Este documento aborda a temática da gravidez na adolescência e fornece orientações para professores. Os objetivos são: 1) desenvolver competências sobre contracepção de forma responsável; 2) compreender as consequências de uma interrupção da gravidez; 3) abordar mitos sobre fisiologia, contraceptivos e DSTs; 4) entender a contracepção como responsabilidade de ambos os sexos. As atividades sugeridas incluem a leitura e discussão de dois textos sobre gravidezes na adolescência.
Plano de aula Nova Escola períodos simples e composto parte 1.pptx
A Gravidez na Adolescente
1. Educar para a Sexualidade
Actividade: Gravidez na adolescência
Que saídas?1
Objectivos:
- Adquirir competências responsáveis sobre a contracepção.
- Entender as repercussões da interrupção da gravidez.
- Abordar mitos relacionados com a fisiologia, contraceptivos e DST.
- Compreender a contracepção como responsabilidade masculina e feminina.
Orientações para o professor:
1. Leitura dos textos “Inês” e “Sofia” extraídos do livro Mulheres & Mulheres, LDAS de Teresa
Sousa Fernandes.
2. Promover um debate. Sugere-se por exemplo a abordagem das seguintes questões:
Que sentimentos/emoções sentiram (os/as alunos/as) perante a Inês e a Sofia?
A situação crítica podia ter sido evitada em ambos os textos? Em caso afirmativo,
de que maneira?
Que apoios poderiam ter ajudado a resolver, de outro modo, estes dois casos?
Que aprendizagens foram transmitidas (apreendidas) através destes textos?
3. Preencher o quadro:
Reacções perante Motivos para ter o Motivos para não
Sentimentos de
os outros bebé ter o bebé
Sofia
Jorge
Cila
Inês
1
Adaptado de: PEREIRA, M.M.; FREITAS, F. (2002). Educação Sexual – Contextos de sexualidade e ado-
lescência. 3ª edição. Porto: Edições ASA.
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Educação para a Saúde
2. Texto 1 – Inês
Tenho pensado nelas várias vezes porque não tive mais notícias de nenhuma.
A Lena que teve de perder a filha.
A Cila que a recebeu como se fosse o maior Jackpot.
A Inês, indiferente a tudo, coisas da vida.
Recordo com frequência o dia em que a Lena me procurou nos seus dezasseis anos tão frescos quanto
aflitos.
Tinha tido relações pela primeira vez, num instante, obviamente desprotegidas e dentro dela crescia o
filho que “não fez”, que não queria de momento.
Teve azar, confesso.
Ainda tentei que assumisse a gravidez, julgo que o Jorge nos seus dezoito anos mais sensatos, tinha
vontade e possibilidade de ajudar.
Não quis, tinha as suas razões, o Jorge conformou-se.
No meio do azar, teve sorte, pelo amparo psicológico e monetário que ele lhe deu aquando da interrup-
ção clandestina da gravidez e pelo amor que continuou a dispensar-lhe. Nem sempre assim acontece.
Voltei a vê-la, um pouco mais tarde, quando se decidiu pela pílula que não chegou a tomar.
Deve lembrar-se ainda porquê. Tão inteligente, tão trabalhadora, tão lutadora, tão sensata, ao ponto de
receber uma bolsa de estudo no estrangeiro e tão esquecida de coisas simples como a pílula, que eu
receitei e ela não tomou porque lá longe não precisava.
E a despedida? Não vai esquecê-la nunca.
Uma nova gravidez indesejada, um novo aborto para não levar atrás dela para o desconhecido, um filho,
a solidão, o trabalho.
O Jorge não gostou mesmo nada desta trágica decisão.
Nem eu, confesso.
O Jorge sofreu, ela foi embora.
Voltou de surpresa num fim de ano, confiou em contas, em cuidados. Pela terceira vez confiou e falhou.
O Jorge impediu uma nova interrupção, ameaçou com leis e tudo o que pôde.
Conseguiu.
Alguns meses a fio, sozinha, com amparo monetário do Jorge, que sempre que podia se escapava para
ela, exigiu o silêncio perante seus pais e familiares que nunca lhe perdoariam.
Com a Inês nascida, com ela nos braços, ninguém lhe arremessaria pedras.
Seria mais fácil. Quem rejeita uma criança?
Enganou-se, porém.
Antes do parto, o Jorge cansou-se. Deixou o vaivém e foi ficando por cá. Pôs até em dúvida a paternida-
de, porque já não lhe convinha de momento, era muito novo.
Pediu ajuda paterna que lhe foi remediada pelo bom nome da família.
Nesse remedeio enviaram-lhe a Cila, jovem esposa impossibilitada de engravidar, não sei bem porquê,
daria a vida por uma Inês e deu. Deram.
Nunca mais tive notícias.
Coisas da vida…
Vais chamar-te Inês
Vais ter um lar
Muito amor
Um dia, talvez
Queiras aprofundar
Tua dor.
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3. Saber quem te fez,
Quem te deu a adoptar,
Quem te quis “tanto mal”
e “tanto bem”
Ao começar…
Toda a gente te amou
Ninguém te rejeitou
Nem mesmo a tua mãe
Ao dar
Coisas da vida…
Texto 2 – Sofia
Não sei como pudeste transformar um filho num quisto do ovário, mas conseguiste. Seria bem mais difícil
o milagre de conseguires fazer de um quisto um recém-nascido.
Tudo isto é banal, não me impressionaste quando solicitaste ajuda e silêncio. Só a primeira vez nos con-
funde.
Com a minha experiência, a minha vasta experiência, já me pesa a idade, foste mais uma miúda que
deixou para trás um longo sofrimento que guardaste sozinha na tua conturbada meninice.
Já tinhas visto em redor exemplos que não gostaste, a Alexandra, mas seguiste as pegadas, cometeste
as mesmas imprudências.
Compreendo que não tivesses feito contracepção embora a conhecesses, compreendo que tivesses
vontade de uma gravidez até ele a constatar e a ter recusado, compreendo que prosseguisses sozinha
porque nem dinheiro tinhas para o aborto, compreendo o teu silêncio perante a família que nem para ti
olhou, pelos vistos.
Tiveste muita coragem. E ainda tiveste mais quando levaste o teu trabalho até ao fim, até ao dia do parto,
respondendo com brejeirices de “quistos ováricos” às tuas supostas modificações do corpo olhadas pelos
teus amigos.
Diria que foste uma heroína no teu silenciado sofrimento.
Nunca te vi vacilar na tua decisão de ofereceres a criança a um casal que a adoptasse e fizesse feliz, já
que para ti seria o impensável, o impossível.
Terias de continuar a ser vista pela família como o tal exemplo que eras, pelos teus amigos também.
Pensaste tudo com o rigor e maturidade de um adulto.
Guardaste folgas no emprego acumulando-as para uma semanita de férias algures em Lisboa com a tua
melhor amiga que nem suspeitou dessa dor.
A família, como sempre, concordou. Merecidas férias. Os teus telefonemas feitos do internamento curto
souberam-lhes a boa vida por Lisboa, pela capital, sorte.
Voltaste para todos, cinco dias depois, mais bonita, mais fresca, mais leve por fora. Por dentro, pesam-te
as lágrimas que não choraste e que te irão magoar eternamente…
As lágrimas não são só para correrem sentidas quando se ouve o grito do bebé, quando se tem que re-
gistar como filho, quando se tem de assinar o consentimento para a adopção.
Devias ter aproveitado o internamento para chorares o teu quisto, para chorares tudo de vez.
Toma conta de ti… e chora… porque as meninas choram… quantas vezes sem motivo.
Tu ias ser mãe solteira,
Sozinha
O fruto do teu amor
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4. seria rei
somente no teu império
… um fruto fora de lei …
Felicidade interior,
Quem te levava a sério?
Não quiseste piedade
nem recebeste migalhas…
(o mundo está povoado de canalhas).
Ontem foi calor
Hoje arrefeceu.
Assim foi o amor
Esmoreceu.
Amanhã será melhor.
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