Rui Victorino e Moisés Mallo começaram suas carreiras em Portugal do zero, construindo seus próprios laboratórios sem muitos recursos. Ambos são premiados investigadores, com Rui Victorino tendo recebido o Prêmio Pfizer diversas vezes. Existe boa ciência sendo produzida em Portugal, mas é necessário mais apoio para que mais médicos possam se dedicar simultaneamente à pesquisa clínica e básica.
Entrega do Prémio SCML/MSD em Epidemiologia Clínica 2010
Artigo - Conversas sobre Ciência - Protagonistas clínicos
1. Começar do zero
Ambos os investigadores estiveram
ligados à criação de laboratórios de
que decidiram abraçar e que ser-
hoje em Portugal. “Quando cheguei
-
via pouca gente, poucos grupos, e
-
-
nha Moises Mallo. E sendo um in-
-
trabalhar noutros locais, o que o
-
ções que temos, em termos do tipo
-
boratórios, o tipo de organização,
aquilo que nos é disponibilizado,
-
por mim e criado à minha medi-
Rui Victorino esteve a trabalhar
durante alguns anos em Londres, e
quando regressou, em 1980, desen-
volveu o Laboratório de Imunolo-
-
a investigação com uma compo-
nente laboratorial e a maior apro-
-
Ambos começaram do zero, tal
como quando se parte para uma
investigação, em que o prazer da
descoberta leva à resposta de per-
-
ses Mallo. Este ponto é essencial
gostar muito. A paciência e o con-
-
-
gação. Antigamente, o processo era
-
-
plica Rui Victorino.
E
spanhol a viver em Portugal
principal no Instituto Gul-
benkian de Ciência (IGC) e head da
-
mo Instituto. Mantém o sotaque
-
América e pela Alemanha, antes
de vir para Portugal.
A motivação, essa, é sempre a
-
-se em Medicina, em Santiago de
Compostela, mas nunca chegou a
-
cos. “A ideia era um pouco ‘român-
tica’ porque a minha avó tinha um
problema de coração que acabou
Lembro-me de, aos nove anos, di-
-
vam imenso a decisão, mas ao con-
-
pitais, percebi que não era esta a
minha vocação. Ainda hoje, os hos-
Rui Victorino, por sua vez, é mé-
dico internista e diretor do Serviço
-
de Medicina Interna da Faculdade
de Medicina de Lisboa. Gosta tan-
to de ver doentes como de investi-
gar, pelo que, a sua carreira tem si-
imenso. Julgo que é um grande es-
-
-
nos em projectos de investigação
-
cialmente para aqueles que traba-
lhem em hospitais e hospitais uni-
Considerando que os médicos
cientistas têm um bom papel na
Medicina e na Ciência, é apologista
-
centrais, bem como “da criação de
ecossistemas protegidos para que
um número de médicos – ainda
que restrito – consiga dedicar-se à
muito boa ciência a ser produzida
em Portugal, com óptimos inves-
-
cupa-o a questão de continuidade e
de incerteza “sobretudo no que res-
Investigações premiadas
Rui Victorino foi o investigador
mais premiado de sempre dos Pré-
mios Pfizer, em 1980, 1985, 1989,
1996, 1998, 2008, com trabalhos
diversos nas áreas da Doença In-
flamatória do Intestino; o envolvi-
mento de medicamentos em algu-
mas hepatites graves, HIV, e a inte-
racção entre o sistema nervoso e o
sistema imunitário. “Ao longo dos
tempos, esta distinção premiou
pessoas que têm hoje um prota-
gonismo muito grande e desem-
penham um papel muito impor-
tante na ciência constituindo um
grande incentivo numa fase onde
os apoios eram escassos”, diz-nos.
Moisés Mallo foi também dos mais
premiados, tendo sido distinguido
nos anos de 2004, 2005 e 2010.
Mais recentemente, o investigador
publicou um artigo na revista“ De-
velopment Cell”, com uma inves-
tigação cujo objectivo foi perce-
ber porque é que as cobras têm
um corpo tão diferente e tentar sa-
ber qual o principal factor regula-
dor do desenvolvimento do tron-
co em vertebrados. A partir daqui
o estudo será outro. “Agora vamos
investigar se podemos usar este
factor para expandir as células que
formam a espinal medula, tentan-
do regenerá-la em caso de dano”.
O investigador considera que a Me-
dicina Regenerativa “vai revolucio-
nar o futuro”.
Os Prémios Pfizer comemoram es-
te ano o seu 60º aniversário e vi-
sam distinguir os melhores traba-
lhos de investigação básica e in-
vestigação clínica, numa parceria
entre o Laboratório e a Sociedade
das Ciências Médicas de Lisboa.
Protagonistas
clínicos
que se dedicam
em simultâneo
à investigação
ainda que seja
conciliar as duas
gostar de ambas
ecossistemas
que promovam
médicos para
investigar.
São eles os
protagonistas
que se comple-
mentam entre si
CONVERSASSOBRECIÊNCIA
FO
TO:ANAMENA,INSTITUTOGULBENKI
AN
DECIÊNCIA
Terceiro de cinco artigos Conversas sobre Ciência
CONTEÚDO PUBLICITÁRIO
Moises
Mallo
Rui
Victorino
Existe muito
boa ciência
a ser produzida
em Portugal,
com óptimos
investigadores,
quer na área
de ciências
biomédicas,
quer na
área clínica
Rui Victorino
Este laboratório
em concreto foi
montado por mim
e criado à minha
medida. Não
é fácil encontrar
as condições
que tenho aqui
noutro sítio
Moises Mallo