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Copyright 2014, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP 
Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014, realizado no período de 15 a 
18 de setembro de 2014, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, 
seguindo as informações contidas no trabalho completo submetido pelo(s) autor(es). Os organizadores não irão traduzir ou corrigir 
os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, 
Gás e Biocombustíveis, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja 
publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014. 
______________________________ 
1 MBA em Sustentabilidade (UFRJ), Jornalista – Sócia-diretora da AS Estratégia. 
2 Doutoranda em Engenharia Ambiental (UFSC), MBA em Gestão Ambiental (UFPR), Bióloga 
3 Mestre em Química Ambiental, Engenheiro Químico Pleno pela Núcleo Eng. Consultiva 
IBP2010_14 
PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE PETRÓLEO E GÁS 
NUMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO 
Julianna A. de C. A. Paula1, Isabela da C. Bonatto2, 
Luiz C. F. N. de Assumpção3 
Resumo 
As mudanças climáticas e as emissões de gases do efeito estufa são temas que sempre se relacionaram com questões socioeconômicas e ambientais. No âmbito industrial, diversas são as atividades que contribuem para o aquecimento global, principalmente as relacionadas à indústria do petróleo e gás. Assim, considerando as premissas do desenvolvimento sustentável, estudos e projeções sobre a possível chegada do pico do petróleo, regulamentações governamentais e de mercado e inovações tecnológicas levarão nas próximas décadas essa indústria a adotar um novo modelo de negócio. Este artigo busca discutir e relatar as perspectivas para o setor de petróleo e gás numa economia de baixo carbono. Dentre as alternativas existentes atualmente para políticas de baixo carbono, existem legislações específicas, além de incentivos e financiamentos no setor de biocombustíveis e mobilidade urbana. Outras fontes de produção de etanol, otimização de equipamentos, a ampliação do uso de fontes renováveis de energia, conservação ou uso de forma mais eficiente dos recursos energéticos também são considerados caminhos importantes para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) no setor energético sem sacrificar o desenvolvimento econômico. Todavia, este é apenas o início de um processo que deverá prosseguir ao longo das próximas décadas, visando estimular o debate em busca de um consenso global para a construção coletiva de propostas de políticas públicas consistentes juntamente com pesquisas, para o reposicionamento da economia mundial frente aos desafios das mudanças climáticas. Essa tarefa deve ser compartilhada entre esforços públicos e privados, com ações responsáveis, participativas e inovadoras. 
Abstract 
Climate change and emissions of greenhouse gases are issues that currently relate to socioeconomic and environmental debates. In the industry sector, there are different activities contribute to the global warming, especially the activities related to the oil & gas industry. Considering the premises of sustainable development, forecasts and studies on the possible oil peak, governmental and market regulations and technology innovation will lead this industry to a new business model. This article seeks to discuss and report on the outlook for the oil and gas in a low carbon economy. Among the currently available alternatives for low-carbon policies, there are already certain laws and policies, and incentives and financing in the biofuels industry and the urban mobility. Other sources of ethanol production, equipment optimization, the expanded use of renewable energy sources, conservation or more efficient use of energy resources are also considered important ways to reduce GHG emissions in the energy sector without sacrificing economic development. However, this is only the beginning of a process that will continue over the coming decades, aiming to stimulate debate for a global consensus for the collective construction of proposed public policies consistent with research for the repositioning of the world economy face the challenges of climate change. This task must be shared between public and private efforts to responsible, participatory and innovative actions.
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1. Introdução 
Quando se fala em fazer a transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia de baixo carbono, duas questões-chave vêm à tona: segurança energética (pico do petróleo) e mudanças climáticas. São duas premissas polêmicas e relativamente incertas, mas que impactarão as empresas do setor de petróleo e gás em médio e longo prazo. 
O conceito de economia de baixo carbono surgiu com o desenrolar das conferências de meio ambiente promovidas pela ONU entre as décadas de 80 e 90 e se fundamenta numa economia onde os setores produtivos minimizam as emissões de gases do efeito estufa (GEE), principalmente o gás carbônico, através de eficiência e inovação de processos e na utilização de recursos energéticos de matriz renovável. 
A economia de baixo carbono parte do princípio de integrar a manufatura, as atividades primárias, o transporte, dentre outras atividades, a diferentes tecnologias que permitem a produção de energia e materiais com pouca emissão de GEE. Somado a isso, a economia de baixo carbono também procura fortalecer ações voltadas para reutilização e reciclagem de materiais e resíduos. 
De acordo com a IEA (International Energy Agency), em 2011, 35% das emissões de CO2 tinham como fonte o petróleo e 20% o gás natural. Assim, fica claro que a indústria de petróleo e gás possui grande responsabilidade no que se refere ao aquecimento global. Em paralelo, também há os impactos que o setor sofrerá ao longo das próximas décadas, na medida em que os países adotarem a economia de baixo carbono como modelo econômico. 
Este artigo tem por objetivo apontar tendências que já vêm sendo notadas nas economias dos países a respeito de atividades de baixo impacto nas emissões de carbono, bem como as perspectivas para o setor de petróleo e gás diante deste cenário. 
2. Panorama das mudanças climáticas e emissões de CO2 
As mudanças climáticas sempre foram discutidas em um contexto global em fóruns, congressos e conferências, mas ganhou força a partir da COP-3, no Japão, em 1997, com a assinatura do Protocolo de Kyoto pela maioria dos países desenvolvidos. No Protocolo de Kyoto o consenso foi de que os países industrializados se comprometeriam a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 5% em relação os níveis de emissão de 1990 até o período de 2012. 
Em 2012, na COP-18, no Qatar, o Protocolo de Kyoto foi prorrogado para 2020. Apesar de algum retrocesso, (os EUA, a Rússia, o Canadá e a Nova Zelândia se recusaram a ratificar o documento), a União Europeia inteira assinou o protocolo, tendo, inclusive, firmado o compromisso de reduzir as emissões em 20% em relação aos níveis de 1990. Na mesma COP ficou decidido que após 2020, quando o atual protocolo perder a validade, o novo acordo estabelecerá metas para todas as nações, incluindo países em desenvolvimento. 
Desde 1990 o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) vem publicando relatórios gerais e específicos sobre mudanças climáticas. Segundo o órgão, cientistas climáticos projetaram diversos cenários que apontam que as temperaturas globais subirão entre 1,1ºC e 6,4ºC até 2100, esperando uma elevação em torno de 4ºC. 
Em 2014 a organização divulgou o segundo capítulo do quinto relatório sobre o clima, apontando que é altamente provável a ocorrência de danos ligados a eventos naturais extremos em diferentes partes do planeta já na segunda metade deste século. Esses danos devem ocorrer mesmo que haja corte substancial de emissões de gases do efeito estufa nos próximos anos. 
O IPCC aponta que 70% das emissões são oriundas de 10 países, sendo os Estados Unidos e China responsáveis por 55% desse total. O órgão recomenda que as principais economias fixem um imposto sobre a emissão do dióxido de carbono, elevando o custo dos combustíveis fósseis de forma que impulsione o mercado de fontes de energias limpas, como a eólica e a solar, por exemplo. 
Ainda de acordo com o IPCC, os aumentos globais de emissão CO2 se devem principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, que continuará respondendo por quase 80% da energia global até 2040. Dados da US EIA (Energy Information Administration), apontam que as emissões de CO2 passarão de 31.2 bilhões de toneladas para 36.4 bilhões em 2020 e 45.5 bilhões em 2040. Isso de deve tanto a um forte crescimento econômico dos países em desenvolvimento, quanto à dependência dos combustíveis fósseis. 
Em 2011, a IEA (International Energy Agency) informou que 35% das emissões de CO2 tinham como fonte o petróleo e 20% o gás natural. De acordo com o Dr. Fatih Birol, economista-chefe da IEA, se as ações coordenadas para limitar o aumento da temperatura global a 2°C derem certo, a demanda mundial por petróleo em 2030 será de 89 milhões de barris diários. Caso nenhuma medida seja tomada, a demanda será de 105 milhões de barris por dia.
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3. O pico do petróleo e seu impacto na economia global 
Ainda que o preço do barril do petróleo tenha saído de 31 dólares em 2001 para pouco mais de 100 dólares em 2014, é consenso de que ele ainda seja uma energia barata. Em alguns casos, como nos EUA, a energia oriunda do petróleo é, artificialmente, ainda mais barata que em outras regiões do mundo. Isso se deve a enorme quantidade de subsídios que o setor recebe. Em 2006, por exemplo, os subsídios para o petróleo e gás totalizaram cerca de US$ 39 bilhões, fazendo com que déficits orçamentários do país fossem financiados por empréstimos no exterior (LOVINS, 2013a). 
Mesmo com a crise econômica que assola o mundo desde 2008, e com a consequente estagnação das atividades industriais de muitos países, a demanda por petróleo vem crescendo ano a ano. Segundo a IEA, a projeção de consumo global para 2014 é de pouco mais de 92 milhões de barris de petróleo por dia. Em janeiro de 2008, meses antes de estourar a crise mundial, a IEA havia projetado um consumo de 87.8 milhões de barris por dia. 
Quando se fala no constante aumento de consumo de petróleo, a expressão “pico do petróleo” imediatamente vem à tona. O tema é controverso, principalmente por conta de não se saber ao certo quando acontecerá. Na década de 50, o geólogo M. King Hubbert criou a teoria do pico de petróleo (Hubbert peak theory), que através da curva de Hubbert, postulava que a produção mundial de petróleo chegaria ao pico no início do século XXI, quando então entraria em queda e a extração nos novos campos não superaria o declínio dos campos mais antigos. Outros especialistas, no entanto, afirmam que o pico do petróleo global acontecerá entre 2020 e 2030. 
Apesar da divergência sobre quando acontecerá o pico do petróleo, é consenso de que, mais do que escassez do recurso, o principal problema a ser enfrentado é de que, logo, os países/empresas produtores de petróleo perderão a capacidade de extraí-lo de forma suficientemente barata para atender às demandas exponenciais de crescimento. Em médio prazo, o impacto no preço pode colocar o sistema econômico mundial e as economias orientadas para o mercado em colapso. 
Os EUA, por exemplo, alcançaram o pico do petróleo na década de 70. De acordo com o relatório da US EIA (Energy Information Administration) de novembro de 2013, a produção do mês anterior alcançou uma média de 7.8 milhões de barris/dia, enquanto as importações alcançaram a média de 7.5 milhões de barris/dia, fato que não ocorria desde 1995. 
Mais de 70% do petróleo tem como produto final o combustível que serve para alimentar frotas de transporte formadas, basicamente, por veículos movidos à gasolina, diesel e querosene. Nos EUA, por exemplo, são consumidos diariamente 13 milhões de barris de petróleo apenas para fins de transporte. Apesar de “apenas” 25% do petróleo ir para matérias-primas, produtos petroquímicos e materiais especializados, a possibilidade de proximidade do pico do petróleo acende o alerta vermelho para a indústria, uma vez que, direta ou indiretamente, o petróleo é usado em 95% dos produtos industriais. 
4. Alternativas para o uso intensivo do petróleo 
Quando se fala em soluções para redução das emissões de CO2, no setor de petróleo e gás, antes de se pensar em fontes alternativas, é fundamental pensarmos na questão da eficiência. No caso brasileiro, cerca de 40% das oportunidades de redução das emissões resulta de iniciativas de melhoria da eficiência no uso de energia, como o aperfeiçoamento nos processos de manutenção (garantindo o uso otimizado dos equipamentos). 
Em relatório publicado pela consultoria McKinsey sobre economia de baixo carbono no Brasil, devido às economias geradas, o custo típico dessas oportunidades é negativo: -54/ tCO2e. A outra parte das oportunidades é baseada em investimentos em captura e armazenamento de carbono, que têm um alto custo (45/ tCO2e). As oportunidades de abatimento das emissões somam 20 MtCO2e, representando 35% das emissões estimadas no caso base em 2030, e 1% do total de abatimento possível no país (figura).
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Figura 1: Curva de custos de redução de gases do efeito estufa no setor de petróleo e gás para 2030 
Ainda no campo da eficiência, há uma grande discussão em relação ao automóvel e o consumo de combustível. É inegável a importância da indústria automobilística para a economia mundial, porém, ao longo das últimas décadas, o processo de design fez com que os veículos ficassem mais pesados, mais complexos e mais caros. E em consequência, eles passaram a consumir ainda mais combustível. 
No entanto, em contraponto às inovações que tornaram os automóveis menos eficientes, centros de pesquisa e desenvolvimento trabalham há mais de 15 anos com protótipos de carros mais leves feitos, principalmente, de fibra de carbono. Esses carros possuem performance de combustível bastante superior aos carros de aço e utilizam, muitas vezes, combustíveis ambientalmente favoráveis, como energia elétrica e células de hidrogênio. 
4.1. O potencial do mercado de biocombustíveis 
Somado à questão da eficiência na performance dos automóveis, especialistas afirmam ser fundamental o fortalecimento do mercado de biocombustíveis. Em 2009 a produção de biocombustível de primeira geração ultrapassou 100 bilhões de litros. Isso significou a substituição diária de 1,15 milhão de barris de petróleo, além da eliminação de 215 milhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa. Em termos percentuais, essa substituição é equivalente a quase 2% do petróleo destinado aos combustíveis. Para 2022, de acordo com a FAO, estima-se que a produção alcance 168 bilhões de litros de etanol e 41 bilhões de litros de biodiesel. 
Do ponto de vista tecnológico, os recentes avanços permitem que o etanol, o biodiesel e outros biocombustíveis possam fazer o mesmo que o petróleo. Do ponto de vista econômico, o mercado de biocombustível é altamente promissor. No caso dos biocombustíveis de primeira e geração, Estados Unidos (milho) e Brasil (cana-de-açúcar) são, respectivamente, os principais produtores de etanol. Em 2010, segundo a Renewable Fuels Assossiation, os produtores americanos fabricaram 49 bilhões de litros de etanol de milho, o equivalente energético a 0,6 milhão de barris de petróleo por dia. 
Apesar dos cenários econômicos positivos para os biocombustíveis de primeira geração, os impactos ambientais e sociais são bastante altos. Críticos alertam que a produção baseada em monocultura compromete o uso do solo em longo prazo e que o uso de práticas agrícolas não sustentáveis torna a produção do etanol uma ameaça à biodiversidade e à integridade de ecossistemas essenciais à proteção do clima. Críticos também ressaltam que a produção do etanol de milho e de cana-de-açúcar requer vastas extensões de terra que poderiam ser utilizadas para a produção de alimentos. 
Somado aos problemas ambientais, os biocombustíveis de primeira geração deixam um rastro de problemas sociais, principalmente no Brasil. Para que a cana-de-açúcar seja considerada uma alternativa sustentável, é preciso, fundamentalmente, que as condições de trabalho nos campos mudem. Em muitos casos o trabalho é degradante e, não raro, as fazendas são acusadas de trabalho análogo ao escravo. 
No entanto, com os avanços tecnológicos, estão entrando no mercado os biocombustíveis de segunda geração. Estes combustíveis são caracterizados por etanol produzido de fontes diversas de biomassa não usadas na alimentação humana. No caso brasileiro, há pesquisa voltada para a produção do etanol a partir do bagaço de cana-de-açúcar. O fato de ser utilizado um resíduo na produção de combustível faz com que não seja necessário aumento de área plantada, aumentando a produtividade por hectare. 
Além do bagaço de cana-de-açúcar, há pesquisas para transformar diversas outras fontes de biomassa em combustível, como algas (a mais promissora devido a sua produtividade), resíduos de colheitas, troncos, cascas e sabugos, dentre outros.
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4.2. Novos mercados: a alternativa para mobilidade urbana 
A necessidade de uma transição para a economia de baixo carbono não se restringe apenas a uma revolução nos combustíveis. Hoje um dos principais problemas das grandes cidades e grande emissor de CO2 diz respeito à (falta de) mobilidade urbana. Segundo estudo da Victoria Transport Policy Institute, o custo estimado do congestionamento nas cidades dos Estados Unidos, por exemplo, chega a U$121 bilhões por ano, superando, até, os custos gerados pelas as externalidades dos combustíveis. 
Oferecer novas formas de locomoção não economiza apenas petróleo, mas também cria novas oportunidades de negócios. O mercado global de compartilhamento de carros movimentou em 2013 US$ 937 milhões. Apesar de ainda estar em fase de consolidação, as tendências para este mercado apontam forte crescimento nos próximos anos, com projeção de faturamento de US$ 6,2 bilhões em 2020, de acordo com estudo Carsharing Programs, da empresa Navigant Research. 
Os impactos positivos do compartilhamento de automóveis vão desde uma melhor mobilidade urbana, passando pela redução na emissão de CO2, resvalando na indústria automobilística. No caso do Brasil, por exemplo, mesmo com uma pequena base de clientes, a operação do compartilhamento de carros já aponta uma tendência, onde, depois da oferta do serviço, 25% dos usuários optaram por vender seus automóveis. Nos Estados Unidos, que em janeiro de 2013 alcançou uma base de quase 900 mil clientes (crescimento de 24,1% em relação aos 12 meses anteriores), pesquisas apontam que o compartilhamento de carros pode evitar a compra de 1,2 milhões de carros até 2020. 
5. Tendências e exemplos atuais de economias de baixo carbono 
Por conta tanto dos impactos ambientais, quanto da insegurança econômica gerada pela escassez do petróleo, o mundo passou a olhar com mais interesse para a economia de baixo carbono. Mesmo que se tenha alguns anos até a chegada do pico do petróleo, e algumas décadas de uso, a possibilidade cada vez mais realista da sua escassez está fazendo com que mercados e economias que dependam do petróleo busquem outras alternativas viáveis. 
Em relação às mudanças climáticas, além da pressão de diversos países e de regulamentações governamentais cada vez mais restritivas, ONGs como WWF e Greenpeace e uma forte cobertura da mídia têm levado o tema para pessoas comuns que, aos poucos, vão se engajando e cobrando governos por políticas mais sustentáveis e empresas por produtos menos impactante do ponto de vista social e ambiental. 
Assim, somando fatores ambientais a fatores econômicos e sociais, o mundo aponta para a tendência de uma economia baseada na baixa emissão de carbono para as próximas décadas. Em 2010, um relatório divulgado pela Força- Tarefa da Indústria Britânica Sobre o Pico do Petróleo e Segurança da Energia recomendava a aceleração imediata da “revolução do transporte verde”, a introdução da tecnologia de baixo carbono e testes com biocombustíveis sustentáveis para veículos particulares e também para a rede pública de transporte. 
Quando se fala em regiões referência em economia de baixo carbono, a Europa, principalmente a Comunidade Europeia, larga na frente. Além de regulamentações governamentais mais restritivas, a própria população é mais consciente em relação às questões de sustentabilidade. Em 2007 a União Europeia estabeleceu um acordo onde os países envolvidos se comprometem a ter uma matriz com, no mínimo, 20% de energia de fontes renováveis até 2020 e que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis sejam de origem biológica. 
A Holanda, com 16 milhões de habitantes, possui 18 milhões de bicicletas. No país, a bicicleta é um veículo sujeito às leis de trânsito e movimenta um mercado de 1,4 bilhões de dólares por ano. Já o governo alemão estabeleceu a meta de encerrar a geração de energia nuclear e reduzir a geração de energia termoelétrica. O plano oficial é que em 2050, 80% da matriz seja oriunda de matriz renovável, principalmente eólica, solar e biomassa. 
Masdar City, nos Emirados Árabes, é a primeira cidade construída com base no conceito de sustentabilidade. Dentre diversos critérios considerados na construção da cidade, chama atenção o sistema de transporte integrado, que utiliza uma rede inteligente e prioriza o uso da bicicleta e do transporte público movido à eletricidade. Já a Costa Rica, que utiliza ¼ dos recursos dos Estados Unidos per capita, oferece à sua população maior expectativa de vida, além de possuir a maior taxa de alfabetização do mundo. O país funciona com 99% de seus recursos de origem renovável e tem planejamento para ser carbono zero até 2021. 
De acordo com o relatório Climatescope de 2013, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil foi considerado como o mercado mais atrativo em toda a América Latina para investimentos em baixo carbono. Realizado pela consultoria Bloomberg New Energy Finance (BNEF) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o estudo aponta que de todos os países latino-americanos, o Brasil foi o melhor avaliado devido à sua boa pontuação nos quesitos de “negócios de baixo carbono e cadeia de valores de energia limpa” e “atividades de manejo de gases do efeito estufa”. 
O país tem mais de 108 empresas de vários setores que reportam suas práticas de eficiência energética e energia limpa, assim como tem instituições para capacitação, e centros de pesquisas que atendem a setores de baixo carbono. Além disso, possui 269 projetos sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). 
Seja por fatores ambientais, por oportunidades de negócios, seja para minimizar a dependência do petróleo, ou mesmo para retardar o seu pico, a economia de baixo carbono vem, ainda que lentamente, entrando na pauta da política
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econômica global. A grande pergunta é o papel que as empresas de petróleo e gás terão a partir dessa nova configuração. 
Segundo o especialista Robert L Hirsch, por conta do pico do petróleo, uma empresa do setor precisará de 10 anos ou mais para fazer uma transição de modelo de negócios. No entanto, a questão ganha contorno mais importante quando se adiciona o fator climático, a eficiência da indústria automobilística, o fortalecimento dos biocombustíveis, principalmente os de segunda geração, a agricultura orgânica e o próprio amadurecimento das sociedades. 
6. O papel das empresas de petróleo e gás numa economia de baixo carbono 
É fato que desde a década passada as empresas de petróleo e gás se posicionam como empresas de energia. No entanto, mais de 90% dos investimentos ainda vão para, basicamente, petróleo e gás, sendo a maior parte das pesquisas voltada para a extração de petróleo em condições cada vez mais complexas, a custos cada vez mais altos. Somado a isso temos os Estados Unidos que credita sua recuperação econômica à controversa, e ambientalmente impactante, produção de gás de xisto, que pode levar o país à independência energética. Sem contar, ainda, que China e Argentina, duas das maiores reservas do gás, sequer iniciaram sua produção em escala comercial. 
Não se espera que devido à economia de baixo carbono o petróleo deixe de ser consumido ou que uma empresa do setor deixe de existir. Mas é fato que elas deverão iniciar o processo de remodelagem de seus negócios de maneira que outras fontes energéticas façam parte de seu portfolio e a transição para um modelo de energia renovável, limpa e sustentável seja viável. A pergunta é quando essa transição irá acontecer, já que o tempo, neste caso, é um fator crítico. 
O caminho aparentemente mais óbvio para as empresas de petróleo e gás é o investimento na pesquisa e produção de biocombustíveis. O mercado é promissor e as opções são diversas, desde o etanol de milho e cana-de- açúcar, passando pela biomassa e até mesmo o biodiesel oriundo de vísceras do peru e fraldas descartáveis usadas! 
Se pensarmos no boom dos carros elétricos, outro mercado também provável para as empresas de petróleo e gás é o da energia renovável, principalmente eólica e solar. Apesar de o investimento destinado a esse tipo de energia ser pequeno (em comparação ao volume destinado ao petróleo e gás), empresas do setor já investem forte na geração de energia renovável. 
Além dos investimentos prováveis em fontes alternativas ao petróleo, a mudança no modelo de negócios de uma empresa do setor deve ir além uma simples troca de matriz energética ou substituição na matéria prima dos mesmos produtos. É preciso observar a mudança no comportamento dos consumidores e das sociedades e perceber como essa mudança impacta a empresa. 
Os problemas se tornaram mais complexos. Questões ambientais são, hoje, apenas, um dos fatores a ser considerados quando o tema é sustentabilidade ou economia de baixo carbono. Questões de ordem econômica e social também viram fatores críticos. Não adianta simplesmente levar para o mercado um combustível limpo, por exemplo, quando o problema macro diz respeito à mobilidade. 
Assim como a idade da pedra não acabou com o fim das pedras, os cenários apontam para a possibilidade de que a era do petróleo não acabe com o fim do petróleo. Perdas bilionárias (com projeção futura para perdas trilionárias caso nada seja feito) ocasionadas pelas mudanças climáticas, eficiência de processos e uso intensivo da tecnologia associados a novas demandas sociais podem fazer com que nas próximas décadas, o uso do petróleo caia não por um fator ambiental, no caso a queda na oferta, mas por um fator econômico, no caso a queda de demanda. 
É claro que, caso a queda na demanda por petróleo e gás se concretize, o processo será bem lento. Mas para que essa possibilidade seja viável, assim como o sucesso na transição para a economia de baixo carbono, dois fatores são críticos. O primeiro diz respeito à própria criação do mercado de produtos/serviços que suportem uma cadeia produtiva e tecnológica de baixo carbono. 
Neste caso é fundamental que centros de pesquisa e desenvolvimento aliem inovação e eficiência de processos para que os produtos tenham a mesma qualidade dos similares oriundos de combustíveis fósseis a preços competitivos. Somado a isso, é fundamental o investimento em infraestrutura. No caso dos fornecedores de combustíveis, por exemplo, é preciso investir em infraestrutura para que o biocombustível seja comercializado em qualquer posto de abastecimento, assim como seja possível o abastecimento de carros elétricos. 
O segundo ponto crítico para o sucesso da economia de baixo carbono diz respeito à maturidade das sociedades, as opções individuais de cada cidadão e o papel do governo nas regulamentações e em assegurar o desenvolvimento sustentável dos países. 
Mais do que subsídios à energia e combustíveis limpos, é fundamental que os governos criem políticas públicas que contenham a expansão urbana desenfreada, que tirem das ruas veículos velhos e ineficientes e fortaleça o uso de transporte público através de planejamento que inclua taxa sobre o uso de transporte individual em grandes centros de circulação. Além disso, em escala global, é vital, que os governos e órgãos ambientais cheguem a um acordo a respeito do mercado de carbono, de forma que reduza as incertezas e os riscos dos investimentos.
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7. Conclusão 
Todos os dados, estudo e pesquisas apontados neste artigo procuraram andar pareados com as tendências sociais, econômicas e ambientais da atualidade. Eles constituem apenas o início de um processo de análise que deverá prosseguir ao longo dos próximos anos, visando estimular o debate para a construção coletiva de propostas de políticas públicas e regulamentações de mercado consistentes para o reposicionamento da economia global frente aos desafios das mudanças climáticas. 
Essa tarefa deve ser compartilhada entre esforços públicos e privados, em uma agenda positiva que requer, do setor empresarial, principalmente da indústria de petróleo e gás, uma liderança responsável, participativa e inovadora e dos governos mundiais, o consenso em torno da questão. Será fundamental a integração de órgãos independentes como o IPCC, governos mundiais, o terceiro setor e sociedade de forma a criar consonância e uma abordagem sistêmica para os esforços de mitigação de emissões de GEE, adaptação. 
E apesar da necessidade de se caminhar para uma economia de baixo carbono e termos a liderança da comunidade da Zona do Euro, é inegável que ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente em países que entraram na rota do consumo há pouco tempo. Com isso, o ponto mais crítico da empreitada diz respeito à maturidade das sociedades e às escolhas individuais. 
Em um mundo que caminha para os nove bilhões de habitantes em 2030, não há mais espaço para que as economias cresçam fundamentadas em consumo e obsolescência programada. Por mais que haja demanda reprimida em países em desenvolvimento, é preciso repensar essa relação de consumo e os impactos gerados por ele. Este acaba sendo, afinal, o grande esforço para que a transição para uma economia de baixo carbono seja bem sucedida. Já que, mais do que responsabilidade de políticas e governos, esta é uma responsabilidade individual. 
8. Referências 
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DUTCH CYCLING EMBASSY. Folder institucional [Internet]. [citado em 14 de fevereiro de 2014]. 2 páginas. Disponível em: http://www.dutchcycling.nl/library/file/DUTCH1107_folder_eng_2(2).pdf. 
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IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2010. Paris: OECD/IEA, 2010. 
IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2011. Paris: OECD/IEA, 2011. 
IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2013. Paris: OECD/IEA, 2013. 
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IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). Climate Change 2014: Impacts, adaption and Vulnerability. Geneva, 2014. 
ITPOES (Industry Taskforce on Peak Oil & Energy Security). 2010 The Oil Crunch: A wake-up call for the UK Economy. London, 2010. 
LOVINS, A. B. Reinventando o fogo: soluções ousadas de negócios na nova era da energia. São Paulo: Cultrix, 2013. 
LOVINS, L. H; COHEN, B. Capitalismo climático. São Paulo: Cultrix, 2013.
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MARTIN, R. Carsharing Services Will Reach Nearly $ 6.2 billion in Revenue by 2020 [Internet]; Navigan Tresarsh: 2013. [citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.navigantresearch.com/newsroom/carsharing- services-will-reach-nearly-6-2-billion-in-revenue-by-2020. 
MCKINSEY & COMPANY. Caminhos para uma economia de baixa emissão de carbono no Brasil [Internet]; São Paulo: McKinsey LatAm Office; 2009. [Citado em 23 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.mckinsey.com.br/sao_paulo/carbono.pdf. 
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POGGETTO, P. D. Serviço de compartilhamento de carro começa a ter espaço no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: G1 Auto Esporte; [atualizado em 07 de abril de 2013; citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/04/servico-de-compartilhamento-de-carro-comeca-ter-espaco-no-brasil.html. 
PRIVAT, L. Car sharing could replace 1.2M car purchases in the U.S. in 2020 [Internet]. Versailles: GPS Business News. [atualizado em 10 de fevereiro de 2014; citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.gpsbusinessnews.com/Car-Sharing-Could-Replace-1-2M-Car-Purchases-in-the-U-S-in-020_a4627.html. 
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SAVIO, R. O futuro do nosso planeta depende de 58 pessoas. [Internet]. São Paulo: Envolverde. [atualizado em 28 de abril de 2014; citado em 28 de abril de 2014]. Disponível em: http://envolverde.com.br/ambiente/o-futuro-de-nosso- planeta-depende-de-58-pessoas. 
TAMPA BY TIMES [Internet]. Obama says U.S. produces more oil than it imports for the first time in nearly 20 years; 2014 – [Citado em 20 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.politifact.com/truth-o- meter/statements/2014/jan/17/barack-obama/obama-says-us-produces-more-oil-it-imports-first-t. 
THE PEAK-OIL DEBATE [Internet]. 2020 Vision – The IEA puts a date on peak oil production; 2009 – [citado em 14 de fevereiro de 2014]. Disponível em: http://www.economist.com/node/15065719. 
TSRC (Transportation Sustainability Research Center). Innovative Mobility Carsharing Outlook – Carsharing Market Overview: Analysis and trends. Berkley: University of California, 2013. 
VICTORIA TRANSPORT POLICY INSTITUTE. Costing Critique – Critical Evaluation of the “Urban Mobility Report”. Victoria, 2013.

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Perspectivas para o setor de petróleo e gás numa economia de baixo carbono

  • 1. Copyright 2014, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014, realizado no período de 15 a 18 de setembro de 2014, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas no trabalho completo submetido pelo(s) autor(es). Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014. ______________________________ 1 MBA em Sustentabilidade (UFRJ), Jornalista – Sócia-diretora da AS Estratégia. 2 Doutoranda em Engenharia Ambiental (UFSC), MBA em Gestão Ambiental (UFPR), Bióloga 3 Mestre em Química Ambiental, Engenheiro Químico Pleno pela Núcleo Eng. Consultiva IBP2010_14 PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NUMA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO Julianna A. de C. A. Paula1, Isabela da C. Bonatto2, Luiz C. F. N. de Assumpção3 Resumo As mudanças climáticas e as emissões de gases do efeito estufa são temas que sempre se relacionaram com questões socioeconômicas e ambientais. No âmbito industrial, diversas são as atividades que contribuem para o aquecimento global, principalmente as relacionadas à indústria do petróleo e gás. Assim, considerando as premissas do desenvolvimento sustentável, estudos e projeções sobre a possível chegada do pico do petróleo, regulamentações governamentais e de mercado e inovações tecnológicas levarão nas próximas décadas essa indústria a adotar um novo modelo de negócio. Este artigo busca discutir e relatar as perspectivas para o setor de petróleo e gás numa economia de baixo carbono. Dentre as alternativas existentes atualmente para políticas de baixo carbono, existem legislações específicas, além de incentivos e financiamentos no setor de biocombustíveis e mobilidade urbana. Outras fontes de produção de etanol, otimização de equipamentos, a ampliação do uso de fontes renováveis de energia, conservação ou uso de forma mais eficiente dos recursos energéticos também são considerados caminhos importantes para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) no setor energético sem sacrificar o desenvolvimento econômico. Todavia, este é apenas o início de um processo que deverá prosseguir ao longo das próximas décadas, visando estimular o debate em busca de um consenso global para a construção coletiva de propostas de políticas públicas consistentes juntamente com pesquisas, para o reposicionamento da economia mundial frente aos desafios das mudanças climáticas. Essa tarefa deve ser compartilhada entre esforços públicos e privados, com ações responsáveis, participativas e inovadoras. Abstract Climate change and emissions of greenhouse gases are issues that currently relate to socioeconomic and environmental debates. In the industry sector, there are different activities contribute to the global warming, especially the activities related to the oil & gas industry. Considering the premises of sustainable development, forecasts and studies on the possible oil peak, governmental and market regulations and technology innovation will lead this industry to a new business model. This article seeks to discuss and report on the outlook for the oil and gas in a low carbon economy. Among the currently available alternatives for low-carbon policies, there are already certain laws and policies, and incentives and financing in the biofuels industry and the urban mobility. Other sources of ethanol production, equipment optimization, the expanded use of renewable energy sources, conservation or more efficient use of energy resources are also considered important ways to reduce GHG emissions in the energy sector without sacrificing economic development. However, this is only the beginning of a process that will continue over the coming decades, aiming to stimulate debate for a global consensus for the collective construction of proposed public policies consistent with research for the repositioning of the world economy face the challenges of climate change. This task must be shared between public and private efforts to responsible, participatory and innovative actions.
  • 2. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 2 1. Introdução Quando se fala em fazer a transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia de baixo carbono, duas questões-chave vêm à tona: segurança energética (pico do petróleo) e mudanças climáticas. São duas premissas polêmicas e relativamente incertas, mas que impactarão as empresas do setor de petróleo e gás em médio e longo prazo. O conceito de economia de baixo carbono surgiu com o desenrolar das conferências de meio ambiente promovidas pela ONU entre as décadas de 80 e 90 e se fundamenta numa economia onde os setores produtivos minimizam as emissões de gases do efeito estufa (GEE), principalmente o gás carbônico, através de eficiência e inovação de processos e na utilização de recursos energéticos de matriz renovável. A economia de baixo carbono parte do princípio de integrar a manufatura, as atividades primárias, o transporte, dentre outras atividades, a diferentes tecnologias que permitem a produção de energia e materiais com pouca emissão de GEE. Somado a isso, a economia de baixo carbono também procura fortalecer ações voltadas para reutilização e reciclagem de materiais e resíduos. De acordo com a IEA (International Energy Agency), em 2011, 35% das emissões de CO2 tinham como fonte o petróleo e 20% o gás natural. Assim, fica claro que a indústria de petróleo e gás possui grande responsabilidade no que se refere ao aquecimento global. Em paralelo, também há os impactos que o setor sofrerá ao longo das próximas décadas, na medida em que os países adotarem a economia de baixo carbono como modelo econômico. Este artigo tem por objetivo apontar tendências que já vêm sendo notadas nas economias dos países a respeito de atividades de baixo impacto nas emissões de carbono, bem como as perspectivas para o setor de petróleo e gás diante deste cenário. 2. Panorama das mudanças climáticas e emissões de CO2 As mudanças climáticas sempre foram discutidas em um contexto global em fóruns, congressos e conferências, mas ganhou força a partir da COP-3, no Japão, em 1997, com a assinatura do Protocolo de Kyoto pela maioria dos países desenvolvidos. No Protocolo de Kyoto o consenso foi de que os países industrializados se comprometeriam a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 5% em relação os níveis de emissão de 1990 até o período de 2012. Em 2012, na COP-18, no Qatar, o Protocolo de Kyoto foi prorrogado para 2020. Apesar de algum retrocesso, (os EUA, a Rússia, o Canadá e a Nova Zelândia se recusaram a ratificar o documento), a União Europeia inteira assinou o protocolo, tendo, inclusive, firmado o compromisso de reduzir as emissões em 20% em relação aos níveis de 1990. Na mesma COP ficou decidido que após 2020, quando o atual protocolo perder a validade, o novo acordo estabelecerá metas para todas as nações, incluindo países em desenvolvimento. Desde 1990 o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) vem publicando relatórios gerais e específicos sobre mudanças climáticas. Segundo o órgão, cientistas climáticos projetaram diversos cenários que apontam que as temperaturas globais subirão entre 1,1ºC e 6,4ºC até 2100, esperando uma elevação em torno de 4ºC. Em 2014 a organização divulgou o segundo capítulo do quinto relatório sobre o clima, apontando que é altamente provável a ocorrência de danos ligados a eventos naturais extremos em diferentes partes do planeta já na segunda metade deste século. Esses danos devem ocorrer mesmo que haja corte substancial de emissões de gases do efeito estufa nos próximos anos. O IPCC aponta que 70% das emissões são oriundas de 10 países, sendo os Estados Unidos e China responsáveis por 55% desse total. O órgão recomenda que as principais economias fixem um imposto sobre a emissão do dióxido de carbono, elevando o custo dos combustíveis fósseis de forma que impulsione o mercado de fontes de energias limpas, como a eólica e a solar, por exemplo. Ainda de acordo com o IPCC, os aumentos globais de emissão CO2 se devem principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, que continuará respondendo por quase 80% da energia global até 2040. Dados da US EIA (Energy Information Administration), apontam que as emissões de CO2 passarão de 31.2 bilhões de toneladas para 36.4 bilhões em 2020 e 45.5 bilhões em 2040. Isso de deve tanto a um forte crescimento econômico dos países em desenvolvimento, quanto à dependência dos combustíveis fósseis. Em 2011, a IEA (International Energy Agency) informou que 35% das emissões de CO2 tinham como fonte o petróleo e 20% o gás natural. De acordo com o Dr. Fatih Birol, economista-chefe da IEA, se as ações coordenadas para limitar o aumento da temperatura global a 2°C derem certo, a demanda mundial por petróleo em 2030 será de 89 milhões de barris diários. Caso nenhuma medida seja tomada, a demanda será de 105 milhões de barris por dia.
  • 3. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 3 3. O pico do petróleo e seu impacto na economia global Ainda que o preço do barril do petróleo tenha saído de 31 dólares em 2001 para pouco mais de 100 dólares em 2014, é consenso de que ele ainda seja uma energia barata. Em alguns casos, como nos EUA, a energia oriunda do petróleo é, artificialmente, ainda mais barata que em outras regiões do mundo. Isso se deve a enorme quantidade de subsídios que o setor recebe. Em 2006, por exemplo, os subsídios para o petróleo e gás totalizaram cerca de US$ 39 bilhões, fazendo com que déficits orçamentários do país fossem financiados por empréstimos no exterior (LOVINS, 2013a). Mesmo com a crise econômica que assola o mundo desde 2008, e com a consequente estagnação das atividades industriais de muitos países, a demanda por petróleo vem crescendo ano a ano. Segundo a IEA, a projeção de consumo global para 2014 é de pouco mais de 92 milhões de barris de petróleo por dia. Em janeiro de 2008, meses antes de estourar a crise mundial, a IEA havia projetado um consumo de 87.8 milhões de barris por dia. Quando se fala no constante aumento de consumo de petróleo, a expressão “pico do petróleo” imediatamente vem à tona. O tema é controverso, principalmente por conta de não se saber ao certo quando acontecerá. Na década de 50, o geólogo M. King Hubbert criou a teoria do pico de petróleo (Hubbert peak theory), que através da curva de Hubbert, postulava que a produção mundial de petróleo chegaria ao pico no início do século XXI, quando então entraria em queda e a extração nos novos campos não superaria o declínio dos campos mais antigos. Outros especialistas, no entanto, afirmam que o pico do petróleo global acontecerá entre 2020 e 2030. Apesar da divergência sobre quando acontecerá o pico do petróleo, é consenso de que, mais do que escassez do recurso, o principal problema a ser enfrentado é de que, logo, os países/empresas produtores de petróleo perderão a capacidade de extraí-lo de forma suficientemente barata para atender às demandas exponenciais de crescimento. Em médio prazo, o impacto no preço pode colocar o sistema econômico mundial e as economias orientadas para o mercado em colapso. Os EUA, por exemplo, alcançaram o pico do petróleo na década de 70. De acordo com o relatório da US EIA (Energy Information Administration) de novembro de 2013, a produção do mês anterior alcançou uma média de 7.8 milhões de barris/dia, enquanto as importações alcançaram a média de 7.5 milhões de barris/dia, fato que não ocorria desde 1995. Mais de 70% do petróleo tem como produto final o combustível que serve para alimentar frotas de transporte formadas, basicamente, por veículos movidos à gasolina, diesel e querosene. Nos EUA, por exemplo, são consumidos diariamente 13 milhões de barris de petróleo apenas para fins de transporte. Apesar de “apenas” 25% do petróleo ir para matérias-primas, produtos petroquímicos e materiais especializados, a possibilidade de proximidade do pico do petróleo acende o alerta vermelho para a indústria, uma vez que, direta ou indiretamente, o petróleo é usado em 95% dos produtos industriais. 4. Alternativas para o uso intensivo do petróleo Quando se fala em soluções para redução das emissões de CO2, no setor de petróleo e gás, antes de se pensar em fontes alternativas, é fundamental pensarmos na questão da eficiência. No caso brasileiro, cerca de 40% das oportunidades de redução das emissões resulta de iniciativas de melhoria da eficiência no uso de energia, como o aperfeiçoamento nos processos de manutenção (garantindo o uso otimizado dos equipamentos). Em relatório publicado pela consultoria McKinsey sobre economia de baixo carbono no Brasil, devido às economias geradas, o custo típico dessas oportunidades é negativo: -54/ tCO2e. A outra parte das oportunidades é baseada em investimentos em captura e armazenamento de carbono, que têm um alto custo (45/ tCO2e). As oportunidades de abatimento das emissões somam 20 MtCO2e, representando 35% das emissões estimadas no caso base em 2030, e 1% do total de abatimento possível no país (figura).
  • 4. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 4 Figura 1: Curva de custos de redução de gases do efeito estufa no setor de petróleo e gás para 2030 Ainda no campo da eficiência, há uma grande discussão em relação ao automóvel e o consumo de combustível. É inegável a importância da indústria automobilística para a economia mundial, porém, ao longo das últimas décadas, o processo de design fez com que os veículos ficassem mais pesados, mais complexos e mais caros. E em consequência, eles passaram a consumir ainda mais combustível. No entanto, em contraponto às inovações que tornaram os automóveis menos eficientes, centros de pesquisa e desenvolvimento trabalham há mais de 15 anos com protótipos de carros mais leves feitos, principalmente, de fibra de carbono. Esses carros possuem performance de combustível bastante superior aos carros de aço e utilizam, muitas vezes, combustíveis ambientalmente favoráveis, como energia elétrica e células de hidrogênio. 4.1. O potencial do mercado de biocombustíveis Somado à questão da eficiência na performance dos automóveis, especialistas afirmam ser fundamental o fortalecimento do mercado de biocombustíveis. Em 2009 a produção de biocombustível de primeira geração ultrapassou 100 bilhões de litros. Isso significou a substituição diária de 1,15 milhão de barris de petróleo, além da eliminação de 215 milhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa. Em termos percentuais, essa substituição é equivalente a quase 2% do petróleo destinado aos combustíveis. Para 2022, de acordo com a FAO, estima-se que a produção alcance 168 bilhões de litros de etanol e 41 bilhões de litros de biodiesel. Do ponto de vista tecnológico, os recentes avanços permitem que o etanol, o biodiesel e outros biocombustíveis possam fazer o mesmo que o petróleo. Do ponto de vista econômico, o mercado de biocombustível é altamente promissor. No caso dos biocombustíveis de primeira e geração, Estados Unidos (milho) e Brasil (cana-de-açúcar) são, respectivamente, os principais produtores de etanol. Em 2010, segundo a Renewable Fuels Assossiation, os produtores americanos fabricaram 49 bilhões de litros de etanol de milho, o equivalente energético a 0,6 milhão de barris de petróleo por dia. Apesar dos cenários econômicos positivos para os biocombustíveis de primeira geração, os impactos ambientais e sociais são bastante altos. Críticos alertam que a produção baseada em monocultura compromete o uso do solo em longo prazo e que o uso de práticas agrícolas não sustentáveis torna a produção do etanol uma ameaça à biodiversidade e à integridade de ecossistemas essenciais à proteção do clima. Críticos também ressaltam que a produção do etanol de milho e de cana-de-açúcar requer vastas extensões de terra que poderiam ser utilizadas para a produção de alimentos. Somado aos problemas ambientais, os biocombustíveis de primeira geração deixam um rastro de problemas sociais, principalmente no Brasil. Para que a cana-de-açúcar seja considerada uma alternativa sustentável, é preciso, fundamentalmente, que as condições de trabalho nos campos mudem. Em muitos casos o trabalho é degradante e, não raro, as fazendas são acusadas de trabalho análogo ao escravo. No entanto, com os avanços tecnológicos, estão entrando no mercado os biocombustíveis de segunda geração. Estes combustíveis são caracterizados por etanol produzido de fontes diversas de biomassa não usadas na alimentação humana. No caso brasileiro, há pesquisa voltada para a produção do etanol a partir do bagaço de cana-de-açúcar. O fato de ser utilizado um resíduo na produção de combustível faz com que não seja necessário aumento de área plantada, aumentando a produtividade por hectare. Além do bagaço de cana-de-açúcar, há pesquisas para transformar diversas outras fontes de biomassa em combustível, como algas (a mais promissora devido a sua produtividade), resíduos de colheitas, troncos, cascas e sabugos, dentre outros.
  • 5. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 5 4.2. Novos mercados: a alternativa para mobilidade urbana A necessidade de uma transição para a economia de baixo carbono não se restringe apenas a uma revolução nos combustíveis. Hoje um dos principais problemas das grandes cidades e grande emissor de CO2 diz respeito à (falta de) mobilidade urbana. Segundo estudo da Victoria Transport Policy Institute, o custo estimado do congestionamento nas cidades dos Estados Unidos, por exemplo, chega a U$121 bilhões por ano, superando, até, os custos gerados pelas as externalidades dos combustíveis. Oferecer novas formas de locomoção não economiza apenas petróleo, mas também cria novas oportunidades de negócios. O mercado global de compartilhamento de carros movimentou em 2013 US$ 937 milhões. Apesar de ainda estar em fase de consolidação, as tendências para este mercado apontam forte crescimento nos próximos anos, com projeção de faturamento de US$ 6,2 bilhões em 2020, de acordo com estudo Carsharing Programs, da empresa Navigant Research. Os impactos positivos do compartilhamento de automóveis vão desde uma melhor mobilidade urbana, passando pela redução na emissão de CO2, resvalando na indústria automobilística. No caso do Brasil, por exemplo, mesmo com uma pequena base de clientes, a operação do compartilhamento de carros já aponta uma tendência, onde, depois da oferta do serviço, 25% dos usuários optaram por vender seus automóveis. Nos Estados Unidos, que em janeiro de 2013 alcançou uma base de quase 900 mil clientes (crescimento de 24,1% em relação aos 12 meses anteriores), pesquisas apontam que o compartilhamento de carros pode evitar a compra de 1,2 milhões de carros até 2020. 5. Tendências e exemplos atuais de economias de baixo carbono Por conta tanto dos impactos ambientais, quanto da insegurança econômica gerada pela escassez do petróleo, o mundo passou a olhar com mais interesse para a economia de baixo carbono. Mesmo que se tenha alguns anos até a chegada do pico do petróleo, e algumas décadas de uso, a possibilidade cada vez mais realista da sua escassez está fazendo com que mercados e economias que dependam do petróleo busquem outras alternativas viáveis. Em relação às mudanças climáticas, além da pressão de diversos países e de regulamentações governamentais cada vez mais restritivas, ONGs como WWF e Greenpeace e uma forte cobertura da mídia têm levado o tema para pessoas comuns que, aos poucos, vão se engajando e cobrando governos por políticas mais sustentáveis e empresas por produtos menos impactante do ponto de vista social e ambiental. Assim, somando fatores ambientais a fatores econômicos e sociais, o mundo aponta para a tendência de uma economia baseada na baixa emissão de carbono para as próximas décadas. Em 2010, um relatório divulgado pela Força- Tarefa da Indústria Britânica Sobre o Pico do Petróleo e Segurança da Energia recomendava a aceleração imediata da “revolução do transporte verde”, a introdução da tecnologia de baixo carbono e testes com biocombustíveis sustentáveis para veículos particulares e também para a rede pública de transporte. Quando se fala em regiões referência em economia de baixo carbono, a Europa, principalmente a Comunidade Europeia, larga na frente. Além de regulamentações governamentais mais restritivas, a própria população é mais consciente em relação às questões de sustentabilidade. Em 2007 a União Europeia estabeleceu um acordo onde os países envolvidos se comprometem a ter uma matriz com, no mínimo, 20% de energia de fontes renováveis até 2020 e que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis sejam de origem biológica. A Holanda, com 16 milhões de habitantes, possui 18 milhões de bicicletas. No país, a bicicleta é um veículo sujeito às leis de trânsito e movimenta um mercado de 1,4 bilhões de dólares por ano. Já o governo alemão estabeleceu a meta de encerrar a geração de energia nuclear e reduzir a geração de energia termoelétrica. O plano oficial é que em 2050, 80% da matriz seja oriunda de matriz renovável, principalmente eólica, solar e biomassa. Masdar City, nos Emirados Árabes, é a primeira cidade construída com base no conceito de sustentabilidade. Dentre diversos critérios considerados na construção da cidade, chama atenção o sistema de transporte integrado, que utiliza uma rede inteligente e prioriza o uso da bicicleta e do transporte público movido à eletricidade. Já a Costa Rica, que utiliza ¼ dos recursos dos Estados Unidos per capita, oferece à sua população maior expectativa de vida, além de possuir a maior taxa de alfabetização do mundo. O país funciona com 99% de seus recursos de origem renovável e tem planejamento para ser carbono zero até 2021. De acordo com o relatório Climatescope de 2013, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil foi considerado como o mercado mais atrativo em toda a América Latina para investimentos em baixo carbono. Realizado pela consultoria Bloomberg New Energy Finance (BNEF) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o estudo aponta que de todos os países latino-americanos, o Brasil foi o melhor avaliado devido à sua boa pontuação nos quesitos de “negócios de baixo carbono e cadeia de valores de energia limpa” e “atividades de manejo de gases do efeito estufa”. O país tem mais de 108 empresas de vários setores que reportam suas práticas de eficiência energética e energia limpa, assim como tem instituições para capacitação, e centros de pesquisas que atendem a setores de baixo carbono. Além disso, possui 269 projetos sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Seja por fatores ambientais, por oportunidades de negócios, seja para minimizar a dependência do petróleo, ou mesmo para retardar o seu pico, a economia de baixo carbono vem, ainda que lentamente, entrando na pauta da política
  • 6. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 6 econômica global. A grande pergunta é o papel que as empresas de petróleo e gás terão a partir dessa nova configuração. Segundo o especialista Robert L Hirsch, por conta do pico do petróleo, uma empresa do setor precisará de 10 anos ou mais para fazer uma transição de modelo de negócios. No entanto, a questão ganha contorno mais importante quando se adiciona o fator climático, a eficiência da indústria automobilística, o fortalecimento dos biocombustíveis, principalmente os de segunda geração, a agricultura orgânica e o próprio amadurecimento das sociedades. 6. O papel das empresas de petróleo e gás numa economia de baixo carbono É fato que desde a década passada as empresas de petróleo e gás se posicionam como empresas de energia. No entanto, mais de 90% dos investimentos ainda vão para, basicamente, petróleo e gás, sendo a maior parte das pesquisas voltada para a extração de petróleo em condições cada vez mais complexas, a custos cada vez mais altos. Somado a isso temos os Estados Unidos que credita sua recuperação econômica à controversa, e ambientalmente impactante, produção de gás de xisto, que pode levar o país à independência energética. Sem contar, ainda, que China e Argentina, duas das maiores reservas do gás, sequer iniciaram sua produção em escala comercial. Não se espera que devido à economia de baixo carbono o petróleo deixe de ser consumido ou que uma empresa do setor deixe de existir. Mas é fato que elas deverão iniciar o processo de remodelagem de seus negócios de maneira que outras fontes energéticas façam parte de seu portfolio e a transição para um modelo de energia renovável, limpa e sustentável seja viável. A pergunta é quando essa transição irá acontecer, já que o tempo, neste caso, é um fator crítico. O caminho aparentemente mais óbvio para as empresas de petróleo e gás é o investimento na pesquisa e produção de biocombustíveis. O mercado é promissor e as opções são diversas, desde o etanol de milho e cana-de- açúcar, passando pela biomassa e até mesmo o biodiesel oriundo de vísceras do peru e fraldas descartáveis usadas! Se pensarmos no boom dos carros elétricos, outro mercado também provável para as empresas de petróleo e gás é o da energia renovável, principalmente eólica e solar. Apesar de o investimento destinado a esse tipo de energia ser pequeno (em comparação ao volume destinado ao petróleo e gás), empresas do setor já investem forte na geração de energia renovável. Além dos investimentos prováveis em fontes alternativas ao petróleo, a mudança no modelo de negócios de uma empresa do setor deve ir além uma simples troca de matriz energética ou substituição na matéria prima dos mesmos produtos. É preciso observar a mudança no comportamento dos consumidores e das sociedades e perceber como essa mudança impacta a empresa. Os problemas se tornaram mais complexos. Questões ambientais são, hoje, apenas, um dos fatores a ser considerados quando o tema é sustentabilidade ou economia de baixo carbono. Questões de ordem econômica e social também viram fatores críticos. Não adianta simplesmente levar para o mercado um combustível limpo, por exemplo, quando o problema macro diz respeito à mobilidade. Assim como a idade da pedra não acabou com o fim das pedras, os cenários apontam para a possibilidade de que a era do petróleo não acabe com o fim do petróleo. Perdas bilionárias (com projeção futura para perdas trilionárias caso nada seja feito) ocasionadas pelas mudanças climáticas, eficiência de processos e uso intensivo da tecnologia associados a novas demandas sociais podem fazer com que nas próximas décadas, o uso do petróleo caia não por um fator ambiental, no caso a queda na oferta, mas por um fator econômico, no caso a queda de demanda. É claro que, caso a queda na demanda por petróleo e gás se concretize, o processo será bem lento. Mas para que essa possibilidade seja viável, assim como o sucesso na transição para a economia de baixo carbono, dois fatores são críticos. O primeiro diz respeito à própria criação do mercado de produtos/serviços que suportem uma cadeia produtiva e tecnológica de baixo carbono. Neste caso é fundamental que centros de pesquisa e desenvolvimento aliem inovação e eficiência de processos para que os produtos tenham a mesma qualidade dos similares oriundos de combustíveis fósseis a preços competitivos. Somado a isso, é fundamental o investimento em infraestrutura. No caso dos fornecedores de combustíveis, por exemplo, é preciso investir em infraestrutura para que o biocombustível seja comercializado em qualquer posto de abastecimento, assim como seja possível o abastecimento de carros elétricos. O segundo ponto crítico para o sucesso da economia de baixo carbono diz respeito à maturidade das sociedades, as opções individuais de cada cidadão e o papel do governo nas regulamentações e em assegurar o desenvolvimento sustentável dos países. Mais do que subsídios à energia e combustíveis limpos, é fundamental que os governos criem políticas públicas que contenham a expansão urbana desenfreada, que tirem das ruas veículos velhos e ineficientes e fortaleça o uso de transporte público através de planejamento que inclua taxa sobre o uso de transporte individual em grandes centros de circulação. Além disso, em escala global, é vital, que os governos e órgãos ambientais cheguem a um acordo a respeito do mercado de carbono, de forma que reduza as incertezas e os riscos dos investimentos.
  • 7. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 7 7. Conclusão Todos os dados, estudo e pesquisas apontados neste artigo procuraram andar pareados com as tendências sociais, econômicas e ambientais da atualidade. Eles constituem apenas o início de um processo de análise que deverá prosseguir ao longo dos próximos anos, visando estimular o debate para a construção coletiva de propostas de políticas públicas e regulamentações de mercado consistentes para o reposicionamento da economia global frente aos desafios das mudanças climáticas. Essa tarefa deve ser compartilhada entre esforços públicos e privados, em uma agenda positiva que requer, do setor empresarial, principalmente da indústria de petróleo e gás, uma liderança responsável, participativa e inovadora e dos governos mundiais, o consenso em torno da questão. Será fundamental a integração de órgãos independentes como o IPCC, governos mundiais, o terceiro setor e sociedade de forma a criar consonância e uma abordagem sistêmica para os esforços de mitigação de emissões de GEE, adaptação. E apesar da necessidade de se caminhar para uma economia de baixo carbono e termos a liderança da comunidade da Zona do Euro, é inegável que ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente em países que entraram na rota do consumo há pouco tempo. Com isso, o ponto mais crítico da empreitada diz respeito à maturidade das sociedades e às escolhas individuais. Em um mundo que caminha para os nove bilhões de habitantes em 2030, não há mais espaço para que as economias cresçam fundamentadas em consumo e obsolescência programada. Por mais que haja demanda reprimida em países em desenvolvimento, é preciso repensar essa relação de consumo e os impactos gerados por ele. Este acaba sendo, afinal, o grande esforço para que a transição para uma economia de baixo carbono seja bem sucedida. Já que, mais do que responsabilidade de políticas e governos, esta é uma responsabilidade individual. 8. Referências CARVALHO, E. Alemanha quer ter energia limpa equivalente a 14 vezes Belo Monte [Internet]. Rio de Janeiro: G1 Natureza; [atualizado em 03 novembro 2011; citado em 13 de fevereiro de 2014]. Disponível em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/11/alemanha-quer-ter-energia-limpa-equivalente-14-vezes-belo- monte.html. DUTCH CYCLING EMBASSY. Folder institucional [Internet]. [citado em 14 de fevereiro de 2014]. 2 páginas. Disponível em: http://www.dutchcycling.nl/library/file/DUTCH1107_folder_eng_2(2).pdf. ENERGY POLICY INFORMATION CENTER [Internet]. World economy runs – and stalls – on oil; 2009. [Citado em 26 de abril de 2014]. Disponível em: http://energypolicyinfo.com/2009/11/world-economy-runs-and-stalls-on-oil/. FAO (Food and Agriculture Organization). Biofuels. In: Agricultural Outlook 2013. Rome: OECD/FAO, 2013. IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2010. Paris: OECD/IEA, 2010. IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2011. Paris: OECD/IEA, 2011. IEA (International Energy Agency). Highlights. In: World Energy Outlook 2013. Paris: OECD/IEA, 2013. IEA (International Energy Agency). Oil Market Report. Paris: OECD/IEA, 2008. INTERNATIONAL ENERGY AGENCY [Internet]. IEA releases oil market report for January; 2014 - [Citado em 20 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.iea.org/newsroomandevents/news/2014/january/ieareleasesoilmarketreportforjanuary.html. IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). Climate Change 2014: Impacts, adaption and Vulnerability. Geneva, 2014. ITPOES (Industry Taskforce on Peak Oil & Energy Security). 2010 The Oil Crunch: A wake-up call for the UK Economy. London, 2010. LOVINS, A. B. Reinventando o fogo: soluções ousadas de negócios na nova era da energia. São Paulo: Cultrix, 2013. LOVINS, L. H; COHEN, B. Capitalismo climático. São Paulo: Cultrix, 2013.
  • 8. Rio Oil & Gas Expo and Conference 2014 8 MARTIN, R. Carsharing Services Will Reach Nearly $ 6.2 billion in Revenue by 2020 [Internet]; Navigan Tresarsh: 2013. [citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.navigantresearch.com/newsroom/carsharing- services-will-reach-nearly-6-2-billion-in-revenue-by-2020. MCKINSEY & COMPANY. Caminhos para uma economia de baixa emissão de carbono no Brasil [Internet]; São Paulo: McKinsey LatAm Office; 2009. [Citado em 23 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.mckinsey.com.br/sao_paulo/carbono.pdf. MONBIOT, G. When the oil will run out? [Internet]. London: The Guardian; [atualizado em 15 de dezembro de 2008; citado em 14 de fevereiro de 2014]. Disponível em: http://www.theguardian.com/business/2008/dec/15/oil-peak- energy-iea. POGGETTO, P. D. Serviço de compartilhamento de carro começa a ter espaço no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro: G1 Auto Esporte; [atualizado em 07 de abril de 2013; citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/04/servico-de-compartilhamento-de-carro-comeca-ter-espaco-no-brasil.html. PRIVAT, L. Car sharing could replace 1.2M car purchases in the U.S. in 2020 [Internet]. Versailles: GPS Business News. [atualizado em 10 de fevereiro de 2014; citado em 29 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.gpsbusinessnews.com/Car-Sharing-Could-Replace-1-2M-Car-Purchases-in-the-U-S-in-020_a4627.html. RFA (Renewable Fuels Association). 2010 Ethanol Industry Outlook. RFA, Washington, 2010. SAVIO, R. O futuro do nosso planeta depende de 58 pessoas. [Internet]. São Paulo: Envolverde. [atualizado em 28 de abril de 2014; citado em 28 de abril de 2014]. Disponível em: http://envolverde.com.br/ambiente/o-futuro-de-nosso- planeta-depende-de-58-pessoas. TAMPA BY TIMES [Internet]. Obama says U.S. produces more oil than it imports for the first time in nearly 20 years; 2014 – [Citado em 20 de abril de 2014]. Disponível em: http://www.politifact.com/truth-o- meter/statements/2014/jan/17/barack-obama/obama-says-us-produces-more-oil-it-imports-first-t. THE PEAK-OIL DEBATE [Internet]. 2020 Vision – The IEA puts a date on peak oil production; 2009 – [citado em 14 de fevereiro de 2014]. Disponível em: http://www.economist.com/node/15065719. TSRC (Transportation Sustainability Research Center). Innovative Mobility Carsharing Outlook – Carsharing Market Overview: Analysis and trends. Berkley: University of California, 2013. VICTORIA TRANSPORT POLICY INSTITUTE. Costing Critique – Critical Evaluation of the “Urban Mobility Report”. Victoria, 2013.