SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 7
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
ESPIRITUALIDADE
SÉC. XV - XVI
Pe. José Carlos A.A. Martins
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
1. Introdução
2. Gerson
3. Devotio Moderna
4. Alguns escritores da Devotio Moderna
5. A Devotio e outras espiritualidades
6. Espiritualidade feminina
7. A religiosidade popular
8. Savonarola e o Humanismo Renascentista
9. Erasmo e o Protestantismo Luterano
10. Tomás Moro
11. João d’Ávila
12. Inácio de Loyola
13. Teresa de Jesus
14. João da Cruz
15. Filipe de Neri e o Oratório
16. Carlos Borromeu e a Reforma Tridentina
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
Introdução
A fé cristã como história de salvação realiza-se no tempo, como um
interlaçar-se entre o eterno divino com o tempo histórico, um diálogo de aliança
entre a iniciativa de Deus e a livre resposta do homem. Isto que no evento
Cristo tem o seu ponto culminante, continua com a ação do Espírito Santo na
história. Assim Deus guia a Igreja e a humanidade de idade em idade, através
de etapas e horas únicas (Kairós), particularmente suscitando figuras e
movimentos de renovação.
A exigência de renovação da cristandade dá-se sobretudo nos séculos
XV e XVI. Uma multiplicidade de fatores põe em crise a vida cristã; muitas
eram ainda as sequelas do cisma do Ocidente (1378-1414) com três Papas
que lutavam entre si, mesmo com armas e exércitos, pelo Papado; a voz
profética de Catarina de Sena (1347-1389), pedindo aos Papas a reforma da
Igreja, mostra a gravidade do momento. Desde o Concílio de Viena (1311-
1312) e daí para a frente que se reclamava uma reforma da Igreja. Eram
sobretudo dois os âmbitos da reforma:
1) Os comportamentos morais (reforma dos costumes);
2) Os mecanismos institucionais que geram corrupção (reforma estrutural).
O conceito de reforma implica sempre uma vontade de melhorar. É
muito notado o ditado: “Ecclesia semper reformanda”, ou seja a fé da Igreja é
uma realidade sempre viva! Ela conhece a necessidade contínua de se renovar
de se revitalizar (Nova evangelização!). A reforma estrutural não teria muito
sucesso se se esquecesse a auto reforma, a reforma singular de cada crente à
luz do evangelho. Foi precisamente isso que recordou Catarina de Sena e que
depois continuarão a recordar Gerson, o movimento da “devotio moderna”,
Inácio de Loyola, Teresa de Jesus e outros, como veremos.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
É por isso uma vontade geral de uma religiosidade interior, longe dos
formalismos da oração, de práticas exteriores populares (peregrinações,
cerimónias), do abstratistismo teológico e jurídico. Trata-se de um aproximar-se
de novo à simplicidade de uma vida cristã segundo o Evangelho, como já o
tentaram fazer nos três séculos anteriores, S. Francisco e S. Domingos com a
fundação das ordens mendicantes, mas que agora têm também uma nova
necessidades reforma.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
JOÃO GERSON
Jean de Charlier, conhecido com o nome de Gerson, torna-se Prelado e
Chanceler da Universidade de Paris, onde estudou. Não obstante a grande
carga académica e teológica, desenvolve trabalhos pastorais na paróquia,
pregou na língua do povo e ocupou-se com intensidade na vida espiritual.
Gerson, desenha, pensando nas suas irmãs, um programa de vida
espiritual muito simples: fazia-se uma oração comum, a horas estabelecidas e
sempre às mesmas horas (para se disciplinarem), mais vezes ao dia, recebia-
se os sacramentos (da confissão e da comunhão) frequentemente; estavam
juntamente em paz, exortando à vivência e à prática do bem e consideravam-
se todos iguais; o vivido no quotidiano pode conduzir à santidade, sem
necessidade de fazer escolhas particularmente radicais.
Não pensando só nas irmãs, mas voltando-se em particular para os
leigos, Gerson escreve em francês duas obras importantes para a vida
espiritual: “Montanha da contemplação” e “ Mendicidade espiritual”. Estava
animado pela convicção de que cada batizado fosse chamado à perfeição do
amor e à santidade. Assim transparece o esforço de tornar acessível a todos
também os temas mais profundos da espiritualidade e da teologia: todos, por
isso devem pôr-se a caminho sobre o monte da contemplação, mesmo as
crianças.
Por isso tudo o que respeita ao início deste caminho, Gerson,
recomenda o conhecimento de si mesmo: cada um deve dar-se conta do
próprio carater. Uma pessoa que tende para a atividade, através do seu próprio
temperamento, não deve pretender forçar a sua natureza buscando uma forma
de vida espiritual em total retiro e silêncio.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
A ideia da montanha sugere um itinerário ascensional que ocorre para
chegar ou conseguir chegar à meta, escalando com fadiga as diversas etapas
da subida, até à contemplação (fase mais perfeita). O monte, a montanha é por
isso um lugar privilegiado para se fazer a experiência de Deus na Bíblia e
também noutras religiões.
A primeira etapa deste itinerário sublinha o aspeto penitencial que
consiste no “distanciar-se” no “apartar-se”, na libertação do “apego” a si mesmo
e às coisas. Trata-se por isso de iniciar um processo de autoconhecimento,
constatando os apegos que impedem o progredir do imperfeito ao perfeito com
gradualidade de modo semelhante ao que a natureza usa para fazer a sua
obra, levando ou passando da imperfeição à perfeição.
Só depois de ter percorrido o caminho da perfeição, se pode iniciar a
segunda etapa que consiste no estar “separado”, no silêncio. Isto é, trata-se
dum deserto espiritual interior; pode de facto estar-se sozinho exteriormente,
ou num deserto físico, mas cheio de recordações, de pensamentos, de rostos,
de lugares; e estas representações provocam no ser orante uma grande
perturbação!
A terceira etapa vem caracterizada por uma “forte perseverança”, que
dispõe a pessoa “para aquele estado perfeito” no qual se pode dizer que vive
do amor divino. “ Quem acredita não chegará ao cume da montanha sem uma
forte perseverança; é semelhante àquele que escala uma grande montanha e
desce sempre. Mesmo que esteja já no alto ou encontre alguma dificuldade ou
impedimento”.
Fica assim claro que segundo Gerson o amor divino é o início e o fim da
contemplação; por consequência, diz, o maior mestre de teologia é aquele que
mais ama a Deus, Quem mais ama Deus, conduz uma vida mais cristã. Neste
sentido a vida contemplativa é certamente a mais perfeita, como mostra a
palavra de Jesus a Marta, afirmando que Maria escolheu a melhor parte.
Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP)
É também verdade, afirma Gerson, que se se pode amar a Deus na
vida ativa, muito mais se pode na vida contemplativa. Alcança-se o estado de
maior perfeição a partir dum estado de menor perfeição: estar no “estado de
perfeição” (vida consagrada, consagração sacerdotal) não significa viver
plenamente a perfeição cristã, mas tender para esta com mais empenho!
A doutrina espiritual de Gerson, conduz à mística, como mostra a sua
obra de arte “ De mística theologia”, na qual analisa com profundidade a união
da alma com Deus. Nesta união, o crente é elevado à oração perfeita e
encontra nesta a sua plena realização. Entre os autores mais citados encontra-
se Dionísio Areopagita, Ricardo de S. Vítor, Hugo de Balma. Nesta obra a
mística assume a dimensão de uma “ciência” mas em estreita relação com a
vida da fé. Gerson não refuta a especulação teológica, como farão alguns
autores da “Devitio Moderna” mas procura estabelecer uma relação
complementar entre teologia e experiência religiosa.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

O sentido da vida na dimensão antropológica da formação
O sentido da vida na dimensão antropológica da   formaçãoO sentido da vida na dimensão antropológica da   formação
O sentido da vida na dimensão antropológica da formação
Liana Plentz
 
Querigma parte por parte
Querigma parte por parteQuerigma parte por parte
Querigma parte por parte
Cassio Felipe
 
Texto 3 carisma pastoral - bispo paulo lockmann
Texto 3   carisma pastoral - bispo paulo lockmannTexto 3   carisma pastoral - bispo paulo lockmann
Texto 3 carisma pastoral - bispo paulo lockmann
Paulo Dias Nogueira
 

Was ist angesagt? (19)

CNBB documento 107 - Aplicação prática
CNBB documento 107 - Aplicação práticaCNBB documento 107 - Aplicação prática
CNBB documento 107 - Aplicação prática
 
O sentido da vida na dimensão antropológica da formação
O sentido da vida na dimensão antropológica da   formaçãoO sentido da vida na dimensão antropológica da   formação
O sentido da vida na dimensão antropológica da formação
 
A RELIGIÃO DE JESUS
A RELIGIÃO DE JESUSA RELIGIÃO DE JESUS
A RELIGIÃO DE JESUS
 
Apostila de-louvor-e-adoracao
Apostila de-louvor-e-adoracaoApostila de-louvor-e-adoracao
Apostila de-louvor-e-adoracao
 
Estudo sobre presbiterianismo aula 02
Estudo sobre presbiterianismo   aula 02Estudo sobre presbiterianismo   aula 02
Estudo sobre presbiterianismo aula 02
 
Pedagogia pastoral
Pedagogia pastoralPedagogia pastoral
Pedagogia pastoral
 
Finalidade da catequese no DNC cj
Finalidade da catequese no DNC cjFinalidade da catequese no DNC cj
Finalidade da catequese no DNC cj
 
Querigma parte por parte
Querigma parte por parteQuerigma parte por parte
Querigma parte por parte
 
Apostila ruah
Apostila ruahApostila ruah
Apostila ruah
 
Institutogamaliel.com teses sobre a doutrina da santificação
Institutogamaliel.com teses sobre a doutrina da santificaçãoInstitutogamaliel.com teses sobre a doutrina da santificação
Institutogamaliel.com teses sobre a doutrina da santificação
 
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 9
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 9A presença amorosa de jesus em nossas vidas 9
A presença amorosa de jesus em nossas vidas 9
 
Pastoral doutrina-espírito-santo
Pastoral doutrina-espírito-santoPastoral doutrina-espírito-santo
Pastoral doutrina-espírito-santo
 
Santidade
SantidadeSantidade
Santidade
 
O processo de cristificação do ser
O processo de cristificação do serO processo de cristificação do ser
O processo de cristificação do ser
 
Alerta - Iniciação à Vida Cristã com adolescentes e jovens nordeste 3 - Aracaju
Alerta - Iniciação à Vida Cristã com adolescentes e jovens nordeste 3 - AracajuAlerta - Iniciação à Vida Cristã com adolescentes e jovens nordeste 3 - Aracaju
Alerta - Iniciação à Vida Cristã com adolescentes e jovens nordeste 3 - Aracaju
 
Adoração - Aula 01 - Culto e Adoração
Adoração - Aula 01 - Culto e AdoraçãoAdoração - Aula 01 - Culto e Adoração
Adoração - Aula 01 - Culto e Adoração
 
Texto 3 carisma pastoral - bispo paulo lockmann
Texto 3   carisma pastoral - bispo paulo lockmannTexto 3   carisma pastoral - bispo paulo lockmann
Texto 3 carisma pastoral - bispo paulo lockmann
 
Teologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introduçãoTeologia sistemática, introdução
Teologia sistemática, introdução
 
Teses sobre a doutrina da santificação
Teses sobre a doutrina da santificaçãoTeses sobre a doutrina da santificação
Teses sobre a doutrina da santificação
 

Andere mochten auch

Sebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte viiSebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte vii
Sandra Vale
 
Sebenta espiritualidade parte ii
Sebenta espiritualidade parte iiSebenta espiritualidade parte ii
Sebenta espiritualidade parte ii
Sandra Vale
 
Sebenta espiritualidade parte v
Sebenta espiritualidade parte vSebenta espiritualidade parte v
Sebenta espiritualidade parte v
Sandra Vale
 
Sebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte viSebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte vi
Sandra Vale
 
Sebenta espiritualidade parte iv
Sebenta espiritualidade parte ivSebenta espiritualidade parte iv
Sebenta espiritualidade parte iv
Sandra Vale
 
Aulas Introdução Espiritualidade IDEP
Aulas Introdução Espiritualidade  IDEPAulas Introdução Espiritualidade  IDEP
Aulas Introdução Espiritualidade IDEP
Sandra Vale
 
Sebenta espiritualidade parte iii
Sebenta espiritualidade parte iiiSebenta espiritualidade parte iii
Sebenta espiritualidade parte iii
Sandra Vale
 

Andere mochten auch (7)

Sebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte viiSebenta espiritualidade parte vii
Sebenta espiritualidade parte vii
 
Sebenta espiritualidade parte ii
Sebenta espiritualidade parte iiSebenta espiritualidade parte ii
Sebenta espiritualidade parte ii
 
Sebenta espiritualidade parte v
Sebenta espiritualidade parte vSebenta espiritualidade parte v
Sebenta espiritualidade parte v
 
Sebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte viSebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte vi
 
Sebenta espiritualidade parte iv
Sebenta espiritualidade parte ivSebenta espiritualidade parte iv
Sebenta espiritualidade parte iv
 
Aulas Introdução Espiritualidade IDEP
Aulas Introdução Espiritualidade  IDEPAulas Introdução Espiritualidade  IDEP
Aulas Introdução Espiritualidade IDEP
 
Sebenta espiritualidade parte iii
Sebenta espiritualidade parte iiiSebenta espiritualidade parte iii
Sebenta espiritualidade parte iii
 

Ähnlich wie Sebenta espiritualidade parte i

Texto Base do Congresso Alef 2013
Texto Base do Congresso Alef 2013Texto Base do Congresso Alef 2013
Texto Base do Congresso Alef 2013
Marcos Aurélio
 
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
Romildo Fernandes Gurgel Gurgel
 
Dgae 2011 2015 visitapastoral
Dgae 2011 2015 visitapastoralDgae 2011 2015 visitapastoral
Dgae 2011 2015 visitapastoral
Kleber Silva
 
Bimba kids teen - 22-09-2013
Bimba kids teen - 22-09-2013Bimba kids teen - 22-09-2013
Bimba kids teen - 22-09-2013
Regina Lissone
 
Identidade Da C Atequese Em Pdf
Identidade Da C Atequese Em PdfIdentidade Da C Atequese Em Pdf
Identidade Da C Atequese Em Pdf
Alexandrebn
 
As crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistasAs crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistas
Paulo Dias Nogueira
 
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missaoTexto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Vinicio Pacifico
 
Apresentação ponto 1 e 2
Apresentação ponto 1 e 2Apresentação ponto 1 e 2
Apresentação ponto 1 e 2
Renata R. Lucas
 
Espir it capítulos
Espir it   capítulosEspir it   capítulos
Espir it capítulos
Leutherio
 
Espiritualidade em perspectiva wesleyana
Espiritualidade em perspectiva wesleyanaEspiritualidade em perspectiva wesleyana
Espiritualidade em perspectiva wesleyana
Paulo Dias Nogueira
 

Ähnlich wie Sebenta espiritualidade parte i (20)

Texto Base do Congresso Alef 2013
Texto Base do Congresso Alef 2013Texto Base do Congresso Alef 2013
Texto Base do Congresso Alef 2013
 
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
TEXTO BASE DO CONGRESSO DE MISSÃO INTEGRAL DA (ALEF - Associação de Líderes E...
 
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
Espiritualidade fundamental / [Aldir Crocoli]
 
DGAE 2011 2015 padrekleber
DGAE 2011 2015 padrekleberDGAE 2011 2015 padrekleber
DGAE 2011 2015 padrekleber
 
Dgae 2011 2015 visitapastoral
Dgae 2011 2015 visitapastoralDgae 2011 2015 visitapastoral
Dgae 2011 2015 visitapastoral
 
Um culto bem preparado
Um culto bem preparadoUm culto bem preparado
Um culto bem preparado
 
Bimba kids teen - 22-09-2013
Bimba kids teen - 22-09-2013Bimba kids teen - 22-09-2013
Bimba kids teen - 22-09-2013
 
Identidade Da C Atequese Em Pdf
Identidade Da C Atequese Em PdfIdentidade Da C Atequese Em Pdf
Identidade Da C Atequese Em Pdf
 
1.1. que e_teologia_sistematica
1.1. que e_teologia_sistematica1.1. que e_teologia_sistematica
1.1. que e_teologia_sistematica
 
As crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistasAs crencas fundamentais dos metodistas
As crencas fundamentais dos metodistas
 
Say-Yes-.-apresentação-do-projeto-Diocese-do-PORTO.ppt
Say-Yes-.-apresentação-do-projeto-Diocese-do-PORTO.pptSay-Yes-.-apresentação-do-projeto-Diocese-do-PORTO.ppt
Say-Yes-.-apresentação-do-projeto-Diocese-do-PORTO.ppt
 
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missaoTexto 1 introducao-a_teologia_da_missao
Texto 1 introducao-a_teologia_da_missao
 
METODOLOGIA.ppt
METODOLOGIA.pptMETODOLOGIA.ppt
METODOLOGIA.ppt
 
PEQUENAS COMUNIDADES ... ou GRUPOS DE JESUS, FORMAÇÃO.
PEQUENAS COMUNIDADES ... ou GRUPOS DE JESUS, FORMAÇÃO.PEQUENAS COMUNIDADES ... ou GRUPOS DE JESUS, FORMAÇÃO.
PEQUENAS COMUNIDADES ... ou GRUPOS DE JESUS, FORMAÇÃO.
 
Apresentação ponto 1 e 2
Apresentação ponto 1 e 2Apresentação ponto 1 e 2
Apresentação ponto 1 e 2
 
Derramamento do-espírito
Derramamento do-espíritoDerramamento do-espírito
Derramamento do-espírito
 
Espir it capítulos
Espir it   capítulosEspir it   capítulos
Espir it capítulos
 
# Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
#   Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]#   Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
# Ivan r franzolim - dicas para estudar o evangelho - [ espiritismo]
 
Espiritualidade em perspectiva wesleyana
Espiritualidade em perspectiva wesleyanaEspiritualidade em perspectiva wesleyana
Espiritualidade em perspectiva wesleyana
 
12 ist - a vida cristã - liturgia
12   ist - a vida cristã - liturgia12   ist - a vida cristã - liturgia
12 ist - a vida cristã - liturgia
 

Mehr von Sandra Vale

Sebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte viSebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte vi
Sandra Vale
 
Pastoral_Programa
Pastoral_ProgramaPastoral_Programa
Pastoral_Programa
Sandra Vale
 
Doutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
Doutrina social igreja_Conteúdos FundamentaisDoutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
Doutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
Sandra Vale
 
História da igreja e da diocese_Conteúdos
História da igreja e da diocese_ConteúdosHistória da igreja e da diocese_Conteúdos
História da igreja e da diocese_Conteúdos
Sandra Vale
 
Introdução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
Introdução sagrada escritura_Conteúdos BibliografiaIntrodução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
Introdução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
Sandra Vale
 
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos BibliografiaIntrodução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
Sandra Vale
 
Conteúdos Programáticos, Bibliografia
Conteúdos Programáticos, BibliografiaConteúdos Programáticos, Bibliografia
Conteúdos Programáticos, Bibliografia
Sandra Vale
 
Horário 2º semestre
Horário 2º semestreHorário 2º semestre
Horário 2º semestre
Sandra Vale
 
Introdução teologia moral.pptx
Introdução teologia moral.pptxIntrodução teologia moral.pptx
Introdução teologia moral.pptx
Sandra Vale
 
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_por
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_porDocumento preparatorio-iii ass-genstraord_por
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_por
Sandra Vale
 
Horário 2013 14
Horário 2013 14Horário 2013 14
Horário 2013 14
Sandra Vale
 
Calendário 2013 14
Calendário 2013 14Calendário 2013 14
Calendário 2013 14
Sandra Vale
 

Mehr von Sandra Vale (13)

Sebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte viSebenta espiritualidade parte vi
Sebenta espiritualidade parte vi
 
Pastoral_Programa
Pastoral_ProgramaPastoral_Programa
Pastoral_Programa
 
Doutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
Doutrina social igreja_Conteúdos FundamentaisDoutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
Doutrina social igreja_Conteúdos Fundamentais
 
História da igreja e da diocese_Conteúdos
História da igreja e da diocese_ConteúdosHistória da igreja e da diocese_Conteúdos
História da igreja e da diocese_Conteúdos
 
Introdução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
Introdução sagrada escritura_Conteúdos BibliografiaIntrodução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
Introdução sagrada escritura_Conteúdos Bibliografia
 
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos BibliografiaIntrodução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
Introdução à liturgia_Conteúdos Programáticos Bibliografia
 
Conteúdos Programáticos, Bibliografia
Conteúdos Programáticos, BibliografiaConteúdos Programáticos, Bibliografia
Conteúdos Programáticos, Bibliografia
 
Horário 2º semestre
Horário 2º semestreHorário 2º semestre
Horário 2º semestre
 
Dc aulas
Dc aulasDc aulas
Dc aulas
 
Introdução teologia moral.pptx
Introdução teologia moral.pptxIntrodução teologia moral.pptx
Introdução teologia moral.pptx
 
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_por
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_porDocumento preparatorio-iii ass-genstraord_por
Documento preparatorio-iii ass-genstraord_por
 
Horário 2013 14
Horário 2013 14Horário 2013 14
Horário 2013 14
 
Calendário 2013 14
Calendário 2013 14Calendário 2013 14
Calendário 2013 14
 

Kürzlich hochgeladen

8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
tatianehilda
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
TailsonSantos1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
HELENO FAVACHO
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
NarlaAquino
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
8 Aula de predicado verbal e nominal - Predicativo do sujeito
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptxPlano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
 

Sebenta espiritualidade parte i

  • 1. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) ESPIRITUALIDADE SÉC. XV - XVI Pe. José Carlos A.A. Martins
  • 2. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) 1. Introdução 2. Gerson 3. Devotio Moderna 4. Alguns escritores da Devotio Moderna 5. A Devotio e outras espiritualidades 6. Espiritualidade feminina 7. A religiosidade popular 8. Savonarola e o Humanismo Renascentista 9. Erasmo e o Protestantismo Luterano 10. Tomás Moro 11. João d’Ávila 12. Inácio de Loyola 13. Teresa de Jesus 14. João da Cruz 15. Filipe de Neri e o Oratório 16. Carlos Borromeu e a Reforma Tridentina
  • 3. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) Introdução A fé cristã como história de salvação realiza-se no tempo, como um interlaçar-se entre o eterno divino com o tempo histórico, um diálogo de aliança entre a iniciativa de Deus e a livre resposta do homem. Isto que no evento Cristo tem o seu ponto culminante, continua com a ação do Espírito Santo na história. Assim Deus guia a Igreja e a humanidade de idade em idade, através de etapas e horas únicas (Kairós), particularmente suscitando figuras e movimentos de renovação. A exigência de renovação da cristandade dá-se sobretudo nos séculos XV e XVI. Uma multiplicidade de fatores põe em crise a vida cristã; muitas eram ainda as sequelas do cisma do Ocidente (1378-1414) com três Papas que lutavam entre si, mesmo com armas e exércitos, pelo Papado; a voz profética de Catarina de Sena (1347-1389), pedindo aos Papas a reforma da Igreja, mostra a gravidade do momento. Desde o Concílio de Viena (1311- 1312) e daí para a frente que se reclamava uma reforma da Igreja. Eram sobretudo dois os âmbitos da reforma: 1) Os comportamentos morais (reforma dos costumes); 2) Os mecanismos institucionais que geram corrupção (reforma estrutural). O conceito de reforma implica sempre uma vontade de melhorar. É muito notado o ditado: “Ecclesia semper reformanda”, ou seja a fé da Igreja é uma realidade sempre viva! Ela conhece a necessidade contínua de se renovar de se revitalizar (Nova evangelização!). A reforma estrutural não teria muito sucesso se se esquecesse a auto reforma, a reforma singular de cada crente à luz do evangelho. Foi precisamente isso que recordou Catarina de Sena e que depois continuarão a recordar Gerson, o movimento da “devotio moderna”, Inácio de Loyola, Teresa de Jesus e outros, como veremos.
  • 4. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) É por isso uma vontade geral de uma religiosidade interior, longe dos formalismos da oração, de práticas exteriores populares (peregrinações, cerimónias), do abstratistismo teológico e jurídico. Trata-se de um aproximar-se de novo à simplicidade de uma vida cristã segundo o Evangelho, como já o tentaram fazer nos três séculos anteriores, S. Francisco e S. Domingos com a fundação das ordens mendicantes, mas que agora têm também uma nova necessidades reforma.
  • 5. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) JOÃO GERSON Jean de Charlier, conhecido com o nome de Gerson, torna-se Prelado e Chanceler da Universidade de Paris, onde estudou. Não obstante a grande carga académica e teológica, desenvolve trabalhos pastorais na paróquia, pregou na língua do povo e ocupou-se com intensidade na vida espiritual. Gerson, desenha, pensando nas suas irmãs, um programa de vida espiritual muito simples: fazia-se uma oração comum, a horas estabelecidas e sempre às mesmas horas (para se disciplinarem), mais vezes ao dia, recebia- se os sacramentos (da confissão e da comunhão) frequentemente; estavam juntamente em paz, exortando à vivência e à prática do bem e consideravam- se todos iguais; o vivido no quotidiano pode conduzir à santidade, sem necessidade de fazer escolhas particularmente radicais. Não pensando só nas irmãs, mas voltando-se em particular para os leigos, Gerson escreve em francês duas obras importantes para a vida espiritual: “Montanha da contemplação” e “ Mendicidade espiritual”. Estava animado pela convicção de que cada batizado fosse chamado à perfeição do amor e à santidade. Assim transparece o esforço de tornar acessível a todos também os temas mais profundos da espiritualidade e da teologia: todos, por isso devem pôr-se a caminho sobre o monte da contemplação, mesmo as crianças. Por isso tudo o que respeita ao início deste caminho, Gerson, recomenda o conhecimento de si mesmo: cada um deve dar-se conta do próprio carater. Uma pessoa que tende para a atividade, através do seu próprio temperamento, não deve pretender forçar a sua natureza buscando uma forma de vida espiritual em total retiro e silêncio.
  • 6. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) A ideia da montanha sugere um itinerário ascensional que ocorre para chegar ou conseguir chegar à meta, escalando com fadiga as diversas etapas da subida, até à contemplação (fase mais perfeita). O monte, a montanha é por isso um lugar privilegiado para se fazer a experiência de Deus na Bíblia e também noutras religiões. A primeira etapa deste itinerário sublinha o aspeto penitencial que consiste no “distanciar-se” no “apartar-se”, na libertação do “apego” a si mesmo e às coisas. Trata-se por isso de iniciar um processo de autoconhecimento, constatando os apegos que impedem o progredir do imperfeito ao perfeito com gradualidade de modo semelhante ao que a natureza usa para fazer a sua obra, levando ou passando da imperfeição à perfeição. Só depois de ter percorrido o caminho da perfeição, se pode iniciar a segunda etapa que consiste no estar “separado”, no silêncio. Isto é, trata-se dum deserto espiritual interior; pode de facto estar-se sozinho exteriormente, ou num deserto físico, mas cheio de recordações, de pensamentos, de rostos, de lugares; e estas representações provocam no ser orante uma grande perturbação! A terceira etapa vem caracterizada por uma “forte perseverança”, que dispõe a pessoa “para aquele estado perfeito” no qual se pode dizer que vive do amor divino. “ Quem acredita não chegará ao cume da montanha sem uma forte perseverança; é semelhante àquele que escala uma grande montanha e desce sempre. Mesmo que esteja já no alto ou encontre alguma dificuldade ou impedimento”. Fica assim claro que segundo Gerson o amor divino é o início e o fim da contemplação; por consequência, diz, o maior mestre de teologia é aquele que mais ama a Deus, Quem mais ama Deus, conduz uma vida mais cristã. Neste sentido a vida contemplativa é certamente a mais perfeita, como mostra a palavra de Jesus a Marta, afirmando que Maria escolheu a melhor parte.
  • 7. Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) É também verdade, afirma Gerson, que se se pode amar a Deus na vida ativa, muito mais se pode na vida contemplativa. Alcança-se o estado de maior perfeição a partir dum estado de menor perfeição: estar no “estado de perfeição” (vida consagrada, consagração sacerdotal) não significa viver plenamente a perfeição cristã, mas tender para esta com mais empenho! A doutrina espiritual de Gerson, conduz à mística, como mostra a sua obra de arte “ De mística theologia”, na qual analisa com profundidade a união da alma com Deus. Nesta união, o crente é elevado à oração perfeita e encontra nesta a sua plena realização. Entre os autores mais citados encontra- se Dionísio Areopagita, Ricardo de S. Vítor, Hugo de Balma. Nesta obra a mística assume a dimensão de uma “ciência” mas em estreita relação com a vida da fé. Gerson não refuta a especulação teológica, como farão alguns autores da “Devitio Moderna” mas procura estabelecer uma relação complementar entre teologia e experiência religiosa.