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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
         MUSEOLOGIA




SANDRA MARIA SALDANHA KROETZ




      Ensaio    acadêmico   apresentado    para   obtenção    de
      avaliação parcial para a disciplina História da Civilização
      Americana, do curso de Museologia da Universidade
      Federal da Bahia.


      Professor: Cândido Domingues




               Salvador
                2011
RESENHA: AS ORIGENS DA INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA1


                                                                            Sandra Maria Saldanha Kroetz2


         O processo de independência das colônias espanholas está relacionado ao
desenvolvimento das idéias liberais no século XVIII, tais como o Iluminismo, a
Independência dos Estados Unidos, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. No
final do século XVIII e início do século XIX, a Espanha já não é mais uma grande potência
européia. Tanto a Inglaterra como a França, passaram a ter acessos às áreas coloniais da
Espanha.
         Em 1713, a Inglaterra passa a ter o direito sobre o asiento, ou seja, sobre o
fornecimento de escravos para as colônias) e o chamado permisso, quer dizer, comércio
direto com as colônias. No ano de 1797, com o decreto da abertura dos portos, as colônias
espanholas passaram a manter relações comercias diretamente com as nações amigas da
Espanha. No ano de 1799, o governo procurou anular o decreto, provocando uma forte
reação colonial.
         O processo da independência da América Hispânica está diretamente relacionado
com a deposição de Fernando VII em 1808, quando as tropas francesas ocuparam a
Espanha. Napoleão Bonaparte nomeia seu irmão, José Bonaparte, como o novo rei da
Espanha, desencadeando uma forte reação nas colônias, que passaram a formar as Juntas
Governativas - com caráter separatistas e lideradas pelos criollos.
         Antes dos movimentos separatistas ocorreram revoltas coloniais contra o domínio
espanhol, destacando-se a revolta dos índios do Peru, liderados por Tupac Amaru. Entre os
precursores da independência das colônias hispânicas, destaque para Francisco Miranda,
que planejou a independência da Venezuela, movimento que fracassou. O movimento
emancipacionista contou com a liderança dos chamados "libertadores da América" - Simón
Bolívar, José de San Martin, José Sucre, Bernardo O'Higgins, Augustin Itúrbide, Miguel
Hidalgo e José Artigas.
         A primeira tentativa de emancipação ocorreu no México, em 1810, sob a liderança do
padre Miguel Hidalgo. No ano de 1821, o General Augustin Itúrbide proclama a
independência do México. A partir de 1823, e seguindo e exemplo mexicano, foi a vez das
colônias da América Central proclamarem a independência, surgindo as Províncias Unidas
da América Central, que fragmentou-se em diversas Repúblicas: Costa Rica, Honduras, El

1
   LYNCH, John. “As origens da independência da América Espanhola”. In: BETHELL, Leslie. História da América Latina: A
independência até 1870, vol III. São Paulo: Edusp, 2004, pp. 19-72.
2
    Sandra Maria Saldanha kroetz, graduanda do curso de Museologia ds UFBA, turma 2009.

                                                          2
Salvador, Guatemala e Nicarágua.
       Cuba e São Domingos só tiveram a independência no final do século XIX. No ano de
1818, sob a liderança de Símon Bolívar surge a Grã-Colombia, que em 1830 se separam,
formando a Colômbia e a Venezuela. Em 1822 é proclamada a independência do Equador
( Sucre e Bolívar).
       Bernardo O'Higgins liberta o Chile, com a ajuda de San Martín, no ano de 1817; San
Martin e Bolívar libertam o Peru em 1821; em 1825 foia vez da Bolívia, sob o comando de
Sucre. Na região do Prata o grande libertador foi San Martín ( Argentina, 1816; Paraguai
1811 e Uruguai em 1828).
       O processo de independência da América Hispânica contou com forte participação
popular e com o apoio da Inglaterra, interessada em ampliar seu mercado consumidor. Uma
outra característica foi a grande fragmentação territorial, em virtude do choque entre os
diversos interesses das elites coloniais.
Do ponto vista econômico, a independência não rompeu com os laços de dependência em
relação às potências européias. As novas nações continuavam a ser exportadoras de
matérias-primas e importadoras de produtos manufaturados. No plano político, os novos
dirigentes excluíram qualquer forma de participação popular nas decisões políticas.
       Entre os libertadores da América, Símon Bolívar defendia a unidade política
interamericana, com a proposta da criação de uma Confederação de países latino-
americanos. Este sonho de unidade territorial é conhecido como Bolivarismo, que contou
com a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos.
       A este, a fragmentação política contribuiria para a consolidação norte-americana
sobre a região (Doutrina Monroe); já para a Inglaterra, a fragmentação consolidaria sua
hegemonia econômica. Ou seja, dividir para melhor controlar. Na organização dos Estados
Nacionais na América Hispânica duas tendências de governo se apresentam: a Monarquia e
a República – com vitória dos movimentos republicanos.
       A seguir, ocorreram novos conflitos quanto a organização do regime republicano-
federalista ou centralista. O federalismo propunha umas ampla autonomia em relação ao
poder central, exprimindo os princípios do liberalismo econômico. Já o centralismo era
defendido como forma de manter a unidade nacional e a manutenção de privilégios.
       O principal fenômeno político destas novas nações americanas foi o surgimento do
caudilhismo. O caudilho era um chefe político local, grande proprietário de terra e que
procurava manter as mesmas estruturas sociais e econômicas herdadas do período colonial.
Foi responsável pela grande instabilidade na formação dos Estados Nacionais.
       O caudilhismo contribui, de maneira decisiva, para a fragmentação política e


                                             3
territorial da América Hispânica. Outros fatores para a fragmentação: ausência de vínculos
econômicos entre as colônias e atividades econômicas voltadas para atenderem as
exigências do mercado externo.
       Resumindo, pode-se dizer que os movimentos pela Independência das colônias
espanholas, se deram por causas interna e externas.
       As causas internas são:
- O desejo dos Crioulos de independência, que queriam mais poder político e maior
liberdade económica para exercer livremente a suas atividades economicas (livre mercado),
cuja produtividade foi prejudicada pelo controle do comércio por parte da metrópole e do
estabelecimento de um regime monopólio, gabelas e obstáculos. Insistiam em assumir o
controle dos Cabildos e da administração das colônias.
- A ideia de que o Estado era um patrimônio da Coroa foi que, quando a Família Real,
realizou-se em França as colônias não foram leais ao tribunal de Cádiz e o Supremo
Conselho Central, mas que formaram juntas de governo cuja meta inicial era de regresso
trono de Fernando VII.
- A fraqueza da Espanha e de Portugal durante este período, que tinham perdido o seu
papel na Europa. Isso foi reforçado quando Napoleão invadiu a Península Ibérica.
- O descontentamento dos crioulos, que queriam a independência para alterar um sistema
colonial que consideravam injusto por serem excluídos das decisões políticas e econômicas,
e encontrar-se em muitos casos explorados.
- Os ensinamentos partidos das universidades, academias literárias e das sociedades
economicas. Difundiam ideais liberais e revolucionários (típicos do Iluminismo) contra a ação
da Espanha nas suas colônias e tiveram grande influência sobre os líderes revolucionários,
como o princípio da soberania nacional, o contrato social de Rousseau e dos direitos
individuais.
       Com relação às Causas Externas, estas são:
- O vácuo do governo na Espanha causado sucessivamente por Napoleão e o
constitucionalismo espanhol, abriu a oportunidade para que a classe dirigente latino-
americana, constituída por crioulos europeus dessem impulso e sustentassem o movimento,
e a guerra pela independência como um meio de preservar e reforçar o seu status,
diminuindo o risco de ser perdido, mas sem procurar uma mudança, a menos que a
estrutura social americana (permanencia de castas ou escravos, etc), nem uma diminuição
no seu âmbito administrativo. A chamada "Pátria" foi a característica essencial do
movimento e, finalmente, prevaleceu em todas as partes da América relativamente a outros
movimentos de independência, como o fracasso de Hidalgo no México, foi também


                                             4
acompanhado por uma verdadeira revolução social.
- As Idéias liberais espalhados ao redor do mundo graças à Encyclopédie.
- Os encontros no exterior dos principais líderes da revolução e do envolvimento de alguns
na revoluções liberais na Europa, bem como os seus contactos com os governos
estrangeiros que proporcionou-lhes a possibilidade de apoio externo e fontes de
financiamento necessárias para os seus projetos independentistas.
- O exemplo dos Estados Unidos da América, que ficou independente da Inglaterra (embora
ainda longe de se tornar uma potência mundial, como aconteceria um século mais tarde),
bem como o exemplo da França, cuja revolução proclamou a igualdade de todas as pessoas
e seus direitos fundamentais, coisas que os índios e, em menor medida, os crioulos não
possuiam em relação aos peninsulares .
       Com o apoio que tiveram do Reino Unido e Estados Unidos, interessados em que as
colónias se tornassem independentes, a fim de poderem realizar um livre comércio com a
América Latina.




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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA MUSEOLOGIA SANDRA MARIA SALDANHA KROETZ Ensaio acadêmico apresentado para obtenção de avaliação parcial para a disciplina História da Civilização Americana, do curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia. Professor: Cândido Domingues Salvador 2011
  • 2. RESENHA: AS ORIGENS DA INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA1 Sandra Maria Saldanha Kroetz2 O processo de independência das colônias espanholas está relacionado ao desenvolvimento das idéias liberais no século XVIII, tais como o Iluminismo, a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. No final do século XVIII e início do século XIX, a Espanha já não é mais uma grande potência européia. Tanto a Inglaterra como a França, passaram a ter acessos às áreas coloniais da Espanha. Em 1713, a Inglaterra passa a ter o direito sobre o asiento, ou seja, sobre o fornecimento de escravos para as colônias) e o chamado permisso, quer dizer, comércio direto com as colônias. No ano de 1797, com o decreto da abertura dos portos, as colônias espanholas passaram a manter relações comercias diretamente com as nações amigas da Espanha. No ano de 1799, o governo procurou anular o decreto, provocando uma forte reação colonial. O processo da independência da América Hispânica está diretamente relacionado com a deposição de Fernando VII em 1808, quando as tropas francesas ocuparam a Espanha. Napoleão Bonaparte nomeia seu irmão, José Bonaparte, como o novo rei da Espanha, desencadeando uma forte reação nas colônias, que passaram a formar as Juntas Governativas - com caráter separatistas e lideradas pelos criollos. Antes dos movimentos separatistas ocorreram revoltas coloniais contra o domínio espanhol, destacando-se a revolta dos índios do Peru, liderados por Tupac Amaru. Entre os precursores da independência das colônias hispânicas, destaque para Francisco Miranda, que planejou a independência da Venezuela, movimento que fracassou. O movimento emancipacionista contou com a liderança dos chamados "libertadores da América" - Simón Bolívar, José de San Martin, José Sucre, Bernardo O'Higgins, Augustin Itúrbide, Miguel Hidalgo e José Artigas. A primeira tentativa de emancipação ocorreu no México, em 1810, sob a liderança do padre Miguel Hidalgo. No ano de 1821, o General Augustin Itúrbide proclama a independência do México. A partir de 1823, e seguindo e exemplo mexicano, foi a vez das colônias da América Central proclamarem a independência, surgindo as Províncias Unidas da América Central, que fragmentou-se em diversas Repúblicas: Costa Rica, Honduras, El 1 LYNCH, John. “As origens da independência da América Espanhola”. In: BETHELL, Leslie. História da América Latina: A independência até 1870, vol III. São Paulo: Edusp, 2004, pp. 19-72. 2 Sandra Maria Saldanha kroetz, graduanda do curso de Museologia ds UFBA, turma 2009. 2
  • 3. Salvador, Guatemala e Nicarágua. Cuba e São Domingos só tiveram a independência no final do século XIX. No ano de 1818, sob a liderança de Símon Bolívar surge a Grã-Colombia, que em 1830 se separam, formando a Colômbia e a Venezuela. Em 1822 é proclamada a independência do Equador ( Sucre e Bolívar). Bernardo O'Higgins liberta o Chile, com a ajuda de San Martín, no ano de 1817; San Martin e Bolívar libertam o Peru em 1821; em 1825 foia vez da Bolívia, sob o comando de Sucre. Na região do Prata o grande libertador foi San Martín ( Argentina, 1816; Paraguai 1811 e Uruguai em 1828). O processo de independência da América Hispânica contou com forte participação popular e com o apoio da Inglaterra, interessada em ampliar seu mercado consumidor. Uma outra característica foi a grande fragmentação territorial, em virtude do choque entre os diversos interesses das elites coloniais. Do ponto vista econômico, a independência não rompeu com os laços de dependência em relação às potências européias. As novas nações continuavam a ser exportadoras de matérias-primas e importadoras de produtos manufaturados. No plano político, os novos dirigentes excluíram qualquer forma de participação popular nas decisões políticas. Entre os libertadores da América, Símon Bolívar defendia a unidade política interamericana, com a proposta da criação de uma Confederação de países latino- americanos. Este sonho de unidade territorial é conhecido como Bolivarismo, que contou com a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos. A este, a fragmentação política contribuiria para a consolidação norte-americana sobre a região (Doutrina Monroe); já para a Inglaterra, a fragmentação consolidaria sua hegemonia econômica. Ou seja, dividir para melhor controlar. Na organização dos Estados Nacionais na América Hispânica duas tendências de governo se apresentam: a Monarquia e a República – com vitória dos movimentos republicanos. A seguir, ocorreram novos conflitos quanto a organização do regime republicano- federalista ou centralista. O federalismo propunha umas ampla autonomia em relação ao poder central, exprimindo os princípios do liberalismo econômico. Já o centralismo era defendido como forma de manter a unidade nacional e a manutenção de privilégios. O principal fenômeno político destas novas nações americanas foi o surgimento do caudilhismo. O caudilho era um chefe político local, grande proprietário de terra e que procurava manter as mesmas estruturas sociais e econômicas herdadas do período colonial. Foi responsável pela grande instabilidade na formação dos Estados Nacionais. O caudilhismo contribui, de maneira decisiva, para a fragmentação política e 3
  • 4. territorial da América Hispânica. Outros fatores para a fragmentação: ausência de vínculos econômicos entre as colônias e atividades econômicas voltadas para atenderem as exigências do mercado externo. Resumindo, pode-se dizer que os movimentos pela Independência das colônias espanholas, se deram por causas interna e externas. As causas internas são: - O desejo dos Crioulos de independência, que queriam mais poder político e maior liberdade económica para exercer livremente a suas atividades economicas (livre mercado), cuja produtividade foi prejudicada pelo controle do comércio por parte da metrópole e do estabelecimento de um regime monopólio, gabelas e obstáculos. Insistiam em assumir o controle dos Cabildos e da administração das colônias. - A ideia de que o Estado era um patrimônio da Coroa foi que, quando a Família Real, realizou-se em França as colônias não foram leais ao tribunal de Cádiz e o Supremo Conselho Central, mas que formaram juntas de governo cuja meta inicial era de regresso trono de Fernando VII. - A fraqueza da Espanha e de Portugal durante este período, que tinham perdido o seu papel na Europa. Isso foi reforçado quando Napoleão invadiu a Península Ibérica. - O descontentamento dos crioulos, que queriam a independência para alterar um sistema colonial que consideravam injusto por serem excluídos das decisões políticas e econômicas, e encontrar-se em muitos casos explorados. - Os ensinamentos partidos das universidades, academias literárias e das sociedades economicas. Difundiam ideais liberais e revolucionários (típicos do Iluminismo) contra a ação da Espanha nas suas colônias e tiveram grande influência sobre os líderes revolucionários, como o princípio da soberania nacional, o contrato social de Rousseau e dos direitos individuais. Com relação às Causas Externas, estas são: - O vácuo do governo na Espanha causado sucessivamente por Napoleão e o constitucionalismo espanhol, abriu a oportunidade para que a classe dirigente latino- americana, constituída por crioulos europeus dessem impulso e sustentassem o movimento, e a guerra pela independência como um meio de preservar e reforçar o seu status, diminuindo o risco de ser perdido, mas sem procurar uma mudança, a menos que a estrutura social americana (permanencia de castas ou escravos, etc), nem uma diminuição no seu âmbito administrativo. A chamada "Pátria" foi a característica essencial do movimento e, finalmente, prevaleceu em todas as partes da América relativamente a outros movimentos de independência, como o fracasso de Hidalgo no México, foi também 4
  • 5. acompanhado por uma verdadeira revolução social. - As Idéias liberais espalhados ao redor do mundo graças à Encyclopédie. - Os encontros no exterior dos principais líderes da revolução e do envolvimento de alguns na revoluções liberais na Europa, bem como os seus contactos com os governos estrangeiros que proporcionou-lhes a possibilidade de apoio externo e fontes de financiamento necessárias para os seus projetos independentistas. - O exemplo dos Estados Unidos da América, que ficou independente da Inglaterra (embora ainda longe de se tornar uma potência mundial, como aconteceria um século mais tarde), bem como o exemplo da França, cuja revolução proclamou a igualdade de todas as pessoas e seus direitos fundamentais, coisas que os índios e, em menor medida, os crioulos não possuiam em relação aos peninsulares . Com o apoio que tiveram do Reino Unido e Estados Unidos, interessados em que as colónias se tornassem independentes, a fim de poderem realizar um livre comércio com a América Latina. 5