O documento resume as discussões de um workshop sobre a ocupação territorial do Vale do São Francisco, abordando sua história, desafios socioambientais e potencial para turismo sustentável. Foi destacada a necessidade de parcerias entre universidades, governo e comunidades locais para resolver problemas como poluição, assoreamento dos rios e gestão de resíduos.
1. Carta de Bom Jesus da Lapa/BA
Comitê Bahia - Pennsylvania
CARTA DE BOM JESUS DA LAPA
O IV Worshop Rio São Francisco: cultura, identidade e desenvolvimento, com o
tema “Ocupação Territorial do Vale Sanfranciscano – problemas socioambientais”,
evento de natureza científica de âmbito regional foi realizado na cidade de Bom Jesus da
Lapa/Ba, nos dias 12 e 13 de Julho de 2012, deu continuidade à série de encontros
realizados para divulgação de pesquisas acadêmicas, promovendo o diálogo com os
setores público e privado, visando dar maior visibilidade a estes estudos, pesquisas e
ações decorrentes.
A discussão em torno do vale do São Francisco procura aumentar o conhecimento sobre
a região, chamando a atenção para a sua problemática socioambiental, sua riqueza
cultural, enfim, todo o processo de mudanças e permanências que se verifica neste
espaço geográfico, buscando maior conhecimento sobre a região através da análise de
suas potencialidades e desafios.
Durante a realização do IV Workshop ocorreu uma convergência de olhares sobre o Vale
Sanfranciscano, desde aqueles transmitidos pelos viajantes e cientistas dos séculos XVIII
e XIX, e também daqueles que nos dias atuais pesquisam, estudam e o analisam com um
desejo muito grande, em última instância de contribuir com reflexões sobre as condições
de vida da população ribeirinha.
Sendo o Vale Sanfranciscano no estado da Bahia constituído por 27 municípios de
dimensões médias e grandes, neste documento será focalizado somente alguns
municípios que compõem o trecho do Médio São Francisco, a saber: Ibotirama, Paratinga,
Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Serra do Ramalho e Sítio do Mato. Essa área apresenta
coesão e faz parte na divisão territorial da Bahia, proposta pela Secretaria de
Planejamento em 2006, como Território de Identidade Velho Chico1.
Sob o aspecto histórico, o processo de ocupação do Vale do São Francisco foi, ao longo
dos séculos, muito traumático e violento. As lutas pela posse da terra, desde os primeiros
tempos da colonização, levaram ao processo de dizimação de muitos povos indígenas.
Os negros, resistentes ao regime de escravidão, a duras penas, têm sobrevivido às
agressões desse processo de colonização.
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Barra, Bom Jesus da Lapa, Brotas de Macaúbas, Carinhanha, Feira da Mata, Ibotirama, Igaporã, Malhada, Matina,
Morpará, Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do Ramalho e
Sítio do Mato são os municípios que constituem esse Território.
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Ressalta-se o número expressivo de Quilombos ou agrupamentos de antigos escravos
que se organizaram nesta região. É o caso de Bom Jesus da Lapa, Carinhanha,
Paratinga, Sítio do Mato, o distrito de Gameleira, dentre outros. Esta região tem um forte
laço identitário que se manifesta na música, nas danças, na religiosidade, no artesanato
local, conforme abordado na Mesa Redonda “Diversos Olhares sobre o Vale do São
Francisco” com as importantes contribuições das professoras Elizabeth Kiddy do
Albright College, através de um retrospecto histórico de relatos de viajantes ao longo
dos séculos XVIII e XIX e Cynara Sento-Sé Alves da UNEB, com a análise psicanalítica
da construção identitária dos ribeirinhos e população do entorno do Rio São Francisco a
partir dos mitos e lendas locais.
As diversas comunidades instaladas no Vale do São Francisco se ajustaram às condições
ambientais, à dinâmica do rio e a todo tipo de possibilidades que encontraram, gerando
assim um aspecto fortemente marcado pela religiosidade e devoção aos santos católicos
durante séculos.
Note-se também que, ao lado dessa ocupação antiga, mais do que centenária (Lapa,
Carinhanha, Paratinga), existem espaços de ocupação recente, como Serra do Ramalho,
para onde foram encaminhados os desalojados das barragens de Sobradinho, e depois a
de Itaparica, numa alternativa imposta pelo Regime Militar nos anos 1970 e início dos
anos 1980.
Os conflitos pela posse da terra e problemas com o uso da água, reafirmamos, são muito
antigos na região, criando inclusive desterretorialização das populações que tiveram seus
territórios alagados pela construção de barragens, projetos de irrigação com a priorização
de médios e grandes produtores em detrimento da capacitação e repasse dos recursos ao
pequeno produtor.
A implantação do Projeto Especial de Colonização Serra do Ramalho (PEC), onde se
preparou uma área dividida em lotes ou agrovilas para serem trabalhados pelos colonos,
foi baseado no modelo dos “Kibutz” de Israel. Esses colonos, sem motivação e com muita
revolta por terem sidos desalojados de suas terras e raízes, inviabilizaram o PEC Serra do
Ramalho. Muitos desistiram e se dispersaram.
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Todavia, os colonos que permaneceram se estruturaram com um forte nível de
politização, num período de 16 anos transformaram essas agrovilas em um município –
Serra do Ramalho.
Por outro lado, os projetos de irrigação implantados nesta região também atraíram mão
de obra de outras áreas do estado da Bahia e de outros estados como o Rio Grande do
Norte, Pernambuco ou o Ceará, sobretudo em períodos de secas prolongadas.
A inserção da mulher no mercado de trabalho, e a questão de desvalorização profissional
dessa força de trabalho em atividades remuneradas em áreas de irrigação, foram tratadas
na Mesa redonda “Ocupação Territorial do Vale Sanfranciscano: Problemas
Socioambientais”, com as respectivas contribuições dos professores Marco Antônio
Tomazoni da UFBA, Alcides Caldas da UFBA/ UNIFACS, sendo fortemente realçado
pela professora Lúcia Marisy Oliveira da UNIVASF.
O professor Marco Tomazoni apresentou um estudo de caso sobre o município de
Barreiras, abordando a questão da sustentabilidade na agricultura irrigada. Já o professor
Alcides Caldas abordou o papel do Estado na implementação da agricultura irrigada no
eixo Juazeiro – Petrolina, destacando os principais agentes sociais: a grande e a pequena
produção, os trabalhadores das empresas de frutas e os trabalhadores sem terra.
Durante o debate, foi exemplificada a inclusão da produção de legumes e frutas da ilha de
Canabrava, em Bom Jesus da Lapa para o abastecimento das feiras da cidade,
ressaltando a necessidade de melhor organização, planejamento e articulação social dos
produtores da Ilha com o poder público. Para que isso seja efetivado faz-se necessário
fortalecer os processos educativos formais como base para o desenvolvimento a médio e
longo prazos.
Sensibilizar e politizar a população é mais do que necessário, bem como uma maior
mobilização social, tendo como consequência a inserção da população em processos
econômicos formais.
Foi levantada, por uma moradora local, a situação de dois afluentes do Rio São Francisco
no município, cujos cursos estão secando em função de alterações verificadas em sua
mata ciliar e em áreas alagadiças.
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Na mesa redonda “Turismo de Base Comunitária no Vale do São Francisco:
possibilidades e desafios” a professora Carmélia Amaral da FACTUR explicitou que o
turismo de base comunitária não é um segmento do turismo e sim um modelo de
desenvolvimento, constituindo-se uma alternativa econômica que fortalece os processos
identitários da comunidade, com a valorização do que é seu.
A professora Carolina Spínola da UNIFACS ressaltou que o turismo de base comunitária
traz como desafio o capital social da comunidade, ou seja, a capacidade de querer e de
empreender, além da necessidade de estabelecer redes. Afinal, conforme ressaltado,
iniciativas locais irão resolver questões locais – não as instâncias superiores, ainda que
seja imprescindível a ação governamental e o diálogo entre a sociedade e o Estado.
Foram apresentados exemplos bem sucedidos de Turismo de Base Comunitária no Brasil
e na Bahia e os presentes foram convidados a pensar sobre a possibilidade de adotar
esse modelo de turismo como uma forma de beneficiar as comunidades ribeirinhas dessa
região.
Fernanda Castro, doutoranda da UNIFACS e professora da Universidade Federal de
Sergipe, ressaltou a importância da Universidade na formação de “formadores de
opiniões”, dos protagonistas sociais – agentes de transformação da sociedade em seus
contextos locais e exemplificou que essa parceria vem acontecendo através de projetos
desenvolvidos pela Universidade Federal de Sergipe – onde ela é docente e pesquisadora
– na foz do Rio São Francisco.
Na Mesa redonda “Questões Ambientais – Experiências Locais Vivenciadas”,
tivemos as contribuições do Pe. Vilmar Correia, Membro da Equipe do Santuário de
Bom Jesus da Lapa, Demétrios Pascoal Rocha, Chefe da Assessoria de
Comunicação da Regional da Codevasf em Bom Jesus da Lapa, e da Professora
Maria Célia Santana A. Ribeiro da UNEB. O padre Vilmar Correira fez referências à
questão histórica da poluição ambiental do Santuário e algumas questões culturais que
dificultam a conscientização ambiental na sede do município. Destacou iniciativas do
Santuário nesse sentido.
Foi apresentada pelo representante da CODEVASF a dificuldade de aplicação de projetos
de revitalização do Rio São Francisco. Inicialmente cinco eixos de revitalização foram
apresentados, a saber: combate aos processos erosivos, saneamento básico,
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recomposição de nascentes, Hidrovia São Francisco e programa de arranjos produtivos
locais articulados ao meio ambiente.
No entanto, a maior parte dos recursos foi destinada a obras de saneamento básico. Além
disso, foi colocada a necessidade de maior articulação com a Universidade, pois o
conhecimento técnico insuficiente sobre os outros eixos vem dificultando/inviabilizando a
consecução dos mesmos.
Ressaltou-se que o desmatamento generalizado das áreas ribeirinhas da Bacia ao longo
dos séculos de ocupação deu início ao processo de erosão e assoreamento do rio, cujos
reflexos afetam a pesca artesanal e a navegação fluvial de forma regular, bancos de areia
que se multiplicam e se apresentam móveis e perigosos.
Em entrevistas com pescadores, mestres de navegação e ribeirinhos, vários relatos sobre
a dificuldade de navegação devido ao assoreamento, a diminuição e “sumiço” de várias
espécies foram recorrentes, reforçando a necessidade de ações urgentes e concretas na
contenção, diminuição e erradicação dos problemas constatados.
Exortou-se que a Universidade precisa produzir trabalhos científicos (através de parcerias
e convênios para a necessária captação de recursos) a fim de que a CODEVASF, como
órgão executor das políticas públicas possa aplicar corretamente técnicas e tecnologias
na revitalização do rio e, além disso, a sociedade civil também precisa cobrar ações
efetivas. Assim, na percepção do expositor, o trabalho de revitalização se dará de modo
mais científico e menos utópico.
A professora Maria Célia Ribeiro da UNEB apresentou os resultados de um projeto de
educação ambiental aplicado em Bom Jesus da Lapa, mas que devido a sua
descontinuidade e falta de recursos financeiros não vingou. Hoje um problema seríssimo
que aflige a sede do município é a questão da geração/coleta e destinação final de
resíduos sólidos.
Relacionou a questão do lixo urbano lembrando que dissociado de práticas de gestão
integrada e de programas de conscientização ambiental geram problemas ambientais
seríssimos. Em Bom Jesus da Lapa, por exemplo, o lixo gerado pelas Romarias tem
intensificado os impactos ambientais negativos na área urbana do município.
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Os plásticos, latas de alumínio, papel, papelão, restos de comida, dejetos humanos e de
animais com disposição final inadequada geram a proliferação de insetos, pernilongos,
ratos e baratas, grandes vetores de doenças. Efluentes líquidos provocam a
contaminação da água do rio São Francisco, que se presume esteja bastante poluído no
entorno da cidade, embora o rio seja fonte de abastecimento humano, de alimentação e
de atividades recreativas. Tais problemáticas ambientais já constatadas por todos os
habitantes de Bom Jesus da Lapa tendem a se agravar, se medidas integradas não forem
tomadas.
Durante o debate, os participantes ressaltaram que a Universidade tem o conhecimento
técnico, a população a vontade e o poder público os recursos financeiros, devendo de
modo integrado realizar a gestão dos resíduos sólidos no município, que em momentos
pontuais – nas Romarias (cerca de 700 mil pessoas/ano) – gera, literalmente, montanhas
de lixo.
Foi relatado, inclusive, que nas inúmeras reuniões que antecedem as romarias, sempre é
colocado pelo poder público não haver recursos para as necessárias ações pontuais,
entre elas, a coleta intensiva do lixo gerado, a colocação de banheiros químicos em
pontos estratégicos da cidade, básica, na área de acampamento dos romeiros, entre
outras ações.
É necessário e urgente que o poder público e a sociedade saiam da inércia e atuem na
resolução do problema, afinal, no luxo e no lixo a fé dos romeiros permanece inabalável e
presença maciça nas romarias, que se iniciaram há mais de 300 anos.
O representante da CODEVASF assumiu a dificuldade de ação integrada com
universidade e prefeitura, a UNEB informou que trabalhos de conclusão de curso na área
de educação ambiental vêm sendo realizados, porém a discussão com o poder público
ainda é insipiente. No entanto, professores recém-titulados estão retornando à
Universidade no Campus XVII, fortalecendo a visão crítica da instituição, melhorando o
relacionamento com outras instituições e poder público, através da articulação entre
ensino, pesquisa e extensão.
Deve ser ressaltada a contribuição dos estudantes de graduação do Curso Superior de
Tecnologia em Gestão Ambiental da UNIFACS com uma cartilha de educação ambiental
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voltada para a questão do lixo e centrada no conceito de pegada ecológica, sendo
distribuída entre os presentes.
Importantes atividades culturais foram realizadas ao longo do evento, tais como
apresentação de vídeos, exposição fotográfica sobre Bom Jesus da Lapa, do fotógrafo
Edmundo Brandão, apresentação musical do artista Sócrates Rocha e do Projeto
Música, Arte e Cultura na Escola, da Secretaria Municipal de Educação coordenado
pela pedagoga Silvia Letícia Figueiredo e constituído por artistas locais.
No dia 13 de julho, os trabalhos foram iniciados com a Mesa redonda “Problemática da
Água: monitoramento da qualidade da água”, com a participação do professor Bryce
Brylawski, do Albright College (EUA), com tradução simultânea de Luan Cardoso,
estudante do curso de Administração da UNEB, Campus XVII. O biólogo Wander
Nascimento, da EMBASA – Escritório de Barreiras também apresentou um excelente
trabalho sobre o tema.
O professor Bryce Brylawski explanou sobre a ação humana e a consequente alteração
dos ecossistemas lacustres e fluviais, com a histórica poluição antrópica, diminuição da
qualidade ambiental e perda da biodiversidade. Apresentou os critérios de classificação
da água bem como os parâmetros e tecnologias utilizados para monitoramento da
qualidade da água, apresentando alguns aparelhos de medição utilizados para tal fim.
Com aplicação de tais conhecimentos, os Estados Unidos conseguiram uma melhoria de
40% na qualidade das águas nas bacias hidrográficas.
Wander Nascimento falou sobre as políticas públicas, relacionadas à questão da água,
aplicadas pela EMBASA na bacia do São Francisco no Estado da Bahia. Apresentou
também sobre o monitoramento da qualidade das águas, captação e tratamento nas
Estações de Tratamento de Água (ETA) e Estação de Tratamento de Esgoto (ETE),
distribuição de água tratada para as populações dos municípios, além de obras e
investimentos nos municípios beneficiados pela bacia do São Francisco.
A seguir foram apresentadas em uma mesa redonda informes das pesquisas em
andamento dos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional e Urbano em nível de Mestrado e também dos estudantes de graduação em
Engenharia Ambiental e Sanitária da UNIFACS, Bolsistas de Iniciação Científica,
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vinculados ao Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente – GPTURIS da
UNIFACS, coordenado pela professora Regina Souza.
A mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano e bolsista CAPES, Analice
Gramacho, apresentou as idéias preliminares de sua pesquisa que será desenvolvida em
São Desidério/Ba sobre o aproveitamento das águas do Rio das Fêmeas e sua relação
com o desenvolvimento do referido município, ponderando sobre a qualidade das suas
águas, o acesso aos diversos usuários, e a percepção social em relação à sua gestão e
importância.
A mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano e bolsista FAPESB, Josemary
Santana, apresentou a pesquisa intitulada “O desenvolvimento do turismo religioso e os
impactos socioambientais: o caso de Bom Jesus da Lapa-Ba”, cujo objetivo geral é
compreender a dimensão do turismo religioso enquanto vetor de desenvolvimento local
nesse município, analisando os impactos socioambientais. A pesquisa ainda se encontra
em estágio inicial.
A bolsista IC Daniele Balbino do CNPq/UNIFACS apresentou o projeto de pesquisa em
estágio inicial orientado pela professora Marion Cunha sobre a avaliação da qualidade da
água do Rio São Francisco – trecho Bom Jesus da Lapa e as principais atividades
antrópicas impactantes.
Maíra Torres bolsista IC FAPESB/UNIFACS apresentou sumariamente o projeto
“Impactos Socioambientais no Rio São Francisco resultantes da ação antrópica”, sob a
orientação da professora Regina Souza, ressaltando o desmatamento das matas ciliares,
das nascentes, os processos de erosão e assoreamento decorrentes.
Patrick Passinho, bolsista IC FAPESB/UNIFACS apresentou projeto intitulado “A
Educação Ambiental como forma de minimizar os impactos ambientais causados ao Rio
São Francisco pela Romaria de Bom Jesus da Lapa”, sob orientação da professora
Regina Souza, pretendendo estudar como as atividades educativas podem se tornar
eficientes em casos como o da referida cidade.
A bolsista IC FAPESB/UNIFACS Raissa da Matta apresentou trabalho em fase de
conclusão sobre as medidas de conservação ambiental adotadas pelos meios de
hospedagem e sob a orientação das professoras Regina Souza e Maria Cândida
Mousinho.
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Outra mesa de informes apresentou o Projeto Canta Vale, com 18 anos de existência,
com o Sr. Carlos Humberto Souza (Carlão), coordenador do mesmo, discorrendo sobre
a atuação em vários municípios do médio São Francisco no estado da Bahia com
campanhas, eventos e programas que visam a preservação ambiental e sociocultural
através das manifestações populares, artísticas e culturais. Em Bom Jesus da Lapa o
Projeto atua em três vertentes, a saber: Festival de Teatro, Feira de Artesanato e Rock in
Rio São Francisco Festival.
O Sr. Crisjeorge Soares Barbosa apresentou o Movimento Morro a Vista, referenciado
sobre o fato da cidade estar de “costas para o rio”, com a sua orla na sede municipal
abandonada com muito lixo, violência, etc. O movimento tem oito anos de existência,
ainda sem personalidade jurídica e seu objetivo é impedir o avanço das construções
verticalizadas na cidade e discutir tombamento do morro enquanto patrimônio natural e
cultural/religioso. Um dos resultados do movimento foi a aprovação de lei municipal em
2009 para tombamento do Centro Histórico de Bom Jesus da Lapa (entorno do morro) e
impedimento das construções verticalizadas. Atualmente discute-se o tombamento do
morro da Lapa. Foi colocada a omissão do poder público municipal, embora exista a lei.
Exortou a necessidade de envolvimento da população para os problemas socioambientais
vigentes.
Por fim, a professora Maria da Conceição Rocha, apresentou o Projeto Mãe Natureza
pede Passagem, que desde 1993 atua no município de Bom Jesus da Lapa, com a
criação de viveiros de árvores e replantio na cidade e nas margens do rio além de outras
ações de educação ambiental, tais como hortas escolares e caseiras, substituição de
sacolas plásticas por outras ecologicamente corretas.
No final da manhã, a mestranda em Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS,
Ilana Cairo, apresentou a palestra intitulada Gestão Integrada de Resíduos Sólidos,
sobre a coleta, tratamento e destino dos resíduos sólidos, numa visão de gestão integrada
dos resíduos sólidos.
Pela tarde algumas oficinas temáticas foram ministradas na UNEB, como “Gestão
Sustentável: Desafio do Milênio”, pela Profa. Celeste Aparecida Pimentel, da UNEB –
Campus VI. O objetivo foi demonstrar a importância da Educação Ambiental para a vida,
identificar as principais consequências das ações antrópicas para o meio ambiente,
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aprimorar os conhecimentos sobre os problemas ambientais e propor ações diárias que
contribuam para amenizar os problemas socioambientais.
Para tanto, durante a oficina, as atividades pedagógicas desenvolvidas priorizam a
produção de painel, árvore dos sonhos, mural criativo, trilha ecológica e pacto de amor,
atividades essas desenvolvidas em uma perspectiva de ensino aprendizagem de maneira
lúdica, possibilitando reconhecimento da beleza, da diversidade biológica existentes no
planeta, despertando o desejo de preservar.
A oficina “Monitoramento da qualidade da água” foi ministrada pelo Prof. Bryce
Brylawski, do Albright College (EUA).
As oficinas “A dimensão cultural para o desenvolvimento sustentável: o Rio São
Francisco em questão”, “A dimensão espacial do desenvolvimento sustentável:
ocupação do solo na área de preservação permanente do Rio São Francisco e
impactos ambientais” e “Potencialidades do uso educativo do conceito de bacia
hidrográfica em projetos de educação ambiental: um recorte no contexto do São
Francisco” foram orientadas pela Profa. Maria Célia Santana Aguiar Ribeiro, do
Campus XVII e monitoradas por discentes da UNEB de Bom Jesus da Lapa.
A peça teatral O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna de Ariano Suassuna foi
encenada no final da tarde pelo Grupo Teatral Retórica Desnuda (UNEB).
Com participação ativa da comunidade nas oficinas e debates sobre situações cruciais da
região acredita-se ter sido possível a construção coletiva de conhecimento e
aprofundamento do debate buscando atingir os objetivos propostos.
Como recomendado por vários participantes durante o evento, é necessário realizar
práticas efetivas, envolvendo de modo integrado universidade, sociedade e Estado, cada
qual no seu âmbito de atuação. Assim, como não poderia deixar de ser, apresentamos as
intenções de todos os participantes com o objetivo de gerar uma pauta de planejamento e
ação efetiva por parte dos órgãos responsáveis, do poder público municipal e da
sociedade civil organizada. Assim sendo:
Queremos a elaboração do mapeamento das comunidades existentes no Território de
Identidade Velho Chico e a partir daí, identificar as vocações para que, através de
convênios com Universidades e órgãos de desenvolvimento regional possa ser iniciado
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um processo de capacitações para melhorar o desempenho das populações e prepará-
las para a geração de trabalho e renda, a exemplo do estímulo a criação de
cooperativas de atividades produtivas tradicionais, reforço às associações e
desenvolvimento de turismo religioso e de base comunitária.
Queremos o processo formativo da Universidade através do tripé ensino-pesquisa e
extensão, com ações envolvendo a comunidade em pesquisas/capacitações com
possibilidade efetiva de aplicação dos resultados nos contextos locais.
Queremos o fortalecimento dos protagonistas sociais – agentes de transformação da
sociedade em seus contextos locais, com articulação em rede.
Queremos que a população local seja mais participativa e que execute ações em
parceria com o poder público para a melhoria da sua qualidade de vida.
Queremos a articulação entre a Universidade, o Sebrae e a CDL no sentido de
implementar um plano de qualificação do turismo religioso de Bom Jesus da Lapa.
Queremos que a Prefeitura Municipal proceda aos trâmites administrativos
necessários para o tombamento do Morro do Santuário da Lapa como patrimônio
natural e cultural do município.
Queremos uma integração entre a Prefeitura Municipal, a Reitoria do Santuário e
Diocese de Bom Jesus da Lapa além dos outros órgãos competentes na criação de
infra-estrutura como sanitários, sanitários químicos, estacionamentos para os veículos,
disciplinamento das barracas de artesanato e criação de estrutura para acampamentos
de romeiros.
Queremos que a Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Lapa envolva as diversas
secretarias pertinentes e alguns órgãos da administração estadual em uma gestão
integrada dos resíduos sólidos, com ações permanentes e campanhas pontuais nos
períodos de romaria, tal como apresentado pela professora Maria Celia Aguiar na
Campanha de Educação Ambiental da UNEB com instituições parceiras.
Queremos que as escolas estaduais e municipais de Bom Jesus da Lapa desenvolvam
com seus alunos projetos de educação ambiental, direcionados principalmente para a
questão do lixo.
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Comitê Bahia - Pennsylvania
Queremos que a Prefeitura Municipal em parceria com a UNEB implementem a
Agenda 21 local de Bom Jesus da Lapa.
Desejamos discernimento, iniciativa e realizações.
Bom Jesus da Lapa, 13 de julho de 2012.
Parceiros: UNIFACS – Universidade Salvador/ Laureate – International Universities,
UNEB – Campus XVII Bom Jesus da Lapa, Albright College (EUA) e Companheiros das
Américas – Comitê Bahia/Pennsylvania.
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