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Combatendo o
                                 Trabalho infantil
                                  GUIA PARA EDUCADORES




                                                         1 Combate ao trabalho infantil
1 Combate ao trabalho infantil
TEND               ENDO COMBATEN                              TEND                   TRAB                  LHO I                O INF                O IN                LHO I ALHO IN
OMBA ES COMBAT                                              OMB A                 NDO O                  TRABA               ABALH                ABALH                TRABA         TRAB
         R                  ADORE
                                    S             ORES C ES COMBATE BATENDO O ENDO O TR ENDO O TR ATENDO O                                                                NDO O O O TRABAL
UCADO PARA EDUC ARA EDUCAD CADOR                                              COM                  MBAT                  MBAT                COMB S COMBATE
         IA                   P                   U
 TIL GU FANTIL GUIA UIA PARA ED A EDUCADO DUCADORES DUCADORES
                                                                        RES                   CO                    CO               ORES               E                     ATEND TENDO O
                                                                                                                          DUCAD               CADOR                  COMB               A
BAL  HO IN           FANTIL G IL GUIA PAR                    IA P  ARA E UIA PARA E                     GUIA    PARA E IA PARA EDU DUCADORES ORES COMB ES COMB
        BA  LHO IN O INFANT                        TIL GU FANTIL G                           ANTIL                  TIL GU GUIA PARA E ARA EDUCA
                                                                                                                                                                      D           CADOR A EDUC
O TRA TRABALH                            INFAN LHO IN                               O INF                 INFAN ANTIL                                                   RA EDU UIA PAR
                               BALHO                A                      ABALH                ALHO                  F                      GUIA P            UIA PA
 N DO O          DO   O TRA DO O TRAB TENDO O TR NDO O TRAB RABALHO IN HO INFANTIL INFANTIL G                                                                                TIL G
                                                                                                                                                                    INFAN BALHO INFA O
                                                                                                                                                                                                  NTIL
  COM   BATEN OMBATEN ES COMBA                                     M  BATE              D OOT                TR ABAL               B ALHO               B ALHO            TR  A               BALH
               ES C              DOR                    RES CO                 BATEN                DO O                  O TRA                O TRA              DO O                O TRA
EDU   CADOR ARA EDUCA RA EDUCADO ADORES COM COMBATEN MBATENDO MBATENDO COMBATEN                                                                                          AT  ENDO DO O TRAB
         GUIA P TIL GUIA PA                            UC                  RES                    CO                    CO                  ES                  COMB MBATEN
ANTIL                                      ARA ED A EDUCADO DUCADORES DUCADORES                                                    CADOR UCADORES                                               ENDO
        HO IN
RABAL BALHO INFA
                FAN
                           NTIL
                                Combatendo o
                                  GUIA P
                              INFAN
                                                IA PA
                                      TIL GU NTIL GUIA P
                                                        R              ARA
                                                                       ANTIL
                                                                             E             ARA     E                PAR  A EDU
                                                                                 GUIA P FANTIL GUIA NTIL GUIA P IA PARA EDU
                                                                                                                                      A  RA E D           C  ADO  RES CO ES COMBAT COM
                                                                                                                                                                      CADOR
                                                                                                                                                           RA EDU PARA EDUCA
                                                                                                                                                                                         DORES ED
                               Trabalho infantil
         A                                      FA                                          IN                     A                    U
O O TR O TRABALHO ABALHO IN ABALHO INF TRABALHO                                                    BAL  HO INF INFANTIL G TIL GUIA PA                             UIA
                                                                                                                                                                                               ARA
                                                                                                                                                                                      GUIA P FANT
    NDO                  O TR              O TR           TEND     OO                    O TRA RABALHO                      HO IN
                                                                                                                                     FAN                NTIL G              ANTIL
 TE
         MBATE
                  NDO                 DO
                             BATEN PARAOMBA        EDUCADORES BATE
                                                                                 NDO
                                                                                            DO O T O O TRABAL                                  O INFA BALHO INF RABALHO IN ALH
                                 GUIA
 ES CO DORES COM CADORES C ADORES COM COMBATEN                                                                                       ABALH              RA                    T                   B
         CA                  DU                  UC                                            AT  END               ND   O O TR TENDO O T BATENDO O ENDO O TRA TRA
 A EDU GUIA PARA E UIA PARA ED                              C ADORE
                                                                        S
                                                                                 ES  COMB S COMBATE S COMBA                                         COM                 MBAT                DO O
                                                  RA EDU               CADOR               DORE                    ORE                      ORES                ES CO COMBATEN ATEND
         IL                   G
NFANT HO INFANTIL NTIL GUIA PA IA PARA EDU ARA EDUCA ARA EDUCAD                                                                   DUCAD              CADOR
                                                                                                                        PARA E IA PARA EDU DUCADORES ORES COMB ES C
           L
  TRABA BALHO INF
                             A            TIL GU NTIL GUIA P                         GUIA P FANTIL GUIA NTIL GU                                     RA E                 CAD                 DOR
             A                   INFAN               FA                    ANTIL                IN                   FA                    UIA PA               RA EDU PARA EDUCA
ND  O O TR O TRABALHO ABALHO IN ABALHO INF TRABALHO                                                    BA  LHO IN             FA  NTIL G TIL GUIA PA                  UIA                GUIA P FA
                                                                                                                                                                                                    ARA
        NDO                  O TR               O TR                 DO O                    O TRA RABALHO IN HO INFAN                                   FA  NTIL G            FANTIL
 BATE              TENDO             ENDO COMBATEN                               TENDO DO O T                             BAL                   HO IN               LHO IN TRABALHO BA
                                                                                                                                                                                                   IN
           OMBA               MBAT                                      OMBA               EN                    O TRA O O TRABAL O O TRABA
 ORES C CADORES CO DUCADORES UCADORES C ES COMBAT                                                BAT   ENDO           TEND                 TEND                  ATE   NDO O ENDO O TR
                                                                                                                                                                                                    A
 AR A EDU GUIA PARA E UIA PARA ED                         EDUC    ADOR                S COM RES COMBA                             OMBA          ORES    COMB S COMBAT                           DO O
                                                                               DORE                                      RES C                                     E                  BATEN ATE
         NTIL             NTIL G IL GUIA PARA                        EDUCA A EDUCADO A EDUCADO ARA EDUCAD EDUCADOR                                                          ES COM
O INFA ALHO INFA INICIATIVA GUIA PARA
                                  NT                                         PAR                    AR                      P                ARA
                                                                                                                                                                                               MB
                                                                                                                                                                  C A D O R A D O R E S CO O R E S
           B                   FA                                        IA                   IA P                  GUIA                 IA P                 DU
   O TRA RABALHO IN O INFANTIL                              N  TIL GU FANTIL GU                         FANTIL               N TIL GU GUIA PARA E ARA EDUC                                 U CAD
          OT                ALH                   O INFA ALHO IN                            LHO IN                 O INFA               TIL                 IA P                 ARA ED GUIA PA
  ENDO DO O TRAB O TRABALH                                    B                   TRABA O TRABALH ALHO INFAN                                      TIL GU                GUIA P
        TE  N              DO                   O   O TRA              N DO O              DO                    AB                    O  INFAN O INFANTIL                        F ANTIL             IN
OMBA COMBATEN OMBATEND S COMBATE COMBATEN ENDO O TR O TRABALH RABALH                                                                                                   LHO IN              BALHO A
         S                   C                  RE                     S                   AT                     O                      T                    TRABA NDO O TRA                         R
 ADORE DUCADORES A EDUCADO EDUCADORE ORES COMB                                                         ATEND                 NDO O                NDO O                TE                  DO O T
           E               PAR                  RA                      D                    COMB S COMBATE S COMBATE RES COMBA COMBATEN TENDO
A PARA NTIL GUIA                    G  UIA PA           ARA   EDUCA UCADORES                        DOR   E              DOR   E              CAD  O               ORE  S              MBA
 HO IN
         FA               FANTIL             GUIA P                 RA ED                EDUCA ARA EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO ES COMBA
          RABA   LHO IN O INFANTIL                        UIA PA GUIA PARA                            P                                    UIA P                  DU                 DOR
                                                   TIL G                                     GUIA                 TIL GU         NTIL G                 PARA E             EDUCA               UCADO
 DO O T O TRABALH ALHO INFAN O INFANTIL O INFANTIL                                                      INFAN
        DO                   Programa InternacionalBpara a EliminaçãoLdo Trabalho O INFA INFANTIL GUIA IL GUIA PARA GUIA PARA ED GUIA
                            AB                 A  LH                  LH                    BA HO RABALH Infantil
  ATEN             O O TR DO O TRAB                        TRA A NDO O TRA DO O T                                            HO                 FANT                  TIL                  TIL
          ATEND              N                    DO O                 TE                    N                     RABAL                HO IN                INFAN ALHO INFAN BALHO
 COMB S COMBATE COMBATEN RES COMBA S COMBATE                                                          N DO O T O O TRABAL                       AB  ALHO           RA  B                 TRA
UCADO
          RE              RESORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ND
                                              ADO                     ORE                 MBATE                                       O O TR              O O T BATENDO O ENDO O T
                 UCADO PARA EDUC ARA EDUCAD CADORES CO S COMBATE OMBATEND OMBATEND                                                                                  M                  AT
         RA ED                                                                                                                                           RES CO                COMB               TEND
 UIA PA FANTIL GUIAEscritórioUIA BrasilPARA EDU EDUCADOR UCADORES
                                           no P                                              E                    C                  S C
                              FAN  TIL G          GUIA                                                             EDUC    ADORE A EDUCADO DUCADORES RES COMBA
          IN               IN                                         ARA                    ED                                         R             RA E                     O                     OM
 ALHO            BALHO                FANTIL               GUIA P              UIA PA
                                                                                       RA                     RA
                                                                                                    UIA PA ANTIL GUIA TIL GUIA PA
                                                                                                                                    PA                                DUCAD               ORES C D
         O TRA RABALHO IN O INFANTIL                                NTIL G INFANTIL G                           F                                           PARA E ARA EDUCAD                      UCA
ENDO DO O T                          LH                  O INFA ALHO                                 LHO IN               O INFA
                                                                                                                                     N                  IA
                                                                                                                                               TIL GU IL GUIA P                         ARA ED GU
        EN                  TRABA              ABALH                  B                   TRABA O TRABALH ALHO INFAN                                      T                    GUIA P
MBAT          ATE NDO O ENDO O TR NDO O TRA ATENDO O                                                  O                    B                     INFAN O INFANTIL                              TIL
                                                                                                                                                                                      INFAN BALH
     COMB S COMBAT                                                                             END                     RA
                                                                                                             DO O T O O TRABAL
                                                                                                                                            HO
                                                                                                                                                                           BALHO
 ES                                   OM   BATE           ES C   OMB                 MBAT                                                            BALH                                     RA
         DORE               ORES C EDUCADOR DUCADORES RES COMBA MBATEND
                                                                                 CO                    TEN                                   O TRA NDO O TRA TENDO O T DO O
 EDUCA RA EDUCAD                                                                                                                 TENDO                TE               MBA                 ATEN
            A               UIA   PARA           IA P  ARA E          EDU   CADO            ORE    S CO           ES C  OMBA RES COMBA                       RES CO               COMB                TE
   GUIA P           NTIL G APOIOIL GU GUIA PARA ARA EDUCAD EDUCADOR
                                 FAN   T                                                                                DUC   ADO            A ED  U C A D O D U C A D O R E S R E S COMBA
              INFA
 AB  ALHO          ABA  LHO IN        INF  ANTIL          TIL G   UIA P             IA  PARA                  PARA E IL GUIA PAR                       PARA E A EDUCADO CADORES CO
          O O TR            BALHO               INFAN                      TIL GU                IL GUIA               NT                   IL GUIA             PAR           RA EDU PARA EDUC
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                                                                   DUC   A              RES em Educação              T                                                        BAT   ENDO         TEND
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                             Confederação Nacional
                              GUIA P            GUIA P
                                                          ARA
                                                                       A EDUC EDUCADOR                                                                             ES CO
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          LH                 H                    N                     IA P  ARA           PARA     EDUCA ARA EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO ES
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                                                                                                                    T RABAL BALHO INFA INFANTIL G ANTIL GUIA FANTI
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                                                                                                                                                     O                  INF         ALHO
                                                                                                                                                                                             IN
            C                                       B                    OMBA                                       D                                           ALHO                                    A
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                                                                                              M
                                                                                                                         TEND    O O TR DO O TRAB DO O TRAB ENDO O TR
       EDUC               D UCA               A ED                   EDUC                 O RES                 O MBA                B  ATEN              B ATEN               MBAT OMBATEN
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                  ARA E REALIZAÇÃO GUIA PARA                                    DUCAD                ORES C                S COM               S COM                 RES CO              C
         GUIA P             TIL GU               IL                   PARA E RA EDUCAD EDUCADORE EDUCADORE A EDUCADO DUCADORES RES COM
ANTIL ALHO INFAN LHO INFANT ANTIL GUIA                                    UIA P  A              PARA                  PARA                 IA PA  R            PARA E A EDUCADO CADOR
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                                                            FANTIL INFANTIL GU FANTIL GU
                                                                                            IA                    IA             TIL GU               GUIA              AR                   U
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   MBATE ATENDO O                       RABAL TRABALHO TRABALHO
                                                                                             IN              BALHO RABALHO IN O INFANTIL NTIL GUIA P
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                                               OO
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                                                                        O                   DO                    OO                   BALH              O INFA HO INFANT LHO IN
                                                                                                                                               ABALH               AL                  A
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           EDUCA RA EDUCAD                       R A EDU PARA EDUCA UCADORES C ES COMBAT COMBATEN COMBATEN                                                                         MBAT OMBAT
 A PARA GUIA PA                        UIA PA IL GUIA                                                    OR                                                               ES CO
                              NTIL G                                      PARA E
                                                                                   D
                                                                                              DUCAD EDUCADOR
                                                                                                                             ES             DORES                CADOR               ORES C
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                                                   T
  FANTIL ALHO INFA ALHO INFAN FANTIL GUIA GUIA PARA E                                                PARA                         EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO
                                                                                                                          PARAComunitária
        TRAB                 AB
                           RCentro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura UIA
                                               O IN                                        GUIA                     e Ação ANTIL G           U                 IA P                 DU                 D
DO O ATENDO O T O TRABALH ALHO INFAN O INFANTIL
                                                                      TIL                                   TIL G              F                     TIL GU                PARA E            EDUCA
       MB                DO                 RAB                    ALH                   LHO      INFAN
                                                                                                              ABAL    HO IN ALHO INFAN FANTIL GUIA GUIA PARA                                      IA PA
S CO               ATEN                OT                  TRAB                  RABA                     TR                 RAB                  O IN                 NTIL        FANTIL
                                                                                                                                                                                             GU
           COMB              TENDO                DO O                  O O T                 NDO O                DO O T                ABALH               O INFA                                  INF
 DORES RES COMBA COMBATEN OMBATEND S COMBATE COMBATEN TENDO O TR O TRABALH RABALHO IN RABALHO
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CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária




                             Combatendo o
                            Trabalho infantil
                               GUIA PARA EDUCADORES




             1
        Combate ao
      trabalho infantil




         Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC
                  ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
                             Escritório no Brasil
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1a edição, 2001
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OIT – Escritório no Brasil
Direção                                                 Armand Pereira
Coordenação Nacional do IPEC-Brasil                     Pedro Américo Furtado de Oliveira
Coordenação do Projeto                                  Moema Prado


   Organização Internacional do Trabalho
   Combatendo o trabalho infantil : Guia para educadores / IPEC. –
   Brasília : OIT, 2001. : il.

   Conjunto formado por 2 volumes, cartazes e jogo
   v.1: Combate ao trabalho infantil – 48 p.
   v.2: Sugestões de atividades – 64 p.


   Produção CENPEC
   ISBN 92-2-811040-6
   1.Trabalho infantil. I. OIT II. IPEC. III. CENPEC.

Com base no conjunto: “Child labour: an information kit for teachers,
educators and their organizations” ILO/IPEC (ISBN 92-2-111040-0).




Material elaborado pelo CENPEC para o escritório da OIT no Brasil, no âmbito do Projeto “Professores,
educadores e suas organizações na luta contra o trabalho infantil”/IPEC
                                                        CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
                                                        Cultura e Ação Comunitária
                                                        R. Dante Carraro 68 Pinheiros
                                                        05422-060 São Paulo SP Brasil
                                                        http://www.cenpec.org.br
Presidência                                             Maria Alice Setubal
Coordenação geral                                       Maria do Carmo Brant de Carvalho
Coordenação de Área                                     Isa Maria F. R. Guará – e-mail: isa@cenpec.org.br
Coordenação do Projeto                                  Lúcia Helena Nilson
Consultoria                                             Walderez Nosé Hassenpflug
Autoria (v.1)                                           Alexandre Isaac, Cristina Almeida Sousa, Mirna Busse Pereira,
                                                        Ronilde Rocha Machado
Edição de texto                                         Tina Amado e Guy Amado
Edição de arte                                          Eva Paraguassú Arruda Câmara, José Ramos Néto e
                                                        Camilo de Arruda Câmara Ramos
Ilustração                                              Luiz Maia
Fotografia                                              Iolanda Huzak
Fotolito                                                Grupo RV2
Impressão                                               Cromosete
Apoio                                                   CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
                                                        Setor de Diversões Sul, Edif. Venâncio III, sala 101/4
                                                        70393-900 Brasília DF
                                                        www.cnte.org.br
Sumário
4    Apresentação
5    Por que e como utilizar este material

7    A OIT e o trabalho infantil
8    As Convenções da OIT
9    O trabalho infantil no mundo

11   Trabalho infantil e direito à infância
13   O que é trabalho infantil
14   O trabalho em sociedades indígenas brasileiras
15   O que obriga crianças e jovens a trabalhar?
16   Alegações usuais para “justificar” o trabalho infantil
16   Efeitos perversos do trabalho infantil

19   Trabalho infantil no Brasil atual
20   Dimensionando o problema
21   Trabalho infanto-juvenil por grupos de idade
22   No campo e na cidade

25   O trabalho de crianças no passado
     brasileiro
26   A criança escrava
27   Na fábrica, na passagem do século XIX ao XX
29   Trabalho infantil na Inglaterra, séculos XVIII e XIX

31   Os direitos da criança e do adolescente
32   O ECA, Estatuto da criança e do adolescente
34   Direito à educação, direito à infância
36   A importância do brincar

39   Contrapondo-se ao trabalho infantil

43   Considerações finais

44   Referências bibliográficas

46   Anexo
     Quadro: Incidência de trabalho infantil no Brasil
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1



Apresentação                                               suas organizações na luta contra o trabalho
                                                           infantil”.
                                                              Ao buscar discutir o tema com educadores e
   Este material foi preparado para divulgar               suas organizações, a OIT e seus parceiros
informação sobre o trabalho infantil, os direitos          reconhecem a importância desses agentes em
da criança e a importância da educação na                  suas comunidades e a contribuição que podem
prevenção e erradicação do trabalho infantil.              trazer à luta contra o trabalho de crianças e
Nossa expectativa é que os leitores – educadores           adolescentes. Considera sua participação,
em geral, pais, cidadãos – se engajem no                   especialmente a dos professores nas escolas,
combate a essa forma extrema de violação dos               fundamental para mobilizar e sensibilizar toda
direitos das crianças e adolescentes.                      a comunidade. Compreendendo melhor a
                                                           chaga social que é o trabalho infantil,
   A erradicação do trabalho infantil é ponto              certamente irão desenvolver ações que
de honra para um país que pretenda alcançar                contribuam para sua eliminação, tanto na
patamares mais elevados de eqüidade e justiça              própria comunidade como no restante do país.
social. A construção de um país mais justo,
menos desigual, mais democrático depende                       Quem está em contato próximo com
não só da definição de estratégias a curto e               crianças, jovens e seus pais, tem a
longo prazos, mas da vontade política dos                  oportunidade de fazê-los refletir sobre a
governos, empresários, trabalhadores, grupos               realidade e a responsabilidade de cada um de
organizados da sociedade civil e dos cidadãos              nós no conhecimento e na transformação
em geral. Impulsionar essa vontade política,               social, especialmente da realidade à nossa
sensibilizar e mobilizar novos segmentos e                 volta. É o educador que pode estimular os
direcionar suas energias para ações                        alunos a formar conceitos e valores sobre
competentes na busca de soluções e                         direitos, justiça, eqüidade e solidariedade. Por
alternativas para o trabalho infantil é o grande           isso a OIT busca seu engajamento e
desafio a ser enfrentado por todos aqueles que             compromisso com essa luta, que é de toda a
se comprometem com a luta pelos direitos da                sociedade brasileira. Desse esforço de
infância e juventude em nosso país.                        sensibilização nasceu o conjunto Combatendo
                                                           o trabalho infantil: guia para educadores,
   Para erradicar o trabalho infantil, a principal         buscando subsidiá-lo para tratar dessa temática
medida que vem sendo adotada é a de atribuir               com os alunos, pais, colegas, a comunidade.
prioridade à educação, entendida como
englobando escola formal e atividades                         ESTE CONJUNTO É FORMADO POR
culturais, de esporte, lazer, orientação à saúde              DOIS VOLUMES, QUATRO
etc. O direito à educação integral e de                       CARTAZES E UM JOGO.
qualidade garante às crianças e jovens um
                                                                                        Neste Volume 1
outro direito fundamental: o de viver sua
                                                                                        foram reunidas
infância e juventude como um período
                                                                                        informações
essencial de formação para a vida e de
                                                                                         básicas sobre a
desenvolvimento de seu potencial humano.
                                                                                         temática do
   A OIT - Organização Internacional do                                                  trabalho infantil,
Trabalho, por meio do IPEC - Programa                                                     sua situação no
Internacional para a Eliminação do Trabalho                                               Brasil e no
Infantil, em parceria com a CNTE -                                                         mundo, bem
Confederação Nacional dos Trabalhadores em                                                 como sobre os
Educação e com o apoio técnico do CENPEC -                                                 direitos das
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,                                                 crianças e
Cultura e Ação Comunitária, de São Paulo –                                                 adolescentes,
elaboraram este conjunto de materiais no                   destacando a educação e o lazer como
âmbito do projeto “Professores, educadores e               alternativas ao trabalho infantil.
4
O Volume 2 reúne         POR QUE E COMO
                          sugestões de
                          atividades escolares     UTILIZAR ESTE MATERIAL
                           relativas à temática,   Um estudo realizado pela OIT (1999a) sobre
                           agrupadas segundo       estratégias bem-sucedidas para a prevenção e
                            os componentes         erradicação do trabalho infantil em 13 países
                            curriculares           (dentre os quais o Brasil) mostrou que
                            História, Português,   educadores em geral e suas organizações são
                                                   importantes agentes no combate ao trabalho
                             Ciências, Geografia
                                                   infantil, atuando diretamente na comunidade
                             e Artes.              escolar e engajando-se em lutas mais amplas.
                                                   Assim, este material foi elaborado para subsidiar
    Os cartazes podem ser utilizados em várias     educadores brasileiros de modo a que venham
situações: para introduzir o estudo do tema,       ser, eles também, agentes nesse combate. O
                                                   propósito deste volume é permitir que o
para ficar expostos em lugar bem visível ou
                                                   educador, conhecendo a problemática em
para compor, com outros materiais, as              profundidade – origens, dimensão, efeitos,
atividades em sala de aula. Podem também           mitos, legislação etc. –, esteja em condições de
funcionar como ponto de apoio para debates e       analisar a natureza do problema local
discussões na comunidade escolar.                  (contextualizando-o no nível nacional) e possa
                                                   contribuir para aumentar o grau de consciência
                                                   de alunos, pais e comunidade sobre o tema.
                                                   O volume 2 traz orientações para desenvolver a
                                                   temática em sala de aula, mas de modo a
                                                   envolver toda a escola e a comunidade. A equipe
                                                   escolar, bem como os educadores de
                                                   organizações não-governamentais, podem
                                                   reforçar junto aos pais o valor da educação
                                                   como alternativa importante para romper o
                                                   círculo vicioso da pobreza; trabalhar por uma
                                                   educação de qualidade, que inclua o currículo
                                                   apropriado e relevante para todas as crianças,
                                                   particularmente as mais pobres e vulneráveis; e
                                                   construir parcerias com outros grupos que
                                                   combatam o trabalho infantil.
                                                   Quanto às organizações de educadores, a
   O jogo Bem-vindos à escola visa levar           expectativa é que, fortalecidas e mobilizadas
alunos a reconhecer, de forma lúdica, as           pelo conhecimento sobre a temática, possam:
características negativas do trabalho infantil,      pôr à disposição sua estrutura operacional e seu
bem como a importância do cumprimento do             poder de penetração junto aos associados para
Estatuto da Criança e do Adolescente para pôr        mobilizar contra o trabalho infantil;
fim à exploração dessa população.                    definir uma política de atuação contra o
                                                     trabalho infantil;
                                                     estabelecer parcerias com escolas, órgãos
                                                     governamentais ou outras organizações de
                                                     trabalhadores, tanto para a prevenção quanto
                                                     o combate ao trabalho infantil;
                                                     organizar fóruns de discussão; auxiliar em
                                                     diagnósticos locais;
                                                     conscientizar a comunidade sobre o direito e a
                                                     importância da educação para todas as
                                                     crianças e jovens.
                                                   A comunidade poderá então exercer pressão para
                                                   a formulação de políticas públicas e para
                                                   sustentar politicamente programas educativos.
                                                                                                   5
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1




MENINA (13 ANOS) RETIRA CARVÃO DO FORNO. RIBAS DO RIO PARDO - MS
A OIT e o
trabalho infantil
A OIT – Organização Internacional do
Trabalho, com sede em Genebra, é
uma das agências especializadas da
ONU, Organização das Nações
Unidas. Foi criada em 1919, ao
término da Primeira Guerra Mundial,
quando se discutia a necessidade de
encontrar meios para alcançar a paz
permanente e universal, capaz de
impedir novos e sangrentos conflitos
como o que findara. Isso foi debatido
por ocasião da Conferência de Paz de
Paris em 1919, cujos participantes
chegaram à conclusão de que “a paz
universal e permanente somente
pode basear-se na justiça social” – o
que se tornou a frase inicial da
constituição da própria OIT, formada
por representantes de governos,
empregadores e trabalhadores.




                                    7
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

   O objetivo da OIT é lutar pela melhoria das               titui o mais importante instrumento normativo
condições de trabalho no mundo e elevação do                 de luta contra o trabalho infantil. Essa Conven-
                                                             ção determina, no geral, a idade mínima de 15
padrão de vida dos trabalhadores, pleiteando re-
                                                             anos para o ingresso no mercado de trabalho,
gulamentação da jornada de trabalho, liberdade               em todos os setores da atividade produtiva (para
de associação, negociação coletiva, igualdade de             trabalhos perigosos, a idade mínima é 18 anos
remuneração pelo trabalho de igual valor e não-              e, para trabalhos leves, 14 anos). É uma norma
discriminação no trabalho; também pleiteia pro-              que, por seu caráter flexível, atende ao nível de
teção contra enfermidades profissionais, além de             desenvolvimento socioeconômico dos diferen-
outras disposições, sobre desemprego e forma-                tes países-membros da OIT e admite iniciativas
                                                             a médio e longo prazo.
ção profissional.
                                                             a Convenção n.182 sobre as Piores Formas de
   A proteção da infância é um dos elementos
                                                             Trabalho Infantil (OIT, 2001) determina a ime-
essenciais na luta pela justiça social e pela paz            diata concentração de esforços para erradicar o
universal. A OIT entende que o trabalho infantil,            trabalho infantil nas seguintes situações:
além de não constituir trabalho digno e ser con-                todas as formas de escravidão e práticas aná-
trário à luta pela redução da pobreza, sobretudo                logas, como a venda e o tráfico de crianças, o
rouba das crianças sua saúde, seu direito à edu-                trabalho forçado ou obrigatório, a servidão
cação, ou seja, sua própria vida enquanto crian-                por dívidas e a condição de servo;
ças – para a OIT, o termo “criança” refere-se a                 a utilização, o recrutamento ou a oferta de
pessoas com idade inferior a 18 anos.                           crianças para a prostituição, a produção de
                                                                pornografia ou atuações pornográficas;
    Preocupada com a situação de exploração do                  a utilização, o recrutamento ou a oferta de
trabalho infantil, a OIT lançou em 1992 o Pro-                  crianças para a realização de atividades ilíci-
grama Internacional para Eliminação do Traba-                   tas, em particular a produção e o tráfico de
lho Infantil (IPEC). Trata-se de um programa mun-               substâncias entorpecentes, tal como se defi-
dial de cooperação técnica contra o trabalho in-                nem nos tratados internacionais pertinentes;
fantil, contando com o apoio financeiro de 22                   qualquer outro tipo de trabalho que, por
países doadores, cujo objetivo é estimular, orien-              sua natureza ou pelas condições em que se
                                                                realiza, possa supor ameaça à saúde, à segu-
tar e apoiar iniciativas nacionais na formulação
                                                                rança ou à moralidade das crianças.
de políticas e ações diretas que coíbam a explo-
                                                           Com relação ao trabalho perigoso acima mencio-
ração da infância. O IPEC visa a erradicação pro-
                                                           nado, a OIT indica que se considerem, no mínimo,
gressiva do trabalho infantil mediante o fortale-          os trabalhos em que as crianças:
cimento das capacidades nacionais e do incenti-
                                                                fiquem expostas a abusos de ordem física,
vo à mobilização mundial para o enfrentamento                   emocional ou sexual;
da questão. Promove o desenvolvimento e a apli-
                                                                atuem embaixo da terra e da água, em altu-
cação de legislação protetora e apóia organiza-                 ras perigosas ou em meios confinados;
ções parceiras na implementação de medidas                      utilizem maquinarias, equipamentos e ferra-
destinadas a prevenir o trabalho infantil, a retirar            mentas perigosas ou que manipulem e trans-
crianças de trabalhos perigosos e a oferecer al-                portem cargas pesadas;
ternativas imediatas, como medida transitória                   atuem em meio insalubre ou estejam expos-
para a erradicação do trabalho infantil.                        tas, por exemplo, a substâncias, agentes ou
                                                                processos perigosos, ou ainda a temperatu-
    AS CONVENÇÕES DA OIT                                        ras ou níveis de ruído e vibração prejudiciais à
                                                                saúde;
    Os instrumentos normativos da OIT são conven-               atuem em condições especialmente difíceis,
    ções e recomendações sobre o trabalho. Uma con-             como por exemplo horários prolongados, no-
    venção é um instrumento do sistema internacio-              turnos ou que impeçam o regresso diário à
    nal de direitos humanos que se torna vinculante,            sua casa.
    ou seja, de cumprimento obrigatório pelos países
    que a ratificam. Como signatário das convenções        Além dos instrumentos normativos, a OIT empre-
    da OIT, o Brasil assume o compromisso de fazer         ga outros dois meios de ação: a produção e disse-
    cumprir suas determinações. Em relação ao traba-       minação de informação; e a cooperação técnica
    lho infantil, duas delas merecem destaque:             para desenvolver programas como o IPEC, que in-
                                                           centiva o fim da exploração do trabalho infantil.
        a Convenção n.138 sobre Idade Mínima de Ad-        Esses três meios de ação se complementam visan-
        missão ao Emprego (OIT, 2001), de 1973, cons-      do o alcance da justiça social.
8
O trabalho infantil no mundo
A exploração do trabalho           crianças são geralmente            de isso se tornar sua principal
infantil não é um fato restrito    encontradas, em todo o             ou única atividade. Essa
ao Brasil. A OIT estima em cerca   mundo? Milhões de crianças         forma é mais comum em
de 250 milhões as crianças         fazem trabalho perigoso,           países como Brasil, Colômbia,
trabalhadoras em todo o            abusivo e explorador. Entre        Equador, Filipinas, Quênia e
mundo. Pelo menos 120              outras, são comumente              Tanzânia.
milhões de crianças entre 5 e      encontradas exercendo as
14 anos de idade trabalham em      seguintes formas de trabalho
tempo integral. Os restantes       (OIT, 1999b).
combinam trabalho com os             Na indústria, realizando
estudos e com outras atividades      trabalho perigoso, como
não-econômicas.                      fabricação de vidro,
De acordo com estimativas da         construção e tecelagem de
OIT (1999b), a maioria absoluta      tapetes. Dentre outros países,
dessas crianças está em países       essas atividades são             Em trabalho doméstico,
“em desenvolvimento”. São 17         freqüentes na Índia.             árduo, sob condições de
milhões na América Latina e                                           isolamento, trabalhando
Caribe (7%); 80 milhões na                                            horas excessivas, sujeitas a
África (32%); e 153 milhões na                                        abuso físico e sexual – mais
Ásia, excluindo o Japão (61%).                                        freqüente no Brasil, Colômbia,
Embora as estatísticas                                                Equador e Indonésia.
geralmente não mencionem,
nos países desenvolvidos há um
significativo contingente de         Na agricultura, realizando
crianças e adolescentes              trabalho pesado e sendo
trabalhando em situações que         expostas a muitos perigos
envolvem riscos. O relatório         associados à introdução de
Situação Mundial da Infância         moderna maquinaria e
(UNICEF, 1998) informa, por          produtos químicos. A OIT,
exemplo, que nos Estados             por meio do IPEC, mantém         Em regime de escravidão ou
Unidos uma operação-                 programas de atendimento,        em arranjos de trabalho
relâmpago do Departamento de         entre outros, no Nepal e na      muito similares, como
Trabalho, realizada em 1990          Tanzânia, onde é muito alto o    trabalho servil e prostituição
durante três dias, encontrou         índice de crianças envolvidas    infantil. Esta última é muito
mais de 11.000 crianças              nas fainas agrícolas.            comum no Brasil, no Quênia
trabalhando ilegalmente.                                              e na Tailândia, enquanto
Grande parte delas pertencia a                                        crianças trabalham em
minorias étnicas ou a                                                 regime escravo ou servil na
comunidades de imigrantes e                                           Índia e no Nepal.
trabalhava na agricultura. Na
Europa, os países do antigo
bloco socialista viram surgir o
trabalho infantil em virtude dos
desajustes sociais e econômicos      Em casa, cuidando de irmãos
decorrentes da transição para a      e irmãs mais novos ou
economia de mercado.                 ajudando em sítios ou
Em que tipos de trabalho as          empresas familiares, a ponto
                                                                                                       9
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1




AOS 11 ANOS, CARREGANDO SACOS DE LARANJA. TABATINGA - SP
Trabalho infantil
e direito à
infância
Talvez uma forma de descrever o
trabalho infantil seja pelas marcas
que deixa na vida de crianças e jovens
que a ele são submetidas. Para essas
pessoas, a sina diária é trabalhar sob
qualquer condição, enfrentar
cansaço, fome, às vezes mutilação,
abandono. Nada de livros, cadernos,
lápis de cor, brincadeiras ou sonhos.
Nada de aprender a ler e escrever, a
ler o mundo a sua volta... Essas
crianças e jovens nunca ouvem o sinal
do recreio. A merenda, quando há,
é comida ali mesmo, no meio da
fuligem, rapidamente, pois não se
pode perder tempo. Ficam proibidos
os risos, molecadas, algazarras.
O importante é produzir, trocar o que
produziu por quase nada e recomeçar
tudo no outro dia, sem direito a ter
direitos, mesmo os mais
fundamentais: aprender, brincar,
ter férias, descansar... Bola,
brincadeira de roda, jogos não
entram nesse mundo. Em vez de ser
preparadas para segurar o lápis,
desenhar, pintar, recortar e colar, suas
mãos carregam pás, enxadas, foices,
desproporcionais a sua força.




                                      11
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

   E com o que sonha uma criança que só co-                                 mundo? Como indenizá-los pela infância não vi-
nhece da vida o horizonte delimitado pelo car-                              vida, pelas oportunidades perdidas, pelo direito
vão, sisal, pela cana ou pedreira? Será que sonha                           negado de partilha do conhecimento construído
em ser cantor, atriz, bombeiro ou enfermeira?                               pela humanidade, da qual faz parte? Não são
“Meu maior desejo”, disse um menino carvoei-                                perguntas fáceis de responder.
ro, “é não tossir à noite por causa da fumaça do
                                                                                Mas milhares de crianças e jovens brasileiros
forno. Aí dá para dormir”. É próprio da criança e
                                                                            enfrentam hoje a dura realidade do trabalho pre-
do jovem projetar-se no futuro e sonhar com o
                                                                            coce. E esse número pode aumentar: a agudiza-
que virá. Mas o sonho maior do menino carvoei-
                                                                            ção da pobreza estrutural no país e o risco de
ro está preso, como ele, ao seu duro cotidiano.
                                                                            intensificação das desigualdades sociais ameaçam
   A exploração brutal e os riscos de vida a que                            empurrar mais e mais crianças e jovens para o
estão sujeitos os trabalhadores infantis são fla-                           trabalho. Estudos de caso feitos em 13 países pela
grantes, como exemplifica esta descrição das con-                           OIT (1999a) apontam esses dois fatores como os
dições de trabalho experimentadas por um me-                                maiores obstáculos à eliminação do trabalho in-
nino, numa pedreira no interior do Ceará:                                   fantil – e que mais contribuem para seu aumen-
     O lugar não é para brincadeiras. Usa-se cartu-                         to. Por outro lado, altas taxas de desemprego pro-
     cho de pólvora para fragmentar a pedra; lascas de                      vocam a falta de confiança no valor e importân-
     pedra e aço dos instrumentos voam para todo lado                       cia da educação, o que prejudica a percepção do
     e inala-se pó o tempo inteiro. Ninguém usa óculos                      seu papel estratégico nessa luta. Outro fator
     nem qualquer outro equipamento de proteção.                            apontado, além da persistência de atitudes soci-
     Acidentes são rotina. (...). No povoado de Taquara
                                                                            ais e culturais que favorecem o trabalho infantil,
     (...), Francisco, 11 anos, quebrava pedra como to-
     dos os meninos: sentado no chão, no meio da                            é a baixa qualidade dos serviços educacionais,
     poeira levantada pelas explosões a dinamite, pelo                      refletida em altas taxas de retenção e evasão.
     entra-e-sai dos caminhões e sob o sol escaldante.                         Esses fatores dão a dimensão da complexida-
     Martelava pedra com uma marreta, sobre uma
                                                                            de que envolve o tema e dos desafios a serem
     pedra almofariz. Para cada carrinho de cinco me-
     tros cúbicos de brita, Francisco recebe o equiva-                      enfrentados nos níveis político, econômico e so-
     lente a pouco mais de dez centavos de dólar1 . Ele                     ciocultural, para que o país avance na erradica-
     produz 20 carrinhos por semana; se a mãe vem                           ção do trabalho infantil. Tome-se o desafio da
     junto, a produção chega a 60 carrinhos. (Azevedo                       distribuição de renda: sem dúvida, frente ao qua-
     & Huzak, 1994, p.100)                                                  dro atual de aprofundamento da pobreza no país,
   Essa realidade remete a indagações: Que pers-                            a melhor forma de enfrentá-la a curto e médio
pectivas de desenvolvimento, de formação edu-                               prazos seria com um programa de distribuição e
cacional e de participação na cultura se colocam                            geração de renda para todas as famílias em situa-
para uma criança que desde cedo é submetida a                               ção de pobreza, não só para aquelas envolvidas
essas condições de trabalho? Que possibilidades                             com o trabalho infantil.
existem para que Francisco, ao se tornar adulto,
                                                                                Não é fácil propor soluções a essa problemá-
vivencie experiência de trabalho que lhe propor-
                                                                            tica. Mas é possível e necessário construir, coleti-
cione condições de vida dignas?
                                                                            vamente, perspectivas de superação dessa reali-
   E qual será o futuro de um menino carvoeiro,                             dade que afeta a vida de milhares de crianças
de um cortador de cana ou de sisal, privado do                              brasileiras. A amplitude e complexidade do pro-
direito (que lhe é garantido pelas leis do país) ao                         blema deixam claro que é necessário que toda a
desenvolvimento integral, por meio de oportuni-                             sociedade brasileira tenha uma atitude de indig-
dades educativas? Como enfrentará a sociedade                               nação frente ao trabalho infantil e se sensibilize,
do conhecimento e da tecnologia, sem saber es-                              se mobilize para enfrentá-lo. É imprescindível unir
crever o próprio nome, sem poder ler, sem co-                               todos: esferas de governo, organizações não-go-
nhecer o funcionamento das instituições e do                                vernamentais, sindicatos, empresas, igrejas, clu-
                                                                            bes, associações, escolas, cidadãos, numa atitu-
1 Para se ter uma idéia de quanto Francisco recebia por mês, pode-se        de de co-responsabilidade participante.
  estimar a produção mensal em 80 carrinhos o que, a dez centavos de
  dólar por carrinho, dá oito dólares por mês. Na cotação de maio de          Os professores e demais trabalhadores em
  2001 (R$ 2,25 por dólar), isso significa que Francisco recebia cerca de
  R$ 18,00, ou aproximadamente um décimo do salário mínimo.                 educação também estão convocados a descobrir
12
que contribuição podem dar em sua escola, bair-        trada no mercado de trabalho. As Constituições
ro, comunidade, município ou estado, para pre-         de 1934, 1937 e 1946 ampliaram a idade míni-
venir e erradicar o trabalho infantil e devolver as    ma para 14 anos. Porém, em 1967, em plena
crianças à escola, à infância e a uma vida mais        ditadura militar, novamente se recuou esse limi-
digna e justa. Mãos à obra.                            te para 12 anos!
                                                          Atualmente, a legislação brasileira, por meio
O que é trabalho                                       da Emenda Constitucional 20/98 e da lei sancio-
                                                       nada em 19 de dezembro de 2000 (Brasil, 2000a,
infantil?                                              que altera disposições da CLT – Consolidação das
                                                       Leis Trabalhistas), determina que a idade mínima
   O trabalho pode ser compreendido como uma           para a entrada no mercado de trabalho é 16 anos.
“atividade consciente e voluntária, pela qual o        O trabalho noturno, perigoso ou insalubre é per-
homem exterioriza no mundo fins destinados a           mitido apenas a maiores de 18 anos. E apenas
modificá-lo, de maneira a produzir valores ou          na condição de aprendiz o adolescente pode exer-
bens social ou individualmente úteis e satisfazer      cer trabalho remunerado, dos 14 aos 16 anos,
assim suas necessidades” (Russ, 1994, p.297).          com direitos trabalhistas garantidos, em jornada
   A forma como o trabalho é realizado em di-          e regime especificados na lei.
versas sociedades, ao longo do tempo, aproxi-
                                                          É PROIBIDO QUALQUER TRABALHO A
ma-se ou distancia-se dessa definição. Ao mes-
                                                          MENORES DE DEZESSEIS ANOS DE IDADE,
mo tempo que modificam o mundo pelo traba-
lho, os seres humanos também se modificam,                SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ,
estabelecendo relações entre si, criando e reno-          A PARTIR DOS QUATORZE ANOS.
vando a cultura. Nesse sentido, o trabalho com-           (BRASIL, LEI 10.097/2000, ART.1O)
pleta o indivíduo e contribui para seu desenvol-
                                                          Podemos dizer pois que o trabalho infantil é
vimento enquanto ser humano. Mas o modo
                                                       aquele realizado por crianças e adolescentes que
como uma determinada sociedade se organiza
                                                       estão abaixo da idade mínima para a entrada no
para o trabalho e o tipo de relações que se esta-
                                                       mercado de trabalho, segundo a legislação em
belecem na produção podem levar à desumani-
                                                       vigor no país.
zação e à alienação. Há trabalhos que embrute-
cem e deformam, além de não proporcionar con-              No entanto, é preciso refinar essa definição,
dições para escapar da situação de penúria e pri-      contemplando certos aspectos de tradições cul-
vação na vida pessoal, familiar e social.              turais em diferentes lugares do mundo. Em al-
                                                       gumas sociedades, a transmissão cultural reali-
    É fácil incluir o trabalho infantil nessa última
                                                       za-se oralmente, não havendo registros escritos
perspectiva. A entrada precoce de crianças e ado-
                                                       de sua história, técnicas ou ritos. Assim, na agri-
lescentes no mercado de trabalho, nas condições
                                                       cultura tradicional ou na produção artesanal,
atuais – e históricas – do capitalismo no Brasil
                                                       crianças e adolescentes realizam trabalhos sob a
exemplifica bem essa perspectiva de trabalho,
                                                       supervisão dos pais como parte integrante do pro-
situação que não é muito diferente para imensos
                                                       cesso de socialização – quer dizer, um meio de
setores da população adulta trabalhadora.
                                                       transmitir, de pais para filhos, técnicas tradicio-
    Em diferentes países, de maneira geral, o tra-     nalmente adquiridas. Esse trabalho pode ser tam-
balho infantil costuma ser definido como aquele        bém motivo de satisfação para as próprias crian-
realizado por “crianças e adolescentes”. Isso sig-     ças (Bequelle, 1993, p.22). O sentido do apren-
nifica que a permissão (ou a proibição) para a         der a trabalhar varia de acordo com a cultura,
entrada dos indivíduos no mercado de trabalho          com a sociedade e, dentro destas, varia também
é estabelecida em lei de acordo com a idade. No        dependendo do momento histórico em que elas
entanto, esse recorte é móvel, varia de socieda-       se encontram. Mas a situação de trabalho como
de para sociedade e, em cada uma, muda tam-            parte do processo de socialização não deve ser
bém de acordo com a compreensão do que seja            confundida com aquelas em que as crianças são
infância e adolescência. No Brasil, em 1891, ins-      obrigadas a trabalhar, regularmente ou durante
tituía-se a idade mínima de 12 anos para a en-         jornadas contínuas, para ganhar seu sustento ou
                                                                                                       13
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

o de suas famílias, com conseqüentes prejuízos                           Por outro lado, essa preocupação não pode
para seu desenvolvimento educacional e social.                        ser radicalizada no sentido de excluir a participa-
                                                                      ção das crianças e adolescentes em tarefas do-
    Seguindo esse raciocínio, as condições de ex-
                                                                      mésticas. Essa participação reveste-se de caráter
ploração e os prejuízos à saúde e ao desenvolvi-
                                                                      educativo e formador do senso de responsabili-
mento da criança ou adolescente que realiza a
                                                                      dade, pessoal e em relação ao núcleo familiar.
atividade é que seriam parâmetros para caracte-
rizar o trabalho infantil. Mas é preciso lembrar                          Atualmente, na luta pelo reconhecimento dos
que o mero fato de trabalhar “em casa” ou “com                        direitos da criança e do adolescente, um parâ-
a família” não descaracteriza o trabalho infantil.                    metro mais claro tem sido colocado: ainda que
Mesmo no espaço do trabalho em família, sabe-                         seja para garantir a continuidade de uma tradi-
se que muitas crianças são submetidas a esta-                         ção familiar, para dividir responsabilidades no in-
fantes jornadas de trabalho na lavoura familiar                       terior da casa ou para ajudar na lide do campo,
ou são responsabilizadas por todos os serviços                        o trabalho de crianças não pode impedir que elas
domésticos e cuidados com os irmãos menores                           exerçam seus direitos à educação e ao brincar,
em casa, sem que lhes seja garantido, por exem-                       condições essenciais a seu pleno desenvolvimen-
plo, tempo para ir à escola ou para brincar.                          to.



         O trabalho em sociedades
            indígenas brasileiras
Em muitas sociedades indígenas                      trabalho leva em consideração       E isso quer dizer ter funções e
brasileiras, trabalhar é aprender                   não só as tarefas a serem           responsabilidades
a fazer junto, pois o trabalho se                   realizadas, mas principalmente      compartilhadas com as demais
caracteriza como momento de                         a idade e as condições físicas de   pessoas com as quais convive,
troca de experiência entre os                       seus participantes, como uma        como produzir alimentos,
membros do grupo. Nessa                             forma de protegê-los.               confeccionar adereços e objetos
vivência, as pessoas envolvidas                     Meninas e meninos aprendem,         artesanais para o uso cotidiano,
com as mais diversas formas de                      no convívio familiar, as tarefas    ritual e festivo, construir a
atividades constróem                                consideradas femininas e            própria habitação, participar da
coletivamente conhecimentos,                        masculinas. Mães, mulheres          vida comunitária.
como fruto desse aprendizado.                       idosas ou experientes ensinam       Produção, família e sociedade
O trabalho constitui assim                          as meninas a tecer, fabricar        acham-se articuladas e se
importante aspecto da vida                          cerâmica, transformar os            orientam pelos mesmos
comunitária indígena. Ele                           alimentos. Pais e homens idosos     propósitos, o que faz com que
fornece as bases de uma                             da aldeia ensinam os meninos a      educação e vida caminhem
organização social de tipo                          fazer arcos, flechas, adornos       juntas. Educar nas comunidades
igualitária, em que a família                       corporais, técnicas de caça e       indígenas tem um sentido
funciona como unidade básica                        pesca... Na sociedade indígena,     amplo. Significa ensinar e
de produção, acumulando e                           essa aprendizagem visa              aprender pela vivência direta
trocando os conhecimentos                           propiciar à criança a               nas várias situações cotidianas:
indispensáveis à subsistência de                    apropriação de todos os             saber é saber fazer. Dessa
todos os seus membros. A                            conhecimentos que necessitará       forma, o aprendizado para o
organização baseia-se na                            em sua futura vida adulta.          trabalho é incorporado nas
divisão sexual do trabalho: há                      Para uma criança ou                 práticas coletivas que são, em
tarefas masculinas (em geral,                       adolescente, fazer parte de uma     si, educativas; em outras
caçar, derrubar mato) e tarefas                     família, e portanto de uma          palavras, integra o processo de
femininas (em geral, cuidar da                      unidade de produção, significa      socialização das crianças e
roça, cozinhar). Essa divisão do                    ser membro da sociedade.            jovens indígenas.
14
destinada ao trabalho. Um sistema escolar efi-
    O que obriga crianças e                                ciente deve assegurar a permanência de todas as
    jovens a trabalhar?                                    crianças na escola, com aprendizagem efetiva.
                                                              Outro fator que obriga ao trabalho infantil é
                                                           a crença, comum em muitas culturas – e não só
                                                           nos estratos mais pobres –, de que as crianças
                                                           devem compartilhar as responsabilidades da fa-
                                                           mília, participando do trabalho dos pais, ganhan-
                                                           do remuneração fora de casa ou ajudando na
                                                           administração da casa. Esta última é especialmen-
                                                           te verdadeira para as meninas, de quem é espe-
                                                           rado que cuidem dos irmãos e irmãs, bem como
                                                           das tarefas domésticas, a ponto de estas se tor-
                                                           narem sua principal ou única atividade. Tais cren-
                                                           ças fazem com que o peso da responsabilidade
                                                           seja assumido por crianças desde cedo, sem qual-
                                                           quer questionamento, de geração em geração.
                                                              Dessas crenças e da situação de vulnerabilidade
                                                           econômica, os empregadores tiram vantagens em
    HIGIENE MATINAL NA CARVOARIA. ÁGUAS CLARAS - MS        proveito próprio. Ao empregar crianças, têm em
       Crianças e jovens são obrigados a trabalhar         mente garantir trabalhadores dóceis, submissos,
    por várias razões, sendo a pobreza a principal         que não causem “encrenca” e sejam incapazes
    delas. Muitos governos, ao enfrentar crises eco-       de defender seus direitos; crianças e adolescen-
    nômicas, não dão prioridade às áreas que pode-         tes têm menos condições de se negar a realizar
    riam ajudar a aliviar as dificuldades enfrentadas      tarefas servis por baixos salários do que os adul-
    por famílias de baixa renda: não priorizam saú-        tos. Os empregadores beneficiam-se ainda da
    de, educação, moradia, saneamento básico, pro-         ineficácia da fiscalização: embora cientes da lei

s   gramas de geração de renda, treinamento profis-
    sional, entre outros. Para essas famílias, a vida se
                                                           que proíbe o trabalho infantil, violam-na na cer-
                                                           teza da impunidade.
    torna uma luta diária pela sobrevivência. As crian-
                                                                Portanto, a incorporação de crianças e ado-
    ças são forçadas a assumir responsabilidades, aju-
                                                           lescentes no mercado formal e informal de tra-
    dando em casa para que os pais possam traba-
                                                           balho expressa, por um lado, deficiências das po-
    lhar, ou indo elas mesmas trabalhar para ganhar
    dinheiro e complementar a renda familiar. Em um        líticas públicas para educação, saúde, habitação,
    mundo crescentemente desigual, em um proces-           cultura, esportes e lazer, além da ineficácia da fis-
    so acentuado pelo fenômeno da globalização,            calização do trabalho para cumprimento da lei e
    cada vez mais contrapõem-se riqueza e pobreza.         da vigência de certas crenças, mesmo entre os
    Assim, todo um segmento da população, alijado          próprios pais. Por outro lado, expressa os efeitos
    de condições adequadas de formação, educação           perversos da má distribuição de renda, do desem-
    e acesso a bens e serviços, vem constituindo um        prego, dos baixos salários, ou seja, de um modelo
    contingente de despossuídos.                           econômico que não contempla as necessidades
       Um sistema educacional deficiente também            do desenvolvimento social. O Brasil é considerado
    contribui para empurrar crianças para o trabalho.      a 10a economia do mundo em termos de Produto
    Mesmo tendo acesso à escola – no Brasil, 97%           Interno Bruto, mas está classificado em 74o lugar
    das crianças entre 7 e 14 anos estão sendo matri-      (IPEA, 1999) em termos de IDH – Índice de De-
    culadas todo ano (Brasil, 2000b) – crianças e ado-     senvolvimento Humano (esse índice, criado pela
    lescentes das camadas pobres são mais atingidos        ONU em 1990, considera simultaneamente os ní-
    pela repetência. Após repetir várias vezes, a crian-   veis de renda, instrução e saúde das populações;
    ça – por si mesma e pelos pais – é considerada         calculado para 174 países, classifica-os em uma
    “incapaz” de aprender, saindo da escola e sendo        escala do melhor para o pior).
                                                                                                             15
COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1


     ALEGAÇÕES USUAIS                                          ças com dificuldades no desempenho escolar.
                                                               Muitas famílias, sem vislumbrar outras possibili-
     PARA “JUSTIFICAR”                                         dades de enfrentamento das dificuldades, acabam
     O TRABALHO INFANTIL                                       incorporando a idéia de que é melhor encaminhar
                                                               seus filhos ao trabalho. Nesse caso, cabe à escola
     Apesar de condenável e proibido por lei, ainda há         repensar sua adequação a essa clientela, pois a
     quem procure justificar a necessidade do trabalho         função social da escola em uma sociedade demo-
     infantil. Alguns argumentos, freqüentemente usa-          crática é permitir o acesso de todos os alunos ao
     dos para “justificar” essa prática, devem ser refu-       conhecimento.
     tados (OIT & CECIP, 1995, p.8-9).
                                                               Em suma, o trabalho infantil não se justifica e não
     “Crianças e jovens (pobres) devem trabalhar para          é solução para coisa alguma. A solução para essa
     ajudar a família a sobreviver”.                           problemática é prover as famílias de baixa renda
     É a família que deve amparar a criança e não o            de condições tais que elas possam assegurar a suas
     contrário. Quando a família se torna incapaz de           crianças um desenvolvimento saudável.
     cumprir essa obrigação, cabe ao Estado apoiá-la,
     não às crianças. O custo de alçar uma criança ao          EFEITOS PERVERSOS DO
     papel de “arrimo de família” é expô-la a danos            TRABALHO INFANTIL
     físicos, intelectuais e emocionais. É um preço al-
     tíssimo, não só para as crianças como para o con-         O trabalho precoce de crianças e adolescentes in-
     junto da sociedade pois, ao privá-las de uma in-          terfere diretamente em seu desenvolvimento:
     fância digna, de escola e preparação profissional,          físico – porque ficam expostas a riscos de lesões,
     reduzimos o valor dos recursos humanos que po-              deformidades físicas e doenças, muitas vezes
     deriam impulsionar o desenvolvimento do país no             superiores às possibilidades de defesa de seus
     futuro.                                                     corpos;
     “Criança que trabalha fica mais esperta, aprende            emocional – podem apresentar, ao longo de suas
     a lutar pela vida e tem condições de vencer profis-         vidas, dificuldades para estabelecer vínculos afe-
     sionalmente quando adulta”.                                 tivos em razão das condições de exploração a
                                                                 que estiveram expostas e dos maus-tratos que
     O trabalho precoce nunca foi estágio necessário
                                                                 receberam de patrões e empregadores;
     para uma vida bem-sucedida. Ele não qualifica e,
     portanto, é inútil como mecanismo de promoção               social: antes mesmo de atingir a idade adulta
     social. O tipo de trabalho que as crianças exercem,         realizam trabalho que requer maturidade de
     rotineiro, mecânico, embrutecedor, impede-as de             adulto, afastando-as do convívio social com pes-
     realizar as tarefas adequadas à sua idade: explorar         soas de sua idade.
     o mundo, experimentar diferentes possibilidades,          Ao mesmo tempo, ao ser inserida no mundo do
     apropriar-se de conhecimentos, exercitar a imagi-         trabalho a criança é impedida de viver a infância e
     nação...                                                  a adolescência sem ter assegurados seus direitos
                                                               de brincar e de estudar. Isso dificulta muito a vi-
     “O trabalho enobrece a criança. Antes trabalhar
                                                               vência de experiências fundamentais para seu de-
     que roubar”.
                                                               senvolvimento e compromete seu bom desempe-
     Esse argumento é expressão de mentalidade vi-             nho escolar – condição cada vez mais necessária
     gente segundo a qual, para crianças e adolescen-          para a transformação dos indivíduos em cidadãos
     tes (pobres, pois raramente se refere às das famí-        capazes de intervir na sociedade de forma crítica,
     lias ricas), o trabalho é disciplinador: seria a “solu-   responsável e produtiva. Entre as crianças que tra-
     ção” contra a desordem moral e social a que essa          balham há maior repetência e abandono da escola.
     população estaria exposta. O roubo – aí conotan-
                                                               Encomendada pelo IPEC e CNTE, uma pesquisa
     do marginalidade – nunca foi e não é alternativa
                                                               feita pelo DIEESE – Departamento Intersindical de
     ao trabalho infantil. O argumento que refuta esse
                                                               Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (1997),
     é, “antes crescer saudável que trabalhar”. O tra-
                                                               junto a 1.419 crianças trabalhadoras que freqüen-
     balho infantil marginaliza a criança pobre das opor-
                                                               tam a escola, constatou índices alarmantes de re-
     tunidades que são oferecidas às outras. Sem po-
                                                               petência, na faixa de 64%. Essa pesquisa foi reali-
     der viver a infância estudando, brincando e apren-
                                                               zada em seis das maiores capitais brasileiras: Be-
     dendo, a criança que trabalha não é preparada
                                                               lém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Recife
     para vir a ser cidadã plena, mas para perpetuar o
                                                               e São Paulo. A pesquisa também entrevistou os
     círculo vicioso da pobreza e da baixa instrução.
                                                               alunos-trabalhadores, constatando que os deve-
     Outro argumento presente na sociedade é o de              res escolares, quando realizados, são feitos após a
     que o “trabalho é um bom substituto para a edu-           jornada de trabalho e cada dia em um horário di-
     cação”. É usado principalmente no caso de crian-          ferente, roubando parte do tempo destinado ao
16
A OIT e o combate ao trabalho infantil
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  • 1. Combatendo o Trabalho infantil GUIA PARA EDUCADORES 1 Combate ao trabalho infantil 1 Combate ao trabalho infantil
  • 2. TEND ENDO COMBATEN TEND TRAB LHO I O INF O IN LHO I ALHO IN OMBA ES COMBAT OMB A NDO O TRABA ABALH ABALH TRABA TRAB R ADORE S ORES C ES COMBATE BATENDO O ENDO O TR ENDO O TR ATENDO O NDO O O O TRABAL UCADO PARA EDUC ARA EDUCAD CADOR COM MBAT MBAT COMB S COMBATE IA P U TIL GU FANTIL GUIA UIA PARA ED A EDUCADO DUCADORES DUCADORES RES CO CO ORES E ATEND TENDO O DUCAD CADOR COMB A BAL HO IN FANTIL G IL GUIA PAR IA P ARA E UIA PARA E GUIA PARA E IA PARA EDU DUCADORES ORES COMB ES COMB BA LHO IN O INFANT TIL GU FANTIL G ANTIL TIL GU GUIA PARA E ARA EDUCA D CADOR A EDUC O TRA TRABALH INFAN LHO IN O INF INFAN ANTIL RA EDU UIA PAR BALHO A ABALH ALHO F GUIA P UIA PA N DO O DO O TRA DO O TRAB TENDO O TR NDO O TRAB RABALHO IN HO INFANTIL INFANTIL G TIL G INFAN BALHO INFA O NTIL COM BATEN OMBATEN ES COMBA M BATE D OOT TR ABAL B ALHO B ALHO TR A BALH ES C DOR RES CO BATEN DO O O TRA O TRA DO O O TRA EDU CADOR ARA EDUCA RA EDUCADO ADORES COM COMBATEN MBATENDO MBATENDO COMBATEN AT ENDO DO O TRAB GUIA P TIL GUIA PA UC RES CO CO ES COMB MBATEN ANTIL ARA ED A EDUCADO DUCADORES DUCADORES CADOR UCADORES ENDO HO IN RABAL BALHO INFA FAN NTIL Combatendo o GUIA P INFAN IA PA TIL GU NTIL GUIA P R ARA ANTIL E ARA E PAR A EDU GUIA P FANTIL GUIA NTIL GUIA P IA PARA EDU A RA E D C ADO RES CO ES COMBAT COM CADOR RA EDU PARA EDUCA DORES ED Trabalho infantil A FA IN A U O O TR O TRABALHO ABALHO IN ABALHO INF TRABALHO BAL HO INF INFANTIL G TIL GUIA PA UIA ARA GUIA P FANT NDO O TR O TR TEND OO O TRA RABALHO HO IN FAN NTIL G ANTIL TE MBATE NDO DO BATEN PARAOMBA EDUCADORES BATE NDO DO O T O O TRABAL O INFA BALHO INF RABALHO IN ALH GUIA ES CO DORES COM CADORES C ADORES COM COMBATEN ABALH RA T B CA DU UC AT END ND O O TR TENDO O T BATENDO O ENDO O TRA TRA A EDU GUIA PARA E UIA PARA ED C ADORE S ES COMB S COMBATE S COMBA COM MBAT DO O RA EDU CADOR DORE ORE ORES ES CO COMBATEN ATEND IL G NFANT HO INFANTIL NTIL GUIA PA IA PARA EDU ARA EDUCA ARA EDUCAD DUCAD CADOR PARA E IA PARA EDU DUCADORES ORES COMB ES C L TRABA BALHO INF A TIL GU NTIL GUIA P GUIA P FANTIL GUIA NTIL GU RA E CAD DOR A INFAN FA ANTIL IN FA UIA PA RA EDU PARA EDUCA ND O O TR O TRABALHO ABALHO IN ABALHO INF TRABALHO BA LHO IN FA NTIL G TIL GUIA PA UIA GUIA P FA ARA NDO O TR O TR DO O O TRA RABALHO IN HO INFAN FA NTIL G FANTIL BATE TENDO ENDO COMBATEN TENDO DO O T BAL HO IN LHO IN TRABALHO BA IN OMBA MBAT OMBA EN O TRA O O TRABAL O O TRABA ORES C CADORES CO DUCADORES UCADORES C ES COMBAT BAT ENDO TEND TEND ATE NDO O ENDO O TR A AR A EDU GUIA PARA E UIA PARA ED EDUC ADOR S COM RES COMBA OMBA ORES COMB S COMBAT DO O DORE RES C E BATEN ATE NTIL NTIL G IL GUIA PARA EDUCA A EDUCADO A EDUCADO ARA EDUCAD EDUCADOR ES COM O INFA ALHO INFA INICIATIVA GUIA PARA NT PAR AR P ARA MB C A D O R A D O R E S CO O R E S B FA IA IA P GUIA IA P DU O TRA RABALHO IN O INFANTIL N TIL GU FANTIL GU FANTIL N TIL GU GUIA PARA E ARA EDUC U CAD OT ALH O INFA ALHO IN LHO IN O INFA TIL IA P ARA ED GUIA PA ENDO DO O TRAB O TRABALH B TRABA O TRABALH ALHO INFAN TIL GU GUIA P TE N DO O O TRA N DO O DO AB O INFAN O INFANTIL F ANTIL IN OMBA COMBATEN OMBATEND S COMBATE COMBATEN ENDO O TR O TRABALH RABALH LHO IN BALHO A S C RE S AT O T TRABA NDO O TRA R ADORE DUCADORES A EDUCADO EDUCADORE ORES COMB ATEND NDO O NDO O TE DO O T E PAR RA D COMB S COMBATE S COMBATE RES COMBA COMBATEN TENDO A PARA NTIL GUIA G UIA PA ARA EDUCA UCADORES DOR E DOR E CAD O ORE S MBA HO IN FA FANTIL GUIA P RA ED EDUCA ARA EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO ES COMBA RABA LHO IN O INFANTIL UIA PA GUIA PARA P UIA P DU DOR TIL G GUIA TIL GU NTIL G PARA E EDUCA UCADO DO O T O TRABALH ALHO INFAN O INFANTIL O INFANTIL INFAN DO Programa InternacionalBpara a EliminaçãoLdo Trabalho O INFA INFANTIL GUIA IL GUIA PARA GUIA PARA ED GUIA AB A LH LH BA HO RABALH Infantil ATEN O O TR DO O TRAB TRA A NDO O TRA DO O T HO FANT TIL TIL ATEND N DO O TE N RABAL HO IN INFAN ALHO INFAN BALHO COMB S COMBATE COMBATEN RES COMBA S COMBATE N DO O T O O TRABAL AB ALHO RA B TRA UCADO RE RESORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ND ADO ORE MBATE O O TR O O T BATENDO O ENDO O T UCADO PARA EDUC ARA EDUCAD CADORES CO S COMBATE OMBATEND OMBATEND M AT RA ED RES CO COMB TEND UIA PA FANTIL GUIAEscritórioUIA BrasilPARA EDU EDUCADOR UCADORES no P E C S C FAN TIL G GUIA EDUC ADORE A EDUCADO DUCADORES RES COMBA IN IN ARA ED R RA E O OM ALHO BALHO FANTIL GUIA P UIA PA RA RA UIA PA ANTIL GUIA TIL GUIA PA PA DUCAD ORES C D O TRA RABALHO IN O INFANTIL NTIL G INFANTIL G F PARA E ARA EDUCAD UCA ENDO DO O T LH O INFA ALHO LHO IN O INFA N IA TIL GU IL GUIA P ARA ED GU EN TRABA ABALH B TRABA O TRABALH ALHO INFAN T GUIA P MBAT ATE NDO O ENDO O TR NDO O TRA ATENDO O O B INFAN O INFANTIL TIL INFAN BALH COMB S COMBAT END RA DO O T O O TRABAL HO BALHO ES OM BATE ES C OMB MBAT BALH RA DORE ORES C EDUCADOR DUCADORES RES COMBA MBATEND CO TEN O TRA NDO O TRA TENDO O T DO O EDUCA RA EDUCAD TENDO TE MBA ATEN A UIA PARA IA P ARA E EDU CADO ORE S CO ES C OMBA RES COMBA RES CO COMB TE GUIA P NTIL G APOIOIL GU GUIA PARA ARA EDUCAD EDUCADOR FAN T DUC ADO A ED U C A D O D U C A D O R E S R E S COMBA INFA AB ALHO ABA LHO IN INF ANTIL TIL G UIA P IA PARA PARA E IL GUIA PAR PARA E A EDUCADO CADORES CO O O TR BALHO INFAN TIL GU IL GUIA NT IL GUIA PAR RA EDU PARA EDUC ATEND NDO O TRA TRABALHO INFAN LHO INFANT BALHO INFA LHO INFANT ANTIL GUIA UIA PA ATE O T RAB ALHO RABA TRA RABA BALHO INF NTIL G FANTIL GUIA FANTIL COMB MBATENDO ATENDO O O O T NDO O TENDO O T O TRA O INFA HO IN IN O B ATEND MBATE BA O ABALH L ALHO BA ORES C DORES COM ORES COMB CADORES CO DORES COM OMBATEND ENDO O TR DO O TRABA DO O TRAB O TRA DUCA UCAD EDU Edos TrabalhadoresC ES COMBA COMBATEN COMBATEN DUC A RES em Educação T BAT ENDO TEND AE A ED ARA ADO M OMBA BA IA PAR Confederação Nacional GUIA P GUIA P ARA A EDUC EDUCADOR ES CO TIL GU O INFANTIL O INFANTIL TIL GUIA PAR DORES DORES CADOR ORES C M LH H N IA P ARA PARA EDUCA ARA EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO ES TRABA O O TRABAL BALHO INFA INFANTIL GU NTIL GUIA GUIA P FANTIL GU GUIA P IA PARA EDU C ADOR ND TRA FA FANTIL ALHO IN ANTIL TIL GU RA EDU PARA ED MBATE ATENDO O BALHO ABALHO IN HO IN HO INF N UIA PA B O O TRA TR T RABAL O TRA B T RABAL BALHO INFA INFANTIL G ANTIL GUIA FANTI S COM OMBATEND BATENDO O ATENDO O TENDO BATENDO O O O TRA ABALH O INF ALHO IN C B OMBA D ALHO A A M DORES ADORES CO DORES COM UCADORES C ADORES CO COMBATEN M TEND O O TR DO O TRAB DO O TRAB ENDO O TR EDUC D UCA A ED EDUC O RES O MBA B ATEN B ATEN MBAT OMBATEN PARA IA PAR ARA E REALIZAÇÃO GUIA PARA DUCAD ORES C S COM S COM RES CO C GUIA P TIL GU IL PARA E RA EDUCAD EDUCADORE EDUCADORE A EDUCADO DUCADORES RES COM ANTIL ALHO INFAN LHO INFANT ANTIL GUIA UIA P A PARA PARA IA PA R PARA E A EDUCADO CADOR O TRA B TRABA BALHO INF G FANTIL INFANTIL GU FANTIL GU IA IA TIL GU GUIA AR U NDO O TRA HO IN INFAN FANTIL GUIA P ARA ED PARA MBATE ATENDO O RABAL TRABALHO TRABALHO IN BALHO RABALHO IN O INFANTIL NTIL GUIA P O OMB ENDO OT O TRA T IL GUIA FAN OO ORES C ES COMBAT OMBATEND MBATENDO COMBATEN OMBATEND NDO O TRA O DO OO BALH O INFA HO INFANT LHO IN ABALH AL A UCA DOR DOR ES C ORE S CO CADO RES DOR ES C OM BATE END O O TR DO O TRAB DO O TRAB ENDO O T EDUCA RA EDUCAD R A EDU PARA EDUCA UCADORES C ES COMBAT COMBATEN COMBATEN MBAT OMBAT A PARA GUIA PA UIA PA IL GUIA OR ES CO NTIL G PARA E D DUCAD EDUCADOR ES DORES CADOR ORES C N T FANTIL ALHO INFA ALHO INFAN FANTIL GUIA GUIA PARA E PARA EDUCA IA PARA EDU ARA EDUCAD CADORES CO PARAComunitária TRAB AB RCentro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura UIA O IN GUIA e Ação ANTIL G U IA P DU D DO O ATENDO O T O TRABALH ALHO INFAN O INFANTIL TIL TIL G F TIL GU PARA E EDUCA MB DO RAB ALH LHO INFAN ABAL HO IN ALHO INFAN FANTIL GUIA GUIA PARA IA PA S CO ATEN OT TRAB RABA TR RAB O IN NTIL FANTIL GU COMB TENDO DO O O O T NDO O DO O T ABALH O INFA INF DORES RES COMBA COMBATEN OMBATEND S COMBATE COMBATEN TENDO O TR O TRABALH RABALHO IN RABALHO DO ES S C ORE ES BA D O OT O T OO EDUCA CADOR EDUCADORE RA EDUCAD A EDUCADOR DORES COM BATEN MBATENDO MBATENDO ATEND B RA EDU A PA R A S COM COMB M UIA PA GU IA PAR ANTIL GUIA NTIL GUIA PA PAR A EDUC EDUCADORE CADORES C O DO R E S CO D U C A D O R E S A D O R E S CO FANTIL ALHO INF INFA IL GUIA GUIA PARA A EDU PARA EDUCA IA PARA E EDUC ORES IN LHO ANT PAR PARA UCAD TRAB TRABA HO INF NTIL U IL GUIA ANTIL GUIA INFANTIL G FANTIL GUIA UIA PARA ED RA EDUC NDO O BATENDO O O O TRABAL BALHO INFA HO INFANT INF HO IN IL G PA M D RA BAL ALHO ABAL ALHO FANT GUIA UIA RES CO COMBATEN TENDO O T O TRA DO O TRAB TENDO O TR NDO O TRAB RABALHO IN HO INFANTIL INFANTIL G ORES MBA TENDO T EN BA TE OT AL HO HO CAD ES CO OMBA OMBA S COM ORES COMB MBATENDO A B O TRA O O TRABAL O O TRABA L CADOR UCADORES C CADORES C EDUCADORE D O TENDO D END A EDU ED DU PAR A EDUCA ORES C RES COMBA COMBATEN COMBATEN ES COMBAT O D ARA RA E ARA CAD GUIA P TIL GUIA PA FANTIL GUIA NTIL GUIA P IA PARA EDU EDUCADO ORES O RES CA DOR RES C L A U A DUCAD DUCAD A EDU UCADO ADOR HO IN FAN LHO IN HO INF NTIL G IA PAR PARA E UIA PARA E IL GUIA PAR ARA ED C O TRABA O O TRABAL BALHO INFA INFANTIL GU NTIL GUIA NTIL G FAN T TIL GUIA P IA PARA EDU D TENDO MBATEND DO O TRA TRABALHO LH O INFA ALHO INFA BAL HO IN ALHO INFAN FANTIL GU GUIA PARA E DOR ES CO COMBATEN ND OO OO TRABA O TRAB DO O TRA OO TRAB BAL HO IN O INFANTIL FANT IL GU ORES MBATE ATEND TENDO BATEN ATEND O TRA BALH HO IN LH DUCAD CADORES CO ORES COMB RES COMBA DORES COM ORES COMB MBATENDO NDO O TRA O O TRABAL O O TRABA ARA E DU C AD CA DO UCA UC AD CO ATE ND ND TEN RA EDU A EDU GUIA PARA E UIA PARA ED D DORES COMB S COMBATE S COMBATE RES COMBA UIA PA IA PAR EDUCA DORES RE RE O ES NTIL G FANTIL GU O INFANTIL INFA NTIL G IL GUIA PARA PARA EDUCA A EDUCADO A EDUCADO ARA EDUCAD EDUCADOR HO IN BALH RAB ALHO FANT GUIA IA PAR PAR UIA P PARA UCAD AL DO O TRA DO O T O IN ABALH ALHO INFA NTIL TIL GU FANTIL GU IA NTIL G FANTIL GUIA UIA PARA ED RA BATEN COMBATEN ENDO O TR INFAN IN O INFA IN G PA S AT OT RAB RA BALHO TRABALHO TR ABALH TRABALHO HO INFANTIL ANTIL GUIA ADORE ORES COMB MBATENDO ATENDO O T TENDO O NDO O TENDO O ABAL O INF FANTIL C D O B A MBATE COMBA TENDO O TR O TRA BALH LHO IN RABA EDUCA ORES C S COM COMB ES CO S TRABA T
  • 3. CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária Combatendo o Trabalho infantil GUIA PARA EDUCADORES 1 Combate ao trabalho infantil Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Escritório no Brasil
  • 4. Copyright © Organização Internacional do Trabalho (2001) 1a edição, 2001 As publicações da Organização Internacional do Trabalho gozam da proteção dos direitos de propriedade intelectual decorrente do protocolo 2 anexo à Convenção Universal sobre Direitos Autorais. Trechos pequenos podem ser reproduzidos sem autorização, desde que a fonte seja mencionada. Para reprodução de trechos maiores ou tradução, solicitações devem ser encaminhadas a OIT – Organização Internacional do Trabalho, Departamento de Publicações (Direitos autorais e licenças), CH-1211 Genebra 22, Suíça. Solicitação de exemplares, catálogos ou listas de publicações para o endereço acima ou: OIT – Escritório no Brasil, Setor de Embaixadas Norte, Lote 35, 70800-400 Brasília DF, Brasil, tel. (xx61) 426-0100 fax (xx61) 322-4352, e-mail brasilia@oitbrasil.org.br. As designações usadas nas publicações da OIT e a apresentação de matérias nelas incluídas, segundo a praxe das Nações Unidas, não significam, da parte da OIT, qualquer juízo com referência à situação legal de qualquer país ou território ou de suas autoridades, nem à delimitação de suas fronteiras. A responsabilidade por opiniões expressas em textos assinados, estudos e outras contribuições recai exclusivamente sobre seus autores; sua publicação não constitui endosso da OIT às opiniões aí constantes. OIT – Escritório no Brasil Direção Armand Pereira Coordenação Nacional do IPEC-Brasil Pedro Américo Furtado de Oliveira Coordenação do Projeto Moema Prado Organização Internacional do Trabalho Combatendo o trabalho infantil : Guia para educadores / IPEC. – Brasília : OIT, 2001. : il. Conjunto formado por 2 volumes, cartazes e jogo v.1: Combate ao trabalho infantil – 48 p. v.2: Sugestões de atividades – 64 p. Produção CENPEC ISBN 92-2-811040-6 1.Trabalho infantil. I. OIT II. IPEC. III. CENPEC. Com base no conjunto: “Child labour: an information kit for teachers, educators and their organizations” ILO/IPEC (ISBN 92-2-111040-0). Material elaborado pelo CENPEC para o escritório da OIT no Brasil, no âmbito do Projeto “Professores, educadores e suas organizações na luta contra o trabalho infantil”/IPEC CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária R. Dante Carraro 68 Pinheiros 05422-060 São Paulo SP Brasil http://www.cenpec.org.br Presidência Maria Alice Setubal Coordenação geral Maria do Carmo Brant de Carvalho Coordenação de Área Isa Maria F. R. Guará – e-mail: isa@cenpec.org.br Coordenação do Projeto Lúcia Helena Nilson Consultoria Walderez Nosé Hassenpflug Autoria (v.1) Alexandre Isaac, Cristina Almeida Sousa, Mirna Busse Pereira, Ronilde Rocha Machado Edição de texto Tina Amado e Guy Amado Edição de arte Eva Paraguassú Arruda Câmara, José Ramos Néto e Camilo de Arruda Câmara Ramos Ilustração Luiz Maia Fotografia Iolanda Huzak Fotolito Grupo RV2 Impressão Cromosete Apoio CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Setor de Diversões Sul, Edif. Venâncio III, sala 101/4 70393-900 Brasília DF www.cnte.org.br
  • 5. Sumário 4 Apresentação 5 Por que e como utilizar este material 7 A OIT e o trabalho infantil 8 As Convenções da OIT 9 O trabalho infantil no mundo 11 Trabalho infantil e direito à infância 13 O que é trabalho infantil 14 O trabalho em sociedades indígenas brasileiras 15 O que obriga crianças e jovens a trabalhar? 16 Alegações usuais para “justificar” o trabalho infantil 16 Efeitos perversos do trabalho infantil 19 Trabalho infantil no Brasil atual 20 Dimensionando o problema 21 Trabalho infanto-juvenil por grupos de idade 22 No campo e na cidade 25 O trabalho de crianças no passado brasileiro 26 A criança escrava 27 Na fábrica, na passagem do século XIX ao XX 29 Trabalho infantil na Inglaterra, séculos XVIII e XIX 31 Os direitos da criança e do adolescente 32 O ECA, Estatuto da criança e do adolescente 34 Direito à educação, direito à infância 36 A importância do brincar 39 Contrapondo-se ao trabalho infantil 43 Considerações finais 44 Referências bibliográficas 46 Anexo Quadro: Incidência de trabalho infantil no Brasil
  • 6. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 Apresentação suas organizações na luta contra o trabalho infantil”. Ao buscar discutir o tema com educadores e Este material foi preparado para divulgar suas organizações, a OIT e seus parceiros informação sobre o trabalho infantil, os direitos reconhecem a importância desses agentes em da criança e a importância da educação na suas comunidades e a contribuição que podem prevenção e erradicação do trabalho infantil. trazer à luta contra o trabalho de crianças e Nossa expectativa é que os leitores – educadores adolescentes. Considera sua participação, em geral, pais, cidadãos – se engajem no especialmente a dos professores nas escolas, combate a essa forma extrema de violação dos fundamental para mobilizar e sensibilizar toda direitos das crianças e adolescentes. a comunidade. Compreendendo melhor a chaga social que é o trabalho infantil, A erradicação do trabalho infantil é ponto certamente irão desenvolver ações que de honra para um país que pretenda alcançar contribuam para sua eliminação, tanto na patamares mais elevados de eqüidade e justiça própria comunidade como no restante do país. social. A construção de um país mais justo, menos desigual, mais democrático depende Quem está em contato próximo com não só da definição de estratégias a curto e crianças, jovens e seus pais, tem a longo prazos, mas da vontade política dos oportunidade de fazê-los refletir sobre a governos, empresários, trabalhadores, grupos realidade e a responsabilidade de cada um de organizados da sociedade civil e dos cidadãos nós no conhecimento e na transformação em geral. Impulsionar essa vontade política, social, especialmente da realidade à nossa sensibilizar e mobilizar novos segmentos e volta. É o educador que pode estimular os direcionar suas energias para ações alunos a formar conceitos e valores sobre competentes na busca de soluções e direitos, justiça, eqüidade e solidariedade. Por alternativas para o trabalho infantil é o grande isso a OIT busca seu engajamento e desafio a ser enfrentado por todos aqueles que compromisso com essa luta, que é de toda a se comprometem com a luta pelos direitos da sociedade brasileira. Desse esforço de infância e juventude em nosso país. sensibilização nasceu o conjunto Combatendo o trabalho infantil: guia para educadores, Para erradicar o trabalho infantil, a principal buscando subsidiá-lo para tratar dessa temática medida que vem sendo adotada é a de atribuir com os alunos, pais, colegas, a comunidade. prioridade à educação, entendida como englobando escola formal e atividades ESTE CONJUNTO É FORMADO POR culturais, de esporte, lazer, orientação à saúde DOIS VOLUMES, QUATRO etc. O direito à educação integral e de CARTAZES E UM JOGO. qualidade garante às crianças e jovens um Neste Volume 1 outro direito fundamental: o de viver sua foram reunidas infância e juventude como um período informações essencial de formação para a vida e de básicas sobre a desenvolvimento de seu potencial humano. temática do A OIT - Organização Internacional do trabalho infantil, Trabalho, por meio do IPEC - Programa sua situação no Internacional para a Eliminação do Trabalho Brasil e no Infantil, em parceria com a CNTE - mundo, bem Confederação Nacional dos Trabalhadores em como sobre os Educação e com o apoio técnico do CENPEC - direitos das Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, crianças e Cultura e Ação Comunitária, de São Paulo – adolescentes, elaboraram este conjunto de materiais no destacando a educação e o lazer como âmbito do projeto “Professores, educadores e alternativas ao trabalho infantil. 4
  • 7. O Volume 2 reúne POR QUE E COMO sugestões de atividades escolares UTILIZAR ESTE MATERIAL relativas à temática, Um estudo realizado pela OIT (1999a) sobre agrupadas segundo estratégias bem-sucedidas para a prevenção e os componentes erradicação do trabalho infantil em 13 países curriculares (dentre os quais o Brasil) mostrou que História, Português, educadores em geral e suas organizações são importantes agentes no combate ao trabalho Ciências, Geografia infantil, atuando diretamente na comunidade e Artes. escolar e engajando-se em lutas mais amplas. Assim, este material foi elaborado para subsidiar Os cartazes podem ser utilizados em várias educadores brasileiros de modo a que venham situações: para introduzir o estudo do tema, ser, eles também, agentes nesse combate. O propósito deste volume é permitir que o para ficar expostos em lugar bem visível ou educador, conhecendo a problemática em para compor, com outros materiais, as profundidade – origens, dimensão, efeitos, atividades em sala de aula. Podem também mitos, legislação etc. –, esteja em condições de funcionar como ponto de apoio para debates e analisar a natureza do problema local discussões na comunidade escolar. (contextualizando-o no nível nacional) e possa contribuir para aumentar o grau de consciência de alunos, pais e comunidade sobre o tema. O volume 2 traz orientações para desenvolver a temática em sala de aula, mas de modo a envolver toda a escola e a comunidade. A equipe escolar, bem como os educadores de organizações não-governamentais, podem reforçar junto aos pais o valor da educação como alternativa importante para romper o círculo vicioso da pobreza; trabalhar por uma educação de qualidade, que inclua o currículo apropriado e relevante para todas as crianças, particularmente as mais pobres e vulneráveis; e construir parcerias com outros grupos que combatam o trabalho infantil. Quanto às organizações de educadores, a O jogo Bem-vindos à escola visa levar expectativa é que, fortalecidas e mobilizadas alunos a reconhecer, de forma lúdica, as pelo conhecimento sobre a temática, possam: características negativas do trabalho infantil, pôr à disposição sua estrutura operacional e seu bem como a importância do cumprimento do poder de penetração junto aos associados para Estatuto da Criança e do Adolescente para pôr mobilizar contra o trabalho infantil; fim à exploração dessa população. definir uma política de atuação contra o trabalho infantil; estabelecer parcerias com escolas, órgãos governamentais ou outras organizações de trabalhadores, tanto para a prevenção quanto o combate ao trabalho infantil; organizar fóruns de discussão; auxiliar em diagnósticos locais; conscientizar a comunidade sobre o direito e a importância da educação para todas as crianças e jovens. A comunidade poderá então exercer pressão para a formulação de políticas públicas e para sustentar politicamente programas educativos. 5
  • 8. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 MENINA (13 ANOS) RETIRA CARVÃO DO FORNO. RIBAS DO RIO PARDO - MS
  • 9. A OIT e o trabalho infantil A OIT – Organização Internacional do Trabalho, com sede em Genebra, é uma das agências especializadas da ONU, Organização das Nações Unidas. Foi criada em 1919, ao término da Primeira Guerra Mundial, quando se discutia a necessidade de encontrar meios para alcançar a paz permanente e universal, capaz de impedir novos e sangrentos conflitos como o que findara. Isso foi debatido por ocasião da Conferência de Paz de Paris em 1919, cujos participantes chegaram à conclusão de que “a paz universal e permanente somente pode basear-se na justiça social” – o que se tornou a frase inicial da constituição da própria OIT, formada por representantes de governos, empregadores e trabalhadores. 7
  • 10. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 O objetivo da OIT é lutar pela melhoria das titui o mais importante instrumento normativo condições de trabalho no mundo e elevação do de luta contra o trabalho infantil. Essa Conven- ção determina, no geral, a idade mínima de 15 padrão de vida dos trabalhadores, pleiteando re- anos para o ingresso no mercado de trabalho, gulamentação da jornada de trabalho, liberdade em todos os setores da atividade produtiva (para de associação, negociação coletiva, igualdade de trabalhos perigosos, a idade mínima é 18 anos remuneração pelo trabalho de igual valor e não- e, para trabalhos leves, 14 anos). É uma norma discriminação no trabalho; também pleiteia pro- que, por seu caráter flexível, atende ao nível de teção contra enfermidades profissionais, além de desenvolvimento socioeconômico dos diferen- outras disposições, sobre desemprego e forma- tes países-membros da OIT e admite iniciativas a médio e longo prazo. ção profissional. a Convenção n.182 sobre as Piores Formas de A proteção da infância é um dos elementos Trabalho Infantil (OIT, 2001) determina a ime- essenciais na luta pela justiça social e pela paz diata concentração de esforços para erradicar o universal. A OIT entende que o trabalho infantil, trabalho infantil nas seguintes situações: além de não constituir trabalho digno e ser con- todas as formas de escravidão e práticas aná- trário à luta pela redução da pobreza, sobretudo logas, como a venda e o tráfico de crianças, o rouba das crianças sua saúde, seu direito à edu- trabalho forçado ou obrigatório, a servidão cação, ou seja, sua própria vida enquanto crian- por dívidas e a condição de servo; ças – para a OIT, o termo “criança” refere-se a a utilização, o recrutamento ou a oferta de pessoas com idade inferior a 18 anos. crianças para a prostituição, a produção de pornografia ou atuações pornográficas; Preocupada com a situação de exploração do a utilização, o recrutamento ou a oferta de trabalho infantil, a OIT lançou em 1992 o Pro- crianças para a realização de atividades ilíci- grama Internacional para Eliminação do Traba- tas, em particular a produção e o tráfico de lho Infantil (IPEC). Trata-se de um programa mun- substâncias entorpecentes, tal como se defi- dial de cooperação técnica contra o trabalho in- nem nos tratados internacionais pertinentes; fantil, contando com o apoio financeiro de 22 qualquer outro tipo de trabalho que, por países doadores, cujo objetivo é estimular, orien- sua natureza ou pelas condições em que se realiza, possa supor ameaça à saúde, à segu- tar e apoiar iniciativas nacionais na formulação rança ou à moralidade das crianças. de políticas e ações diretas que coíbam a explo- Com relação ao trabalho perigoso acima mencio- ração da infância. O IPEC visa a erradicação pro- nado, a OIT indica que se considerem, no mínimo, gressiva do trabalho infantil mediante o fortale- os trabalhos em que as crianças: cimento das capacidades nacionais e do incenti- fiquem expostas a abusos de ordem física, vo à mobilização mundial para o enfrentamento emocional ou sexual; da questão. Promove o desenvolvimento e a apli- atuem embaixo da terra e da água, em altu- cação de legislação protetora e apóia organiza- ras perigosas ou em meios confinados; ções parceiras na implementação de medidas utilizem maquinarias, equipamentos e ferra- destinadas a prevenir o trabalho infantil, a retirar mentas perigosas ou que manipulem e trans- crianças de trabalhos perigosos e a oferecer al- portem cargas pesadas; ternativas imediatas, como medida transitória atuem em meio insalubre ou estejam expos- para a erradicação do trabalho infantil. tas, por exemplo, a substâncias, agentes ou processos perigosos, ou ainda a temperatu- AS CONVENÇÕES DA OIT ras ou níveis de ruído e vibração prejudiciais à saúde; Os instrumentos normativos da OIT são conven- atuem em condições especialmente difíceis, ções e recomendações sobre o trabalho. Uma con- como por exemplo horários prolongados, no- venção é um instrumento do sistema internacio- turnos ou que impeçam o regresso diário à nal de direitos humanos que se torna vinculante, sua casa. ou seja, de cumprimento obrigatório pelos países que a ratificam. Como signatário das convenções Além dos instrumentos normativos, a OIT empre- da OIT, o Brasil assume o compromisso de fazer ga outros dois meios de ação: a produção e disse- cumprir suas determinações. Em relação ao traba- minação de informação; e a cooperação técnica lho infantil, duas delas merecem destaque: para desenvolver programas como o IPEC, que in- centiva o fim da exploração do trabalho infantil. a Convenção n.138 sobre Idade Mínima de Ad- Esses três meios de ação se complementam visan- missão ao Emprego (OIT, 2001), de 1973, cons- do o alcance da justiça social. 8
  • 11. O trabalho infantil no mundo A exploração do trabalho crianças são geralmente de isso se tornar sua principal infantil não é um fato restrito encontradas, em todo o ou única atividade. Essa ao Brasil. A OIT estima em cerca mundo? Milhões de crianças forma é mais comum em de 250 milhões as crianças fazem trabalho perigoso, países como Brasil, Colômbia, trabalhadoras em todo o abusivo e explorador. Entre Equador, Filipinas, Quênia e mundo. Pelo menos 120 outras, são comumente Tanzânia. milhões de crianças entre 5 e encontradas exercendo as 14 anos de idade trabalham em seguintes formas de trabalho tempo integral. Os restantes (OIT, 1999b). combinam trabalho com os Na indústria, realizando estudos e com outras atividades trabalho perigoso, como não-econômicas. fabricação de vidro, De acordo com estimativas da construção e tecelagem de OIT (1999b), a maioria absoluta tapetes. Dentre outros países, dessas crianças está em países essas atividades são Em trabalho doméstico, “em desenvolvimento”. São 17 freqüentes na Índia. árduo, sob condições de milhões na América Latina e isolamento, trabalhando Caribe (7%); 80 milhões na horas excessivas, sujeitas a África (32%); e 153 milhões na abuso físico e sexual – mais Ásia, excluindo o Japão (61%). freqüente no Brasil, Colômbia, Embora as estatísticas Equador e Indonésia. geralmente não mencionem, nos países desenvolvidos há um significativo contingente de Na agricultura, realizando crianças e adolescentes trabalho pesado e sendo trabalhando em situações que expostas a muitos perigos envolvem riscos. O relatório associados à introdução de Situação Mundial da Infância moderna maquinaria e (UNICEF, 1998) informa, por produtos químicos. A OIT, exemplo, que nos Estados por meio do IPEC, mantém Em regime de escravidão ou Unidos uma operação- programas de atendimento, em arranjos de trabalho relâmpago do Departamento de entre outros, no Nepal e na muito similares, como Trabalho, realizada em 1990 Tanzânia, onde é muito alto o trabalho servil e prostituição durante três dias, encontrou índice de crianças envolvidas infantil. Esta última é muito mais de 11.000 crianças nas fainas agrícolas. comum no Brasil, no Quênia trabalhando ilegalmente. e na Tailândia, enquanto Grande parte delas pertencia a crianças trabalham em minorias étnicas ou a regime escravo ou servil na comunidades de imigrantes e Índia e no Nepal. trabalhava na agricultura. Na Europa, os países do antigo bloco socialista viram surgir o trabalho infantil em virtude dos desajustes sociais e econômicos Em casa, cuidando de irmãos decorrentes da transição para a e irmãs mais novos ou economia de mercado. ajudando em sítios ou Em que tipos de trabalho as empresas familiares, a ponto 9
  • 12. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 AOS 11 ANOS, CARREGANDO SACOS DE LARANJA. TABATINGA - SP
  • 13. Trabalho infantil e direito à infância Talvez uma forma de descrever o trabalho infantil seja pelas marcas que deixa na vida de crianças e jovens que a ele são submetidas. Para essas pessoas, a sina diária é trabalhar sob qualquer condição, enfrentar cansaço, fome, às vezes mutilação, abandono. Nada de livros, cadernos, lápis de cor, brincadeiras ou sonhos. Nada de aprender a ler e escrever, a ler o mundo a sua volta... Essas crianças e jovens nunca ouvem o sinal do recreio. A merenda, quando há, é comida ali mesmo, no meio da fuligem, rapidamente, pois não se pode perder tempo. Ficam proibidos os risos, molecadas, algazarras. O importante é produzir, trocar o que produziu por quase nada e recomeçar tudo no outro dia, sem direito a ter direitos, mesmo os mais fundamentais: aprender, brincar, ter férias, descansar... Bola, brincadeira de roda, jogos não entram nesse mundo. Em vez de ser preparadas para segurar o lápis, desenhar, pintar, recortar e colar, suas mãos carregam pás, enxadas, foices, desproporcionais a sua força. 11
  • 14. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 E com o que sonha uma criança que só co- mundo? Como indenizá-los pela infância não vi- nhece da vida o horizonte delimitado pelo car- vida, pelas oportunidades perdidas, pelo direito vão, sisal, pela cana ou pedreira? Será que sonha negado de partilha do conhecimento construído em ser cantor, atriz, bombeiro ou enfermeira? pela humanidade, da qual faz parte? Não são “Meu maior desejo”, disse um menino carvoei- perguntas fáceis de responder. ro, “é não tossir à noite por causa da fumaça do Mas milhares de crianças e jovens brasileiros forno. Aí dá para dormir”. É próprio da criança e enfrentam hoje a dura realidade do trabalho pre- do jovem projetar-se no futuro e sonhar com o coce. E esse número pode aumentar: a agudiza- que virá. Mas o sonho maior do menino carvoei- ção da pobreza estrutural no país e o risco de ro está preso, como ele, ao seu duro cotidiano. intensificação das desigualdades sociais ameaçam A exploração brutal e os riscos de vida a que empurrar mais e mais crianças e jovens para o estão sujeitos os trabalhadores infantis são fla- trabalho. Estudos de caso feitos em 13 países pela grantes, como exemplifica esta descrição das con- OIT (1999a) apontam esses dois fatores como os dições de trabalho experimentadas por um me- maiores obstáculos à eliminação do trabalho in- nino, numa pedreira no interior do Ceará: fantil – e que mais contribuem para seu aumen- O lugar não é para brincadeiras. Usa-se cartu- to. Por outro lado, altas taxas de desemprego pro- cho de pólvora para fragmentar a pedra; lascas de vocam a falta de confiança no valor e importân- pedra e aço dos instrumentos voam para todo lado cia da educação, o que prejudica a percepção do e inala-se pó o tempo inteiro. Ninguém usa óculos seu papel estratégico nessa luta. Outro fator nem qualquer outro equipamento de proteção. apontado, além da persistência de atitudes soci- Acidentes são rotina. (...). No povoado de Taquara ais e culturais que favorecem o trabalho infantil, (...), Francisco, 11 anos, quebrava pedra como to- dos os meninos: sentado no chão, no meio da é a baixa qualidade dos serviços educacionais, poeira levantada pelas explosões a dinamite, pelo refletida em altas taxas de retenção e evasão. entra-e-sai dos caminhões e sob o sol escaldante. Esses fatores dão a dimensão da complexida- Martelava pedra com uma marreta, sobre uma de que envolve o tema e dos desafios a serem pedra almofariz. Para cada carrinho de cinco me- tros cúbicos de brita, Francisco recebe o equiva- enfrentados nos níveis político, econômico e so- lente a pouco mais de dez centavos de dólar1 . Ele ciocultural, para que o país avance na erradica- produz 20 carrinhos por semana; se a mãe vem ção do trabalho infantil. Tome-se o desafio da junto, a produção chega a 60 carrinhos. (Azevedo distribuição de renda: sem dúvida, frente ao qua- & Huzak, 1994, p.100) dro atual de aprofundamento da pobreza no país, Essa realidade remete a indagações: Que pers- a melhor forma de enfrentá-la a curto e médio pectivas de desenvolvimento, de formação edu- prazos seria com um programa de distribuição e cacional e de participação na cultura se colocam geração de renda para todas as famílias em situa- para uma criança que desde cedo é submetida a ção de pobreza, não só para aquelas envolvidas essas condições de trabalho? Que possibilidades com o trabalho infantil. existem para que Francisco, ao se tornar adulto, Não é fácil propor soluções a essa problemá- vivencie experiência de trabalho que lhe propor- tica. Mas é possível e necessário construir, coleti- cione condições de vida dignas? vamente, perspectivas de superação dessa reali- E qual será o futuro de um menino carvoeiro, dade que afeta a vida de milhares de crianças de um cortador de cana ou de sisal, privado do brasileiras. A amplitude e complexidade do pro- direito (que lhe é garantido pelas leis do país) ao blema deixam claro que é necessário que toda a desenvolvimento integral, por meio de oportuni- sociedade brasileira tenha uma atitude de indig- dades educativas? Como enfrentará a sociedade nação frente ao trabalho infantil e se sensibilize, do conhecimento e da tecnologia, sem saber es- se mobilize para enfrentá-lo. É imprescindível unir crever o próprio nome, sem poder ler, sem co- todos: esferas de governo, organizações não-go- nhecer o funcionamento das instituições e do vernamentais, sindicatos, empresas, igrejas, clu- bes, associações, escolas, cidadãos, numa atitu- 1 Para se ter uma idéia de quanto Francisco recebia por mês, pode-se de de co-responsabilidade participante. estimar a produção mensal em 80 carrinhos o que, a dez centavos de dólar por carrinho, dá oito dólares por mês. Na cotação de maio de Os professores e demais trabalhadores em 2001 (R$ 2,25 por dólar), isso significa que Francisco recebia cerca de R$ 18,00, ou aproximadamente um décimo do salário mínimo. educação também estão convocados a descobrir 12
  • 15. que contribuição podem dar em sua escola, bair- trada no mercado de trabalho. As Constituições ro, comunidade, município ou estado, para pre- de 1934, 1937 e 1946 ampliaram a idade míni- venir e erradicar o trabalho infantil e devolver as ma para 14 anos. Porém, em 1967, em plena crianças à escola, à infância e a uma vida mais ditadura militar, novamente se recuou esse limi- digna e justa. Mãos à obra. te para 12 anos! Atualmente, a legislação brasileira, por meio O que é trabalho da Emenda Constitucional 20/98 e da lei sancio- nada em 19 de dezembro de 2000 (Brasil, 2000a, infantil? que altera disposições da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas), determina que a idade mínima O trabalho pode ser compreendido como uma para a entrada no mercado de trabalho é 16 anos. “atividade consciente e voluntária, pela qual o O trabalho noturno, perigoso ou insalubre é per- homem exterioriza no mundo fins destinados a mitido apenas a maiores de 18 anos. E apenas modificá-lo, de maneira a produzir valores ou na condição de aprendiz o adolescente pode exer- bens social ou individualmente úteis e satisfazer cer trabalho remunerado, dos 14 aos 16 anos, assim suas necessidades” (Russ, 1994, p.297). com direitos trabalhistas garantidos, em jornada A forma como o trabalho é realizado em di- e regime especificados na lei. versas sociedades, ao longo do tempo, aproxi- É PROIBIDO QUALQUER TRABALHO A ma-se ou distancia-se dessa definição. Ao mes- MENORES DE DEZESSEIS ANOS DE IDADE, mo tempo que modificam o mundo pelo traba- lho, os seres humanos também se modificam, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ, estabelecendo relações entre si, criando e reno- A PARTIR DOS QUATORZE ANOS. vando a cultura. Nesse sentido, o trabalho com- (BRASIL, LEI 10.097/2000, ART.1O) pleta o indivíduo e contribui para seu desenvol- Podemos dizer pois que o trabalho infantil é vimento enquanto ser humano. Mas o modo aquele realizado por crianças e adolescentes que como uma determinada sociedade se organiza estão abaixo da idade mínima para a entrada no para o trabalho e o tipo de relações que se esta- mercado de trabalho, segundo a legislação em belecem na produção podem levar à desumani- vigor no país. zação e à alienação. Há trabalhos que embrute- cem e deformam, além de não proporcionar con- No entanto, é preciso refinar essa definição, dições para escapar da situação de penúria e pri- contemplando certos aspectos de tradições cul- vação na vida pessoal, familiar e social. turais em diferentes lugares do mundo. Em al- gumas sociedades, a transmissão cultural reali- É fácil incluir o trabalho infantil nessa última za-se oralmente, não havendo registros escritos perspectiva. A entrada precoce de crianças e ado- de sua história, técnicas ou ritos. Assim, na agri- lescentes no mercado de trabalho, nas condições cultura tradicional ou na produção artesanal, atuais – e históricas – do capitalismo no Brasil crianças e adolescentes realizam trabalhos sob a exemplifica bem essa perspectiva de trabalho, supervisão dos pais como parte integrante do pro- situação que não é muito diferente para imensos cesso de socialização – quer dizer, um meio de setores da população adulta trabalhadora. transmitir, de pais para filhos, técnicas tradicio- Em diferentes países, de maneira geral, o tra- nalmente adquiridas. Esse trabalho pode ser tam- balho infantil costuma ser definido como aquele bém motivo de satisfação para as próprias crian- realizado por “crianças e adolescentes”. Isso sig- ças (Bequelle, 1993, p.22). O sentido do apren- nifica que a permissão (ou a proibição) para a der a trabalhar varia de acordo com a cultura, entrada dos indivíduos no mercado de trabalho com a sociedade e, dentro destas, varia também é estabelecida em lei de acordo com a idade. No dependendo do momento histórico em que elas entanto, esse recorte é móvel, varia de socieda- se encontram. Mas a situação de trabalho como de para sociedade e, em cada uma, muda tam- parte do processo de socialização não deve ser bém de acordo com a compreensão do que seja confundida com aquelas em que as crianças são infância e adolescência. No Brasil, em 1891, ins- obrigadas a trabalhar, regularmente ou durante tituía-se a idade mínima de 12 anos para a en- jornadas contínuas, para ganhar seu sustento ou 13
  • 16. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 o de suas famílias, com conseqüentes prejuízos Por outro lado, essa preocupação não pode para seu desenvolvimento educacional e social. ser radicalizada no sentido de excluir a participa- ção das crianças e adolescentes em tarefas do- Seguindo esse raciocínio, as condições de ex- mésticas. Essa participação reveste-se de caráter ploração e os prejuízos à saúde e ao desenvolvi- educativo e formador do senso de responsabili- mento da criança ou adolescente que realiza a dade, pessoal e em relação ao núcleo familiar. atividade é que seriam parâmetros para caracte- rizar o trabalho infantil. Mas é preciso lembrar Atualmente, na luta pelo reconhecimento dos que o mero fato de trabalhar “em casa” ou “com direitos da criança e do adolescente, um parâ- a família” não descaracteriza o trabalho infantil. metro mais claro tem sido colocado: ainda que Mesmo no espaço do trabalho em família, sabe- seja para garantir a continuidade de uma tradi- se que muitas crianças são submetidas a esta- ção familiar, para dividir responsabilidades no in- fantes jornadas de trabalho na lavoura familiar terior da casa ou para ajudar na lide do campo, ou são responsabilizadas por todos os serviços o trabalho de crianças não pode impedir que elas domésticos e cuidados com os irmãos menores exerçam seus direitos à educação e ao brincar, em casa, sem que lhes seja garantido, por exem- condições essenciais a seu pleno desenvolvimen- plo, tempo para ir à escola ou para brincar. to. O trabalho em sociedades indígenas brasileiras Em muitas sociedades indígenas trabalho leva em consideração E isso quer dizer ter funções e brasileiras, trabalhar é aprender não só as tarefas a serem responsabilidades a fazer junto, pois o trabalho se realizadas, mas principalmente compartilhadas com as demais caracteriza como momento de a idade e as condições físicas de pessoas com as quais convive, troca de experiência entre os seus participantes, como uma como produzir alimentos, membros do grupo. Nessa forma de protegê-los. confeccionar adereços e objetos vivência, as pessoas envolvidas Meninas e meninos aprendem, artesanais para o uso cotidiano, com as mais diversas formas de no convívio familiar, as tarefas ritual e festivo, construir a atividades constróem consideradas femininas e própria habitação, participar da coletivamente conhecimentos, masculinas. Mães, mulheres vida comunitária. como fruto desse aprendizado. idosas ou experientes ensinam Produção, família e sociedade O trabalho constitui assim as meninas a tecer, fabricar acham-se articuladas e se importante aspecto da vida cerâmica, transformar os orientam pelos mesmos comunitária indígena. Ele alimentos. Pais e homens idosos propósitos, o que faz com que fornece as bases de uma da aldeia ensinam os meninos a educação e vida caminhem organização social de tipo fazer arcos, flechas, adornos juntas. Educar nas comunidades igualitária, em que a família corporais, técnicas de caça e indígenas tem um sentido funciona como unidade básica pesca... Na sociedade indígena, amplo. Significa ensinar e de produção, acumulando e essa aprendizagem visa aprender pela vivência direta trocando os conhecimentos propiciar à criança a nas várias situações cotidianas: indispensáveis à subsistência de apropriação de todos os saber é saber fazer. Dessa todos os seus membros. A conhecimentos que necessitará forma, o aprendizado para o organização baseia-se na em sua futura vida adulta. trabalho é incorporado nas divisão sexual do trabalho: há Para uma criança ou práticas coletivas que são, em tarefas masculinas (em geral, adolescente, fazer parte de uma si, educativas; em outras caçar, derrubar mato) e tarefas família, e portanto de uma palavras, integra o processo de femininas (em geral, cuidar da unidade de produção, significa socialização das crianças e roça, cozinhar). Essa divisão do ser membro da sociedade. jovens indígenas. 14
  • 17. destinada ao trabalho. Um sistema escolar efi- O que obriga crianças e ciente deve assegurar a permanência de todas as jovens a trabalhar? crianças na escola, com aprendizagem efetiva. Outro fator que obriga ao trabalho infantil é a crença, comum em muitas culturas – e não só nos estratos mais pobres –, de que as crianças devem compartilhar as responsabilidades da fa- mília, participando do trabalho dos pais, ganhan- do remuneração fora de casa ou ajudando na administração da casa. Esta última é especialmen- te verdadeira para as meninas, de quem é espe- rado que cuidem dos irmãos e irmãs, bem como das tarefas domésticas, a ponto de estas se tor- narem sua principal ou única atividade. Tais cren- ças fazem com que o peso da responsabilidade seja assumido por crianças desde cedo, sem qual- quer questionamento, de geração em geração. Dessas crenças e da situação de vulnerabilidade econômica, os empregadores tiram vantagens em HIGIENE MATINAL NA CARVOARIA. ÁGUAS CLARAS - MS proveito próprio. Ao empregar crianças, têm em Crianças e jovens são obrigados a trabalhar mente garantir trabalhadores dóceis, submissos, por várias razões, sendo a pobreza a principal que não causem “encrenca” e sejam incapazes delas. Muitos governos, ao enfrentar crises eco- de defender seus direitos; crianças e adolescen- nômicas, não dão prioridade às áreas que pode- tes têm menos condições de se negar a realizar riam ajudar a aliviar as dificuldades enfrentadas tarefas servis por baixos salários do que os adul- por famílias de baixa renda: não priorizam saú- tos. Os empregadores beneficiam-se ainda da de, educação, moradia, saneamento básico, pro- ineficácia da fiscalização: embora cientes da lei s gramas de geração de renda, treinamento profis- sional, entre outros. Para essas famílias, a vida se que proíbe o trabalho infantil, violam-na na cer- teza da impunidade. torna uma luta diária pela sobrevivência. As crian- Portanto, a incorporação de crianças e ado- ças são forçadas a assumir responsabilidades, aju- lescentes no mercado formal e informal de tra- dando em casa para que os pais possam traba- balho expressa, por um lado, deficiências das po- lhar, ou indo elas mesmas trabalhar para ganhar dinheiro e complementar a renda familiar. Em um líticas públicas para educação, saúde, habitação, mundo crescentemente desigual, em um proces- cultura, esportes e lazer, além da ineficácia da fis- so acentuado pelo fenômeno da globalização, calização do trabalho para cumprimento da lei e cada vez mais contrapõem-se riqueza e pobreza. da vigência de certas crenças, mesmo entre os Assim, todo um segmento da população, alijado próprios pais. Por outro lado, expressa os efeitos de condições adequadas de formação, educação perversos da má distribuição de renda, do desem- e acesso a bens e serviços, vem constituindo um prego, dos baixos salários, ou seja, de um modelo contingente de despossuídos. econômico que não contempla as necessidades Um sistema educacional deficiente também do desenvolvimento social. O Brasil é considerado contribui para empurrar crianças para o trabalho. a 10a economia do mundo em termos de Produto Mesmo tendo acesso à escola – no Brasil, 97% Interno Bruto, mas está classificado em 74o lugar das crianças entre 7 e 14 anos estão sendo matri- (IPEA, 1999) em termos de IDH – Índice de De- culadas todo ano (Brasil, 2000b) – crianças e ado- senvolvimento Humano (esse índice, criado pela lescentes das camadas pobres são mais atingidos ONU em 1990, considera simultaneamente os ní- pela repetência. Após repetir várias vezes, a crian- veis de renda, instrução e saúde das populações; ça – por si mesma e pelos pais – é considerada calculado para 174 países, classifica-os em uma “incapaz” de aprender, saindo da escola e sendo escala do melhor para o pior). 15
  • 18. COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1 ALEGAÇÕES USUAIS ças com dificuldades no desempenho escolar. Muitas famílias, sem vislumbrar outras possibili- PARA “JUSTIFICAR” dades de enfrentamento das dificuldades, acabam O TRABALHO INFANTIL incorporando a idéia de que é melhor encaminhar seus filhos ao trabalho. Nesse caso, cabe à escola Apesar de condenável e proibido por lei, ainda há repensar sua adequação a essa clientela, pois a quem procure justificar a necessidade do trabalho função social da escola em uma sociedade demo- infantil. Alguns argumentos, freqüentemente usa- crática é permitir o acesso de todos os alunos ao dos para “justificar” essa prática, devem ser refu- conhecimento. tados (OIT & CECIP, 1995, p.8-9). Em suma, o trabalho infantil não se justifica e não “Crianças e jovens (pobres) devem trabalhar para é solução para coisa alguma. A solução para essa ajudar a família a sobreviver”. problemática é prover as famílias de baixa renda É a família que deve amparar a criança e não o de condições tais que elas possam assegurar a suas contrário. Quando a família se torna incapaz de crianças um desenvolvimento saudável. cumprir essa obrigação, cabe ao Estado apoiá-la, não às crianças. O custo de alçar uma criança ao EFEITOS PERVERSOS DO papel de “arrimo de família” é expô-la a danos TRABALHO INFANTIL físicos, intelectuais e emocionais. É um preço al- tíssimo, não só para as crianças como para o con- O trabalho precoce de crianças e adolescentes in- junto da sociedade pois, ao privá-las de uma in- terfere diretamente em seu desenvolvimento: fância digna, de escola e preparação profissional, físico – porque ficam expostas a riscos de lesões, reduzimos o valor dos recursos humanos que po- deformidades físicas e doenças, muitas vezes deriam impulsionar o desenvolvimento do país no superiores às possibilidades de defesa de seus futuro. corpos; “Criança que trabalha fica mais esperta, aprende emocional – podem apresentar, ao longo de suas a lutar pela vida e tem condições de vencer profis- vidas, dificuldades para estabelecer vínculos afe- sionalmente quando adulta”. tivos em razão das condições de exploração a que estiveram expostas e dos maus-tratos que O trabalho precoce nunca foi estágio necessário receberam de patrões e empregadores; para uma vida bem-sucedida. Ele não qualifica e, portanto, é inútil como mecanismo de promoção social: antes mesmo de atingir a idade adulta social. O tipo de trabalho que as crianças exercem, realizam trabalho que requer maturidade de rotineiro, mecânico, embrutecedor, impede-as de adulto, afastando-as do convívio social com pes- realizar as tarefas adequadas à sua idade: explorar soas de sua idade. o mundo, experimentar diferentes possibilidades, Ao mesmo tempo, ao ser inserida no mundo do apropriar-se de conhecimentos, exercitar a imagi- trabalho a criança é impedida de viver a infância e nação... a adolescência sem ter assegurados seus direitos de brincar e de estudar. Isso dificulta muito a vi- “O trabalho enobrece a criança. Antes trabalhar vência de experiências fundamentais para seu de- que roubar”. senvolvimento e compromete seu bom desempe- Esse argumento é expressão de mentalidade vi- nho escolar – condição cada vez mais necessária gente segundo a qual, para crianças e adolescen- para a transformação dos indivíduos em cidadãos tes (pobres, pois raramente se refere às das famí- capazes de intervir na sociedade de forma crítica, lias ricas), o trabalho é disciplinador: seria a “solu- responsável e produtiva. Entre as crianças que tra- ção” contra a desordem moral e social a que essa balham há maior repetência e abandono da escola. população estaria exposta. O roubo – aí conotan- Encomendada pelo IPEC e CNTE, uma pesquisa do marginalidade – nunca foi e não é alternativa feita pelo DIEESE – Departamento Intersindical de ao trabalho infantil. O argumento que refuta esse Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (1997), é, “antes crescer saudável que trabalhar”. O tra- junto a 1.419 crianças trabalhadoras que freqüen- balho infantil marginaliza a criança pobre das opor- tam a escola, constatou índices alarmantes de re- tunidades que são oferecidas às outras. Sem po- petência, na faixa de 64%. Essa pesquisa foi reali- der viver a infância estudando, brincando e apren- zada em seis das maiores capitais brasileiras: Be- dendo, a criança que trabalha não é preparada lém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Recife para vir a ser cidadã plena, mas para perpetuar o e São Paulo. A pesquisa também entrevistou os círculo vicioso da pobreza e da baixa instrução. alunos-trabalhadores, constatando que os deve- Outro argumento presente na sociedade é o de res escolares, quando realizados, são feitos após a que o “trabalho é um bom substituto para a edu- jornada de trabalho e cada dia em um horário di- cação”. É usado principalmente no caso de crian- ferente, roubando parte do tempo destinado ao 16