O documento descreve a história da praia de Copacabana no Rio de Janeiro desde o século XVI até os dias atuais. Inicialmente uma vasta planície arenosa habitada por pescadores, Copacabana se transformou em um popular balneário no início do século XX após a abertura de túneis que facilitaram o acesso. Nos anos 1950, era um bairro boêmio com diversos clubes noturnos famosos. Atualmente, é palco de grandes eventos como shows e queima de fogos de réveillon.
1. UM PASSEIO NO TEMPO – COPACABANA
UM PASSEIO NO TEMPO – COPACABANA
Copacabana é, sem dúvida, uma das mais famosas praias do mundo e, ao longo de
sua história, já teve sua beleza apresentada sob uma infinidade de pontos de vista,
por incontáveis artistas.
Essa histórica beleza pode ser contada também em imagens que nos levam a um
agradável passeio no tempo, desde seus primórdios com o extenso areal, aos
frenéticos dias de hoje, passando pelo bucólico balneário que no início do século XX,
já encantava os viajantes.
1893
Chamada de Sacopenapan – o caminho batido pelos socós – pelos índios tupinambá
que habitavam o Rio de Janeiro até o século XVI, a Copacabana original era uma
vasta planície arenosa com vegetação típica de restinga. Ocupada apenas por
pescadores, além de algumas poucas fazendas de subsistência, a região manteve seu
aspecto original praticamente inalterado até o fim do século XIX. Durante quase todo
esse tempo, a ladeira do Leme permaneceu como o único acesso terrestre à região.
Nos anos 1850, foi aberta a ladeira do Barroso, atual ladeira dos Tabajaras, facilitando
um pouco mais o contato com o bairro de Botafogo e o restante da cidade. Mas quem
se dispunha a enfrentar a dificuldade do acesso, acabava premiado por uma visão de
deslumbrante beleza.
No começo do século XVII, os pescadores ergueram uma pequenina igreja no
promontório de pedra do atual Forte de Copacabana. Anos mais tarde, uma cópia da
imagem da Virgem de Copacabana, trazida das margens do lago Titicaca, na Bolívia,
por mercadores de prata, foi entronizada ali. O nome é de origem andina: “copac”
significa azul e “cahuana” mirante, depois em espanhol, Copacabana.
Não se conhece a data da fundação da igrejinha original, mas sabe-se que em 1732
ela se encontrava em ruínas. Ao que parece, anos mais tarde, o bispo D. Antonio do
Desterro melhorou a antiga construção. Em 1858, foi novamente reformada e
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ampliada. A igreja que daria nome ao bairro desapareceu definitivamente em 1919
com a conclusão das obras do Forte de Copacabana.
Uma das trilhas primitivas utilizadas pelos romeiros que buscavam a igrejinha era
chamada de “caminho que vai para N. S. de Copacabana”, dando nome à atual
avenida. No meio da praia, em pleno descampado, havia o conjunto das pedras do
Inhangá – três pequenos morros de granito, que praticamente dividiam o bairro em
dois, Copacabana, ao sul, e Leme ao norte. Uma delas desapareceu completamente,
dando lugar à pérgula do Copacabana Palace e as outras duas, já bem reduzidas,
estão hoje ocultadas pelos prédios.
1927
A partir de 1892, a abertura do Túnel Velho e a inauguração da primeira linha de
bondes, finalmente, tornaram possível a ocupação do bairro. Naquela época, a
sociedade carioca passava por grandes transformações, estabelecendo novos padrões
de comportamento. Copacabana, como o primeiro bairro oceânico da cidade,
representou, como nenhum outro, algumas dessas mudanças. A introdução dos
banhos de mar trouxe um novo conceito de vida saudável, uma nova atitude social.
Apesar da imposição inicial de horários rígidos para os banhos de sol, estabelecidos
pela municipalidade – em defesa do decoro – o novo hábito se firmou. O processo de
ocupação do bairro foi tão rápido que, em 1905, já havia cerca de seiscentas casas
construídas e aproximadamente vinte mil moradores, que se valiam de uma rede de
comércio e de serviços essenciais bem estabelecida. A abertura do Túnel do Leme, ou
Túnel Novo em 1906, acabaria por fortalecer a integração do bairro com o restante da
cidade, diminuindo, e muito, seu isolamento geográfico.
A antecessora da Avenida Atlântica, construída entre 1904 e 1906, era apenas uma
rua de serviço, com seis metros de largura. Quatro anos depois, alargada para doze
metros, a famosa avenida nasceria de fato, para dar vazão ao crescente e inesperado
movimento de automóveis e banhistas. Em 1919, ganhou um canteiro central com
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belos postes de iluminação em estilo art-nouveau. Desde o começo, a calçada contou
com os famosos mosaicos de pedras portuguesas em forma de ondas, que acabaram
por se tornar o símbolo do bairro.
Copacabana representava a modernidade, atraindo uma nova elite sócio-cultural e se
firmando como a principal referência turística do país. A inauguração do Copacabana
Palace, em 1923, como a de outros hotéis, viria confirmar essa grande vocação. Na
década de 1930, a malha urbana do bairro já estava praticamente definida, inclusive
as principais av. Nossa Senhora de Copacabana e a rua Barata Ribeiro, que nos
primeiros anos tiveram canteiro central.
1956
Nos anos 1930 e 40, com os cassinos Atlântico e Copacabana Palace, a noite do bairro
era puro glamour, contando sempre com a presença de representantes do jet-set
internacional. Com o fim dos cassinos em 1946, os salões do Copacabana Palace
mantiveram seu atrativo com grandes shows musicais e luxuosos bailes de carnaval.
Nos anos 1950, como um bairro boêmio, abrigava, por exemplo, o beco das Garrafas,
na rua Duvivier entre as avenidas N. S. de Copacabana e Atlântica, que concentrava
algumas boites e inferninhos: o Ma Griffe, o Bottles – onde nasceu a bossa-nova, o
Little Club, com seus pequenos shows de variedades e também o Baccará que lançou
grandes nomes da música popular brasileira. Havia também muitas salas de cinema,
de saudosa memória, dentre as quais, o Ryan, em frente à praia, o Metro
Copacabana, o Roxy – existente até hoje.
A ocupação do bairro se acelerou fortemente a partir dos anos 1940. Novas regras de
zoneamento permitiram a construção de centenas de prédios, com onze ou doze
andares, colados uns aos outros, formando gigantescos paredões e fazendo
desaparecer quase completamente as casas originais. O surgimento de edifícios
repletos de apartamentos muito pequenos ou conjugados contribuiu para aumentar
rapidamente a população, que logo chegaria perto de 200 mil habitantes. O vigoroso
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comércio e a imensa rede de serviços tornaram o bairro praticamente independente
dos outros, quase uma cidade dentro da cidade. O grande movimento de veículos,
agravado pela carência crônica de vagas para os automóveis, trouxe os primeiros
congestionamentos de trânsito.
Apesar dos problemas do bairro, que crescia desordenadamente, não havia programa
mais atraente do que tomar um banho de mar em Copacabana. Aos domingos, suas
areias, finas e brancas, desapareciam sob um mar de barracas multicoloridas e uma
multidão de animados banhistas disputavam o menor espaço vago.
2007
A fama do bairro não parava de crescer. A avenida Atlântica, que tinha mantido por
todos esses anos sua largura original, precisava se expandir, pois não comportava
mais tanto movimento. No início dos anos 1970, ela foi alargada e duplicada. Ganhou
espaçosos calçadões com desenhos em pedra portuguesa assinados pelo arquiteto e
paisagista Roberto Burle Marx. Como não podia deixar de ser, as tradicionais ondas
foram mantidas na calçada junto à praia. Árvores e coqueiros, ausentes
anteriormente, passaram a se integrar com a paisagem.
Em 1991, com o Projeto Rio Orla, o estacionamento junto à calçada da praia foi
retirado, dando lugar a uma ciclovia, como também foram introduzidos quiosques
padronizados – substituídos, a partir de 2006, por modelos mais modernos,
envidraçados e com melhor infra-estrutura para os banhistas.
As areias da praia costumam sediar mega-shows musicais, além de campeonatos
mundiais em grandes arenas esportivas provisórias. A partir de 1970, o bairro passou
a ser o palco da maior festa de reveillon da cidade, com uma queima de fogos,
apoteótica, de fama internacional que atrai um público de aproximadamente dois
milhões de pessoas todos os anos.
Em muitos sentidos, Copacabana é única. A forma como se desenvolveu, reflete bem
as profundas transformações da cidade durante o século XX. Aquela remota e
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selvagem Sacopenapan, preservada pelo próprio isolamento natural, resistiu bastante
tempo ao imperativo da civilização que a cercava. Com a abertura dos túneis, sua
beleza e exuberância foram plenamente reveladas, abrindo-se um novo tempo para o
Rio de Janeiro. A virtude atual dessa Copacabana superlativa é conseguir conviver
com tantas contradições e, assim, a vida intensamente urbana e cosmopolita acaba,
invariavelmente, por se render ao doce balanço do mar.
Saiba mais
Adaptação do texto original constante na publicação “Copacabana 1893 a 2007 – Um passeio no tempo” Instituto de Planejamento Municipal – 1ª edição – 2007
Ilustrações: Carlos Gustavo Nunes Pereira - Guta
Pesquisa e texto: Neide Nunes, Daniella Villalta, Cécil Ruttiman e Carlos Gustavo Nunes Pereira (Guta) Colaboração na Produção das Imagens: Pedro van Erven
Revisão e adaptação: Natércia Rossi
A publicação "Copacabana 1893 a 2007 - Um passeio no tempo" está à venda na livraria do Instituto
Pereira Passos - Rua Gago Coutinho, nº 52 - Laranjeiras - Rio de Janeiro – tel 2976-6593
e-mail: livrosipp@pcrj.rj.gov.br
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