Neste Volume 1
foram reunidas
informações
básicas sobre a
temática do
trabalho infantil,
sua situação no
Brasil e no
mundo, bem
como sobre os
direitos das
crianças e
adolescentes,
destacando a educação e o lazer como
alternativas ao trabalho infantil.
http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/ipec/pub/caderno1_330.pdf
1. Combatendo o
Trabalho infantil
GUIA PARA EDUCADORES
1 Combate ao trabalho infantil
1 Combate ao trabalho infantil
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3. CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
Combatendo o
Trabalho infantil
GUIA PARA EDUCADORES
1
Combate ao
trabalho infantil
Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
Escritório no Brasil
5. Sumário
4 Apresentação
5 Por que e como utilizar este material
7 A OIT e o trabalho infantil
8 As Convenções da OIT
9 O trabalho infantil no mundo
11 Trabalho infantil e direito à infância
13 O que é trabalho infantil
14 O trabalho em sociedades indígenas brasileiras
15 O que obriga crianças e jovens a trabalhar?
16 Alegações usuais para “justificar” o trabalho infantil
16 Efeitos perversos do trabalho infantil
19 Trabalho infantil no Brasil atual
20 Dimensionando o problema
21 Trabalho infanto-juvenil por grupos de idade
22 No campo e na cidade
25 O trabalho de crianças no passado
brasileiro
26 A criança escrava
27 Na fábrica, na passagem do século XIX ao XX
29 Trabalho infantil na Inglaterra, séculos XVIII e XIX
31 Os direitos da criança e do adolescente
32 O ECA, Estatuto da criança e do adolescente
34 Direito à educação, direito à infância
36 A importância do brincar
39 Contrapondo-se ao trabalho infantil
43 Considerações finais
44 Referências bibliográficas
46 Anexo
Quadro: Incidência de trabalho infantil no Brasil
6. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
Apresentação suas organizações na luta contra o trabalho
infantil”.
Ao buscar discutir o tema com educadores e
Este material foi preparado para divulgar suas organizações, a OIT e seus parceiros
informação sobre o trabalho infantil, os direitos reconhecem a importância desses agentes em
da criança e a importância da educação na suas comunidades e a contribuição que podem
prevenção e erradicação do trabalho infantil. trazer à luta contra o trabalho de crianças e
Nossa expectativa é que os leitores – educadores adolescentes. Considera sua participação,
em geral, pais, cidadãos – se engajem no especialmente a dos professores nas escolas,
combate a essa forma extrema de violação dos fundamental para mobilizar e sensibilizar toda
direitos das crianças e adolescentes. a comunidade. Compreendendo melhor a
chaga social que é o trabalho infantil,
A erradicação do trabalho infantil é ponto certamente irão desenvolver ações que
de honra para um país que pretenda alcançar contribuam para sua eliminação, tanto na
patamares mais elevados de eqüidade e justiça própria comunidade como no restante do país.
social. A construção de um país mais justo,
menos desigual, mais democrático depende Quem está em contato próximo com
não só da definição de estratégias a curto e crianças, jovens e seus pais, tem a
longo prazos, mas da vontade política dos oportunidade de fazê-los refletir sobre a
governos, empresários, trabalhadores, grupos realidade e a responsabilidade de cada um de
organizados da sociedade civil e dos cidadãos nós no conhecimento e na transformação
em geral. Impulsionar essa vontade política, social, especialmente da realidade à nossa
sensibilizar e mobilizar novos segmentos e volta. É o educador que pode estimular os
direcionar suas energias para ações alunos a formar conceitos e valores sobre
competentes na busca de soluções e direitos, justiça, eqüidade e solidariedade. Por
alternativas para o trabalho infantil é o grande isso a OIT busca seu engajamento e
desafio a ser enfrentado por todos aqueles que compromisso com essa luta, que é de toda a
se comprometem com a luta pelos direitos da sociedade brasileira. Desse esforço de
infância e juventude em nosso país. sensibilização nasceu o conjunto Combatendo
o trabalho infantil: guia para educadores,
Para erradicar o trabalho infantil, a principal buscando subsidiá-lo para tratar dessa temática
medida que vem sendo adotada é a de atribuir com os alunos, pais, colegas, a comunidade.
prioridade à educação, entendida como
englobando escola formal e atividades ESTE CONJUNTO É FORMADO POR
culturais, de esporte, lazer, orientação à saúde DOIS VOLUMES, QUATRO
etc. O direito à educação integral e de CARTAZES E UM JOGO.
qualidade garante às crianças e jovens um
Neste Volume 1
outro direito fundamental: o de viver sua
foram reunidas
infância e juventude como um período
informações
essencial de formação para a vida e de
básicas sobre a
desenvolvimento de seu potencial humano.
temática do
A OIT - Organização Internacional do trabalho infantil,
Trabalho, por meio do IPEC - Programa sua situação no
Internacional para a Eliminação do Trabalho Brasil e no
Infantil, em parceria com a CNTE - mundo, bem
Confederação Nacional dos Trabalhadores em como sobre os
Educação e com o apoio técnico do CENPEC - direitos das
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, crianças e
Cultura e Ação Comunitária, de São Paulo – adolescentes,
elaboraram este conjunto de materiais no destacando a educação e o lazer como
âmbito do projeto “Professores, educadores e alternativas ao trabalho infantil.
4
7. O Volume 2 reúne POR QUE E COMO
sugestões de
atividades escolares UTILIZAR ESTE MATERIAL
relativas à temática, Um estudo realizado pela OIT (1999a) sobre
agrupadas segundo estratégias bem-sucedidas para a prevenção e
os componentes erradicação do trabalho infantil em 13 países
curriculares (dentre os quais o Brasil) mostrou que
História, Português, educadores em geral e suas organizações são
importantes agentes no combate ao trabalho
Ciências, Geografia
infantil, atuando diretamente na comunidade
e Artes. escolar e engajando-se em lutas mais amplas.
Assim, este material foi elaborado para subsidiar
Os cartazes podem ser utilizados em várias educadores brasileiros de modo a que venham
situações: para introduzir o estudo do tema, ser, eles também, agentes nesse combate. O
propósito deste volume é permitir que o
para ficar expostos em lugar bem visível ou
educador, conhecendo a problemática em
para compor, com outros materiais, as profundidade – origens, dimensão, efeitos,
atividades em sala de aula. Podem também mitos, legislação etc. –, esteja em condições de
funcionar como ponto de apoio para debates e analisar a natureza do problema local
discussões na comunidade escolar. (contextualizando-o no nível nacional) e possa
contribuir para aumentar o grau de consciência
de alunos, pais e comunidade sobre o tema.
O volume 2 traz orientações para desenvolver a
temática em sala de aula, mas de modo a
envolver toda a escola e a comunidade. A equipe
escolar, bem como os educadores de
organizações não-governamentais, podem
reforçar junto aos pais o valor da educação
como alternativa importante para romper o
círculo vicioso da pobreza; trabalhar por uma
educação de qualidade, que inclua o currículo
apropriado e relevante para todas as crianças,
particularmente as mais pobres e vulneráveis; e
construir parcerias com outros grupos que
combatam o trabalho infantil.
Quanto às organizações de educadores, a
O jogo Bem-vindos à escola visa levar expectativa é que, fortalecidas e mobilizadas
alunos a reconhecer, de forma lúdica, as pelo conhecimento sobre a temática, possam:
características negativas do trabalho infantil, pôr à disposição sua estrutura operacional e seu
bem como a importância do cumprimento do poder de penetração junto aos associados para
Estatuto da Criança e do Adolescente para pôr mobilizar contra o trabalho infantil;
fim à exploração dessa população. definir uma política de atuação contra o
trabalho infantil;
estabelecer parcerias com escolas, órgãos
governamentais ou outras organizações de
trabalhadores, tanto para a prevenção quanto
o combate ao trabalho infantil;
organizar fóruns de discussão; auxiliar em
diagnósticos locais;
conscientizar a comunidade sobre o direito e a
importância da educação para todas as
crianças e jovens.
A comunidade poderá então exercer pressão para
a formulação de políticas públicas e para
sustentar politicamente programas educativos.
5
8. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
MENINA (13 ANOS) RETIRA CARVÃO DO FORNO. RIBAS DO RIO PARDO - MS
9. A OIT e o
trabalho infantil
A OIT – Organização Internacional do
Trabalho, com sede em Genebra, é
uma das agências especializadas da
ONU, Organização das Nações
Unidas. Foi criada em 1919, ao
término da Primeira Guerra Mundial,
quando se discutia a necessidade de
encontrar meios para alcançar a paz
permanente e universal, capaz de
impedir novos e sangrentos conflitos
como o que findara. Isso foi debatido
por ocasião da Conferência de Paz de
Paris em 1919, cujos participantes
chegaram à conclusão de que “a paz
universal e permanente somente
pode basear-se na justiça social” – o
que se tornou a frase inicial da
constituição da própria OIT, formada
por representantes de governos,
empregadores e trabalhadores.
7
10. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
O objetivo da OIT é lutar pela melhoria das titui o mais importante instrumento normativo
condições de trabalho no mundo e elevação do de luta contra o trabalho infantil. Essa Conven-
ção determina, no geral, a idade mínima de 15
padrão de vida dos trabalhadores, pleiteando re-
anos para o ingresso no mercado de trabalho,
gulamentação da jornada de trabalho, liberdade em todos os setores da atividade produtiva (para
de associação, negociação coletiva, igualdade de trabalhos perigosos, a idade mínima é 18 anos
remuneração pelo trabalho de igual valor e não- e, para trabalhos leves, 14 anos). É uma norma
discriminação no trabalho; também pleiteia pro- que, por seu caráter flexível, atende ao nível de
teção contra enfermidades profissionais, além de desenvolvimento socioeconômico dos diferen-
outras disposições, sobre desemprego e forma- tes países-membros da OIT e admite iniciativas
a médio e longo prazo.
ção profissional.
a Convenção n.182 sobre as Piores Formas de
A proteção da infância é um dos elementos
Trabalho Infantil (OIT, 2001) determina a ime-
essenciais na luta pela justiça social e pela paz diata concentração de esforços para erradicar o
universal. A OIT entende que o trabalho infantil, trabalho infantil nas seguintes situações:
além de não constituir trabalho digno e ser con- todas as formas de escravidão e práticas aná-
trário à luta pela redução da pobreza, sobretudo logas, como a venda e o tráfico de crianças, o
rouba das crianças sua saúde, seu direito à edu- trabalho forçado ou obrigatório, a servidão
cação, ou seja, sua própria vida enquanto crian- por dívidas e a condição de servo;
ças – para a OIT, o termo “criança” refere-se a a utilização, o recrutamento ou a oferta de
pessoas com idade inferior a 18 anos. crianças para a prostituição, a produção de
pornografia ou atuações pornográficas;
Preocupada com a situação de exploração do a utilização, o recrutamento ou a oferta de
trabalho infantil, a OIT lançou em 1992 o Pro- crianças para a realização de atividades ilíci-
grama Internacional para Eliminação do Traba- tas, em particular a produção e o tráfico de
lho Infantil (IPEC). Trata-se de um programa mun- substâncias entorpecentes, tal como se defi-
dial de cooperação técnica contra o trabalho in- nem nos tratados internacionais pertinentes;
fantil, contando com o apoio financeiro de 22 qualquer outro tipo de trabalho que, por
países doadores, cujo objetivo é estimular, orien- sua natureza ou pelas condições em que se
realiza, possa supor ameaça à saúde, à segu-
tar e apoiar iniciativas nacionais na formulação
rança ou à moralidade das crianças.
de políticas e ações diretas que coíbam a explo-
Com relação ao trabalho perigoso acima mencio-
ração da infância. O IPEC visa a erradicação pro-
nado, a OIT indica que se considerem, no mínimo,
gressiva do trabalho infantil mediante o fortale- os trabalhos em que as crianças:
cimento das capacidades nacionais e do incenti-
fiquem expostas a abusos de ordem física,
vo à mobilização mundial para o enfrentamento emocional ou sexual;
da questão. Promove o desenvolvimento e a apli-
atuem embaixo da terra e da água, em altu-
cação de legislação protetora e apóia organiza- ras perigosas ou em meios confinados;
ções parceiras na implementação de medidas utilizem maquinarias, equipamentos e ferra-
destinadas a prevenir o trabalho infantil, a retirar mentas perigosas ou que manipulem e trans-
crianças de trabalhos perigosos e a oferecer al- portem cargas pesadas;
ternativas imediatas, como medida transitória atuem em meio insalubre ou estejam expos-
para a erradicação do trabalho infantil. tas, por exemplo, a substâncias, agentes ou
processos perigosos, ou ainda a temperatu-
AS CONVENÇÕES DA OIT ras ou níveis de ruído e vibração prejudiciais à
saúde;
Os instrumentos normativos da OIT são conven- atuem em condições especialmente difíceis,
ções e recomendações sobre o trabalho. Uma con- como por exemplo horários prolongados, no-
venção é um instrumento do sistema internacio- turnos ou que impeçam o regresso diário à
nal de direitos humanos que se torna vinculante, sua casa.
ou seja, de cumprimento obrigatório pelos países
que a ratificam. Como signatário das convenções Além dos instrumentos normativos, a OIT empre-
da OIT, o Brasil assume o compromisso de fazer ga outros dois meios de ação: a produção e disse-
cumprir suas determinações. Em relação ao traba- minação de informação; e a cooperação técnica
lho infantil, duas delas merecem destaque: para desenvolver programas como o IPEC, que in-
centiva o fim da exploração do trabalho infantil.
a Convenção n.138 sobre Idade Mínima de Ad- Esses três meios de ação se complementam visan-
missão ao Emprego (OIT, 2001), de 1973, cons- do o alcance da justiça social.
8
11. O trabalho infantil no mundo
A exploração do trabalho crianças são geralmente de isso se tornar sua principal
infantil não é um fato restrito encontradas, em todo o ou única atividade. Essa
ao Brasil. A OIT estima em cerca mundo? Milhões de crianças forma é mais comum em
de 250 milhões as crianças fazem trabalho perigoso, países como Brasil, Colômbia,
trabalhadoras em todo o abusivo e explorador. Entre Equador, Filipinas, Quênia e
mundo. Pelo menos 120 outras, são comumente Tanzânia.
milhões de crianças entre 5 e encontradas exercendo as
14 anos de idade trabalham em seguintes formas de trabalho
tempo integral. Os restantes (OIT, 1999b).
combinam trabalho com os Na indústria, realizando
estudos e com outras atividades trabalho perigoso, como
não-econômicas. fabricação de vidro,
De acordo com estimativas da construção e tecelagem de
OIT (1999b), a maioria absoluta tapetes. Dentre outros países,
dessas crianças está em países essas atividades são Em trabalho doméstico,
“em desenvolvimento”. São 17 freqüentes na Índia. árduo, sob condições de
milhões na América Latina e isolamento, trabalhando
Caribe (7%); 80 milhões na horas excessivas, sujeitas a
África (32%); e 153 milhões na abuso físico e sexual – mais
Ásia, excluindo o Japão (61%). freqüente no Brasil, Colômbia,
Embora as estatísticas Equador e Indonésia.
geralmente não mencionem,
nos países desenvolvidos há um
significativo contingente de Na agricultura, realizando
crianças e adolescentes trabalho pesado e sendo
trabalhando em situações que expostas a muitos perigos
envolvem riscos. O relatório associados à introdução de
Situação Mundial da Infância moderna maquinaria e
(UNICEF, 1998) informa, por produtos químicos. A OIT,
exemplo, que nos Estados por meio do IPEC, mantém Em regime de escravidão ou
Unidos uma operação- programas de atendimento, em arranjos de trabalho
relâmpago do Departamento de entre outros, no Nepal e na muito similares, como
Trabalho, realizada em 1990 Tanzânia, onde é muito alto o trabalho servil e prostituição
durante três dias, encontrou índice de crianças envolvidas infantil. Esta última é muito
mais de 11.000 crianças nas fainas agrícolas. comum no Brasil, no Quênia
trabalhando ilegalmente. e na Tailândia, enquanto
Grande parte delas pertencia a crianças trabalham em
minorias étnicas ou a regime escravo ou servil na
comunidades de imigrantes e Índia e no Nepal.
trabalhava na agricultura. Na
Europa, os países do antigo
bloco socialista viram surgir o
trabalho infantil em virtude dos
desajustes sociais e econômicos Em casa, cuidando de irmãos
decorrentes da transição para a e irmãs mais novos ou
economia de mercado. ajudando em sítios ou
Em que tipos de trabalho as empresas familiares, a ponto
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12. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
AOS 11 ANOS, CARREGANDO SACOS DE LARANJA. TABATINGA - SP
13. Trabalho infantil
e direito à
infância
Talvez uma forma de descrever o
trabalho infantil seja pelas marcas
que deixa na vida de crianças e jovens
que a ele são submetidas. Para essas
pessoas, a sina diária é trabalhar sob
qualquer condição, enfrentar
cansaço, fome, às vezes mutilação,
abandono. Nada de livros, cadernos,
lápis de cor, brincadeiras ou sonhos.
Nada de aprender a ler e escrever, a
ler o mundo a sua volta... Essas
crianças e jovens nunca ouvem o sinal
do recreio. A merenda, quando há,
é comida ali mesmo, no meio da
fuligem, rapidamente, pois não se
pode perder tempo. Ficam proibidos
os risos, molecadas, algazarras.
O importante é produzir, trocar o que
produziu por quase nada e recomeçar
tudo no outro dia, sem direito a ter
direitos, mesmo os mais
fundamentais: aprender, brincar,
ter férias, descansar... Bola,
brincadeira de roda, jogos não
entram nesse mundo. Em vez de ser
preparadas para segurar o lápis,
desenhar, pintar, recortar e colar, suas
mãos carregam pás, enxadas, foices,
desproporcionais a sua força.
11
14. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
E com o que sonha uma criança que só co- mundo? Como indenizá-los pela infância não vi-
nhece da vida o horizonte delimitado pelo car- vida, pelas oportunidades perdidas, pelo direito
vão, sisal, pela cana ou pedreira? Será que sonha negado de partilha do conhecimento construído
em ser cantor, atriz, bombeiro ou enfermeira? pela humanidade, da qual faz parte? Não são
“Meu maior desejo”, disse um menino carvoei- perguntas fáceis de responder.
ro, “é não tossir à noite por causa da fumaça do
Mas milhares de crianças e jovens brasileiros
forno. Aí dá para dormir”. É próprio da criança e
enfrentam hoje a dura realidade do trabalho pre-
do jovem projetar-se no futuro e sonhar com o
coce. E esse número pode aumentar: a agudiza-
que virá. Mas o sonho maior do menino carvoei-
ção da pobreza estrutural no país e o risco de
ro está preso, como ele, ao seu duro cotidiano.
intensificação das desigualdades sociais ameaçam
A exploração brutal e os riscos de vida a que empurrar mais e mais crianças e jovens para o
estão sujeitos os trabalhadores infantis são fla- trabalho. Estudos de caso feitos em 13 países pela
grantes, como exemplifica esta descrição das con- OIT (1999a) apontam esses dois fatores como os
dições de trabalho experimentadas por um me- maiores obstáculos à eliminação do trabalho in-
nino, numa pedreira no interior do Ceará: fantil – e que mais contribuem para seu aumen-
O lugar não é para brincadeiras. Usa-se cartu- to. Por outro lado, altas taxas de desemprego pro-
cho de pólvora para fragmentar a pedra; lascas de vocam a falta de confiança no valor e importân-
pedra e aço dos instrumentos voam para todo lado cia da educação, o que prejudica a percepção do
e inala-se pó o tempo inteiro. Ninguém usa óculos seu papel estratégico nessa luta. Outro fator
nem qualquer outro equipamento de proteção. apontado, além da persistência de atitudes soci-
Acidentes são rotina. (...). No povoado de Taquara
ais e culturais que favorecem o trabalho infantil,
(...), Francisco, 11 anos, quebrava pedra como to-
dos os meninos: sentado no chão, no meio da é a baixa qualidade dos serviços educacionais,
poeira levantada pelas explosões a dinamite, pelo refletida em altas taxas de retenção e evasão.
entra-e-sai dos caminhões e sob o sol escaldante. Esses fatores dão a dimensão da complexida-
Martelava pedra com uma marreta, sobre uma
de que envolve o tema e dos desafios a serem
pedra almofariz. Para cada carrinho de cinco me-
tros cúbicos de brita, Francisco recebe o equiva- enfrentados nos níveis político, econômico e so-
lente a pouco mais de dez centavos de dólar1 . Ele ciocultural, para que o país avance na erradica-
produz 20 carrinhos por semana; se a mãe vem ção do trabalho infantil. Tome-se o desafio da
junto, a produção chega a 60 carrinhos. (Azevedo distribuição de renda: sem dúvida, frente ao qua-
& Huzak, 1994, p.100) dro atual de aprofundamento da pobreza no país,
Essa realidade remete a indagações: Que pers- a melhor forma de enfrentá-la a curto e médio
pectivas de desenvolvimento, de formação edu- prazos seria com um programa de distribuição e
cacional e de participação na cultura se colocam geração de renda para todas as famílias em situa-
para uma criança que desde cedo é submetida a ção de pobreza, não só para aquelas envolvidas
essas condições de trabalho? Que possibilidades com o trabalho infantil.
existem para que Francisco, ao se tornar adulto,
Não é fácil propor soluções a essa problemá-
vivencie experiência de trabalho que lhe propor-
tica. Mas é possível e necessário construir, coleti-
cione condições de vida dignas?
vamente, perspectivas de superação dessa reali-
E qual será o futuro de um menino carvoeiro, dade que afeta a vida de milhares de crianças
de um cortador de cana ou de sisal, privado do brasileiras. A amplitude e complexidade do pro-
direito (que lhe é garantido pelas leis do país) ao blema deixam claro que é necessário que toda a
desenvolvimento integral, por meio de oportuni- sociedade brasileira tenha uma atitude de indig-
dades educativas? Como enfrentará a sociedade nação frente ao trabalho infantil e se sensibilize,
do conhecimento e da tecnologia, sem saber es- se mobilize para enfrentá-lo. É imprescindível unir
crever o próprio nome, sem poder ler, sem co- todos: esferas de governo, organizações não-go-
nhecer o funcionamento das instituições e do vernamentais, sindicatos, empresas, igrejas, clu-
bes, associações, escolas, cidadãos, numa atitu-
1 Para se ter uma idéia de quanto Francisco recebia por mês, pode-se de de co-responsabilidade participante.
estimar a produção mensal em 80 carrinhos o que, a dez centavos de
dólar por carrinho, dá oito dólares por mês. Na cotação de maio de Os professores e demais trabalhadores em
2001 (R$ 2,25 por dólar), isso significa que Francisco recebia cerca de
R$ 18,00, ou aproximadamente um décimo do salário mínimo. educação também estão convocados a descobrir
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15. que contribuição podem dar em sua escola, bair- trada no mercado de trabalho. As Constituições
ro, comunidade, município ou estado, para pre- de 1934, 1937 e 1946 ampliaram a idade míni-
venir e erradicar o trabalho infantil e devolver as ma para 14 anos. Porém, em 1967, em plena
crianças à escola, à infância e a uma vida mais ditadura militar, novamente se recuou esse limi-
digna e justa. Mãos à obra. te para 12 anos!
Atualmente, a legislação brasileira, por meio
O que é trabalho da Emenda Constitucional 20/98 e da lei sancio-
nada em 19 de dezembro de 2000 (Brasil, 2000a,
infantil? que altera disposições da CLT – Consolidação das
Leis Trabalhistas), determina que a idade mínima
O trabalho pode ser compreendido como uma para a entrada no mercado de trabalho é 16 anos.
“atividade consciente e voluntária, pela qual o O trabalho noturno, perigoso ou insalubre é per-
homem exterioriza no mundo fins destinados a mitido apenas a maiores de 18 anos. E apenas
modificá-lo, de maneira a produzir valores ou na condição de aprendiz o adolescente pode exer-
bens social ou individualmente úteis e satisfazer cer trabalho remunerado, dos 14 aos 16 anos,
assim suas necessidades” (Russ, 1994, p.297). com direitos trabalhistas garantidos, em jornada
A forma como o trabalho é realizado em di- e regime especificados na lei.
versas sociedades, ao longo do tempo, aproxi-
É PROIBIDO QUALQUER TRABALHO A
ma-se ou distancia-se dessa definição. Ao mes-
MENORES DE DEZESSEIS ANOS DE IDADE,
mo tempo que modificam o mundo pelo traba-
lho, os seres humanos também se modificam, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ,
estabelecendo relações entre si, criando e reno- A PARTIR DOS QUATORZE ANOS.
vando a cultura. Nesse sentido, o trabalho com- (BRASIL, LEI 10.097/2000, ART.1O)
pleta o indivíduo e contribui para seu desenvol-
Podemos dizer pois que o trabalho infantil é
vimento enquanto ser humano. Mas o modo
aquele realizado por crianças e adolescentes que
como uma determinada sociedade se organiza
estão abaixo da idade mínima para a entrada no
para o trabalho e o tipo de relações que se esta-
mercado de trabalho, segundo a legislação em
belecem na produção podem levar à desumani-
vigor no país.
zação e à alienação. Há trabalhos que embrute-
cem e deformam, além de não proporcionar con- No entanto, é preciso refinar essa definição,
dições para escapar da situação de penúria e pri- contemplando certos aspectos de tradições cul-
vação na vida pessoal, familiar e social. turais em diferentes lugares do mundo. Em al-
gumas sociedades, a transmissão cultural reali-
É fácil incluir o trabalho infantil nessa última
za-se oralmente, não havendo registros escritos
perspectiva. A entrada precoce de crianças e ado-
de sua história, técnicas ou ritos. Assim, na agri-
lescentes no mercado de trabalho, nas condições
cultura tradicional ou na produção artesanal,
atuais – e históricas – do capitalismo no Brasil
crianças e adolescentes realizam trabalhos sob a
exemplifica bem essa perspectiva de trabalho,
supervisão dos pais como parte integrante do pro-
situação que não é muito diferente para imensos
cesso de socialização – quer dizer, um meio de
setores da população adulta trabalhadora.
transmitir, de pais para filhos, técnicas tradicio-
Em diferentes países, de maneira geral, o tra- nalmente adquiridas. Esse trabalho pode ser tam-
balho infantil costuma ser definido como aquele bém motivo de satisfação para as próprias crian-
realizado por “crianças e adolescentes”. Isso sig- ças (Bequelle, 1993, p.22). O sentido do apren-
nifica que a permissão (ou a proibição) para a der a trabalhar varia de acordo com a cultura,
entrada dos indivíduos no mercado de trabalho com a sociedade e, dentro destas, varia também
é estabelecida em lei de acordo com a idade. No dependendo do momento histórico em que elas
entanto, esse recorte é móvel, varia de socieda- se encontram. Mas a situação de trabalho como
de para sociedade e, em cada uma, muda tam- parte do processo de socialização não deve ser
bém de acordo com a compreensão do que seja confundida com aquelas em que as crianças são
infância e adolescência. No Brasil, em 1891, ins- obrigadas a trabalhar, regularmente ou durante
tituía-se a idade mínima de 12 anos para a en- jornadas contínuas, para ganhar seu sustento ou
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16. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
o de suas famílias, com conseqüentes prejuízos Por outro lado, essa preocupação não pode
para seu desenvolvimento educacional e social. ser radicalizada no sentido de excluir a participa-
ção das crianças e adolescentes em tarefas do-
Seguindo esse raciocínio, as condições de ex-
mésticas. Essa participação reveste-se de caráter
ploração e os prejuízos à saúde e ao desenvolvi-
educativo e formador do senso de responsabili-
mento da criança ou adolescente que realiza a
dade, pessoal e em relação ao núcleo familiar.
atividade é que seriam parâmetros para caracte-
rizar o trabalho infantil. Mas é preciso lembrar Atualmente, na luta pelo reconhecimento dos
que o mero fato de trabalhar “em casa” ou “com direitos da criança e do adolescente, um parâ-
a família” não descaracteriza o trabalho infantil. metro mais claro tem sido colocado: ainda que
Mesmo no espaço do trabalho em família, sabe- seja para garantir a continuidade de uma tradi-
se que muitas crianças são submetidas a esta- ção familiar, para dividir responsabilidades no in-
fantes jornadas de trabalho na lavoura familiar terior da casa ou para ajudar na lide do campo,
ou são responsabilizadas por todos os serviços o trabalho de crianças não pode impedir que elas
domésticos e cuidados com os irmãos menores exerçam seus direitos à educação e ao brincar,
em casa, sem que lhes seja garantido, por exem- condições essenciais a seu pleno desenvolvimen-
plo, tempo para ir à escola ou para brincar. to.
O trabalho em sociedades
indígenas brasileiras
Em muitas sociedades indígenas trabalho leva em consideração E isso quer dizer ter funções e
brasileiras, trabalhar é aprender não só as tarefas a serem responsabilidades
a fazer junto, pois o trabalho se realizadas, mas principalmente compartilhadas com as demais
caracteriza como momento de a idade e as condições físicas de pessoas com as quais convive,
troca de experiência entre os seus participantes, como uma como produzir alimentos,
membros do grupo. Nessa forma de protegê-los. confeccionar adereços e objetos
vivência, as pessoas envolvidas Meninas e meninos aprendem, artesanais para o uso cotidiano,
com as mais diversas formas de no convívio familiar, as tarefas ritual e festivo, construir a
atividades constróem consideradas femininas e própria habitação, participar da
coletivamente conhecimentos, masculinas. Mães, mulheres vida comunitária.
como fruto desse aprendizado. idosas ou experientes ensinam Produção, família e sociedade
O trabalho constitui assim as meninas a tecer, fabricar acham-se articuladas e se
importante aspecto da vida cerâmica, transformar os orientam pelos mesmos
comunitária indígena. Ele alimentos. Pais e homens idosos propósitos, o que faz com que
fornece as bases de uma da aldeia ensinam os meninos a educação e vida caminhem
organização social de tipo fazer arcos, flechas, adornos juntas. Educar nas comunidades
igualitária, em que a família corporais, técnicas de caça e indígenas tem um sentido
funciona como unidade básica pesca... Na sociedade indígena, amplo. Significa ensinar e
de produção, acumulando e essa aprendizagem visa aprender pela vivência direta
trocando os conhecimentos propiciar à criança a nas várias situações cotidianas:
indispensáveis à subsistência de apropriação de todos os saber é saber fazer. Dessa
todos os seus membros. A conhecimentos que necessitará forma, o aprendizado para o
organização baseia-se na em sua futura vida adulta. trabalho é incorporado nas
divisão sexual do trabalho: há Para uma criança ou práticas coletivas que são, em
tarefas masculinas (em geral, adolescente, fazer parte de uma si, educativas; em outras
caçar, derrubar mato) e tarefas família, e portanto de uma palavras, integra o processo de
femininas (em geral, cuidar da unidade de produção, significa socialização das crianças e
roça, cozinhar). Essa divisão do ser membro da sociedade. jovens indígenas.
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17. destinada ao trabalho. Um sistema escolar efi-
O que obriga crianças e ciente deve assegurar a permanência de todas as
jovens a trabalhar? crianças na escola, com aprendizagem efetiva.
Outro fator que obriga ao trabalho infantil é
a crença, comum em muitas culturas – e não só
nos estratos mais pobres –, de que as crianças
devem compartilhar as responsabilidades da fa-
mília, participando do trabalho dos pais, ganhan-
do remuneração fora de casa ou ajudando na
administração da casa. Esta última é especialmen-
te verdadeira para as meninas, de quem é espe-
rado que cuidem dos irmãos e irmãs, bem como
das tarefas domésticas, a ponto de estas se tor-
narem sua principal ou única atividade. Tais cren-
ças fazem com que o peso da responsabilidade
seja assumido por crianças desde cedo, sem qual-
quer questionamento, de geração em geração.
Dessas crenças e da situação de vulnerabilidade
econômica, os empregadores tiram vantagens em
HIGIENE MATINAL NA CARVOARIA. ÁGUAS CLARAS - MS proveito próprio. Ao empregar crianças, têm em
Crianças e jovens são obrigados a trabalhar mente garantir trabalhadores dóceis, submissos,
por várias razões, sendo a pobreza a principal que não causem “encrenca” e sejam incapazes
delas. Muitos governos, ao enfrentar crises eco- de defender seus direitos; crianças e adolescen-
nômicas, não dão prioridade às áreas que pode- tes têm menos condições de se negar a realizar
riam ajudar a aliviar as dificuldades enfrentadas tarefas servis por baixos salários do que os adul-
por famílias de baixa renda: não priorizam saú- tos. Os empregadores beneficiam-se ainda da
de, educação, moradia, saneamento básico, pro- ineficácia da fiscalização: embora cientes da lei
s gramas de geração de renda, treinamento profis-
sional, entre outros. Para essas famílias, a vida se
que proíbe o trabalho infantil, violam-na na cer-
teza da impunidade.
torna uma luta diária pela sobrevivência. As crian-
Portanto, a incorporação de crianças e ado-
ças são forçadas a assumir responsabilidades, aju-
lescentes no mercado formal e informal de tra-
dando em casa para que os pais possam traba-
balho expressa, por um lado, deficiências das po-
lhar, ou indo elas mesmas trabalhar para ganhar
dinheiro e complementar a renda familiar. Em um líticas públicas para educação, saúde, habitação,
mundo crescentemente desigual, em um proces- cultura, esportes e lazer, além da ineficácia da fis-
so acentuado pelo fenômeno da globalização, calização do trabalho para cumprimento da lei e
cada vez mais contrapõem-se riqueza e pobreza. da vigência de certas crenças, mesmo entre os
Assim, todo um segmento da população, alijado próprios pais. Por outro lado, expressa os efeitos
de condições adequadas de formação, educação perversos da má distribuição de renda, do desem-
e acesso a bens e serviços, vem constituindo um prego, dos baixos salários, ou seja, de um modelo
contingente de despossuídos. econômico que não contempla as necessidades
Um sistema educacional deficiente também do desenvolvimento social. O Brasil é considerado
contribui para empurrar crianças para o trabalho. a 10a economia do mundo em termos de Produto
Mesmo tendo acesso à escola – no Brasil, 97% Interno Bruto, mas está classificado em 74o lugar
das crianças entre 7 e 14 anos estão sendo matri- (IPEA, 1999) em termos de IDH – Índice de De-
culadas todo ano (Brasil, 2000b) – crianças e ado- senvolvimento Humano (esse índice, criado pela
lescentes das camadas pobres são mais atingidos ONU em 1990, considera simultaneamente os ní-
pela repetência. Após repetir várias vezes, a crian- veis de renda, instrução e saúde das populações;
ça – por si mesma e pelos pais – é considerada calculado para 174 países, classifica-os em uma
“incapaz” de aprender, saindo da escola e sendo escala do melhor para o pior).
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18. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1
ALEGAÇÕES USUAIS ças com dificuldades no desempenho escolar.
Muitas famílias, sem vislumbrar outras possibili-
PARA “JUSTIFICAR” dades de enfrentamento das dificuldades, acabam
O TRABALHO INFANTIL incorporando a idéia de que é melhor encaminhar
seus filhos ao trabalho. Nesse caso, cabe à escola
Apesar de condenável e proibido por lei, ainda há repensar sua adequação a essa clientela, pois a
quem procure justificar a necessidade do trabalho função social da escola em uma sociedade demo-
infantil. Alguns argumentos, freqüentemente usa- crática é permitir o acesso de todos os alunos ao
dos para “justificar” essa prática, devem ser refu- conhecimento.
tados (OIT & CECIP, 1995, p.8-9).
Em suma, o trabalho infantil não se justifica e não
“Crianças e jovens (pobres) devem trabalhar para é solução para coisa alguma. A solução para essa
ajudar a família a sobreviver”. problemática é prover as famílias de baixa renda
É a família que deve amparar a criança e não o de condições tais que elas possam assegurar a suas
contrário. Quando a família se torna incapaz de crianças um desenvolvimento saudável.
cumprir essa obrigação, cabe ao Estado apoiá-la,
não às crianças. O custo de alçar uma criança ao EFEITOS PERVERSOS DO
papel de “arrimo de família” é expô-la a danos TRABALHO INFANTIL
físicos, intelectuais e emocionais. É um preço al-
tíssimo, não só para as crianças como para o con- O trabalho precoce de crianças e adolescentes in-
junto da sociedade pois, ao privá-las de uma in- terfere diretamente em seu desenvolvimento:
fância digna, de escola e preparação profissional, físico – porque ficam expostas a riscos de lesões,
reduzimos o valor dos recursos humanos que po- deformidades físicas e doenças, muitas vezes
deriam impulsionar o desenvolvimento do país no superiores às possibilidades de defesa de seus
futuro. corpos;
“Criança que trabalha fica mais esperta, aprende emocional – podem apresentar, ao longo de suas
a lutar pela vida e tem condições de vencer profis- vidas, dificuldades para estabelecer vínculos afe-
sionalmente quando adulta”. tivos em razão das condições de exploração a
que estiveram expostas e dos maus-tratos que
O trabalho precoce nunca foi estágio necessário
receberam de patrões e empregadores;
para uma vida bem-sucedida. Ele não qualifica e,
portanto, é inútil como mecanismo de promoção social: antes mesmo de atingir a idade adulta
social. O tipo de trabalho que as crianças exercem, realizam trabalho que requer maturidade de
rotineiro, mecânico, embrutecedor, impede-as de adulto, afastando-as do convívio social com pes-
realizar as tarefas adequadas à sua idade: explorar soas de sua idade.
o mundo, experimentar diferentes possibilidades, Ao mesmo tempo, ao ser inserida no mundo do
apropriar-se de conhecimentos, exercitar a imagi- trabalho a criança é impedida de viver a infância e
nação... a adolescência sem ter assegurados seus direitos
de brincar e de estudar. Isso dificulta muito a vi-
“O trabalho enobrece a criança. Antes trabalhar
vência de experiências fundamentais para seu de-
que roubar”.
senvolvimento e compromete seu bom desempe-
Esse argumento é expressão de mentalidade vi- nho escolar – condição cada vez mais necessária
gente segundo a qual, para crianças e adolescen- para a transformação dos indivíduos em cidadãos
tes (pobres, pois raramente se refere às das famí- capazes de intervir na sociedade de forma crítica,
lias ricas), o trabalho é disciplinador: seria a “solu- responsável e produtiva. Entre as crianças que tra-
ção” contra a desordem moral e social a que essa balham há maior repetência e abandono da escola.
população estaria exposta. O roubo – aí conotan-
Encomendada pelo IPEC e CNTE, uma pesquisa
do marginalidade – nunca foi e não é alternativa
feita pelo DIEESE – Departamento Intersindical de
ao trabalho infantil. O argumento que refuta esse
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (1997),
é, “antes crescer saudável que trabalhar”. O tra-
junto a 1.419 crianças trabalhadoras que freqüen-
balho infantil marginaliza a criança pobre das opor-
tam a escola, constatou índices alarmantes de re-
tunidades que são oferecidas às outras. Sem po-
petência, na faixa de 64%. Essa pesquisa foi reali-
der viver a infância estudando, brincando e apren-
zada em seis das maiores capitais brasileiras: Be-
dendo, a criança que trabalha não é preparada
lém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Recife
para vir a ser cidadã plena, mas para perpetuar o
e São Paulo. A pesquisa também entrevistou os
círculo vicioso da pobreza e da baixa instrução.
alunos-trabalhadores, constatando que os deve-
Outro argumento presente na sociedade é o de res escolares, quando realizados, são feitos após a
que o “trabalho é um bom substituto para a edu- jornada de trabalho e cada dia em um horário di-
cação”. É usado principalmente no caso de crian- ferente, roubando parte do tempo destinado ao
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