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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BALSAS – CESBA
Departamento de Enfermagem
Curso de Enfermagem
RICARDO CARVALHO NEVES
A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO
CESBA/ UEMA
Balsas-MA
2012
RICARDO CARVALHO NEVES
A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO
CESBA/ UEMA
Trabalho monográfico apresentado ao
Curso de Enfermagem do Centro de
Estudos Superiores de Balsas, da
Universidade Estadual do Maranhão como
exigência para obtenção do título de
Bacharel em Enfermagem.
Orientador:
Balsas – MA
2012
RICARDO CARVALHO NEVES
A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/
UEMA
Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do grau de Bacharel em
Enfermagem e aprovada em sua forma final pela coordenação do curso de Enfermagem
da Universidade Estadual do Maranhão.
Aprovada em _____ de _____________ de ______
Nota:________
Banca Examinadora
Prof.º Jairo Ribeiro Sousa
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Enf.ª Gley Simone Ribeiro da Costa
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Enf.ª Patricia Almeida Laurindo
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Dedico este trabalho ao meu querido alterego,
Adamantiun, que nunca me abandonou e sempre
me mostrou que eu tinha todas as armas para
vencer esta batalha, dentro de mim mesmo.
AGRADECIMENTOS
Ao meu infalível Jesus Cristo que soube me mostrar aos poucos que eu
realmente tinha tomado o caminho certo naquele dia. Você é a maior certeza que tenho
na vida!
À minha mãe (Paixão de Maria) e meu pai (Francisco) que além de me
educaram de uma forma admirável, nunca se opuseram ao meu sonho de me tornar um
profissional com nível superior, e abdicaram dos seus sonhos para que este meu fosse
concretizado. Hoje, meus queridos, eu vejo onde vocês queriam que eu chegasse e o que
queriam que eu fosse, e agora só posso agradecê-los infinitamente por tudo,
procurando palavras que expressem isso e não as encontrando! Amo vocês!
Aos meus irmãos (Marcella e Rennan), tias, tios, avós (Vó Rita) e primos,
por sempre me confiarem esta missão, como se estivessem certos que eu, de alguma
forma, a cumpriria!
À minha tia Antônia, com quem cresci e que me ensinou muito do que sei
hoje, foi vendo seu exemplo de vida e luta tia, que eu perdi o medo de enfrentar o
mundo e de vencer os obstáculos que sempre me apareceram! Te Amo!
Aos amigos de Mangabeiras (Ada, Angeline, Aylana Mara, Carla Ribeiro,
Daiane Carolina, Júnior, Luzivan, Raiany, Raiza, Richele e Thaisa) por verem algo
notável, (e amarem isso!) naquele garoto estranho que estudou com vocês!
Inesquecíveis serão nossos momentos, e ainda mais, vós mesmos!
Ao meu primeiro e eterno amor: Laianna Coelho. “Em ti eu me acho, em ti
eu me defino. Em ti, eu sou quem sou!” Por mais que estejamos sempre distantes, nosso
amor puro e lindo, só aumentará! Te Amo!
Aos caxienses: Aléssio Leal, Bené, Alzimar Souza, Paula Oliveira, Thessia
Andrade, André Gustavo, Diego Alexsander, Patrícia, Teresinha e Vicente Beleza. Eu
fui muito feliz ao lado de vocês, nesses 10 meses! Que a distância não apague o que
sentimos mutuamente! Muito Obrigado!
Ao balsense, Raylon Araújo, que se mostrou alguém muito especial e que
marcou minha vida.
Aos meus professores, Milena Bárbara, Eryna Sousa, Leonardo Aragão,
Erika, Tereza Machado, Jhonny Herberthy, Leonardo Bezerra, Landim, Vanessa Nunes,
Elaine Cristina, Gley Simone, Marcia Meurer, Laíra, Irmã Rosa Maria, Mayara
Caland, Ana Maria, Irmã Maria Luiza, e em especial aos meus orientadores Jairo
Ribeiro e Nivia Cristiane.
Aos meu colegas de classe! Todos vocês! Os que estão concluindo comigo, e
os que não continuaram na turma! Com vocês, eu vivi os anos mais loucos, felizes,
inesquecíveis, sofridos e dourados da minha vida! Despeço-me, triste por estar
acabando, mas feliz e realizado por tê-los conhecido e feito parte de suas vidas! Em
especial à: Tayron Carneiro, Jorlandia Ferreira, Ramon Tiego, Fernanda Arruda,
Marizete Marcos, Phablo Venicio, Jardiana Farias, Talita de Paula, Milena Martins,
Tagella Sá, Valdilene Guida, Samuel Dourado, Cristiani Magalhaes, Laerth Araujo,
Arlete Carvalho, Fabiany Melo, D‟lany Lopes, Lucas José, Herbelchior Gomes,
Lucyjane Amorim, Lucas Natanael, Maria Rita, Deylane Melo, Joerberth Ramos,
Dallyanna Leão, Renato Silva, Gil Wagner, Elisangela Manara e Juliana da Silva. Foi
uma honra!
E, finalmente, a Ricardito, o arqueiro, Ricky Ardo, Holy Hands, T.R.,
Arqueiro Branco (in memorian) e Adamantiun! Várias faces de um mesmo eu, que
juntos formam esse que agradece a vós.
Tão simples, também, é a morte!
Por ser morte, por não morrer!
Ao contrário da vida, que sempre acaba...
Sempre morre!
(Éder Thiago)
RESUMO
O processo de morte é inerente à vida e inevitável precisando ser discutido para se
desanuviar os mitos que rondam esse assunto. A profissão de Enfermagem lida
diretamente com essa questão quando é relacionada aos pacientes, e os acadêmicos
necessitam de preparo eficiente para enfrentá-lo da forma mais saudável possível. Este
estudo objetivou analisar a visão de morte dos acadêmicos do Cesba/Uema e verificar a
eficiência do preparo dos mesmos pela Instituição. O trabalho teve característica
descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevistas
semi-estruturadas com 10 acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas da
Universidade Estadual do Maranhão. O roteiro continha questões sobre o conceito de
morte para os estudantes, preparo para a morte dos pacientes, o que eles sentiam perante
a morte e sugestões para a implementação do estudo da morte na grade curricular. As
análises mostraram que os alunos vêem a morte como algo inevitável; ou como uma
passagem, baseando-se na religião; e ainda, utilizando conceitos científicos, como algo
natural. Diante da morte os alunos sentem, em sua maioria, medo; seguido de tristeza e
indignação. A maior parte dos estudantes declarou-se preparado para assistir à morte
alegando experiências prévias ou caracteres de personalidade, havendo os que não se
consideraram por acharem que esse preparo é impossível de ser feito. Todos os
pesquisados concordaram que é importante e necessária a inclusão da disciplina de
Tanatologia no curso a fim de prepará-los de forma efetiva para a morte e torná-los
profissionais mais humanizados.
PALAVRAS-CHAVE: Morte; Acadêmicos; Enfermagem.
ABSTRACT
The process of death to life is inherent and inevitable needs to be discussed unwind the
myths that surround this subject. The profession of nursing deals directly with this issue
when it is related to patients and academics needs to be prepared to address it
effectively as healthy as possible. This study aimed to analyze the vision of the death of
academic Cesba / Uema and verify the efficiency of the preparation of the same
institution. The study was descriptive and exploratory character, with a qualitative
approach, carried out through semi-structured interviews with 10 students from the
Centro de Estudos Superiores de Balsas in Maranhão State University. The script
contained questions about the concept of death for students preparing for the death of
the patients; they felt before the death, and suggestions for implementing the study of
death in the curriculum. Analysis showed that students see death as inevitable, or as a
passage, based on religion, and yet, using scientific concepts, as something natural.
Before death the students feel, mostly, fear, sadness and outrage followed. Most
students said he was prepared to watch the death claiming previous experience or
characters personality, with those who were not considered because they think that
preparation is impossible to be done. All respondents agreed that is important and
necessary to include the discipline of Thanatology in the course to prepare them
effectively for the death and make them more humane professionals.
KEYWORDS: Death, Academic; Nursing.
LISTA DE SIGLAS
Cesba: Centro de Estudos Superiores de Balsas
CNS: Conselho Nacional de Saúde
Uema: Universidade Estadual do Maranhão
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................12
2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................14
2.1 A Tanatologia e a compreensão da morte através da História.......................14
2.2 A compreensão da morte na atualidade.........................................................18
2.3 O profissional de Enfermagem perante a morte dos pacientes......................22
2.4 A preparação do acadêmico para o processo morte morrer...........................25
3. METODOLOGIA..............................................................................................32
3.1 Tipo de pesquisa............................................................................................32
3.2 Cenário de estudo..........................................................................................32
3.3 População e Amostra.....................................................................................33
3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa.............................................................33
3.5 Análise dos dados..........................................................................................34
3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa..............................................................34
4. RESULTADOS E ANÁLISES.........................................................................35
4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de morte para os acadêmicos..............36
4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e o que eles sentem perante a morte.................40
4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a morte..............................44
4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido..49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................55
APÊNDICES......................................................................................................58
ANEXOS.............................................................................................................60
1. INTRODUÇÃO
A Morte é um fato incontestável. Certamente em algum momento será
necessário lidar com as conseqüências e dificuldades que esse processo acarreta, seja de
uma pessoa próxima, ou de um paciente sob nossa assistência (SILVA, 2009).
Os cursos da área da saúde apresentam, dentre muitos outros, um ponto que lhes
é bastante peculiar: todos têm seu foco no bem estar do ser humano. Seja
diagnosticando as enfermidades, adequando a alimentação, recuperando os movimentos
e a comunicação, ouvindo os problemas e buscando soluções ou cuidando da pessoa
clinicamente doente, a vida é prioridade para nós e queremos sempre que ela transcorra
sem intercorrências graves. A Enfermagem por se pautar na filosofia do cuidar da
pessoa é, em meio às outras, a que mais aproxima do indivíduo e as situações de Morte
estão intimamente ligadas, diria até inerentes, a todas as profissões de saúde,
principalmente à de Enfermagem.
Oliveira e Amorim (2008), diz que nesta profissão uma das características é a
de que o profissional permanece mais tempo em contato com o paciente, podendo
acompanhar todo o processo da Morte e morrer.
Porém um ponto notável é o de que mesmo sendo praticamente pertinente a essa
profissão o processo de Morte, quase não é discutido na graduação dos futuros
enfermeiros, sendo debatido apenas em raros momentos, onde o conhecimento
repassado não é tão abrangente a ponto de preparar os acadêmicos para as experiências
que a profissão traz, e verificou-se na grade curricular do Centro de Estudos Superiores
de Balsas a inexistência de disciplinas ou atividades voltadas para este âmbito, fato este
que causou no autor do trabalho uma preocupação quanto a ter que vivenciar essa
experiência na carreira e estar preparado para enfrentá-las de maneira saudável.
Este trabalho objetiva conhecer a visão que acadêmicos de Enfermagem do
Cesba têm da Morte, através da análise das opiniões que eles deram acerca desse
evento. Conhecendo se os mesmos consideram-se preparados para lidar com a Morte
dos pacientes, o que sentem perante este processo e se concordam com a adoção de
medidas que visem solucionar esse problema.
Analisando o problema dado formulou-se uma hipotética resolução aplicável ao
mesmo, prática e que resolveria a possível inexperiência dos acadêmicos acerca do tema
e que consiste no seguinte: a inclusão de uma disciplina específica durante a graduação,
bem como de grupos de discussão e troca de experiências vividas sobre o tema.
Proposição que foi avaliada como uma solução prática e eficiente para preparar os
acadêmicos para a Morte e seus processos.
O trabalho se justifica pelo fato de que o profissional enfermeiro irá deparar-se
com uma diversidade de pessoas e situações durante sua carreira, e o processo de morrer
sendo natural a todos os seres vivos, precisa ser compreendido de forma correta pelos
mesmos que de certa forma no exercício de sua profissão objetivarão em evitá-la, ou em
outros casos, promovê-la da forma mais digna e aceitável possível. E a faculdade
deveria prover meios do acadêmico preparar-se em todos os âmbitos para essa
experiência, visto que o autor do trabalho concorda com essa afirmação e sentiu falta, ao
término da graduação, desse preparo voltado para a assistência aos pacientes na hora da
Morte, assim como para poder se preparar da melhor forma para vivenciar este
momento no exercício da profissão. Além disso, foi verificado que o tema não é muito
discutido no meio científico, e que também não existem muitos trabalhos publicados
acerca da temática. A confecção desta monografia contribuiria de forma imensa para
mudar esta situação e trazer a pauta da Morte para as discussões na profissão de
Enfermagem
Em Lana e Passos (2008), pois se não for feito o acadêmico irá lembrar-se
brutalmente da própria finitude quando encarar estas situações.
Portanto uma análise desse nível de preparo dos estudantes, vem a ser
imprescindível para qualificá-lo e detectar erros de compreensão, a fim de evitar
equívocos futuros, e também para sugerir ideias e soluções que melhorem ou corrijam o
modo como este ensinamento deva ser repassado aos acadêmicos assim como para
mudar o seu imaginário sobre este ponto.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Tanatologia e a compreensão da Morte através da História
A Morte é compreendida por todos como o fim natural da vida, e que após ela
deixamos de existir assim como nossos pensamentos, sonhos e sentimentos. O processo
de morrer também é a única certeza absoluta aceita por todos os humanos, não sendo
negada em nenhuma civilização ou ideologia da Terra (AGRA e ALBUQUERQUE,
2008).
Para Lana e Passos (2008): A Morte é considerada como parte constituída da
existência humana. É sem dúvida, um dos poucos fatos que se tem certeza de seu
acontecimento.
A Tanatologia é a ciência dedicada ao estudo da Morte e de seus processos. O
termo Tanatologia vem do grego e significa thanatos, o deus da Morte; e logos, estudo
(AGRA e ALBURQUERQUE, 2008).
Nós, humanos, como todos os seres vivos marcados pela passagem da vida e que
buscam soluções possíveis para nossos problemas, erroneamente, lutamos contra a idéia
de nosso fim, e temos buscado, ao máximo, um alívio possível para o paradoxo
existencial que se apresenta frente à dicotomia viver e morrer. Esta situação tem sido
notável na cultura ocidental e aumenta de certa forma, essa angústia, tornando mais
difícil a lida com a situação (BELLATO e CARVALHO, 2005).
Para Santos e Bueno (2010), assistimos com freqüência, a vinculação da Morte
com o sobrenatural, o terror, o castigo, a dor, entre tantos outros significados
considerados negativos pelas nações ocidentais.
Compreende-se então que o estudo dessa ciência faz-se importantíssimo, no
sentido de compreender o que é a Morte, deixando para trás pré-conceitos e derrubando
mitos que rondam essa etapa natural da vivência, além do que proporciona uma
oportunidade de reflexão sobre a vida e a nossa finitude.
E nos dias atuais, verifica-se que a Morte não representa um consenso no
imaginário do ser humano, tomando em cada mente uma concepção muito distinta que
vai de simplesmente o fim, até fenômenos mais complexos e únicos (CANTÍDIO et al.,
2011; AGRA e ALBUQUERQUE, 2008).
O conceito tradicional de Morte biológica definida como o instante que o
coração para de pulsar está ultrapassado. Hoje, ela é vista como um processo, como um
fenômeno progressivo e não mais como um momento, ou evento (JÚNIOR e ELTINK,
2011).
Conforme Moreira e Lisboa (2006), há vários significados para a Morte: o fim
da vida animal ou vegetal; termo; fim; destruição; ruína; e tipos de morrer: Morte
agônica; Morte civil; Morte moral.
Toda essa conjuntura, que ultrapassa as gerações e nunca se define, pois apenas
temos a certeza de que existe e que nos acontecerá, acabou por criar uma situação
interessante: como poderemos entender eou explicar algo que não conhecemos que
nunca tivemos uma real experiência? E quem já teve, não pode compartilhá-la? Para
isso as pessoas buscam saídas nas mais diversas possibilidades, como reforça Cantídio
et al., (2011):
“A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir
afirmar verdades absolutas, pois, quando abordada, desperta
curiosidade, provoca desconforto e vem sempre acompanhada de mui-
tas perguntas para as quais se encontra a incontestável resposta de que
o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a certeza de que a
todo nascimento associa-se um momento de fim. Trata-se de um tema
circundado pela incerteza e pelo medo daquilo que não se pode prever
ou conhecer, no conceito dos que enfrentaram a Morte como limite da
vida. Todos os atributos da Morte desafiam as mais distintas culturas,
as quais buscam respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas
religiões e na ciência para compreender o desconhecido e remediar a
dor gerada pelo evento.”
Uma das características do ser humano é a atribuição de significados e valores
que ele imprime às coisas além da incessante busca por respostas e explicações para as
questões que rodeiam nossa experiência de vida. Isso fez com que conceito de Morte
fosse mudando e em cada era histórica fosse visto pelas pessoas de uma forma
diferenciada o que incluía influências vindas de sua cultura, credo e estilo de vida
(AGRA e ALBURQUERQUE, 2008; COMBINATO e QUEIROZ, 2006).
O homem, através da História, com destaque para os filósofos antigos, sempre
buscou desvendar os mistérios que envolvem o antes e o depois da sua existência
(MOREIRA e LISBOA, 2006).
Carvalho et al., (2006), defende que ao longo da história da humanidade, a
compreensão do processo de Morte e de morrer sofreu mutações atendendo às
necessidades das sociedades em todo o mundo.
Segundo Shimizu, (2007), ao se analisar historicamente as representações da
Morte percebe-se que houve uma importante alteração na trajetória da Morte, que, de
familiar e conhecida, passou a ser completamente negada e relegada.
Por isso, o significado da Morte varia necessariamente no decorrer da história e
entre as diferentes culturas humanas. A importância e o sentido dados à Morte sofria
influência das mudanças que ocorriam em cada civilização, o que fez que em cada uma
dessas sociedades o morrer tomasse um caráter distinto (AGRA e ALBUQUERQUE,
2008).
Segundo Agra e Albuquerque (2008):
“Para os antigos gregos, a incineração determinava dois tipos de mortos: o
cadáver do homem comum e o cadáver dos grandes heróis. Ao anônimo
cabia o crematório coletivo e o depósito de suas cinzas em vala comum. Os
corpos falecidos dos heróis eram cremados na cerimônia da bela Morte, onde
os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos. A própria Morte seria a
prova de sua virtude, tornando-o um indivíduo cuja vida é digna de ser
lembrada.”
Na Mesopotâmia antiga o sepultamento de um falecido era carregado de hábitos
e significados, onde o corpo da pessoa era enterrado com todas as marcas de sua vida
pessoal o que incluía vestimentas, pertences, insígnias e comidas preferidas. Para os
hindus a cremação tinha o objetivo de apagar todos os traços existenciais do morto, pois
o cadáver era totalmente queimado e as cinzas lançadas à água ou ao vento. Como se o
fato de ter vivido fosse um erro e a Morte, uma penitência por tal transgressão (AGRA e
ALBUQUERQUE, 2008; GIACCOIA JÚNIOR, 2005).
No Egito Antigo havia a crença na vida após a Morte, e isso levou ao tão
conhecido costume de mumificar os corpos e guardá-los em tumbas suntuosas, cercados
por seus pertences, a fim de que pudesse usufruir da segunda vida com toda a regalia
que tivesse antes de morrer (MOREIRA e LISBOA, 2006).
Hábito também observado nas civilizações pré-colombianas1
. A Morte nessa
época era um evento muito respeitado e as cerimônias fúnebres, envolviam muito
trabalho e tempo.
Remotamente na História, cita-se o papel marcante que a Igreja sempre
representou na hora da Morte em Carvalho et al., (2006), os ritos mortuários eram, até
o século XIII, simplesmente aceitos de modo cerimonial, sem dramaticidade ou gestos
de emoção excessivos. Com a intervenção da Igreja, passam a ser clericalizados e
começam a esboçar um sentido dramático que persiste na atualidade.
Essa visão clericarizada do processo Morte-morrer é afirmado por Bellato e
Carvalho (2004), quando diz que o padre passou a ocupar a cena principal, e não mais
o morto. Após o último suspiro, o morto não pertence mais nem aos seus pares ou
companheiros, nem à família, mas à Igreja.
Nessa época a Morte “ideal” era aquela na qual a pessoa preparava-se para o seu
momento final, resolvendo pendências antigas, saldando dívidas, despedindo-se de
familiares e amigos e exigindo a presença de um sacerdote que lhe proferia a extrema
unção elevando, desta forma sua alma a Deus, o que Pinho (2008), corrobora: a Morte
“súbita feia e desonrosa” era temida. Quem assim morria, havia recebido um castigo
divino que privava o homem de preparar-se para a finitude.
O ato de morrer tornou-se algo mais familiar nessa época como relata Takahashi
et al., (2008), era, portanto, um acontecimento público; os corpos eram enterrados nos
pátios das igrejas, que também serviam de palco para as festas; nesse contexto, mortos
e vivos podiam coexistir no mesmo espaço.
Na segunda fase da Idade Média as poucas mudanças que ocorreram,
consistiram apenas na preocupação humana com eventos pós-Morte, sendo eles o Juízo
Final, a vida eterna no céu, ou o castigo por seus pecados no inferno (PINHO, 2008).
As pessoas que acompanhavam quem morria, tinham um maior contato com o
processo Morte-morrer, pois a vivenciavam continuamente e toda a comunidade
participava desse acontecimento e por estar ocorrendo com alguém tão próximo, era
1
Povos que habitaram o continente americano, antes da chegada dos colonizadores. Os principais são os,
astecas, maias e os incas.
possível que fizessem uma identificação com o outro. O conhecimento da Morte era
uma rotina e nenhuma criança crescia sem ter tido a experiência de ver, pelo menos,
uma cena de Morte (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008).
Em meados do século XVIII a Morte passa a ter uma conotação mais dramática
“Em que predomina o culto ao cemitério e o luto exagerado, no qual o
protagonista passa a ser a família e não mais o morto. Tal situação perdurou
pelo século XIX, sendo que os parentes omitiam ao doente a gravidade do
seu estado na tentativa de poupá-lo, transformando a Morte em tabu,
rigorosamente afastada, principalmente das crianças. (Takahashi et al., 2008)
Percebe-se então que nessa época as pessoas se ocupavam menos de sua Morte e
preocupavam-se mais com a do outro, pois esse é o que deixará saudades e lembranças,
atitude esta que é percebida até dias atuais, contudo, no século XIX não existia a
negação da Morte, pois continuava ocorrendo em no âmbito domiciliar (OLIVEIRA,
QUINTANAL e BERTOLINO et al., 2010).
2.2 A compreensão da Morte na atualidade
Atualmente, a Morte é tratada como tabu e com o passar das eras foi sendo
deslocada da casa para o hospital. Deixando assim de constituir um fenômeno natural,
para transformar-se num evento frio, escondido e profundamente indesejado. Algo que
era tão presente, conhecido e familiar no passado, se apaga e desaparece, tornando-se
vergonhosa e com isso incogitada; vira um inconveniente e, portanto, a sua
demonstração pública não é mais bem vista (BELLATO e CARVALHO, 2005).
Em Santos e Bueno, (2011), uma nova imagem da Morte vai se formando: a
Morte feia e escondida, e escondida porque é feia e suja.
Com a Revolução Industrial, o mundo passou a ser regido sob um novo modelo
econômico, no qual a figura humana era vista mais como mão-de-obra, importante e
imprescindível para manter e alavancar o desenvolvimento das nações (AGRA e
ALBUQUERQUE, 2008).
E com tal crescimento, em seu início desordenado, o homem despreparado,
vindo principalmente do meio rural, tornou-se vulnerável às doenças, principalmente as
infecciosas e parasitárias, uma vez que as cidades não tinham infraestrutura que
comportasse essa migração repentina de pessoas, segundo Moreira e Lisboa (2006):
“As cidades não estavam preparadas para o grande fluxo de pessoas, não
existia um planejamento sanitário, a água e os dejetos não tinham um
tratamento adequado, com valas conduzindo materiais sem nenhuma
estruturação prévia, contaminando os lençóis freáticos e proporcionando um
aumento no número de roedores, mosquitos, etc., o que conseqüentemente,
acarretou um aumento das doenças infecto-parasitárias.”
Foi nesse ínterim, que a Morte passou a ser institucionalizada, ou seja, havia um
local próprio onde os doentes ficariam, pois se temia que eles contaminassem os sadios
e atrapalhasse o impulso da economia que crescia vertiginosamente. De acordo com
Moreira e Lisboa, (2006), as famílias tinham necessidade de produzir e por isso não
dispunham de tempo para cuidar do moribundo.
A política de saúde da época era baseada em normas de higiene, sendo a Morte e
o moribundo inseridos nesse contexto. Desse modo os doentes foram transferidos para o
hospital, um lugar onde ficariam sob cuidados especiais para que se recuperassem logo
e pudessem voltar a contribuir para o progresso industrial (MOREIRA e LISBOA,
2006).
Em uma sociedade que valoriza seus cidadãos pelo potencial de trabalho, pela
capacidade de produção destes, as doenças e a Morte aparecem como uma força
contrária e incômoda ao processo de acumulação e produção de riqueza (OLIVEIRA e
AMORIM, 2008).
A partir da segunda metade do século XX, passa a ocorrer uma mudança brusca,
na qual a Morte deixa de ser familiar e passa a ser um objeto interdito, o que Caputo
(2008), comprova afirmando que um fator material importante que impulsionou esta
transformação foi a transferência do local da Morte. Pois a Morte não ocorre mais no
domicílio, no meio dos familiares, mas solitário no hospital.
Assim, nas últimas décadas com o aprimoramento e o desenvolvimento das
tecnologias e da ciência médica, a Morte vem ocorrendo preferencialmente no ambiente
hospitalar, cercada de aparelhos, monitores e recursos humanos especializados, capazes
de assegurar um processo de Morte assistida e em sua maioria, sem dor (SILVA, 2009;
SHIMIZU, 2007).
Ideia que é reforçada por Takahashi et al., (2008), quando fala que:
“A medicina, subsidiada pelos avanços tecnológicos, proporcionou uma
mudança na representação social da Morte. Hoje em dia dificilmente se
morre em casa, rodeado por familiares e amigos, com serenidade para
despedir-se da vida e, sim, às escondidas, trancafiado em um ambiente
hospitalar, considerado neutro, e na maioria dos casos sozinho ou
acompanhado de pessoas estranhas. “
Este quadro instalado fez com que as pessoas se distanciassem do processo
mortífero ficando cada vez mais ausentes e arredios quanto a ela. Caputo (2008),
defende:
“que os psicanalistas existenciais apontam que se no início do século XX o
grande tabu se dava em relação ao sexo, no final do referido século o grande
tabu é ligado à Morte. Na atualidade é comum as crianças receberem
informações sobre sexualidade, porém quando se trata da Morte esta é
mascarada relacionando-a com uma „viagem‟, „descanso‟.”
O medo é atualmente o sentimento mais presente nas pessoas, em relação à
Morte. Seja condicionada pelo fator oculto que ela representa ou pela questão
sobrenatural. O homem atual tende a temer aquilo que não conhece e não tem como
experenciar, como é o caso da Morte. Com base em Júnior e Eltink, (2011), o homem
sabe que vai morrer embora não se pode experimentá-la diretamente, por isso sente
medo do que possa vir, medo do desconhecido e mais, evita o assunto como se negasse
a sua existência.
Atualmente, vive-se nas sociedades ocidentais uma crise contemporânea da
Morte. Movidos pelo progresso tecnológico vertiginoso, onde se encontra solução para
tudo e o que ontem era novo, amanhã já é ultrapassado, o homem frustra-se por não
conseguir solucionar a Morte e o tão sonhado “Elixir da Juventude” nunca ser
alcançado. Diante de tamanha evolução técnico-científica, o homem sente-se
envergonhado diante de uma realidade que não consegue ultrapassar e a Morte é
considerada um tabu individual, estendendo-se até a coletividade (TAKAKASHI et al.,
2008).
As características do sistema econômico capitalista fizeram com que a Morte
fosse vista não como uma certeza, mas como um obstáculo, ou uma adversária na vida
da pessoa, e que podia ser vencida, individual ou coletivamente. A partir do momento
que o corpo não possui valor como instrumento de trabalho, este não atende ao sistema,
sendo as questões que remetem ao fenômeno Morte relegadas a um segundo plano, não
sendo pensadas pela sociedade e muito menos valorizadas (MOREIRA e LISBOA,
2006).
A Morte ficou esquecida e muito menos conhecida em sua forma real. Percebe-
se isso mais no mundo ocidental. Segundo Bernieri e Hirdes (2007), o mundo ocidental
transformou a Morte em tabu, ela costuma ser ocultada das crianças e banida das
conversas cotidianas. Os sentimentos que a Morte faz aflorar são tão intensos, que seu
nome não deve nem ser pronunciado. Por si só ela causa medo, fuga e espanto.
Outra característica desse modo de agir do homem contemporâneo acerca do
processo de morrer, se mostra pela eufemização ou indiferença a esse processo, de
acordo com Bellato e Carvalho (2006):
“A presença da Morte é dissimulada pela equipe de saúde que rapidamente
prepara o corpo e legaliza o novo status do morto por meio do atestado de
óbito. Até as palavras denunciam essa ocultação, ao invés de simplesmente
dizer que alguém morreu,usam a expressão, impessoal e menos angustiante,
“foi a óbito.”
A negação da Morte é perceptível em todos os setores da sociedade, até mesmo
entre os profissionais de saúde, que evitam falar sobre ela, seja por questões pessoais ou
hábito de vida. Em sua linguagem do dia a dia, referem-se à mesma como “óbito”,
dando a impressão de ser uma palavra mais sutil e menos agressiva, mas que não muda
em nada os sentimentos da equipe, muito menos das pessoas que ouvem esse termo
(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BERNIERI e HIRDES, 2007).
As pessoas de hoje não aceitam a Morte como algo natural, e inevitável e
tentam enganá-la ou mesmo adiá-la, concentrando esforços para manterem-se
eternamente jovens, recorrendo ao que a medicina oferece, não se importando com
custos ou sacrifícios aderentes. Pois o que importa é evitar o envelhecimento,
permanecerem jovens, querem encontrar a fórmula da juventude e vida eterna
independentemente de tudo (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Atualmente o critério de Morte comumente utilizado pela medicina é a avaliação
da função cerebral, ou seja, se houve parada das funções vitais a pessoa pode até ser
mantida “viva” por meio de aparelhos, pois com os avanços da ciência e da tecnologia,
tornou-se possível manter as funções cardíacas e respiratórias através de aparelhos,
enquanto nada se pode fazer para manter funções cerebrais responsivas (BERNIERI e
HIRDES, 2007).
Toda essa composição que se deu para a Morte é nada mais que uma saída para a
árdua aceitação da mesma. Segundo Agra e Albuquerque, 2008:
“Mesmo sabendo que a Morte é a única certeza absoluta da existência
humana, é angustiante e de difícil aceitação pelas pessoas, expressando-se
pela dificuldade de lidar com o limite da vida. Ainda assim, sabendo que a
Morte é um fenômeno natural recusamos como sendo pessoal e inevitável,
sendo comum, as pessoas morrerem isoladas, encerradas nos hospitais, longe
dos seus. Assim, adiamos o confronto em lidarmos com a nossa própria
Morte.”
Característica esta, verificada principalmente na cultura ocidental, que ao longo
do tempo acabou por dar menos atenção e importância à Morte, talvez numa medida de
confrontá-la ou tentar superá-la. A essência da angústia humana é a extinção: o medo
da Morte, da destruição do eu e do próprio corpo. O homem é o único ser vivo que é
consciente de sua Morte e finitude, o que acarreta, então, a angústia de sua limitação,
de nada poder fazer contra ela (BRETAS, OLIVEIRA e YAMAGUTI, 2007).
Aliado a este pensamento vimos que o homem também utiliza-se de outro meio
para enfrentar a Morte, que se baseia na
“ausência da reflexão sobre a Morte, ou até mesmo o não falar sobre ela,
representa o não pensar na perda dos que ficam e também na dor da solidão.
No entanto, ao utilizar esse mecanismo de defesa, pode-se criar uma
armadura protetora, que se manifesta pela insensibilidade e frieza
prejudicando, assim, o desenvolvimento do profissional, impedindo-o de
crescer humana e profissionalmente.( TAKAHASHI et al., 2008)
Porém com isso enfermeiro corre o risco de tornar-se apenas uma máquina de
cuidados, direcionados apenas ao paciente vivo, prejudicando a sua face humana, pois
uma hora ele sairá do ambiente de trabalho e inevitavelmente levará o seu novo jeito de
ser, para o convívio social, o que lhe trará problemas de enfrentamento, quando essa
situação suceder-se com um dos seus. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; CANTÍDIO et al.,
2011)
De acordo com Júnior e Eltink (2011), e Bernieri e Hirdes (2007), uma solução
aparece
“a partir do momento em que nos descobrimos finitos, passa-se então a
compreender o processo de finitude dos outros. Desse momento em diante a
Morte pode deixar de ser vista como um fracasso e passar a ser vista como
algo natural e destinado a todos sem distinção de classe, cor, nível social ou
mesmo intelectual. A única coisa que pode-se saber é que um dia todos irão
estar diante dela e se preparar para que se possa passar esse momento com
tranquilidade, independente de estar acontecendo conosco, com pessoas
próximas, ou com pessoas que necessitam de nossos cuidados.”
Tentamos não pensar nisso, pois de certa forma, esperamos que aconteça, pois
somos cientes que talvez nunca tenhamos como evitá-la e por isso ainda a tememos, por
sua implacabilidade e invencibilidade.
2.3 O profissional de Enfermagem perante a Morte dos pacientes
Assim, apesar da Morte fazer parte do cotidiano da Enfermagem, observa-se que
esses profissionais apresentavam dificuldades para prestar cuidados ao paciente e
interagir com seus familiares frente à possibilidade da Morte, sendo esta geradora de
reações e sentimentos causadores, muitas vezes, de sofrimento nesses trabalhadores.
Deste modo, esses profissionais, vivenciam o conflito de ter a responsabilidade pelo
cuidado ao paciente em processo de Morte e a vontade de curar e restabelecer a saúde
daquele a quem se cuida como algo impossível (MOTA et al. 2011).
Essa situação cria um paradoxo na mente do profissional de Enfermagem, pois
concomitantemente ele luta para oferecer aquilo que sua formação o instruiu que é
concentrar esforços para manter a vida do paciente a todo custo, com o fato de ter que
propiciar um fim aceitável e digno, no caso dos pacientes terminais (CUSTÓDIO, 2010;
BELLATO et al., 2007).
O morrer nunca é totalmente aceito por todos. O que ameniza, na maioria das
vezes, é saber que o doente já tinha idade avançada, ou um quadro já terminal, onde
apenas cuidados paliativos seriam eficazes, mas não para evitar o fim, somente em
proporcioná-lo de uma maneira tranquila, indolor e, acima de tudo, humanamente digna.
Todavia, quando este paciente é jovem, principalmente criança ou adolescente, essa
conformidade não suaviza o impacto, e o fator idade, torna-se um peso a mais, para
família e ainda mais para o profissional que o acompanhava (CANTÍDIO et al., 2011;
JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Como assente, Costa e Lima (2005), ao dizer que
“No hospital encontramos um grande número de pacientes, entre eles
crianças e adolescentes, com prognóstico grave e doença em fase avançada,
sendo a problemática da Morte uma constante. [...] A Morte da criança e do
adolescente é interpretada como interrupção no seu ciclo biológico e isso
provoca na equipe de Enfermagem sentimentos de impotência, frustração,
tristeza, dor, sofrimento e angústia durante o processo de terminalidade.”
Em Mota et al., (2011), verificaram-se diversas reações e sentimentos dos
membros das equipes de Enfermagem dos setores do hospital no qual atuamos frente à
Morte. A maioria fica em silêncio, uns choram, outros se fazem indiferentes, mas todos
sempre se questionam atrás de uma justificativa que explique a finitude do homem, e o
porquê de termos, todos, um fim comum.
Outros sentimentos também são citados em Júnior e Eltink (2011), ao dizer que
assistir o paciente neste momento é difícil, pois suscita sensação de tristeza, frustração,
impotência e até mesmo culpa por falhas na assistência prestada, dando a sensação de
que tudo que foi feito não foi o bastante, que poderia ter sido feito sempre mais e
melhor.
O mesmo autor acrescenta que ao estar presente com o paciente nesse momento,
o enfermeiro tende a compartilhar das mesmas emoções do paciente e da família,
trazendo a experiência pra si e seus parentes e chegando a uma conclusão que para ele
não é de fácil aceitação: por mais que eu lute, a Morte é parte da integrante da vida.
Esta é uma fase que com certeza todos os estudantes e profissionais da saúde
passarão (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Os profissionais de Enfermagem experimentam de maneira potencializada esses
sentimentos conflitantes, embora faça parte do cotidiano de trabalho, muitos
profissionais encontram dificuldade em encarar a Morte como um processo natural,
considerando-a como fracasso profissional (SILVA, 2009).
Para Cantídio et al., (2011) e Carvalho et al., (2006):
Desde tempos remotos, os profissionais da saúde, durante sua formação,
eram estimulados a demonstrar imparcialidade sentimental e atitude neutra na
relação com os pacientes e seus familiares, com o objetivo de se
resguardarem quanto aos seus temores e preservar sua autonomia na prática
do cuidado. Atualmente, os profissionais distanciam-se dos sentimentos por
meio da negação e assumem uma postura defensiva diante dos processos
intersubjetivos, especialmente durante o evento pouco bem-quisto pela
sociedade: o fenecer.
Os maiores problemas que enfrentam consistem, primeiro na falta de instrução
científica para o dado o momento; as condições de trabalho que, na maioria das vezes,
são precárias e falhas com enfermarias superlotadas e desorganizadas; jornadas de
trabalho que também são, por vezes, longas e cansativas. Todos estes fatores
contribuem para o estresse físico e mental do profissional, que se utiliza da indiferença
perante este momento, para se manter o mais saudável possível (SANTOS e BUENO,
2011).
A imparcialidade citada anteriormente tem sido a principal estratégia de
enfrentamento verificada na Enfermagem atualmente, o que se observa em Santos e
Bueno (2010), a Morte, tratada com indiferença, é conseqüência de um mecanismo de
defesa dos enfermeiros.
Assim, o cuidar do paciente grave pode se tornar impessoal, fato este às vezes
necessário para se manter a saúde mental, pois não estamos, culturalmente, preparados
para isto, e vemos na indiferença a melhor forma de nos precavermos dos impactos que
o processo da Morte causa. Conforme observa Silva e Ruiz (2003), negar e banalizar a
Morte é saída efêmera ao profissional de saúde, fazendo-lhe agir isento de
envolvimento emocional algum. Essa estratégia errônea confronta-o com as falhas de
suas defesas, perpetuando a sua angústia não expressa.
E como desenvolvemos um mecanismo de defesa e proteção contra o
sofrimento, o processo de morrer e Morte vai se tornando gradativamente trivial, isto é,
o distanciamento e endurecimento das relações frente à Morte e ao paciente terminal
vira algo, estranhamente, natural e considerado comum e rotineiro (MOREIRA e
LISBOA, 2006).
Estudos mostram que esse quadro de apresentado causa um problema de ordem
pública para o país, pois:
Essa dificuldade em se lidar com a Morte tem ocasionado uma gama de
problemas que atinge diretamente o sistema de saúde público e privado do
país, especialmente em virtude do adoecimento de seus profissionais.
Adoecimento este, decorrente do desgaste emocional, que favorece o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout2
, descrita como a reação final do
indivíduo face às experiências estressantes acumuladas ao longo do tempo de
2
Reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o
trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o
trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer
inútil.
determinada atividade laboral, obtendo uma modificação do cuidar,
produzindo na saúde, enfermeiros frios e indiferentes. (SANTOS E BUENO,
2011)
Se considerarmos que os profissionais de saúde e, entre eles, os enfermeiros,
têm sua formação acadêmica concentrada na preservação da vida, particularmente na
cura das doenças, tirando daí sua maior fonte de gratificação quando em seu cotidiano
de trabalho necessitam lidar com situações que envolvam o morrer e a Morte, é
compreensível que se sintam despreparados e tendam a se afastar delas (BELLATO et
al., 2007).
O sentimento de fracasso também se faz presente, por que a Morte lhes aparece
como algo que vem desmanchar tudo aquilo que se fez em prol do bem estar do
paciente. Muitas vezes estudantes e profissionais sentem-se impotentes diante da perda
do paciente que está sendo assistido ou reanimado. Esse fracasso não se traduz somente
como um fracasso nos cuidados prestados, mas como uma derrota diante da Morte e de
sua missão por ser um profissional da área da saúde, que é salvar o paciente, minimizar
sua dor e sofrimento, ou seja, trazer-lhe a vida. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; SILVA e
RUIZ, 2003)
2.4 A preparação do acadêmico para o processo de Morte morrer
Nos últimos anos, vários estudos sobre as concepções, reflexões, sentimentos, e
o preparo de estudantes de Enfermagem frente a situações que envolvem a Morte e o
morrer têm sido publicados, havendo consenso entre os pesquisadores de que pouca
atenção vem sendo dada à temática na formação do enfermeiro, acarretando
dificuldades e inadequações no enfrentamento dessas situações em seu cotidiano de
trabalho (VARGAS, 2010).
As publicações científicas acerca desta temática denunciam esse problema e
Vargas (2010), associa essas dificuldades à carência de preparo oferecida aos mesmos
no decorrer de sua formação, como também em suas práticas curriculares e
considerando o pouco preparo desses sujeitos para atuar frente a tais situações.
Genericamente, todo profissional enfermeiro trabalha com o intuito de evitar a
Morte em seus pacientes. Desdobramo-nos em cuidados e técnicas específicas de
cuidado e assistência para manter a vida dos clientes, posta em risco pela presença de
doenças ou também pela realização de procedimentos terapêuticos, pois o profissional
da saúde que convive mais de perto e freqüentemente com a Morte é o enfermeiro, pois
nós é que passamos a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado (OLIVEIRA
et al., 2006).
Para Oliveira e Amorim, (2008):
Vivemos em uma sociedade que nega a Morte e apesar dos enfermeiros
serem formados para salvar vidas, não se pode anular a necessidade de saber
lidar com a Morte. Neste caso, a Morte, apresenta-se como um fracasso ao
profissional, visto que este é treinado para salvar vidas e não para perdê-la.
Aliando a isso uma certa regra existente no mundo dos profissionais de saúde
que enuncia que o bom profissional é aquele que não se envolve emocionalmente com
seu pacientes, cria uma situação arriscada para estes profissionais: como lidar com a
Morte de um paciente e ainda por cima ajudar a família do mesmo na aceitação do
falecimento de um ente querido mantendo-nos distantes e indiferentes, sendo que nós
também somos mortais e os homens costumam refletir seu próprio fim nos outros?
(AGUIAR et al., 2006)
Carvalho et al., (2006), diz que:
“O profissional de saúde é finito como todo e qualquer outro ser humano, e
também passa por profundos dilemas existenciais quanto ao enfrentamento e
vivência da Morte em seu cotidiano de trabalho. Na maioria das vezes, esse
profissional, ainda como acadêmico, não foi estimulado ou preparado à
refletir sobre a Morte e o morrer, podendo ser pego de surpresa pelo pesar, e
mais, não oferecer uma assistência de qualidade, não conseguindo assistir a
pessoa que está morrendo e/ou sua família, em razão da Morte se configurar
como momento de grande sofrimento e fracasso da ação principal em manter
a vida.”
Segundo Lana e Passos (2008), aliviar o sofrimento ou ajudar uma pessoa a
morrer é um dos ofícios mais difíceis para o profissional.
Percebe-se então a suma importância que tem a preparação do acadêmico para a
Morte do paciente. Pois o cuidado humanizado e as relações humanas que necessitamos
implementar e desenvolver com nossos pacientes não é algo que pode ser improvisado,
ou feito de qualquer maneira. Por que é nessa hora que nos deparamos com o problema
lançado anteriormente: como ser humana e emocionalmente participativo na última fase
da vida de um paciente sem criar nenhum tipo de relação sentimental com o mesmo?
(LANA e PASSOS, 2008)
As escolas de Enfermagem têm por dever preparar os profissionais para o
processo de Morte morrer, para que, além de serem tecnicamente competentes em
realizar as técnicas necessárias, sejam capazes de lidar com seus próprios sentimentos,
perante o falecimento dos pacientes, e usá-los de modo deliberado e humanamente
sofisticados (BERNIERI e HIRDES, 2007).
Para Bretas et al., (2006):
A Morte incomoda e desafia a onipotência humana e profissional, pois os
profissionais de saúde são ensinados a cuidar da vida e não da Morte. Prova
deste fato é que na maior parte dos cursos de formação de profissionais, não
existe uma disciplina curricular que trate do assunto de forma não defensiva e
biologicista.
Por não ser um tema fácil, visto que muitas vezes, causa sensações de frustração,
tristeza, perda, impotência, estresse e culpa, é notório que a universidade , na posição de
instituição formadora, tem a obrigação de se preocupar e ter profissionais com
sensibilidade para que possam expressar seus sentimentos e aprofundar esta temática no
processo de ensino e aprendizagem.Nota-se que durante, é difícil o estudante ter
oportunidade para vivenciar um evento tão complexo (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).
O profissional de Enfermagem é educado para a vida e constata-se que o ensino
acadêmico preza e prioriza apenas o viver, esquecendo desse tema tão inerente à
condição humana, e que os enfermeiros sofrem sozinhos diante da batalha entre vida e
Morte, vendo-se muitas vezes impotentes, por não terem tido preparo suficiente para
intervir nessa hora (PINHO, 2008).
Tomamos como exemplo os pacientes portadores de câncer, uma doença que por
si só já é debilitante e traz muito sofrimento à pessoa deixando-a muito dependente dos
outros. Aqui se discute se um profissional recém-formado vem preparado para estar
junto desse paciente prestando-lhe o cuidado pertinente e resguardando-se do impacto e
das conseqüências psicológicas da possível Morte do mesmo (PINHO, 2008).
Pautados nesse ponto Oliveira e Amorim (2008), questionam-se: como está
sendo a preparação emocional desses discentes, ao enfrentarem esse processo. Será
que os estudantes aprenderão a trabalhar seus sentimentos de insegurança,
incapacidade, constrangimento, culpa, angústia, sofrimento e dor?
De acordo com Moreira e Lisboa (2006), o ensino de Enfermagem é baseado,
principalmente, na aprendizagem das técnicas de cuidado, no saber fazer. Técnicas de
prevenção, promoção, cura e reabilitação que possuem protocolos fixos, que orientam
passo a passo. Todos os procedimentos são ensinados e o aluno sai preparado para a
ação e geralmente a parte reflexiva da profissão fica a desejar.
Ideia que é reforçada por Júnior e Eltink (2011), ao dizer que no curso de
Enfermagem também são mais enfatizados os aspectos técnicos e práticos da função de
enfermeiro. Há pouca ênfase em questões ligadas à emoção e na preparação para lidar
com o assunto Morte.
Os estudantes de Enfermagem são treinados para desenvolver uma relação com
o paciente segundo os modelos descritos nos livros de Enfermagem que põem o hábito
de cuidar com algo essencial e puramente bom e que só trará benefícios para o paciente
e o profissional, pois:
“o cuidar ajuda a evitar doenças, a promover a saúde, curar ou ajudar os
vulneráveis, educar a população e elevar as relações humanas a experiências
gratificantes de prazer, segurança, confiança, crescimento e atividade
produtiva. Amor, ódio, medo, felicidade, raiva, prazer, ou qualquer outra
emoção humana podem receber os efeitos produtores de crescimento,
geradores de energia, motivadores e, consistentemente, positivos do cuidar.
Todos os demais sentimentos humanos possuem efeitos potencialmente
negativos, bem como positivos, mas o cuidar, por sua natureza e definição, é
somente e sempre positivo. (OLIVEIRA, BRETAS e YAMAGUTI, 2007)
Assim como em Cantídio et al., (2011), que registrou que ainda na graduação,
os estudantes são preparados para salvar vidas, aprendem que a Morte deve se afastar
de todas suas vivências e que o finamento não representa o enfoque da vida acadêmica.
E reforçou essa premissa, ao afirmar que...
“apesar de lidar com pessoas, os estudantes vivem como se manipulassem
objetos ou coisas, separam completamente o corpo biológico do indivíduo e
sacrificam suas emoções ao não se permitirem o envolvimento com os
pacientes assistidos e seus familiares, deixando a sensação de trabalho
frustrante e incompleto, frente aos experimentos inúteis de evitar o término
da vida.(CANTÍDIO, et al., 2011)”
Os aspectos psicossociais da Morte não estão incluídos na matriz curricular dos
cursos de Enfermagem e, quando abordados, ocorrem de maneira superficial e
assistemática. Além disso, as disciplinas, como Enfermagem Médico-Cirúrgica,
Fundamentos de Enfermagem e Psicologia tratam da temática de forma incipiente,
prevalecendo à abordagem tecnicista em detrimento da humanização do cuidado em
todas suas dimensões (CANTÍDIO, et al., 2011).
Estudos já comprovaram que realmente há uma deficiência na grade curricular
das instituições superiores, quando o assunto é ligado à temática do fim da vida. Na área
da Enfermagem, pouca atenção é dada à questão pelas instituições formadoras que pode
ser constatada quando se considera o resultado de pesquisa realizada com estudantes de
escolas de Enfermagem brasileiras que constatou que mais de 40% da população do
estudo revelaram não ter aulas sobre o tema Morte e morrer em suas escolas, e os que
informaram a existência de tais conteúdos, relataram que o assunto é abordado, como
um subtema de uma disciplina ou matéria principal e varia entre 30 minutos e 10 horas
(VARGAS, 2010; CARVALHO et al., 2006).
Cantídio et al., (2011), revela em seu trabalho que alguns acadêmicos apenas
recordam que o tema foi discutido em algumas disciplinas, porém de forma insuficiente
para tal abordagem, declarando terem sido simplistas as discussões e os conteúdos
curriculares sobre a Morte, durante a formação.
Em consequência disso, o preparo do estudante ainda enfatiza o lidar com a vida
no que tange aos aspectos técnicos e práticos da função profissional, com pouca ênfase
em questões emocionais e na instrumentalização para o duelo constante entre vida e
Morte e mesmo diante do enfrentamento de situações de Morte durante as práticas
curriculares, não tem sido oportunizado ao aluno sequer a discussão dessas situações.
(VARGAS, 2010; BELLATO et al., 2007; BERNIERI e HIRDES, 2007)
Com essa falha o acadêmico, digamos que seja preparado apenas para o lado
bom do exercício da profissão, para as situações em que tudo vai dar certo, e o paciente
se recuperará perfeitamente e voltará para casa, sadio, e é esquecida a outra
possibilidade em que todos os esforços, literalmente serão em vão, pois o cliente
faleceu. Então, essa falta de reflexão leva à frustração do estudante e reforça o
sentimento de fracasso frente à ação principal em manter a vida (VARGAS, 2010;
BRÊTAS et al., 2007).
No cotidiano da vida acadêmica, emergem sentimentos de frustração e culpa que
fazem com que o estudante sinta-se despreparado e afaste-se do enfermo com Morte
iminente, quando se depara com essa situação no cumprimento das práticas curriculares.
Os sentimentos de frustração e culpa caracterizam-se pela impotência, tristeza, medo e
indiferença, sendo o distanciamento desse tipo de paciente uma estratégia utilizada
pelos estudantes para amenizar a situação (VARGAS, 2010).
Cantídio et al., (2011), defende que...
“Para os futuros profissionais atuarem durante a finitude, desenvolvendo suas
ações com competência, eficácia e sensibilidade, necessita-se de preparo no
decorrer do processo de formação. Para isso, as instituições de ensino devem
ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar e lidar com
pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento teóri-
co-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações
importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim
de proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos. Não bastam novas
disciplinas ou incorporações de conteúdos sobre o tema da Morte para
ensiná-la na formação. É necessário, sobretudo, reflexões sobre o sentido da
vida e do cuidar, para que se abra espaço à construção do processo
ensino/aprendizado.
Autores como Cantídio et al., (2011); Silva (2009), e Costa e Lima (2006),
apontam para a necessidade da formação de grupos de estudos e discussões como
estratégia para minimizar a ansiedade da equipe em relação ao confronto com a Morte e
suas dificuldades.
O acadêmico, muitas vezes, não é estimulado a refletir sobre o extinguir da
vida, podendo ser tomado de forma abrupta pelo pesar, e mais, não conseguir prestar
assistência de qualidade e com a abordagem da integralidade (CANTÍDIO et al.,
2011).
No hospital, na hora do exercício profissional são à hora e lugar que exigirão do
estudante uma postura livre de tabus, conceitos ou religião, e participativa numa relação
de ajuda e cuidado, pois se não há um preparo emocional e psicológico para os
profissionais lidarem com esse assunto, dificilmente eles terão uma postura adequada
diante da Morte. (AGUIAR et al., 2006)
É importante a reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que
sejam inseridos momentos de vivência e reflexão acerca da perda e do luto, para que os
profissionais não se sintam despreparados e desamparados ao lidarem com a realidade
hospitalar (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
O estágio supervisionado é um momento ideal, onde essas discussões podem ser
abordadas, pois é nesse momento que acadêmico tem os primeiros contatos com os
casos reais e a possibilidade de se deparar com a Morte, é maior. Bernieri e Hirdes
(2007), destacam a importância dessa discussão sobre a Morte, também no campo de
estágio:
“como forma de confrontar a teoria com a prática onde os alunos
presenciariam e/ou vivenciariam as experiências trocadas nos debates, e daí
tirariam suas conclusões, onde cada um formularia sua opinião, estando mais
preparado para o enfrentamento da situação fora da faculdade, seja no
exercício da profissão, seja na vida pessoal.”
Pinho (2008), relata que a inclusão de uma “educação para a Morte” em cursos
de Enfermagem mostrou resultados relevantes e sugeriu que essa educação permeie
todo o curso em seus períodos teóricos e práticos, além do que, projetos dessa natureza
fossem incluídos no currículo de enfermeiros assistenciais.
Recomenda-se que sejam incentivados estudos sobre essa temática nas
instituições de ensino superior, como estratégia para que a prática do assistir no
processo de morrer seja humanizada e a fim de que se desvele o fenômeno da Morte em
todo o ciclo de vida. Pois caso contrário, corre-se o risco de perpetuar a inadequação do
enfermeiro frente ao indivíduo com Morte iminente, negando não só a Morte, mas,
desrespeitando a dignidade da pessoa que está morrendo e descumprindo o juramento de
respeitar a vida desde a concepção até a Morte (VARGAS, 2010).
3. METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa
Este trabalho trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem
qualitativa. A pesquisa descritiva tem como foco a descrição das características de
certas populações ou fenômenos, como também o estabelecimento de interações entre as
variáveis. Já no caráter exploratório, a pesquisa tem como finalidade, desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas
mais preciosos ou hipóteses pesquisáveis para novos estudos (GIL, 1999).
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis e justifica-se por ser um meio adequado para atender a
natureza de um fenômeno social (OLIVEIRA e AMORIM 2008).
3.2 Cenário do estudo
A coleta de dados realizou-se na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
no primeiro semestre de 2012, no mês de julho.
Segundo o Estatuto da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, criada
pela Lei nº 4.400, de 30 de dezembro de 1981, com sede e foro na cidade de São Luís,
Estado do Maranhão, reorganizada conforme Leis nº 5.921, de 15 de março de 1994 e
5.931, de 22 de abril de 1994, alterada pela Lei nº 6.663, de 04 de junho de 1996, é uma
Autarquia de regime especial, pessoa jurídica de direito público, inscrita no Ministério
da Fazenda sob o CGC nº 06.352.421/0001-68 (UEMA, 2012).
Doravante denominada UEMA, rege-se pela Legislação de Ensino Superior, que
lhe for aplicável, por este Estatuto, pelo Regimento Interno e demais Resoluções dos
Órgãos Colegiados da Universidade. A UEMA goza de autonomia didático-científica,
administrativa, disciplinar e de gestão financeira e patrimonial, dentro dos limites que
lhe são fixados pela legislação em vigor (UEMA, 2012).
A autonomia didático-científica consiste no exercício de competência privativa
para estabelecer a sua política e os seus programas de ensino, pesquisa e extensão, criar,
modificar, fundir ou extinguir cursos e currículos plenos, conferir graus, expedir
diplomas e certificados, assim como outorgar bolsas, prêmios, títulos e outras
dignidades universitárias (UEMA, 2012).
3.3 População e Amostra
O público pesquisado compreendeu, ao todo, dez acadêmicos do Centro de
Estudos Superiores de Balsas, matriculados no primeiro semestre de 2012, uma amostra
escolhida aleatoriamente de acordo com a saturação de dados.
O Centro de Estudos Superiores de Balsas conta no primeiro semestre de 2012,
com 348 alunos matriculados nos cursos de graduação. Dentre estes, 98 estão
devidamente matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem (UEMA, 2012).
O critério de exclusão foi: não estar devidamente matriculado na disciplina, no
primeiro semestre de 2012.
Não houve benefícios imediatos, muito menos riscos para os participantes, que
foram informados que poderiam desistir do trabalho a qualquer momento. Entre
benefícios, pode-se citar a contribuição do trabalho em explorar este tem que se
percebeu não ser muito discutido na literatura.
3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa
Para a coleta de dados, foi necessária a aplicação de uma entrevista semi-
estruturada (Apêndice A) contendo quatro questões abertas e cinco questões que
caracterizaram os sujeitos. Após a análise dos dados, verificou-se a necessidade de
subcategorizar os resultados, para melhor dispor e estudar os resultados e com isso as
quatro questões abertas, acabaram sendo desmembradas em mais cinco subcategorias.
Os depoimentos foram gravados com o aplicativo “gravador de voz” de um
aparelho celular, por efeito de praticidade, a fim de garantir a integridade das falas dos
acadêmicos de Enfermagem. Posteriormente, as respostas obtidas foram transcritas na
íntegra. A coleta de dados priorizou as falas dos entrevistados.
3.5 Análise dos dados
A coleta de dados da pesquisa de campo realizou-se por sistema de amostragem
e por meio de auto-relato, através da gravação dos depoimentos dos entrevistados.
A análise dos resultados obtidos foi codificada, selecionada e categorizada
qualitativamente com base nos depoimentos colhidos. De acordo com Santos e Bueno (
2011):
“a palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos
ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa
palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas
para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa
agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de
abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser
utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa”
3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa
Para a efetivação desse estudo, inicialmente foi elaborado um projeto intitulado
por: A Morte sob a ótica do estudante de Enfermagem do CESBA/UEMA, o qual foi
julgado por uma banca examinadora, formada por professores da Universidade Estadual
do Maranhão – UEMA, que validou a execução desta pesquisa.
Cada participante foi esclarecido sobre os objetivos da pesquisa, forma de
coleta dos dados e de apresentação no relatório, garantindo o anonimato das
informações e a liberdade para integrar o grupo de participantes bem como de deixar o
estudo em qualquer momento; sua concordância foi formalizada pela assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Foram seguidas as normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, contidas na Resolução
196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Os sujeitos do estudo constituíram-se de 10 acadêmicos do Centro de Estudos
Superiores de Balsas, matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem no
primeiro semestre de 2012. Estes tiveram seus nomes substituídos por países do
continente europeu -Alemanha, Espanha, Grécia, Inglaterra, Noruega, Polônia,
Portugal, Rússia, Suécia e Suíça - por preferência do pesquisador.
Para Silva (2009), a expansão do conteúdo tanático em âmbito acadêmico e
profissional é de extrema relevância como meio de subsidiar e preparar o profissional
para assistência ao paciente em processo de morrer e permitir o autoconhecimento
para facilitar a aceitação da finitude da vida.
Sabendo de tal importância, os acadêmicos foram perguntados acerca de seu
ponto de vista sobre a Morte e sua relação com a Enfermagem. Alguns pontos como
sexo, idade, estado civil, ocupação e experiência com o processo de Morte, foram
utilizados para a caracterização dos sujeitos.
Quanto ao sexo, cinco entrevistadas eram mulheres o que correspondeu a 50%
do total de acadêmicos, e cinco eram homens que equivaleu aos 50% restantes.
A idade dos entrevistados predominou na faixa etária dos 20 aos 29 anos, na
qual nove sujeitos se encontravam (90%), nenhum tinha idade entre 30 e 39 anos (0%)
ou entre 40 e 49 anos (0%), o sujeito restante tinha dezoito anos e correspondeu a 10%
da amostra pesquisada.
Quanto ao estado civil, verificou-se que 90% dos alunos eram solteiros (a), ou
seja, nove alunos; e 10% eram casados, isto é, um aluno apenas.
Do total da amostra selecionada para o trabalho oito referiram quando
perguntados sobre sua ocupação, apenas estudarem (80%) e dois assinalaram que
estudavam e trabalhavam (20%).
Quanto ao perfil dos graduandos de Enfermagem, conclui-se a maioria encontra-
se na faixa etária entre 20 a 25 anos, do sexo feminino, solteiros, o que é congruente
com o perfil de estudantes de Enfermagem de outras instituições de ensino e amostras
utilizadas em outros tantos estudos (TAKAHASHI et al., 2008).
Na última questão para caracterização, questionou-se se os estudantes já tinham
presenciado ou não a Morte. Os resultados mostraram que a maioria dos acadêmicos já
tinha uma prévia experiência com a Morte (80%), ou seja, oito alunos; os dois restantes
(20%) declararam não terem a experiência de presenciar a Morte de uma pessoa.
Estudos como o Oliveira e Amorim (2008), que entrevistou sete acadêmicos
concludentes do curso de Enfermagem; e Júnior e Eltink (2011), que utilizou trinta e
dois acadêmicos dos 6º, 7º e 8º períodos do curso de Enfermagem, também
demonstraram que a maioria dos alunos de Enfermagem já presenciou ao menos uma
Morte, seja na família, na comunidade ou mesmo durante as práticas do curso.
4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de Morte para os acadêmicos
Falar de Morte requer uma dedicação especial, pois é característica do ser
humano atual renegar essa discussão seja por motivos pessoais, falta de conhecimento,
questões de cunho sentimental ou influências externas que todos sofrem, porém faz-se
importante que esse obstáculo seja enfrentado porque mesmo remetendo à ideia de fim,
de desconhecido é um ponto que não há como simplesmente evitar, dar as costas. Como
tudo ele tem um explicação e falar de Morte, não significa necessariamente andar em
círculos, ou intrometer-se em questões que não sejam de nossa alçada. É melhor
contemplarmos-o como um obscuro que pode esconder coisas muito interessantes.
A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir afirmar
verdades absolutas, pois, quando abordada, pode despertar curiosidade, provocar
desconforto e vem sempre acompanhada de muitas perguntas para as quais se encontra a
incontestável resposta de que o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a
certeza de que a todo nascimento associa-se um momento de fim (CANTÍDIO et al. ,
2011).
Além do que as influências sofridas pela pessoa, cumprem um importante papel
nessa hora: servem de base para as definições que cada um formula acerca da Morte. A
percepção que as pessoas terão dela (a Morte) dependerá do tipo da educação recebida,
experiências vividas e o contexto sociocultural onde cresceram, religiosidade , crenças e
conceitos de educação familiar (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Conceituar a Morte, não é tarefa fácil. Quando tocamos no assunto, vêm à tona
uma suma de opiniões e dúvidas, que olhadas a grosso modo parecem não levar a lugar
algum. E termina por induzir as pessoas a evitar o assunto, e apenas criar seu próprio
conceito, acreditá-lo e defendê-lo. Nessa categoria, identificamos três subcategorias:
Conceitos baseados na questão da finitude, Conceitos baseados na religião e
Conceitos baseados na ciência.
Subcategoria 1: Conceitos baseados na questão da finitude
 Suécia: Pra mim a Morte, é o fim da vida né? É a última, é o estágio
final da vida do ser humano, que é a Morte!
 Grécia: Natural da pessoa! Tipo, é a questão: a gente nasce, vive, acaba
sendo uma fase natural de cada ser humano.
 Inglaterra: [... ]É natural do ser humano,uma hora ou outra pode
acontecer.
 Portugal: Eu simplesmente acho que as pessoas vivem até que chega o
momento em que você vai parar de sentir... Enfim, um processo natural!
Observou-se que estes vêem a Morte como o fim, seja da vida, seja de um ciclo
dela, ou até mesmo de tudo e como um processo natural, que inevitavelmente acontece
e que uma definição para a Morte resume-se apenas no fato de que ela seria o fim dos
fins e após este “último fim” nada mais aconteceria ou até mesmo existiria. É a questão
antropológica já citada antes, na qual todo nascimento exigiria um finamento e a
questão estaria resolvida, não dando espaço para outros pensamentos que fugissem a
esse viés.
Para Júnior e Eltink (2011), a Morte vista como „etapa da vida‟ revela uma
compreensão da Morte enquanto um processo natural, relacionado ao desenvolvimento
humano.
 Rússia: É, pra mim a Morte é única certeza que a gente tem. Um dia a
gente vai ter que partir dessa, é... do que...de onde a gente ta hoje. Sendo que se
resume nisso!
A fala de Rússia reforça esse conceito associando o fim com o elemento certeza,
gerando uma definição simples e digamos também direta com a intenção de dar uma
aceitação mais fácil, uma vez que não exigiria muita reflexão e confronto de idéias,
vindo a entrar em consenso com a ideia mais presente na cabeça das pessoas, a de que a
Morte é a única certeza que temos. Para Pinho e Barbosa (2008), esse ponto acaba por
se tornar uma conscientização de nossa própria finitude e limitado período de vida.
Para Oliveira e Amorim (2008), e Moreira e Lisboa (2006), não há possibilidade
de se qualificar uma existência sem se conscientizar de sua finitude. A Morte, como um
processo natural, não pode ser desvinculada da vida, mas integrada a ela de forma a
valorizá-la.
Subcategoria 2: Conceitos baseados na religião
Para lidar com o fim da vida, algumas pessoas utilizam a crença como elemento
interveniente, revelando a interferência da variável espiritual na capacidade de
enfrentamento de situações envolvendo o fenecer (CANTÍDIO et al., 2011; BRÊTAS et
al., 2007).
A religiosidade foi presente em algumas respostas. Os acadêmicos basearam-se
em preceitos colocados por sua crença para dar seu conceito de Morte, o termo
“passagem”, como de um plano a outro, foi utilizado para significar a Morte.
Compreender a Morte com uma passagem demonstra uma concepção espiritual
do tema, em que a pessoa tem a Morte como transição entre o mundo material e o
espiritual, conceito tradicional do mundo religioso, amplamente presente no imaginário
das pessoas. Nesse sentido, a Morte aparece como transição, desvelando um sistema
representacional associado a crenças e convicções espirituais do ser humano, sendo
vista como um evento que ocorre com todos, supostamente desconhecido por ocorrer no
futuro (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
 Noruega: Que como a religião diz, seria a passagem da vida, daqui da
Terra, no caso para o céu, para o paraíso, não sei! Ou então, pode ser também um
alívio de um sofrimento, de uma pessoa.
 Espanha: A Morte significa uma passagem! De uma vida pra uma outra
vida que a gente não conhece!
 Grécia: Pra mim Morte, significa apenas uma passagem, né?
Depreende-se dessas respostas que os estudantes, procuraram conceituar a Morte
como algo que acontece com todos mas que não é tão severo, apavorante ou definitivo,
podendo vir até a melhorar a situação ou torná-la mais favorável ao ser humano, como
um alívio, uma mudança para algo mais feliz e recompensador, ou o contrário. Esse
pensamento é típico dos adeptos do cristianismo.
Para a civilização cristã e para boa parte dos judeus (aqueles que acreditam na
ressurreição) a Morte era vista como passagem para outra dimensão, a transposição ao
eterno sofrimento e expiação (inferno), ou o acesso ao eterno gozo, reservado aos bem-
aventurados (o paraíso). A Morte para os cristãos era um estágio intermediário, um sono
profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a
habitar os corpos (CAPUTO, 2008).
Subcategoria 3: Conceitos baseados na ciência
 Alemanha: Assim, no meu ponto de vista, eu acho que a Morte ela
significa quando a tua vida definitivamente acabou, ou seja, seu corpo
parou de funcionar, todos os seus órgãos pararam. Querendo ou não, eu
acabo pensando dessa maneira mais científica.
 Polônia: A Morte significa, não... não ter mais sinais vitais!
Vários estudos concluíram que os acadêmicos ao utilizarem premissas científicas
para delimitar a Morte, demonstram serem espectadores do processo. Percebeu-se que
eles buscaram na exatidão da ciência e nos conceitos médicos comprovados uma
justificativa incontestável e prática para o evento, não se atendo apenas à cessação da
função cardíaca, mas de todos os órgãos, quando não se teria mais a menor dúvida da
consumação do processo. Acredita-se que a já adiantada preparação acadêmica possa ter
condicionado estas opiniões.
Nessa representação, a Morte é decorrência e faz parte da vida,
despersonalizada, não é de ninguém, é de toda humanidade. Associar a visão de Morte
como um evento biológico, referindo-a a partir de conceitos médicos como a cessação
de todas as funções vitais e não apenas de uma parada cardíaca, leva o processo a ser
entendido como natural; e as pessoas, a serem observadoras do seu processo de morrer
(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007).
4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e os que eles sentem perante a Morte
Essa categoria trata de um ponto muito discutido nas literaturas referentes, que é
o dos diversos sentimentos expressos pelos estudantes perante um processo de Morte.
Sentimentos estes que, na maioria das pesquisas, são condicionados principalmente pelo
nível de ligação do acadêmico com a pessoa que morre, seguido das condições da
pessoa, onde podemos considerar a idade, por exemplo.
O estudo de Júnior e Eltink (2011), aborda isso claramente quando afirma que os
acadêmicos associam a experiência da Morte a vários sentimentos tais como ansiedade,
medo, apego, culpa, e até mesmo uma postura de indiferença, como se estivesse
indiferente à situação, ou seja, o profissional não sentiria nada com a perda do paciente.
As respostas dessa unidade foram divididas em três subcategorias: Os que
sentem medo da Morte e as conseqüências desse sentimento, Os que sentem
tristeza associada à proximidade com a pessoa e, A indignação perante o evento da
Morte.
Subcategoria 1: Os que sentem medo da Morte e as consequências desse sentimento
O medo é a resposta psicológica mais comum diante da Morte. O medo de
morrer é universal e atinge a todos, independente da idade, sexo, nível socioeconômico
e da religiosidade (JÚNIOR e ELTINK, 2011; OLIVEIRA et al., 2007).
 Suíça: Medo! Medo porque eu acho que o ser humano ele tem medo do
que não conhece né? Eu acho que o sentimento que eu tenho a respeito da
Morte, é medo!
 Suécia: Assim, todos nós temos medo da Morte né? Principalmente da
Morte daquelas pessoas que a gente gosta. Assim eu sinto angústia, quando
eu penso em Morte eu sinto angústia.
 Alemanha: É... Assim, em relação à Morte eu acho que... Às vezes eu
tenho medo![...] Eu tenho medo da Morte, no meu ponto de vista!
 Noruega: Eu sinto pavor (risos), sinto pavor, eu não gosto assim da
Morte, acho que é uma coisa assim que traz muito sofrimento.
As respostas comprovam o dito pelo autor anterior. O medo constitui-se no
principal sentimento apresentado pelos acadêmicos perante a Morte e analisando mais a
fundo percebe-se que este sentimento está aliado a uma condição imposta pelo próprio
processo, que pode ser ou o desconhecimento acerca do pós-Morte, ou o sofrimento que
ele causa e suas conseqüências ao acadêmico.
Em Cantídio et al., (2011), distante e, por vezes, alheia às vidas humanas, a
Morte ausenta-se do quotidiano, sendo relacionada a elementos de “fascínio” e
“mistério” ou afastada, repudiada e até escondida.
O temer a Morte por ela ser de fato uma incógnita, é uma reação muito freqüente
e a fala de Suíça mostra isso, quando o acadêmico relata que seu medo é baseado na
parte desconhecida da Morte. Brêtas et al., (2007), e Júnior e Eltink (2011), dizem que
ver a Morte como algo desconhecido traz a tona um medo emotivo, que ao mesmo
tempo amedronta e provoca um certo fascínio, pois o desconhecido dá, à pessoa, a
possibilidade de descobrir algo novo, que pode vir a ser mais instigante até que a
própria vida.
O sentimento de angústia, provocado pelo medo da Morte, dito por Suécia
reflete uma preocupação do aluno consigo mesmo, com a sua finitude. Essa angústia
pode ser condicionada por uma preocupação que surge quando o aluno reflete sobre seu
próprio fim, ao presenciar a Morte de outrem, na qual surgem perguntas sobre: Quando
morrerei?; Como será a minha Morte?; Morrerei jovem?; A minha Morte vai fazer com
que os que amo sofrerem?
Reagir dessa forma a uma experiência de Morte leva a pessoa, gradativamente a
negar a Morte, como um meio de se defender das reações que ela causa. A pessoa sente-
se controladora de seus sentimentos, porém por outro lado há conseqüências bem mais
graves, como refere Brêtas et al., (2008), entretanto, uma perda seguida de precária ou
má elaboração do luto – não se permitindo a expressão da tristeza e da dor – tem
trazido graves conseqüências como a maior possibilidade de adoecimento.
Custódio (2010), também reforça essa opinião, pois para ele o uso repetido e
prolongado da negação, pode trazer problemas como dificuldades emocionais, e assim
como patologias de ordem psicológica.
Noruega afirmou que a Morte está sempre atrelada ao sofrimento e que por isso
tem pavor e não gosta definitivamente dela. A Morte constitui ainda um acontecimento
medonho, que traz muito sofrimento e que choca (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).
Estudos comprovam que esse repúdio (notado na fala de Noruega) da Morte é
inerente ao fato de que ao perder entes queridos a aluna sofre, devido ao rompimento
dos laços afetivos e de convivência e esse acontecimento é que acaba por causar tal
reação da pessoa. Ela costuma sofrer muito durante o momento e acaba por rejeitar o
processo.
A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente
dolorosas que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experencia, como
também para quem a observa, ainda pelo fato de sermos tão impotentes para ajudar
(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007).
Bernieri e Hirdes (2007), reforça a conclusão afirmando que a experiência da
perda é dolorosa, ameaçadora e solitária, podendo gerar nos indivíduos diversas
reações emocionais, como negação, raiva, choque, inércia, ansiedade, depressão e
angústia espiritual.
Subcategoria 2: Os que sentem tristeza associada à proximidade com a pessoa
A tristeza, junto com o medo também é uma reação muito comum em quem
vivencia uma Morte, só que diferindo deste, ela muda de acordo com a característica da
pessoa que se vê morrer, podendo ser intensa (no caso de entes queridos), ou leve e por
vezes até inexistente (no caso de desconhecidos). Esse último ponto toca no assunto
muito discutido dentro da Enfermagem, o não envolvimento emocional intenso com os
pacientes (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Ao estar presente no momento da Morte de um paciente, o aluno se envolve
emocionalmente, não interessando o grau deste envolvimento e a intensidade da emoção
gerada, respondendo de maneira particular à estrutura de cada um (BERNIERI e
HIRDES, 2007).
 Espanha: É relativo! Depende da pessoa que morre! Mas em geral, sente
uma tristeza, mas isso não influencia no atendimento ao paciente, aos demais, e
a continuação do trabalho.
 Grécia: Questão de sentimentos, o principal é tristeza, né? E aí, isso vai
depender muito até da proximidade que a pessoa tem comigo.
Notou-se, a partir das representações desses estudantes, que eles têm em mente a
regra que pondera no mundo profissional da saúde, que enuncia que o bom profissional
não se envolve emocionalmente com os pacientes. Esse pensamento de que a
proximidade condiciona o nível de tristeza que eles declararam sentir perante a Morte
dos pacientes dá a impressão de que o acadêmico já desenvolveu certa frieza, diante do
processo, mas na verdade é que essa reação esconde um escudo que tem como objetivo
a autopreservação do graduando, justificada quando Espanha confessou que apesar de
sentirem um pouco de tristeza o trabalho não chega a ser comprometido, e logo aquela
perda é, digamos, superada e o trabalho continuado.
A mesma conclusão é encontrada no trabalho de Júnior e Eltink (2011), quando
citou que essa atitude do graduando aparece como um mecanismo de defesa, adotado
por muitos profissionais de Enfermagem também, que o utilizam, para buscar uma
autopreservação, ou seja, para evitar sentimentos indesejáveis diante do sofrimento
provocado pela Morte de um paciente sob seus cuidados.
Subcategoria 3: A indignação perante o evento da Morte
A fala de Portugal chamou atenção por revelar um pensamento pouco comum em relação ao mo
alcançar suas metas, ou seja, aproveitar a vida.
 Portugal: Olha, falar em Morte você de certa forma, você tem planos pra
uma vida e você vai ter que interromper eles. Então não é medo da Morte, eu
diria que é o sentimento de você não poder concretizar sonhos futuros...
Na verdade, o pesquisado tem medo de morrer jovem e essa visão relaciona-se
com uma ideia já discutida anteriormente no trabalho. A Morte hoje em dia é vista como
um fracasso, uma derrota. Pois o homem sente que precisa crescer, produzir, contribuir
para o progresso, atender às expectativas que lhe são esperadas e para isso teria que
viver muito, para ter tempo de realizar tudo isso. E a Morte seria como um obstáculo,
que simplesmente poria fim a todo esse projeto maravilhoso de vida, daí entende-se essa
revolta com ela, dando a impressão, com isso, de que a Morte seria então injusta.
O medo de morrer cedo está relacionado à interrupção prematura da existência
humana, ou seja, deixar de viver antes da concretização de um determinado projeto de
vida (OLIVEIRA et al., 2007).
Reforçando isso, acredita-se que a Morte vinculada à ideia de finitude pode vir
acompanhada de tristeza e revolta e/ ou indignação, pois ela interrompe a vida e reflete
o ato de pensar na Morte fora de hora (JÚNIOR et al., 2011; GUTIERREZ e
CIAMPONE, 2007).
4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a Morte
Estar ou não, preparado para a Morte é uma questão muito subjetiva, e que não
permite um julgamento definido, pois como já foi citado anteriormente, as visões de
Morte são muito influenciáveis e dependentes demais do tipo de pessoa, da maneira
como ela viveu e das experiências que teve. Porém a ideologia do curso, por se focar na
pessoa em todos os seus aspectos, termina por exigir que a pessoa inserida nessa área,
pense e tome um partido, porque se pauta na filosofia do cuidar e acaba por sujeitar o
indivíduo a confrontar com este momento certo (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008;
LANA e PASSOS, 2008).
Essa característica, inerente da Enfermagem, de estar mais próximo do
paciente, é o que obriga o acadêmico a preocupar-se com o Morte-morrer, pois somos
nós que temos mais chances de presenciar o finamento dele, uma vez que passamos
bem mais tempo com eles e temos bem mais chances de estarmos presentes no dito
momento (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).
Verificou-se em Oliveira et al. (2006)
“Se tratando de Morte, hoje em dia, pode se dizer que as pessoas morrem
mais nos hospitais do que em casa, e nenhum outro profissional da saúde
convive tão de perto e tão freqüentemente com a Morte do que o Enfermeiro,
pois é ele quem passa a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado”
Esta unidade foi dividida em duas subcategorias: Os que se consideram
preparados e, Os que não se consideram preparados. Por conseguinte, discutir-se-
irá as justificativas dadas pelos acadêmicos.
Subcategoria 1: Os que se consideram preparados
 Polônia: Hoje sim, eu me sinto! Por que eu já passei por Mortes de
pacientes, já tive desde o início depois eu tive o estágio, mas na faculdade não
tive preparação nenhuma pelo menos na prática.
 Grécia: Preparado, eu acredito que sim! É, a gente na formação
acadêmica realmente a gente não recebe um preparo psicológico pra lidar com
a Morte, mas o pouco tempo que eu tenho de estágio foi o tempo que eu tive de
viver isso no hospital me ajudou muita a me preparar psicologicamente pra
lidar com a Morte do paciente
 Alemanha: Sim! Eu acho... Eu me sinto preparado! Eu acho que,
infelizmente, a gente não teve uma preparação durante nossa vida acadêmica,
mas pelas vivências de estágio, até pelo perfil do profissional da área da saúde,
você meio que acaba entendendo a Morte como um processo natural.
 Inglaterra: Sim, acredito que sim, porque eu me considero assim uma
pessoa fria.
Quando questionados se sentiam-se preparados para o Morte morrer,a maioria
dos alunos respondeu claramente: Sim! E as justificativas mostraram que estes
acadêmicos não vêem a Morte dos pacientes como algo tão arrasador assim, mas que é
esperado. Isso deixa transparecer que eles já possuem meios que utilizarão para se
comportar e superar esses momentos. Tais meios podem compreender: experiências
pessoais ou a própria personalidade de cada um.
Custódio (2010), defende que para que o profissional consiga se preparar para
a Morte dos pacientes, ele precisa compreender e aceitar a Morte como algo inevitável.
Inglaterra quando relatou [...] acredito que sim, porque eu me considero assim
uma pessoa fria, confessou que utiliza essa característica de sua personalidade para de
alguma forma se esquivar dos sentimentos que poderiam advir da experiência e de certa
forma reluta em pensar na situação, criando um mecanismo que o protege das
conseqüências emocionais que ele poderia ter naquela hora.
Takahashi et al., (2008), e Costa e Lima (2005), afirmam que “eles” (os
profissionais de Enfermagem) acreditam que sua postura deva ser firme e que
reconhecer o seu sofrimento significa ferir sua índole. Ainda há a visão de que o
profissional deva ser “frio” ou indiferente na situação de Morte.
Já, Polônia, Alemanha e Grécia justificaram que o campo de estágio e as
experiências vividas durante ele, foi o que lhes proporcionou adquirir preparo
necessário para assistir à Morte dos pacientes. Ao mesmo tempo, acusavam que a
academia não havia proporcionado até então nenhuma oportunidade de preparo para o
evento, o que leva a crer que o fator sorte, foi o que lhes propiciou atingir este preparo,
pois tiveram a oportunidade de ver pacientes morrerem durante o estágio
supervisionado.
Essa denúncia de que a faculdade não prepara os alunos é vista nos trabalhos
sobre o assunto. Um exemplo é a conclusão encontrada em Takahashi et al., (2008): Os
graduandos esperam que o curso de graduação em Enfermagem ofereça subsídios
básicos para o enfrentamento de situações como a Morte, sendo verificada essa
necessidade em todos os anos.
Também em Bernieri e Hirdes (2007), estudos sobre Morte-morrer demonstram
que a justificativa do despreparo em lidar com tal fenômeno é atribuída muitas vezes à
formação acadêmica, e salientam ainda que a graduação continua a não preparar os
profissionais para vivenciarem o processo.
Aguiar et al., (2006), acrescenta mais a essa conclusão quando relata que essa
lacuna deixada pela faculdade, que se preocupa apenas com o tecnicismo pertencente ao
momento, deixando de lado a parte psicológica a fim de que a vivência prática se
encarregue de instruí-los quanto a isso, acaba por fazer com que os alunos sintam-se
despreparados.
Subcategoria 2: Os que não se consideram preparados
A ideia de que cada caso é único e não depende apenas de preparo universitário,
e até mesmo uma postura de desistência, preferindo acreditar que nunca se estará
preparado para tal e que a Morte é inevitável foi marcante nas falas dos que se
consideraram não-preparados para presenciar a Morte.
Tudo isso nos leva a crer que é indissociável a formação profissional da
formação pessoal. O despreparo já se faz sentir na própria bagagem de vida,
percorrendo os caminhos da educação, perpetuando se através do curso de formação
em Enfermagem que ora fazem (OLIVEIRA et al., 2007).
 Rússia: A gente nunca tá preparado, mas de certa forma a gente tem que
tá psicologicamente bem, pra aceitar isso na hora que chegar.
 Suíça: Eu vou ta preparado pra quando acontecer, pra quando o
paciente morrer na minha frente? Eu acho que não vou ta! Porque depende de
como eu vou estar no momento!
Essa impossibilidade de se haver um preparo para que os alunos presenciem a
Morte dita pelos estudantes é citada em Custódio (2010), que afirma que, entretanto,
apesar da implementação por modificações, ainda existem estudantes que ao final do
curso, declaram-se ainda incapazes e imaturos para abordar a Morte dentro da
profissão.
A fala de Rússia tem uma justificativa que nos leva a crer que a acadêmica não
vê a Morte como um insucesso e demonstra já estar convencida da inevitabilidade do
processo, como foi discutido na subcategoria antecedente, e sugere que só é preciso se
estar psicologicamente bem na hora que conseguimos aceitar mais facilmente o
acontecimento, e consequentemente prestar uma assistência mais completa e
humanizada.
O fato de os estudantes de Enfermagem não perceberem o a Morte como um
fracasso se faz importante, pois se afere que eles a consideram como um processo
natural, e isso contribui para que prestem uma assistência mais efetiva e humanizada ao
indivíduo naquele momento (CUSTÓDIO, 2010).
Suíça disse que não se considera preparado, por que esse fato dependeria do
estado emocional que ele estivesse na hora. Pode acreditar que este estado emocional
possa estar submetido então à ligação que o acadêmico possa ter desenvolvido com o
paciente, no caso se o aluno se apegou ao paciente, o que é muito comum.
Para Júnior e Eltink (2011):
“Quando nos relacionamos e gostamos de alguém sempre vamos deixar algo
a essa pessoa e, consequentemente vamos guardar um pouco dela também,
pois sempre haverá sentimento, e o cuidar é fazer parte da vida de uma
pessoa que precisa da gente, assim de um jeito ou de outro começa a fazer
parte de nossas vidas e assim é difícil não ter algum sentimento por essa
pessoa e quando se depara com a Morte há uma descarga de emoções, afetos
e sentimentos, mesmo que seja dor, saudade, ou mesmo alívio por ver que
aquela pessoa estava sofrendo muito.”
Ou então, relacionada ao quadro ou às características do paciente, estudos
mostram que os alunos têm mais facilidade para lidar com a Morte de pacientes idosos
do que com a de pacientes jovens.
A percepção dos acadêmicos está diretamente relacionada às vivências pessoais
de cada um deles, sendo necessário levar em consideração a idade daquele que padeceu,
se era jovem ou velho (CANTÍDIO et al., 2011; BERNIERI e HIRDES 2007).
É mais fácil a aceitação da Morte quando se trata de um adulto ou idoso, a
maioria dos entrevistados usaram a idade como um dos itens que mais dificulta ou
facilita a aceitação (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Para eles a Morte de uma criança ou jovem traz sentimentos de revolta, pois uma
tenra vida cheia de felicidade, vivacidade e possibilidades, foi interrompida de maneira
cruel e injusta. Já quanto à Morte na velhice sobressai-se a tendência humana de
considerar uma Morte já esperada e aceita, pois após muitos anos de vivência seria
como se a pessoa já estivesse pronta para o falecimento. Nesse caso, a terminalidade é
vista como descanso, após a pessoa ter percorrido toda uma trajetória e vivenciado
múltiplas sensações (Cantídio et al., 2011).
4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido
Nesta categoria objetiva-se, principalmente, discutir sobre a inclusão de ações
que pretendessem preparar os alunos, ainda durante o período acadêmico para as
questões e situações que envolvam a Morte. A análise das falas dos entrevistados
buscará saber o que os alunos opinam acerca desse ponto e se eles acham importante, ou
não, a inclusão de uma disciplina específica para o estudo da Tanatologia.
Vários estudos analisados , acerca dessa temática, realçam que a faculdade tem
um papel imprescindível como preparadora dos alunos para a Morte. Os conhecimentos
teóricos-técnicos e as práticas, ou seja, todo o estudo focado nessa área é muito
importante para preparar o estudante de Enfermagem para a prestação da assistência
necessária ao paciente em processo de fenecimento (CANTÍDIO 2011; CUSTÓDIO,
2011; SILVA, 2009; BERNIERI e HIRDES, 2007).
Acrescenta-se também que este preparo universitário deva abranger também
conteúdo que possibilitem ao aluno preparar-se psicologicamente para a experiência,
minimizando seus medos e diminuindo a tensão (JÚNIOR e ELTINK, 2011).
Os pesquisados, em suma, concordaram que inclusão de uma disciplina se faria
de grande importância a fim de prepará-los para a assistência à Morte. Esse fato
converge com o encontrado nas literaturas, onde é expresso que os alunos sentem falta
de um preparo maior e mais eficaz, por parte da academia, para as questões que
envolvem o fim da vida.
Para Custódio et al., (2011), alguns recordam que o tema foi discutido em
algumas disciplinas, porém consideram insuficiente tal abordagem, declarando ser
simplistas as discussões e conteúdos curriculares sobre a Morte durante a formação.
Bernieri e Hirdes (2007), concluíram que os acadêmicos de Enfermagem
percebem uma carência no que diz respeito ao preparo deles para vivenciar o processo
Morte-morrer, sendo esta carência relacionada principalmente à questão emocional.
Apesar de algumas universidades oferecerem disciplinas que abordam a temática
da Morte, todos os estudos demonstraram que os alunos carecem de reflexão e
discussão, a fim de se desnudarem dos pré-conceitos socioculturais ocidentais
vivenciados desde a infância (SANTOS e BUENO, 2011).
Esta categoria apresentou uma concordância entre as respostas dos alunos,
excetuando-se uma que não apresentou requisitos básicos de lógica para ser analisada e
foi descartada. Não houve subcategorias definidas e as respostas foram todas
convergentes em concordar com a premissa proposta.
 Alemanha: Sim! [...]Eu acho que seria interessante pra ver como é que
fica a etapa psicológica também, pra gente, principalmente o enfermeiro que
tem esse lado psicólogo pra ele poder entender melhor esse processo e
trabalhar de maneira mais holística.
 Rússia: Com certeza! É, tendo uma disciplina nessa área, de certa forma
vai preparar bastante os acadêmicos pra quando vivenciarem isso. É, como eu
disse, principalmente trabalhando o psicológico deles.
Alemanha e Rússia concordam com o proposto pelo trabalho que incluir uma
matéria que abordasse o preparo para a Morte é importante e suas falas são justificadas
pela preocupação que os acadêmicos têm com a parte psicológica exigida do
profissional enfermeiro para o momento, pois para eles esse profissional tem uma faceta
que trabalha com o lado mental dos pacientes, seja apoiando-o e fornecendo
conscientizações acerca do seu quadro e prognóstico. Ainda, para Alemanha, esse
preparo voltado para o lado psíquico, proporcionaria um cuidar, nas palavras do
estudante, mais holístico.
A preocupação de Alemanha pode ser verificada em Cantídio et al., (2011), as
instituições de ensino devem ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar
e lidar com pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento
teórico-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações
importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim de
proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos
Assim como em Júnior e Eltink (2011), ao afirmar que é importante a
reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que os profissionais se
sintam preparados emocionalmente e psicologicamente para lidar com esse assunto.
O diálogo com os familiares do paciente terminal, bem como o acolhimento, o
conforto, o suporte, e até mesmo a própria preparação para comunicar aos familiares a
Morte de seu ente querido, torna-se um processo difícil, com o qual alguns acadêmicos
referem não saber como lidar. (BERNIERI e HIRDES, 2007).
 Inglaterra: Eu acredito que sim, acredito que seria importante uma
matéria pra estar pra tá preparando mais, nós como acadêmicos situações
como essa [...] principalmente envolvendo familiares, pra abordar os
familiares que acredito que seja a parte mais complicada. Seria essa
“abordação” dos familiares.
 Noruega: Eu acho que teria que ter, até... É tanto pelo fato de ter mesmo
uma preparação do acadêmico, quanto também pra ter uma assistência à
família.
Inglaterra e Noruega acreditam que essa disciplina deveria ser implantada, pois
eles se preocupam com, como irão tratar a família do paciente que foi a óbito e
salientam que isto é o que mais lhe faz falta, posta a falta desse aprendizado, por falha
da Universidade.
A família do paciente se constitui numa preocupação enorme para os acadêmicos
de Enfermagem, que se preocupam muito em dar um suporte emocional aos parentes no
caso de um paciente vir a morrer.
Inglaterra mostra-se preocupado com a abordagem da família na hora de
anunciar e apoiar à família. Tal interação só é viável se o profissional desenvolver uma
aproximação e empatia com os entes do paciente, usando de sua competência, para se
comunicar de forma humilde com eles (BERNIERI e HIRDES, 2007).
Pois são o enfermeiro e sua equipe, na maioria das instituições de saúde, os
responsáveis por confortar e auxiliar e sua família a viver esse momento da forma
menos agressiva e com o menor sofrimento possível (SILVA, 2009).
Na fala de Espanha se verifica uma preocupação mais direcionada com a
personalidade, onde ela mesma apela que essa disciplina atuasse como uma auxiliadora
para os alunos mais sensíveis, que tivessem mais dificuldades em lidar com o processo.
 Espanha: Sim , porque a gente assim.... Tem alunos que conseguem lidar
numa boa, mas tem alunos mais fracos que, se sensibilizam mais, às vezes.
O fato de alguns alunos se sentirem de certa forma menos aptos a lidar com a
Morte, pode ser associada com a falta de experiências prévias deste tipo, diferentemente
A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA
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A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

  • 1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BALSAS – CESBA Departamento de Enfermagem Curso de Enfermagem RICARDO CARVALHO NEVES A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA Balsas-MA 2012
  • 2. RICARDO CARVALHO NEVES A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Enfermagem do Centro de Estudos Superiores de Balsas, da Universidade Estadual do Maranhão como exigência para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientador: Balsas – MA 2012
  • 3. RICARDO CARVALHO NEVES A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem e aprovada em sua forma final pela coordenação do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Maranhão. Aprovada em _____ de _____________ de ______ Nota:________ Banca Examinadora Prof.º Jairo Ribeiro Sousa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Enf.ª Gley Simone Ribeiro da Costa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Enf.ª Patricia Almeida Laurindo Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
  • 4. Dedico este trabalho ao meu querido alterego, Adamantiun, que nunca me abandonou e sempre me mostrou que eu tinha todas as armas para vencer esta batalha, dentro de mim mesmo.
  • 5. AGRADECIMENTOS Ao meu infalível Jesus Cristo que soube me mostrar aos poucos que eu realmente tinha tomado o caminho certo naquele dia. Você é a maior certeza que tenho na vida! À minha mãe (Paixão de Maria) e meu pai (Francisco) que além de me educaram de uma forma admirável, nunca se opuseram ao meu sonho de me tornar um profissional com nível superior, e abdicaram dos seus sonhos para que este meu fosse concretizado. Hoje, meus queridos, eu vejo onde vocês queriam que eu chegasse e o que queriam que eu fosse, e agora só posso agradecê-los infinitamente por tudo, procurando palavras que expressem isso e não as encontrando! Amo vocês! Aos meus irmãos (Marcella e Rennan), tias, tios, avós (Vó Rita) e primos, por sempre me confiarem esta missão, como se estivessem certos que eu, de alguma forma, a cumpriria! À minha tia Antônia, com quem cresci e que me ensinou muito do que sei hoje, foi vendo seu exemplo de vida e luta tia, que eu perdi o medo de enfrentar o mundo e de vencer os obstáculos que sempre me apareceram! Te Amo! Aos amigos de Mangabeiras (Ada, Angeline, Aylana Mara, Carla Ribeiro, Daiane Carolina, Júnior, Luzivan, Raiany, Raiza, Richele e Thaisa) por verem algo notável, (e amarem isso!) naquele garoto estranho que estudou com vocês! Inesquecíveis serão nossos momentos, e ainda mais, vós mesmos! Ao meu primeiro e eterno amor: Laianna Coelho. “Em ti eu me acho, em ti eu me defino. Em ti, eu sou quem sou!” Por mais que estejamos sempre distantes, nosso amor puro e lindo, só aumentará! Te Amo! Aos caxienses: Aléssio Leal, Bené, Alzimar Souza, Paula Oliveira, Thessia Andrade, André Gustavo, Diego Alexsander, Patrícia, Teresinha e Vicente Beleza. Eu fui muito feliz ao lado de vocês, nesses 10 meses! Que a distância não apague o que sentimos mutuamente! Muito Obrigado! Ao balsense, Raylon Araújo, que se mostrou alguém muito especial e que marcou minha vida.
  • 6. Aos meus professores, Milena Bárbara, Eryna Sousa, Leonardo Aragão, Erika, Tereza Machado, Jhonny Herberthy, Leonardo Bezerra, Landim, Vanessa Nunes, Elaine Cristina, Gley Simone, Marcia Meurer, Laíra, Irmã Rosa Maria, Mayara Caland, Ana Maria, Irmã Maria Luiza, e em especial aos meus orientadores Jairo Ribeiro e Nivia Cristiane. Aos meu colegas de classe! Todos vocês! Os que estão concluindo comigo, e os que não continuaram na turma! Com vocês, eu vivi os anos mais loucos, felizes, inesquecíveis, sofridos e dourados da minha vida! Despeço-me, triste por estar acabando, mas feliz e realizado por tê-los conhecido e feito parte de suas vidas! Em especial à: Tayron Carneiro, Jorlandia Ferreira, Ramon Tiego, Fernanda Arruda, Marizete Marcos, Phablo Venicio, Jardiana Farias, Talita de Paula, Milena Martins, Tagella Sá, Valdilene Guida, Samuel Dourado, Cristiani Magalhaes, Laerth Araujo, Arlete Carvalho, Fabiany Melo, D‟lany Lopes, Lucas José, Herbelchior Gomes, Lucyjane Amorim, Lucas Natanael, Maria Rita, Deylane Melo, Joerberth Ramos, Dallyanna Leão, Renato Silva, Gil Wagner, Elisangela Manara e Juliana da Silva. Foi uma honra! E, finalmente, a Ricardito, o arqueiro, Ricky Ardo, Holy Hands, T.R., Arqueiro Branco (in memorian) e Adamantiun! Várias faces de um mesmo eu, que juntos formam esse que agradece a vós.
  • 7. Tão simples, também, é a morte! Por ser morte, por não morrer! Ao contrário da vida, que sempre acaba... Sempre morre! (Éder Thiago)
  • 8. RESUMO O processo de morte é inerente à vida e inevitável precisando ser discutido para se desanuviar os mitos que rondam esse assunto. A profissão de Enfermagem lida diretamente com essa questão quando é relacionada aos pacientes, e os acadêmicos necessitam de preparo eficiente para enfrentá-lo da forma mais saudável possível. Este estudo objetivou analisar a visão de morte dos acadêmicos do Cesba/Uema e verificar a eficiência do preparo dos mesmos pela Instituição. O trabalho teve característica descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas com 10 acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas da Universidade Estadual do Maranhão. O roteiro continha questões sobre o conceito de morte para os estudantes, preparo para a morte dos pacientes, o que eles sentiam perante a morte e sugestões para a implementação do estudo da morte na grade curricular. As análises mostraram que os alunos vêem a morte como algo inevitável; ou como uma passagem, baseando-se na religião; e ainda, utilizando conceitos científicos, como algo natural. Diante da morte os alunos sentem, em sua maioria, medo; seguido de tristeza e indignação. A maior parte dos estudantes declarou-se preparado para assistir à morte alegando experiências prévias ou caracteres de personalidade, havendo os que não se consideraram por acharem que esse preparo é impossível de ser feito. Todos os pesquisados concordaram que é importante e necessária a inclusão da disciplina de Tanatologia no curso a fim de prepará-los de forma efetiva para a morte e torná-los profissionais mais humanizados. PALAVRAS-CHAVE: Morte; Acadêmicos; Enfermagem.
  • 9. ABSTRACT The process of death to life is inherent and inevitable needs to be discussed unwind the myths that surround this subject. The profession of nursing deals directly with this issue when it is related to patients and academics needs to be prepared to address it effectively as healthy as possible. This study aimed to analyze the vision of the death of academic Cesba / Uema and verify the efficiency of the preparation of the same institution. The study was descriptive and exploratory character, with a qualitative approach, carried out through semi-structured interviews with 10 students from the Centro de Estudos Superiores de Balsas in Maranhão State University. The script contained questions about the concept of death for students preparing for the death of the patients; they felt before the death, and suggestions for implementing the study of death in the curriculum. Analysis showed that students see death as inevitable, or as a passage, based on religion, and yet, using scientific concepts, as something natural. Before death the students feel, mostly, fear, sadness and outrage followed. Most students said he was prepared to watch the death claiming previous experience or characters personality, with those who were not considered because they think that preparation is impossible to be done. All respondents agreed that is important and necessary to include the discipline of Thanatology in the course to prepare them effectively for the death and make them more humane professionals. KEYWORDS: Death, Academic; Nursing.
  • 10. LISTA DE SIGLAS Cesba: Centro de Estudos Superiores de Balsas CNS: Conselho Nacional de Saúde Uema: Universidade Estadual do Maranhão
  • 11. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................12 2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................14 2.1 A Tanatologia e a compreensão da morte através da História.......................14 2.2 A compreensão da morte na atualidade.........................................................18 2.3 O profissional de Enfermagem perante a morte dos pacientes......................22 2.4 A preparação do acadêmico para o processo morte morrer...........................25 3. METODOLOGIA..............................................................................................32 3.1 Tipo de pesquisa............................................................................................32 3.2 Cenário de estudo..........................................................................................32 3.3 População e Amostra.....................................................................................33 3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa.............................................................33 3.5 Análise dos dados..........................................................................................34 3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa..............................................................34 4. RESULTADOS E ANÁLISES.........................................................................35 4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de morte para os acadêmicos..............36 4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e o que eles sentem perante a morte.................40 4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a morte..............................44 4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido..49 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................55 APÊNDICES......................................................................................................58 ANEXOS.............................................................................................................60
  • 12. 1. INTRODUÇÃO A Morte é um fato incontestável. Certamente em algum momento será necessário lidar com as conseqüências e dificuldades que esse processo acarreta, seja de uma pessoa próxima, ou de um paciente sob nossa assistência (SILVA, 2009). Os cursos da área da saúde apresentam, dentre muitos outros, um ponto que lhes é bastante peculiar: todos têm seu foco no bem estar do ser humano. Seja diagnosticando as enfermidades, adequando a alimentação, recuperando os movimentos e a comunicação, ouvindo os problemas e buscando soluções ou cuidando da pessoa clinicamente doente, a vida é prioridade para nós e queremos sempre que ela transcorra sem intercorrências graves. A Enfermagem por se pautar na filosofia do cuidar da pessoa é, em meio às outras, a que mais aproxima do indivíduo e as situações de Morte estão intimamente ligadas, diria até inerentes, a todas as profissões de saúde, principalmente à de Enfermagem. Oliveira e Amorim (2008), diz que nesta profissão uma das características é a de que o profissional permanece mais tempo em contato com o paciente, podendo acompanhar todo o processo da Morte e morrer. Porém um ponto notável é o de que mesmo sendo praticamente pertinente a essa profissão o processo de Morte, quase não é discutido na graduação dos futuros enfermeiros, sendo debatido apenas em raros momentos, onde o conhecimento repassado não é tão abrangente a ponto de preparar os acadêmicos para as experiências que a profissão traz, e verificou-se na grade curricular do Centro de Estudos Superiores de Balsas a inexistência de disciplinas ou atividades voltadas para este âmbito, fato este que causou no autor do trabalho uma preocupação quanto a ter que vivenciar essa experiência na carreira e estar preparado para enfrentá-las de maneira saudável. Este trabalho objetiva conhecer a visão que acadêmicos de Enfermagem do Cesba têm da Morte, através da análise das opiniões que eles deram acerca desse evento. Conhecendo se os mesmos consideram-se preparados para lidar com a Morte
  • 13. dos pacientes, o que sentem perante este processo e se concordam com a adoção de medidas que visem solucionar esse problema. Analisando o problema dado formulou-se uma hipotética resolução aplicável ao mesmo, prática e que resolveria a possível inexperiência dos acadêmicos acerca do tema e que consiste no seguinte: a inclusão de uma disciplina específica durante a graduação, bem como de grupos de discussão e troca de experiências vividas sobre o tema. Proposição que foi avaliada como uma solução prática e eficiente para preparar os acadêmicos para a Morte e seus processos. O trabalho se justifica pelo fato de que o profissional enfermeiro irá deparar-se com uma diversidade de pessoas e situações durante sua carreira, e o processo de morrer sendo natural a todos os seres vivos, precisa ser compreendido de forma correta pelos mesmos que de certa forma no exercício de sua profissão objetivarão em evitá-la, ou em outros casos, promovê-la da forma mais digna e aceitável possível. E a faculdade deveria prover meios do acadêmico preparar-se em todos os âmbitos para essa experiência, visto que o autor do trabalho concorda com essa afirmação e sentiu falta, ao término da graduação, desse preparo voltado para a assistência aos pacientes na hora da Morte, assim como para poder se preparar da melhor forma para vivenciar este momento no exercício da profissão. Além disso, foi verificado que o tema não é muito discutido no meio científico, e que também não existem muitos trabalhos publicados acerca da temática. A confecção desta monografia contribuiria de forma imensa para mudar esta situação e trazer a pauta da Morte para as discussões na profissão de Enfermagem Em Lana e Passos (2008), pois se não for feito o acadêmico irá lembrar-se brutalmente da própria finitude quando encarar estas situações. Portanto uma análise desse nível de preparo dos estudantes, vem a ser imprescindível para qualificá-lo e detectar erros de compreensão, a fim de evitar equívocos futuros, e também para sugerir ideias e soluções que melhorem ou corrijam o modo como este ensinamento deva ser repassado aos acadêmicos assim como para mudar o seu imaginário sobre este ponto.
  • 14. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A Tanatologia e a compreensão da Morte através da História A Morte é compreendida por todos como o fim natural da vida, e que após ela deixamos de existir assim como nossos pensamentos, sonhos e sentimentos. O processo de morrer também é a única certeza absoluta aceita por todos os humanos, não sendo negada em nenhuma civilização ou ideologia da Terra (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008). Para Lana e Passos (2008): A Morte é considerada como parte constituída da existência humana. É sem dúvida, um dos poucos fatos que se tem certeza de seu acontecimento. A Tanatologia é a ciência dedicada ao estudo da Morte e de seus processos. O termo Tanatologia vem do grego e significa thanatos, o deus da Morte; e logos, estudo (AGRA e ALBURQUERQUE, 2008). Nós, humanos, como todos os seres vivos marcados pela passagem da vida e que buscam soluções possíveis para nossos problemas, erroneamente, lutamos contra a idéia de nosso fim, e temos buscado, ao máximo, um alívio possível para o paradoxo existencial que se apresenta frente à dicotomia viver e morrer. Esta situação tem sido notável na cultura ocidental e aumenta de certa forma, essa angústia, tornando mais difícil a lida com a situação (BELLATO e CARVALHO, 2005). Para Santos e Bueno (2010), assistimos com freqüência, a vinculação da Morte com o sobrenatural, o terror, o castigo, a dor, entre tantos outros significados considerados negativos pelas nações ocidentais. Compreende-se então que o estudo dessa ciência faz-se importantíssimo, no sentido de compreender o que é a Morte, deixando para trás pré-conceitos e derrubando mitos que rondam essa etapa natural da vivência, além do que proporciona uma oportunidade de reflexão sobre a vida e a nossa finitude.
  • 15. E nos dias atuais, verifica-se que a Morte não representa um consenso no imaginário do ser humano, tomando em cada mente uma concepção muito distinta que vai de simplesmente o fim, até fenômenos mais complexos e únicos (CANTÍDIO et al., 2011; AGRA e ALBUQUERQUE, 2008). O conceito tradicional de Morte biológica definida como o instante que o coração para de pulsar está ultrapassado. Hoje, ela é vista como um processo, como um fenômeno progressivo e não mais como um momento, ou evento (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Conforme Moreira e Lisboa (2006), há vários significados para a Morte: o fim da vida animal ou vegetal; termo; fim; destruição; ruína; e tipos de morrer: Morte agônica; Morte civil; Morte moral. Toda essa conjuntura, que ultrapassa as gerações e nunca se define, pois apenas temos a certeza de que existe e que nos acontecerá, acabou por criar uma situação interessante: como poderemos entender eou explicar algo que não conhecemos que nunca tivemos uma real experiência? E quem já teve, não pode compartilhá-la? Para isso as pessoas buscam saídas nas mais diversas possibilidades, como reforça Cantídio et al., (2011): “A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir afirmar verdades absolutas, pois, quando abordada, desperta curiosidade, provoca desconforto e vem sempre acompanhada de mui- tas perguntas para as quais se encontra a incontestável resposta de que o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a certeza de que a todo nascimento associa-se um momento de fim. Trata-se de um tema circundado pela incerteza e pelo medo daquilo que não se pode prever ou conhecer, no conceito dos que enfrentaram a Morte como limite da vida. Todos os atributos da Morte desafiam as mais distintas culturas, as quais buscam respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões e na ciência para compreender o desconhecido e remediar a dor gerada pelo evento.” Uma das características do ser humano é a atribuição de significados e valores que ele imprime às coisas além da incessante busca por respostas e explicações para as questões que rodeiam nossa experiência de vida. Isso fez com que conceito de Morte fosse mudando e em cada era histórica fosse visto pelas pessoas de uma forma diferenciada o que incluía influências vindas de sua cultura, credo e estilo de vida (AGRA e ALBURQUERQUE, 2008; COMBINATO e QUEIROZ, 2006).
  • 16. O homem, através da História, com destaque para os filósofos antigos, sempre buscou desvendar os mistérios que envolvem o antes e o depois da sua existência (MOREIRA e LISBOA, 2006). Carvalho et al., (2006), defende que ao longo da história da humanidade, a compreensão do processo de Morte e de morrer sofreu mutações atendendo às necessidades das sociedades em todo o mundo. Segundo Shimizu, (2007), ao se analisar historicamente as representações da Morte percebe-se que houve uma importante alteração na trajetória da Morte, que, de familiar e conhecida, passou a ser completamente negada e relegada. Por isso, o significado da Morte varia necessariamente no decorrer da história e entre as diferentes culturas humanas. A importância e o sentido dados à Morte sofria influência das mudanças que ocorriam em cada civilização, o que fez que em cada uma dessas sociedades o morrer tomasse um caráter distinto (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008). Segundo Agra e Albuquerque (2008): “Para os antigos gregos, a incineração determinava dois tipos de mortos: o cadáver do homem comum e o cadáver dos grandes heróis. Ao anônimo cabia o crematório coletivo e o depósito de suas cinzas em vala comum. Os corpos falecidos dos heróis eram cremados na cerimônia da bela Morte, onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos. A própria Morte seria a prova de sua virtude, tornando-o um indivíduo cuja vida é digna de ser lembrada.” Na Mesopotâmia antiga o sepultamento de um falecido era carregado de hábitos e significados, onde o corpo da pessoa era enterrado com todas as marcas de sua vida pessoal o que incluía vestimentas, pertences, insígnias e comidas preferidas. Para os hindus a cremação tinha o objetivo de apagar todos os traços existenciais do morto, pois o cadáver era totalmente queimado e as cinzas lançadas à água ou ao vento. Como se o fato de ter vivido fosse um erro e a Morte, uma penitência por tal transgressão (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008; GIACCOIA JÚNIOR, 2005). No Egito Antigo havia a crença na vida após a Morte, e isso levou ao tão conhecido costume de mumificar os corpos e guardá-los em tumbas suntuosas, cercados por seus pertences, a fim de que pudesse usufruir da segunda vida com toda a regalia que tivesse antes de morrer (MOREIRA e LISBOA, 2006).
  • 17. Hábito também observado nas civilizações pré-colombianas1 . A Morte nessa época era um evento muito respeitado e as cerimônias fúnebres, envolviam muito trabalho e tempo. Remotamente na História, cita-se o papel marcante que a Igreja sempre representou na hora da Morte em Carvalho et al., (2006), os ritos mortuários eram, até o século XIII, simplesmente aceitos de modo cerimonial, sem dramaticidade ou gestos de emoção excessivos. Com a intervenção da Igreja, passam a ser clericalizados e começam a esboçar um sentido dramático que persiste na atualidade. Essa visão clericarizada do processo Morte-morrer é afirmado por Bellato e Carvalho (2004), quando diz que o padre passou a ocupar a cena principal, e não mais o morto. Após o último suspiro, o morto não pertence mais nem aos seus pares ou companheiros, nem à família, mas à Igreja. Nessa época a Morte “ideal” era aquela na qual a pessoa preparava-se para o seu momento final, resolvendo pendências antigas, saldando dívidas, despedindo-se de familiares e amigos e exigindo a presença de um sacerdote que lhe proferia a extrema unção elevando, desta forma sua alma a Deus, o que Pinho (2008), corrobora: a Morte “súbita feia e desonrosa” era temida. Quem assim morria, havia recebido um castigo divino que privava o homem de preparar-se para a finitude. O ato de morrer tornou-se algo mais familiar nessa época como relata Takahashi et al., (2008), era, portanto, um acontecimento público; os corpos eram enterrados nos pátios das igrejas, que também serviam de palco para as festas; nesse contexto, mortos e vivos podiam coexistir no mesmo espaço. Na segunda fase da Idade Média as poucas mudanças que ocorreram, consistiram apenas na preocupação humana com eventos pós-Morte, sendo eles o Juízo Final, a vida eterna no céu, ou o castigo por seus pecados no inferno (PINHO, 2008). As pessoas que acompanhavam quem morria, tinham um maior contato com o processo Morte-morrer, pois a vivenciavam continuamente e toda a comunidade participava desse acontecimento e por estar ocorrendo com alguém tão próximo, era 1 Povos que habitaram o continente americano, antes da chegada dos colonizadores. Os principais são os, astecas, maias e os incas.
  • 18. possível que fizessem uma identificação com o outro. O conhecimento da Morte era uma rotina e nenhuma criança crescia sem ter tido a experiência de ver, pelo menos, uma cena de Morte (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008). Em meados do século XVIII a Morte passa a ter uma conotação mais dramática “Em que predomina o culto ao cemitério e o luto exagerado, no qual o protagonista passa a ser a família e não mais o morto. Tal situação perdurou pelo século XIX, sendo que os parentes omitiam ao doente a gravidade do seu estado na tentativa de poupá-lo, transformando a Morte em tabu, rigorosamente afastada, principalmente das crianças. (Takahashi et al., 2008) Percebe-se então que nessa época as pessoas se ocupavam menos de sua Morte e preocupavam-se mais com a do outro, pois esse é o que deixará saudades e lembranças, atitude esta que é percebida até dias atuais, contudo, no século XIX não existia a negação da Morte, pois continuava ocorrendo em no âmbito domiciliar (OLIVEIRA, QUINTANAL e BERTOLINO et al., 2010). 2.2 A compreensão da Morte na atualidade Atualmente, a Morte é tratada como tabu e com o passar das eras foi sendo deslocada da casa para o hospital. Deixando assim de constituir um fenômeno natural, para transformar-se num evento frio, escondido e profundamente indesejado. Algo que era tão presente, conhecido e familiar no passado, se apaga e desaparece, tornando-se vergonhosa e com isso incogitada; vira um inconveniente e, portanto, a sua demonstração pública não é mais bem vista (BELLATO e CARVALHO, 2005). Em Santos e Bueno, (2011), uma nova imagem da Morte vai se formando: a Morte feia e escondida, e escondida porque é feia e suja. Com a Revolução Industrial, o mundo passou a ser regido sob um novo modelo econômico, no qual a figura humana era vista mais como mão-de-obra, importante e imprescindível para manter e alavancar o desenvolvimento das nações (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008).
  • 19. E com tal crescimento, em seu início desordenado, o homem despreparado, vindo principalmente do meio rural, tornou-se vulnerável às doenças, principalmente as infecciosas e parasitárias, uma vez que as cidades não tinham infraestrutura que comportasse essa migração repentina de pessoas, segundo Moreira e Lisboa (2006): “As cidades não estavam preparadas para o grande fluxo de pessoas, não existia um planejamento sanitário, a água e os dejetos não tinham um tratamento adequado, com valas conduzindo materiais sem nenhuma estruturação prévia, contaminando os lençóis freáticos e proporcionando um aumento no número de roedores, mosquitos, etc., o que conseqüentemente, acarretou um aumento das doenças infecto-parasitárias.” Foi nesse ínterim, que a Morte passou a ser institucionalizada, ou seja, havia um local próprio onde os doentes ficariam, pois se temia que eles contaminassem os sadios e atrapalhasse o impulso da economia que crescia vertiginosamente. De acordo com Moreira e Lisboa, (2006), as famílias tinham necessidade de produzir e por isso não dispunham de tempo para cuidar do moribundo. A política de saúde da época era baseada em normas de higiene, sendo a Morte e o moribundo inseridos nesse contexto. Desse modo os doentes foram transferidos para o hospital, um lugar onde ficariam sob cuidados especiais para que se recuperassem logo e pudessem voltar a contribuir para o progresso industrial (MOREIRA e LISBOA, 2006). Em uma sociedade que valoriza seus cidadãos pelo potencial de trabalho, pela capacidade de produção destes, as doenças e a Morte aparecem como uma força contrária e incômoda ao processo de acumulação e produção de riqueza (OLIVEIRA e AMORIM, 2008). A partir da segunda metade do século XX, passa a ocorrer uma mudança brusca, na qual a Morte deixa de ser familiar e passa a ser um objeto interdito, o que Caputo (2008), comprova afirmando que um fator material importante que impulsionou esta transformação foi a transferência do local da Morte. Pois a Morte não ocorre mais no domicílio, no meio dos familiares, mas solitário no hospital. Assim, nas últimas décadas com o aprimoramento e o desenvolvimento das tecnologias e da ciência médica, a Morte vem ocorrendo preferencialmente no ambiente hospitalar, cercada de aparelhos, monitores e recursos humanos especializados, capazes
  • 20. de assegurar um processo de Morte assistida e em sua maioria, sem dor (SILVA, 2009; SHIMIZU, 2007). Ideia que é reforçada por Takahashi et al., (2008), quando fala que: “A medicina, subsidiada pelos avanços tecnológicos, proporcionou uma mudança na representação social da Morte. Hoje em dia dificilmente se morre em casa, rodeado por familiares e amigos, com serenidade para despedir-se da vida e, sim, às escondidas, trancafiado em um ambiente hospitalar, considerado neutro, e na maioria dos casos sozinho ou acompanhado de pessoas estranhas. “ Este quadro instalado fez com que as pessoas se distanciassem do processo mortífero ficando cada vez mais ausentes e arredios quanto a ela. Caputo (2008), defende: “que os psicanalistas existenciais apontam que se no início do século XX o grande tabu se dava em relação ao sexo, no final do referido século o grande tabu é ligado à Morte. Na atualidade é comum as crianças receberem informações sobre sexualidade, porém quando se trata da Morte esta é mascarada relacionando-a com uma „viagem‟, „descanso‟.” O medo é atualmente o sentimento mais presente nas pessoas, em relação à Morte. Seja condicionada pelo fator oculto que ela representa ou pela questão sobrenatural. O homem atual tende a temer aquilo que não conhece e não tem como experenciar, como é o caso da Morte. Com base em Júnior e Eltink, (2011), o homem sabe que vai morrer embora não se pode experimentá-la diretamente, por isso sente medo do que possa vir, medo do desconhecido e mais, evita o assunto como se negasse a sua existência. Atualmente, vive-se nas sociedades ocidentais uma crise contemporânea da Morte. Movidos pelo progresso tecnológico vertiginoso, onde se encontra solução para tudo e o que ontem era novo, amanhã já é ultrapassado, o homem frustra-se por não conseguir solucionar a Morte e o tão sonhado “Elixir da Juventude” nunca ser alcançado. Diante de tamanha evolução técnico-científica, o homem sente-se envergonhado diante de uma realidade que não consegue ultrapassar e a Morte é considerada um tabu individual, estendendo-se até a coletividade (TAKAKASHI et al., 2008). As características do sistema econômico capitalista fizeram com que a Morte fosse vista não como uma certeza, mas como um obstáculo, ou uma adversária na vida da pessoa, e que podia ser vencida, individual ou coletivamente. A partir do momento
  • 21. que o corpo não possui valor como instrumento de trabalho, este não atende ao sistema, sendo as questões que remetem ao fenômeno Morte relegadas a um segundo plano, não sendo pensadas pela sociedade e muito menos valorizadas (MOREIRA e LISBOA, 2006). A Morte ficou esquecida e muito menos conhecida em sua forma real. Percebe- se isso mais no mundo ocidental. Segundo Bernieri e Hirdes (2007), o mundo ocidental transformou a Morte em tabu, ela costuma ser ocultada das crianças e banida das conversas cotidianas. Os sentimentos que a Morte faz aflorar são tão intensos, que seu nome não deve nem ser pronunciado. Por si só ela causa medo, fuga e espanto. Outra característica desse modo de agir do homem contemporâneo acerca do processo de morrer, se mostra pela eufemização ou indiferença a esse processo, de acordo com Bellato e Carvalho (2006): “A presença da Morte é dissimulada pela equipe de saúde que rapidamente prepara o corpo e legaliza o novo status do morto por meio do atestado de óbito. Até as palavras denunciam essa ocultação, ao invés de simplesmente dizer que alguém morreu,usam a expressão, impessoal e menos angustiante, “foi a óbito.” A negação da Morte é perceptível em todos os setores da sociedade, até mesmo entre os profissionais de saúde, que evitam falar sobre ela, seja por questões pessoais ou hábito de vida. Em sua linguagem do dia a dia, referem-se à mesma como “óbito”, dando a impressão de ser uma palavra mais sutil e menos agressiva, mas que não muda em nada os sentimentos da equipe, muito menos das pessoas que ouvem esse termo (JÚNIOR e ELTINK, 2011; BERNIERI e HIRDES, 2007). As pessoas de hoje não aceitam a Morte como algo natural, e inevitável e tentam enganá-la ou mesmo adiá-la, concentrando esforços para manterem-se eternamente jovens, recorrendo ao que a medicina oferece, não se importando com custos ou sacrifícios aderentes. Pois o que importa é evitar o envelhecimento, permanecerem jovens, querem encontrar a fórmula da juventude e vida eterna independentemente de tudo (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Atualmente o critério de Morte comumente utilizado pela medicina é a avaliação da função cerebral, ou seja, se houve parada das funções vitais a pessoa pode até ser mantida “viva” por meio de aparelhos, pois com os avanços da ciência e da tecnologia, tornou-se possível manter as funções cardíacas e respiratórias através de aparelhos,
  • 22. enquanto nada se pode fazer para manter funções cerebrais responsivas (BERNIERI e HIRDES, 2007). Toda essa composição que se deu para a Morte é nada mais que uma saída para a árdua aceitação da mesma. Segundo Agra e Albuquerque, 2008: “Mesmo sabendo que a Morte é a única certeza absoluta da existência humana, é angustiante e de difícil aceitação pelas pessoas, expressando-se pela dificuldade de lidar com o limite da vida. Ainda assim, sabendo que a Morte é um fenômeno natural recusamos como sendo pessoal e inevitável, sendo comum, as pessoas morrerem isoladas, encerradas nos hospitais, longe dos seus. Assim, adiamos o confronto em lidarmos com a nossa própria Morte.” Característica esta, verificada principalmente na cultura ocidental, que ao longo do tempo acabou por dar menos atenção e importância à Morte, talvez numa medida de confrontá-la ou tentar superá-la. A essência da angústia humana é a extinção: o medo da Morte, da destruição do eu e do próprio corpo. O homem é o único ser vivo que é consciente de sua Morte e finitude, o que acarreta, então, a angústia de sua limitação, de nada poder fazer contra ela (BRETAS, OLIVEIRA e YAMAGUTI, 2007). Aliado a este pensamento vimos que o homem também utiliza-se de outro meio para enfrentar a Morte, que se baseia na “ausência da reflexão sobre a Morte, ou até mesmo o não falar sobre ela, representa o não pensar na perda dos que ficam e também na dor da solidão. No entanto, ao utilizar esse mecanismo de defesa, pode-se criar uma armadura protetora, que se manifesta pela insensibilidade e frieza prejudicando, assim, o desenvolvimento do profissional, impedindo-o de crescer humana e profissionalmente.( TAKAHASHI et al., 2008) Porém com isso enfermeiro corre o risco de tornar-se apenas uma máquina de cuidados, direcionados apenas ao paciente vivo, prejudicando a sua face humana, pois uma hora ele sairá do ambiente de trabalho e inevitavelmente levará o seu novo jeito de ser, para o convívio social, o que lhe trará problemas de enfrentamento, quando essa situação suceder-se com um dos seus. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; CANTÍDIO et al., 2011) De acordo com Júnior e Eltink (2011), e Bernieri e Hirdes (2007), uma solução aparece “a partir do momento em que nos descobrimos finitos, passa-se então a compreender o processo de finitude dos outros. Desse momento em diante a Morte pode deixar de ser vista como um fracasso e passar a ser vista como algo natural e destinado a todos sem distinção de classe, cor, nível social ou
  • 23. mesmo intelectual. A única coisa que pode-se saber é que um dia todos irão estar diante dela e se preparar para que se possa passar esse momento com tranquilidade, independente de estar acontecendo conosco, com pessoas próximas, ou com pessoas que necessitam de nossos cuidados.” Tentamos não pensar nisso, pois de certa forma, esperamos que aconteça, pois somos cientes que talvez nunca tenhamos como evitá-la e por isso ainda a tememos, por sua implacabilidade e invencibilidade. 2.3 O profissional de Enfermagem perante a Morte dos pacientes Assim, apesar da Morte fazer parte do cotidiano da Enfermagem, observa-se que esses profissionais apresentavam dificuldades para prestar cuidados ao paciente e interagir com seus familiares frente à possibilidade da Morte, sendo esta geradora de reações e sentimentos causadores, muitas vezes, de sofrimento nesses trabalhadores. Deste modo, esses profissionais, vivenciam o conflito de ter a responsabilidade pelo cuidado ao paciente em processo de Morte e a vontade de curar e restabelecer a saúde daquele a quem se cuida como algo impossível (MOTA et al. 2011). Essa situação cria um paradoxo na mente do profissional de Enfermagem, pois concomitantemente ele luta para oferecer aquilo que sua formação o instruiu que é concentrar esforços para manter a vida do paciente a todo custo, com o fato de ter que propiciar um fim aceitável e digno, no caso dos pacientes terminais (CUSTÓDIO, 2010; BELLATO et al., 2007). O morrer nunca é totalmente aceito por todos. O que ameniza, na maioria das vezes, é saber que o doente já tinha idade avançada, ou um quadro já terminal, onde apenas cuidados paliativos seriam eficazes, mas não para evitar o fim, somente em proporcioná-lo de uma maneira tranquila, indolor e, acima de tudo, humanamente digna. Todavia, quando este paciente é jovem, principalmente criança ou adolescente, essa conformidade não suaviza o impacto, e o fator idade, torna-se um peso a mais, para família e ainda mais para o profissional que o acompanhava (CANTÍDIO et al., 2011; JÚNIOR e ELTINK, 2011). Como assente, Costa e Lima (2005), ao dizer que
  • 24. “No hospital encontramos um grande número de pacientes, entre eles crianças e adolescentes, com prognóstico grave e doença em fase avançada, sendo a problemática da Morte uma constante. [...] A Morte da criança e do adolescente é interpretada como interrupção no seu ciclo biológico e isso provoca na equipe de Enfermagem sentimentos de impotência, frustração, tristeza, dor, sofrimento e angústia durante o processo de terminalidade.” Em Mota et al., (2011), verificaram-se diversas reações e sentimentos dos membros das equipes de Enfermagem dos setores do hospital no qual atuamos frente à Morte. A maioria fica em silêncio, uns choram, outros se fazem indiferentes, mas todos sempre se questionam atrás de uma justificativa que explique a finitude do homem, e o porquê de termos, todos, um fim comum. Outros sentimentos também são citados em Júnior e Eltink (2011), ao dizer que assistir o paciente neste momento é difícil, pois suscita sensação de tristeza, frustração, impotência e até mesmo culpa por falhas na assistência prestada, dando a sensação de que tudo que foi feito não foi o bastante, que poderia ter sido feito sempre mais e melhor. O mesmo autor acrescenta que ao estar presente com o paciente nesse momento, o enfermeiro tende a compartilhar das mesmas emoções do paciente e da família, trazendo a experiência pra si e seus parentes e chegando a uma conclusão que para ele não é de fácil aceitação: por mais que eu lute, a Morte é parte da integrante da vida. Esta é uma fase que com certeza todos os estudantes e profissionais da saúde passarão (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Os profissionais de Enfermagem experimentam de maneira potencializada esses sentimentos conflitantes, embora faça parte do cotidiano de trabalho, muitos profissionais encontram dificuldade em encarar a Morte como um processo natural, considerando-a como fracasso profissional (SILVA, 2009). Para Cantídio et al., (2011) e Carvalho et al., (2006): Desde tempos remotos, os profissionais da saúde, durante sua formação, eram estimulados a demonstrar imparcialidade sentimental e atitude neutra na relação com os pacientes e seus familiares, com o objetivo de se resguardarem quanto aos seus temores e preservar sua autonomia na prática do cuidado. Atualmente, os profissionais distanciam-se dos sentimentos por meio da negação e assumem uma postura defensiva diante dos processos intersubjetivos, especialmente durante o evento pouco bem-quisto pela sociedade: o fenecer.
  • 25. Os maiores problemas que enfrentam consistem, primeiro na falta de instrução científica para o dado o momento; as condições de trabalho que, na maioria das vezes, são precárias e falhas com enfermarias superlotadas e desorganizadas; jornadas de trabalho que também são, por vezes, longas e cansativas. Todos estes fatores contribuem para o estresse físico e mental do profissional, que se utiliza da indiferença perante este momento, para se manter o mais saudável possível (SANTOS e BUENO, 2011). A imparcialidade citada anteriormente tem sido a principal estratégia de enfrentamento verificada na Enfermagem atualmente, o que se observa em Santos e Bueno (2010), a Morte, tratada com indiferença, é conseqüência de um mecanismo de defesa dos enfermeiros. Assim, o cuidar do paciente grave pode se tornar impessoal, fato este às vezes necessário para se manter a saúde mental, pois não estamos, culturalmente, preparados para isto, e vemos na indiferença a melhor forma de nos precavermos dos impactos que o processo da Morte causa. Conforme observa Silva e Ruiz (2003), negar e banalizar a Morte é saída efêmera ao profissional de saúde, fazendo-lhe agir isento de envolvimento emocional algum. Essa estratégia errônea confronta-o com as falhas de suas defesas, perpetuando a sua angústia não expressa. E como desenvolvemos um mecanismo de defesa e proteção contra o sofrimento, o processo de morrer e Morte vai se tornando gradativamente trivial, isto é, o distanciamento e endurecimento das relações frente à Morte e ao paciente terminal vira algo, estranhamente, natural e considerado comum e rotineiro (MOREIRA e LISBOA, 2006). Estudos mostram que esse quadro de apresentado causa um problema de ordem pública para o país, pois: Essa dificuldade em se lidar com a Morte tem ocasionado uma gama de problemas que atinge diretamente o sistema de saúde público e privado do país, especialmente em virtude do adoecimento de seus profissionais. Adoecimento este, decorrente do desgaste emocional, que favorece o desenvolvimento da Síndrome de Burnout2 , descrita como a reação final do indivíduo face às experiências estressantes acumuladas ao longo do tempo de 2 Reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer inútil.
  • 26. determinada atividade laboral, obtendo uma modificação do cuidar, produzindo na saúde, enfermeiros frios e indiferentes. (SANTOS E BUENO, 2011) Se considerarmos que os profissionais de saúde e, entre eles, os enfermeiros, têm sua formação acadêmica concentrada na preservação da vida, particularmente na cura das doenças, tirando daí sua maior fonte de gratificação quando em seu cotidiano de trabalho necessitam lidar com situações que envolvam o morrer e a Morte, é compreensível que se sintam despreparados e tendam a se afastar delas (BELLATO et al., 2007). O sentimento de fracasso também se faz presente, por que a Morte lhes aparece como algo que vem desmanchar tudo aquilo que se fez em prol do bem estar do paciente. Muitas vezes estudantes e profissionais sentem-se impotentes diante da perda do paciente que está sendo assistido ou reanimado. Esse fracasso não se traduz somente como um fracasso nos cuidados prestados, mas como uma derrota diante da Morte e de sua missão por ser um profissional da área da saúde, que é salvar o paciente, minimizar sua dor e sofrimento, ou seja, trazer-lhe a vida. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; SILVA e RUIZ, 2003) 2.4 A preparação do acadêmico para o processo de Morte morrer Nos últimos anos, vários estudos sobre as concepções, reflexões, sentimentos, e o preparo de estudantes de Enfermagem frente a situações que envolvem a Morte e o morrer têm sido publicados, havendo consenso entre os pesquisadores de que pouca atenção vem sendo dada à temática na formação do enfermeiro, acarretando dificuldades e inadequações no enfrentamento dessas situações em seu cotidiano de trabalho (VARGAS, 2010). As publicações científicas acerca desta temática denunciam esse problema e Vargas (2010), associa essas dificuldades à carência de preparo oferecida aos mesmos no decorrer de sua formação, como também em suas práticas curriculares e considerando o pouco preparo desses sujeitos para atuar frente a tais situações.
  • 27. Genericamente, todo profissional enfermeiro trabalha com o intuito de evitar a Morte em seus pacientes. Desdobramo-nos em cuidados e técnicas específicas de cuidado e assistência para manter a vida dos clientes, posta em risco pela presença de doenças ou também pela realização de procedimentos terapêuticos, pois o profissional da saúde que convive mais de perto e freqüentemente com a Morte é o enfermeiro, pois nós é que passamos a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado (OLIVEIRA et al., 2006). Para Oliveira e Amorim, (2008): Vivemos em uma sociedade que nega a Morte e apesar dos enfermeiros serem formados para salvar vidas, não se pode anular a necessidade de saber lidar com a Morte. Neste caso, a Morte, apresenta-se como um fracasso ao profissional, visto que este é treinado para salvar vidas e não para perdê-la. Aliando a isso uma certa regra existente no mundo dos profissionais de saúde que enuncia que o bom profissional é aquele que não se envolve emocionalmente com seu pacientes, cria uma situação arriscada para estes profissionais: como lidar com a Morte de um paciente e ainda por cima ajudar a família do mesmo na aceitação do falecimento de um ente querido mantendo-nos distantes e indiferentes, sendo que nós também somos mortais e os homens costumam refletir seu próprio fim nos outros? (AGUIAR et al., 2006) Carvalho et al., (2006), diz que: “O profissional de saúde é finito como todo e qualquer outro ser humano, e também passa por profundos dilemas existenciais quanto ao enfrentamento e vivência da Morte em seu cotidiano de trabalho. Na maioria das vezes, esse profissional, ainda como acadêmico, não foi estimulado ou preparado à refletir sobre a Morte e o morrer, podendo ser pego de surpresa pelo pesar, e mais, não oferecer uma assistência de qualidade, não conseguindo assistir a pessoa que está morrendo e/ou sua família, em razão da Morte se configurar como momento de grande sofrimento e fracasso da ação principal em manter a vida.” Segundo Lana e Passos (2008), aliviar o sofrimento ou ajudar uma pessoa a morrer é um dos ofícios mais difíceis para o profissional. Percebe-se então a suma importância que tem a preparação do acadêmico para a Morte do paciente. Pois o cuidado humanizado e as relações humanas que necessitamos implementar e desenvolver com nossos pacientes não é algo que pode ser improvisado, ou feito de qualquer maneira. Por que é nessa hora que nos deparamos com o problema lançado anteriormente: como ser humana e emocionalmente participativo na última fase
  • 28. da vida de um paciente sem criar nenhum tipo de relação sentimental com o mesmo? (LANA e PASSOS, 2008) As escolas de Enfermagem têm por dever preparar os profissionais para o processo de Morte morrer, para que, além de serem tecnicamente competentes em realizar as técnicas necessárias, sejam capazes de lidar com seus próprios sentimentos, perante o falecimento dos pacientes, e usá-los de modo deliberado e humanamente sofisticados (BERNIERI e HIRDES, 2007). Para Bretas et al., (2006): A Morte incomoda e desafia a onipotência humana e profissional, pois os profissionais de saúde são ensinados a cuidar da vida e não da Morte. Prova deste fato é que na maior parte dos cursos de formação de profissionais, não existe uma disciplina curricular que trate do assunto de forma não defensiva e biologicista. Por não ser um tema fácil, visto que muitas vezes, causa sensações de frustração, tristeza, perda, impotência, estresse e culpa, é notório que a universidade , na posição de instituição formadora, tem a obrigação de se preocupar e ter profissionais com sensibilidade para que possam expressar seus sentimentos e aprofundar esta temática no processo de ensino e aprendizagem.Nota-se que durante, é difícil o estudante ter oportunidade para vivenciar um evento tão complexo (OLIVEIRA e AMORIM, 2008). O profissional de Enfermagem é educado para a vida e constata-se que o ensino acadêmico preza e prioriza apenas o viver, esquecendo desse tema tão inerente à condição humana, e que os enfermeiros sofrem sozinhos diante da batalha entre vida e Morte, vendo-se muitas vezes impotentes, por não terem tido preparo suficiente para intervir nessa hora (PINHO, 2008). Tomamos como exemplo os pacientes portadores de câncer, uma doença que por si só já é debilitante e traz muito sofrimento à pessoa deixando-a muito dependente dos outros. Aqui se discute se um profissional recém-formado vem preparado para estar junto desse paciente prestando-lhe o cuidado pertinente e resguardando-se do impacto e das conseqüências psicológicas da possível Morte do mesmo (PINHO, 2008). Pautados nesse ponto Oliveira e Amorim (2008), questionam-se: como está sendo a preparação emocional desses discentes, ao enfrentarem esse processo. Será que os estudantes aprenderão a trabalhar seus sentimentos de insegurança, incapacidade, constrangimento, culpa, angústia, sofrimento e dor?
  • 29. De acordo com Moreira e Lisboa (2006), o ensino de Enfermagem é baseado, principalmente, na aprendizagem das técnicas de cuidado, no saber fazer. Técnicas de prevenção, promoção, cura e reabilitação que possuem protocolos fixos, que orientam passo a passo. Todos os procedimentos são ensinados e o aluno sai preparado para a ação e geralmente a parte reflexiva da profissão fica a desejar. Ideia que é reforçada por Júnior e Eltink (2011), ao dizer que no curso de Enfermagem também são mais enfatizados os aspectos técnicos e práticos da função de enfermeiro. Há pouca ênfase em questões ligadas à emoção e na preparação para lidar com o assunto Morte. Os estudantes de Enfermagem são treinados para desenvolver uma relação com o paciente segundo os modelos descritos nos livros de Enfermagem que põem o hábito de cuidar com algo essencial e puramente bom e que só trará benefícios para o paciente e o profissional, pois: “o cuidar ajuda a evitar doenças, a promover a saúde, curar ou ajudar os vulneráveis, educar a população e elevar as relações humanas a experiências gratificantes de prazer, segurança, confiança, crescimento e atividade produtiva. Amor, ódio, medo, felicidade, raiva, prazer, ou qualquer outra emoção humana podem receber os efeitos produtores de crescimento, geradores de energia, motivadores e, consistentemente, positivos do cuidar. Todos os demais sentimentos humanos possuem efeitos potencialmente negativos, bem como positivos, mas o cuidar, por sua natureza e definição, é somente e sempre positivo. (OLIVEIRA, BRETAS e YAMAGUTI, 2007) Assim como em Cantídio et al., (2011), que registrou que ainda na graduação, os estudantes são preparados para salvar vidas, aprendem que a Morte deve se afastar de todas suas vivências e que o finamento não representa o enfoque da vida acadêmica. E reforçou essa premissa, ao afirmar que... “apesar de lidar com pessoas, os estudantes vivem como se manipulassem objetos ou coisas, separam completamente o corpo biológico do indivíduo e sacrificam suas emoções ao não se permitirem o envolvimento com os pacientes assistidos e seus familiares, deixando a sensação de trabalho frustrante e incompleto, frente aos experimentos inúteis de evitar o término da vida.(CANTÍDIO, et al., 2011)” Os aspectos psicossociais da Morte não estão incluídos na matriz curricular dos cursos de Enfermagem e, quando abordados, ocorrem de maneira superficial e assistemática. Além disso, as disciplinas, como Enfermagem Médico-Cirúrgica, Fundamentos de Enfermagem e Psicologia tratam da temática de forma incipiente,
  • 30. prevalecendo à abordagem tecnicista em detrimento da humanização do cuidado em todas suas dimensões (CANTÍDIO, et al., 2011). Estudos já comprovaram que realmente há uma deficiência na grade curricular das instituições superiores, quando o assunto é ligado à temática do fim da vida. Na área da Enfermagem, pouca atenção é dada à questão pelas instituições formadoras que pode ser constatada quando se considera o resultado de pesquisa realizada com estudantes de escolas de Enfermagem brasileiras que constatou que mais de 40% da população do estudo revelaram não ter aulas sobre o tema Morte e morrer em suas escolas, e os que informaram a existência de tais conteúdos, relataram que o assunto é abordado, como um subtema de uma disciplina ou matéria principal e varia entre 30 minutos e 10 horas (VARGAS, 2010; CARVALHO et al., 2006). Cantídio et al., (2011), revela em seu trabalho que alguns acadêmicos apenas recordam que o tema foi discutido em algumas disciplinas, porém de forma insuficiente para tal abordagem, declarando terem sido simplistas as discussões e os conteúdos curriculares sobre a Morte, durante a formação. Em consequência disso, o preparo do estudante ainda enfatiza o lidar com a vida no que tange aos aspectos técnicos e práticos da função profissional, com pouca ênfase em questões emocionais e na instrumentalização para o duelo constante entre vida e Morte e mesmo diante do enfrentamento de situações de Morte durante as práticas curriculares, não tem sido oportunizado ao aluno sequer a discussão dessas situações. (VARGAS, 2010; BELLATO et al., 2007; BERNIERI e HIRDES, 2007) Com essa falha o acadêmico, digamos que seja preparado apenas para o lado bom do exercício da profissão, para as situações em que tudo vai dar certo, e o paciente se recuperará perfeitamente e voltará para casa, sadio, e é esquecida a outra possibilidade em que todos os esforços, literalmente serão em vão, pois o cliente faleceu. Então, essa falta de reflexão leva à frustração do estudante e reforça o sentimento de fracasso frente à ação principal em manter a vida (VARGAS, 2010; BRÊTAS et al., 2007). No cotidiano da vida acadêmica, emergem sentimentos de frustração e culpa que fazem com que o estudante sinta-se despreparado e afaste-se do enfermo com Morte iminente, quando se depara com essa situação no cumprimento das práticas curriculares.
  • 31. Os sentimentos de frustração e culpa caracterizam-se pela impotência, tristeza, medo e indiferença, sendo o distanciamento desse tipo de paciente uma estratégia utilizada pelos estudantes para amenizar a situação (VARGAS, 2010). Cantídio et al., (2011), defende que... “Para os futuros profissionais atuarem durante a finitude, desenvolvendo suas ações com competência, eficácia e sensibilidade, necessita-se de preparo no decorrer do processo de formação. Para isso, as instituições de ensino devem ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar e lidar com pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento teóri- co-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim de proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos. Não bastam novas disciplinas ou incorporações de conteúdos sobre o tema da Morte para ensiná-la na formação. É necessário, sobretudo, reflexões sobre o sentido da vida e do cuidar, para que se abra espaço à construção do processo ensino/aprendizado. Autores como Cantídio et al., (2011); Silva (2009), e Costa e Lima (2006), apontam para a necessidade da formação de grupos de estudos e discussões como estratégia para minimizar a ansiedade da equipe em relação ao confronto com a Morte e suas dificuldades. O acadêmico, muitas vezes, não é estimulado a refletir sobre o extinguir da vida, podendo ser tomado de forma abrupta pelo pesar, e mais, não conseguir prestar assistência de qualidade e com a abordagem da integralidade (CANTÍDIO et al., 2011). No hospital, na hora do exercício profissional são à hora e lugar que exigirão do estudante uma postura livre de tabus, conceitos ou religião, e participativa numa relação de ajuda e cuidado, pois se não há um preparo emocional e psicológico para os profissionais lidarem com esse assunto, dificilmente eles terão uma postura adequada diante da Morte. (AGUIAR et al., 2006) É importante a reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que sejam inseridos momentos de vivência e reflexão acerca da perda e do luto, para que os profissionais não se sintam despreparados e desamparados ao lidarem com a realidade hospitalar (JÚNIOR e ELTINK, 2011). O estágio supervisionado é um momento ideal, onde essas discussões podem ser abordadas, pois é nesse momento que acadêmico tem os primeiros contatos com os casos reais e a possibilidade de se deparar com a Morte, é maior. Bernieri e Hirdes
  • 32. (2007), destacam a importância dessa discussão sobre a Morte, também no campo de estágio: “como forma de confrontar a teoria com a prática onde os alunos presenciariam e/ou vivenciariam as experiências trocadas nos debates, e daí tirariam suas conclusões, onde cada um formularia sua opinião, estando mais preparado para o enfrentamento da situação fora da faculdade, seja no exercício da profissão, seja na vida pessoal.” Pinho (2008), relata que a inclusão de uma “educação para a Morte” em cursos de Enfermagem mostrou resultados relevantes e sugeriu que essa educação permeie todo o curso em seus períodos teóricos e práticos, além do que, projetos dessa natureza fossem incluídos no currículo de enfermeiros assistenciais. Recomenda-se que sejam incentivados estudos sobre essa temática nas instituições de ensino superior, como estratégia para que a prática do assistir no processo de morrer seja humanizada e a fim de que se desvele o fenômeno da Morte em todo o ciclo de vida. Pois caso contrário, corre-se o risco de perpetuar a inadequação do enfermeiro frente ao indivíduo com Morte iminente, negando não só a Morte, mas, desrespeitando a dignidade da pessoa que está morrendo e descumprindo o juramento de respeitar a vida desde a concepção até a Morte (VARGAS, 2010). 3. METODOLOGIA
  • 33. 3.1 Tipo de pesquisa Este trabalho trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa descritiva tem como foco a descrição das características de certas populações ou fenômenos, como também o estabelecimento de interações entre as variáveis. Já no caráter exploratório, a pesquisa tem como finalidade, desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais preciosos ou hipóteses pesquisáveis para novos estudos (GIL, 1999). A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis e justifica-se por ser um meio adequado para atender a natureza de um fenômeno social (OLIVEIRA e AMORIM 2008). 3.2 Cenário do estudo A coleta de dados realizou-se na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, no primeiro semestre de 2012, no mês de julho. Segundo o Estatuto da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, criada pela Lei nº 4.400, de 30 de dezembro de 1981, com sede e foro na cidade de São Luís, Estado do Maranhão, reorganizada conforme Leis nº 5.921, de 15 de março de 1994 e 5.931, de 22 de abril de 1994, alterada pela Lei nº 6.663, de 04 de junho de 1996, é uma Autarquia de regime especial, pessoa jurídica de direito público, inscrita no Ministério da Fazenda sob o CGC nº 06.352.421/0001-68 (UEMA, 2012). Doravante denominada UEMA, rege-se pela Legislação de Ensino Superior, que lhe for aplicável, por este Estatuto, pelo Regimento Interno e demais Resoluções dos Órgãos Colegiados da Universidade. A UEMA goza de autonomia didático-científica,
  • 34. administrativa, disciplinar e de gestão financeira e patrimonial, dentro dos limites que lhe são fixados pela legislação em vigor (UEMA, 2012). A autonomia didático-científica consiste no exercício de competência privativa para estabelecer a sua política e os seus programas de ensino, pesquisa e extensão, criar, modificar, fundir ou extinguir cursos e currículos plenos, conferir graus, expedir diplomas e certificados, assim como outorgar bolsas, prêmios, títulos e outras dignidades universitárias (UEMA, 2012). 3.3 População e Amostra O público pesquisado compreendeu, ao todo, dez acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas, matriculados no primeiro semestre de 2012, uma amostra escolhida aleatoriamente de acordo com a saturação de dados. O Centro de Estudos Superiores de Balsas conta no primeiro semestre de 2012, com 348 alunos matriculados nos cursos de graduação. Dentre estes, 98 estão devidamente matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem (UEMA, 2012). O critério de exclusão foi: não estar devidamente matriculado na disciplina, no primeiro semestre de 2012. Não houve benefícios imediatos, muito menos riscos para os participantes, que foram informados que poderiam desistir do trabalho a qualquer momento. Entre benefícios, pode-se citar a contribuição do trabalho em explorar este tem que se percebeu não ser muito discutido na literatura. 3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa Para a coleta de dados, foi necessária a aplicação de uma entrevista semi- estruturada (Apêndice A) contendo quatro questões abertas e cinco questões que caracterizaram os sujeitos. Após a análise dos dados, verificou-se a necessidade de subcategorizar os resultados, para melhor dispor e estudar os resultados e com isso as quatro questões abertas, acabaram sendo desmembradas em mais cinco subcategorias.
  • 35. Os depoimentos foram gravados com o aplicativo “gravador de voz” de um aparelho celular, por efeito de praticidade, a fim de garantir a integridade das falas dos acadêmicos de Enfermagem. Posteriormente, as respostas obtidas foram transcritas na íntegra. A coleta de dados priorizou as falas dos entrevistados. 3.5 Análise dos dados A coleta de dados da pesquisa de campo realizou-se por sistema de amostragem e por meio de auto-relato, através da gravação dos depoimentos dos entrevistados. A análise dos resultados obtidos foi codificada, selecionada e categorizada qualitativamente com base nos depoimentos colhidos. De acordo com Santos e Bueno ( 2011): “a palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa” 3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa Para a efetivação desse estudo, inicialmente foi elaborado um projeto intitulado por: A Morte sob a ótica do estudante de Enfermagem do CESBA/UEMA, o qual foi julgado por uma banca examinadora, formada por professores da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, que validou a execução desta pesquisa. Cada participante foi esclarecido sobre os objetivos da pesquisa, forma de coleta dos dados e de apresentação no relatório, garantindo o anonimato das informações e a liberdade para integrar o grupo de participantes bem como de deixar o estudo em qualquer momento; sua concordância foi formalizada pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Foram seguidas as normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, contidas na Resolução 196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
  • 36. 4. RESULTADOS E ANÁLISES Os sujeitos do estudo constituíram-se de 10 acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas, matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem no primeiro semestre de 2012. Estes tiveram seus nomes substituídos por países do continente europeu -Alemanha, Espanha, Grécia, Inglaterra, Noruega, Polônia, Portugal, Rússia, Suécia e Suíça - por preferência do pesquisador. Para Silva (2009), a expansão do conteúdo tanático em âmbito acadêmico e profissional é de extrema relevância como meio de subsidiar e preparar o profissional para assistência ao paciente em processo de morrer e permitir o autoconhecimento para facilitar a aceitação da finitude da vida. Sabendo de tal importância, os acadêmicos foram perguntados acerca de seu ponto de vista sobre a Morte e sua relação com a Enfermagem. Alguns pontos como sexo, idade, estado civil, ocupação e experiência com o processo de Morte, foram utilizados para a caracterização dos sujeitos. Quanto ao sexo, cinco entrevistadas eram mulheres o que correspondeu a 50% do total de acadêmicos, e cinco eram homens que equivaleu aos 50% restantes. A idade dos entrevistados predominou na faixa etária dos 20 aos 29 anos, na qual nove sujeitos se encontravam (90%), nenhum tinha idade entre 30 e 39 anos (0%) ou entre 40 e 49 anos (0%), o sujeito restante tinha dezoito anos e correspondeu a 10% da amostra pesquisada. Quanto ao estado civil, verificou-se que 90% dos alunos eram solteiros (a), ou seja, nove alunos; e 10% eram casados, isto é, um aluno apenas. Do total da amostra selecionada para o trabalho oito referiram quando perguntados sobre sua ocupação, apenas estudarem (80%) e dois assinalaram que estudavam e trabalhavam (20%). Quanto ao perfil dos graduandos de Enfermagem, conclui-se a maioria encontra- se na faixa etária entre 20 a 25 anos, do sexo feminino, solteiros, o que é congruente com o perfil de estudantes de Enfermagem de outras instituições de ensino e amostras utilizadas em outros tantos estudos (TAKAHASHI et al., 2008).
  • 37. Na última questão para caracterização, questionou-se se os estudantes já tinham presenciado ou não a Morte. Os resultados mostraram que a maioria dos acadêmicos já tinha uma prévia experiência com a Morte (80%), ou seja, oito alunos; os dois restantes (20%) declararam não terem a experiência de presenciar a Morte de uma pessoa. Estudos como o Oliveira e Amorim (2008), que entrevistou sete acadêmicos concludentes do curso de Enfermagem; e Júnior e Eltink (2011), que utilizou trinta e dois acadêmicos dos 6º, 7º e 8º períodos do curso de Enfermagem, também demonstraram que a maioria dos alunos de Enfermagem já presenciou ao menos uma Morte, seja na família, na comunidade ou mesmo durante as práticas do curso. 4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de Morte para os acadêmicos Falar de Morte requer uma dedicação especial, pois é característica do ser humano atual renegar essa discussão seja por motivos pessoais, falta de conhecimento, questões de cunho sentimental ou influências externas que todos sofrem, porém faz-se importante que esse obstáculo seja enfrentado porque mesmo remetendo à ideia de fim, de desconhecido é um ponto que não há como simplesmente evitar, dar as costas. Como tudo ele tem um explicação e falar de Morte, não significa necessariamente andar em círculos, ou intrometer-se em questões que não sejam de nossa alçada. É melhor contemplarmos-o como um obscuro que pode esconder coisas muito interessantes. A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir afirmar verdades absolutas, pois, quando abordada, pode despertar curiosidade, provocar desconforto e vem sempre acompanhada de muitas perguntas para as quais se encontra a incontestável resposta de que o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a certeza de que a todo nascimento associa-se um momento de fim (CANTÍDIO et al. , 2011).
  • 38. Além do que as influências sofridas pela pessoa, cumprem um importante papel nessa hora: servem de base para as definições que cada um formula acerca da Morte. A percepção que as pessoas terão dela (a Morte) dependerá do tipo da educação recebida, experiências vividas e o contexto sociocultural onde cresceram, religiosidade , crenças e conceitos de educação familiar (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Conceituar a Morte, não é tarefa fácil. Quando tocamos no assunto, vêm à tona uma suma de opiniões e dúvidas, que olhadas a grosso modo parecem não levar a lugar algum. E termina por induzir as pessoas a evitar o assunto, e apenas criar seu próprio conceito, acreditá-lo e defendê-lo. Nessa categoria, identificamos três subcategorias: Conceitos baseados na questão da finitude, Conceitos baseados na religião e Conceitos baseados na ciência. Subcategoria 1: Conceitos baseados na questão da finitude  Suécia: Pra mim a Morte, é o fim da vida né? É a última, é o estágio final da vida do ser humano, que é a Morte!  Grécia: Natural da pessoa! Tipo, é a questão: a gente nasce, vive, acaba sendo uma fase natural de cada ser humano.  Inglaterra: [... ]É natural do ser humano,uma hora ou outra pode acontecer.  Portugal: Eu simplesmente acho que as pessoas vivem até que chega o momento em que você vai parar de sentir... Enfim, um processo natural! Observou-se que estes vêem a Morte como o fim, seja da vida, seja de um ciclo dela, ou até mesmo de tudo e como um processo natural, que inevitavelmente acontece e que uma definição para a Morte resume-se apenas no fato de que ela seria o fim dos fins e após este “último fim” nada mais aconteceria ou até mesmo existiria. É a questão antropológica já citada antes, na qual todo nascimento exigiria um finamento e a questão estaria resolvida, não dando espaço para outros pensamentos que fugissem a esse viés.
  • 39. Para Júnior e Eltink (2011), a Morte vista como „etapa da vida‟ revela uma compreensão da Morte enquanto um processo natural, relacionado ao desenvolvimento humano.  Rússia: É, pra mim a Morte é única certeza que a gente tem. Um dia a gente vai ter que partir dessa, é... do que...de onde a gente ta hoje. Sendo que se resume nisso! A fala de Rússia reforça esse conceito associando o fim com o elemento certeza, gerando uma definição simples e digamos também direta com a intenção de dar uma aceitação mais fácil, uma vez que não exigiria muita reflexão e confronto de idéias, vindo a entrar em consenso com a ideia mais presente na cabeça das pessoas, a de que a Morte é a única certeza que temos. Para Pinho e Barbosa (2008), esse ponto acaba por se tornar uma conscientização de nossa própria finitude e limitado período de vida. Para Oliveira e Amorim (2008), e Moreira e Lisboa (2006), não há possibilidade de se qualificar uma existência sem se conscientizar de sua finitude. A Morte, como um processo natural, não pode ser desvinculada da vida, mas integrada a ela de forma a valorizá-la. Subcategoria 2: Conceitos baseados na religião Para lidar com o fim da vida, algumas pessoas utilizam a crença como elemento interveniente, revelando a interferência da variável espiritual na capacidade de enfrentamento de situações envolvendo o fenecer (CANTÍDIO et al., 2011; BRÊTAS et al., 2007). A religiosidade foi presente em algumas respostas. Os acadêmicos basearam-se em preceitos colocados por sua crença para dar seu conceito de Morte, o termo “passagem”, como de um plano a outro, foi utilizado para significar a Morte. Compreender a Morte com uma passagem demonstra uma concepção espiritual do tema, em que a pessoa tem a Morte como transição entre o mundo material e o espiritual, conceito tradicional do mundo religioso, amplamente presente no imaginário das pessoas. Nesse sentido, a Morte aparece como transição, desvelando um sistema representacional associado a crenças e convicções espirituais do ser humano, sendo
  • 40. vista como um evento que ocorre com todos, supostamente desconhecido por ocorrer no futuro (JÚNIOR e ELTINK, 2011).  Noruega: Que como a religião diz, seria a passagem da vida, daqui da Terra, no caso para o céu, para o paraíso, não sei! Ou então, pode ser também um alívio de um sofrimento, de uma pessoa.  Espanha: A Morte significa uma passagem! De uma vida pra uma outra vida que a gente não conhece!  Grécia: Pra mim Morte, significa apenas uma passagem, né? Depreende-se dessas respostas que os estudantes, procuraram conceituar a Morte como algo que acontece com todos mas que não é tão severo, apavorante ou definitivo, podendo vir até a melhorar a situação ou torná-la mais favorável ao ser humano, como um alívio, uma mudança para algo mais feliz e recompensador, ou o contrário. Esse pensamento é típico dos adeptos do cristianismo. Para a civilização cristã e para boa parte dos judeus (aqueles que acreditam na ressurreição) a Morte era vista como passagem para outra dimensão, a transposição ao eterno sofrimento e expiação (inferno), ou o acesso ao eterno gozo, reservado aos bem- aventurados (o paraíso). A Morte para os cristãos era um estágio intermediário, um sono profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a habitar os corpos (CAPUTO, 2008). Subcategoria 3: Conceitos baseados na ciência  Alemanha: Assim, no meu ponto de vista, eu acho que a Morte ela significa quando a tua vida definitivamente acabou, ou seja, seu corpo parou de funcionar, todos os seus órgãos pararam. Querendo ou não, eu acabo pensando dessa maneira mais científica.  Polônia: A Morte significa, não... não ter mais sinais vitais!
  • 41. Vários estudos concluíram que os acadêmicos ao utilizarem premissas científicas para delimitar a Morte, demonstram serem espectadores do processo. Percebeu-se que eles buscaram na exatidão da ciência e nos conceitos médicos comprovados uma justificativa incontestável e prática para o evento, não se atendo apenas à cessação da função cardíaca, mas de todos os órgãos, quando não se teria mais a menor dúvida da consumação do processo. Acredita-se que a já adiantada preparação acadêmica possa ter condicionado estas opiniões. Nessa representação, a Morte é decorrência e faz parte da vida, despersonalizada, não é de ninguém, é de toda humanidade. Associar a visão de Morte como um evento biológico, referindo-a a partir de conceitos médicos como a cessação de todas as funções vitais e não apenas de uma parada cardíaca, leva o processo a ser entendido como natural; e as pessoas, a serem observadoras do seu processo de morrer (JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007). 4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e os que eles sentem perante a Morte Essa categoria trata de um ponto muito discutido nas literaturas referentes, que é o dos diversos sentimentos expressos pelos estudantes perante um processo de Morte. Sentimentos estes que, na maioria das pesquisas, são condicionados principalmente pelo nível de ligação do acadêmico com a pessoa que morre, seguido das condições da pessoa, onde podemos considerar a idade, por exemplo. O estudo de Júnior e Eltink (2011), aborda isso claramente quando afirma que os acadêmicos associam a experiência da Morte a vários sentimentos tais como ansiedade, medo, apego, culpa, e até mesmo uma postura de indiferença, como se estivesse indiferente à situação, ou seja, o profissional não sentiria nada com a perda do paciente. As respostas dessa unidade foram divididas em três subcategorias: Os que sentem medo da Morte e as conseqüências desse sentimento, Os que sentem tristeza associada à proximidade com a pessoa e, A indignação perante o evento da Morte.
  • 42. Subcategoria 1: Os que sentem medo da Morte e as consequências desse sentimento O medo é a resposta psicológica mais comum diante da Morte. O medo de morrer é universal e atinge a todos, independente da idade, sexo, nível socioeconômico e da religiosidade (JÚNIOR e ELTINK, 2011; OLIVEIRA et al., 2007).  Suíça: Medo! Medo porque eu acho que o ser humano ele tem medo do que não conhece né? Eu acho que o sentimento que eu tenho a respeito da Morte, é medo!  Suécia: Assim, todos nós temos medo da Morte né? Principalmente da Morte daquelas pessoas que a gente gosta. Assim eu sinto angústia, quando eu penso em Morte eu sinto angústia.  Alemanha: É... Assim, em relação à Morte eu acho que... Às vezes eu tenho medo![...] Eu tenho medo da Morte, no meu ponto de vista!  Noruega: Eu sinto pavor (risos), sinto pavor, eu não gosto assim da Morte, acho que é uma coisa assim que traz muito sofrimento. As respostas comprovam o dito pelo autor anterior. O medo constitui-se no principal sentimento apresentado pelos acadêmicos perante a Morte e analisando mais a fundo percebe-se que este sentimento está aliado a uma condição imposta pelo próprio processo, que pode ser ou o desconhecimento acerca do pós-Morte, ou o sofrimento que ele causa e suas conseqüências ao acadêmico. Em Cantídio et al., (2011), distante e, por vezes, alheia às vidas humanas, a Morte ausenta-se do quotidiano, sendo relacionada a elementos de “fascínio” e “mistério” ou afastada, repudiada e até escondida. O temer a Morte por ela ser de fato uma incógnita, é uma reação muito freqüente e a fala de Suíça mostra isso, quando o acadêmico relata que seu medo é baseado na parte desconhecida da Morte. Brêtas et al., (2007), e Júnior e Eltink (2011), dizem que
  • 43. ver a Morte como algo desconhecido traz a tona um medo emotivo, que ao mesmo tempo amedronta e provoca um certo fascínio, pois o desconhecido dá, à pessoa, a possibilidade de descobrir algo novo, que pode vir a ser mais instigante até que a própria vida. O sentimento de angústia, provocado pelo medo da Morte, dito por Suécia reflete uma preocupação do aluno consigo mesmo, com a sua finitude. Essa angústia pode ser condicionada por uma preocupação que surge quando o aluno reflete sobre seu próprio fim, ao presenciar a Morte de outrem, na qual surgem perguntas sobre: Quando morrerei?; Como será a minha Morte?; Morrerei jovem?; A minha Morte vai fazer com que os que amo sofrerem? Reagir dessa forma a uma experiência de Morte leva a pessoa, gradativamente a negar a Morte, como um meio de se defender das reações que ela causa. A pessoa sente- se controladora de seus sentimentos, porém por outro lado há conseqüências bem mais graves, como refere Brêtas et al., (2008), entretanto, uma perda seguida de precária ou má elaboração do luto – não se permitindo a expressão da tristeza e da dor – tem trazido graves conseqüências como a maior possibilidade de adoecimento. Custódio (2010), também reforça essa opinião, pois para ele o uso repetido e prolongado da negação, pode trazer problemas como dificuldades emocionais, e assim como patologias de ordem psicológica. Noruega afirmou que a Morte está sempre atrelada ao sofrimento e que por isso tem pavor e não gosta definitivamente dela. A Morte constitui ainda um acontecimento medonho, que traz muito sofrimento e que choca (OLIVEIRA e AMORIM, 2008). Estudos comprovam que esse repúdio (notado na fala de Noruega) da Morte é inerente ao fato de que ao perder entes queridos a aluna sofre, devido ao rompimento dos laços afetivos e de convivência e esse acontecimento é que acaba por causar tal reação da pessoa. Ela costuma sofrer muito durante o momento e acaba por rejeitar o processo. A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente dolorosas que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experencia, como também para quem a observa, ainda pelo fato de sermos tão impotentes para ajudar (JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007).
  • 44. Bernieri e Hirdes (2007), reforça a conclusão afirmando que a experiência da perda é dolorosa, ameaçadora e solitária, podendo gerar nos indivíduos diversas reações emocionais, como negação, raiva, choque, inércia, ansiedade, depressão e angústia espiritual. Subcategoria 2: Os que sentem tristeza associada à proximidade com a pessoa A tristeza, junto com o medo também é uma reação muito comum em quem vivencia uma Morte, só que diferindo deste, ela muda de acordo com a característica da pessoa que se vê morrer, podendo ser intensa (no caso de entes queridos), ou leve e por vezes até inexistente (no caso de desconhecidos). Esse último ponto toca no assunto muito discutido dentro da Enfermagem, o não envolvimento emocional intenso com os pacientes (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Ao estar presente no momento da Morte de um paciente, o aluno se envolve emocionalmente, não interessando o grau deste envolvimento e a intensidade da emoção gerada, respondendo de maneira particular à estrutura de cada um (BERNIERI e HIRDES, 2007).  Espanha: É relativo! Depende da pessoa que morre! Mas em geral, sente uma tristeza, mas isso não influencia no atendimento ao paciente, aos demais, e a continuação do trabalho.  Grécia: Questão de sentimentos, o principal é tristeza, né? E aí, isso vai depender muito até da proximidade que a pessoa tem comigo. Notou-se, a partir das representações desses estudantes, que eles têm em mente a regra que pondera no mundo profissional da saúde, que enuncia que o bom profissional não se envolve emocionalmente com os pacientes. Esse pensamento de que a proximidade condiciona o nível de tristeza que eles declararam sentir perante a Morte dos pacientes dá a impressão de que o acadêmico já desenvolveu certa frieza, diante do processo, mas na verdade é que essa reação esconde um escudo que tem como objetivo a autopreservação do graduando, justificada quando Espanha confessou que apesar de
  • 45. sentirem um pouco de tristeza o trabalho não chega a ser comprometido, e logo aquela perda é, digamos, superada e o trabalho continuado. A mesma conclusão é encontrada no trabalho de Júnior e Eltink (2011), quando citou que essa atitude do graduando aparece como um mecanismo de defesa, adotado por muitos profissionais de Enfermagem também, que o utilizam, para buscar uma autopreservação, ou seja, para evitar sentimentos indesejáveis diante do sofrimento provocado pela Morte de um paciente sob seus cuidados. Subcategoria 3: A indignação perante o evento da Morte A fala de Portugal chamou atenção por revelar um pensamento pouco comum em relação ao mo alcançar suas metas, ou seja, aproveitar a vida.  Portugal: Olha, falar em Morte você de certa forma, você tem planos pra uma vida e você vai ter que interromper eles. Então não é medo da Morte, eu diria que é o sentimento de você não poder concretizar sonhos futuros... Na verdade, o pesquisado tem medo de morrer jovem e essa visão relaciona-se com uma ideia já discutida anteriormente no trabalho. A Morte hoje em dia é vista como um fracasso, uma derrota. Pois o homem sente que precisa crescer, produzir, contribuir para o progresso, atender às expectativas que lhe são esperadas e para isso teria que viver muito, para ter tempo de realizar tudo isso. E a Morte seria como um obstáculo, que simplesmente poria fim a todo esse projeto maravilhoso de vida, daí entende-se essa revolta com ela, dando a impressão, com isso, de que a Morte seria então injusta. O medo de morrer cedo está relacionado à interrupção prematura da existência humana, ou seja, deixar de viver antes da concretização de um determinado projeto de vida (OLIVEIRA et al., 2007).
  • 46. Reforçando isso, acredita-se que a Morte vinculada à ideia de finitude pode vir acompanhada de tristeza e revolta e/ ou indignação, pois ela interrompe a vida e reflete o ato de pensar na Morte fora de hora (JÚNIOR et al., 2011; GUTIERREZ e CIAMPONE, 2007). 4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a Morte Estar ou não, preparado para a Morte é uma questão muito subjetiva, e que não permite um julgamento definido, pois como já foi citado anteriormente, as visões de Morte são muito influenciáveis e dependentes demais do tipo de pessoa, da maneira como ela viveu e das experiências que teve. Porém a ideologia do curso, por se focar na pessoa em todos os seus aspectos, termina por exigir que a pessoa inserida nessa área, pense e tome um partido, porque se pauta na filosofia do cuidar e acaba por sujeitar o indivíduo a confrontar com este momento certo (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008; LANA e PASSOS, 2008). Essa característica, inerente da Enfermagem, de estar mais próximo do paciente, é o que obriga o acadêmico a preocupar-se com o Morte-morrer, pois somos nós que temos mais chances de presenciar o finamento dele, uma vez que passamos bem mais tempo com eles e temos bem mais chances de estarmos presentes no dito momento (OLIVEIRA e AMORIM, 2008). Verificou-se em Oliveira et al. (2006) “Se tratando de Morte, hoje em dia, pode se dizer que as pessoas morrem mais nos hospitais do que em casa, e nenhum outro profissional da saúde convive tão de perto e tão freqüentemente com a Morte do que o Enfermeiro, pois é ele quem passa a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado” Esta unidade foi dividida em duas subcategorias: Os que se consideram preparados e, Os que não se consideram preparados. Por conseguinte, discutir-se- irá as justificativas dadas pelos acadêmicos.
  • 47. Subcategoria 1: Os que se consideram preparados  Polônia: Hoje sim, eu me sinto! Por que eu já passei por Mortes de pacientes, já tive desde o início depois eu tive o estágio, mas na faculdade não tive preparação nenhuma pelo menos na prática.  Grécia: Preparado, eu acredito que sim! É, a gente na formação acadêmica realmente a gente não recebe um preparo psicológico pra lidar com a Morte, mas o pouco tempo que eu tenho de estágio foi o tempo que eu tive de viver isso no hospital me ajudou muita a me preparar psicologicamente pra lidar com a Morte do paciente  Alemanha: Sim! Eu acho... Eu me sinto preparado! Eu acho que, infelizmente, a gente não teve uma preparação durante nossa vida acadêmica, mas pelas vivências de estágio, até pelo perfil do profissional da área da saúde, você meio que acaba entendendo a Morte como um processo natural.  Inglaterra: Sim, acredito que sim, porque eu me considero assim uma pessoa fria. Quando questionados se sentiam-se preparados para o Morte morrer,a maioria dos alunos respondeu claramente: Sim! E as justificativas mostraram que estes acadêmicos não vêem a Morte dos pacientes como algo tão arrasador assim, mas que é esperado. Isso deixa transparecer que eles já possuem meios que utilizarão para se comportar e superar esses momentos. Tais meios podem compreender: experiências pessoais ou a própria personalidade de cada um. Custódio (2010), defende que para que o profissional consiga se preparar para a Morte dos pacientes, ele precisa compreender e aceitar a Morte como algo inevitável. Inglaterra quando relatou [...] acredito que sim, porque eu me considero assim uma pessoa fria, confessou que utiliza essa característica de sua personalidade para de alguma forma se esquivar dos sentimentos que poderiam advir da experiência e de certa forma reluta em pensar na situação, criando um mecanismo que o protege das conseqüências emocionais que ele poderia ter naquela hora. Takahashi et al., (2008), e Costa e Lima (2005), afirmam que “eles” (os profissionais de Enfermagem) acreditam que sua postura deva ser firme e que reconhecer o seu sofrimento significa ferir sua índole. Ainda há a visão de que o profissional deva ser “frio” ou indiferente na situação de Morte.
  • 48. Já, Polônia, Alemanha e Grécia justificaram que o campo de estágio e as experiências vividas durante ele, foi o que lhes proporcionou adquirir preparo necessário para assistir à Morte dos pacientes. Ao mesmo tempo, acusavam que a academia não havia proporcionado até então nenhuma oportunidade de preparo para o evento, o que leva a crer que o fator sorte, foi o que lhes propiciou atingir este preparo, pois tiveram a oportunidade de ver pacientes morrerem durante o estágio supervisionado. Essa denúncia de que a faculdade não prepara os alunos é vista nos trabalhos sobre o assunto. Um exemplo é a conclusão encontrada em Takahashi et al., (2008): Os graduandos esperam que o curso de graduação em Enfermagem ofereça subsídios básicos para o enfrentamento de situações como a Morte, sendo verificada essa necessidade em todos os anos. Também em Bernieri e Hirdes (2007), estudos sobre Morte-morrer demonstram que a justificativa do despreparo em lidar com tal fenômeno é atribuída muitas vezes à formação acadêmica, e salientam ainda que a graduação continua a não preparar os profissionais para vivenciarem o processo. Aguiar et al., (2006), acrescenta mais a essa conclusão quando relata que essa lacuna deixada pela faculdade, que se preocupa apenas com o tecnicismo pertencente ao momento, deixando de lado a parte psicológica a fim de que a vivência prática se encarregue de instruí-los quanto a isso, acaba por fazer com que os alunos sintam-se despreparados. Subcategoria 2: Os que não se consideram preparados A ideia de que cada caso é único e não depende apenas de preparo universitário, e até mesmo uma postura de desistência, preferindo acreditar que nunca se estará preparado para tal e que a Morte é inevitável foi marcante nas falas dos que se consideraram não-preparados para presenciar a Morte.
  • 49. Tudo isso nos leva a crer que é indissociável a formação profissional da formação pessoal. O despreparo já se faz sentir na própria bagagem de vida, percorrendo os caminhos da educação, perpetuando se através do curso de formação em Enfermagem que ora fazem (OLIVEIRA et al., 2007).  Rússia: A gente nunca tá preparado, mas de certa forma a gente tem que tá psicologicamente bem, pra aceitar isso na hora que chegar.  Suíça: Eu vou ta preparado pra quando acontecer, pra quando o paciente morrer na minha frente? Eu acho que não vou ta! Porque depende de como eu vou estar no momento! Essa impossibilidade de se haver um preparo para que os alunos presenciem a Morte dita pelos estudantes é citada em Custódio (2010), que afirma que, entretanto, apesar da implementação por modificações, ainda existem estudantes que ao final do curso, declaram-se ainda incapazes e imaturos para abordar a Morte dentro da profissão. A fala de Rússia tem uma justificativa que nos leva a crer que a acadêmica não vê a Morte como um insucesso e demonstra já estar convencida da inevitabilidade do processo, como foi discutido na subcategoria antecedente, e sugere que só é preciso se estar psicologicamente bem na hora que conseguimos aceitar mais facilmente o acontecimento, e consequentemente prestar uma assistência mais completa e humanizada. O fato de os estudantes de Enfermagem não perceberem o a Morte como um fracasso se faz importante, pois se afere que eles a consideram como um processo natural, e isso contribui para que prestem uma assistência mais efetiva e humanizada ao indivíduo naquele momento (CUSTÓDIO, 2010). Suíça disse que não se considera preparado, por que esse fato dependeria do estado emocional que ele estivesse na hora. Pode acreditar que este estado emocional possa estar submetido então à ligação que o acadêmico possa ter desenvolvido com o paciente, no caso se o aluno se apegou ao paciente, o que é muito comum. Para Júnior e Eltink (2011):
  • 50. “Quando nos relacionamos e gostamos de alguém sempre vamos deixar algo a essa pessoa e, consequentemente vamos guardar um pouco dela também, pois sempre haverá sentimento, e o cuidar é fazer parte da vida de uma pessoa que precisa da gente, assim de um jeito ou de outro começa a fazer parte de nossas vidas e assim é difícil não ter algum sentimento por essa pessoa e quando se depara com a Morte há uma descarga de emoções, afetos e sentimentos, mesmo que seja dor, saudade, ou mesmo alívio por ver que aquela pessoa estava sofrendo muito.” Ou então, relacionada ao quadro ou às características do paciente, estudos mostram que os alunos têm mais facilidade para lidar com a Morte de pacientes idosos do que com a de pacientes jovens. A percepção dos acadêmicos está diretamente relacionada às vivências pessoais de cada um deles, sendo necessário levar em consideração a idade daquele que padeceu, se era jovem ou velho (CANTÍDIO et al., 2011; BERNIERI e HIRDES 2007). É mais fácil a aceitação da Morte quando se trata de um adulto ou idoso, a maioria dos entrevistados usaram a idade como um dos itens que mais dificulta ou facilita a aceitação (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Para eles a Morte de uma criança ou jovem traz sentimentos de revolta, pois uma tenra vida cheia de felicidade, vivacidade e possibilidades, foi interrompida de maneira cruel e injusta. Já quanto à Morte na velhice sobressai-se a tendência humana de considerar uma Morte já esperada e aceita, pois após muitos anos de vivência seria como se a pessoa já estivesse pronta para o falecimento. Nesse caso, a terminalidade é vista como descanso, após a pessoa ter percorrido toda uma trajetória e vivenciado múltiplas sensações (Cantídio et al., 2011). 4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido Nesta categoria objetiva-se, principalmente, discutir sobre a inclusão de ações que pretendessem preparar os alunos, ainda durante o período acadêmico para as
  • 51. questões e situações que envolvam a Morte. A análise das falas dos entrevistados buscará saber o que os alunos opinam acerca desse ponto e se eles acham importante, ou não, a inclusão de uma disciplina específica para o estudo da Tanatologia. Vários estudos analisados , acerca dessa temática, realçam que a faculdade tem um papel imprescindível como preparadora dos alunos para a Morte. Os conhecimentos teóricos-técnicos e as práticas, ou seja, todo o estudo focado nessa área é muito importante para preparar o estudante de Enfermagem para a prestação da assistência necessária ao paciente em processo de fenecimento (CANTÍDIO 2011; CUSTÓDIO, 2011; SILVA, 2009; BERNIERI e HIRDES, 2007). Acrescenta-se também que este preparo universitário deva abranger também conteúdo que possibilitem ao aluno preparar-se psicologicamente para a experiência, minimizando seus medos e diminuindo a tensão (JÚNIOR e ELTINK, 2011). Os pesquisados, em suma, concordaram que inclusão de uma disciplina se faria de grande importância a fim de prepará-los para a assistência à Morte. Esse fato converge com o encontrado nas literaturas, onde é expresso que os alunos sentem falta de um preparo maior e mais eficaz, por parte da academia, para as questões que envolvem o fim da vida. Para Custódio et al., (2011), alguns recordam que o tema foi discutido em algumas disciplinas, porém consideram insuficiente tal abordagem, declarando ser simplistas as discussões e conteúdos curriculares sobre a Morte durante a formação. Bernieri e Hirdes (2007), concluíram que os acadêmicos de Enfermagem percebem uma carência no que diz respeito ao preparo deles para vivenciar o processo Morte-morrer, sendo esta carência relacionada principalmente à questão emocional. Apesar de algumas universidades oferecerem disciplinas que abordam a temática da Morte, todos os estudos demonstraram que os alunos carecem de reflexão e discussão, a fim de se desnudarem dos pré-conceitos socioculturais ocidentais vivenciados desde a infância (SANTOS e BUENO, 2011). Esta categoria apresentou uma concordância entre as respostas dos alunos, excetuando-se uma que não apresentou requisitos básicos de lógica para ser analisada e
  • 52. foi descartada. Não houve subcategorias definidas e as respostas foram todas convergentes em concordar com a premissa proposta.  Alemanha: Sim! [...]Eu acho que seria interessante pra ver como é que fica a etapa psicológica também, pra gente, principalmente o enfermeiro que tem esse lado psicólogo pra ele poder entender melhor esse processo e trabalhar de maneira mais holística.  Rússia: Com certeza! É, tendo uma disciplina nessa área, de certa forma vai preparar bastante os acadêmicos pra quando vivenciarem isso. É, como eu disse, principalmente trabalhando o psicológico deles. Alemanha e Rússia concordam com o proposto pelo trabalho que incluir uma matéria que abordasse o preparo para a Morte é importante e suas falas são justificadas pela preocupação que os acadêmicos têm com a parte psicológica exigida do profissional enfermeiro para o momento, pois para eles esse profissional tem uma faceta que trabalha com o lado mental dos pacientes, seja apoiando-o e fornecendo conscientizações acerca do seu quadro e prognóstico. Ainda, para Alemanha, esse preparo voltado para o lado psíquico, proporcionaria um cuidar, nas palavras do estudante, mais holístico. A preocupação de Alemanha pode ser verificada em Cantídio et al., (2011), as instituições de ensino devem ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar e lidar com pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento teórico-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim de proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos Assim como em Júnior e Eltink (2011), ao afirmar que é importante a reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que os profissionais se sintam preparados emocionalmente e psicologicamente para lidar com esse assunto. O diálogo com os familiares do paciente terminal, bem como o acolhimento, o conforto, o suporte, e até mesmo a própria preparação para comunicar aos familiares a Morte de seu ente querido, torna-se um processo difícil, com o qual alguns acadêmicos referem não saber como lidar. (BERNIERI e HIRDES, 2007).
  • 53.  Inglaterra: Eu acredito que sim, acredito que seria importante uma matéria pra estar pra tá preparando mais, nós como acadêmicos situações como essa [...] principalmente envolvendo familiares, pra abordar os familiares que acredito que seja a parte mais complicada. Seria essa “abordação” dos familiares.  Noruega: Eu acho que teria que ter, até... É tanto pelo fato de ter mesmo uma preparação do acadêmico, quanto também pra ter uma assistência à família. Inglaterra e Noruega acreditam que essa disciplina deveria ser implantada, pois eles se preocupam com, como irão tratar a família do paciente que foi a óbito e salientam que isto é o que mais lhe faz falta, posta a falta desse aprendizado, por falha da Universidade. A família do paciente se constitui numa preocupação enorme para os acadêmicos de Enfermagem, que se preocupam muito em dar um suporte emocional aos parentes no caso de um paciente vir a morrer. Inglaterra mostra-se preocupado com a abordagem da família na hora de anunciar e apoiar à família. Tal interação só é viável se o profissional desenvolver uma aproximação e empatia com os entes do paciente, usando de sua competência, para se comunicar de forma humilde com eles (BERNIERI e HIRDES, 2007). Pois são o enfermeiro e sua equipe, na maioria das instituições de saúde, os responsáveis por confortar e auxiliar e sua família a viver esse momento da forma menos agressiva e com o menor sofrimento possível (SILVA, 2009). Na fala de Espanha se verifica uma preocupação mais direcionada com a personalidade, onde ela mesma apela que essa disciplina atuasse como uma auxiliadora para os alunos mais sensíveis, que tivessem mais dificuldades em lidar com o processo.  Espanha: Sim , porque a gente assim.... Tem alunos que conseguem lidar numa boa, mas tem alunos mais fracos que, se sensibilizam mais, às vezes. O fato de alguns alunos se sentirem de certa forma menos aptos a lidar com a Morte, pode ser associada com a falta de experiências prévias deste tipo, diferentemente