no Roteiro do
Mar Roxo, de D. João de Castro. (…)
No cartão que constitui a parte de trás do retrato, informa-se o seguinte, em letra que pode ser do século XVI:
«Luis de Camões prezo e tendo aos pés quem quis perdelo. Pintado nas Indias e foi do propio.» E mais abaixo, em
letra de fins do século XVIII, está colada a tarjeta dizendo que o «painel pertenceu a Sr. Marquez de Sande é hoje
de Joze Antonio de Saldª e Sousa, Conde da Ponte (…).» Por sua vez, a nota que se encontra no verso, «Luís de
Camões preso e tendo aos pés quem quis perde-lo», permite deduzir que o borrão que impede se reconheça «quem
quis perdê-lo» só ocorreu posteriormente à feitura de tal inscrição.
Vasco Graça Moura, in sítio do Observatório da Língua Portuguesa
(Fonte: DN OPINIÃO, 09.10.2013)
NOTA: Em junho de 2014, foi publicado, postumamente, o livro Retratos de Camões, de Vasco Graça Moura. A edição é da
responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Autores e da editora Guerra & Paz. Segundo os editores, trata-se de um livro sobre a
iconografia camoniana ao longo dos tempos, com ilustrações a cores, incluindo retratos clássicos e retratos contemporâneos, da
autoria de Júlio Pomar, José de Guimarães, João Cutileiro e outros. Nele, o autor faz um estudo histórico de cada retrato, identificando
os que terão sido pintados em vida do poeta e os que, posteriormente, deram substância à imagem que hoje temos dele.
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Identifica as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F).
a. O texto corresponde a uma apreciação crítica de um retrato de Camões.
b. O texto corresponde a uma descrição objetiva de um retrato de Camões.
c. A descrição do quadro é articulada com a interpretação.
d. No texto, são abordados diferentes aspetos respeitantes ao retrato: origem, autoria, autenticidade, propriedade.
e. De acordo com o texto, o retrato tem valor documental, mas não artístico.
f. De acordo com a leitura apresentada, o retrato revela a situação de pobreza do poeta.
g. Segundo a crítica, a pintura mostra Camões a trabalhar no Canto X de Os Lusíadas, porque o mapa que está a
consultar corresponde às descrições feitas nos Cantos III e X.
h. O quadro revela os responsáveis pela prisão de Luís de Camões.
1. De entre os vários adjetivos usados na descrição do quadro, considera os seguintes três:
imperfeita, desajeitado, assimétricas
1.1 Explica o que há de comum entre esses três adjetivos, no que diz respeito à sua formação e significado.
1.2 Na lista de adjetivos da coluna da direita, sublinha os que não contêm qualquer elemento comum aos
adjetivos indicados à esquerda.
2. «Mostra um Camões arruivado» (l. 4)
Explica o processo de formação da palavra sublinhada.
3. «Luis de Camões prezo e tendo aos pés quem quis perdelo. Pintado nas Indias e foi do propio.» (l. 24)
Reescreve esta inscrição do verso do quadro, usando a atual ortografia.
4. «vemos vários cartapácios na parede, pode consultar uma carta geográfica» (ll. 9-10)
4.1 Substitui a palavra sublinhada por um sinónimo.
4.2 Indica a palavra da mesma família, presente no excerto.
4.3 Apresenta três palavras que contenham o elemento carta e que, simultaneamente, pertençam ao campo
lexical de navegação.
5. «a nota que se encontra no verso» (l. 26)
5.1 Caracteriza a relação semântica entre a palavra sublinhada e verso de um poema.
5.2 Considerando a explicação etimológica da palavra verso, estabelece a relação semântica com as seguintes
palavras: avesso, anverso, reverso, inverso, controverso.
5.2.1 Escreve frases em que utilizes essas palavras.
imperfeita impetuoso, inapto, incauto, inteiro, imberbe, inerte
desajeitado desdenhoso, descrente, desleal, desgostoso, despeitado
assimétrica agnóstico, assintomático, afónico, atónito, atento
LEITURA
ESCRITA / GRAMÁTICA
VERSO - A palavra verso deriva do latim versus e significa linha, sulco que vira para o outro lado, linha
de um poema.
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COMPARAÇÃO DE RETRATOS
É muito interessante comparar os dois retratos de Camões aqui reproduzidos, o da direita claramente inspirado no
da esquerda, e separados por mais de quatro séculos. Na verdade, Júlio Pomar, um dos mais notáveis pintores
portugueses do século XX e da atualidade, inspirou-se na tosca pintura que representa Camões na prisão para pintar
um dos mais conhecidos retratos contemporâneos do poeta.
Compara os retratos de Camões, apontando as evidentes semelhanças e as mais significativas diferenças, no que
diz respeito aos aspetos seguintes:
▪ enquadramento espacial;
▪ representação do poeta – postura, vestuário, rosto;
▪ objetos destacados e sua representatividade e simbolismo.
NOTA: Não são aqui considerados, naturalmente, os aspetos técnicos e estilísticos da pintura, mas apenas os aspetos temáticos
respeitantes à representação do poeta.
ORALIDADE
I Camões na prisão de Goa, pintor desconhecido, séc. XVI I Camões, pintura de Júlio Pomar, séc. XX
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ANÁLISE INTERPRETATIVA (ou APRECIAÇÃO CRÍTICA)
Inspirando-te no texto de Vasco Graça Moura sobre o Retrato de Camões na prisão de Goa e seguindo as instruções
a seguir dadas, experimenta escrever um texto sobre o quadro Camões, de Júlio Pomar, no qual descrevas e
interpretes o retrato.
1. Observação
Observa o quadro, prestando particular atenção aos aspetos sugeridos na atividade anterior (enquadramento,
objetos, representação do poeta).
2. Textualização
O texto deverá obedecer a um plano prévio, organizado em três partes:
1.ª introdução – primeiro parágrafo, de identificação do quadro;
2.ª desenvolvimento – a. descrição sucinta do quadro, integrando os elementos observados;
b. apreciação pessoal, integrando a interpretação;
3.ª conclusão – último parágrafo, breve, que confirme, genericamente, a opinião exposta.
O texto deve ainda:
usar o presente do indicativo;
usar predominantemente a frase declarativa;
usar marcadores do discurso e conectores que organizem a opinião com lógica, de forma progressiva e
articulada (em primeiro lugar, além disso, é por isso que, concluindo…);
apresentar coerência, coesão, clareza e concisão.
3. Revisão
Na revisão do texto, deves verificar:
a proporcionalidade dos parágrafos (introdução e conclusão muito breves, desenvolvimento mais extenso);
o encadeamento lógico das ideias, com uso dos conectores necessários;
a correção ortográfica e sintática, com a pontuação adequada.
CARTA DA PRISÃO
Inspirando-te nos retratos de Camões aqui reproduzidos (ou em apenas um deles) escreve, em nome do poeta, uma
carta a um destinatário por ti escolhido: um amigo, uma mulher, o governador, o rei. Nela o poeta relata e lamenta a
situação injusta em que se encontra e refere a criação da sua obra, que o ajuda a suportar a solidão.
NOTA: O tom usado na carta deverá ser o adequado à relação com o destinatário.
ESCRITA
ESCRITA CRIATIVA
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Soluções:
LEITURA
a. V
b. F
c. V
d. F
e. V
f. V
g. F
h. F
GRAMÁTICA
1.1 Os adjetivos imperfeita, desajeitado e assimétricas são formados através do processo de derivação afixal por prefixação.
Mas aquilo que os aproxima é, sobretudo, o sentido conferido pelos três prefixos que intervieram na formação (im-, des-, a-),
pois todos eles acrescentam à forma de base a ideia de contrário, de negação.
1.2
2. Palavra derivada por parassíntese: arruivado – a + ruivo + ado
3. Correção: Luís de Camões preso e tendo aos pés quem quis perdê-lo. Pintado nas Índias e foi do próprio.
4.1 Sinónimos de cartapácios: calhamaços, alfarrábios.
4.2 Palavra da família de cartapácios: carta.
4.3 Da família de carta e do campo lexical de navegação: cartografia, cartógrafo, cartografar.
5.1 Verso (do outro lado) e verso (de um poema) são palavras polissémicas (derivam do mesmo étimo, são aceções
diferentes da mesma palavra).
Citamos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa para justificar a não classificação destas palavras como homónimas,
clarificando a distinção entre homonímia e polissemia: «a polissemia é um fenómeno comum nas línguas naturais, são raras
as palavras que não a apresentam; difere da homonímia por ser a mesma palavra, e não palavras com origens diferentes que
convergiram foneticamente (…).»
5.2 Todas as palavras referidas contêm a mesma forma de base, verso, e todas remetem para a ideia de outro lado, virar do
outro lado. (Foram formadas por derivação ainda no Latim, como poderá confirmar-se consultando um dicionário.)
avesso – o outro lado, o contrário do que é mostrado (de uma peça de roupa, por exemplo)
anverso – a frente de um documento
reverso – a parte detrás (de um documento ou de uma moeda, por exemplo)
inverso – o contrário
controverso – voltado para outra direção, oposto, do contra, polémico
ORALIDADE / ESCRITA
Retrato – alguns tópicos:
Embora não caiba aqui a análise estilística, é fácil realçar o traço ingénuo e tosco do primeiro retrato, em contraste com a
modernidade expressiva do segundo.
O ambiente prisional é destacado no primeiro retrato, através da janela com grades, da espessura e proximidade das
paredes e do grilhão, no canto inferior direito; no segundo quadro, esse ambiente é simbolicamente sugerido pelo grande
grilhão no mesmo lugar.
Os livros e o mapa do primeiro quadro são, igualmente, quase impercetíveis no segundo.
A situação de miséria do poeta, sugerida pelo gibão roto e o prato vazio estendido também é minimizada no segundo
quadro, restando apenas o prato, que quase se confunde com os restantes objetos. Em contrapartida, no segundo retrato,
as folhas em que o poeta escreve e o tinteiro com a pena têm um relevo muito maior, dir-se-ia mesmo que iluminam o
quadro.
Para pintar o rosto, Júlio Pomar baseou-se, claramente, no conhecido retrato pintado por Fernão Gomes, e não neste,
talvez por ser aquele o único reconhecido como o retrato pintado em vida do poeta.
Em síntese, enquanto o primeiro quadro evidencia a situação do poeta pobre e preso, o retrato contemporâneo coloca o
foco no poeta e na sua obra, intemporal e liberta das circunstâncias.
imperfeita impetuoso, inapto, incauto, inteiro, imberbe, inerte
desajeitado desdenhoso, descrente, desleal, desgostoso, despeitado
assimétrica agnóstico, assintomático, afónico, atónito, atento