1. O ministério pastoral
Anísio Renato de Andrade
Além das considerações sobre nossa relação pessoal com o Senhor, podemos ler o salmo 23 tendo em mente o
ministério pastoral exercido na igreja, embora não tenha sido este o objetivo do autor. Através dessa passagem
bíblica podemos perceber características necessárias aos pastores e outros líderes, como imitadores e representantes
do Sumo Pastor.
O amor (v.3) é o primeiro requisito para o ministério pastoral. O pastor precisa ser bondoso e misericordioso (v.6).
Precisa amar ao Senhor, amar as ovelhas, amar a obra de Deus. Em segundo lugar, a justiça (v.3) deve pautar o
exercício do ministério. A corrupção, a desonestidade, a mentira, a injustiça e a arbitrariedade não se coadunam com
os propósitos de Deus.
O pastor deve alimentar as ovelhas (v.2), dando-lhes o mais puro alimento espiritual, que é a Palavra de Deus.
Isso requer preparo, dedicação e habilidade. Muitos estão preocupados é em alimentar-se das ovelhas. O sustento do
obreiro é legítimo e necessário. Contudo, não se deve admitir que as ovelhas sejam espoliadas, exigindo-se-lhes
contribuições compulsórias ou trabalho forçado. Ofertas sacrificiais podem ser algo maravilhoso, mas devem ser
voluntárias por parte daqueles que as realizam, e não resultado de manipulação, pressão ou constrangimento. O
pastor deve visar, em primeiro lugar o benefício das ovelhas e não o seu próprio. Se o pastor engorda e as ovelhas
definham, algo está muito errado. Tais considerações se referem aos falsos pastores, mas é importante que os
verdadeiros também estejam sempre atentos a isso para não incorrerem em erro.
O pastor deve guiar as ovelhas (v.2). Esse ministério inclui o ensino, o aconselhamento, a admoestação, sempre
visando o melhor caminho para a ovelha. O líder precisa ajudar seus liderados em suas decisões, mas isso não
significa decidir no lugar deles. Esse papel de condutor pressupõe experiência anterior. O pastor só pode levar as
ovelhas em caminhos por onde ele mesmo já tenha passado. Assim, observamos que o neófito ou novo convertido
não está ainda apto para o ministério (I Tm.3.6). Entusiasmo não substitui a experiência. É muito difícil dizer qual
seria o tempo necessário entre a conversão e o ministério, mas o certo é que, antes de ser pastor, a pessoa precisa
ser ovelha durante o período suficiente para conhecer os caminhos dos "pastos verdejantes" e as formas de combate
ao adversário. O candidato ao ministério deve conhecer muito bem a bíblia e ter também conhecimento de Deus
através de experiências espirituais. O tempo que os discípulos tiveram com Jesus antes de exercerem seus próprios
ministérios é uma boa referência. O pastor prematuro pode ser uma fonte de heresias, colocando em risco a saúde e
a vida das ovelhas.
Guiar não é sinônimo de manipular. A exigência pela obediência tem sido usada por muitos para que seus
liderados façam tudo o que o líder quer. Isso, em muitos casos, tem chegado a extremos absurdos. Dizendo ser a
vontade de Deus, muitos líderes levam suas ovelhas para o caminho do abismo. Por isso, é importante que cada
cristão examine a bíblia, que funciona como bússola para sabermos se a direção dada pelo líder está certa (At.17.11).
Se estiver coerente com as Escrituras, então vamos segui-lo, vamos apoiá-lo com nossos recursos e nossas forças.
Caso contrário, precisaremos rever nossa posição e compromisso.
Outro fator importante é a pluralidade ministerial na igreja. É importante que haja apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres, tudo no plural, conforme está em Efésios 4.11. Esses homens devem atuar em
conjunto, devem ouvir uns aos outros, afim de que não prevaleça a vontade de um homem, mas o entendimento da
vontade de Deus (At.15).
O líder deve ser um orientador e não um dominador do rebanho (I Pedro 5.1-3). Dominador é aquele que tem o
domínio, ou seja, é o Senhor. Somente ele é o dono das ovelhas. Os pastores humanos são cuidadores, orientadores,
mas não são os donos. Não está certo o líder querer controlar a vida das pessoas. Ele deve ensinar os princípios
divinos para uma vida reta. Depois, deve deixar que cada um decida livremente o que fazer. Não é o líder quem deve
decidir sobre o casamento, a casa, o emprego, a viagem ou os negócios dos membros da igreja. Nem deve exigir que
tudo lhe seja comunicado no que diz respeito à vida particular. Isso se torna um fardo insuportável, além de não ter
fundamento bíblico. Um pastor não deve ser um ditador.
O pastor deve guiar mansamente (v.2). Não basta fazer o trabalho. Precisamos ver como o trabalho está sendo
feito. O modo está em destaque: mansamente. A ovelha é um animal dócil e frágil. Precisa de proteção e não de
espancamento. Embora existam também bodes no meio do rebanho, nem a eles o Senhor mandou maltratar (II
Tm.2.25). Afinal, espiritualmente falando, é muito difícil discernir quem é bode e quem é ovelha. Seria como separar
o joio do trigo, e essa tarefa cabe a Deus e não a nós (Mt.13.28-30; Mt.25.33). O pastor precisa ser manso e humilde
com suas ovelhas. Mesmo quando falar do pecado, deve fazê-lo com mansidão (Gálatas 6.1), pois o próprio líder, se
pecar, desejará ser tratado da mesma forma.
O pastor é aquele que vive para livrar as ovelhas da morte, para salvá-las das garras do leão. Que Deus abençoe
os nossos pastores, que tanto têm trabalhado, dando suas vidas pelas ovelhas. Que Jesus, o pastor de todos nós,
lhes dê a recompensa pelo seu esforço nessa causa tão nobre.
Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
http://www.geocities.com/athens/agora/8337
25/12/2006 16:46:06
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