1. NOME__________________________________TURMA_______________
Transforma-se o amador na cousa amada
Transforma-se oamadorna cousa amada,
por virtude domuitoimaginar;
não tenhologomaisque desejar,
poisemmimtenhoa parte desejada.
Se nelaestáminhaalma transformada,
que maisdesejaocorpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
poisconsigotal alma estáliada.
Mas estalindae pura semidéia,
que,comoo acidente emseusujeito,
assimco’a almaminhase conforma,
Está no pensamentocomoidéia;
[e] o vivoe puro amorde que soufeito,
como matériasimplesbuscaaforma.
Amor é fogo que arde sem se ver...
Amoré fogoque arde semse ver,
é feridaque dói,e nãose sente;
é umcontentamentodescontente,
é dorque desatinasemdoer.
É um não querermaisque bemquerer;
é umandar solitárioentre agente;
é nuncacontentar-se de contente;
é umcuidar que ganha emse perder.
É quererestarpresopor vontade;
é servira quemvence,ovencedor;
é tercom quemnos mata,lealdade.
Mas comocausar pode seufavor
nos coraçõeshumanosamizade,
se tão contrário a si é o mesmoAmor?
Os Lusíadas
Lu ís de Camões
1 .
As Armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
2.
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé [e] o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
4.
E vós,Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi[m] um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi[m] vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloq[u]o e corrente,
Porque de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.