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36 ponto de vista 
O uso de emissários submarinos 
em cidades pequenas 
Tratamento de esgotos por disposição 
oceânica, com emissário submarino, é 
alternativa econômica e ambiental para 
localidades de pequeno porte 
Até há pouco tempo, quando al-guém 
ouvia falar de disposição 
oceânica de esgotos sanitários com uti-lização 
de emissário submarino, vinha-lhe 
logo à mente grandes cidades e va-lores 
da ordem de milhões de dólares. 
No entanto, com o aparecimento dos 
tubos de PEAD e as novas técnicas de 
assentamento da tubulação do emis-sário 
no leito do mar, essa associação 
mental deixou de existir. 
Hoje, pequenos municípios po-dem 
ter tratamento sanitário com o 
uso de emissário submarino. O cus-to 
de implantação para emissário de 
pequeno porte é bastante reduzido 
devido principalmente à possibili-dade 
da tubulação poder repousar 
diretamente sobre o leito oceânico 
sem preparo prévio. Além disso, ela 
flutua e pode ser rebocada em longas 
seções pré-montadas até o local de 
implantação. 
Balneáreo de Grussaí, em São João da 
Barra, onde o estudo foi realizado 
Engenheiro Sergio de Freitas 
Especialista em Engenharia Sanitária e 
em Meio Ambiente pela Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro-UERJ 
Para comparar os custos en-tre 
emissário submarino e os trata-mentos 
convencionais aplicou-se o 
Sistema de Disposição Oceânica de 
Esgotos Sanitários, utilizando tubu-lação 
de plástico PEAD (Polietileno 
de Alta Densidade), em Grussaí, bal-neário 
do município de São João da 
Barra, Estado do Rio de Janeiro. Os 
sistemas convencionais considerados 
foram: lodo ativado por batelada 
– LAB; e RAFA - reator anaeróbio 
com fluxo ascendente - mais reator 
rotativo (biodisco). 
Bases técnicas utilizadas 
Vários mecanismos controlam 
as características de diluição de um 
emissário submarino e usualmente 
se consideram três fases: a diluição 
inicial, que ocorre durante os pri-meiros 
minutos ao sair o efluente do 
emissário e subir na coluna d’água 
recipiente; o transporte e a dispersão 
horizontal do campo de efluente; e 
as reações cinéticas que ocorrem nas 
águas do mar. Roberts et all (1989) 
desenvolveram um modelo (RSB) 
que permite estimar a diluição ini-cial 
para diferentes estruturas de 
correntes, com ou sem estratificação. 
A dispersão horizontal e transporte 
são funções de correntes locais e da 
dispersão turbulenta. Brooks (1960) 
desenvolveu um modelo que caracte-riza 
adequadamente estes processos 
para estimar a dispersão horizontal. 
Um modelo simples logarítmico 
da mortalidade bacteriana (Chick) 
faz uma estimativa adequada do de-saparecimento 
dos coliformes para 
fins do projeto dos emissários sub-marinos. 
Os dados oceanográficos devem 
ser obtidos em duas fases: a primei-ra, 
durante a execução do projeto, e
37 
Revista do Crea-RJ • Junho/Julho de 2009 
ponto de vista 
Obs: Com emissário os custos podem ser bem menores se a implantação ocorrer na “janela 
do mar” (dias com mar mais calmo) 
a segunda, após sua construção, para 
obtenção dos dados necessários para 
o monitoramento ambiental. 
Esses dados são referentes à bati-metria, 
ao solo marinho, aos estados 
do tempo, aos ventos; às marés, às 
correntes marinhas, às temperaturas 
e salinidades da água do mar, às on-das 
e ao decaimento bacteriano. 
Estabilidade do emissário 
A estabilidade do emissário sub-marino 
no fundo da mar é alcança-da 
através da adequada ancoragem 
e esta é determinada sob duas con-dições. 
A primeira consideração é o 
lastro necessário para evitar a flutu-ação 
e prevenir o movimento hori-zontal 
devido às correntes marinhas 
e às ondas nas áreas fora da zona de 
arrebentação. A segunda é prevenir 
o movimento da tubulação dentro 
da zona de arrebentação durante as 
piores condições de uma tormenta. 
Nesta zona, muitas vezes chega a ser 
necessária a construção de um píer, 
em lugar da ancoragem especial. 
Durante o estudo de caso, para 
estabilização do emissário, verificou-se 
que a praia de Grussaí apresenta 
condições muito interessantes para 
utilização de tubulações submersas, 
devido ao fenômeno da refração. A 
inclinação do leito do mar é aproxi-madamente 
1% em uma extensão de 
mais de 3,0 km. As curvas de nível do 
fundo do mar são retas e paralelas à 
linha de costa. 
Quando a profundidade começa 
a ser menor que a metade do compri-mento 
da onda, diz-se que as ondas 
começam a sentir o fundo. Em Grussaí 
esta ação já se faz sentir a 2.800 m da 
linha de costa; quando se aproximam 
de águas rasas, as ondas se orientam 
para permanecerem paralelas à linha 
de costa. Como o emissário tem um 
comprimento relativamente pequeno 
e está em posição perpendicular em 
relação à praia, quando as ondas che-gam 
na tubulação, já estão totalmen-te 
influenciadas pela topografia exis-tente, 
percorrendo toda a extensão 
do emissário perpendicularmente a 
ele. As forças de interesse no caso, 
além da referente à boiância, ao seu 
peso submerso e à resistência por 
atrito que atuam sobre o emissário, 
são as referentes às ondas (fluxo das 
ondas) e às correntes marinhas. 
Para verificar a estabilidade do 
emissário em relação às forças de-vido 
às ondas onde a profundidade 
for menor que a metade do compri-mento 
da onda, principalmente na 
zona de arrebentação, deve-se saber 
os valores extremos dessas forças que 
se originam de ondas não quebrando 
e de ondas quebrando. Essas forças 
são: Força de inércia (Fi), Força de 
arrasto (Fa); e Força de elevação (Fe) 
A força provocada pelas corren-tes 
pode ser dividida em dois com-ponentes: 
força de arrasto e força de 
elevação. A magnitude dessas forças 
depende principalmente da veloci-dade 
da corrente, diâmetro do tubo, 
densidade da água do mar e da dis-tância 
do tubo ao fundo do mar. 
As características do Sistema de 
Disposição Oceânica dimensionado 
são as seguintes: comprimento do 
emissário: 1300 m; diâmetro da tubu-lação: 
250 mm; vazão máxima: 38 l/s; 
altura da chaminé de equilíbrio: 8,50 
m; profundidade do difusor:12 m ; 
comprimento do difusor:12 m ; nº de 
orifícios:6 ; diâmetro do orifício:8 cm 
; peso dos blocos de ancoragem:198 
kg; espaçamento dos blocos na zona 
de arrebentação: 3 m; espaçamento 
dos blocos na zona fora da arreben-tação: 
5 m; estratificação: variação de 
1 kg/m3 em 12 m / zona de recreação: 
300 m ; zona de arrebentação: 200 m 
; velocidade da corrente:0,21 m/s, em 
90% do tempo. 
O monitoramento das águas cos-teiras, 
complementados pelos estudos 
de modelagem da pluma dos emissá-rios, 
é uma ferramenta importante 
para o gerenciamento ambiental. 
Além do plano de monitoramento, 
é necessário um plano emergencial 
(plano de contingência) para produ-tos 
químicos, resíduos sólidos e rom-pimento 
de tubulação. 
Os resultados obtidos (confira 
tabela) mostram que o Tratamento 
de Esgoto: (RAFA+ reator rotati-vo) 
apresenta um custo total de R$ 
2.147.000,00, contra um custo total 
bem inferior da Disposição oceânica 
com emissário submarino: de apenas 
R$ 991.370,00. 
ITEM 
CUSTO PER 
CAPITA (R$/hab) 
POPULAÇÃO / 
VAZÃO (hab.) – l/s 
CUSTO TOTAL 
Tratamento de 
Esgoto: (RAFA+ reator 
rotativo) ou (LAB-Lodo 
ativado por 
batelada) 
190,00 (11.300) - 38 2.147.000,00 
Disposição oceânica 
com emissário sub-marino 
87,73 (11.300) - 38 991.370,00

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Emissários Submarinos para cidades pequenas-Revista do CREA-RJ º 77

  • 1. 36 ponto de vista O uso de emissários submarinos em cidades pequenas Tratamento de esgotos por disposição oceânica, com emissário submarino, é alternativa econômica e ambiental para localidades de pequeno porte Até há pouco tempo, quando al-guém ouvia falar de disposição oceânica de esgotos sanitários com uti-lização de emissário submarino, vinha-lhe logo à mente grandes cidades e va-lores da ordem de milhões de dólares. No entanto, com o aparecimento dos tubos de PEAD e as novas técnicas de assentamento da tubulação do emis-sário no leito do mar, essa associação mental deixou de existir. Hoje, pequenos municípios po-dem ter tratamento sanitário com o uso de emissário submarino. O cus-to de implantação para emissário de pequeno porte é bastante reduzido devido principalmente à possibili-dade da tubulação poder repousar diretamente sobre o leito oceânico sem preparo prévio. Além disso, ela flutua e pode ser rebocada em longas seções pré-montadas até o local de implantação. Balneáreo de Grussaí, em São João da Barra, onde o estudo foi realizado Engenheiro Sergio de Freitas Especialista em Engenharia Sanitária e em Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ Para comparar os custos en-tre emissário submarino e os trata-mentos convencionais aplicou-se o Sistema de Disposição Oceânica de Esgotos Sanitários, utilizando tubu-lação de plástico PEAD (Polietileno de Alta Densidade), em Grussaí, bal-neário do município de São João da Barra, Estado do Rio de Janeiro. Os sistemas convencionais considerados foram: lodo ativado por batelada – LAB; e RAFA - reator anaeróbio com fluxo ascendente - mais reator rotativo (biodisco). Bases técnicas utilizadas Vários mecanismos controlam as características de diluição de um emissário submarino e usualmente se consideram três fases: a diluição inicial, que ocorre durante os pri-meiros minutos ao sair o efluente do emissário e subir na coluna d’água recipiente; o transporte e a dispersão horizontal do campo de efluente; e as reações cinéticas que ocorrem nas águas do mar. Roberts et all (1989) desenvolveram um modelo (RSB) que permite estimar a diluição ini-cial para diferentes estruturas de correntes, com ou sem estratificação. A dispersão horizontal e transporte são funções de correntes locais e da dispersão turbulenta. Brooks (1960) desenvolveu um modelo que caracte-riza adequadamente estes processos para estimar a dispersão horizontal. Um modelo simples logarítmico da mortalidade bacteriana (Chick) faz uma estimativa adequada do de-saparecimento dos coliformes para fins do projeto dos emissários sub-marinos. Os dados oceanográficos devem ser obtidos em duas fases: a primei-ra, durante a execução do projeto, e
  • 2. 37 Revista do Crea-RJ • Junho/Julho de 2009 ponto de vista Obs: Com emissário os custos podem ser bem menores se a implantação ocorrer na “janela do mar” (dias com mar mais calmo) a segunda, após sua construção, para obtenção dos dados necessários para o monitoramento ambiental. Esses dados são referentes à bati-metria, ao solo marinho, aos estados do tempo, aos ventos; às marés, às correntes marinhas, às temperaturas e salinidades da água do mar, às on-das e ao decaimento bacteriano. Estabilidade do emissário A estabilidade do emissário sub-marino no fundo da mar é alcança-da através da adequada ancoragem e esta é determinada sob duas con-dições. A primeira consideração é o lastro necessário para evitar a flutu-ação e prevenir o movimento hori-zontal devido às correntes marinhas e às ondas nas áreas fora da zona de arrebentação. A segunda é prevenir o movimento da tubulação dentro da zona de arrebentação durante as piores condições de uma tormenta. Nesta zona, muitas vezes chega a ser necessária a construção de um píer, em lugar da ancoragem especial. Durante o estudo de caso, para estabilização do emissário, verificou-se que a praia de Grussaí apresenta condições muito interessantes para utilização de tubulações submersas, devido ao fenômeno da refração. A inclinação do leito do mar é aproxi-madamente 1% em uma extensão de mais de 3,0 km. As curvas de nível do fundo do mar são retas e paralelas à linha de costa. Quando a profundidade começa a ser menor que a metade do compri-mento da onda, diz-se que as ondas começam a sentir o fundo. Em Grussaí esta ação já se faz sentir a 2.800 m da linha de costa; quando se aproximam de águas rasas, as ondas se orientam para permanecerem paralelas à linha de costa. Como o emissário tem um comprimento relativamente pequeno e está em posição perpendicular em relação à praia, quando as ondas che-gam na tubulação, já estão totalmen-te influenciadas pela topografia exis-tente, percorrendo toda a extensão do emissário perpendicularmente a ele. As forças de interesse no caso, além da referente à boiância, ao seu peso submerso e à resistência por atrito que atuam sobre o emissário, são as referentes às ondas (fluxo das ondas) e às correntes marinhas. Para verificar a estabilidade do emissário em relação às forças de-vido às ondas onde a profundidade for menor que a metade do compri-mento da onda, principalmente na zona de arrebentação, deve-se saber os valores extremos dessas forças que se originam de ondas não quebrando e de ondas quebrando. Essas forças são: Força de inércia (Fi), Força de arrasto (Fa); e Força de elevação (Fe) A força provocada pelas corren-tes pode ser dividida em dois com-ponentes: força de arrasto e força de elevação. A magnitude dessas forças depende principalmente da veloci-dade da corrente, diâmetro do tubo, densidade da água do mar e da dis-tância do tubo ao fundo do mar. As características do Sistema de Disposição Oceânica dimensionado são as seguintes: comprimento do emissário: 1300 m; diâmetro da tubu-lação: 250 mm; vazão máxima: 38 l/s; altura da chaminé de equilíbrio: 8,50 m; profundidade do difusor:12 m ; comprimento do difusor:12 m ; nº de orifícios:6 ; diâmetro do orifício:8 cm ; peso dos blocos de ancoragem:198 kg; espaçamento dos blocos na zona de arrebentação: 3 m; espaçamento dos blocos na zona fora da arreben-tação: 5 m; estratificação: variação de 1 kg/m3 em 12 m / zona de recreação: 300 m ; zona de arrebentação: 200 m ; velocidade da corrente:0,21 m/s, em 90% do tempo. O monitoramento das águas cos-teiras, complementados pelos estudos de modelagem da pluma dos emissá-rios, é uma ferramenta importante para o gerenciamento ambiental. Além do plano de monitoramento, é necessário um plano emergencial (plano de contingência) para produ-tos químicos, resíduos sólidos e rom-pimento de tubulação. Os resultados obtidos (confira tabela) mostram que o Tratamento de Esgoto: (RAFA+ reator rotati-vo) apresenta um custo total de R$ 2.147.000,00, contra um custo total bem inferior da Disposição oceânica com emissário submarino: de apenas R$ 991.370,00. ITEM CUSTO PER CAPITA (R$/hab) POPULAÇÃO / VAZÃO (hab.) – l/s CUSTO TOTAL Tratamento de Esgoto: (RAFA+ reator rotativo) ou (LAB-Lodo ativado por batelada) 190,00 (11.300) - 38 2.147.000,00 Disposição oceânica com emissário sub-marino 87,73 (11.300) - 38 991.370,00