Este documento contém várias fábulas de Jean de La Fontaine. A primeira fábula fala sobre uma cigarra que cantava no verão enquanto uma formiga trabalhava para armazenar comida para o inverno. A segunda fábula trata de duas rãs, onde uma se vangloria de seu tamanho e acaba estourando. A terceira fábula mostra como um corvo perdeu seu queijo para uma raposa enganadora.
3. Num dia soalheiro de Verão, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso,
uma Formiga passou por perto. Vinha afadigada, carregando
penosamente um grão de milho, que arrastava para o formigueiro.
- Por que não ficas aqui a conversar um pouco comigo, em vez de te
afadigares tanto? – perguntou-lhe a Cigarra.
- Preciso de arrecadar comida para o Inverno – respondeu-lhe a
Formiga. – Aconselho-te a fazeres o mesmo.
- Por que me hei-de preocupar com o Inverno? Comida não nos
falta... – respondeu a Cigarra, olhando em redor.
A Formiga não respondeu, continuou o seu trabalho e foi-se embora.
Quando o Inverno chegou, a Cigarra não tinha nada para comer. No
entanto, viu que as Formigas tinham muita comida porque a tinham
guardado no Verão. Distribuíam-na diariamente entre si e não tinham
fome como ela. A Cigarra compreendeu que tinha feito mal...
Moral da história:
Não penses só em divertir-te. Trabalha e pensa no futuro.
Fábulas de La Fontaine
4.
5. Estavam duas Rãs à beira de um charco quando a mais nova
comentou:
- Comadre, hoje vi um monstro terrível: era maior do que uma
montanha, tinha chifres e uma longa cauda.
- O que viste foi apenas o Boi do lavrador - esclareceu a Rã mais velha.
- E, além disso, não é assim tão grande... Eu posso ficar do tamanho dele.
Ora observa.
Dito isto, começou a inchar e a esticar-se muito, muito...
- O Boi era tão grande como eu? - perguntou ela quando já estava tão
grande como um Burro.
- Oh, muito maior! - respondeu a jovem Rã.
Então a Rã mais velha respirou fundo e inchou, inchou... até que
rebentou.
Moral da história:
Mantém-te sempre no lugar que te corresponde.
7. Mestre Corvo, numa árvore poisado,
No bico segurava um belo queijo.
Mestra raposa, atraída pelo cheiro,
Assim lhe diz em tom entusiasmado:
- Olá! Bom dia tenha o Senhor Corvo,
Tão lindo é: uma beleza alada!
Fora de brincadeiras, se o seu canto
Tiver das suas penas o encanto
É de certeza o Rei da Bicharada!
Ouvindo tais palavras, que feliz
O Corvo fica; e a voz quer mostrar:
Abre o bico e lá vai o queijo pelo ar!
A Raposa o agarra e diz: - Senhor,
Aprenda que o vaidoso se rebaixa
Face a quem o resolve bajular.
Esta lição vale um queijo, não acha?
O Corvo, envergonhado, vendo o queijo fugir,
Jurou, tarde de mais, noutra igual não cair.
TraduçãoeadaptaçãodeMariaAlbertaMenéres.
EdiçõesASA.
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9. Estava uma Formiga junto a um regato, quando foi apanhada pela
corrente. Uma Pomba, que estava pousada numa árvore sobre a
água, viu que ela estava quase a afogar-se e teve pena dela. Para
que se pudesse salvar, atirou-lhe uma folha. A Formiga subiu para
cima da folha e flutuou em segurança para a margem do regato.
Pouco depois, apareceu um caçador e apontou para a Pomba. A
Formiga, percebendo o que estava para acontecer, picou-o no pé.
O caçador sentiu a dor da picada e moveu-se ruidosamente.
Alertada, a Pomba voou para longe e salvou-se.
Moral da história:
O melhor agradecimento é o que se dá quando os outros mais
precisam de nós.
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11. Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho
começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em
cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir.
- Perdoa-me! - gritou o ratinho - Perdoa-me desta vez e eu nunca o
esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim?!
O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o
deixou partir.
Dias depois, o Leão caiu numa armadilha. Como os caçadores o
queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram
à procura de um meio para o transportarem.
Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão
se encontrava, roeu as cordas que o prendiam.
E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais.
Moral da história:
Não devemos subestimar os outros.
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13. Há muito, muito tempo, os Ratos reuniram-se em assembleia para
decidirem em conjunto o que fazer em relação ao seu inimigo comum:
o Gato.
Depois de muito conversarem, um jovem rato levantou-se e
apresentou a sua proposta:
- Estamos todos de acordo: o perigo está na forma silenciosa como o
inimigo se aproxima de nós. Se conseguíssemos ouvi-lo, podíamos
escapar facilmente. Por isso, proponho que lhe coloquemos um guizo
no pescoço.
A assembleia recebeu estas palavras com entusiasmo. Foi então que
um Rato Velho se levantou e perguntou:
- E quem é que vai colocar o guizo no pescoço do Gato?
Os ratos começaram a olhar uns para os outros, e não houve
nenhum que se oferecesse para levar a cabo semelhante tarefa.
Então o Rato Velho terminou, dizendo:
«Propor uma solução é fácil, o difícil é pô-la em prática.»
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15. Um Galo velho e sábio estava empoleirado nos ramos de uma árvore.
Nisto, aproximou-se uma raposa que lhe disse em tom meloso:
- Irmão, agora há paz no reino dos animais e, por isso, já não sou tua
inimiga. Desce do ramo para que possamos celebrar a nossa amizade
com um beijo. Depressa, porque hoje tenho muito que fazer.
- Irmã Raposa - replicou o Galo - esperemos pelos dois Galgos que se
aproximam. De certo que também eles ficarão contentes com essa
notícia e, assim, poderemos beijar-nos uns aos outros.
- Adeus! - respondeu a Raposa. - Estou cheia de pressa. Celebraremos
a nossa amizade noutro dia.
Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pode, furiosa com o
Galo e cheia de medo dos cães.
Moral da história:
É mais fácil combater os malvados com as suas próprias artimanhas.
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17. O Rato do Campo convidou o seu amigo da cidade para gozar
durante alguns dias os bons ares do campo. O Rato da Cidade
aceitou.
Quando estavam a esgaravatar a terra à procura de comida, o
Rato da Cidade disse ao amigo:
- Vives uma vida cheia de dificuldades e de trabalhos. Eu, na
minha casa, vivo na abundância e estou rodeado de conforto e de
luxo. Se quiseres vir comigo, partilho contigo tudo isso.
O Rato do Campo ficou maravilhado com a ideia e aceitou.
Quando chegaram, o Rato da Cidade pôs à frente do amigo muitas
iguarias: pão, feijões, figos secos, mel, uvas e um grande bocado de
queijo que retirou de um cesto.
- Realmente tens razão! – exclamou o Rato do Campo, encantado
com tanta comida obtida sem trabalho. – Julgava que a minha vida
no campo era boa, mas agora vejo que, afinal, vivo na penúria.
CONTINUA
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18. Dito isto, estendeu o focinho, pronto para abocanhar o naco de
queijo. Foi então que alguém abriu a porta. Assustados, correram o
mais depressa que puderam e esconderam-se num buraquinho tão
pequeno que mal tinham espaço para respirar.
Quando o perigo passou prepararam-se para recomeçar a
refeição. Pouca sorte! Voltou a entrar alguém na sala que não os
pisou por um triz...
Assustado e cheio de fome, o Rato do Campo disse ao amigo:
- Apesar de me teres preparado um festim, tenho que me ir
embora. Há aqui demasiados perigos: prefiro esgaravatar no campo
a minha comida e viver em segurança e sem medo.
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20. Era uma vez um cão que encontrou um osso.
Abocanhou-o e correu para casa para o saborear com
calma. Pelo caminho, teve que passar por cima de uma
tábua que unia as duas margens de um riacho.
Nisto, olhou para baixo e viu o seu reflexo na água.
Pensando que era outro cão com um osso, resolveu
roubar-lho. Para o assustar, abriu a boca e arreganhou-lhe
os dentes. Ao fazê-lo, o osso caiu na água e foi arrastado
pela corrente.
Moral da história:
Contenta-te com o que tens e não cobices o que pertence
aos outros.
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22. O sr. Pombo, o carteiro,
trouxe um bilhete à Cegonha,
em folha de pessegueiro,
que ela soletrou, risonha:
Dona Raposa, a Vossência,
envia muito saudar,
aguardando a comparência
de Vossência no jantar.
Que às tantas do dia tal
do corrente, se efetua
no Retiro do Pardal,
na rua da Catatua.
Não diga nada ao correio
e creia-me ao seu dispor.
Traje: simples de passeio.
R.S.F.F.
(Responda se faz favor.)---- Fábulas de La Fontaine
23. É claro: à hora marcada,
no dia Tal, no bilhete,
Dona Cegonha, apressada,
lá seguiu para o banquete.
Mas foi uma deceção,
pois a Raposa, matreira,
fez servir a refeição
numa pedra de ribeira...
E, enquanto a pobre Cegonha
achava o caso bicudo,
a Raposa, sem vergonha,
tratava de comer tudo!
Mas a Cegonha, à saída,
despediu-se em tom amigo:
- Gostei muito da comida!
Almoce amanhã comigo!
De manhãzinha, a Raposa,
sempre cheia de apetite,
não quis saber de outra coisa
senão daquele convite. Fábulas de La Fontaine
24. - Sim senhora! Bela mesa! –
gritou logo, satisfeita –
Cheira que é uma beleza!
Há de me dar a receita...
Bem digo eu, afinal,
e a colegas dos melhores,
que dona de casa igual
não há nestes arredores!
Pôs então o guardanapo,
pensando de olhos em alvo,
que havia de encher o papo
graças a mais um papalvo...
Já a Cegonha servia,
prazenteira, o seu almoço
numa bilha muito esguia
e funda que nem um poço.
Só um bico, desta vez,
podia chegar ao fundo...
Foi o que a Cegonha fez:
rapou tudo num segundo.
E fula, de olhar em brasa,
a Raposa, como louca,
teve de voltar a casa,
fazendo cruzes na boca.
Vingança é coisa mesquinha!
Mas na vida quem faz mal
paga às vezes a continha
com juros e capital...
Fábulas de La Fontaine