SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 20
Algumas pinturas...
Algumas poesias...
... todas de respeitados
autores, numa mistura
de épocas e estilos...
Sempre belas...
Sempre atuais...
Formatação: EnA
Música: Rêverie – Claude Debussy
Vinícius de Moraes
Vicente de Carvalho
Fernando Pessoa
Olavo Bilac
Carlos Drummond de Andrade
Raul de Leoni
Cecília Meireles
J.G. de Araujo Jorge
Clarice Lispector
Chico Buarque de Holanda
Francisco Otaviano
Escolha o poeta ou
siga em seqüência SAIR
SAIR
Cora Coralina
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure!
SONETO DA FIDELIDADE
Vinícius de Moraes
VOLTAR AOS NOMES
VELHO TEMA
Vicente de Carvalho
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança
malograda
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a
vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
VOLTAR AOS NOMES
Não sei quantas almas tenho
Fernando Pessoa
Não sei quantas almas
tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me
estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho
alma.
Quem tem alma não tem
calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou
desejo
É do que nasce e não
meu.
Sou minha própria
paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde
estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o
escreveu.
LUÍS BADOSA
Fernando Pessoa
O amor, quando se revela...
Fernando Pessoa
LUÍS BADOSA
Fernando Pessoa
O amor, quando se
revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que
sente
Não sabe o que há de
dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a
amar!
Mas quem sente muito,
cala;
Quem quer dizer quanto
sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-
lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
VOLTAR AOS NOMES
VELHAS ÁRVORES
Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem;
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
VOLTAR AOS NOMES
QUADRILHA
Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.
VOLTAR AOS NOMES
UNIDADE
Raul de Leoni
Deitando os olhos sobre a perspectiva
Das cousas, surpreendo em cada qual
Uma simples imagem fugitiva
Da infinita harmonia universal
Uma revelação vaga e parcial
De tudo existe em cada coisa viva:
Na corrente do Bem ou na do Mal
Tudo tem uma vida evocativa.
Nada é inútil; dos homens aos insetos
Vão-se estendendo todos os aspectos
Que a idéia da existência pode ter;
E o que deslumbra o olhar é perceber
Em todos esses seres incompletos
A completa noção de um mesmo ser...
VOLTAR AOS NOMES
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
RETRATO
Cecília Meireles
VOLTAR AOS NOMES
E então ficamos os dois em silêncio, tão
quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois
caminhos
que se juntam
num mesmo caminho...
Já não ouso... já não coras...
E o silêncio é tão nosso, e a quietude
tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas...
Nada há mais a dizer, depois que as
próprias mãos
silenciaram seus carinhos...
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos...
E O RESTO É SILÊNCIO...
J.G. de Araujo Jorge
VOLTAR AOS NOMES
Precisão
O que me tranqüiliza é que tudo o
que existe, existe com uma precisão
absoluta. O que for do tamanho de
uma cabeça de alfinete não
transborda nem uma fração de
milímetro além do tamanho de uma
cabeça de alfinete. Tudo o que existe
é de uma grande exatidão. Pena é
que a maior parte do que existe com
essa exatidão nos é tecnicamente
invisível. O bom é que a verdade
chega a nós como um sentido secreto
das coisas. Nós terminamos
adivinhando, confusos, a perfeição.
CLARICE LISPECTOR
VOLTAR AOS NOMES
Gente Humilde - Chico Buarque
Tem certos dias em que eu penso em
minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar
Igual a como quando eu passo num
subúrbio
Eu muito bem vindo de trem de algum
lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem
contar
São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como
lutar
E eu que não creio, peço a Deus por
minha gente
É gente humilde, que vontade de
chorar !VOLTAR AOS NOMES
ILUSÕES DA VIDA
Francisco Otaviano
Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu:
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
VOLTAR AOS
NOMES
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas
vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da
morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
AH! OS RELÓGIOS
Mário Quintana
VOLTAR AOS NOMES
O que eu adoro em ti
Não é tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da
montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada
momento
Graça aérea como teu próprio
momento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é A VIDA !!!
MADRIGAL MELANCÓLICA
Manuel Bandeira
DI
CAVALCANTI
Perfis
VOLTAR AOS NOMES
FELICIDADE
Guilherme de Almeida
Ela veio bater à minha porta
e falou-me a sorrir, subindo a
escada: “Bom dia, árvore velha
e desfolhada” e eu respondi:
“Bom dia, folha morta”
Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco
importa!) houve canções na ramaria
torta e houve bandos
de noivos pela estrada...
Então chamou-me e disse:“Vou-me
embora! Sou a felicidade! Vive agora
da lembrança do muito
que te fiz”
E foi assim que em plena primavera,
só quando ela partiu contou quem
era... E nunca mais eu me senti
feliz!
VOLTAR AOS NOMES
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por
dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no
Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro
de cabelo escorrendo nos
olhos,
Depois de fazer uma pele com a
borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Descobrimento
Mário de Andrade
VOLTAR AOS NOMES
ÚLTIMO FANTASMA
Castro Alves
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face na sombra mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...
Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fonte, ó ser misterioso!...
Onde vimos nós?... És doutra esfera?
És o ser que eu busquei do sul ao norte...
Por quem meu peito em sonhos desespera?...
Quem és tu? Quem és tu? _ És minha sorte!
És talvez o ideal que est´alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!...
VOLTAR AOS NOMES
Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira, pura...Enquanto durar.
NÃO SEI...
Cora Coralina
VOLTAR AOS NOMES Sair

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
Roosevelt F. Abrantes
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreira
timtim100
 

Was ist angesagt? (18)

Desejos obscuros livro III- A intocável
Desejos obscuros livro III- A intocávelDesejos obscuros livro III- A intocável
Desejos obscuros livro III- A intocável
 
Kedma (poesia)
Kedma (poesia)Kedma (poesia)
Kedma (poesia)
 
Poemas ppt
Poemas pptPoemas ppt
Poemas ppt
 
Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
Como se fossem quadros e espelhos esquecidos sobre a pia de lavar(poesia)
 
Poesia Falada
Poesia FaladaPoesia Falada
Poesia Falada
 
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anosIEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
IEL- Caderno de Poemas 7º, 8º e 9º anos
 
Feras da Poetica
Feras da PoeticaFeras da Poetica
Feras da Poetica
 
95
9595
95
 
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
023 a contra capa a 044  aka om lind mundo023 a contra capa a 044  aka om lind mundo
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
 
Sobre as Asas
Sobre as AsasSobre as Asas
Sobre as Asas
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreira
 
Amdek (poesia)
Amdek (poesia)Amdek (poesia)
Amdek (poesia)
 
Revista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentidoRevista Aka Arte om duplo sentido
Revista Aka Arte om duplo sentido
 
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOSA MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
 
000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundo000 capa a 022 final aka om lind mundo
000 capa a 022 final aka om lind mundo
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
Inconstancia de-fervor
Inconstancia de-fervorInconstancia de-fervor
Inconstancia de-fervor
 

Ähnlich wie Pinturase Poesias

AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptxAULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
ProfessoraAline7
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
Fabi
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
escola
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
crepalmela
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
gracatremoco45
 

Ähnlich wie Pinturase Poesias (20)

Imagens e Poesias
  Imagens e Poesias  Imagens e Poesias
Imagens e Poesias
 
PINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIASPINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIAS
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
 
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptxAULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
AULÃO LITERATURA - MODERNISMO BRASILEIRO 1.pptx
 
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptxMODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
MODERNISMO BRASILEIRO 1 (2).pptx
 
Gerações poéticas
Gerações poéticasGerações poéticas
Gerações poéticas
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
 
Fernando pessoa poemas fundamentais
Fernando pessoa poemas fundamentaisFernando pessoa poemas fundamentais
Fernando pessoa poemas fundamentais
 
POETAS E POESIA
POETAS E POESIAPOETAS E POESIA
POETAS E POESIA
 
Poetas e poesia
Poetas e poesiaPoetas e poesia
Poetas e poesia
 
Escolhendo Poesias
Escolhendo Poesias Escolhendo Poesias
Escolhendo Poesias
 
Antologia livro
Antologia   livroAntologia   livro
Antologia livro
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Chuva de Poemas 1.pdf
Chuva de Poemas 1.pdfChuva de Poemas 1.pdf
Chuva de Poemas 1.pdf
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
 
Caderno poemas português
Caderno poemas portuguêsCaderno poemas português
Caderno poemas português
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Caderno poemas
Caderno poemasCaderno poemas
Caderno poemas
 

Kürzlich hochgeladen

8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
tatianehilda
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
NarlaAquino
 
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptxAula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
andrenespoli3
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
AntonioVieira539017
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
PatriciaCaetano18
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptxAula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdfProjeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 

Pinturase Poesias

  • 1. Algumas pinturas... Algumas poesias... ... todas de respeitados autores, numa mistura de épocas e estilos... Sempre belas... Sempre atuais... Formatação: EnA Música: Rêverie – Claude Debussy
  • 2. Vinícius de Moraes Vicente de Carvalho Fernando Pessoa Olavo Bilac Carlos Drummond de Andrade Raul de Leoni Cecília Meireles J.G. de Araujo Jorge Clarice Lispector Chico Buarque de Holanda Francisco Otaviano Escolha o poeta ou siga em seqüência SAIR SAIR Cora Coralina
  • 3. De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure! SONETO DA FIDELIDADE Vinícius de Moraes VOLTAR AOS NOMES
  • 4. VELHO TEMA Vicente de Carvalho Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. VOLTAR AOS NOMES
  • 5. Não sei quantas almas tenho Fernando Pessoa Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. LUÍS BADOSA Fernando Pessoa
  • 6. O amor, quando se revela... Fernando Pessoa LUÍS BADOSA Fernando Pessoa O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar- lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... VOLTAR AOS NOMES
  • 7. VELHAS ÁRVORES Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo! Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem; Na glória da alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem! VOLTAR AOS NOMES
  • 8. QUADRILHA Carlos Drummond de Andrade João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. VOLTAR AOS NOMES
  • 9. UNIDADE Raul de Leoni Deitando os olhos sobre a perspectiva Das cousas, surpreendo em cada qual Uma simples imagem fugitiva Da infinita harmonia universal Uma revelação vaga e parcial De tudo existe em cada coisa viva: Na corrente do Bem ou na do Mal Tudo tem uma vida evocativa. Nada é inútil; dos homens aos insetos Vão-se estendendo todos os aspectos Que a idéia da existência pode ter; E o que deslumbra o olhar é perceber Em todos esses seres incompletos A completa noção de um mesmo ser... VOLTAR AOS NOMES
  • 10. Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? RETRATO Cecília Meireles VOLTAR AOS NOMES
  • 11. E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos como dois pássaros na sombra, recolhidos ao mesmo ninho, como dois caminhos na noite, dois caminhos que se juntam num mesmo caminho... Já não ouso... já não coras... E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha que qualquer palavra bateria estranha como um viajante, altas horas... Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos silenciaram seus carinhos... Estamos um no outro como se estivéssemos sozinhos... E O RESTO É SILÊNCIO... J.G. de Araujo Jorge VOLTAR AOS NOMES
  • 12. Precisão O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. CLARICE LISPECTOR VOLTAR AOS NOMES
  • 13. Gente Humilde - Chico Buarque Tem certos dias em que eu penso em minha gente E sinto assim todo o meu peito se apertar Porque parece que acontece de repente Como um desejo de eu viver sem me notar Igual a como quando eu passo num subúrbio Eu muito bem vindo de trem de algum lugar E aí me dá como uma inveja dessa gente Que vai em frente sem nem ter com quem contar São casas simples com cadeiras na calçada E na fachada escrito em cima que é um lar Pela varanda flores tristes e baldias Como a alegria que não tem onde encostar E aí me dá uma tristeza no meu peito Feito um despeito de eu não ter como lutar E eu que não creio, peço a Deus por minha gente É gente humilde, que vontade de chorar !VOLTAR AOS NOMES
  • 14. ILUSÕES DA VIDA Francisco Otaviano Quem passou pela vida em branca nuvem E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu: Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu. VOLTAR AOS NOMES
  • 15. Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são... AH! OS RELÓGIOS Mário Quintana VOLTAR AOS NOMES
  • 16. O que eu adoro em ti Não é tua beleza A beleza é em nós que existe A beleza é um conceito E a beleza é triste Não é triste em si Mas pelo que há nela De fragilidade e incerteza O que eu adoro em ti Não é a tua inteligência Mas é o espírito sutil Tão ágil e tão luminoso Ave solta no céu matinal da montanha Nem é tua ciência Do coração dos homens e das coisas O que eu adoro em ti Não é a tua graça musical Sucessiva e renovada a cada momento Graça aérea como teu próprio momento Graça que perturba e que satisfaz O que eu adoro em ti Não é a mãe que já perdi E nem meu pai O que eu adoro em tua natureza Não é o profundo instinto matinal Em teu flanco aberto como uma ferida Nem a tua pureza. Nem a tua impureza O que adoro em ti lastima-me e consola-me O que eu adoro em ti é A VIDA !!! MADRIGAL MELANCÓLICA Manuel Bandeira DI CAVALCANTI Perfis VOLTAR AOS NOMES
  • 17. FELICIDADE Guilherme de Almeida Ela veio bater à minha porta e falou-me a sorrir, subindo a escada: “Bom dia, árvore velha e desfolhada” e eu respondi: “Bom dia, folha morta” Entrou: e nunca mais me disse nada... Até que um dia (quando pouco importa!) houve canções na ramaria torta e houve bandos de noivos pela estrada... Então chamou-me e disse:“Vou-me embora! Sou a felicidade! Vive agora da lembrança do muito que te fiz” E foi assim que em plena primavera, só quando ela partiu contou quem era... E nunca mais eu me senti feliz! VOLTAR AOS NOMES
  • 18. Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus! muito longe de mim Na escuridão ativa da noite que caiu Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu. Descobrimento Mário de Andrade VOLTAR AOS NOMES
  • 19. ÚLTIMO FANTASMA Castro Alves Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso, Que te elevas da noite na orvalhada? Tens a face na sombra mergulhada... Sobre as névoas te libras vaporoso... Baixas do céu num vôo harmonioso!... Quem és tu, bela e branca desposada? Da laranjeira em flor a flor nevada Cerca-te a fonte, ó ser misterioso!... Onde vimos nós?... És doutra esfera? És o ser que eu busquei do sul ao norte... Por quem meu peito em sonhos desespera?... Quem és tu? Quem és tu? _ És minha sorte! És talvez o ideal que est´alma espera! És a glória talvez! Talvez a morte!... VOLTAR AOS NOMES
  • 20. Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura...Enquanto durar. NÃO SEI... Cora Coralina VOLTAR AOS NOMES Sair