O livro Contexto do Contestado é um resgate histórico a base de rima e verso (poesia), do conflito armado acorrido entre os anos de 1912 a 1916 entre os Estados do Paraná e Santa Catarina.
2. O Contexto do Contestado
Prefácio
Foram inúmeras as causas que acenderam o estopim que
levou a “Guerra do Século, o famoso contexto do contestado. Após a
queda da monarquia, o país estava completamente falido e sem
nenhum recurso financeiro, porque os Imperadores sempre adotaram
o regime Feudalista que enforcava mortalmente o panorama de
igualdade social, levando os menos favorecidos a terem somente uma
opção, trabalhar como escravos com uma mínima bonificação mensal
aos protegidos do regime imperialista”.
A “lei do ventre livre” foi a primeira grande derrota dos
senhores de engenho, que tiraria de suas mãos o filete de ouro, a
futura mão-de-obra produtiva. Em 1888 a princesa Isabel legaliza a
“lei Áurea”, abolindo todo e qualquer regime de escravidão. O que
levou os senhores de engenho ao completo desespero, e
consecutivamente ao princípio de sua falência econômica, privando-os
dos luxos nos salões da corte imperial. Pois, a partir daquele
momento humanitário histórico, teriam de pagar por seus serviços
braçais, não obrigá-los a trabalhar e nem colocá-los no tronco para
serem açoitados.
E na calada da noite em 1889, os parlamentares, políticos
provincianos, empresários e comerciantes, ministros e os marechais
das forças armadas compram dos Estados Unidos da América um
regime republicano corrompido, corrupto e capitalista, que levaria
toda a população brasileira a mais completa miséria social e
econômica. A monarquia cai e toma posse o poder republicano.
Parlamentares, ministros e os marechais julgavam ter em suas mãos
um país rico e próspero, mas encontram um país em completa falência
econômica e social. E, outra vez compram dos Estados Unidos da
América a idéia de venda de títulos coronelistas aos senhores de
engenhos, visando economicamente tirá-los desse buraco sem fim.
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3. O Contexto do Contestado
Em meio a todo esse caos da república, em 1893 o almirante
Custódio de Melo revolta-se tendo sob o seu comando vários navios
de guerra ancorados em pontos estratégicos do Rio de Janeiro.
Convoca todos os poderes na época a lutar por novas eleições
republicanas, sob a ameaça de detonar os seus canhões contra tudo e
todos. A revolta armada força o Presidente Marechal Floriano
Peixoto e parlamentares, a convocarem eleições urgentemente,
contendo no ambiente à podridão da manipulação de conveniência e o
cheiro podre da corrupção.
Os Estados Unidos fazem a sua parte no acordo, faltando
somente o poder republicano fazer agora a sua parte. Nesse momento
histórico se inicia o maior de todos os pecados capitais: Empresas
públicas e empresas privadas que comandavam a economia são
vendidas aos empresários americanos.
O país, que já estava naufragado na completa miséria
econômica e social, acaba se transformando praticamente numa
sucata ambulante e quase sem nenhum valor comercial. Os
empresários americanos como sempre, são filantrópicos e
humanitários com o resto do mundo, assim como as nuvens de
gafanhotos são com as plantações, firmam um contrato com o poder
republicano na construção de uma ferrovia do estado de São Paulo ao
estado do Rio Grande do Sul, cobrando a simples bagatela de vinte
contos de réis por quilômetro construído, depois reajustado por
quarenta contos de réis, além de terem a posse de quinze quilômetros
em ambos os lados da ferrovia, onde poderiam explorar todos os
recursos naturais e povoar com emigrantes europeus.
Só que o governo republicano brasileiro se esquece que,
dentro dos limites da ferrovia construída, e nesses trinta quilômetros,
já moravam famílias que herdaram as propriedades de seus
antepassados, pela própria lei natural e verdadeira eram os donos, não
precisando de nenhum papel para provar que aquelas terras eram
suas.
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4. O Contexto do Contestado
Na época da construção, chegam uma autoridade do
governo, representante do grupo Farquhar e os seus pistoleiros,
dizendo que a terra onde nasceu o seu bisavô, seu avô, seu pai, ele e
todos os seus filhos não era mais sua, porque tinham comprado do
governo e teria de sair das terras, porque já tinham vendido aos
emigrantes estrangeiros.
Caros leitores imaginem só como fica a cabeça de um
simples caboclo, nascido e criado no sertão brasileiro. Com toda
certeza, deixaria qualquer um que não tem sangue de barata, furioso e
perderia a sua própria razão e até poderia levar o acontecimento às
últimas conseqüências. E foi o que realmente aconteceu,
desencadeando a “Guerra do Século”.
Veremos agora o outro lado da questão, a emigração de
europeus no sul do país. O grupo Farquhar tinha feito um negócio da
China, cria na Europa uma grande propaganda enganosa na venda de
acres de terra num país de futuro. Os acres são comercializados a
peso de ouro aos emigrantes, sendo que já estavam desanimados com
a crise e a guerra em seu continente, havendo diversas nações falidas
ou a beira da falência social e econômica.
Os emigrantes chegam ao sul do país em banheiras
flutuantes, que o grupo chamava-o de navio, viajando na mesma
situação deplorável dos navios negreiros que trouxeram escravos do
continente africano. E quando os emigrantes chegam ao sul do país,
dão de cara com a dura realidade, vendo à sua frente uma terra
praticamente despida de recursos naturais, logicamente com um solo
de grande riqueza em recursos agropecuários.
Mas mesmo assim, eram terras brutas, que com certeza
teriam muito trabalho para deixá-la igual à terra dos sonhos. E no
decorrer de sua árdua batalha diária, em tornar a terra produtiva,
surgem caboclos revoltados, dizendo que aquela propriedade era sua
e a queriam de volta, e que se fosse preciso iriam até as últimas
conseqüências.
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5. O Contexto do Contestado
Caros leitores, com quem os emigrantes iriam reclamar? O
grupo Farquhar já estava construindo a ferrovia Madeira Mamoré no
Amazonas, tiram e levam centenas de cargas de madeiras nobres em
navios para o continente europeu e americano e que os seus legítimos
proprietários se contentem com o osso que lhes deixaram. Iriam
reclamar com o poder republicano na época? Sendo que os
parlamentares e políticos provincianos estavam mais preocupados em
gastarem a sua fortuna com a alta sociedade parisiense, com o status
de novos milionários. Reclamar com o Presidente da Republica na
época? O mesmo estava mais preocupado em saber qual cobra seria a
que lhe morderia primeiro, porque as tentativas de golpes de estado
eram uma constante.
O presidente tinha uma nação falida em suas mãos, mesmo
assim a concorrência era enorme. Como se não bastassem os
parlamentares boicota o seu governo, ainda um conjunto de
empresários brasileiros, europeus e americanos patrocinaram
revoluções centralizadas, visando desestabilizar o atual governo.
Isso sem contar com a rivalidade entre os marechais e
almirantes nas forças armadas brasileira. Naquela época o nosso país
enfrentava um verdadeiro caos interno, transformando-se numa “torre
de babel” e tendo em seu poder uma grande “caixa de pandora”.
O contrato do governo republicano com o grupo Farquhar
consta que, o contratante forneceria toda mão-de-obra bruta na
construção da ferrovia e para o desmatamento, nos estados de São
Paulo até o Rio Grande do Sul.
Os cargos administrativos ficariam com os empresários
americanos, além de pagar vinte e após quarenta contos de réis,
cedendo o direito de explorar o transporte na linha férrea por vinte
anos, tendo exclusividade e direito na renovação do contrato.
Como no Brasil existia pouca mão-de-obra bruta, devida ser
tarefa dos escravos libertos e o governo não querer que essa bomba
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6. O Contexto do Contestado
explodisse em suas mãos, pois os escravos libertos não eram
confiáveis para a realização do serviço.
A opção que lhe restou, foi fechar um acordo com marginais
da sociedade de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e os
jagunços de Conselheiro na guerra de Canudos, garantindo-lhes que
seriam postos em liberdade se cumprissem a sua parte.
Mas ao final da ferrovia, deixam um terço jogado a sua
própria sorte e na completa miséria num sertão desconhecido,
enquanto os parlamentares, republicanos e o grupo Farquhar saem
transportando muitos baús abarrotados de ouro.
A opção que restou a esses miseráveis, excluídos da
sociedade foi adaptar-se nessa terra estranha, trabalhar para os
emigrantes europeus ou servir de jagunços a algum coronel. Aos
demais, restou ir para a terra que vertia leite e mel, melhor dizendo, o
Arraial de Bom Jesus do Taquaruçú.
Um dos principais pivôs no conflito do século foi o coronel
Albuquerque - intendente da vila de Curitibanos. O coronel era um
forte comerciante e dono de terras, possuindo uma fortuna bastante
considerável. Era um homem que tinha ambição pelo poder
provinciano e também um temperamento violento, se fosse
contrariado. Era portador de uma mania obsessiva em perseguição
política, julgando que os seus adversários políticos queriam lhe tomar
o poder. E para complicar mais a situação o coronel era presidente da
câmara dos deputados, vice-governador e compadre do coronel
Felippe Schimidt. Se o coronel fosse pelo menos um pouco inteligente
e se estivesse preocupado com a miséria social da vila, com toda
certeza não teria acontecido o conflito no contestado.
Os coronéis Felippe Schimidt e Vidal Ramos, governadores
de Santa Catarina, também tiveram uma expressiva participação nos
assassinatos dos errantes do século, por terem enviado tropas de
soldados estaduais para exterminar, a até então fanática irmandade
pacífica. Outro ponto crucial foi à cobrança tributária, que gerou mais
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7. O Contexto do Contestado
revolta entre os pequenos fazendeiros e comerciantes, ocasionados
pelo desleixo de ambos os governos na demarcação de limites entre
os dois estados sulistas. À frente dessa ociosidade dos governos
paranaense e catarinense, acaba se transformado numa terra de
ninguém, onde os pequenos fazendeiros e comerciantes teriam de
pagar os seus impostos duas vezes.
Outros governantes que acenderam o estopim da revolta
foram os Dr. Afonso Alves de Camargo e Carlos Cavalcânti do
Paraná, que também ficaram ociosos com a demarcação de limites
entre os estados, devido não cobrar dos parlamentares e do presidente
da república uma solução definitiva para o problema.
E para alterar mais o fato conflituoso, Dr. Afonso prestava
serviços de assistência jurídica ao grupo Farquhar, causa principal na
revolta dos caboclos no contestado. O governador Afonso trabalhava
pelos seus próprios interesses e particulares, ficando ocioso com a
crescente miséria social no sertão, empurrando os sertanejos
excluídos da sociedade corrupta e capitalista, a uma guerra impossível
de vencer. Em suas visões, nem que para isso os cordeiros levassem o
caso até as últimas conseqüências, foi o que de fato aconteceu, a
guerra do século.
A onipresença da Igreja Católica Apostólica Romana nos
sertões da área contestada foi outro motivo muito marcante que
agravou o conflito. O santo, Frei Rogério, fez com toda certeza, a sua
parte como apóstolo de Cristo, mas uma simples andorinha sozinha
não faz verão diante da imensidão do sertão catarinense. Levaria
vários anos para o santo padre visitar os mais distantes vilarejos e o
povo ficaria exposto e à mercê de diversas superstições e de mitos
espirituais, que dominavam a crendice popular do humilde caboclo.
Como toda a população do contestado encontrava-se
esquecida pela Igreja Católica, há muito tempo, se entregam às
crendices populares diante de sua fragilidade espiritual. Nesse
momento entram os benzedores e curandeiros, principia com o monge
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8. O Contexto do Contestado
João Maria D’Agostin que peregrinou seis anos após a Revolução
Farroupilha, entre os anos de 1851 a 1856. O monge era uma pessoa
muito inteligente, receitava poções e chás naturais, aconselhava o
humilde sertanejo e também fazia previsões. O santo monge segundos
os depoimentos na época foi em direção à Sorocaba no estado de São
Paulo, após nada mais consta de concreto.
Devido ao abandono da região do rio Iguaçu até os campos
de Palmas, o ditador paraguaio Francisco Solano Lópes decide
invadir e tomar o território em Novembro de 1864, visando
presentear uma cortesã alemã que conheceu em Paris, inclusive
possuir um eixo de ligação com o Oceano Atlântico, facilitando o
comércio da nação emergente.
O conflito se estende até Novembro de 1870, com a morte
de Solano Lópes. Vários oficiais do alto comando, anos mais tarde
viriam a proclamar a república no Brasil. Evitando novas invasões
estrangeiras, povoam a região com emigrantes europeus,
simpatizantes e familiares de políticos, inclusive centenas de oficiais e
soldados que participaram na Guerra do Paraguai. Outro fato
importante, nesse conflito foi os milhares de escravos negros, com a
promessa de ganhar a sua liberdade.
Nos anos de 1893 a 1895, acontece a Revolução Federalista,
nascida no Rio Grande do Sul, tendo como objetivo de derrubar o
marechal Floriano Peixoto da presidência da república, também que
destituísse do cargo o presidente do estado Júlio de Castilhos,
concedendo-lhes o sagrado direito político e financeiro na província,
além de estar aliado ao saudosismo Monárquico.
Aparece na área contestada o monge de nome Atanás
Marcaff, muito idêntico ao monge João Maria, o qual os sertanejos
acreditavam ser o mesmo santo. O monge Atanás também era muito
inteligente, benzia, receitava poções e chás naturais, aconselhava e
fazia muitas previsões aos sertanejos. Os mais sépticos que não
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9. O Contexto do Contestado
acreditavam ser o monge João Maria, julgavam que era a encarnação
do santo profeta.
Aproveitando as peregrinações dos monges: João Maria
D’Agostin e Atanás Marcaff, ou João Maria de Jesus na área do
conflito, inesperadamente surge Miguel Lucena Boaventura, vulgo
José Maria, intitulando-se irmão do santo profeta, mas na realidade
era um benzedor místico vindo da vila de Campos Novos. José Maria
era mais um visionário e fanático com as idéias monarquistas e
revolucionárias, tinha um pouco de instrução intelectual, sabia usar as
palavras ao que lhe convinha, conforme os seus revolucionários
pensamentos. Sendo assim, incentivou o coração doentio e místico
que os desesperançados sertanejos tinham, desencadeando a guerra
do contestado. O José Maria foi um mal necessário no instante e que
marcou o tempo de um povo esquecido pela Igreja e pelo poder
republicano.
A notícia da construção da ferrovia percorreu os quatros
cantos do país, sendo um colírio para os olhos de grileiros de terra e
coronéis inescrupulosos. Como se não bastassem às ameaças intimida
tórias de pistoleiros do grupo Farquhar, surgem diversos grileiros
patrocinados por inúmeros coronéis, que os ameaçavam de morte se
não deixassem as suas propriedades. E após, vendiam a um preço
insignificante ao grupo Farquhar, com isso aumentando a tensão no
contestado.
A miséria social na área contestada levava a população
menos favorecida a um mar de sacrifícios diários, assim como todos
os matutos caboclos do sertão. Muitos perderam a posse de terras, e
ainda os republicanos queriam tirar também a sua dignidade, como ser
humano. Pois na longa história do Brasil, todos os seus governantes
olhavam sempre as suas ambições e gula pelo poder, e naquela época
não iria ser diferente da atual.
Certos estavam os ditados populares antigos: “Todos os
políticos são cegos porque nunca vêem as necessidades e os anseios
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10. O Contexto do Contestado
da nação” ou “Todo político não tem cérebro porque depois de eleito
esquecem as propostas de campanha e quem os elegeu”. O sertanejo
não tinha nenhuma perspectiva melhor de vida, porque os
governantes não lhes davam essa opção, tendo somente a escolha em
sobreviverem as suas vidas miseráveis no presente que tinham à
frente.
Caros amigos, as causas da guerra do contestado foram
muitas, mas esse acontecimento histórico deixou inúmeras seqüelas
que até nos dias de hoje nos apavora, mediante tanta injustiça sofrida
por esse povo do sertão, com a sua humildade intelectual, sua
simplicidade de vida que não continha quase nenhuma ambição. A
meu ver, meus amigos, os eternos causadores da guerra do
contestado montaram a mentira do século ao resto do país, forçando
os jagunços a lutar por seus direitos violentados, construindo uma
grande armadilha para eles em seus mínimos detalhes, jogando-os na
descrença popular por mais de noventa anos.
Meus amigos, para que vocês tenham uma explícita idéia dos
fatos, a imprensa dos Estados Unidos e os países da Europa deram
muitas manchetes em seus jornais, como uma injustiça imperdoável ao
que se estava fazendo com o povo humilde do sertão. Eram políticos
corruptos e empresários desumanos que jogavam na lama o
verdadeiro sentimento humano. Uns poucos historiadores são
merecedores de créditos, se esforçaram ao máximo para reverter à
situação, e hoje o Brasil e todo o mundo conhecem a história que
anteriormente era: “Os errantes do século” e agora conhecida como:
“Os injustiçados do século”.
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11. O Contexto do Contestado
A Paisagem
Encravada em zona temperada
Numa área mais fria do país
Às vezes com muita geada
Lugar de um povo contente e feliz.
É nessa amada terra
Com muita plantação
Que vimos planaltos e serras
E todo tipo de criação.
Aqui aparecem os serras acima
Identificando seus habitantes
Que vivem o seu gostoso clima
Em afazeres diários e constantes.
Dando o visual a paisagem
Vê-se de tudo nessa região
Campos limpos, sujos e pastagem
Pinheiros, imbuías e muita vegetação.
Foi nesse rico terreno
Hoje quase todo devastado
Vendidos pelo antigo governo
Que se deu o contestado.
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12. O Contexto do Contestado
Povoamento
Nesta terra do índio Brasileiro
Kaigang, Xocleng e até Guarani
Conquistado pelo estrangeiro
Como terra de ninguém, chegam aqui.
Vinha gente de todo lado
Portugueses, espanhóis e bandeirantes
Não só para achar caminho para o gado
Mas também, escravizar o índio errante.
E neste vai e vem, o gado levando
Vão aparecendo grandes pousadas
As vilas vão se formando
Nestas incansáveis caminhadas.
Nestes ranchos e tropeiros
Caminhavam todos os anos
Os incontáveis aventureiros
De onde surgiu Curitibanos.
Nesta grande caminhada
Que começa e nunca acaba
Segue a enorme manada
Para as feiras de Sorocaba.
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13. O Contexto do Contestado
O Homem do Contestado
Quando procuramos a origem
Do homem do contestado
Embrenhado em mata virgem
O Caboclo é encontrado.
Proletário do campo, roça e sertão
Lá estava o Sertanejo, Caipira acanhado
Lento ao pensar e falar, afeito em superstição
Corajoso, instintivo e violento, leal e honrado.
O rosto queimado, pele pardacenta e trabalhador
Não enjeitava empreitada, era caçador e mateiro
Criador, peão, agregado, soldado e até lenhador
Amava sua família, vivia sempre faceiro.
Um bom trago de cachaça e um cigarro de palha
Gostava de exibir-se e mostrar sua valentia
Na cintura um bom revolver, faca e até navalha
Contar mentiras em suas façanhas, bem que ele sabia.
Morava num rancho tosco, sujo e enegrecido
Coberto com taboinhas e sem nenhuma divisão
Por tudo o que lhe fazia, ficava logo agradecido
Era hospitaleiro, nunca faltava café e chimarrão.
Amante de música campeira dançava chote e vanerão
Místico e religioso, eterno devoto de João Maria
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14. O Contexto do Contestado
Na capelinha guardava a imagem do Santo para proteção
Este é o Caboclo que em nosso sertão vivia.
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15. O Contexto do Contestado
Os Monges
Em seus ensinamentos
Os Monges pregavam
Dar bom tratamento
A todos que ali chegavam.
Sempre com muita pureza
Tratar bem o próximo e animais
Ter muito amor á natureza
Para ela ser farta demais.
Cultivar a terra com carinho
Preservar a pureza das águas
Para matar a sede no caminho
Evitando dores e futuras mágoas.
A doutrina era moralista
Pregada ao povo do sertão
Evitar todo mal, fantasma ou realista
Que prejudicava o coração.
Com grande simplicidade
Em muitas caminhadas que fizeram
Enchiam-se de felicidade
A todos que com ele tiveram.
Todos os que os seguiam
Pediam curas e bênçãos
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16. O Contexto do Contestado
Pois assim eles pretendiam
Voltar para casa curados e sãos.
Vários Monges apareceram
Cá pra banda do sertão
Todos eles padeceram
Com o povo deste rincão.
O primeiro João Maria
Profeta e curandeiro
Nos lugares onde dormia
O povo erguia um cruzeiro.
O segundo João Maria
Profeta e milagroso
Nos lugares onde dormia
O povo erguia um cruzeiro.
Outro era José Maria
Que pregava liberdade
Curava todos com sua magia
Propagava sempre a igualdade.
Para entender a história
Do santo monge José Maria
É bom refrescar a memória
A rebeldia que dele surgia.
Fotografias do Monge faziam
Não importa os donos
Pois nem fotógrafos existiam
Em toda a região de Curitibanos.
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17. O Contexto do Contestado
É muito impressionante dizer que Monge José Maria
Foi soldado do exercito e até praça da policia
No entanto ninguém provava nada aquilo que dizia
Tentando desmoralizá-lo pondo em tudo malícia.
O governo não sabendo como explicar
O descaso sofrido pelo povo deste sertão
Tenta impingir falsa moralidade até no falar
Do Monge que só agia sem ódio no coração.
Assim os Coronéis tinham motivo de sobra
No desempenho desta grande disputa
Ter o governo compromisso prá cumprir a manobra
Em afastar de suas terras, Sertanejos em luta.
Tudo não passava de trama
Para continuar no poder
Justificando assim a fama
De nunca lutar pra perder.
Mesmo o povo estando longe
Sem escola e nem hospital
Buscava o santo Monge
A cura para o seu mal.
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18. O Contexto do Contestado
Os Monges Segundo os Sertanejos
Vejam só o que cantavam
Os trovadores em seus versos
Assim eles contavam
Não existia Monges perversos.
Maraviá queli feiz
Inda tão pra si contá
Inscrevi eim deiz livru
Memo sim, não caberá.
Eli é um santu cá Du campu
Mio padinho São Juão Maria
Faiz cura, faiz reza
Cum palavrá qui lumiá.
Beim pur oje só cantemú
Eim lovô a Juão Maria
Eli é um santu cá di fiesta
Padruerô da famía.
Veio u mundu Juão Maria
Caminhô nossu sirtão
Judá nóis na vida
I fazendu a devução
Insinô nóis tê rispeitu
I zelá da criaçãou.
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19. O Contexto do Contestado
Baitá migo, pai i sinhô
Juão Maria iera siu nomi
Ieli andavá nesti mundu
Iensinava todus sier homê.
Pisava nossu carrero
Só faziá quiera bão
Iera santu, bão veínho
Tinhá bastanti curaçãou.
Pur sumbrero, só carrigava
Um simpre barretinhu
Ié qui tudá sua furtuná
Iera um simpre bastãozinhu.
Juão Maria cuandu campava
Du fuguinhu qui cindia
U povu qui rudiáva
Tuda cinza recoíá.
Eli tê bunitu nomi
Qui si chamá Zé Maria
Tudu mundu tá piensandu.
Traiz pur nomi Zé Maria
Primu irmão di Juão Maria
Chega genti, vorta genti
Duma grandi romariá.
Lá vêim eli maxandinhú
Num cavalu sanhaçú
Sua andança é mudá
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20. O Contexto do Contestado
Pru lugá tuaquarucú.
Carecemú é di chéfi
Qui sirá Zé Maria
Eli tudu ciertará
Não demorá bastanti dia.
Beim purissu, titicá quieru, titicá ispéru
Vô mimbora, vô cumpri a miá sina
Procurá otras terá qui tão livri
À lonjura cá di Santa Catarina.
Zé Maria não era tolú
Era homê já di calu
Tê u pelu xamuscadu
Não fací imbascá-lú
Tumô rumu pra vitá-lú.
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21. O Contexto do Contestado
Os Monges na Visão dos Coronéis
Agora leia esses versos
Encomendados pelos Coronéis
Para contar outra história
E mostrar que eram perversos
Os Monges que aqui tiveram.
Somente assim justificavam
As próprias safadezas
Comprados, os capangas cantavam
Os seus versos, sem grandezas.
Foi assim que descreveram
Com mentiras descabidas
A vida que aqui tiveram
Os Monges em suas lidas.
O primeiro era o cacique
O grande São João Maria
Saia de qualquer lugar
Lá noutro lugar
Quando juntava gente
O povo fanatizando
De crenças ele enchia.
O Monge era um finório
Um homem de muitos tatus
A fama que aqui deixou
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22. O Contexto do Contestado
Se soma de muitos fatos
Por isso é considerado
Um santo, por esses matos.
Mas em vez outro aparece
O senhor José Maria
Espalhando que era irmão
Do profeta João Maria
O povo saiu correndo
Como vaca atrás da cria.
Entocou-se em Taquaruçú
Logo fez um fanatismo
Ele, três virgens e dezenas de famílias
Fundam um comunismo
Que daí, foi o começo
Do famoso Jaguncismo.
Muito logo encrespou
Nossa grande autoridade
Já saiu reunindo forças
Acampando na cidade
Intendente Albuquerque
Era contra a irmandade.
Para voltar a monarquia
Era mais o que berravam!
Nossas leis republicanas
Era o que mais desprezavam
O governo e os funcionários
Era quem eles odiavam.
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23. O Contexto do Contestado
Era um mundo de forasteiro
Estão aqui já acampado
Albuquerque o intendente
Diz que esta preocupado.
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24. O Contexto do Contestado
Monge José Maria
José Maria quem diria
Passa a ser vitima
Da última, mas cruel
Tirania do coronel.
O famoso intendente
Pensando ser prudente
Telegrafa ao Presidente
Dizendo ter vindo de longe
Um tal de santo monge
Que andava pelas cercanias
Chamado José Maria.
Dizendo ser farsante
Um viajante errante
Monge aventureiro
Que neste chão brasileiro
Prega a todos monarquia
E com certeza sempre dizia.
É preciso eliminar
O seu poder no sertão
Pois passa a dominar
Reunir grande multidão.
O monge que prega a paz
Chama o povo e lhe diz
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25. O Contexto do Contestado
Que fugindo também se faz
Um povo viver feliz.
Assim manda comparsa
Confabular com o monge
Pedindo que se desfaça
O ajuntamento e vá pra longe.
Evitando uma guerra
Irá pra outro lugar
Aonde todos tenham terra
Sem ser preciso lutar.
Assim o grande profeta
Parte logo dali
Acompanhado, se projeta
Pros campos de Irani.
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26. O Contexto do Contestado
A Fuga
Pelos sertões desta terra
Onde todos se abrigavam
Existiam negociatas
Subindo e descendo a serra.
Os governos só queriam
Repartir os seus quinhões
Não importando o resultado
Do conflito já esboçado
Com as balas dos canhões.
De repente: o entrevero
Pra banda do interior
O intendente só queria
Por fim ao seu desespero
Mandando o povo partir
Lá pros lados de Irani.
O Monge que tudo sabia
Curava e até benzia
Dizia ao povo temente
Que seria lugar tenente
No combate inconseqüente
Que logo ali chegaria.
Lá foram os mais valentes
Fugindo do intendente
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27. O Contexto do Contestado
Na certeza de encontrar
Um lugar santo pra ficar.
Mas de repente
Um mensageiro traz noticia
Da chegada tão urgente
Do batalhão de policia
Pra guerra começar.
Em campos de Irani
O entrevero aconteceu
O Paraná que vinha prender
Os caboclos acampados
Acabou por conhecer
a morte de seus soldados.
Depois da luta acabada
Partiram em retirada
Levando seu chefe e guia
Enquanto caboclos choravam
A morte de José Maria.
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28. O Contexto do Contestado
Causas da Guerra
Vamos enumerar as causas desta guerra
Fixação de limites interestaduais
Acirrada disputa pela posse de terra
E exploração de riquezas naturais.
Por causo disso todos se apresentaram
Peões, lavradores, posseiros, fazendeiros
Por um pedaço de terra eles lutaram
Parecendo um bando de aventureiros.
Não esquecendo o messianismo
Que resultou de diversas razões
Assim nascia no sertão o fanatismo
Que se espalhou por todos os rincões.
É muito interessante se pensar
Que o caboclo no sertão vivia...
Vivia em paz sempre a cantar
Enquanto a tropa atrás dele corria.
Não se pode entender o fato
Dizer que houve guerra de caboclos
Os soldados enfiados no mato
Enfrentando um bando de loucos.
Vejam a grande e tremenda covardia
Os caboclos lutam com canivetes e espadas de pau
LUIZ ALVES Página 28
29. O Contexto do Contestado
O exército com aviões, canhões e artilharia
Mas mesmo assim, o exército várias vezes se deu mal.
LUIZ ALVES Página 29
30. O Contexto do Contestado
A Guerra Santa
Nesta guerra santa
Predita pelo Monge e profeta
A fé, então era tanta
O povo a guerra decreta.
No sertão corria boatos
Da volta de João Maria
E o povo todo dizia:
É bom aguardar os fatos.
Ergueu-se em Taquaruçú
A grande cidade santa
De um povo seminu
Apesar da fome, ainda canta.
No final da grande contenda
Os fanáticos se espalharam
Levando junto com sua tenda
Amigos e parentes que restaram.
Já em terras Catarinenses
Cresce a crença na ressurreição
E todos se preparam
Esperando uma nova visão.
E lá em Perdizes grandes
Todos rezavam ao padroeiro
LUIZ ALVES Página 30
31. O Contexto do Contestado
Que traga o exército encantado
E seja deles o santo guerreiro.
Foi logo se formando
A grande confraria
E o povo sempre rezando
pela volta de José Maria.
Durante todas as tardes
Formam-se os quadros santos
Onde todos unidos
Em rezas e muitos cantos
Gritavam com grande zumbidos
Viva! Viva a monarquia!
E também o santo José Maria.
Mas neste sertão agitado
Praxedes - o delator
Traindo o povo coitado
Vai correndo ao intendente
E pede que seja telegrafado
Prá o senhor governador.
Não satisfeito se empenha
Em levar Frei Rogério
Pede que este venha
Desfazer o grande mistério.
Mas o povo cada vez mais crente
Não desiste do seu intento
E por esta razão muito gente
Adere ao movimento.
LUIZ ALVES Página 31
32. O Contexto do Contestado
Fracassou o missionário
Que tentou dissuadir o povo
Do seu costume diário
Desrespeitando o emissário
Manoel, o chefe novo
Considerando-o adversário
Chamou-o de cachorro e corvo.
Não entendendo aquela história
O Frei pergunta angustiado:
Euzébio por que estás aqui?
Por São Sebastião, o rei da glória.
Após a partida do Frei
Avisos chegam a cidade santa
Dizendo que tropas legais
Vinham impor nova lei
Onde todos seriam iguais.
Diante do fato contado
Manoel faz previsão:
O Monge com exército encantado
Vem salvar os sertanejos
E cumprir sua missão.
Estavam todos preparados
Esperando para começar
O entrevero anunciado
Entre eles e os soldados
E vitória então cantar.
LUIZ ALVES Página 32
33. O Contexto do Contestado
Mas em véspera da guerra
Manoel com naturalidade
Como chefe e senhor da terra
Achando não ser maldade
Queria com as virgens dormir.
Diante da imoralidade
Levou uma surra de vara
Perdendo a santidade
E com vergonha na cara
Tratou de logo sumir.
LUIZ ALVES Página 33
34. O Contexto do Contestado
Maria Rosa
A jovem Maria Rosa
Era alegre e independente
Não sabendo ler, era prosa
Nos momentos importantes
Estava sempre à frente.
Gostava de animais
Dominava toda a gente
Nas procissões matinais
Ia com a bandeira importante.
Levando a grande bandeira
Guiava o povo temente
Nas lutas pela clareira
Pra a vitória daquela gente.
Como chefe e visionária
Comandava o povo guerreiro
Dando ordem diária
Com ajuda de conselheiros.
Como juíza do povo
Ordenava o que fazer
Se chegasse algum caminho
Tinha que ficar ou desaparecer.
Fêmea do divino
LUIZ ALVES Página 34
35. O Contexto do Contestado
Pecado do homem
Fé em desatino
Prova o que se tem
A gula no destino.
Foste Afrodite
Heras do apocalipse
A quem acredite
Lançou seus olhos de lince
Lutando contra o injusto
Matando e morrendo a todo custo.
Foste à tentação no sertão
O pecado do divino
Dominava homens sem razão
Guerreiros e jagunço
Impondo no reduto
Leis e obediências
Caboclos matutos
Feras sem temências
Na guerra do século.
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36. O Contexto do Contestado
A Santa Religião
Pra ser soldado de José Maria
Tinha que ser purificado
Dessa forma ele até podia
Pedir graças e ser perdoado.
Dentro do acampamento
Precisava ter nome de santo
Para escapar do tormento
Participava das rezas e do canto.
O respeito á família era prática usual
Quem desrespeitasse uma mulher
Onde os usos de rígida moral
Perderia a vida como a lei ali requer.
Quem a lei desobedecesse
Sofreria penalidade bem visível
Receberia logo que o chefe ordenasse
Sete varadas com vara flexível.
Todos os moradores de longe
Que contrários se faziam
As idéias pregadas pelo Monge
Suas propriedades perderiam.
Este era o tipo de religião
Que o sertanejo em sua rebeldia
LUIZ ALVES Página 36
37. O Contexto do Contestado
Seguia no recôndito sertão
Em nome do Monge José Maria.
A religião era muito simples
De grande e real beleza
Amar e entender a Deus
Por obra da natureza.
Esse era o ensinamento
Do Monge João Maria
um homem de bom conselho
E de grande sabedoria.
Porém a doutrina do Monge
Da guerra ficou ausente
Olho furava olho
Dente arrancava dente.
A doutrina de João Maria
Foi posta logo de lado
Na guerra não há perdão
E nada é tolerado
Não serve pra guerreiro
E menos pra soldado.
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38. O Contexto do Contestado
Festejos de Tradição
Fiéis a sua tradição
Todavia aconteciam os festejos
Onde felizes e sem coração
Vibravam os sertanejos.
De festas mais caseiras
Estava a de Santo Antônio
Onde as moças casamenteiras
Buscavam o matrimônio.
E como se não bastasse
As fogueiras de São João
Para que melhor ficasse
Não faltava música e quentão.
A do divino era a mais empolgante
Onde se elegia o novo imperador
Fato para festa muito importante
Ter mo próximo ano continuar.
Em roda de prosa, versos e trovas
São Pedro e São Paulo também relembram
Todos se punham á prova
Subir no pau de sebo e prêmios ganhar.
Não esquecendo o santo guerreiro
Sendo por todos o mais venerado
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39. O Contexto do Contestado
São Sebastião, um caboclo padroeiro
Em toda a campanha do contestado.
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40. O Contexto do Contestado
O Intendente do Holocausto
Aumentando a fé na ressurreição
E do monge José Maria
Em Curitibanos decrescia
A fama do intendente
Pois enquanto a noite caia
Foi pego nas cercanias
Com a mulher de um comerciante.
Levando um tiro do caixeiro
O intendente correu
Apesar de não ser certeiro
O político estremeceu
E na vila então ficou
Jurando ser mentira
O fato que aconteceu.
Assim o Coronel
Desmentindo o seu papel
De amante enternecido
Além de novo adversário
O intendente atrevido
Voltou-se contra o vigário
Para ver-se bem sucedido.
Coronel do holocausto
Destruiu e matou a paz
Levando caboclos a guerra
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41. O Contexto do Contestado
Como folhas ao vento
Nada mais trás
Apaga a mancha na terra
E revive os errantes do século.
Coronel incoerente
Ser sem consciência
Faz o mal sem tenência
O rosto da morte
Retrato do inferno
De tudo o que sente
Raiz do eterno.
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42. O Contexto do Contestado
Ataque a Taquaruçú
Pra atacar Taquaruçú
Vários planos esboçados
Atacariam do norte e do sul
Os sertanejos por todos os lados.
Mas os caboclos bem armados
Na mata escondidos
Esperavam os soldados
Pra serem bem sucedidos.
Matutos saiam de todo lado
Copa de árvores, fundo da mata
Dentro do banhado
Gritavam como fera
E sem muito entrevero
Os soldados em desespero
Fogem em grande alarido
E outra vez...
O reduto não foi invadido.
Sendo atacado novamente
Por tropas do coronel Dinarte
Que por dias manteve o bombardeio
Destruindo casas, velhos, mulheres e crianças
Fogo igual ao demônio
Pondo em fuga os jagunços
Indo pra outro reduto
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43. O Contexto do Contestado
Gritam os vitoriosos
Lamentam os derrotados
Porque caiu o Taquaruçú.
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44. O Contexto do Contestado
Incêndio de Curitibanos
Em 26 de setembro
Um grupo de bandoleiro
Viajando o dia inteiro
Da vila se aproximou.
As vésperas do ataque final
Da vila todos fugiram
Uns foram pra Blumenau
Outros em Lages surgiram.
Apenas o delegado
A vila defendia
Porém sendo cercado
As pressas também fugia.
A vila quase vazia
Foi pelos Jagunços tomada
Dando viva a monarquia
Iniciaram a grande queimada.
Destruíram a intendência
E a casa do Coronel
Sem nenhuma resistência
Queimaram vendas e papel.
Depois da grande queimada
Os Jagunços abandonaram
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45. O Contexto do Contestado
A vila sobressaltada
Levando tudo que puderam.
A felicidade era tanta
Que partiram em disparada
Vingaram a cidade santa
Pela intendência arrasada.
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46. O Contexto do Contestado
Reduto Santa Maria
Por ordem de Adeodato
Mudou-se o acampamento
Porém ele com pouco tato
Deu novo rumo ao movimento.
Neste novo reduto
Com paz e calmaria
Ficaria o matuto
No lugar de santa Maria.
Neste lugar sagrado
Veio gente de toda terra
Pra o acampamento armado
Nas íngremes ladeiras da serra.
Naquele vale famoso
Um povoado surgiu
Guiado por chefe ardiloso
Sua lei a risca seguiu.
No meio deste sertão
Levantou-se grande cruzeiro
E a igreja de São Sebastião
Seu santo guerreiro.
No meio do ajuntamento
Apareceu muita doença
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47. O Contexto do Contestado
Dizimando o acampamento
Provocando grande matança.
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48. O Contexto do Contestado
Combate de Caraguatá
Após a grande vitória
Houve muita euforia
Todos contavam história
Das lutas naquele dia.
Com a confiança no reduto
E o sertanejo radiante
Começa a cobrar tributo
Até do fazendeiro mais distante.
Fazendas são assaltadas
Muita gente assustada
Fazendeiros maltratados
Ou simplesmente fuzilados.
O pânico enche toda região
Famílias fogem pra cercanias
Havia muita inquietação
Nas serras, campos e pradarias.
De repente a noticia
Uma mudança repentina
Novo ataque da policia
Mudaria aquela sina.
A virgem Maria Rosa
Puxava a procissão
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49. O Contexto do Contestado
Ela sempre garbosa
Indicava a direção.
Em busca de paz e harmonia
O sertanejo caminhava
De noite e também de dia
Parecendo que nunca chegava.
Em fila sempre andavam
Velhos, jovens e crianças
Enquanto isso cantavam
Renovando as esperanças.
Sempre tocando cargueiro
Lá se foi o sertanejo
Num cortejo faceiro
Pra o esperado lugarejo.
As ordens dadas eram francas
Formar uma nova cidade
Por banda de Pedras Brancas
Um lugar de felicidade.
Nova vila se percebe
Entre colinas e matagal
De palha cada casebre
Tendo uma praça central.
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50. O Contexto do Contestado
A Rendição
A frente de tanta penúria
Faltando alimentos e munição
Sobrando sofrimentos e angustia
E começa haver a rendição.
De Campos Novos ao Serrito
Os fanáticos caminhavam
De todos ouviam-se os gritos:
Que os Jagunços se entregavam.
Apesar da debanda
Entregando-se ao Setembrino
Toda gente era tratada
Com descaso e sem destino.
Alguns eram libertos
Outros aprisionados
Muitos não se sabe o certo
Eram na mata assassinados.
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51. O Contexto do Contestado
Reduto Rio das Antas
Reduto Rio das Antas
Lindo lugarejo
As terras eram tantas
Nas mãos do sertanejo.
Com a vinda do estrangeiro
Do lugar colônia fizeram
Expulsaram o fazendeiro
Antigos donos que eram.
O caboclo expolido
Pelo Americano malvado
De sua terra foi enxotado
Como se fosse um cão danado.
Porém um belo dia
Incomodado estava
O caboclo então queria
A terra que habitava.
Avisados os novos colonos
Pra sua terra abandonar
Pois os seus antigos donos
Nelas voltariam habitar.
Conseguindo resistir
Ao ataque do piquete
LUIZ ALVES Página 51
52. O Contexto do Contestado
Fazendo-os fugir
Perdendo muita gente.
Assim o estrangeiro
Animado pela vingança
Tira do pobre posseiro
A sua última esperança.
Armando uma fogueira
Queimaram sobre grimpa
Os corpos em fileira
Como se fosse uma limpa.
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53. O Contexto do Contestado
Os Assaltos
Curitibanos
Incendiada
Salseiro
Ocupada.
Iracema
Tomada
Como se fosse um poema
Também Moema
Foi saqueada.
O pessoal do Aleixo
Ocupou o Salseiro
Sem apetrecho
Correndo risco
Assaltou Corisco.
A ordem dada era invadir
A fazenda do seu João
Não deixar nada e nem discutir
Matar a todos sem perdão.
Arrebanhar a bicharada
Queimar a casa e o galpão
Não deixar rastos e nem nada
Levar tudo para o sertão.
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54. O Contexto do Contestado
Ouve-se gritos por todo lado
Começa o ataque na escuridão
Agindo de modo desordenado
Mataram todos a fio de facão.
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55. O Contexto do Contestado
Reduto de Timbózinho
No vale de Timbózinho
Vivia o caboclo sozinho
Defendendo os seus ervais
Dos Coronéis, seus rivais.
Desta forma aparece
Novo reduto no sertão
E logo fazem prece
Em São Sebastião.
No reduto de São Sebastião
Faziam formas e se agrupavam
Menina, moço e ancião
Deste modo todos rezavam
Pedindo benção e proteção.
Os governos dos estados
Não sabendo o que fazer
Ficavam todos parados
Vendo os fatos acontecer.
Nesta grande disputa
O governo paranaense
Acirra a sua luta
Pela terra catarinense.
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56. O Contexto do Contestado
A Vila de Canoinhas
Parte de Canoinhas o comandante Ribeiro
Com a tropa bem preparada
Pra tomar a guarda de Salseiro
Assaltando de repente a Jagunçada.
Finalmente vitoriosa a tropa adormeceu
Os Jagunços resistiram na guarda dos Freitas
Com linha telefônica a tropa guarneceu
Mas a sorte e certeza de todos foram desfeitas.
As linhas foram cortadas
A base da coluna ameaçada
Desavenças nas tropas eram notadas
Pois sabiam que a sorte estava selada.
Os matutos agora invadem
Canoinhas e vizinhança
Os soldados os repelem
Evitando a grande vingança.
Os Jagunços atacam acampamento
Com os soldados em desespero
A confusão se torna tormento
De todos no entrevero.
A tropa em retirada
Pelo reduto vão passando
LUIZ ALVES Página 56
57. O Contexto do Contestado
Recolhendo a cacalhada
Que os Jagunços foram deixando.
Canoinhas é atacada
Por Jagunços furiosos
Muita gente ficou apavorada
Dá-se lugar aos vitoriosos.
Os defensores apressados
No local abandonam tudo
Os fanáticos muito animados
Deixam ferido o Papudo.
LUIZ ALVES Página 57
58. O Contexto do Contestado
A Serraria Lumber
Pra trabalhar na ferrovia
Trouxeram gente de todo lugar
O Percival a todos oferecia
muita riqueza e terra para morar.
De São Paulo veio muita gente
Minas Gerais, norte e nordeste
E até do Rio de janeiro
Pra colocar todo o dormente
Passavam o dia inteiro.
Depois da arrumação
Começa os trilhos assentar
Rasgando o grande sertão
E o caboclo não tendo onde morar.
Mas a Lumber, além da linha
Começou a mata virgem devastar
Por contrato que então tinha
Os pinhais começou a serrar.
Não satisfeitos com a devastação
Percival promete colonizar
As terras do grande sertão
Pra estrangeiros de além mar.
Como se isso não bastasse
LUIZ ALVES Página 58
59. O Contexto do Contestado
Percival o caboclo expulsou
Pra que ali montasse
Uma serraria em terras que ganhou.
Por isso vejam as conseqüências
De cada ato ali praticado
E por não terem consciência
Provocaram o caboclo do contestado.
LUIZ ALVES Página 59
60. O Contexto do Contestado
Chacina do Iguaçu
Os piquetes de vaqueanos
Do coronel Setembrino
Procuraram impedir
Permitir...
Que munição e alimentos
E também armamentos
Chegassem ao seu destino.
Homens sem sorte
São aprisionados
E numa barca forte
São assassinados.
Mas Saturnino envergonhado
Chorando diz a Setembrino
Que foi um desalmado
No grande massacre
Feito naquele ataque
Nas margens do Iguaçu.
E assim contando
Parece uma mentira
Mas não foi uma ilusão
Por terem matado
Os matutos caipiras
E ainda ficaram sem punição.
LUIZ ALVES Página 60
61. O Contexto do Contestado
É fatos vergonhosos
Atos dramáticos
O tratamento de outrora
Que foi dado aos fanáticos
Na célebre degola
Do Rio Iguaçu.
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62. O Contexto do Contestado
Capitão Potyguara
Em União da Vitória
Estabeleceu um quartel general
Inicia-se outra história
A por fim todo mal.
O general Setembrino previa
Várias frentes atacar
O reduto de santa Maria
E todos os que na redondeza achar.
Em Canoinhas se organizou
Um grande destacamento
Potyguara se deslocou
Com todos os soldados armados.
Era chefe desapiedado e temerário
Pois todo Jagunço aprisionado
Seria tratado como adversário
Recebendo o castigo combinado.
No reduto de Caçador e Santa Maria
Potyguara e seus soldados
Pôs fogo em toda casaria
Fazendo presos e os mortos sepultados.
No reduto de Santa Maria
Potyguara foi entrincheirado
LUIZ ALVES Página 62
63. O Contexto do Contestado
Por inúmeros Jagunços com suas armarias
Deixando o general apavorado.
E saindo pela velha tapera
Soldados ajuda foram buscar
Depois de muita espera
A coluna sul começa chegar.
Agora fortalecidos
Potyguara e seus soldados
Criam coragem e ficam enfurecidos
Começam lutar por todos os lados.
Após a luta terminada
A noticia se espalha
Na vitória das forças armadas
Contra os fanáticos que restaram.
Assim exterminaram
Desta terra os rebeldes posseiros
E quase de graça distribuíram
A mesma ao estrangeiro.
LUIZ ALVES Página 63
64. O Contexto do Contestado
Coronel Adeodato
Após a morte de Francisco
Traidor do movimento
Surge além do Corisco
Outros chefes de acampamento.
Enquanto tudo se definia
Lá pra banda de São Francisco
Adeodato ainda resistia
Em chefiar os redutos.
Depois de haver consultado
Os amigos de outrora
E ainda ter sonhado
Que ele tocava agora.
Havendo uma revolta
No reduto de Caçador
Elias impõe derrota
Aos vacilantes com horror.
Francisco Alonso atrevido
Combatendo em Rio das Antas
Num entrevero indevido
Atracou-se em retrancas.
Sendo gravemente ferido
Pelos seus inimigos capturados
LUIZ ALVES Página 64
65. O Contexto do Contestado
Soltando grande gemido
Semi vivo foi queimado.
Cumprindo o que sonhou
Adeodato novo chefe foi aclamado
Com a revolta que se desencadeou
O reduto de Caçador é ensangüentado.
Dessa forma o acampamento
Que era antes fanatismo
Tornou-se um movimento
De puro e simples banditismo.
Adeodato assassinava
Até mesmo os companheiros
Assim ele dominava
O seu povo com entreveros.
Após de muito lutar
O exército exterminou
Com os Jagunços do lugar
Mas Adeodato escapou.
Depois de tanto fazer
Lá no mato se escondia
Já não tendo o que comer
Arrimo agora ele pedia.
Disfarçado de mendigo
Morto de fome e cansado
Nos Thibes pediu abrigo
Para não se sentir ameaçado.
LUIZ ALVES Página 65
66. O Contexto do Contestado
Já com comida na mesa
Foi por eles reconhecido
Sendo pego de surpresa
Desarmado e detido.
Entregue as autoridades
Que marcaram o seu destino
Condenado em várias cidades
Era o fim de um assassino.
Na prisão em pobre cela
Como célebre prisioneiro
Ludibriou a sentinela
E o pobre do carcereiro.
Só que o matuto Adeodato não sabia
Da ordem vinda da capital
Viver mais ele não merecia
Tinha de retornar a seu império infernal
Ser condenado por todo seu mal
Tormento que ele conhecia.
Para fugir da penitenciaria
Apossou-se de um fuzil descarregado
E numa armadilha caiu
Em sua fúria sanguinária
Pelo diretor foi alvejado
E do peito a sua vida saiu.
Levado para a enfermaria
Morreu esse sacripanta
LUIZ ALVES Página 66
67. O Contexto do Contestado
O homem que marcaria
O triste fim da guerra santa.
Dessa forma desapareceu
O grande e valente chefão
Mas muito cruel
Que a história descreveu
Como último Jagunço do sertão.
LUIZ ALVES Página 67
68. O Contexto do Contestado
Pânico Geral
Depois de Calmon atacada
E destruída São João
A noticia é espalhada
Do ataque na estação.
Geral é a confusão
Todos fogem a lamentar
Soldados saem da composição
Prontos para atacar.
Da mata saem os fanáticos
Trava-se um tiroteio
E como se fossem lunáticos
O trem se parte ao meio.
Matos Costa fica sozinho
Com um punhado de soldados
E no meio do caminho
Foram todos atacados.
O capitão fica ferido
Os soldados assassinados
Ouvindo-se grande gemido
Alguns fogem apavorados.
E no meio da confusão
A noticia então correu
LUIZ ALVES Página 68
69. O Contexto do Contestado
Da morte do capitão
Que a todos enterneceu.
Depois dessa matança
O pânico foi geral
A população em sua andança
Foram dormir no matagal.
LUIZ ALVES Página 69
70. O Contexto do Contestado
A Queima das Estações
Do reduto de Caçador
Parte homens bem armado
Com tom ameaçador
Para acabar com os safados.
Calmon foi atacada
No inicio de setembro
A Lumber incendiada
Disso eu bem me lembro.
Poupadas só mulheres e crianças
Arrasada toda a estação
Revistaram as vizinhanças
Depois partiram para São João.
Matavam todos que encontraram
Inclusive os conserveiros
Contra o governo protestaram
Exigindo terras para os brasileiros.
No trem da inspeção
A população procurou fugir
Com medo da invasão
Pois não tinha como resistir.
LUIZ ALVES Página 70
71. O Contexto do Contestado
Os Bombeiros
Na guerra do contestado
Para ter o fato certeiro
Escolhiam homem adestrado
Para servir como bombeiro.
Ele tinha que espionar
Os acampamentos inimigos
Pra depois entregar
Os planos aos seus amigos.
Passando por vendilhão
Em tudo prestava atenção
Pois como bom espião
Passava aos chefes as instruções.
Até o general Setembrino
Foi muitas vezes enganado
Não conhecendo seu tino
Teve seus planos roubados.
Assim o sertanejo
Em sua simplicidade
Ficava no lugarejo
Em plena liberdade.
LUIZ ALVES Página 71
72. O Contexto do Contestado
Os Doze Pares de França
Livro de cabeceira de José Maria
Os doze pares de França
O caminho era que sentia
Não importa a matança
Era o que o povo dizia.
Escolhiam os matutos valentes
Criaram uma tropa de elite
Que abriam frentes
A tiros, facões e sangue
Buscam a liberdade
Razão da verdade
Tornar uma realidade
A saudosa monarquia.
Em tempos difíceis
Roubavam para matar a fome do reduto
Soldados quase invencíveis
Diziam todo o exército
Continha sentimento de respeito
Mas nunca de medo
Porque aprenderam vencer a derrota
Lutar contra os valentes
Bravamente com unhas e dentes.
Quem diria que Carlos Magno
Faria um livro de revolução
LUIZ ALVES Página 72
73. O Contexto do Contestado
Levaria um povo em desatino
Guerrear contra uma nação
O império republicano
Trouxe a injustiça
Holocausto pleno
Uma eterna sentença.
Os valentes matuto
Se diziam guerreiros de São Sebastião
O exército encantado
Tendo Deus no coração
E foram os errantes do século
Drama de uma geração
Que pôs fogo no sertão
Buscando liberdade
A paz na realidade.
LUIZ ALVES Página 73
74. O Contexto do Contestado
As Visões de Euzébio
Os Jagunços a Taquaruçú voltam
Esperando a chegada de José Maria
Que desceria montado num cavalo branco
Trás o exército encantado no vento
Realizando o que desconhecia
Com guerreiros que retornam
Derrotar o dragão
Essa lei de cão
Que tiravam suas terras
Onde sua paz se enterra.
Constroem o reduto da morte
No centro uma cruz pra dar sorte
Terra onde as crianças nunca ficaria velho
E o velho nunca morria
Fazem orações de flagelos e autoflagelos
Impõe leis, cantam em versos
Que outra vez Deus nasceria
E a paz retornaria.
E novamente Euzébio se preparava
Lutar contra a república
Fazer valer seus direitos
A liberdade dos fanáticos
Guerra violenta
Contexto do contestado
Nação injusta
LUIZ ALVES Página 74
75. O Contexto do Contestado
Pelo tempo em carne viva
Apocalipse do mundo.
LUIZ ALVES Página 75
76. O Contexto do Contestado
O Espião Henrique Wolland - Alemãozinho
No palácio da república
O ministro da guerra
Um espião é escolhido
Não podia ser brasileiro
Tinha de ser estrangeiro.
E na maior mentira do século
A escolha foi Alemãozinho
Que se infiltrou na Jagunçada
Que dominava a área contestada.
Logo de inicio recebeu confiança
Por não ter nenhuma temença
Foi cavaleiro dos pares de França
Depois promovido chefe de um reduto
Fez fama por sangue frio
Um sanguinário
Que vendeu a Jagunçada
E toda a luta contestada.
Soldado revolucionário
Viveu um risco temerário
Traiu gente simples do sertão
Mostrando todos os redutos
Henrique sem coração
Entregou pedaço de uma razão
Como beijo de Judas em Cristo
LUIZ ALVES Página 76
77. O Contexto do Contestado
Depois fugiu como corisco
Deixando sangue na terra
Ao final da guerra.
LUIZ ALVES Página 77
78. O Contexto do Contestado
Soldados do Século
Tudo começa por Euzébio
Era um fanático temerário
Elias foi chefe dos pares de França
Caboclo sem nenhuma temença
Benevenuto mulato baiano
Tinha temperamento violento
Fizeram história no contestado.
Também tinha Conrado Glober
Franco atirador de primeira
Religioso tendo um dever
Ajudar salvar a irmandade
Outro era Aleixo que é catarinense
Caboclo experiente e valente
Chico Alonso, Antônio Tavares
Irmãos Sampaio, Bonifácio papudo
Paulino Pereira, soldados do sertão
Fizeram a guerra do século.
Outro foi Carneirinho
Castelhano
Ignácio Vieira, Salvador Vieira
Jucá Ruivo, Gregório de Lima
Beata Maria Rosa
E o flagelo de Deus
Que parecia o próprio Diabo
Nunca pensava nos seus
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79. O Contexto do Contestado
Só em seu orgulho
Fazer um inferno
Em toda terra do contestado.
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80. O Contexto do Contestado
Os Corruptos da República
Tudo começa pelo coronel Albuquerque
Que sentiu o seu poder ameaçado
Detonou a guerra pra todo lado
Massacrando os matutos do sertão
Fez verter sangue em nosso chão.
O advogado do diabo Deocleciano Martyr
Acendeu o resto do estopim
E na capital se portou como mártir
Do genocídio sem fim
Foi outro que se vendeu ao Percival
Porque era um governante sem moral
Que desencadeou todo esse mal.
A república estava falida
Vendia títulos de coronéis
Para não ver destruída
Mantinham quartéis
Faziam revoluções
A injustiça no sertão
Dando terra dos caboclos
Aos ladrões de todos os tempos
Colocam fogo num pedaço da nação
Sem nenhuma emoção
Impõem leis
Fazem papéis
Criando a revolta
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81. O Contexto do Contestado
Aos errantes do século.
Felippe derruba Vidal Ramos
Alia-se a Carlos Cavalcânti do Paraná
Hermes, presidente do holocausto
Trás ao sul nova Canudos
A Cabanada do Pará
Os ministros da guerra
Mancham a nossa terra.
Corruptos republicanos
Tecem um inferno no sertão
Trucidam os fanáticos
Com fogos e trovão
Dragão do inferno
Lágrimas de vaqueanos
Sangue de soldados
Vida miserável
Ato abominável
Vergonha do mundo.
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82. O Contexto do Contestado
Monarquia
Congregados numa irmandade
Os caboclos do sertão
Sonhavam com liberdade
E com muita paz no coração.
O que os caboclos queriam
Obedecer a santa religião
Só assim eles teriam
Proteção de São Sebastião.
Quando falam em monarquia
Falam da lei lá do céu
Pois o povo todo queria
Da farsa tirar o véu.
Dentro desta ideologia
Defendiam os seus ideais
Pois cheios de nostalgia
Queriam agora todos iguais.
Quando defendiam monarquia
Pensavam no seu grande rei
O santo José Maria
Defender de toda lei.
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83. O Contexto do Contestado
Governador Coronel Felippe Schimidt
O governador Felippe
Envia tropas para o combate
Pra acabar com o levante
Prender ou matar os rebeldes
Extinguir toda verdade.
O intendente da vila de Curitibanos
Ficou contente ao ver as tropas
De imediato deu ordens: trucidar os fanáticos
E trazer as suas cabeças.
Ao chegar em Taquaruçú
Os matutos combateram como valentes
Saindo do pântano, atrás de arvores
A até mesmo do topo das arvores
Os sobreviventes fogem
Perdendo toda a coragem
Findando o combate de Taquaruçú.
Com a derrota o intendente
Comunicou ao governador Felippe
Que o ataque foi um desastre
Poucos sobreviveram.
De imediato telegrafou para o Rio de Janeiro
Pedindo pra deslocar um regimento
Pra varrer os redutos Jagunço
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84. O Contexto do Contestado
E exterminar os rebeldes fanáticos.
LUIZ ALVES Página 84
85. O Contexto do Contestado
Governador Afonso Alves de Camargo
No contexto entre Paraná e Santa Catarina
Não se procurou uma solução
Gerou muita injustiça
Criando muita confusão.
José Maria e os Jagunços
Fogem da represaria do intendente
Indo para o Irani
Havendo lá o conflito
Com sangue e morte
Fato igual nunca vi.
O governador Carlos e Afonso que era advogado
Empregado do grupo Farguhar
Julgando que foi invadido
Mandou tropas para guerrear
Não deixou o caboclo nem sonhar.
Houve um entrevero violento
Muitos foram mortos sem razão
e Afonso não expressou nenhum sentimento
Porque não agiu com o coração
Somente por ambição.
Com a triste derrota
Telegrafou pra capital da nação
Querendo logo uma resposta
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86. O Contexto do Contestado
Pra acabar com a revolução.
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87. O Contexto do Contestado
Capitão Matos Costa
O capitão peregrinava o sertão
Como caixeiro viajante
Era um homem de visão
E muito inteligente.
Também era um naturalista
Contra o desmatamento
Simpatizante do sertanejo
Achava uma injustiça
A guerra do contestado.
Filosofou o capitão aos amigos
Pra que o governo desse mais atenção aos sertanejos
Alimentos invés de munição
Invés de ameaçar dar mais instrução
Justiça invés de violência
Viver em democracia
Essa era sua filosofia.
Denunciou os falsários
Sendo vitima de uma armadilha
Era capitão temerário
Como igual não havia.
Venuto e seu bando
Com medo matou o capitão
E por esse feito histórico
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88. O Contexto do Contestado
Foi morto pelo chefão
Contrariado pelo acontecido
E que deixou todos sentido.
O que os caboclos não sabiam
Que tinham matado a sua esperança
Somente os seus sonhos revelariam
Foi morto por vingança
Fato que muito lamentariam.
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89. O Contexto do Contestado
A Força Aérea no Contestado
O exército e o presidente
Contrataram um piloto Alemão
Um coronel e um espião
Um fingia ser viajante
O outro especialista em infiltração
que embrenharam no sertão.
O avião sobrevoava as matas
A procura de reduto
O piloto traçava o mapa
Entregando os matutos
Que só queriam viver em paz.
Muito poucos redutos foram vistos
Quase não justificou a ação
Pois o avião bateu contra pinheiros
Matando o alemão
Foi outro que morreu sem razão.
O fato histórico acontecido no sertão
Foi a primeira vez no mundo
Que usaram um avião
Como um pássaro de reconhecimento
Injustiçando um povo matreiro
Que levou o entrevero
A sua completa dizimação.
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90. O Contexto do Contestado
Holocausto nos Redutos
As forças estaduais e federais
Trituram a fragilidade dos Jagunços
Pondo fogo nos carrascais
Queimando com grimpa os mortos.
Nessa guerra desumana
Não existia lei e ordem
Sua cabeça era cortada
Isto é que escondem.
Foi caindo reduto após reduto
Seus habitantes sacrificados
Ficando somente o luto
E a injustiça de tantos.
Coronel Setembrino dizia
Jagunço bom era Jagunço morto
Era o ódio que conduzia
A guerra do contestado.
Foi um genocídio violento
Onde todos perderam a razão
E toda força do sentimento
Da alma e de seu coração.
O chão dos redutos
Foram manchados de sangue
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91. O Contexto do Contestado
Praças dos dois exércitos
E também de diversos inocente.
Com a guerra ganhou os parlamentares
O presidente e o grupo Farguhar
Restou morte aos familiares
Do caboclo que pensou ganhar
A guerra dos errantes
Revolução de rebelde.
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92. O Contexto do Contestado
General Setembrino
Setembrino - general republicano
Trouxe o inferno em Canudos
Matando a justiça
Injustiça de uma raça
Que queriam viver em paz
Sem nenhuma miséria
Mas o império não trás
O alimento da alma
Tão pouco a igualdade social.
Por ordens do ministro da guerra
Chegou com suas tropas nessa terra
Sufocar uma revolução
Sangrar o coração de outra nação
Fanáticos igual Canudos
Lá Conselheiro
Aqui José Maria
E se tornou o carrasco dos mundos
Queimou guerreiros
Que lutavam por que desconhecia.
General do império e republicano
Trouxe morte, trouxe luto
Destruiu Taquaruçú, Caraguatá
Aleixo, Santo Antônio, Tamanduá
Poço Preto, Raiz da Serra e Butiá
Coruja, perdizes, Traição e Cemitério
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93. O Contexto do Contestado
Conrado Glober, Tapera e Pinheiros
Reinchart, Irani, Timbó e Ferreiros
Envergonhando a nação.
General de ferro
Destruiu, matou e prendeu
Jagunço nos redutos
General de ferro
Apesar de tudo reconheceu
A injustiça dos matutos
O pecado dos corruptos
Extermínio no contestado.
General de ferro
Ministro da guerra
Conhecia o erro republicano
Que cortou nossa terra
Vendendo ao estrangeiro
O pouco de dignidade
A mentira da verdade
Na guerra do século.
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94. O Contexto do Contestado
Tenente - Coronel Dinarte
O tenente - coronel Dinarte
Com 750 homens, 150 cargueiros
Duas seções de metralhadoras, artilharia
Um esquadrão de cavalaria andava na frente
E Taquaruçú foi atacado
Destruído por canhões de artilharia.
Os jagunços resistiram quatro dias
Dia e noite sem temença
Jogaram milhares de granadas
Estraçalhando velhos, mulheres e crianças
Os homens tiveram de fugirem
Pra não morrerem.
Coronel Dinarte incendiou o sertão
Com o sabor de vitória
O fel da inglória
Queimando-os com grimpas
Cadáveres e o sertão
Madrugada chuvosa
Genocídio da razão.
Coronel Dinarte confidenciou aos governantes
Não queria combater patrícios ignorantes
Que viviam em desesperos
Por causo dos traficantes de províncias
Coronéis ambiciosos
LUIZ ALVES Página 94
95. O Contexto do Contestado
Sindicato de incoerências
Trouxe o pecado
Todo esse mundo errado
O extermínio no sertão.
LUIZ ALVES Página 95
96. O Contexto do Contestado
Coronel Capitulino
Coronel Capitulino atacou Caraguatá
Enfrentou a fúria jagunça
Sendo um enorme nó para desata
Tendo de recuar como tática
E avançar atacando
Mas os caboclos viam gritando
Não temendo a morte.
O combate no vai e vem danado
Ora vencendo e ora perdendo
Ordens desesperadas
Gritarias medonhas
Tiveram de recuar novamente.
O coronel ordenou retirada
Quando surgiu o nevoeiro
Sentiu a derrota
O fogo de entrevero
Recuar pra não morrer
Conhecer e desconhecer
A força do fanático.
O coronel e sua tropa dois dias depois
Derrotados chegam a serraria
Mais uma vez os republicanos
Ouviram gritos de vitória
Que tremia todo o sertão contestado.
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97. O Contexto do Contestado
O Líder Elias
Elias era juiz de paz
Foi comandante da guerra
Levou respeito aos carrascais
Rebeldia não se enterra
Somente faz uma revolução.
Em Taquaruçú ganhou e perdeu
Caraguatá também
Santa Maria se perdeu
Não levando um vintém
Somente a sua valentia
Que parte do sertão desconhecia.
Foi chefe dos pares de França
Também líder interino
Pois guerreiro não descansa
Pronto pra qualquer entrevero.
Cansado de lutar
Decidiu ir pro Rio Grande
Não querendo ficar
E no meio do caminho tentou atirar
Foi morto por vaqueanos de Chico Ruivo
Tragédia do destino
De um homem que foi grande.
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98. O Contexto do Contestado
O Líder Aleixo
Chefe dos pares de França
Também comandou reduto
Fez fama a distância
Impôs ao mundo republicano
Que não era cordeiro
Um leão com certeza
Por causo de sua destreza.
Combateu em Taquaruçú
Onde ganhou e perdeu
Igual em Caraguatá
Venceu e perdeu
Foi para Santa Maria
Devoto de João Maria
Pôs fogo no sertão.
O líder Aleixo
Sua valentia era de cair o queixo
Mas foi morto por Adeodato
Com medo de rebelião
Aleixo matuto valente
Agia com o coração
Morreu de forma covarde.
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99. O Contexto do Contestado
O Líder Alonso
Alonso era temerário
Medo não tinha em seu dicionário
Rebelde por natureza
Valente com certeza
Fez um pouco da revolução.
Foi chefe de reduto
Também guerreiro matuto
Matou muitos soldados
Muitos foram os seus entreveros
Em que a fama permaneceu.
Nas batalhas sem éticas iniciais
Ditou tantos finais
Muitas venceu
Outras perdeu
Alonso era um valente.
Mas como todos erram
Alonso atacou a fazenda
Não se sabe quantos eram
E quando viu a luta perdida
Tentou fugir, foi morto por Adeodato
Então degolaram e cortaram o corpo inteiro
Dessa forma morreu Alonso
Líder do contestado.
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100. O Contexto do Contestado
O Guerreiro Benedito
Quando era moço caiu no mundo
Foi empregado da ferrovia
Tropeiro e vaqueiro
Quase nada temia
Era o lema de Benedito
Um matuto nunca igual visto
Fez história no sertão.
Ajudou seu pai tirar o santo Padre
Das mãos dos fanáticos
E levou até a vila de Curitibanos
Onde deixou entregue
Pediu uma reza
Devoto se entrega
E volta ao reduto
Vendo o seu próprio luto
Fogo do contestado.
Foi guerreiro em muitos redutos
Também meio líder entre os jagunços
Após fugiu de Santa Maria
Levando quarenta
Escapando da fome até então desconhecia
Também da peste negra
Fugiu o guerreiro
Nasceu o matuto.
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101. O Contexto do Contestado
Benedito não temia nada
Devoto do divino
Logrou a vida
Atrasou o destino
E velho morreu
Levando consigo
A fé que viveu
Valentia que conheceu
Morreu Benedito
Jagunço e guerreiro
Do contexto do contestado.
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102. O Contexto do Contestado
O Líder Castelhano
Castelhano impôs pavor
Mentiroso e violento
Mas não era mentor
Somente guerreiro
Nos entreveros do sertão.
Castelhano dizia filho de Saraiva
Encarava combate em campo aberto
Bandoleiro de nascimento
Gostava de corridas em coxilha
Contrariava os lideres
E se aventurava no sertão.
Se julgando invencível
Atacou grandes cidades
Achando tudo possível
Nos vales da morte.
Decidiu atacar Lages
Enfrentou piquetes
O seu grupo fugiu
Deixando sozinho
E Castelhano sentiu
A dor em ter as orelhas cortadas
Enviadas pra capital
Morto e jogado num formigueiro
Final...
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103. O Contexto do Contestado
Do bandoleiro do contestado.
LUIZ ALVES Página 103
104. O Contexto do Contestado
O Comerciante Jagunço Praxedes
Quando o intendente decidiu atacar
Mandou avisar a irmandade
Sendo um simpatizante
Mas se cuidava ao redor
Dos amigos do intendente.
Devoto de João Maria
Amigo de José Maria
Também de Euzébio
Não era um visionário
Mas um jagunço comerciante.
O coronel soube do carregamento
A guarda apreendeu as armas
Querendo de volta
Tudo que tinham tomado
Por ordem do intendente.
O coronel se indignou
E Praxedes mandou matar
O mundo jagunço se revoltou
O intendente queriam também matar.
O coronel Albuquerque soube do ataque
Fugiu pra outra cidade
Covarde de verdade
Deixou o coronel marcos na intendência
LUIZ ALVES Página 104
105. O Contexto do Contestado
Que não tinha nenhum contra ataque
E a vila foi incendiada
Papéis foram queimados
Revolta anunciada
Na guerra do século.
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106. O Contexto do Contestado
O Poder do Grupo Farquhar
Percival capitalista
Comprou a revolução
Vendeu terra
Explorou a natureza
Construiu a ferrovia
Criando ódio no sertão.
Montou várias serrarias
Navios foram carregados
Com madeiras dos carrascais
Formam um legado
Humilhando o sertão.
Percival comprou a nação
De corruptos da república
Vendeu a floresta do sertão
Emigrou com povo da Europa
Expulsando os caboclos das terras
Então a paz se enterra
Revoltando o contestado
A raiz do contexto
Rebeldes do século.
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107. O Contexto do Contestado
Chica Pelega do Taquaruçú
Ela foi guerreira
Perdeu quase tudo na guerra
Sua infância, seu sonho de criança
Lutou sem temença, com esperança
Foi virgem guerreira
Uma mulher de verdade
Força da liberdade.
Chica do sertão
Véu de sangue
Rebelde de coração
Fera em batalha
Onça que ruge
Oferecendo mortalha.
Chica... Menina moça
Foi mulher inocente
Uma líder, a esperança
Muitos dizem que você morreu
Mas não morreu
Porque você vive em cada mulher
Talvez de forma diferente
Mas sempre... Uma menina moça
Guerreira de uma raça.
Chica... Guerreira santa
Sua valentia era tanta
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108. O Contexto do Contestado
Fez história nos carrascais
Sendo contra a república dos injustos
Era o temor em confrontos nos matagais
Temida até pelos jagunços.
LUIZ ALVES Página 108
109. O Contexto do Contestado
Os Presidentes da República
Tudo começou com marechal Deodoro
Floriano Peixoto
Que derrubam o império
E sem mistério
Vendem os sonhos de uma nação.
Depois veio Prudente de Moraes
Que leva miseráveis aos carrascais
Sacrifica aos milhares
Viva ambição de dólares
Vazão da razão.
O próximo, Campos Sales
Seguido por Rodrigues Alves
Prosseguem à injustiça
Não conseguem vetar
Deputados e senadores
Fio da revolta começa
Incendiando o sertão.
Segue por Afonso Pena
Nilo Peçanha
Hermes da Fonseca
Protetor dos coronéis
Pôs soldados em quartéis
Massacrando o fanático.
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110. O Contexto do Contestado
E por fim, Venceslau Brás
Um estranho no ninho
Decide findar a revolta
Envia o general de ferro
Que trás o holocausto no contestado .
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111. O Contexto do Contestado
Epílogo
Amigos leitores, os Jagunços do sertão contestado não
tiveram nenhuma atitude social humanitária dos governantes da
época, empurraram sem piedade a uma guerra que era impossível de
vencer, tirando dos mesmos o mais importante do sentimento
humano, a perspectiva melhor de vida, ou a esperança em dar uma
vida decente a seus filhos e a seus netos. O sistema republicano foi
criado diante de muitas falhas na revolução francesa, deixou a nação
polvorosa num caos político e numa terra de ninguém, onde todos
queriam mandar e ninguém fazia nada pelos anseios da população.
Décadas depois implantado pelos Estados Unidos da América
com uns ajustes e poucas melhoras, mesmo assim continua sendo um
sistema de inúmeros pecados capitais, que sufocava qualquer grito de
liberdade democrática, ainda permanecendo o preconceito social,
racial e religioso, contendo leis autoritárias e completamente injustas
com toda uma sociedade carente ou menos favorecida.
Meus amigos, esse foi o poder que o sistema republicano
brasileiro comprou a preço de muitas vidas e por uma verdadeira mina
de ouro, um sistema que privilegia os ricos ou milionários e deixando
os demais na mais completa miséria.
Os caboclos dos sertões catarinenses e paranaenses perderam
praticamente tudo o que herdaram de seus antepassados, e para terem
um pouco de esperança acreditam em suas crendices populares numa
força superior, e dela criaram fantasias e fanatizam outro mundo,
conforme os seus sonhos. E desse sonho fazem a sua razão de viver,
nem que isso os levasse a morte, foi o que aconteceu na realidade.
A guerra dos Canudos, acontecido anteriormente era prova
real da injustiça social do poder republicano, pois denegriu a
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112. O Contexto do Contestado
democracia e um completo genocídio humano. Como em Canudos
tinha Antônio Conselheiro, aqui no contestado tivemos José Maria.
Com esse episódio histórico os senhores da república não aprenderam
a lição, e tornaram a fazer no sul do País. Como disse o capitão
Matos Costa: Que o problema do contestado, poderia ser resolvido
com um pouco de boa vontade dos governantes. Alimento em vez de
munição, instrução em vez de ameaças e justiça em vez de violência.
Caros leitores, somente para ter uma idéia da armadilha do
século, contra a irmandade de São Sebastião, utilizam pela primeira
vez na história da humanidade a aviação militar para reconhecimento
de reduto dos fanáticos, tendo um coronel Alemão como piloto
revolucionário. A história prova que na melhor das hipóteses, a
guerra já tinha vencedor, mesmo antes de seu princípio. Os
historiadores chamam a guerra do contestado, que no real e
verdadeiro chamo a guerra dos injustiçados do século.
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