O documento descreve a cenografia da peça teatral "Breath", de Samuel Beckett, realizada por Daniela Thomas na 7a Bienal do Mercosul em 2009. A cenografia consistia em lixo empilhado iluminado, refletindo a obra minimalista de Beckett. Thomas usa a cenografia para expressar artisticamente obras literárias de forma única. Sua sétima colaboração com Beckett demonstra o amor dela pelo teatro do absurdo.
1. Universidade Federal do Rio Grande do sul
Universidade de Caxias do Sul
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
SEMINÁRIO TÓPICOS ESPECIAIS II
Professores Formadores:
Félix Bressan e Regina Veiga
Sônia Maris Rittmann
Pólo POA 1 – UFRGS
Arte, Espaço e Cenografia
Breath, de Samuel Beckett, cenografia de Daniela Thomas
7ª Bienal do Mercosul, 2009
2012
2. Arte, Espaço e Cenografia
“Cenografia é o tratamento do espaço cênico.
Cenário é o que se coloca nesse espaço. Assim, não
há espetáculo teatral sem cenografia, mas pode
haver sem cenário.” Clóvis Garcia
Podemos dizer que Cenografia consiste no projeto e realização dos elementos
cênicos, de um espetáculo teatral, cinematográfico ou televisivo. A Cenografia é
composta pela construção que define a cena, o espaço, o enquadramento. O termo pode
variar dependendo do contexto: Mise en Scene ou Cenário, para teatro, e Set, para o
cinema.
A Cenografia pode ocorrer em dois espaços: natural, quando construída com
uma intervenção técnica, ou artificial, quando se tratar de uma paisagem ou um
ambiente. Quando temos um cenário em duas dimensões, a cenografia, em três
dimensões, constitui-se por toda a área do palco.
Se no início a Cenografia servia apenas como ilustração do texto, hoje ela tem
uma função própria para esclarecimento da obra (texto e ação humana). A Cenografia
tem como tarefa o estabelecimento de “um jogo de correspondências e proporções entre
o espaço cenográfico e o texto”.
Na história da Cenografia houve muitas mudanças, entre as mais significativas
podemos citar: o entendimento dos gregos, da cenografia como a arte de adornar o
teatro; no Renascimento, como um desenho ou pintura de tela ao fundo e em
perspectiva ou como decoração em estuque e madeira; no Barroco, com o uso de
máquinas a serviço da ilusão e, atualmente, como a ciência e a arte da organização do
palco e do espaço teatral.
“A Cenografia é uma composição visual do espetáculo (teatral,
cinematográfico, televisivo), da mesma forma como o figurino e a luz. Seus elementos
são a cor, o volume e as formas.”
Cenógrafo(a) escolhido: Daniela Thomas
Daniela Thomas nasceu no Rio de Janeiro, em 1959. Vive e trabalha em São
Paulo. Cenógrafa, diretora de cinema e teatro e roteirista. Desenvolve trabalhos em
diversos países da America Latina, na Europa e nos Estados Unidos. Como cineasta,
escreveu e co-dirigiu Linha de Passe (melhor atriz em Cannes, 2008, melhor direção,
montagem e atriz em Havana, 2008), Terra Estrangeira, O Primeiro Dia e um dos
episódios de Paris Je T'Aime, todos com Walter Salles. Começou sua carreira de
cenógrafa e figurinista nos anos 80, como artista residente do La MaMa Experimental
Theater Company em Nova Iorque, onde desenhou, entre outros, o cenário e o figurino
da premiére de "All Strange Away de Samuel Beckett (o primeiro dos sete textos de
Beckett que cenografou). Desde então criou os cenários de inúmeros espetáculos de
teatro e ópera em vários países. Dentre seus muitos prêmios como cenógrafa, destaca-se
o Golden Triga, da Quadrienal de Cenografia de Praga.
Abaixo, algumas cenografias da artista:
3.
4. Incursões no mundo da fashion week:
São Paulo Fashion Week inverno 2010, tema “Linguagens”
cenografia Daniela Thomas (cenógrafa) e Felipe Tassara (arquiteto)
http://jadervalejo.wordpress.com/2010/01/17/tag-clouds-e-pictogramas-a-bienal-por-dani-thomas-e-
felipe-tassara/
Cultura pop e cibernética, pictogramas com ícones da cultura pop e da Era digital se
misturam na fascinante criação de Daniela Thomas para um evento de moda. Nuvens de
Tags, florestas de sinalizações, uma gigantesca malha de monitores de LCD suspensos
no ar, interligados e interativos, que mostram em tempo real imagens buscadas na web
de palavras selecionadas pelos visitantes. Arte contemporânea a serviço da indústria da
moda.
5. Cenografia escolhida:
Breath, de Samuel Becket, cenografia de Daniela Thomas
7ª Bienal do Mercosul, 2009
"É a partir da CURTAIN que o espetáculo de fato começa. Não o objeto
físico CURTAIN, mas o separador PALCO/PLATEIA, que transforma
BREATH, não numa instalação, mas num espetáculo de teatro e, portanto, tão
mais notável por isso. Se o público entrar no espaço e logo de cara ver o
entulho no chão, o efeito que Beckett pretendia - o absurdo da duração do
evento, para um espetáculo teatral - se perde completamente. E BREATH
tomaria outra forma, a de escultura, instalação, perdendo sua característica
original de peça de teatro, seu impacto. O entulho não tem nenhum poder em
BREATH fora da encenação como um todo. O entulho é personagem, parte da
obra, não a obra em si. Percebi, portanto, que a tal CURTAIN precisa existir.
Naturalmente, a ideia de uma cortina física, que se abre a cada início de
"espetáculo", não me apetece minimamente, mas pensei na solução de
uma divisão física que funcionasse como uma cortina apenas no sentido de
limitação espacial e encobrimento do entulho. E que tivesse uma forte
conotação de elemento teatral." - Daniela Thomas, comunicação via e-mail
do 11 de agosto de 2009.
Poderia escolher várias obras de Daniela Thomas, escolhi essa por julgar ser a
mais interessante do ponto de vista estético e simbólico. Breath, obra do dramaturgo
Samuel Beckett, a menor de suas peças, tem uma força incontestável, pós-moderna,
contemporânea. Soa o sinal, três vezes, abrem-se as cortinas, o cenário é desolador, lixo
empilhado iluminado, são apenas 40 segundos de duração da cena, e as cortinas voltam
a se fechar. Isso é Beckett. Isso é Daniela Thomas. Tivemos o privilégio de ver a obra
na 7ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre no ano de 2009. Daniela Thomas, quem nos
trouxe mais esse Beckett, foi responsável pela identidade visual da peça teatral. A
cenografia é parte indissociável da obra, teatro e arte. Daniela Thomas usa da cenografia
para se expressar artisticamente, transforma as informações e referências do mundo e da
literatura de forma expressiva, única. É a utilização desse espaço que torna a cenografia
um campo mais próximo das artes visuais. É o espaço a relação mais evidente entre a
cenografia e as artes visuais. O caso de amor entre Daniela e Beckett não é novo. Essa é
a sétima obra de Beckett em que ela é responsável pela cenografia. O teatro do absurdo
faz parte de sua história de vida e de sua carreira desde a primeira peça ainda ao lado de
Gerald Thomas.
6. Referências:
Arte, Espaço e |Cenografia
Disponível em http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=19506
Cenografia. Museu Nacional do Teatro.
http://museudoteatro.imc-ip.pt/pt-PT/coleccoes/Maquetes/ContentDetail.aspx
RAMOS, Flávia Martins. Cenografia.
Disponível em http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2010-1/cenografia/cenografia_2010-1.pdf
URSSI, Nelson José. A linguagem cenográfica.
http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/C%EAnica/Pesquisa/a_linguagem_cenografica.pdf