O documento descreve a teoria da Análise Transacional sobre os estados do ego humano - Pai, Adulto e Criança. Cada estado possui subestados que influenciam nosso comportamento de acordo com as circunstâncias. O documento fornece detalhes sobre como cada estado e subestado se manifesta e como foram desenvolvidos baseados em experiências da infância.
1. ANÁLISE TRANSACIONAL
A Análise Transacional nos fornece um modelo descritivo do funcionamento da personalidade
humana que nos permite compreender de forma simples e objetiva como nosso Ego se
comporta em diferentes circunstâncias.
EGO:
Ego é a denominação usada para representar o todo da personalidade, que se manifesta na
forma como sentimos, pensamos, agimos, reagimos e nos relacionamos.
ESTADO-DE-EGO:
O Ego pode assumir diferentes estados de acordo com as necessidades de cada momento e
de acordo com a maneira como estamos programados para nos conduzir diante de cada
situação.
Nós possuímos três estados-de-ego que são fontes separadas e distintas de
comportamento.Os estados-de-ego são denominados coloquialmente de PAI,ADULTO,
CRIANÇA (usamos letras maiúsculas quando nos referimos a um estado-de-ego ou,
abreviadamente, P, A, C para distinguir de pai, adulto e criança no sentido comum das
palavras).
ESTADO-DE-EGO PAI: Contém as atitudes e comportamentos incorporados
de fontes exteriores, primordialmente os pais biológicos. Se revela em
pensamentos e comportamentos típicos de figuras paternas (pai e mãe)
expressando autoridade, na forma de críticas e repreensões, e apoio ou
proteção. Interiormente é percebido na forma de mensagens que continuam a
influenciar nosso comportamento.
ESTADO-DE-EGO ADULTO: Está orientado para a realidade, coleta e
processamento objetivo de informação. É organizado, adaptável, inteligente,
e funciona testando a realidade, avaliando possibilidades e decidindo
racionalmente.
ESTADO-DE-EGO CRIANÇA: Contém todos os impulsos que aparecem
normalmente em uma criança. Também recordações de experiências
remotas e condicionamentos.
ESTADO-DE-EGO PAI:
O PAI é formado por incorporações de atitudes e mensagens dos pais e de
todas as pessoas significativas da infância que correspondam afetivamente
a uma figura paterna: avós, tios, irmãos mais velhos, professores, etc.
Algumas mensagens parentais são encorajadoras , outras ao contrário.
Podem ser positivas ou negativas funcionando como permissão ou
proibição, incentivo ou desestímulo, valorização ou desvalorização.
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2. ESTADO-DE-EGO CRIANÇA:
A CRIANÇA é formada pela parte da personalidade que permanece
eternamente funcionando como uma criança real, é um resíduo da criança
que todos fomos um dia.Cada pessoa tem uma infância singular, portanto a
CRIANÇA de cada um é diferentemente estruturada. A CRIANÇA contém
as emoções e os correspondentes psicológicos do corpo (sensações e
imagem corporal)inclusive a sexualidade.É o centro energético, criativo e
motor da personalidade .A criança é depositária dos aspectos profundos e
íntimos da personalidade e constitui sua única parte autêntica, tudo o mais
dela é derivado.
ESTADO-DE-EGO ADULTO:
O ADULTO é o estado que torna a sobrevivência possível para o ser
humano civilizado.Age basicamente através do teste de realidade,
seleciona racionalmente as ações mais efetivas e as que devem ser
seguidas por condicionamento (filtragem).É capaz de reavaliar conceitos e
modificar atitudes de acordo com as necessidades das circunstâncias
reinantes.É dotado de autonomia e capacidade de decisão.As funções de
teste de realidade e estimativa de riscos servem ao propósito de minimizar
a possibilidade de fracasso.A qualidade das decisões depende não só da
inteligência da pessoa mas, também, de quão bem informado está o
ADULTO (que é o depositário de nosso conhecimento objetivo, técnico,
científico e avaliador da experiência) e de quão bem é capaz de selecionar
e usar as informações e influências do PAI e da CRIANÇA.
O ADULTO é o executivo da personalidade.Um ADULTO saudável deve ser livre das influências
negativas ou irrelevantes do PAI e da CRIANÇA.Ele pára, olha e ouve por si mesmo, pensa antes
de agir e assume total responsabilidade por seus pensamentos, sentimentos e ações.Um adulto
saudável também é capaz de permitir que o PAI ou a CRIANÇA assuma o controle da
personalidade quando for adequado às circunstâncias, mantendo-se vigilante para assumir o
comando sempre que necessário.
SUBESTADOS-DE-EGO:
Cada estado-de-ego possui três sub-divisões ou subestados que são adotados de acordo com
as circunstâncias. SUBESTADOS DO PAI:
PAI PROTETOR (PP):
Contém as atitudes do PAI do tipo protetoras, tais como: atenção,
compreensão, apoio, incentivo, orientação, consolo, atendimento à saúde,
cuidados em geral, orientação, elogios, valorização, permissão.
Exemplos: "Você está cançado, porque não deita um pouco?" "Deixe que
eu lhe faço uma massagem onde dói." "Não brinque no meio da rua, é
perigoso".
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3. PAI CRÍTICO (PC):
O PC reúne os aspectos moralistas, julgador, punitivo do pai.Trata de
apontar os erros, aplicar castigos, fazer proibições e estabelecer
limites. É a instância que introduz a idéia de culpa e os valores sociais
básicos, do certo e do errado. Exemplos: "Só pode brincar depois de
fazer as lições". "Não minta, mentira tem perna curta". "Não quero
saber de conversa na aula hoje". Tanto o PP quanto o PC possui
aspectos positivos e negativos.A proteção é até certo ponto
necessária e adequada..
É a proteção do PAI que dá à criança a sensação de segurança e confiança que vai
acompanhá-la, ou não, ao longo de toda a vida.A proteção se torna negativa quando excessiva
(super-proteção) de forma a atrapalhar o crescimento emocional e instrumental da criança
impedindo o desenvolvimento de um ADULTO suficiente. A proteção e o apoio são adequados
quando se restringem às áreas que ainda estão foras do domínio do indivíduo ou para as quais
este esteja incapacitado transitoriamente.A regra básica é não fazer nada que a criança já seja
capaz de fazer por si mesma (a menos que seja uma carícia eventual).O PC se torna negativo
quando excessivamente rígido, agressivo ou punitivo.O aspecto mais negativo do PC costuma
ser, também, denominado de PAI BRUXO, o qual reúne as atitudes do PAI que incutem culpa
excessiva, medo e dúvida aterrorizando a criança acima dos limites que ela pode
suportar.Muitos problemas de personalidade são devidos a distorções do PAI dos pais.Pais
muito críticos geram uma criança tímida e retraída.Pais super-proterores tornam a criança
dependente e insegura.Pais afetivamente carentes geram uma criança culpada. Pais omissos
ou ausentes deixam a criança confusa.Pais muito exigentes e perfeccionistas geram uma
criança indecisa, hesitante. E assim por diante
PAI PRECONCEITUOSO:
Esta instância do PAI reúne as idéias pré-concebidas que tendem a se tornar pontos de
inflexibilidade do caráter que dificultam a mudança.É o caso dos preconceitos raciais,
religiosos, classistas e machistas ou feministas, tipo: "Homem não chora", "Lugar de mulher é
na cozinha", "Os homens são todos iguais", "Mulheres são menos inteligentes", "Todo homem
é infiel", "Homens não sabem cuidar de crianças", "Mulheres são barbeiras na direção".Há um
caso extremado de distorção do PAI, é o famoso dono-da-verdade, ou sabe-tudo, que não
aceita divergência ou questionamento.Adota atitudes tais como:"Aqui quem manda sou eu". "É
assim que eu quero, e está acabado", "Eu sou assim e pronto","Assunto encerrado", "Não me
responda".Estes pais tendem a gerar comportamentos diferentes e extremos de acordo com o
temperamento básico da criança: o extremamente rebelde, desafiador, revoltado, ou o oposto,
extremamente submisso e obediente, o concordino. No primeiro caso a rebeldia passa a ser a
única forma viável de alcançar autonomia.A submissão se torna uma forma de dependência
aliada a um sentimento de incapacidade para a autonomia.
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4. SUBESTADOS DA CRIANÇA
CRIANÇA LIVRE OU NATURAL ( CN):
A CN é formada pelas características primárias de
uma criança virgem de influências sociais.A CN é
livre, impulsiva, expontânea, intuitiva, alegre,
divertida, brincalhona, criativa, age e reage na busca
do prazer e da satisfação das necessidades
instintivas.A CN também se manifesta de forma
positiva ou negativa.A CN sem limites,
insuficientemente socializada, se torna inconveniente,
desrespeitosa, inconsequente, não sabe conter seus
impulsos (age primeiro, pensa depois), não sabe a
hora de interromper a brincadeira.
CRIANÇA ADAPTADA OU SUBMISSA (CA):
Esta instância da CRIANÇA surge como resultado da aplicação
dos instrumentos sociais de repressão, imposição de limites,
introjeção de normas, proibições, princípios de ordem, respeito às
leis e à autoridade.É obediente , cordata, dócil, gentil, bem
comportada.É o aspecto socilalizado, domesticado da CRIANÇA.
O aspecto negativo da CA é a CRIANÇA SUBMISSA(CS) a qual
é resultado do uso inadequado, excessivo ou abusivo dos
métodos de socialização.A CS é demasiadamente medrosa,
tímida, insegura, confusa, dependente, sempre em função das
distorções do PAI das figuras parentais da infância, PC ou PB
excessivamente rígido.Este é o cado da maioria dos transtornos
emocionais genericamente conhecidos como Neuroses.
CRIANÇA REBELDE (CR):
Contém os comportamentos da criança que são provenientes das
partes mais primitivas da nossa estrutura neurológica, estruturas
estas chamadas de reptilianas, pois permanecem iguais ao cérebro
dos répteis.Contém impulsos agressivos violentos de ataque ou
comportamento defensivo de fuga e evitação, usados da luta direta
pela sobrevivência.É esta instância da criança que se nega a
obedecer, que não sabe esperar pela gratificação dos desejos, que
faz birra e agride quando é frustrada.É um animal selvagem
indomado. Aspectos positivos da CR: é graças à ela que somos
capazes de no rebelar quando tentam nos impor a submissão de
forma indevida.É a CR que se revolta contra as injustiças, contra o
autoritarismo, contra as atitudes ditatoriais e o abuso de poder, seja
dos pais, professores e futuramente dos patrões, chefes e
governantes.Por isto os grevistas são tão barulhentos, eles se
encontram naquele instante no estado de CRIANÇA REBELDE.Já os
aspectos negativos se referem à resistência ao processo normal,
necessário, de socialização.É a criança que se nega a tomar banho,
que não quer alimentar-se nas horas certas, que não aceita limites.É
o adulto que resiste a cumprir horários, que reluta em assumir
compromissos e responsabilidades, que não cumpre os deveres.O
caso extremos são as personalidades anti-sociais, os psicopatas e 4
criminosos.
5. PEQUENO PROFESSOR (PQP): Esta instância é o germe do
ADULTO na criança.O PqP é curioso, intuitivo, criativo, tem um
impulso natural para explorar o mundo, levantar e resolver
problemas.O PqP começa a se manifestar desde os primeiros meses
de idade quando a criança começa a experimentar tudo, a querer
mexer em tudo, e mais tarde quando começa a querer saber o porque
de tudo.É de onde se origina a nossa criatividade inata que é a
característica que mais nos diferencia dos demais mamíferos
superiores. Inclui a intuição e a curiosidade que são a base de toda a
pesquisa e descoberta científicas.Todas as invenções humanas são
obra do PEQUENO PROFESSOR instrumentado pelos
conhecimentos e capacidade analítica do ADULTO, o qual não possui
criatividade própria, nada podendo criar sem a inventividade inata da
criança representada pelo PEQUENO PROFESSOR.
COMENTÁRIO FINAL SOBRE A CRIANÇA:
É importante compreender que o ego CRIANÇA não é sinônimo de aspectos imaturos da
personalidade.Aquilo que costuma se denominar de imaturidade (ou criancice, na forma
pejorativa) está relacionado com os aspectos negativos do estado-de-ego CRIANÇA, os quais
devem, dentro do possível, ser eliminados da personalidade adulta.
Os aspectos positivos da CRIANÇA, ao contrário, são e devem ser mantidos pelo resto da
vida.Mais do que isto, a CRIANÇA POSITIVA é a parte mais importante de nossa
personalidade, que norteia a construção de nossa identidade.É através da CRIANÇA que
fazemos as nossas escolhas mais legítmas e genuínas, que decidimos sobre o que realmente
nos agrada e desagrada, enfim, sobre o que de fato faz diferença para o nosso sentimento de
satisfação com a vida.Uma pessoa feliz é uma pessoa com um ego CRIANÇA saudável.O
poeta português Fernando Pessoa se refere a este fato de forma magistral em um de seus
poemas (por falar nisto, é da criança que provém a nossa capacidade poética e artística):
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