1. Neoclassicismo
A nível formal, a poesia de Ricardo Reis revela um estilo trabalhado, rigoroso e
clássico. A precisão verbal, o uso de expressões em latim, o uso de formas estróficas
como a Ode (poesia própria para canto) e métricas como os versos decassilábicos,
revelam um estilo rigoroso e denso, com preocupação de traduzir ideias através de
uma expressão perfeita, sendo tudo isto marcas do neoclassicismo erudito de Reis.
O neoclassicismo de reis, para além de ter um sentido amplo, onde os seus
temas são constantes e universais, tem um sentido mais preciso, que aborda temas da
literatura greco-latina, alimentada por conceitos de vida pagãos e ainda no recurso a
processos linguísticos que evocam a poesia horaciana e a poesia neoclássica românica.
Ao contrário de Pessoa ortónimo, que tende a subtrair-se às cadeias temporais,
Ricardo Reis devido a ter um estilo antigo e antiquado, faz com que os seus poemas
nos façam recuar a épocas determinadas, como a Antiguidade da Grécia Clássica, onde
adopta o paganismo, pois tem nos gregos o modelo da sabedoria, pois estes souberam
aceitar o destino e usufruir o bem da vida.
2. Neopaganismo
No que diz respeito ao neopaganismo, Ricardo reis aceita a antiga crença nos
deuses, pois estes são o ideal humano, enquanto disciplinadora das nossas emoções e
sentimentos, e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas, recorrendo à
mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da
vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. O poeta considera que a
verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena.
As referências aos deuses são uma forma de referir a primazia do corpo, das
formas, da natureza, dos aspectos exteriores, e da realidade, sem considerar a
subjectividade ou a interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os
heterónimos.
Em grande parte devido ao seu paganismo, aceita o destino com naturalidade,
considerando que os deuses estão acima do homem por uma questão de grau, mas
que acima dos deuses, apenas se encontra o Fado, que tudo submete (domina), tal
como mostra o excerto do poema Só esta liberdade nos concedem do poeta:
Nem outro jeito os deuses, sobre quem
O eterno fado pesa,
Usam para seu calmo e possuído
Convencimento antigo
De que é divina a sua vida.
(ou seja, os deuses são submetidos a uma vontade superior a eles)
(para além disso,)Reis sente que tem de viver em conformidade com as leis do
destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade. O
poeta considera também que estando o destino acima dos próprios deuses, temos
necessidade do autodomínio, de sermos donos de nós próprios, construindo o nosso
"fado voluntário", ou seja, procurar construir um destino a que nos sujeitamos
voluntariamente, o que acaba por ser uma ilusão de liberdade (pois o destino é
inevitável).
3. Em suma, Reis é o heterónimo que projecta Pessoa para a Antiguidade da Grécia
Clássica, refugiando-se na aparente felicidade pagã , onde procura alcançar a quietude
e a perfeição dos deuses, indiferentes mas omnipresentes, que se confundem
connosco sempre que os imitamos, pois estes não são mais que homens mais perfeitos
ou aperfeiçoados.