O documento discute a importância de uma Assembleia Constituinte Exclusiva para reformar o sistema político brasileiro. Argumenta-se que o Congresso atual não é capaz de promover mudanças estruturais devido aos seus próprios interesses. Defende-se que apenas uma Assembleia eleita exclusivamente para essa finalidade, com participação popular, poderia propor reformas que beneficiem a maioria da população. Também se destaca a necessidade de unir os movimentos do campo e da cidade nessa luta pela reforma política.
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Jornal Sem Terra
1. www.mst.org.br Ano XXXIII • Nº 326 • Dezembro- 2014
Saiba o que é uma Constituinte
Exclusiva para a reforma do
Sistema Político
Escola Nacional Florestan
Fernandes completa 10 anos
de luta da classe trabalhadora
Leandro Konder, o profeta da
dialética
Página 2 Página 9 Página 12
eStudo Realidade Brasileira Lutadores do Povo
“2015 será o ano de retomar grandes
mobilizações pela Reforma Agrária”
JokaMadruga
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2. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
Palavra do Leitor
Editorial Ou avançamos na conquista de mais direitos ou retrocedemos e damos mais lucros às grandes empresas.
Direção Nacional do MST
“A unidade entre campo
e cidade é fundamental
para uma nova
sociedade” – Ermínia
Maricato, professora da
Universidade de São Paulo
Temos como tarefa
construir um amplo
arco de alianças com os
movimentos urbanos
em torno de uma
Constituinte
É necessário a unidade
entre os movimentos
do campo e da cidade
para mobilizar o Brasil
“Realmente precisamos
estender as feiras da
Reforma Agrária, porque
é bom que se saiba que
os alimentos saudáveis
da agricultura familiar
estão no dia a dia dos
Brasileiros” - Osni Jacinto
“O MST tem que lutar por
mais linha de créditos,
assistência e inserção no
mercado porque SE O
CAMPO NÃO PLANTA A
CIDADE NÃO JANTA!” -
Conceição Vieira
Estamos entrando num novo ciclo
da luta política no Brasil, onde a
participação popular em grandes
decisões que afetam diretamente
o futuro do país será cada vez mais
cobrada, e isso ocorrerá nas ruas.
O novo governo da presidenta
Dilma Rousseff foi eleito sob a ba-
se da mudança. Foi esse o recado
dado pelo povo, após vivenciar o
confronto entre dois projetos po-
líticos antagônicos para o Brasil.
O discursovencedorfoijustamen-
te o que coloca o país no rumo das
transformações estruturais, contra-
pondo o atual sistema político, cada
vez mais voltado aos interesses do
capital e retrocedendo nos direitos
constitucionais do povo brasileiro.
Reconhecemos que nos últimos
12 anos houve melhorias na vida
do trabalhador, mas este modelo
de distribuição de renda de políti-
cas compensatórias com alta taxa
de lucro das empresas se esgotou.
O governonãoconseguefechara
conta,asempresasqueremobtermais
lucroseostrabalhadoresmaisdireitos.
É este o campo de batalha que
teremos para o próximo período:
ou avançamos na conquista de mais
direitos para os trabalhadores, ou
retrocedemos ao disponibilizar mais
lucrosàsempresaseaoagronegócio.
Neste contexto, nós que esta-
mos na luta pela terra e pelo ter-
ritório, temos como tarefa funda-
mental construir um amplo arco
de alianças com os movimentos
urbanos em torno de uma Cons-
tituinte Exclusiva e Soberana.
É necessária a unidade entre
os movimentos do campo e da
cidade para mobilizar os quatro
cantos do Brasil por essa luta, já
que só a pressão popular garantirá
que o governo faça uma refor-
ma política exclusiva e soberana.
Lutar pela Constituinte é abrir
caminhos para outras grandes re-
formas estruturais, como a Reforma
Agrária, a reforma tributária para
taxar as grandes riquezas, a reforma
do Poder Judiciário e a democrati-
zação dos meios de comunicação.
Alémdefortaleceraunidadeentre
campo e cidade, também é preciso
ampliar e fortalecer a unidade no
campo por meio da Via Campesina.
A construção de espaço de for-
mação e luta dos povos do campo,
como ocorreu em agosto de 2012
no 1° Encontro Unitário dos Traba-
lhadores, Trabalhadoras e Povos do
Campo, das Águas e das Florestas,
possibilitou que mais de 333 organi-
zaçõesdocamposereunissemnuma
plataforma política e tirassem um ca-
lendário unificado de luta em defesa
da Reforma Agrária e do território.
A retomada da luta pela terra
combinadacomosnovosdesafiosor-
ganizativosteráquedarotomdeum
novo momento do processo de luta
declasses.Precisamosdepolíticasdo
campo que possibilitem a mudança
do curso do desenvolvimento para
a agricultura, e isso significa mudar
a matriz tecnológica voltada para
produção de alimentos, priorizando
o fim do uso de agrotóxicos, que
avance na demarcação do território
indígena e quilombola e garanta
a plena democratização da terra.
Portanto, a unidade no proces-
so de luta pelas reformas estru-
turantes é nosso desafio nesse
novo período, atrelado à constru-
ção da Reforma Agrária Popular
e a massificação do combate ao
latifúndio, seja por meio da produ-
tividade, da degradação do meio
ambiente ou pelo trabalho escravo.
A retomada da luta pela terra dará o tom de
um novo momento da luta de classes
“A Reforma Agrária é,
além de uma necessidade
política, uma obrigação
moral” - Papa Francisco
Edição - chefe: Luiz Felipe Albuquerque. Revisão: José Coutinho Jr. e Maura Silva. Projeto
Gráfico: ElielAlmeida. Diagramação: Maura Silva. Assinaturas: Elaine Silva Tiragem: 10 mil
exemplares. Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232 - CEP -1202-002 - São Paulo (SP) - Tel. (11)
2131-0850. Correio Eletrônico: jst@mst.org.br. Página na internet: www.mst.org.br. Todos os
textos do JST podem ser reproduzidos por qualquer veículo de comunicação, desde que citada
a fonte e mantida a integra do material.
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3. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
Estudo A Reforma Política é pauta central no debate atual, resta saber se será feita pelo povo ou pelo Congresso.
O Congresso Nacional não é capaz
de fazer uma reforma estrutural
que rompa com seus próprios in-
teresses. Hoje, a Câmara dos Depu-
tados e o Senado são compostos
por representantes dos setores
mais atrasados da sociedade bra-
sileira, como banqueiros, gran-
des empresários e latifundiários.
As campanhas eleitorais são finan-
ciadasporessesmesmosgrupos,que
veem na política mais uma forma de
investir em seus negócios e ter seus
interesses satisfeitos na formulação
das leis que regem o país.
Por isso, deixar a Reforma Política
para esse Congresso é jogar a água
da banheira com a criança dentro.
Apenasumfórumdedebatecomre-
presentantes do povo, eleitos exclu-
sivamente para reformar o Sistema
Político e alterar a Constituição nos
pontos que dizem respeito a ele,
podeproporcionaravançosquecon-
templem os interesses mais amplos
da população e não apenas de uma
minoria.Aexclusividadeexige,ainda,
que a elaboração dos novos pontos
constitucionais se dê mediante a
consulta cidadã e a participação
popular, com audiências junto à
população. Após realizada a Assem-
bleia e aprovada as mudanças, esses
representantes terminariam seus
mandatos e seguiriam suas vidas, o
quepossibilitariaqueodebatesobre
a Reforma Política se desse em outro
nível, sem o estreito vínculo com
interesses individuais. Esse fórum
se chama Assembleia Constituinte
Exclusiva do Sistema Político. Com
uma Assembleia Constituinte, as
questões que realmente interessam
à política do país seriam colocadas,
como o financiamento público das
campanhas, os mecanismos de en-
frentamento à sub-representação
de setores como negros, indígenas
e LGBTTs, o fortalecimento de ferra-
mentasdedemocraciaparticipativa,
como os plebiscitos, referendos e
Projetos de Lei de Iniciativa Popular
(PLIPs), a composição da Câmara e
do Senado, etc. Não restam dúvidas
de que a Reforma Política é pauta
centralnodebateinstitucionalatual.
Foi tema das eleições presidenciais
e está presente nas discussões dos
três poderes em Brasília. O centro
da questão, no entanto, é quem fará
a Reforma Política, se é o povo ou o
Congresso. A campanha do Plebis-
cito Popular por uma Constituinte
Exclusiva e Soberana do Sistema
Política, organizada a partir de mais
de 2.000 comitês em todos os esta-
doscoletou,emsetembrodesteano,
quase 8 milhões de votos em urnas
populares,sendo97,05%delesfavo-
ráveis à convocação da Constituinte.
O resultado foi entregue aos três
poderes, e um Projeto de Decre-
to Legislativo foi protocolado na
Câmara (PDC 1805/2014) e no Se-
nado (PDS 150/2014). O projeto
prevê a convocação de um Plebis-
cito Oficial, nos termos constitu-
cionais, que consulte à população
em relação à pergunta: “Você é a
favor de uma Assembleia Consti-
tuinte ExclusivadoSistemaPolítico?”.
O Congresso, porém, recusa-se a
enxergar a realidade, e tem seu pró-
prio projeto tramitando na casa. O
Projeto de Emenda Constitucional
(PEC) 352/13 tramita na Câmara
desde julho de 2013, e é outra
proposta em jogo nessa disputa.
Ela é resultado da reunião de 37
projetosquenãotocamemnenhum
dos pontos cruciais que atravancam
o atual Sistema Político. Essa PEC
não passa de uma contrarreforma
política, que propõe apenas a re-
formulação de questões eleitorais
comoovotofacultativoeareeleição,
sem o debate do financiamento das
campanhas e a discussão mais am-
pla sobre o Sistema Político do país.
Seguir organizando a luta de massas
pela Constituinte significa, atual-
mente, pressionar ao máximo as
instituiçõesparaqueumprojetoque
beneficieopovobrasileirosejaapro-
vadonasduascasas.Issosignificaen-
frentarospoderososqueserecusam
aquererenxergaraverdade:apopu-
laçãoquermudançassignificativase
sabe que isso não vai acontecer com
o atual Congresso.
Mas o que é isso de Constituinte Esclusiva
para a Reforma do Sistema Político?
O Congresso tem seu
próprio projeto de
reforma, e é outra
proposta em jogo nessa
disputa
Afinal, o que é
uma
Constituinte?
Lucas Pelissari
Executiva Nacional do Plebiscito por uma
Constituinte
É a realização de uma assem-
bleia de representantes eleitos
pelo povo que recebem o man-
dato para criar ou modificar a
Constituição e definir as regras
e o funcionamento das institui-
ções do país, como o governo,
o congresso e o judiciário. A
Constituinte que propomos de-
veservirparamudarasregrasdo
sistemapolíticoeabrircaminho
paraasaspiraçõespopulares,co-
mosaúde,educação,transporte
e reforma agrária.
Por que Exclusiva
e Soberana?
Deve ser exclusiva para que os
representantes sejam eleitos
exclusivamente para isso. Não
serãoosdeputadosatuais,jáque
nãoiriamcaçarseusprópriospri-
vilégios.Devesersoberanapara
ter o poder de mudar o sistema
político. Ouseja,estaráacimade
todos os outros poderes.
Reprodução
Ato em SP reuniu mais de 2 mil pessoas pela Constituinte, em setembro
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4. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
Entrevista Para o coordenador nacional do MST, diante do atual Congresso Nacional e da polarização da luta, “ou
Marcha dos Sem Terra, em Brasília, durante o 6º Congresso Nacional do MST, em fevereiro de 2014
“Temos que exigir, nas
ruas, que o governo faça
as principais reformas.
A primeira é a Reforma
Política, que é um
consenso no Brasil”
MídiaNinja
Por José Coutinho Júnior
Setor de Comunicação do MST
Em entrevista ao JST, Jaime Amorim,
da coordenação nacional do MST,
analisaaconjunturapolíticade2014.
Do 6° Congresso do MST ao pe-
ríodo eleitoral, abre-se um es-
paço para um novo ciclo de lu-
tas pela Reforma Agrária.
Para ele, o ano de 2015 será de
extrema importância “para fazer
ocupações de latifúndios, reto-
mar o processo de massificação
da luta pela terra, exigir do gover-
no questões fundamentais para
o desenvolvimento da Reforma
Agrária Popular, dos assentamentos
e para a desapropriação de terras”.
Jornal Sem Terra - O que represen-
tou o 6° Congresso do MST, tanto
para o Movimento como para a
sociedade?
Jamie Amorim - O 6° Congresso foi
um marco para o MST, que mostrou
a referência que o Movimento cons-
truiutantonoBrasilcomoemoutros
países.Queríamosdarumrecado,de
queestamosrecuperandooprocesso
de luta de massas, e que a luta pela
Reforma Agrária está viva. A palavra
de ordem “Lutar, Construir Reforma
Agrária Popular” constitui uma sín-
tese do que foi o Congresso. E ao
mesmo tempo em que se esgota o
processodaReformaAgráriaClássica,
temosumanovaproposta,aReforma
Agrária Popular. Essa foi a marca que
o Congresso deixou.
JST - Que balanço você faz da Re-
forma Agrária no fim do primeiro
mandato de Dilma?
JA - Infelizmente tivemos duas
questões centrais para a Reforma
Agrária não ter avançado no longo
período do governo Lula e Dilma.
O projeto que eles adotaram não
tem espaço para a Reforma Agrária.
Eles apostaram no agronegócio,
na produção para exportação, para
garantir o equilíbrio da balança
comercial. O governo nunca tomou
medidas para avançar na Reforma
Agrária, e com isso indiretamente
reforça o modelo agroexportador,
que sempre contestamos. O agrone-
gócio, em função dos incentivos do
governo, acabou construindo uma
hegemonia com aliados poderosos.
Mas seu poderio começa a en-
trar em falência. Setores que
eram fortes, como o canavieiro e
o eucalipto estão quebrando, e isso
mostra que vamos entrar num novo
período da luta pela Reforma
Agrária nos próximos anos.
Para nós, esse é um momento
Jaime Amorim: “Temos que ir para ofensiva
contra esse novo Congresso conservador”
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5. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
vamos às ruas, ou vamos perder”.
O aumento do conservadorismo no Congresso é resultado de uma capitalização do processo eleitoral
Reprodução
bom. De um lado está a direita
querendo retornar ao governo, e ao
mesmo tempo, essa direita no cam-
po começa a falir.
JST - O Congresso Nacional eleito é
um dos mais conservadores. Como
lutar por mudanças nesse cenário?
JA - Vamos ter que criar outras
formas de nos posicionar nesta con-
juntura. Mas é possível que, com as
lutas nas ruas, possamos pressionar
o governo a tomar uma postura
mais progressista. Temos que ir para
a ofensiva contra esse Congresso.
Temos que criar uma ampla frente
popular que reúna organizações e
partidos de esquerda, que lute por
bandeiras concretas, exigir nas ruas
que o governo faça as principais
reformas. A primeira é a Reforma
Política, que é um consenso, e pres-
sionar para alterar esse modelo po-
lítico que não nos serve. Segundo
a reforma dos meios de comunica-
ção, está todo mundo atento para
isso, e se quisermos uma sociedade
mais democrática, essa hegemonia
deve acabar. Também tem que ser
feita uma reforma tributária, pois é
necessário que o país cobre menos
impostos do povo e mais dos ricos.
E a Reforma Agrária. É nossa tarefa
organizar a população do campo e
exigir que ela seja feita. É certo que
vamos ter um cenário complexo e
demuitascontradições.Acorrelação
de forças está bastante apertada,
tanto o Congresso, o judiciário e a
imprensaestarãocontranósecontra
o governo, criando um processo de
instabilidade permanente
JST - O que caracteriza esse novo
período de lutas pela Reforma
Agrária?
JA - Há uma contradição bastante
explícita entre o pensamento da di-
reita conservadora e o pensamento
maisprogressista,compossibilidade
de avançar mais para a esquerda.
Vamos ter que fazer com que essas
contradições sejam motivação para
Temosqueenfrentarimediatamente
essaoposição,fazendolutasdemas-
sa logo no início de 2015, garantir
efetivamente um um março e abril
vermelho, para demonstrar nossa
capacidade e disposição de luta.
JST-Abancada ruralista, após essa
eleição conta com mais de 50% dos
deputados no Congresso. O que isso
representa para a luta dos trabalha-
dores do campo?
JA- O aumentodoconservadorismo
no Congresso não é resultado de
uma democracia popular, e sim da
dada, é um sinal bastante ruim para
todos aqueles que foram às ruas de-
fender a reeleição da presidenta Dil-
ma. Do ponto de vista objetivo,isso
nãoalteramuitacoisa. O quealteraé
oquerepresentaaKátiaAbreu. O go-
verno,sequiserteranossaconfiança,
precisa indicar para o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA),
que é o nosso ministério, pessoas
que representem a vontade de fazer
a luta dos camponeses. Temos que
pressionar o governo para indicar
quem tem a competência e
JST - Quais as ações do MST frente
a tudo isso?
JM - Para nós esse é um bom mo-
mento.Ascontradiçõesestãobastan-
tesexpostas.Deumladoestáadirei-
ta querendo retornar ao governo, e
ao mesmo tempo, ela começa a falir
no campo. Então é nossa hora. 2015
vai ser um ano muito importante
para fazer ocupações de latifúndios,
retomar o processo de massificação
da luta pela terra, exigir do governo
questões fundamentais para o de-
senvolvimento da Reforma Agrária
Popular dos assentamentos e para a
desapropriaçãodeterras.Precisamos
fazer uma grande luta no início do
ano, recuperar nossa capacidade de
fazer grandes mobilizações e reco-
locar a Reforma Agrária na agenda
política da sociedade.
capitalização cada vez maior do pro-
cesso eleitoral. Quem tinha dinheiro
seelegeu,comoosfundamentalistas,
eleitos pela mídia e empreiteiras. Va-
mos sofrer durante esse período um
processo permanente de tentativa
de tirar os direitos já conquistados,
e o Congresso tentará encurralar e
imobilizar o governo cada vez mais.
Temosquedisputarasruas,paranão
perderdireitosouficaràmercêdesse
Congresso.
JST - Após a indicação de Kátia
Abreu para o Ministério daAgricul-
tura (MAPA), é possível afirmarque
esse governo ainda está em disputa?
JA - Se essa indicação for consoli-
capacidade para gerir o MDA e o
Incra, e garantir que a Conab não
esteja mais ligada ao MAPA, e sim
ao MDA, que são os órgãos que nos
interessam.
JST - Será possível fazer reformas-
com esse congresso conservador?
JA-Sedependermosdessecongres-
so, não vamos só perder direitos,
mas ele fará com que aos poucos o
governo recue nas políticas públicas
esociais,queforambandeirasnosúl-
timos12anos. Ouvamosàsruas,com
organização popular, ou vamos per-
der. Se o governo não der sinais e os
movimentossociaisnãoperceberem
o momento que estamos vivendo, a
tendênciaévivermosquatroanosde
muitosconflitoseperdasdedireitos.
“Temos que enfrentar
imediatamente essa
oposição, fazendo luta de
massas no início de 2015,
para demosntrar nossa
disposição de luta”
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6. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
Estado Jovens de toda a América Latina se reúnem no Rio Grande do Sul para traçar agenda de lutas
Por Rafael Soriano e Gustavo Marinho
Setor de Comunicação do MST
Os Sem Terra de Alagoas
realizaram duas grandes
feiras da Reforma Agrá-
ria nos últimos meses.
No mês de setembro, a
capital Maceió recebeu mais de 600
toneladas de produtos na 15ª Feira
da Reforma Agrária. Junto à comer-
cialização, a feira também trouxe
um festival cultural com diversas
apresentações, que vão desde o
folclore com bois, escola de samba
Brasil recebe 14º Acampamento da
juventude Latino Americana
Durante o 14º Acampamento da Juventude, os jovens ocuparam uma fazenda de milho transgênico
e coco a grupos contemporâneos,
que mesclam a cultura popular com
a pauta política. Em outubro, foi a
vez da cidade de Arapiraca comer-
cializartoneladasdeprodutosvindos
das áreas da Reforma Agrária no
estado. O evento é um instrumento
que, junto com as lutas de todo ano,
materializa à sociedade o resultado
da divisão das terras e da coopera-
ção no trabalho dos camponeses,
agricultores e agricultoras Sem Terra
quelutarampelaReformaAgráriano
início dos anos de 1980 na região.
Alagoas mostra à sociedade os frutos
da Reforma Agrária
Foram comercializados mais de 600 toneladas de produtos
Após 11 anos, assentados conquistam
crédito para construir suas casas
Por Marcos Lima
Setor de Comunicação do MST
AsfamíliasassentadasdoMé-
dioSertãoparaibanoconquis-
taram,nomêsdenovembro,a
construção de 131 unidades habitacio-
nais no Assentamento Nova Vida I, no
municípiodeAparecida.
Segundo o dirigente nacional do MST,
Rosivan Batista, esta é a primeira vez
que acontece a assinatura de contrato
entre a Caixa e assentados.“Até o final
doanotemosumapautaparacumprir,
e temos mais de dez assentamentos
que precisam de habitações dignas”,
frisou.Alutaporterraemoradiainiciou
nas VárzeasdeSousa,nodia24demaio
de 2004, quando cerca de 800 famílias
reivindicavam seus direitos de plantar
ecolher.
“Pensamosqueconseguiríamosterra
ecasadeumdiaparaoutro.Passaram-se
11anos,masnuncadesistimos,eagora
estoupróximodeabrigarminhafamília”.
perados à agroindústria.
A iniciativa surgiu a partir de um
diagnóstico que indicava que o valor
pago aos produtores por tonelada
nãocompensavaotrabalho.Assim,foi
criadaaagroindústriaparagerarrenda
às famílias e diversificar a produção.
GustavoMarinho
Entre os dias 20 a 23
de novembro, cerca de
2 mil jovens de todo o
continente americano se
reuniram em Palmeiras das Missões
(RS), um território de grandes lu-
tas indígenas e camponesas, para
participar do 14° Acampamento
da Juventude Latino Americana.
Organizado pela Coordenação La-
tinoamericana das Organizações
do Campo (Cloc) e Via Campesina,
o acampamento contribuiu no pro-
cesso formativo e debateu as lutas
conjuntas com a juventude urbana
e de outros países. Para Raul Amo-
rim, da coordenação do coletivo de
juventude do MST
“o acampamento foi um espaço de
protagonismo da juventude cam-
ponesa na luta contra a ofensiva do
capital sobre os recursos naturais
na América Latina”. Para Amorim o
acampamento colocou o desafio
da construção de agendas de lutas
comuns para a construção de um
projeto popular para o continente.
A cubana Aleida Guevara, filha
de um dos líderes da Revolução
Cubana, Che Guevara, que esteve
presente durante o Acampamento.
“Ajuventudeéquemvaiimpulsionar,
animar e construir com criatividade
ecapacidadeasmudançasparauma
sociedade mais justa e igualitária
justa”.
MídiaNinja
O
JST - Rev..indd 6 01/12/2014 17:58:34
7. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
Estado Serão comercializados 520 toneladas, além de 1 milhão de toneladas de arroz orgânico
Em outubro, a prefeitu-
ra de São Paulo fechou
um acordo com duas
cooperativas do MST
para a compra de 520 toneladas
de feijão pelo Programa Nacio-
nal de Alimentação Escolar (Pnae).
De acordo com Sebastião Aranha,
militante do MST, o acordo beneficia
tanto a agricultura familiar como a
cidade de São Paulo.
“Temos condições de atender
100% da alimentação escolar da
cidade.
MST vende feijão da Reforma Agrária para
as escolas de São Paulo
Famílias de Andradina foram as primeiras a conquistar agroindústria em SP
Leandro Taques
Projeto de escola em assentamento
ganha prêmio de tecnologia
Por Talles Reis
Setor de Comunicação do MST
A população de Recife
possui agora mais um
ponto para aquisição
de produtos saudáveis:
a Feira Agroecológica da Refor-
ma Agrária, organizada numa
parceria entre as famílias do
Assentamento Chico Mendes
III, a Associação Terra e Vida e o
Museu do Homem do Nordeste.
A feira funciona às sextas-feiras
pela manhã na sede do museu,
localizadonobairroCasaForte. O
Assentamento Chico Mendes III,
em São Lourenço da Mata, é a
principal experiência em anda-
mento de produção agroeco-
lógica do MST na região. Atual-
mente, as 55 famílias assentadas
participam de três feiras: na Pra-
ça do Canhão, em São Lourenço
da Mata, duas em Recife e a mais
nova feira no Museu do Homem
do Nordeste. Para Maurício
Antunes, diretor do museu, o
objetivodafeiranãoédeapenas
disponibilizar um espaço físico.
“O nosso projeto está baseado
em trazer a agricultura familiar
também como cultura, e não
cindir a reprodução material da
vida cultural”, afirma.
MST inicia parceria com museu
para feira agroecológica em Recife
55 famílias assentadas participam de três feiras na capital pernambucana
MauraSilva
MST-RO
A Escola Estadual de En-
sino Médio Antônio Con-
selheiro, que atende 200
criançasejovensdedezas-
sentamentosdoMST,elaborouum
projeto de nomeação de estradas
queenvolveutodaacomunidade.
A iniciativa foi premiada com o
2° lugar na Mostra Brasileira e
Internacional de Ciência e Tec-
nologia (Mostratec), no eixo En-
sino Médio Politécnico, ciências
sociais, comportamento e artes.
A escola desenvolveu o projeto
“Construindo Caminhos para a
Valorização do Espaço em que Vi-
vemos”,comapropostadenomear
as estradas rurais da região,
que até então não tinham nomen-
clatura formal. A ideia é contribuir
no acesso aos serviços públicos,
como transporte escolar, correio,
telefone e a comunicação com
outras comunidades e cidades pró-
ximas. Para nomear as estradas,
os estudantes pesquisaram sobre
figuras importantes da história de
seus assentamentos, debatendo a
proposta com suas comunidades.
“Fomos na comunidade contar as
histórias,conferircomosmaisvelhos,
depois o pessoal fez uma conversa
com a comunidade para ver os no-
mes de estradas que gostariam de
colocar”, contou a diretora Carmen
Willes Vedovatto.
As famílias assentadas e acampadas
da região de Andradina (SP) serão as
pioneiras da primeira agroindústria
financiada pelo Programa Terra Forte
no estado de São Paulo.
A cerimônia de assinatura do pro-
jeto aconteceu no mês de setembro,
no Assentamento Timboré. A Coapar
receberácercadeR$12,8milhõespara
investir na construção da agroindús-
tria. A região de Andradina comporta
46 assentamentos e mais de 4.500
famílias.
Éonossoobjetivo,poisquemproduz
alimentos saudáveis é a agricultura
familiar, e muitos desses alimentos
acabam sendo vendidos para a pre-
feitura por atravessadores”.
A prefeitura também vai adquirir
um milhão de toneladas de arroz
orgânico, produzido por 850 famí-
lias assentadas do Rio Grande do
Sul, e há negociações para a
Agroindústria
compra de banana do Vale do
Ribeira e hortifrutigranjeiros do
Cinturão verde do estado.
Setor de Comunicação do MST - RS
Os estudantes pesquisaram a história de seus assentamentos para nomear estradas
Por José Coutinho Júnior e
Maura Silva
Setor de Comunicação do MST
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8. Jornal Sem Terra • DEZEMBRO 2014
Especial As crises são resultados do desenvolvimento das contra
Jor
6° Congresso Nacional
do MST reuniu cerca de
15 mil Sem Terra entre
10 a 14 de fevereiro.
Com mobilizações em 12 estados, as mulheres
Sem Terra abriram as jornadas
de lutas do Movimento este ano.
Em abril, a Jornada Unificada da Classe Trabalhadora reuniu
cerca de 40 mil pessoas nas ruas de São Paulo.
OsSemTerrasemobilizaramem19estados
eocuparammaisde60terraseprédios
públicosnajornadadelutasdeabril.
Entremarçoeabril,diversasorganizaçõesda
jovensrealizaramasegundajornadanacionalde
lutasdajuventudebrasileira
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9. s contradições internas de um determinado processo
Jornal Sem Terra • DEZEMBRO 2014
As ocupações das terras da Araupel, no Paraná no mês de maio, e do senador Eunício Oliveira (PMDB), em
Goiás no mês de agosto, simbolizaram as duas grandes lutas do MST, com cerca de 3.000 famílias em cada uma.
Ao longo de todo ano mais de 400 organizações realizaram
a luta pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte, que
colheu quase 8 milhões de votos entre os dias 1 a 7/09.
Em outubro os Sem Terrinha realizaram mais uma jornada de
luta em todo país
Com 2.000 pessoas, a juventude
Latino Americana realizou seu
14° acampamento no mês de
novembro, em Palmeiras das
Missões (RS).
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10. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
realidade brasileira Em 2015 a Escola Nacional Florestan Fernandes completa 10 anos contribuindo na formação de quadros
ENFF, um resultado das experiências
históricas da classe trabalhadora
A construção da ENFF
é parte de todos que
tinham argamassa em
uma mão e um livro
em outra Para o MST, o método
deveprepararamilitância
para trabalhar com as
pessoas
Faz parte da missão da ENFF a qualificação envolvendo a base, a militância e os dirigentes
ArquivoMST
A Escola Nacional Florestan
Fernandes (ENFF) está perto de
completar 10 anos de atividade.
sociais do aprendizado coletivo.
Sem Terra do Brasil assumiram
desde sua germinação o compro-
misso com o legado da história e
da memória dos coletivos em luta.
A formação Política tempera-
da com o vigor da mística, mo-
dulando a voz e o passo da par-
tilha e da comunhão do gesto.
Assim, se criaram as primeiras
escolas de formação do MST, co-
mo espaços da educação e práti-
ca de liberdade. Nossa formação
política sempre esteve associada
a dimensões que fortalecem o co-
tidiano do Movimento. A primei-
ra está relacionada à qualificação
das lutas de massas e a segunda é
a organicidade interna, que pro-
duz a força motriz do Movimento.
Nossa vigilância ideológica é
exercida para que se materialize
em nossas práticas a participação,
a unidade, a disciplina e o com-
promisso com as lutas do povo.
A tarefa da formação é repar-
tir conhecimentos e construir
experiências concretas de orga-
nização, prática, valores e lutas.
Assim, deste desejo de auto-
formação e partilha de experiên-
cias, nascia há 10 anos a ENFF.
Suanomeaçãomarcavaumcom-
promisso e uma justa homenagem
à vida de um intelectual bra-
sileiro, filho do povo e que
sempre esteve ao seu lado.
A construção de nossa Escola em
Guararema, São Paulo, ocorreu com
as brigadas, que prepararam a arga-
massa, fizeram os tijolos, ergueram
paredes, teto e enquanto pratica-
vam suas artes de pedreiros, mar-
ceneiros e pintores, sentavam com
um livro às mãos para o estudo das
primeirasletrasdesuaemancipação.
O objetivo da ENFF é contribuir
para a formação de quadros. Por-
tanto, faz parte de sua missão a
qualificação da atuação envolvendo
a base, a militância e os dirigentes.
Para o MST, as matérias primas de
construção do quadro político são
a luta, o estudo e a participação
permanente, construindo assim as
respostas para os desafios lançados.
As ENFFs
Atualmente, contamos com três
espaços que se somam à nossa
estrutura de Guararema. São as
ENFFs do Nordeste, em Fortaleza
(CE), Centro Oeste, em Brasília (DF),
e o Instituto de Agroecologia Latino
Americano, na Região Amazônica.
Todasestasestruturastemaintenção
de fortalecer a organização e a for-
mação política, o debate das ideias,
transformando as divergências em
momentos de construção do novo.
As ENFFs que atuam em âmbito
regional também tem o papel de
realizar atividades, abordando o
avanço do capital em cada região,
resgatandoahistóriadaslutaseresis-
tências,paraqueoscursosprograma-
dosdialoguemcomalinhaestratégi-
ca,osdilemasedesafiosdarealidade.
Para o MST, o método deve pre-
pararamilitânciaparatrabalharcom
as pessoas, impulsionar o processo
de inserção e organização na base.
As escolas nas regiões tem por
tarefa realizar o trabalho de base, a
articulação com os professores das
universidadeseoutrasorganizações
sociais, fortalecendo a mística da
identidade da classe trabalhadora.
É preciso formar militantes enga-
jados com a prática organizativa do
MST edalutadeclasse,potencializar
uma metodologia de incentivo e
cultivaroentusiasmo, acriatividade,
buscando inovar nos métodos, for-
talecendo o valor da solidariedade.
Por Simone Pereira
Coordenadora Político Pedagógica da ENFF
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11. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
realidade brasileira
O internacionalismo é valor da classe
trabalhadora
940 estudantes já
participaram de
algum processo
formativo
Como resultado do pensamento e
da prática da formação política à
esquerda, a ENFF também inovou
emsuaorganização,emsuasformas
de se relacionar com movimentos
sociais e partidos políticos, cons-
truindoumavisãopluralepluralista,
fundamentadanahistóriadalutade
classes. Emsuahistória,desenvolveu
uma rede de solidariedade formada
por lutadores que se identificam
comcausasprogressistaseumaedu-
cação libertadora. A solidariedade
está na base da construção da ENFF,
quecontoucomdinheirodoadopor
artistas como Sebastião Salgado
Chico Buarque e José Saramago,
além do trabalho solidário de mi-
litantes de diversas partes do país,
das contribuições organizações do
Brasil e de outras partes do mundo.
Asolidariedadedeclassefezsurgira
AssociaçãodosAmigosda ENFF(AA-
ENFF), que nos últimos cinco anos
reuniu apoiadores de praticamente
todas as regiões do país, e tem con-
tribuído tanto para obter recursos à
Escolaquantoapoiopolíticoàscon-
cepções de educação, luta política
edeconsciênciadesenvolvidaspela
EscolaNacionalFlorestanFernandes.
Construirumaredeinternacionalde
Construirumaredeinternacionalde
apoiopolíticoefinanceiro continua
sendo o objetivo central da ENFF,
que atua em diversas frentes para
torná-la conhecida com as causas
queamobilizam. Emtemposdecer-
co feroz das classes dominantes à
resistênciados“debaixo”,permiteà
ENFFmanterseusprincípiosdenão
submissãoaosvaloresdominantes,
seguindo em seu propósito de de-
penderapenasdaquelesquelutam
pela libertação de todos aqueles
que são oprimidos pelo Capital e
portodasassuasmazelasquetanto
ferem o snoo povo.
Solidariedade e Educação à Esquerda
processo organizativo.
Por ser considerada uma das
principais escolas de formação de
quadros de movimentos sociais da
América Latina, a ENFF zela pela uni-
dadeeintegraçãodonossocontinen-
te, como as articulações continentais
com a CLOC, Via Campesina e ALBA
-MovimentosSociais,alémdeoutras
centenas de organizações.
Os cursos preparatórios para mi-
litantes que prestam solidariedade a
outrospovos,como Venezuela,Amé-
rica Central, África, Haiti, Palestina;
os intercâmbios que desenvolvem o
internacionalismocomajuventudee
divulga a luta do MST em outros paí-
ses, e os cursos de formação política
latino americana são apenas alguns
exemplos dessa prática de tradição
doscursosdeformaçãopolíticaeide-
ológicadaesquerdalatinoamericana
em todo o mundo..
Outro ponto é o fato do MST
sempre ter acreditado que os cam-
poneses e a classe trabalhadora têm
odireitoelegitimidadedeocuparem
a academia para aprofundar seus
conhecimentos. O esforço que a
a ENFF tem feito nesses oito anos
tem fortalecido a luta e a unidade
latino americana. Sem dúvida é um
espaço de trocas de experiências
e das lutas dos povos da América
Latina.
Por isso, dentre os cursos realiza-
dospela ENFF,estáoNúcleode Estu-
do LatinoAmericano,inauguradoem
2007.Desdeentão,sistematicamente
se mantém diversos cursos e ativida-
desinternacionaiscomaparticipação
decentenasdeorganizaçõespopula-
res do mundo.
Com a inauguração da ENFF em
2005, o MST recupera a tradição dos
cursos de formação política e ideo-
lógicadaesquerdalatinoamericana,
herdadadaexperiênciadarevolução
cubana, que formava militantes do
mundo inteiro.
Neste processo, a juventude é
convocada à formação, buscando
compreender os elementos sociais,
políticos, culturais e criar linguagens
que dialoguem com a atualidade. Os
cursosprocuramorganizarnovasme-
todologiasquepermitemodesenvol-
vimento político da consciência e do
Em toda a construção da Escola
Nacional Florestan Fernandes
(ENFF) um dos entendimentos
básicos foi o fato de que o
processo formativo deve
incentivar e vivenciar a prática
da mística revolucionária e
internacionalista e praticar a
solidariedade internacional
a todos os povos em luta.
A inauguração da ENFF recupera a tradição dos cursos de formação política e ideológica da esquerda
Paulo Almeida e Rosana Fernandes
Coordenação Político Pedagógico da ENFF
Filósofo marxista dedicou sua vida à transformação da sociedade
ArquivoMST
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12. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
internacional Capitalismo e neoliberalismo seriam os principais culpados pelas mazelas da humanidade
O dia 29 de Outubro de 2014 ficará
marcadonavidados100dirigentes
populares que estavam na “Ala Ve-
lha do Sínodo” .
Foi ali, no interior de uma antiga
construção no Vaticano, que pela
primeira vez em 2.000 anos um
Papa - líder máximo da Igreja Cató-
lica e chefe do Estado do Vaticano
- encontrou homens e mulheres
do mundo todo, dos mais amplos
setores da sociedade, com os mais
diferentescredosreligiosos,quelu-
tampordireitossociaisehumanos.
Este momento se deu no marco do
“EncontroMundialdeMovimentos
Populares”, no qual os dirigentes
sociaispresentes,juntoa20 bispos
e um Cardeal, reuniram-se por três
dias com o Papa Francisco para
diagnosticar os principais proble-
masdostrabalhadoresedospobres
nomundoeproporoquefazerpara
superá-los.
O histórico dia em que o Papa se reuniu
com Movimentos Sociais
“A Reforma Agrária
é, além de uma
necessidade política,
uma obrigação moral”
Um encontro histórico exigia um
“discursohistórico”,efoiexatamen-
te com isso que o Papa Franscico
presenteou a todos naquela manhã.
Um discurso surpreendente,
no qual ele aponta que a causa
central dos problemas de falta de
moradia, terra e trabalho é tirar o
ser humano do centro do sistema
e, em seu lugar, colocar o dinheiro.
Em outras palavras, o Papa apon-
ta o capitalismo e o neoliberalis-
mo como os principais culpados
pelas mazelas da humanidade.
Reforma Agrária
Francisco também afirma que
quer “escutar a voz dos povos”, pois
eles “não se contentam mais em
sofrer as injustiças”, mas lutam con-
tra elas, e ele “quer acompanhá-los
nessa luta”.
Destaforma,colocanumpatamar
superiorarelaçãoentre“osquelutam
e a Igreja Católica, abrindo grandes
possibilidades para avançarmos”.
“Nenhuma família sem casa, ne-
nhumcamponêssemterra,nenhum
trabalhador sem direitos”, afirmou,
colocando a luta pela justiça e pela
igualdadecomovaloresuniversaise
inegociáveis.
No tocante específico sobre a
Reforma Agrária, disse que ela “é,
além de uma necessidade política,
uma obrigação moral”.
Ou seja, a Igreja, por meio de sua
autoridademáxima,estácondenan-
doagrandepropriedadecomoalgo
imoral.
Franciscodisseaindasepreocupar
com a erradicação de tantos campo-
neses que deixam suas terras, “não
por guerras ou desastres naturais”,
mas pela “apropriação das terras, o
desmatamento, a apropriação da
água, os agrotóxicos inadequados,
são alguns dos males que arrancam
o homem da sua terra natal”, num
fronte direto com o agronegócio.
Definitivamente, é um discurso
que vale a pena ser lido na íntegra e
relido muitas vezes na vida.
Ademais, é importantíssimo que
cada pessoa que enxerga nele a
grande visão histórica e de futuro
se proponha a divulgá-lo incessan-
temente, para que desta forma se
possa ver a realidade com clareza,
ampliando cada vez mais os diálo-
gos com todos aqueles que lutam
por uma sociedade que possa ser
verdadeiramente justa, solidária,
igualitária e fraterna.
Papa Francisco em discurso para os movimentos sociais
Pela Delegação dos Movimentos Populares Brasileiros
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13. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
lutadores do povo Ele sabia como poucos transitar da filosofia à política para transmitir o legado das ideias socialistas
Como o som no ouvido
penetrado,
Avisa a caça antes que seja
abatida;
Quer espantá-la e salvar-lhe
a vida
Comamudançadeposturaem
seu estado.
Toca-lhe a pele com um grito
humanizado...
De quem a morte já sente por
inteiro...
Quer que escape renegando o
próprio cheiro;
De um mofo azedo no corpo
deslavado.
Se não se importa, a morte
virá cedo!
Se se importar, deve fazer
mudanças!
Alçar as forças bem mais que
as esperanças
E beijar a boca fétida do medo.
Furaraalmausandoopróprio
dedo,
Para extrair o mal do próprio
peito
E dar um novo um predicado
ao sujeito
Que o retire do estado de de-
gredo.
Vai Leandro, profeta da
dialética!
Queviveráarranhandooatra-
so escrito;
Comooguardaquealertacom
o apito
Sem fazer parte da cena mais
patética.
Com as ideias e a rima bem
poética
Fará apenas dizer o que não
cabe
E o fará porque compreende
e sabe
Que a esperança se sustenta
com a ética.
Ademar Bogo
Bahia, novembro de 2014
Leandro Konder, o profeta da dialética
Também foi professor da Universi-
dade Federal Fluminense (UFF) e da
Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro.
Sua vida se cruzou com mo-
mentos importantes da história
do Brasil. Em entrevistas, contou
suas lembranças sobre a morte de
Getúlio Vargas, o discurso histórico
de João Goulart e o golpe militar.
“Quando o Getúlio se matou eu
estavanafrentedoPaláciodoCatete.
Mas eu não sabia disso.
Quandoestavachegandoemcasa,
alguém gritou: ‘O Getúlio se matou!
O Getúlio se matou!’ Eu nem desci
do ônibus, fui direto até a casa da
minhaavó. Ligamoseaíveioaleitura
da carta-testamento e a notícia da
morte do Getúlio Vargas”.
SobreocomíciodeGoulart,aúnica
coisa que lembra era “da mulher do
Jango. Eu estava lá, infiltrado, perto
do palanque, para vê-la”.
E no dia do Golpe Militar, Leandro
conta que ”fui procurar um amigo
queéhojeépresidentedaAcadêmia
Brasileirade Letras,oIvanJunqueira,
e o João das Neves que era autor, e
fomos zanzar pelo centro da cidade,
com uma situação tensa.
No dia 12 de novembro de 2014,
mais um companheiro de lutas
se foi. Leandro Konder, filósofo
marxista que dedicou sua vida à
transformação da sociedade, fale-
ceu em sua casa. Ele sofria de mal
de Parkinson.
Leandro marcou sua trajetória
por suas convicções políticas,
coerência, uma militância ativa
e intransigente em defesa dos
interesses da classe trabalhadora.
Nasceu em 1936, em Petrópolis
(RJ), filho de Valério Konder, mé-
dico sanitarista e líder comunista.
Foi casado por 38 anos com Cris-
tina, companheira que sempre
esteve ao seu lado, e deixa os
filhos Carlos Nelson e Marcela.
Quandojovem,formou-seemDi-
reito pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e se filiou ao
PartidoComunistaBrasileiro(PCB).
Atuou como advogado defenden-
do trabalhadores e sindicatos.
O Joãoiapassandopelomeiodarua
eumsoldadodissequenãopodia.‘E
na calçada, pode?’‘Na calçada pode’.
Então o João, que tinha treino físico,
andava pelo meio-fio, ao lado do
soldado, que ficava esperando, com
o cassetete na mão, na rua, pra dar
uma porrada nele”.
Por sua atuação na defesa dos
trabalhadores e filiação comunista,
foi preso e torturado pela ditadura
militar. Em 1972, foi forçado a sair do
Brasil. ViveunaAlemanhaenaFrança
durante seis anos.
Leandro sabia como poucos
transitar da filosofia à política pa-
ra, com textos claros e de refina-
do toque literário, transmitir às
gerações de hoje o legado dos
ideais socialistas, de igualdade e
das lutas da classe trabalhadora.
O filósofodeixaumgrandelegado
de conhecimento teórico, militância
política e humanidade para todos
que desejam transformar a socieda-
de. Dentre suas obras, estão “Inte-
lectuais Brasileiros e Marxismo”, “As
Ideias Socialistas no Brasil”, “O que
é dialética” e “O futuro da filosofia
da práxis”.
Da Redação
Divulgação
Filósofo marxista dedicou sua vida à transformação da sociedade
Filósofo deixa
um legado de
conhecimento teórico
e humano
PROFETA DA DIALÉTICA
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14. Jornal Sem Terra • Dezembro 2014
Mas eu construí a minha casa com
as minhas próprias mãos.
Endireitei pregos velhos e enferru-
jados para pregar as tábuas.
Os caibros são amarrados com arame.
É tudo meu. Eu fiz tudo sozinho. Se vo-
cê se meter a derrubar a minha ca-
sa, vai me ver na janela, de rifle na
mão. Chega só perto e vai ver.
Meto uma bala como se mata um coelho.
Mas eu não tenho culpa! Vou perder
meu emprego se não fizer o que me
mandam. E olhe, suponha que você me
mate? Eles vão enforcar ocê direitinho,
mas antes disso já vão ter outro camara-
da no trator e esse outro vai derrubar a
sua casa.
Não adianta você me matar, não
sou o homem que você procura.
É, tá certo – disse o meeiro –
Quem deu estas ordens procê? Vou atrás
dele, isto sim, vou matar é ele.
Não, cê tá enganado. Ele também não tem
culpa. Recebe ordens do banco. O banco
lhe disse: dê um jeito naquela gente, man-
de todos embora, ou será despedido.
Bem, deve haver o presidente do banco, os
diretores, os que mandam. Vou carregar
meu rifle e vou procurar eles no banco.
E o homem do trator disse:
Me falaram que o banco também re-
cebe ordens do Leste. E as ordens são:
faça as terras produzirem de qualquer
jeito, ou terá que cerrar as portas.
Mas então quem é que manda? Quem
eu tenho que matar? Não vou
morrer de fome sem primeiro ma-
tar quem quer me tirar o pão.
Não sei. Talvez não tenha ninguém a
quem matar. Talvez não seja um
problema de gente, de homens. Talvez a
culpa seja da propriedade, como você
disse. De qualquer maneira, eu
tenhonho que cumprir as ordens.
Trecho do livro As Vinhas da Ira, 1939
literatura Autor retratou como os trabalhadores rurais viviam nos EUA durante a crise de 1929, misturando realidade e ficção
Por Camilo Monteiro
Setor de Arquivo e Memóra
O escritor John Ernst Steinbeck Jr. nasceu em
Salinas, cidade agrícola da Califórnia, nos Estados
Unidos, em 27 de fevereiro de 1902. Filho de fa-
mília de poucas posses, desde cedo testemunhou
a vida dos trabalhadores rurais na sua região.
Essa experiência serviu como base de suas
obras, que retratam de forma realista a vida
da gente trabalhadora pobre e despossuída,
que foi expulsa de suas terras e obrigada a mi-
grar como retirantes durante a crise de 1929.
A mecanização do campo reduziu a necessi-
dade de mão de obra na plantação e colhei-
ta, gerando desemprego e reduzindo salá-
rios. A miséria do povo era grande: crianças
morrendo de fome, famílias acampando na
beira da estrada ou nas periferias das cidades,
condição similar à dos camponeses brasileiros.
Steinbeck expõe a miséria social nos Estados Uni-
dos, mas também nos mostra o que há de mais
belo no povo trabalhador do campo. A humilda-
de, dignidade, a relação com a terra, a solidarie-
dade entre si, em gestos como repartir a pouca
comida ou oferecer abrigo a quem necessita.
Escreve sem esconder os problemas,
como por exemplo, a violência doméstica, o ma-
chismo e o alcoolismo. Tudo sem perder a espe-
rança em seu povo. Escreveu Luta incerta (1936),
queretrataumagrevedetrabalhadoresrurais. Em
Ratos e Homens (1937), fala sobre dois trabalha-
doresruraisduranteaGrandeDepressãode1929.
Em seu livro mais conhecido, As vinhas da ira
(1939), ele narra a saga de uma família migrante
expulsa de suas terras, que busca trabalho em
outro estado norte-americano, luta pela sobrevi-
vência e contra a desagregação da família. Teve o
cuidado de preservar na sua escrita a forma como
aspessoasfalavam,comseussotaquesemaneiras.
O livrotratadetemascomoapobreza,amigração,
o trabalho nas plantações de frutas e algodão, o
trabalho análogo à escravidão, os acampamen-
tos, a favelização, as perseguições pela polícia,
aliada dos fazendeiros, e outros flagelos que
atingem a todos os camponeses do Brasil ainda
hoje. Steinbeck morreu aos 66 anos, em 20 de
dezembro de 1968, mas sua obra permanece
extremamente atual para quem se aventurar.
O realismo e sensibilidade de John
Steinbeck, o escritor camponês
Mas então quem é que
manda? Quem eu tenho
que matar?
Não vou
morrer de fome sem
primeiro matar quem
quer me tirar o pão
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15. Jornal Sem Terra • dezembro 2014
ão
Para não esquecer
Dezembro
Para não esquecer
Janeiro
3Nascimentode Luiz Carlos
Prestes,1898
4MorreocartunistaHenfil,1988
9 Greve dos tipógrafos de três
jornais no Rio de Janeiro,
considerada a primeira
greve no Brasil, 1858.
13 Morre o historiador
marxista Nélson Werneck
Sodré, 1999
15 Nascimento de Martin
Luther King, 1929
15 Assassinato de Rosa
Luxemburgo e Karl
Liebknecht, 1919
16 Revolução islâmica no Irã,
1979
Neste 1º Encontro Nacional
foram definidos os objetivos
gerais, as principais
reivindicações e as formas
de luta e de organização.
22 Nascimento de Antonio
Gramsci, 1891
25 Revolta dos Malês, Bahia,
1835
29 a 31 1° Congresso do MST,
1985
Em Curitiba, no Paraná,
aconteceu o 1º Congresso
Nacional do MST, com 1500
delegados e delegadas de
todo o Brasil.
MST faz resgate de sua história
10 Início da primeira Intifada,
Palestina (2007)
11 O MST recebe o
Prêmio Unicef pelo
programa de educação
desenvolvido nas áreas
de assentamentos e
acampamentos, 1995
13 Guerra do Paraguai, 1864
17 Morre Simon Bolívar,
libertador da América,
1830
21 Nascimento de Salete
Stronzake, 1969
25 Morre o cineasta Charles
Chaplin, 1977
26 Nascimento de Mao Tsé-
Tung, líder da revolução
chinesa, 1893
1 Revolução Cubana, 1959
ARevoluçãoCubanafoiummovimento
armado e guerrilheiro que culminou
com a destituição do
ditador Fulgêncio
BatistadeCubapelo
Movimento26deju-
lho liderado por Fidel
Castro, Camilo Cien-
fuegos e Che Guevara
O MST,emparceriacomoInstituto
Perseu Abramo, está fazendo um
resgate histórico dos 30 anos de
lutas do Sem Terra. São milhares
de fotos, vídeos, áudio e docu-
mentosquecontamatrajetóriado
MST. Todoessearquivoestásendo
organizado e catalogado. para ser
disponibilizado para consulta.
Em comemoração aos 30 anos do
MST, celebrados ao longo de todo o
anode2014,oMovimentolançouuma
coleção de cartazes em homenagem
a 10 lutadores e lutadoras do povo
brasileiro.NomescomoCelsoFurtado,
Anita Garibaldi, Milton Santos, Paulo
Freire, Olga Benário, Dom Helder
Câmara e Carlos Marighela foram os
primeiros homenageados.
Na dificuldade de selecionar
apenas 10 nomes, foram utilizados
alguns critérios, como contemplar
lutadores dos diversos setores da
sociedade além da contribuição
teóricaedapedagogiadoexemplo.
Esses são apenas os 10 pri-
meiros cartazes de uma série de
outros que sairão com o mesmo
mote, homenagear os diversos
lutadores e lutadoras do povo
brasileiro. É possível adquirir os
cartazes mandando uma mensa-
gem para pedidos1@mst.org.br.
O pacote com 10 cartazes custa
R$ 50,00.
Entendemos que para alcançar al-
gum objetivo na luta popular, é pre-
ciso que sejam garantidas ao menos
trêscondições:animaçãoparaaluta,
bom entendimento da realidade em
que atuamos e capacidade de orga-
nização. E é por isso que a própria
existência e manutenção desses
arquivos devem ser
consideradas como parte da nossa
capacidadeorganizativaparalevara
lutaadiante.Casoalgummilitantee/
ou simpatizante do Movimento pos-
sua alguma imagem ou documento
que nos ajude a contar a história
do MST, pedimos para que entre
em contato conosco pelo e-mail
mst.memoria@gmail.com
21 I Encontro Nacional dos
Trabalhadores Rurais Sem
Terra, em Cascavel (1984)
MST lança cartazes em homegem ao lutadores e
lutadoras do povo brasileiro
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