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Sumário

SUMÁRIO..................................................................................................................................1
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................7
METODOLOGIA.......................................................................................................................... 7
DESENVOLVIMENTO .................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1 .. : IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DO METODISMO NO NORDESTE DO
BRASIL ....................................................................................................................................12
1.1. ASPECTOS GERAIS DA HISTÓRIA E REALIDADE DO NORDESTE............................................... 13
1.1.1. Colonização e produção de riquezas.............................................................................................................13
1.1.2. Relações sociais.................................................................................................................................................16
1.1.3. Aspectos culturais .............................................................................................................................................17
1.1.4. Divisão Geográfica do Nordeste....................................................................................................................20

1.2. AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE IMPLANTAÇÃO DO METODISMO NO NORDESTE ...................... 20
1.2.1. O metodismo no Nordeste: rev. Benedito Natal Quintanilha....................................................................22
1.2.2. Segundo missionário em Salvador.................................................................................................................24
1.2.3. Expansão em Recife, PE...................................................................................................................................24
1.2.4. Segundo missionário em Recife, PE...............................................................................................................30
1.2.5. Fred Morris, missionário americano torturado em Recife ........................................................................31
1.2.6. Ministério do rev. Adolfo Evaristo de Souza................................................................................................32
1.2.7. As primeiras mulheres na missão metodista no Nordeste..........................................................................33
1.2.8. Expansão em Aracaju, SE................................................................................................................................34
1.2.9. Primeiro missionário em Aracaju, SE ...........................................................................................................35
1.2.10. Segundo missionário em Aracaju, SE..........................................................................................................36
1.2.11. Expansão em Fortaleza, CE..........................................................................................................................36
1.2.12. O pioneiro do metodismo em Fortaleza, CE..............................................................................................37
1.2.13. Segundo missionário metodista em Fortaleza, CE....................................................................................38
1.2.14. A expansão do metodismo em João Pessoa, PB ........................................................................................40
1.2.15. A expansão do metodismo em Natal, RN ....................................................................................................40
1.2.16. Primeiro missionário em Natal, RN.............................................................................................................40
1.2.17. A expansão em Campina Grande, PB .........................................................................................................41

1.3. AVANÇO MISSIONÁRIO: PERSPECTIVAS ATUAIS ................................................................... 41
CAPÍTULO 2: ESTRUTURAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA REGIÃO MISSIONÁRIA DO
NORDESTE .............................................................................................................................43
2.1. CAMPOS MISSIONÁRIOS GERAIS......................................................................................... 46
2.1.1. 1ª Conferência Missionária no Nordeste (1969).........................................................................................47
2.1.2. Em busca da criação de uma Região Eclesiástica ......................................................................................48
2.1.3. O surgimento do Encomene.............................................................................................................................49

2.2. CRIAÇÃO DA REGIÃO MISSIONÁRIA DO NORDESTE.............................................................. 50
Sumário

2

2.2.1. Bispo Supervisor (1983-1987) ........................................................................................................................52
2.2.2. 2ª Consulta Missionária (1986)......................................................................................................................53
2.2.3. 14º Concílio Geral (1987)................................................................................................................................54
2.2.4. Primeiro bispo residente e sua práxis missionária (1988) ........................................................................55
2.2.5. Autonomia Administrativa da Região Missionária do Nordeste (1997)..................................................58
2.2.6. Segundo bispo residente, Adriel de Souza Maia (1998).............................................................................59
2.2.7. Primeira mulher no episcopado metodista brasileiro e nordestino (2001) ............................................61
2.2.9. Resumo do desenvolvimento histórico do metodismo no Nordeste..........................................................65
2.2.10. Primeiras mulheres metodistas missionárias no Nordeste......................................................................65
2.2.11. Aspectos Históricos do Metodismo no Nordeste até Criação da Região Missionária do Nordeste do
Brasil ..............................................................................................................................................................................66

CAPÍTULO 3: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A PRÁXIS RELIGIOSA ....... DO
METODISMO NO NORDESTE DO BRASIL .......................................................................67
3.1. O CONCEITO DE MISSÃO ENTRE 1946 E 2003........................................................................ 68
3.2. O CONCEITO DE MISSÃO À LUZ DO P LANO PARA A VIDA E MISSÃO ....................................... 75
3.3. MISSÃO EM DAVID BOSCH................................................................................................. 77
3.4. CONTEXTUALIZAÇÃO E INCULTURAÇÃO NA MISSÃO ........................................................... 80
3.5. A PRÁXIS RELIGIOSA NA MISSÃO METODISTA NO NORDESTE ................................................ 84
3.5.1. Breve retomada e análise do contexto da práxis religiosa no Nordeste.................................................85
3.5.2. Modelo de auto-sustento na práxis religiosa do Metodismo no Nordeste do Brasil.............................88
3.5.3. Modelo de auto-proclamação/propagação ou expansão missionária.....................................................90
3.5.4. Modelo Social: em busca de uma missão libertadora (solidariedade em situações de desesperança)
.........................................................................................................................................................................................91

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................103
TESES, DISSERTAÇÕES E MONOGRAFIAS.........................................................................................105
P ERIÓDICOS DA IGREJA METODISTA ........................................................................................107
DOCUMENTOS DA IGREJA METODISTA.....................................................................................109
SITES DA INTERNET ................................................................................................................110
ANEXOS ................................................................................................................................111
INFORMAÇÕES ESSENCIAIS PARA A COMPREENSÃO DOS ANEXOS ...................112
ANEXO 1: ENTREVISTA COM DORIVAL RODRIGUES BEULKE ..............................114
1.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................114
1.2. P REPARO .........................................................................................................................114
1.3. ENVIO .............................................................................................................................115
1.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................115
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................119
ANEXO 2: ENTREVISTA COM ROBERT H. SPENCER .................................................121
2.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................121
2.2. P REPARO .........................................................................................................................121
2.3. ENVIO .............................................................................................................................121
2.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................122
Sumário

3

TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................124
ANEXO 3: ENTREVISTA COM FRED MORRIS..............................................................126
3.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................126
3.2. P REPARO .........................................................................................................................126
3.3. ENVIO .............................................................................................................................127
3.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................127
3.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................130
3.6. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................131
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................133
ANEXO 4: ENTREVISTA COM BISPO ADOLFO EVA RISTO DE SOUZA ...................135
4.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................135
4.2. P REPARO .........................................................................................................................135
4.3. ENVIO .............................................................................................................................136
4.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................136
4.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................138
4.6. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................139
4.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................140
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................142
ANEXO 5: ENTREVISTA COM ARLETE QUARESMA..................................................144
5.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................144
5.2. P REPARO .........................................................................................................................144
5.3. ENVIO .............................................................................................................................145
5.4. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................146
5.5. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS................................................................................................147
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................149
ANEXO 6: ENTREVISTA COM MARIA RAIMUNDA LOPES MONTEIRO.................151
6.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................151
6.2. P REPARO .........................................................................................................................152
6.3. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................152
6.4. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................153
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................154
ANEXO 7: ENTREVISTA COM JANE MENESES BLACKBURN ..................................156
7.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................156
7.2. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................157
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................160
ANEXO 8: ENTREVISTA COM WILSON DE CARVALHO ............................................162
Sumário

4

8.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................162
8.2. P REPARO .........................................................................................................................162
8.3. ENVIO .............................................................................................................................163
8.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................163
8.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................164
8.6. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................165
8.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................165
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................168
ANEXO 9: ENTREVISTA COM ROMEU SCHIRMER E ÉLIDA FAGUNDES ..............170
9.1. HISTÓRIA.........................................................................................................................170
9.2. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................173
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................175
ANEXO 10: ENTREVISTA COM JOSIAS TERENZI PINTO...........................................177
10.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................177
10.2. P REPARO .......................................................................................................................178
10.3. ENVIO............................................................................................................................178
10.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................179
10.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................180
10.6. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................181
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................182
ANEXO 11: ENTREVISTA COM ELY TEODORO DA SILVA ........................................184
11.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................184
11.2. P REPARO .......................................................................................................................184
11.3. ENVIO............................................................................................................................185
11.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................185
11.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................188
11.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................190
11.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................191
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................194
ANEXO 12: ENTREVISTA COM FRANCISCO PORTO DE ALMEIDA ........................196
12.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................196
12.2. ENVIO............................................................................................................................197
12.3. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................197
12.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................198
12.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................199
12.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................199
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................201
Sumário

5

ANEXO 13:ENTREVISTA COM O REV.WILLIAN.F.ROGER ......................................203
13.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................203
13.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO .........................................................................................203
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................206
ANEXO 14: ENTREVISTA COM BISPO PAULO AYRES DE MATOS ..........................208
14.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................208
14.2. P REPARO .......................................................................................................................209
14.3. ENVIO............................................................................................................................210
14.4. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................210
14.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................213
14.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ..............................................................................................215
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................220
ANEXO 15: ENTREVISTA COM O BISPO ADRIEL DE SOUZA MAIA........................222
15 .1. VOCAÇÃO .....................................................................................................................222
15.2. P REPARO .......................................................................................................................222
15.3. ENVIO............................................................................................................................223
15.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................223
15.5. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................226
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................229
ANEXO 16: ENTREVISTA COM DAVID ORSI ................................................................231
16.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................231
16.2. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................231
16.3. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................233
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................234
ANEXO 17: ENTREVISTA COM MARLENE T. KITTER BATISTA..............................236
17.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................236
17.2. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................237
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................239
ANEXO 18: ENTREVISTA COM JOÃO RIBEIRO DA SILVA ........................................241
18.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................241
18.2. P REPARO .......................................................................................................................241
18.3. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................241
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................243
ANEXO 19: ENTREVISTA COM JOSÉ GERALDO CARDOSO .....................................245
19.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................245
Sumário

6

19.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................245
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................248
ANEXO 20: ENTREVISTA COM MARISA FERREIRA FREITAS COUTINHO ...........250
20.1. VIDA PESSOAL................................................................................................................250
20.2. ESTRUTURA ECLESIÁSTICA .............................................................................................251
TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR ......................................................263
Introdução

O interesse pela pesquisa ora proposta advém de uma paixão pessoal pela obra
missionária, que ocasionou, ao longo dos anos de ministério pastoral, grande dedicação ao
tema. Da mesma forma, isso se reflete na caminhada acadêmica, com o desenvolvimento de
pesquisas na área de missões, metodismo e eclesiologia.
Além disso, a participação em diversos programas da Igreja Metodista, bem
como visitas a cidades, igrejas e campos missionários, ocasionaram um prévio conhecimento
da situação e caminhada da Igreja Metodista no Nordeste. Desse convívio, resulta ainda o
estabelecimento de laços significativos com pastoras/as, missionários/as e leigos/as que ali
residem. Esta convivência e conhecimento adquirido possibilitam- me verificar a necessidade
de propor, por meio desta pesquisa, a análise e conseqüente geração de informações para
leitores e pesquisadores afins com o tema proposto, quiçá propiciando caminhos e alternativas
para os impasses encontrados.
Esta pesquisa analisa criticamente, na perspectiva da práxis religiosa, a
história, a estratégia de implantação e a configuração do metodismo no Nordeste do Brasil,
desde seu início, em 1946, na Bahia; posteriormente, em 1960, a partir de Recife, e sua
expansão até o ano de 2003.

Metodologia
Pela natureza metodológica deste trabalho, ele se configura de forma
bibliográfica (com consulta de documentos específicos) e coleta de dados por meio de
pesquisa de campo.
Introdução

8

Inicialmente, a pesquisa prevê a recuperação histórica do processo de
implantação do Metodismo no Nordeste, por meio de levantamento bibliográfico e de dados
de campo, utilizando os livros de história do Metodismo disponíveis, os documentos da Igreja
produzidos no período histórico abordado e materiais diversos , tais como, jornais, revistas e
demais meios de comunicação utilizados pela Igreja Metodista e entidades cooperadoras.
Pretende-se, ainda, verificar como as pessoas enviadas na condição de
missionárias metodistas compreendem sua missão, seu perfil e sua atuação no Nordeste, e
observar Igrejas, campos missionários e comunidades em suas formas de organização e
atuação, apontando pontos de aproximação e distanciamento das estratégias propostas pela
organização da Igreja.
Há vários métodos em Ciências Sociais, pelos quais se pode escrever uma obra.
O método utilizado nesta pesquisa foi o método histórico-crítico, como referencial para
interpretar os sinais do período em análise. Lakatos e Marconi o definem da seguinte forma:
Partindo do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituiç ões e os
costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas raízes para compreender
sua natureza e função. Assim, o método histórico consiste em investigar
acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na
sociedade hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações
de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural
particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que
atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de suas
formações e de suas modificações.1

Para as autoras, o método histórico-crítico preenche os vazios dos fatos e
acontecimentos, apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que
assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos. Dentro dessa
perspectiva, o método histórico-crítico possibilita a análise dos contextos sócio-políticos,
econômicos, religiosos e eclesiológicos que determinaram a inserção, o envio dos primeiros
missionários e a configuração e expansão do Metodismo em terras nordestinas.
Com o propósito de se fazer um resgate da memória missionária em uma
leitura pastoralista, será utilizada como metodologia a história oral, uma forma de abordagem
reconhecida como metodologia de pesquisa por vários autores como na obra “Uso e abuso da

1

LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1993,
p.81-82.
Introdução

9

história oral”, organizada por Marieta Ferreira e Joanina Amado. Por exemplo, Maria de
Queiroz afirma, nesta obra, que a história oral é um termo amplo, que recobre uma quantidade
de relatos a respeito de fatos não registrados por outro tipo de documentação ou cuja
documentação se quer completar 2 .
A história oral é um método que visa fazer conexão e inserção com a história e
as ciências sociais. É um método utilizado desde a Antiguidade; porém, no século XVIII,
quando a história se constituiu como disciplina, é que ela ficou relegada a um plano
secundário em função da história escrita.
A metodologia em história oral representa o núcleo da investigação, não sendo
simplesmente uma parte acessória, mas ordenando procedimentos na entrevista e dando
possibilidades de análise crítica em cada pesquisa. O historiador pode, a partir da informação
oral, construir os fatos, ajuntando as peças que remontam a riqueza da história.
Nesta dissertação, será feita uma pesquisa de campo, entendendo-se por campo
o recorte espacial que corresponde à abrangência em termos empíricos, do recorte teórico
correspondente ao objeto de investigação. É objetivo desta pesquisa, na perspectiva do
método histórico-oral, utilizar a pesquisa semi- estruturada, com um roteiro que divide as
perguntas em blocos, possibilitando ao sujeito plena liberdade para emitir seu conhecimento e
lembrança, resgatando assim a memória ou história oral. As entrevistas serão feitas mediante
gravações e preenchimento de questionário com a presença e interação direta entre o
pesquisador e os atores sociais, sendo complementadas por uma prática de observação
participante, levando em conta o comportamento de cada elemento social dos atores.

Desenvolvimento
Esta dissertação é constituída de três capítulos. No primeiro, será tratado os
aspectos culturais, bem como a colonização e divisão geográfica do Nordeste do Brasil e,
ainda, os aspectos históricos da implantação e expansão do Metodismo. Dessa forma, será
possível contextualizar com maior fidelidade o cenário em que o Metodismo se inseriu e as
formas pelas quais foi implantado e se desenvolveu.

2

FERREIRA, Marieta M. e AMADO, Joanina (org.). Uso e abuso da história oral. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1998, p.14-15.
Introdução

10

No segundo capítulo, será analisada a forma pela qual a Igreja Metodista se
estruturou e se organizou, a partir do modelo eclesiástico já utilizado no sudeste do Brasil.
Serão abordadas as etapas de configuração como Região Missionária do Nordeste, desde a
existência como Campo Missionário Geral.
No terceiro capítulo, será feita uma reflexão crítica, com base nas pesquisas de
campo, referências teóricas de David Bosch3 e o conceito de missão do Plano para a Vida e Missão
da Igreja Metodista4 e o referencial conceitual de crescimento de Igrejas de Orlando Costas. Serão
analisados os modelos da práxis religiosa do metodismo no Nordeste do Brasil, seus desafios e
oportunidades, a partir de três modelos: modelo de auto-proclamação/propagação ou expansão
missionária; b) modelo de auto-sustento; c) modelo social, em busca de missão contextualizada (isto
é, solidariedade em situações de desesperança).
Nesta perspectiva, será analisada a práxis missionária da Igreja Metodista entre 1946
e 2003, período delimitado para esta pesquisa, tendo em vista que foi a partir de 1946 que o
metodismo iniciou sua expansão para o Nordeste do Brasil. O limite de 2003 se dá com um marco
significativo, que é a eleição da primeira mulher ao episcopado da Igreja no Brasil, sendo sua
designação para o Nordeste. Na análise, pretende-se averiguar a configuração da práxis missionária
metodista nos documentos da Igreja e aplicabilidade na realidade da Região Missionária do
Nordeste, considerando suas características culturais, o processo de implantação e desenvolvimento
do metodismo. Outra base de análise será o modelo de organização administrativa utilizado no seu
processo de estruturação e emancipação administrativa.
A partir dos modelos indicados na pesquisa, com os dados históricos
levantados e memórias mostradas nas entrevistas, abrem-se caminhos, horizontes, para uma
revisão histórica da missão metodista no Nordeste do Brasil. Caminhos que possibilitam a
busca de formas de aprofundamento da práxis na missão integral e contextualizada.
Esta pesquisa é um projeto que constitui em possibilidades de abrir para
pesquisadores/as, novos caminhos que requer, portanto, um maior espaço de tempo e de
pesquisa na academia. Não se pretende, com estas reflexões, chegar a respostas deterministas,

3
4

BOSCH, David J. Missão transformadora. São Leopoldo: Sinodal. 2002
IGREJA METODISTA. Plano para a vida e a missão da igreja. São Paulo: Unimep, 1982.
Introdução

11

fechadas, mas sim, abrir o debate para maior compreensão do desenvolvimento do Metodismo
no Nordeste do Brasil, confirmando a vocação e a práxis missionárias metodistas.
Capítulo 1
Implantação e expansão do metodismo no Nordeste do Brasil

Antes de abordar propriamente o processo de implantação e expansão do
Metodismo no Nordeste do Brasil, será analisado os aspectos culturais, bem como a história
da colonização e a divisão geográfica do Nordeste e definir o conceito cultura 5 , que perpassa
essas questões. Dessa forma, será possível contextualizar com maior fidelidade o cenário em
que o Metodismo se inseriu e as formas pelas quais foi implantado no Nordeste do Brasil.
O conceito de cultura é amplo e diversificado. Para fins deste trabalho, porém, serão
tomadas como referências as definições Julio de Santana e Paulo Sues.

Para Paulo Suess, “
cultura é um projeto coletivo que se realiza em todas as
dimensões relevantes para a vida humana: no campo material e ideológico, no social e
político, no econômico e religioso”. 6
Para Júlio Santana, a cultura é “a forma de vida social de um povo, transmitida
pela tradição na qual o indivíduo se insere, leva adiante suas realizações, descobre e faz seu

5

FEATHERSTONE, Mike. O desmanche da cultura: globalização, pós-modernidade e identidade. São Paulo:
Studio Nobel, 1995. Nesta obra, o autor trabalha a formação e deformação da atividade cultural e dá uma
contribuição sobre o conceito de modernismo e pós-modernismo. Ele analisa os efeitos de processos que
dissociaram a cultura do social: o desgaste do ideal de vida frente à onda de consumismo e a deformação da
cultura. Para uma compreensão maior do tema, na obra Inculturação e Sincretismo, Paulo Suess afirma que
cultura pode significar as grandes realizações do espírito humano, ou ainda significar superestrutura ou
ideologia, bem como designa a diferença específica de cada grupo social e povo. SCHMIDT, Ervino e
ALTMANN, Walter. Inculturação e sincretismo. São Bernardo do Campo: Conic &IEPG, 1995, p.21.
6
SUESS, Paulo. Evangelizar a partir dos projetos históricos dos outros. São Paulo: Paulus, 1995, p.10.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

13

um sistema de valores. Assim, a cultura é anterior ao indivíduo que acolhe em seu seio”7 .
Estas definições nortearão a presente análise da realidade cultural nordestina na qual o
metodismo se inseriu e se expandiu.
A cultura, no contexto do Nordeste, se expressa pela religião; pelas músicas
nordestinas (frevo, samba, maracatu, ciranda); pelo folclore; artesanato; culinária típica. Esses
elementos são heranças dos nativos que ocupavam a região antes da colonização; pelos negros
que ali chegaram, escravizados e pelos colonizadores europeus (portugueses, franceses e
holandeses). Esses elementos culturais marcaram a história do Nordeste brasileiro em sua
formação como sociedade, como se verá a seguir.

1.1. Aspectos gerais da história e realidade do Nordeste
Para entender a realidade nordestina, é preciso conhecer o processo de
colonização, povoamento, posse e uso da terra, além das atividades ali desenvolvidas e as
relações sociais e de capital e trabalho.
1.1.1. Colonização e produção de riquezas
Após a chegada dos portugueses, em 1500, o Nordeste era freqüentado e
visitado pelos franceses8 , que faziam trocas com os índios, adquirindo mercadorias como
pau-brasil e papagaios, de grande valor na Europa. A tinta vermelha extraída do pau-brasil foi
usada como carmim no vestuário dos cortesões e burgueses europeus por três séculos.
Já no final do século XVI, os holandeses 9 se lançaram à conquista das terras
nordestinas recém-cultivadas com cana. Eles eram protestantes calvinistas, tendo pouca
relação com os conquistadores e com os habitantes da terra. Mais tarde, foram expulsos pela
7

SANT’ANNA, Júlio de. Pelas trilhas do mundo, a caminho do reino. São Bernardo do Campo: Imprensa
Metodista, 1985, p.38.
8
Segundo Carlos Caldas, em 1555, aconteceu a primeira tentativa missionária protestante no Brasil, com os
franceses, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Esse período é descrito nos livros de história como a invasão
francesa. Eles enviaram uma expedição, liderada por Nicolau Durand Villegaignon, com o objetivo de
estabelecer a França Antártica. Nessa expedição, estavam presentes alguns missionários enviados por João
Calvino, líder da nascente Igreja Reformada, na Suíça de língua francesa. Sob a perspectiva dos portugueses, a
presença francesa constituiu uma invasão, mas Caldas também afirma que a chegada dos portugueses tem a
mesma característica, considerando os habitantes originais da terra. CALDAS, Carlos. O último missionário. São
Paulo: Mundo Cristão, 2001, p.20.
9
Caldas também comenta a segunda experiência missionária no Brasil, ocorrida em 1630, no Nordeste, com os
reformados holandeses. O primeiro capítulo da obra O último missionário aborda as “ondas missionárias
estrangeiras” no Brasil. CALDAS, Carlos. O último missionário, p.19-34.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

14

rebeldia pernambucana, que ficou registrada como a Restauração Pernambucana, um
importante episódio da história brasileira e nordestina 10 .
Para Mendonça 11 , essa foi também a mais duradoura tentativa de implantar
uma civilização protestante no Brasil, de origem reformada. Não há indícios de que a intenção
deles tenha sido religiosa, no sentido de uma visão da terra prometida. O mais simples seria
ver, nesse empreendimento holandês, a expansão colonialista e capitalista da Companhia das
Índias, visando ao comércio de açúcar.
Mendonça e Prócoro Velasques diferenciam os primeiros grupos protestantes
que chegaram ao Brasil entre “protestantismo de migração”12 e “protestantismo de missão”,
de acordo com as motivações de seu trabalho missionário. 13 Segundo esses autores, a
catequese holandesa cresceu e chegou a preparar um catecismo trilingüe (tupi, holandês e
português) para a evangelização das tribos onde o catecismo desempenha as funções básicas
de orientar e instruir pessoas na religião. 14
Além da catequese e evangelização, Érmito Almeida acrescenta que a missão
holandesa construiu templos em Pernambuco, Olinda, Recife, Itamaracá, e organizou
hospitais, escolas, casas de assistência social, orfanatos. Também mantinha um grupo de
exortadores e consoladores, que visitavam os doentes. 15
Contudo, pode-se dizer que a colonização efetiva do Nordeste se deu pelo s
portugueses, até mesmo em conseqüência direta das explorações dos franceses e das invasões
holandesas. Preocupada com os exploradores, a Coroa Portuguesa enviou colonos para o
Brasil e instituiu o sistema de capitanias hereditárias.

10

GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, p.39
MENDONÇA, Antônio G. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1995. As
páginas 23 a 33 abordam a presença dos primeiros grupos religiosos no Nordeste do Brasil.
12
No grupo de protestantismo de imigração está a Igreja de Confissão Luterana. Sobre sua história, veja PRIEN,
Hans Jurgen. Formação da igreja evangélica no Brasil. Petrópolis/São Leopoldo: Vozes/Sinodal, 2001. O autor
aborda a formação das comunidades luteranas no Brasil e a organização de seus Sínodos.
13
Segundo Mendonça e Prócoro Velasques, “protestantismo de imigração” envolve as Igrejas Luterana e
Anglicana, que aqui chegaram e se dedicaram aos cultos com os próprios imigrantes. Esses grupos tinham uma
ligação com a cultura religiosa européia. O protestantismo de missão reúne as denominações Batista,
Presbiteriana, Congregacional, Episcopal e Metodista. São grupos de ligação com a cultura religiosa americana.
MENDONÇA, Antônio G. e VELASQUES, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo:
Loyola/Ciências da Religião, 1990.
14
MENDONÇA, Antônio G. e VELASQUES, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil, p.26.
15
ALMEIDA. Érmito de. Perfil de uma igreja cristã urbana. Belo Horizonte: Editora Clama, 2003, p.65.
11
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

15

Dessa forma, o imenso território foi doado a fidalgos sem terras que haviam
“merecido” o favor real. Eles deveriam colonizar as capitanias às próprias custas. O Brasil foi
dividido em 17 capitanias. A capitania de Pernambuco recebeu o nome de Nova Lusitânia.
Em Olinda, foi construída a sede do governo.
Em Pernambuco, foi inserido o cultivo da cana, com a construção de engenhos
para a fabricação de açúcar. O donatário tinha por direito escravizar a população nativa para
usá- la no cultivo da terra. Os habitantes da terra nesse período eram indígenas e não se
adaptaram à agricultura. Visando solucionar o problema da mão-de-obra, foi iniciada a
transferência dos negros africanos, que foram escravizados para a plantação da cana.
Multiplicaram-se então os canaviais e os engenhos, vindo o “progresso”.
“No início do século XVII, a cidade de Olinda era a maior e mais rica cidade
de todo o continente americano; na Bahia ocorria igual fenômeno e sua capital rivalizava com
Olinda”. 16 O Nordeste foi a região mais rica da América Portuguesa durante três séculos. Por
todo o período colonial e metade do Império, constituiu-se no principal gerador de riquezas
para o Reino de Portugal e, depois, para o Império Brasileiro 17 .
O algodão foi cultivado desde os primeiros anos de colonização, mas não
representou maior valor econômico até a segunda metade do século XVIII, quando passaram
a ser utilizados tecidos nas vestimentas de escravos. Já a pecuária nordestina nasceu da
necessidade de transportar a cana do campo até os engenhos, bem como mover a moenda.
Para tais atividades, foram necessários animais de trabalho, principalmente os
bois. Também havia necessidade da carne para a alimentação dos moradores dos engenhos e
das populações nas cidades. Mesmo com o cultivo do algodão e o surgimento da pecuária, a
produção da cana-de-açúcar foi o elemento fundamental na formação da sociedade no
Nordeste. Garcia afirma que “a cana-de-açúcar, cultivada há 450 anos, tem sido o principal
sustentáculo econômico do Nordeste. Ela foi responsável, pela chamada ‘aristocracia
canavieira’, um grupo de famílias que ainda hoje domina, política e economicamente, boa
parte do Nordeste”. 18

16

GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.39.
GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.28
18
GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.30
17
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

16

O Nordeste foi uma fonte de enriquecimento para os europeus; em sua maioria,
portugueses, que aqui chegaram pobres e fizeram fortunas com a exportação do açúcar ou a
importação de mercadorias não produzidas na Colônia.
1.1.2. Relações sociais
Os primeiros colonizadores encontraram o Brasil povoado por diversos grupos
indígenas nativos; alguns deles nômades. Esses povos não se adaptaram ao trabalho pesado e
sedentário nos canaviais e fugiram para as matas. Os índios também se tornaram guias para as
conquistas dos sertões e serviram como guerreiros em defesa dos engenhos de açúcar na luta
contra os piratas e os invasores holandeses.
À época da colonização, houve também a falta de mulheres brancas no Brasil.
Os portugueses se relacionaram com as índias, o que propiciou o nascimento dos mamelucos,
isto é, mestiços de brancos com índios.
Nesse período, houve choques e lutas culturais. A cultura indíge na foi
absorvida pela portuguesa; as populações nativas foram dizimadas, sendo alguns povos
totalmente extintos. No Manifesto da Comissão Indígena 500 anos (1999), 98 diferentes
povos originários fizeram a seguinte denúncia: “Os conquistadores chegaram com fome de
ouro e sede de sangue, empunhando em uma das mãos armas e na outra a cruz, para abençoar
e recomendar as almas de nossos antepassados, o que daria lugar ao desenvolvimento, ao
cristianismo, à civilização, e à exploração das riquezas naturais”. 19
No Nordeste, não houve um encontro de culturas 20 , mas sim um choque entre
as civilizações, o que Leonardo Boff chama de “negação pura e simples da reciprocidade”,
acrescentando que “o descobrimento foi o encobrimento do outro e um ato de violência contra
ele”. Essa realidade foi bem expressa nos versos de Carlos Drumond de Andrade: “A
civilização que sacrifica povos e culturas antiqüíssimas é uma farsa amoral”. 21

19

Apud BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos? Petrópolis: Vozes, 2000, p.16
BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.45-47. Boff afirma que, no Brasil, há várias culturas: de
dominação; de mimetismo; de resistência dos oprimidos; de libertação. Para ele, o quadro histórico da
colonização do Brasil trouxe como efeito a produção, a consolidação e o aprofundamento de nossa dependência,
em razão da natureza colonial, neocolonial, escravista e sempre dependente de nossa formação histórico-social.
Nossa cultura é dividida e contraditória, paradoxalmente esperançosa, formada por expressões que convivem
sincronicamente.
21
BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.19
20
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

17

Dessa forma, segue Boff que, para o “Brasil, visto a partir da praia onde
estavam as populações originárias, a chegada dos portugueses significou uma invasão. Eles
ocuparam as terras, submeteram os indígenas e construíram não só uma nação autônoma mas
um entreposto comercial e depois uma colônia para enriquecer a metrópole. O impacto foi tão
grande que significou uma dizimação da população indígena até seu quase extermínio, um
desastre de proporções inimagináveis”22 .
1.1.3. Aspectos culturais
O Nordeste é uma região de contrastes. Para muitos, o que vem à memória
quando se fala em Nordeste é uma região de miséria, secas periódicas, fome, pobreza, além do
coronelismo praticado pelos proprietários das terras. É também a lembrança do cangaço,
associada a Lampião e Maria Bonita, etc. Para Carlos Garcia,
o Nordeste é um bolsão de pobreza, o maior do mundo, onde dois terços da população
vivem em situação de pobreza absoluta. Entretanto, o Nordeste não é apenas isto.
Existem vários nordestes, com características climáticas, humanas e até culturais
diferenciadas entre si. Existem até nordestes ricos, pequenas ilhas de riqueza
incrustadas num imenso mar de miséria.23

Foi no Nordeste que se deu, com maior intensidade, a miscigenação dos três
blocos étnicos formadores da sociedade brasileira, sendo destacada a presença do negro e do
índio, especialmente nos elementos culturais: folclore, artesanato, música, dança, o samba 24 ,

22

BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.16.
GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.8.
24
O samba é uma dança animada com um ritmo forte e característico. Originou-se na África e foi levado para a
Bahia pelos escravos que trabalhavam nas plantações de açúcar. A dança gradualmente perdeu sua natureza
ritualista e eventualmente se tornou a dança nacional brasileira. Na época de carnaval no Rio de Janeiro (que
colocou o samba no mapa ocidental), os baianos das plantações de açúcar viajavam das aldeias até o Rio para as
festas anuais. Gradualmente, a batida sutil e a nuança interpretativa do samba levavam-no rua acima, dançando
nos cafés e eventualmente até nos salões de baile. Tornou-se a alma da dança do Brasil. (extraído de
http://www.mercuri.com.br/samba.html 14/09/04). A coreografia do samba é acompanhada de música em
23

compasso binário e ritmo sincopado. Tradicionalmente utilizada como divertimento dos africanos no período
da escravidão, empregava apenas instrumentos de percussão, na sua grande maioria. Nos dias atuais, há
utilização de instrumentos de corda como o violão e o cavaquinho. Atualmente, existem muitos tipos de
samba. Alguns particularmente de Estados ou Cidades. Isso se deve, sobretudo, à grande extensão
territorial e vasta herança cultural do Brasil. O samba sofreu grandes mudanças em várias partes do País e
passou a receber denominações particulares como: Samba de roda: Um dos componentes tira a melodia
enquanto os demais batem palmas e respondem ao ritmo de atabaques. Samba de umbigada: É uma dança
de roda com convite intimatório para substituir o dançarino solista. Samba duro: Samba de pernada,
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

18

ritmo de origem inequivocamente negra e dançado com esse nome nos canaviais nordestinos
pelos escravos desde os primeiros anos de colonização 25 . Com o negro escravizado, vieram
também a religião, a culinária, a linguagem, o vestuário, a música. O frevo, dança típica de
Recife, é derivado dos dobrados executados pelas bandas militares. O baião ou xaxado é
nascido entre os vaqueiros no semi-árido. O maracatu, quase africano puro, também foi
tocado nos c
anaviais. E ainda a ciranda, tocada e dançada nos canaviais, originária das
cantigas de roda européias. 26
Há uma imensa riqueza folclórica no Nordeste, marcada pela fusão das culturas
ibérica, africana e indígena. Pode-se citar os autos de Natal, trazidos pelos portugueses. O
pastoril é o mais conhecido e executado deles. O bumba-meu-boi (ou, simplesmente, boi) gira
em torno de um boi que morre e ressuscita, uma manifestação comum à sociedade pastoril. O
caboclinho, manifestação carnavalesca, é totalmente indígena. 27 O aspecto religioso também é
fundamental na formação cultural do Nordeste. A influência religiosa oficial certamente foi a
católica, porque “o catolicismo funcionava mais como um definidor dos projetos portugueses,
considerados ortodoxos e mesmo apostólicos, e os dos Estados concorrentes foram
considerados heréticos por serem todos considerados protestantes”28 .
O Nordeste é profundamente ligado a seus santos e devoções. As festas
religiosas nordestinas são grandes manifestações de fé. Em Juazeiro do Norte, acontece a
Festa do Padre Cícero. Em Mossoró, a Festa de Santa Luzia. Em Pernambuco, Festa de Nossa
Senhora da Conceição. Na Bahia, acontece a Festa do Senhor do Bonfim. No Piauí, a Festa de
São Raimundo Nonato. No Maranhão, a Festa de São José do Ribamar. E ainda, Festa da
Lapinha, em Maceió; Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, em Areia Branca e a Festa de
São Sebastião, venerado em quase todo o Nordeste. 29
No aspecto literário, pode-se dizer que foi na planície do Nordeste contemplativo que
brotaram os grandes romancistas, um grupo de “rebelados”. Saiu do Nordeste
resignado a primeira fornada de verdadeiros romancistas brasileiros, chamados de
proletários porque se meteram por lugares escusos, onde só os pobres penetram e de lá
vieram com um che iro travoso de vida. Romancistas que substituíram as mulheres
fatais, os heróis bem acabados e o amor impossível pela vida simples mas esgravatada
apenas

para

homens.

Acompanhamento

feito

por

atabaques

e

pandeiros

(extraído

http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/ 14/09/04).
25

GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.12.
GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.12
27
GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.13
28
HOORNAERT, Eduardo. A Igreja no Brasil Colônia: 1550-1800, São Paulo: Brasiliense, 1982, p.67
29
Jornal Expositor Cristão, 1ª e 2ª quinzena de julho de 1987, p.6
26

de:
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

19

a fundo, espremida, desmascarada, sem constrangimentos hipócritas. Foi o clima
humano do Nordeste que amadureceu o verdadeiro sentido de brasileirismo. No
Nordeste brasileiro nasceu uma leva de romancistas possuidores dum sentido integral
da realidade do povo. Pode-se citar Graciliano Ramos, identificado de corpo e alma
com a miséria nordestina; Jorge Amado, que se injetou de sentimento negro até se
contaminar por completo, agindo intelectualmente como símbolo da raça; Raquel de
Queiroz, com o corpo solto pelas ruas, mas o coração sempre consciente batendo
dentro das grades das cadeias, de encontro a outros corações sentenciados; José
Américo, em seus escritos, sentiu até a medula a tragédia da seca. O talento desses
homens (mulheres) veio dar à literatura nordestina um caráter de sinceridade e
absoluta seriedade da realidade brasileira.30

Nessa dimensão, não se pode deixar de mencionar Gilberto Freyre e sua obra,
Casa Grande e Senzala, 31 um estudo sociológico e antropológico da sociedade patriarcal
brasileira, especificamente da que se desenvolveu no Nordeste, em função da cana-de-açúcar.
E ainda “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, 32 clássico que trata da terra, do homem e da luta,
descrevendo a Guerra de Canudos.
Esses são elementos dos mais variados aspectos culturais originados e
experimentados durante o período de colonização e de organização do Nordeste brasileiro.

30

CASTRO, Josué. Documentário do Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1968, p.60.
Gilberto Freyre, pernamb ucano, morador de Apipucos, no Recife. Era descendente de senhores de engenho.
Em 1933, após exaustiva pesquisa em arquivos nacionais e estrangeiros, publicou Casa-Grande & Senzala,
revolucionando os estudos no Brasil, por causa dos conceitos utilizados e da qualidade literária. Suas
informações provêm de diários dos senhores de engenho e da vida pessoal de seus próprios antepassados. As
plantações de cana em Pernambuco foram apresentadas como cenário das relações íntimas e do cruzamento das
três etnias: índios, africanos e portugueses. Já houve várias edições do livro. Como orientação, cita-se aqui:
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003.
32
Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões”, abordando a realidade nordestina no contexto da Guerra de
Canudos. Em 2002, a obra completou 100 anos. “Já foram publicadas mais de 80 edições brasileiras do livro,
além de traduções para 11 idiomas e uma versão portuguesa. Na Biblioteca Nacional estão registrados 32
volumes diferentes de Os Sertões. A Editora Francisco Alves já publicou o livro 39 vezes. Os Sertões foi lançado
pela Livraria Laemmert, que pertencia ao editor Francisco Alves. A editora passou a publicar a obra com o
próprio nome a partir da quarta edição, em 1911. Em suas muitas versões, a Francisco Alves já editou o texto
acrescido de mapas, ilustrações, biografia, e outros apêndices. Em 1979 lançou sua 29ª edição do livro, uma
edição comemorativa do 70º aniversário de morte do autor. (...) A Ediouro, que já editou Os Sertões por 25
vezes, programou para agosto de 2002 uma edição especial em comemoração aos 100 anos do livro. O volume
será impresso pelo selo Prestígio Editorial, com tipologia diferente, maior e com espaçamento que facilita a
leitura. Também trará ilustrações e notas explicativas. (...) A Ateliê Editorial, em parceria com o Arquivo do
Estado e a Imprensa Oficial, lançou uma edição de Os Sertões comentada por Leopoldo M. Bernucci, professor
brasileiro que dirige o Departamento de Línguas Espanhola e Portuguesa e de Literatura Hispânica e Lusobrasileira da Universidade do Texas. (...) de Euclides da Cunha, cronologia da vida e obra do autor, vinte páginas
de iconografia e prefácio de Bernucci. Em 1982 a editora Cultrix publicava Os Sertões pela terceira vez. Era uma
edição didática, com mapas e dados biográficos, preparada pelo professor Alfredo Bosi, com cotejo e
estabelecimento de textos do professor Hersilio Angelo. A edição crítica mais conhecida foi lançada em 1984
pela editora Ática, com introdução e organização de Walnice Nogueira Galvão. Ainda hoje são publicadas novas
edições com as análises de Walnice, uma das mais conceituadas estudiosas da obra de Euclides. Em 1986, a
Tecnoprint colocou nas livrarias uma versão com seleção, introdução e vocabulário de Olímpio de Souza
Andrade. A mesma editora lançou em 1990 edição com prefácio de M. Cavalcanti Proença”. Informações
extraídas do site: http://www.estadao.com.br/sertoes/olivro/pg_005.htm(copyright de 2003).
31
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

20

Uma cultura com marcas de sacrifícios e vitimização de um lado, e de elementos ricos, por
outro. Nesse contexto, o Metodismo fez suas primeiras tentativas de incursão e implantação.
1.1.4. Divisão Geográfica do Nordeste
O Nordeste brasileiro compreende nove Estados:
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, além do Território Federal
de Fernando de Noronha e parte do norte de Minas Gerais. Ele é
composto por uma área de 1.660.359 quilômetros quadrados e está
dividido em quatro grandes regiões naturais: Mata, Agreste, Sertão
e Meio-Norte. A Mata é uma região de clima tropical úmido e deve seu nome ao fato de ter
sido originalmente coberta por densas e exuberantes florestas. O Agreste e a região do Sertão
têm clima tropical semi-árido, sujeito a secas periódicas, e ocupam 60% do território
nordestino. O Meio-Norte é uma região de transição entre o Nordeste, o norte e o centro-oeste
brasileiro.

1.2. As primeiras tentativas de implantação do metodismo no Nordeste
Os primeiros missionários metodistas que chegaram ao Brasil foram oriundos
dos Estados Unidos. A Igreja Metodista naquele país estava dividida em duas ramificações:
Norte e Sul. Entre eles, destacam-se Fountain E. Pitts 33 , Justin R. Spaulding 34 e Daniel P.
Kidder 35 . Este último chegou em 13 de janeiro 1838, como missionário metodista e agente da
Sociedade Bíblica Americana, sendo o primeiro a viajar para o Nordeste do Brasil. Ele
estabeleceu-se no Rio de Janeiro, juntamente com Spaulding, e realizou extensas viagens
missionárias a várias cidades. Viajou de navio para Santos e no lombo de uma mula para São
Paulo. Em meados de 1839, Kidder decidiu viajar para outras regiões do Brasil. Ele
embarcou, em 1º de junho de 1839, num vapor da companhia de navegação criada pelo
33

Pastor da Igreja Mckendree de Nashville, Estado do Tennessee, EUA. Quando jovem, aos 27 anos de idade,
conseguiu recursos próprios e veio ao Brasil, chegando ao Rio de Janeiro no dia 19 de agosto de 1835.
Organizou a primeira Sociedade Metodista ou Congregação, como eram chamadas. Cabe a ele o pioneirismo do
Evangelho no Brasil, cf. KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista. São Paulo: Imprensa Metodista.
Junta Geral de Educação Cristã, 1968, p.25.
34
Oriundo de Nova Iorque, memb ro da Igreja Metodista da Conferência da Nova Inglaterra. Como missionário,
chegou ao Brasil no dia 29 de abril de 1836, para formar a Missão Metodista, juntamente com Pitts e Kidder.
35
Escritor, no regresso aos Estados Unidos escreveu dois volumes intitulados Reminiscências de viagens e
permanências nas províncias do norte do Brasil, tratando de suas viagens ao Rio de Janeiro, São Paulo e norte e
Nordeste do Brasil. Cf. KIDDER, Daniel P. Reminiscências de viagens e permanências nas províncias do norte
do Brasil. São Paulo: Itatiaia & Universidade de São Paulo, 1980.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

21

governo imperial, com destino a Maranhão, Pará e Recife, levando Bíblias, Novos
Testamentos, folhetos e saltérios 36 . Após o retorno de sua viagem, sua esposa Cyntia Harriet
Kidder com 22 anos, adoeceu, morrendo em 16 de abril de 1840, sendo a primeira perda do
contingente missionário no metodismo brasileiro. Eles tinham apenas quatro anos de casados,
e dois filhos. Diante do acontecimento, Kidder retornou aos Estados Unidos, onde serviu em
vários ministérios da Igreja Metodista. 37
Dessa forma, pode-se perceber que o metodismo teve sua primeira incursão no
sudeste do Brasil, contando com a iniciativa de um missionário indo para o norte e Nordeste,
como compoltor, distribuindo Bíblias e folhetos de evangelismo. Mas as primeiras tentativas
missionárias fracassaram.
Outras tentativas de implantação do metodismo aconteceram com as missões
de William (ou, em português, Guilherme) Taylor, da Igreja Metodista Episcopal (norte dos
EUA). Em 1880, Taylor veio ao Brasil e trouxe alguns missionários para trabalhar em Belém
do Pará: Justus Henry Nelson e sua esposa 38 , além de Walter Gregg. Durante os 15 dias em
que esteve ali, Taylor deixou organizada uma escola para crianças brasileiras, tendo a Bíblia
como livro de leitura. Em 1º de julho de 1883, organizou-se a Igreja Metodista Episcopal39 .
O rev. Taylor ainda visitou as capitais do Maranhão, Pernambuco e Bahia,
visando à abertura de trabalhos de sustento próprio. Via de regra, instalava-se uma escola para
facilitar o acesso às famílias. Também essas tentativas fracassaram e as equipes retornaram
para a América do Norte.

36

KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista, p.33-37.
KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista, p. 46
38
Justus H. Nelson chegou a Belém do Pará em 19 de junho de 1880. Ele foi pioneiro do Metodismo naquela
cidade, pregando em português, de 1882 a 1925. Fundou também um jornal evangélico, O Apologista Cristão,
do qual foi redator e escritor. Ele era professor de inglês, francês, alemão e português. Devido a seus escritos de
caráter religioso, nos quais se referia à adoração de imagens prevalecente no Brasil, ficou encarcerado por quatro
meses. Nelson era missionário da Igreja Metodista Episcopal. Faleceu nos Estados Unidos, em 1937.
Informações sobre ele aparecem em REILY, Duncan. A. História Documental do Protestantismo no Brasil. São
Paulo: Aste; ROCHA, Isnard. Histórias da história do metodismo no Brasil: dos primórdios à proclamação da
República. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967; SALVADOR, José Gonçalves. História do
Metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista. 1982 e LONG, Eula K. Do meu velho baú
metodista. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1968. Sobre a história do metodismo no norte do
Brasil, existe uma compilação em português, com o título Metodismo na Amazônia, pelo historiador metodista,
Duncan Alexander Reily, missionário norte-americano, enviado ao Brasil. Atualmente, depois de décadas
atuando como pastor, professor e escritor, aposentou-se e reside em Campinas, SP. REILY, Duncan A
.
Metodismo na Amazônia: a obra pioneira de Justus Nelson (1880-1925). São Bernardo do Campo: Faculdade de
Teologia e IMS, 1982 e ainda MARQUES, Natanael Garcia. História da missão metodista na Rondônia. São
Bernardo do Campo: Umesp, 2001 (Dissertação) e SILVA, Geoval Jacinto da. Manaus, mais um desafio para os
metodistas. Informativo Conexão, 3ª Região Eclesiástica, São Paulo, dezembro de 1994, p.8-9.
39
SALVADOR, José Gonçalves. História do Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1982,p.56
37
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

22

Em Recife, várias equipes de missionários tentaram iniciar o trabalho
metodista. Todas acabaram retornando sem sucesso, devido às dificuldades enfrentadas e
problemas de adaptação. Pode-se citar R
obert e Charles Shelton e esposas; posteriormente,
Dr. Wray e Beatti; e ainda George W. Martin. Em 1882, chegaram a Recife F. F. Roose e sua
esposa, mas estes também retornaram. Benjamin Nind 40 ficou em Recife por 12 anos. 41
Se, por um lado, a Igreja Metodista Episcopal do Norte dos Estados Unidos se
preocupava com a implantação do metodismo no norte e Nordeste do Brasil, mas fracassava
em seus ideais de missionários com sustento próprio, a Igreja Metodista Episcopal do Sul
desenvolvia, no sudeste brasileiro, o trabalho com sustento dos missionários, instalando-se de
forma definitiva. Também implantava escolas em pleno desenvolvimento. Quando as
tentativas da Igreja Episcopal dos Estados Unidos fracassaram, a Igreja Metodista, já
estabelecida no sudeste do país, retomou a proposta de iniciar o trabalho metodista no
Nordeste, enviando o primeiro missionário.
1.2.1. O metodismo no Nordeste: rev. Benedito Natal Quintanilha
Sendo as tentativas para a implantação de uma missão metodista no Nordeste
ligadas à Igreja Metodista Episcopal do Sul (Estados Unidos), somente 16 anos após a
autonomia do metodismo brasileiro (ocorrida em 1930) é que a Igreja Metodista no Brasil
toma a iniciativa de começar um trabalho missionário naquela região. Essa decisão foi tomada
durante o 5º Concílio Geral, realizado em Piracicaba, SP, nos dias 14 a 26 de fevereiro de
1946. A cidade estabelecida como prioridade missionária foi Salvador, BA 42 O Secretário de
Missão da Igreja Metodista era o rev. Augusto Schwab.
A Junta Geral de Missões e Evangelização decidiu enviar um pastor para
iniciar o avanço em direção ao Nordeste; sendo designado para isso o rev. Benedito Natal
Quintanilha 43 . Ele, sua esposa, Eunice, e três filhos, ao chegarem a Salvador, se hospedaram
no Hotel Chile. A seguir, alugaram uma casa grande, situada na Praça Duque de Caxias. Em
40

Ele era membro da Igreja Metodista do Norte, Estados Unidos, e foi recrutado pela Missão Taylor. Chegou a
Recife em 1880. Era músico e professor de piano e inglês. Leigo, auxiliava outras igrejas em Recife, onde ficou
até 1892, quando regressou aos Estados Unidos, devido à saúde abalada de sua esposa. A ele se deve o primeiro
hinário em português e o Manual de Doutrina de Adoração. Cf. KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú
metodista., p.139.
41
KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista., p.140
42
Jornal Expositor Cristão, 4 de abril de 1946, p.5.
43
O rev. Benedito Natal Quintanilha nasceu em Silveira, em 1909. Converteu-se a Cristo em Birigüi, SP, durante
uma pregação do bispo C. B. Dawsey. Ele era superintendente distrital e pastor da Igreja Metodista em Ourinhos
quando decidiu servir como missionário em Salvador, Bahia, em 1946.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

23

1º de junho de 1946, naquela residência, aconteceu a primeira pregação do pastor, marcando
assim a chegada do metodismo às terras baianas.
O rev. Benedito Natal Quintanilha escreveu uma carta às igrejas metodistas em
todo o Brasil, que também foi publicada no periódico oficial da Igreja naquele ano. Ele
apresentou um relatório de sua acolhida na cidade e também expressou seu sentimento sobre a
cultura religiosa do povo baiano, avaliando o que o esperava no trabalho de evangelização,
conforme o trecho abaixo demonstra:
Percorrendo todas as feiras dos subúrbios e os portos pequenos, constatei muita
superstição, idolatria e pecados outros. Quase abri a boca para pregar diante desse
quadro desolador. Gente tão boa, comum, tantas possibilidades, e em estado tão triste.
Sei que o evangelho do Senhor muito fará para a grandeza, bem-estar e felicidade
deste povo. 44

Nesta época, morava em Salvador o casal Plínio Barbosa Martins e Dorcas
Siqueira Martins. Ela era membro da Igreja Metodista Central de São Paulo 45 . O trabalho
começou a crescer e ter apoio das autoridades da Igreja Metodista do Sudeste, colhendo os
primeiros frutos. No Expositor Cristão aparece o seguinte relato:
No dia 7 de dezembro de 1947, o bispo César Dacorso Filho batiza os primeiros
convertidos em Salvador, Bahia, sendo Sebastião Janones da Silva, Maria Ribeiro dos
Santos, Augusto Camargo e Hilda Moreno Camargo. A cerimônia foi realizada na
casa paroquial na rua Damasceno nº 702... Neste mesmo dia foram batizadas as
primeiras crianças: Marlene Moreno Camargo e Juraci Moreno Camargo.46

Em 29 de março de 1949, foi fundada a Igreja Metodista Central de Salvador,
juntamente com um ambulatório médico para atender a população da cidade. O rev. Augusto
Schwab, visitou a missão na Bahia e declarou:
O trabalho é magnífico. O rev. Quintanilha e esposa são responsáveis pelo progresso
feito e são a esperança do futuro. O ponto de pregação é um dos melhores, a
propriedade é linda e o método de começar o trabalho já está dando resultado. 47

O pioneiro da fase definitiva do metodismo em terras nordestinas permaneceu
em Salvador por seis anos, sendo substituído no processo de itinerância da Igreja Metodista.
44

Jornal Expositor Cristão, 1ª quinzena de janeiro de 1948, p.8.
Jornal Expositor Cristão, 22 de maio 1946, p.6.
46
Jornal Expositor Cristão, 1ª quinzena de janeiro de 1948, p.8.
47
Jornal Expositor Cristão, 25 de março de 1948, p.6.
45
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

24

1.2.2. Segundo missionário em Salvador
O rev. Messias Amaral dos Santos foi designado para substituir o rev.
Quintanilha em Salvador. No Expositor Cristão, o rev. Messias aponta as dificuldades para
dar continuidade ao trabalho missionário e também tece elogios às estratégias então adotadas
pelos idealizadores do trabalho missionário no Nordeste:
Salvador será para mim um novo marco na política usada por nossa Igreja na
instalação de seus novos trabalhos. Houve fé nos homens que idealizaram a instalação
da Igreja Metodista no Brasil na capital baiana, fé e visão larga... Iniciamos o trabalho
metodista na Bahia como nunca fora iniciado em parte alguma de nossa pátria. Não
fomos para um canto da rua de um bairro afastado, numa salinha pequena... Tudo foi
diferente do que tem sido feito nestes setenta e sete anos no Brasil. Não convém ao
metodismo entrar em Recife de outra maneira48 .

Segundo o rev. Messias, o ano de 1953 foi repleto de lutas na tarefa que lhe
coube como missionário na capital baiana. No final do período, a balança acusava a perda de
seis quilos... No ano de 1952, ele havia viajado treze mil, oitocentos e quarenta e quatro
quilômetros. Para ele, as estatísticas falavam de progresso animador em quase todos os
setores, embora ressaltasse a necessidade de uma revisão no trabalho iniciado, ao afirmar:
os números são frios demais para fazer vibrar a sua alma... o rol da Igreja está
sofrendo um revisão que levará a cancelar alguns nomes. Temos três pontos de
pregações muito bem assistidos... O ambulatório continua desempenhando uma
notável obra de assistência social, atendendo diariamente dezenas de pessoas.49

A implantação do metodismo começou com boas perspectivas, mesmo em
meio às dificuldades no processo de continuidade. Entretanto, o avanço ainda se faz
necessário, dada a realidade de que o metodismo sempre teve um número pequeno na
totalidade do Estado baiano. A expansão seguinte no Nordeste ocorre somente na década de
1960, e vai em direção a Recife, Pernambuco.
1.2.3. Expansão em Recife, PE
Segundo o rev. Omar Daibert, então Secretário Geral de Missão, o Nordeste
era um desafio aceito pela Igreja. Eram 30 milhões de brasileiros a reclamar “uma integração,
um compartilhar com eles seus problemas, lutas, misérias e esperanças... Há progresso no

48
49

Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.3.
Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.4.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

25

Nordeste e a Junta Geral de Evangelização 50 tem como estratégia de expansão de seu trabalho
aquela região”51 .
Diante desta realidade, a Igreja prosseguiu na proposta de avançar
missionariamente no Nordeste do Brasil. A partir de Salvador, o metodismo alarga suas
fronteiras e expande-se para Recife. Os primeiros estudos começaram em 1946, com o rev.
Quintanilha, que encontra em Recife o casal Orlando e Elizabeth Reinaux Cordeiro 52 .
O rev. Messias Amaral, no dia 6 de janeiro de 1954, por ordem da Junta Geral
de Missões, viajou a Recife, para estudar as possibilidades da instalação do trabalho metodista
em mais uma capital do Nordeste 53 .
No ano de 1957, há, por parte de líderes da Igreja Metodista, questionamentos
sobre a demora em iniciar o trabalho em Recife. A nota do Expositor Cristão é contundente:
“Desde 1950, por ocasião do Concílio Geral em Porto Alegre é que estamos ouvindo o grito:
AGORA RECIFE! Mas que demora! Dizem os que têm estado em Recife que é uma das mais
lindas e progressistas cidades do atual Brasil” 54 .
E, finalmente, em 1959, a Junta Geral de Missões, responsável pela
evangelização e expansão missionária metodista nesse período, fez um apelo e diversos
candidatos se apresentaram. Em seu relatório, o Secretário da Junta Geral de Missões e
Evangelização, rev. Duncan Alexander Reily, informou que fora adquirido um terreno na Rua
Santo Elias, no Bairro Espinheiro, em 1954. No dia 28 de junho de 1959, foi feito o
lançamento da pedra fundamental, com a presença do rev. Natanael Inocêncio do Nascimento,
do bispo Isaías Fernandes Sucasas, e do rev. Duncan Alexander Reily.
Para assumir a missão, foi escolhido o casal Dorival Rodrigues Beulke 55 e
Miriam Beulke. No dia 29 de fevereiro de 1960, eles chegaram a Recife e alugaram uma casa
50

As Juntas Gerais, neste período, eram órgãos pelos quais a Igreja administrava, na área geral, os interesses
definidos dos vários setores em que desenvolvia suas atividades. Havia três: Junta Geral de Missões e
Evangelização, Junta Geral de Educação Cristã e Junta Geral de Ação Social. Cada uma era composta por quatro
presbíteros e quatro leigos, eleitos pelo Concílio Geral, e um bispo-assistente designado pelo Colégio Episcopal.
A cada Junta correspondia um Secretário Geral com função executiva, eleito pelo Concílio Geral. In: IGREJA
METODISTA. Cânones. São Paulo: Imprensa Metodista, 1965, p.111-112.
51
Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1968, p.1.
52
Jornal Expositor Cristão, 20 de maio de 1946, p.6.
53
Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.6.
54
Jornal Expositor Cristão, 5 de setembro de 1957
55
O rev. Dorival Rodrigues Beulke nasceu em São Gabriel. Formou-se na Faculdade de Teologia da Igreja
Metodista. Casou-se com Miriam. Pioneiro do Metodismo no Nordeste, ficou preso em Recife, PE, durante o
regime militar de 1964. Conferir entrevista no anexo 1.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

26

próxima ao terreno adquirido. Realizaram o primeiro culto no dia 27 de março, na casa
alugada, com uma assistência de 32 pessoas 56 .
Em carta enviada ao Secretário Geral de Evangelização, o rev. Beulke afirma
que a garagem da casa alugada foi transformada em salão de culto. As primeiras famílias a
congregar na missão metodista em Recife foram Uchyôa e Freire 57 .
No Expositor Cristão de maio de 1960, encontra-se o registro de que “a família
Beulke são os embaixadores metodistas no Recife”58 . Dentro do processo de implantação do
metodismo e objetivando a formação da jovem igreja, realizou-se ali a primeira Escola
Dominical, no dia 1º de janeiro de 1961 59 .
O trabalho se expandiu para o bairro Caixa D’água – Torre, num barraco na
periferia, pertencente a Cecília Alves Falcão. A igreja adquiriu o barraco, na Rua Rio de
Janeiro. Em 30 de junho de 1962, essa frente missionária foi implantada, passando a ser
chamada Capela João Wesley. O projeto era iniciar uma escola primária para 100 alunos e
adquirir duas áreas próximas, para ampliar a obra, o que aconteceu no ministério do rev.
Francisco de Oliveira, que comprou o terreno na Rua José Bonifácio, onde a igreja foi
instalada 60 .
O terceiro trabalho metodista em Recife foi no bairro Baberibe, hoje conhecido
como Caixa Dágua,na cidade de Olinda. Bueyer construiu um pequeno salão e a missão
adquiriu 40 bancos desmontáveis para uso na evangelização. No dias 19 e 20 de abril de 1966,
o bispo Natanael Inocêncio do Nascimento (1ª Região, Rio de Janeiro), também bispo do
Norte e Nordeste, acompanhado do rev. Omar Daibert, Secretário Geral de Missões e
Evangelização, esteve em Recife, inaugurando o primeiro salão de culto nos bairros da Torre
e Caixa D’água. 61
Naquela época, segundo o Expositor Cristão, 30% das crianças da capital,
Recife, morriam de desnutrição e doenças. A edição de março de 1963 traz uma reportagem

56

IGREJA METODISTA DO BRASIL. Atas, registros e documentos do VIII Concílio Geral. São Paulo:
Imprensa Metodista, 1960, p.216.
57
IGREJA METODISTA DO BRASIL. Atas, registros e documentos do VIII Concílio Geral, p.16
58
Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1960, p.11.
59
Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1960, p.5
60
Jornal Expositor Cristão, 15 de agosto de 1961, p.1.
61
Conferir a entrevista do Rev Dorival Rodrigues Beulke no anexo nº 1
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

27

completa, mostrando que a igreja chegou ao Nordeste preocupada com a evangelização e com
a religião social, conforme o trecho extraído abaixo:
A Igreja Metodista começou uma obra missionária que não visa tão somente à alma,
mas também ao corpo. A irmã missionária, Gladys Oberlin, é a pregoeira das virtudes
da salvação pela fé tanto quanto da salvação do corpo pelos recursos do MPF.62
Através de palestras, demonstrações, filmes, mesas redondas, vai ela fazendo a obra de
alertar pais, professores, pastores e autoridades, quanto à importância de salvar a
saúde do povo humilde, que vive à beira da falência física. Num parque, 400 crianças
têm sua dieta reforçada, três vezes ao dia, com essa farinha ‘milagrosa’.63

No Bairro da Torre, onde já funcionava o trabalho m
etodista, 100 crianças
eram assistidas diariamente pela ação missionária da Sra. Oberlin. 64 O metodismo chegava
com a seguinte estratégia: evangelismo; culto ao ar- livre, série de conferências
evangelizantes, educação cristã, Escola Dominical e ação social.
Entre os programas, destacavam-se os centros para a distribuição de alimentos,
nos quais as famílias recebiam orientações. E ainda, jardim da infância para crianças de 4 a 6
anos, curso primário para 41 crianças que podiam aprender a ler e escrever; alfabetização de
adultos duas vezes por semana (e, entre os alunos, havia uma senhora de 72 anos). Em apenas
quatro anos de trabalho missionário, já se podiam perceber os sinais da missão realizada a
favor da vida e do próximo em Recife, como é descrito a seguir:
É interessante notar que as pessoas que recebem orientação sobre alimentação e
higiene e realmente a seguem, apresentam dentro de poucos meses melhoras em seu
estado de saúde. Em alguns casos, o progresso é extraordinário. O interesse em
melhorar a alimentação faz com que algumas pessoas cultivem hortas para o plantio
de verduras. Esta missionária tem sido incansável em ajudar o povo a prevenir
doenças. Nota-se, por exemplo, que as pessoas estão aprendendo a calçar chinelos ou
sapatos a fim de evitar a verminose. O progresso é evidente na saúde e bem-estar
físico, também pode ser observado na vida espiritual. Embora em escala relativamente
pequena, um milagre de corpos mais sadios, maior visão espiritual e uma redução de
números de analfabetos está se passando em Recife. Um milagre que ocorre
freqüentemente, pois à medida que procura fortalecer os corpos famintos, a igreja
cuida também das almas em busca de alimento espiritual. 65

Ainda no contexto eclesiástico, aconteceu, em 1962, em Recife, o Congresso

62

MPF: a sigla, em inglês, tem o seguinte significado: Mult Purpose Food. Era uma farinha vitaminada oriunda
dos Estados Unidos, distribuída a pessoas carentes como reforço alimentar para suprir deficiências alimentares.
63
Jornal Expositor Cristão, 1º de março de 1963, p.1.
64
Gladys Oberlin, missionária da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos chegou ao Brasil em
1962. Designada para trabalhar em Recife, serviu por vários anos, retornando aos Estados Unidos.
65
Jornal Expositor Cristão, 1º de março de 1963, p.5.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

28

“Cristo e o processo revolucionário brasileiro”, conhecido como “Conferência do Nordeste”66 .
Esse encontro fortaleceu o compromisso da Igreja com o evangelho social, na realidade sócioreligiosa em que vivia o país. O rev. Almir dos Santos 67 descreve a importância desta
Conferência da seguinte maneira: “A Conferência do Nordeste é uma tentativa para encontrar
novas formas de ação da Igreja na situação revolucionária que vive o povo brasileiro na hora
presente. A Igreja deve estar disposta, inclusive, a mudar as suas estruturas eclesiásticas, se
necessário for, para melhor cumprira a sua missão no mundo atual.”68
A década de 1960 foi um período de grandes mudanças no Brasil e de
influências dos movimentos de avivamentos religiosos nas igrejas, lado a lado com a
secularização e quebra de paradigmas na missão da Igreja. Em 1964, aconteceu a revolução, o
golpe militar. A juventude se levantou com força e resistência, tanto na sociedade como na
igreja. Era um tempo de propostas de renovação e conflitos. Houve um fortalecimento dos
trabalhadores rurais e urbanos, assim como de estudantes. Intensas articulações políticas, de
inspiração socialista ou ênfases similares, aconteciam. “Com isso, crescia o respectivo debate
político- ideológico, que influenciava as igrejas e as reflexões teológicas”69 .
O discurso religioso e missionário da Igreja passava por uma forte mudança.
Odilon Chaves afirma que havia uma “efervescência” ante a atuação da Igreja nos problemas
sociais 70 . Foram escritos artigos como “Pastor foi a assembléia de ferroviários grevistas”, “O
crime do silêncio”, “A sobrevivência da democracia”; “Cristianismo, ópio do povo”; “Por que
os crentes devem sindicalizar-se?” 71 , entre outros.
Em 1964, o rev. Beulke foi preso 72 , por se envolver com as questões e
movimentos sociais e com o Evangelho para os necessitados. Ele ficou sob júdce e foi
66

Todas as palestras da Conferência foram publicadas em dois volumes, no ano de 1962. O Volume Um intitulase “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”. O Volume Dois intitula-se “Conferência do Nordeste”. As
obras estão disponíveis na biblioteca da Faculdade de Teologia. Não constam dos volumes edição nem editora.
67
Almir dos Santos foi bispo metodista e presidiu a comissão organizadora desta Conferência. O rev. Dorival
Beulke foi o tesoureiro.
68
SANTOS. Almir dos. “Cristo e o processo e revolucionário”. In: Jornal Expositor Cristão, outubro de 1962,
ano 77, nº 20, p.7.
69
RIBEIRO, Cláudio e LOPES, Nicanor. 20 anos depois: a vida e a missão da igreja em foco. São Bernardo do
Campo: Editeo, 2002, p.10. José Bittencourt Filho, em sua obra, Matriz religiosa brasileira (Petrópolis: Vozes e
Koinonia), p.129-136, nos dá uma compreensão detalhada do período.
70
O momento social e religioso brasileiro na década de 1960 é apresentado nos capítulos 8 e 9 de CHAVES,
Odilon Massolar. História da evangelização do metodismo brasileiro. São Bernardo do Campo: IMS, 1985
(Dissertação).
71
CHAVES, Odilon Massolar. História da evangelização do metodismo brasileiro, p.175.
72
Em suas palavras: “Em 1964, acabei preso por me envolver com as questões sociais e com o Evangelho para
os necessitados. Fui acusado de comunista e passei quase todo o ano de 1964 na cadeia, numa cela com 36
presos políticos, um espaço em que cabiam apenas cinco pessoas”. Conferir entrevista no anexo nº 1.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

29

indiscriminadamente acusado de comunista e posto numa cela com 36 presos políticos, um
espaço em que cabiam apenas cinco pessoas. Depois de ser interrogado e nada comprovado a
seu respeito, ele foi colocado em liberdade condicional e, finalmente, pôde retornar a São
Paulo, para o convívio de sua família.
Mas ele não foi o único a sofrer restrições por sua postura. No contexto político
da ditadura militar atravessado pelo país, quem se envolvesse no setor social, junto aos pobres
e marginalizados, ou na classe operária, era passível de sofrer perseguição e acusação, prisão
e até tortura. Qualquer pessoa que tivesse uma consciência política de engajamento e
compromisso social era tida como comunista. No âmbito da Igreja Metodista, além do rev.
Beulke, também o rev. Fred Morris viveu tal situação, entre outros. Na Igreja Católica, um
dos exemplos mais contundentes é a experiência de Dom Helder Câmara, 73 bispo de Olinda,
PE, visto como ameaça ao sistema dominante e opressor, imposto pelo regime militar. O atual
presidente da República, Luiz Inácio da Silva 74 , então líder do movimento sindical em São
73

D. Helder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza N. Sra. da Assunção, a atual Fortaleza, CE, em
07/02/1909. Aos 14 anos, iniciou seus estudos no seminário e foi ordenado padre em 1931. Atuou, como
padre, junto aos setores da sociedade e em Educação. Trabalhou, nos anos 50, na articulação da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A seguir, foi consagrado bispo. Por sua atu ação, foi
indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Um grupo de países europeus criou o Prêmio Popular da
Paz, sendo ele um dos agraciados. Morreu aos 90 anos, em 1999, em Olinda, PE, como arcebispo. Dom
Helder sempre teve uma relação fraterna e ecumên ica com a Igreja Metodista. Em 1967, foi paraninfo
dos formandos na Faculdade de Teologia, em Rudge Ramos, SBC. Em 7 de agosto de 1971, o Centro
Comunitário de Caixa D’água, em Olinda, PE, foi inaugurado e Dom Helder Câmara esteve presente.
Para maior comp reensão da sua vida, sugere -se a leitura da obra de CASTRO, Marcos de. Dom Helder:
misticismo e santidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
74
Nordestino, pobre e retirante, Luiz Inácio da Silva nasceu em Garanhuns, PE, em 27 de outubro de 1945, data
do registro da Certidão de Nascimento. Mas Lula prefere adotar a certeza da mãe, que garantiu que o filho veio
ao mundo no dia 6 do mesmo mês. Curiosamente, são as datas do primeiro e segundo turnos da sucessão de
2002, a quarta disputada pelo nordestino. De uma família de lavradores pobres, Lula é um dos oito filhos de
Aristides e Eurídice. A mãe é apontada como a pessoa que mais marcou sua infância. Quando Eurídice estava
grávida de Lula, o pai deixou a família em Garanhuns para tentar a vida em Santos, São Paulo. Em 1956, d.
Eurídice decidiu seguir o marido. Vendeu a terra que tinha, colocou a família num pau-de-arara e desceu rumo à
cidade portuária. Em Santos, a decepção. Aristides tinha se casado novamente com uma prima da mãe de Lula.
Lula é casado há 28 anos com Marisa Letícia Lula da Silva, sua segunda mulher. A primeira, Maria de Lourdes
da Silva, morreu em 1970. O presidente tem cinco filhos: Marcos Cláudio, de 31 anos, Lurian, 29, Fábio Luiz,
28, Sandro Luiz, 23, e Luiz Cláudio, 17. O petis ta estudou até a 5ª série do Ensino Fundamental, antigo curso
primário. Foi numa escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) que obteve o diploma
técnico de torneiro mecânico. Quando exercia a profissão, perdeu o dedo mínimo da mão esquerda numa prensa.
A profissão abriu o caminho para o futuro líder sindical e da esquerda brasileira (extraído do site Terra-eleições:
http://noticias.terra.com.br/eleicoes/est/lula/lulavida.html). Lula começou a ter contato com o movimento
sindical por meio de seu irmão José Ferreira da silva, conhecido como Frei Chico. Em 1969, o Sindicato de
Diadema e São Bernardo do Campo realizou uma eleição para escolher sua nova diretoria e Lula foi eleito
secretário suplente. Em 1972, ele foi eleito primeiro secretário e, em 1975, presidente do Sindicato, com 92%
dos votos, passando a representar 100 mil trabalhadores. Em 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC
Paulista. A repressão policial e a inexistência de políticos no Congresso Nacional que representassem os
trabalhadores fizeram com que Lula pensasse em criar o Partido dos Trabalhadores. Em 10 de fevereiro de 1980,
Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais e representantes dos movimentos sociais. Em
1980, nova greve provocou a intervenção do Governo Federal no Sindicato e a prisão de Lula e outros líderes
sindicais. Com base na Lei de Segurança Nacional, Lula e outros dirigentes sindicais foram condenados a 31 dias
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

30

Bernardo do Campo, SP, e várias lideranças sofreram perseguição nesse período.
Após sua soltura, o rev. Beulke não teve seu pacto missionário renovado com a
Igreja, que selecionou um novo missionário para assumir seu lugar e dar continuidade ao
trabalho missionário em Recife.
1.2.4. Segundo missionário em Recife, PE
Em outubro de 1963, foi enviado o casal rev. Francisco de Oliveira e D. Dirce
de Oliveira, em substituição à família Beulke, que tirou licença e permaneceu em Recife,
estudando e trabalhando.
O rev. Francisco chegou a Recife e procurou dar continuidade ao trabalho
missionário. Pode-se perceber que a visão de crescimento, os sonhos e a expansão continuam.
Em uma carta enviada ao Expositor Cristão, ele declara:
Recife será, no futuro, para o norte e Nordeste, o que São Paulo é para os Estados do
sul do país. Temos duas congregações, 200 alunos nas Escolas Dominicais e mais uma
centena de membros, o trabalho avança decididamente. Precisamos com urgência de
um harmônio para a congregação em Caixa D’água e (2) equipamentos para o
ambulatório em organização no mesmo bairro (mesas para exames).75

É interessante que a Igreja começou a ocupar o seu lugar naquela metrópole. No dia
2 de agosto, foi inaugurado o primeiro conjunto coral da Igreja Metodista em Recife, com um
membro veterano (Paulo Duarte) da igreja. Os demais eram pessoas recém-chegadas à comunidade.
No final da década de 1960, o metodismo tinha 100 membros em duas
congregações: Caixa D’água e Torre. O pastor era o rev. Roberto L. Spencer76 , o terceiro pastor
em Recife. Sua esposa era Jane Spencer. Ele contava com dois seminaristas: Lauro Cruz Reis, que
estava concluindo o Curso de Bacharel em Teologia no Seminário Presbiteriano, e Rodolfo
Mamaniconde.. Havia uma escola primária, mantida pela Igreja.
de prisão. Em 1986, ele foi eleito o Deputado Federal mais votado do País para a Assembléia Constituinte. Em
1989, o PT o lançou à disputa da Presidência da República Federativa do Brasil. Ele foi derrotado no segundo
turno. Em 1994 e 1998, voltou a se candidatar e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso. Em 27 de
outubro de 2002, aos 57 anos, foi eleito Presidente da República Federativa do Brasil com quase 53 milhões de
votos (extraído do site: https://www.planalto.gov.br/bio_01/lula.pdf03/05/2004).
75
Jornal Expositor Cristão, 1 de dezembro de 1964, p.8.
76
Missionário da I
greja Metodista Unida, Estados Unidos, veio ao Brasil enviado pela Junta de Ministérios
Globais (entidade responsável por envio de missionários a várias partes do mundo), em 1962. Preparou-se na
Escola de Estudos em Português de Campinas, SP, de 1963 a 1966. Pastoreou a Igreja Metodista de Copacabana.
Em 1967, retornou aos Estados Unidos e em 1968 foi ser missionário em Recife, PE. Conferir entrevista no
anexo 2.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

31

1.2.5. Fred Morris, missionário americano torturado em Recife
O rev. Fred Morris, após terminar o curso de Bacharel em Teologia nos
Estados Unidos, ouviu falar sobre o Brasil por meio do Dr. Gerson Soares Veiga 77 e se
entusiasmou muito pela idéia de trabalhar aqui como missionário. Além do curso de Teologia,
o rev. Morris possuía Mestrado em Sociologia Urbana. Sua vinda como missionário foi
possível por meio de uma parceria entre a Junta de Ministérios Globais, nos Estados Unidos, e
a Igreja Metodista do Brasil. Como forma de preparo, ele passou por sete meses de
treinamento nos Estados Unidos.
Em 1964, ele veio ao Brasil e foi nomeado para as Igrejas de Teresópolis,
Itaipava e Cuiabá. Este ano também foi dedicado ao estudo da língua portuguesa. Após dois
anos, foi transferido para a Igreja Metodista de Pilares, no Rio de Janeiro, sendo também
nomeado Secretário Regional de Educação Cristã, na Primeira Região Eclesiástica. Em
setembro de 1970, por convite do Secretário de Ação Social, rev. João Paraíba Daronch da
Silva 78 , ele foi enviado ao Nordeste, após a saída do rev. Robert Spencer. 79
De 1970 a 1974, foi organizado e construído o Centro Comunitário de Caixa
D’água, em Olinda, PE, na propriedade comprada no período do rev. Dorival Beulke. Até
então, ali havia apenas um barracão.
O rev. Fred Morris permaneceu em Recife de setembro de 1970 a maio de
1973. Depois disso, passou um período de três meses nos Estados Unidos. Na volta, trabalhou
como gerente numa fábrica de blocos de concreto, com João Bayer, sendo ainda eleito diretor
do Centro Comunitário de Caixa D’água. Travou também relações ecumênicas,
desenvolvendo um relacionamento pastoral com Dom Helder Câmara.
Em 1974, uma série de episódios sérios marcaram a vida do rev. Morris no
Nordeste. Certo dia, ele foi à casa do ex- monitor de cursos do Centro Comunitário, resolver
algumas pendências do trabalho. Mas o rapaz estava desaparecido, sendo procurado pela
polícia. Havia ali dois militares, que detiveram o rev. Morris por algumas horas. Em julho, a
77

Gerson Soares Veiga foi professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista,Diretor Geral do Instituto
Metodista de Ensino Superior em São Bernardo do Campo, SP.
78
João Parahyba Daronch da Silva foi professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, em São Bernardo
do Campo, SP. Ele foi o tradutor do livro “A Igreja, Corpo de Cristo”, publicado pela Junta Geral de Ação Social
da Igreja Metodista, por meio da Imprensa Metodista, em 1966. Também foi Secretário da Junta Geral de Ação
Social e um colaborador na publicação do Credo Social da Igreja Metodista, em 1968.
79
Dados fornecidos por Fred Morris, em entrevista concedida em 26 de outubro de 2003, em Lake Junalaska,
Carolina do Norte, Estados Unidos, conforme Anexo 3.
Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil

32

revista Times publicou um artigo sobre Dom Helder Câmara, chamando-o de “o pastor dos
pobres no Nordeste” e criticando o regime militar, abordando temas como tortura, fome,
economia, direitos humanos, etc. Os líderes do regime acharam que o rev. Morris havia
escrito o artigo.
Os fatos ligados ao artigo, o episódio envolvendo o ex-monitor do centro
comunit ário e a relação com Dom Helder Câmara, bem como os trabalhos desenvolvidos
entre os marginalizados da sociedade foram as causas que levaram o rev. Morris à prisão no
dia 30 de setembro, ficando encarcerado por 17 dias. Depois de ser torturado, os militares
esperaram o seu restabelecimento e nesta ocasião ele foi escoltado para o Rio de Janeiro, de
onde foi deportado para os Estados Unidos por um ato do Presidente Ernesto Geisel, sendo
considerado pessoa nociva aos interesses nacionais 80 .

1.2.6. Ministério do rev. Adolfo Evaristo de Souza
Em 1971, o rev. Adolfo Evaristo de Souza 81 chegou a Recife, para substituir o
rev. Robert Spencer 82 . Ele assumiu os trabalhos pastorais no bairro da Torre e Caixa D’água.
Foi um período de expansão do metodismo em Recife. Novas frentes missionárias foram
abertas em Jaboatão dos Guararapes, Cordeiro, Nova Descoberta, João Pessoa, Campina
Grande. Esses trabalhos estavam sob a responsabilidade do rev. Adolfo, que ali permaneceu
de 1971 a 1980, atuando na Igreja Metodista da Torre. Em 1981, tornou-se pastor da Igreja
Metodista em Campina Grande e João Pessoa. Em 1982, retornou a São Paulo, capital, para
pastorear em sua região de origem83 .
O metodismo, em sua expansão em Recife, iniciou mais um trabalho no bairro
Prazeres, em 2 de maio de 1971. Um grupo da Igreja, liderado pelo rev. Adolfo, começou a
realizar visitação e evangelismo ali, sendo que em agosto do mesmo ano foi inaugurado um
local de reuniões e cultos, realizados nos sábados à noite. A Escola Dominical acontecia à
tarde 84 .
80

Os detalhes da experiência do rev. Morris no Nordeste encontram-se na entrevista do anexo 3. Veja também
Compartilhar Pastoral. Informativo da Região Missionária do Nordeste, Ano VI, nº 64, 2003, p.6. Na matéria
jornalística, Fred Morris conta seu seqüestro, tortura e prisão durante 17 dias, pelos policiais brasileiros.
81
Adolfo Evaristo de Souza, paulista, fez o Curso Básico de Teologia pela Igreja Metodista. Em 1981, foi para
Recife como missionário. Ao retornar do Nordeste, em 1982, foi eleito bispo da Igreja Metodista. Conferir
entrevista no Anexo 4.
82
Conferir entrevista com Robert Spencer no Anexo 2.
83
Conferir entrevista no Anexo 4.
84
Jornal Expositor Cristão, 15 de outubro de 1969, p.8.
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Metodismo no nordeste do país

  • 1. Sumário SUMÁRIO..................................................................................................................................1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................7 METODOLOGIA.......................................................................................................................... 7 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 .. : IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DO METODISMO NO NORDESTE DO BRASIL ....................................................................................................................................12 1.1. ASPECTOS GERAIS DA HISTÓRIA E REALIDADE DO NORDESTE............................................... 13 1.1.1. Colonização e produção de riquezas.............................................................................................................13 1.1.2. Relações sociais.................................................................................................................................................16 1.1.3. Aspectos culturais .............................................................................................................................................17 1.1.4. Divisão Geográfica do Nordeste....................................................................................................................20 1.2. AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE IMPLANTAÇÃO DO METODISMO NO NORDESTE ...................... 20 1.2.1. O metodismo no Nordeste: rev. Benedito Natal Quintanilha....................................................................22 1.2.2. Segundo missionário em Salvador.................................................................................................................24 1.2.3. Expansão em Recife, PE...................................................................................................................................24 1.2.4. Segundo missionário em Recife, PE...............................................................................................................30 1.2.5. Fred Morris, missionário americano torturado em Recife ........................................................................31 1.2.6. Ministério do rev. Adolfo Evaristo de Souza................................................................................................32 1.2.7. As primeiras mulheres na missão metodista no Nordeste..........................................................................33 1.2.8. Expansão em Aracaju, SE................................................................................................................................34 1.2.9. Primeiro missionário em Aracaju, SE ...........................................................................................................35 1.2.10. Segundo missionário em Aracaju, SE..........................................................................................................36 1.2.11. Expansão em Fortaleza, CE..........................................................................................................................36 1.2.12. O pioneiro do metodismo em Fortaleza, CE..............................................................................................37 1.2.13. Segundo missionário metodista em Fortaleza, CE....................................................................................38 1.2.14. A expansão do metodismo em João Pessoa, PB ........................................................................................40 1.2.15. A expansão do metodismo em Natal, RN ....................................................................................................40 1.2.16. Primeiro missionário em Natal, RN.............................................................................................................40 1.2.17. A expansão em Campina Grande, PB .........................................................................................................41 1.3. AVANÇO MISSIONÁRIO: PERSPECTIVAS ATUAIS ................................................................... 41 CAPÍTULO 2: ESTRUTURAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA REGIÃO MISSIONÁRIA DO NORDESTE .............................................................................................................................43 2.1. CAMPOS MISSIONÁRIOS GERAIS......................................................................................... 46 2.1.1. 1ª Conferência Missionária no Nordeste (1969).........................................................................................47 2.1.2. Em busca da criação de uma Região Eclesiástica ......................................................................................48 2.1.3. O surgimento do Encomene.............................................................................................................................49 2.2. CRIAÇÃO DA REGIÃO MISSIONÁRIA DO NORDESTE.............................................................. 50
  • 2. Sumário 2 2.2.1. Bispo Supervisor (1983-1987) ........................................................................................................................52 2.2.2. 2ª Consulta Missionária (1986)......................................................................................................................53 2.2.3. 14º Concílio Geral (1987)................................................................................................................................54 2.2.4. Primeiro bispo residente e sua práxis missionária (1988) ........................................................................55 2.2.5. Autonomia Administrativa da Região Missionária do Nordeste (1997)..................................................58 2.2.6. Segundo bispo residente, Adriel de Souza Maia (1998).............................................................................59 2.2.7. Primeira mulher no episcopado metodista brasileiro e nordestino (2001) ............................................61 2.2.9. Resumo do desenvolvimento histórico do metodismo no Nordeste..........................................................65 2.2.10. Primeiras mulheres metodistas missionárias no Nordeste......................................................................65 2.2.11. Aspectos Históricos do Metodismo no Nordeste até Criação da Região Missionária do Nordeste do Brasil ..............................................................................................................................................................................66 CAPÍTULO 3: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A PRÁXIS RELIGIOSA ....... DO METODISMO NO NORDESTE DO BRASIL .......................................................................67 3.1. O CONCEITO DE MISSÃO ENTRE 1946 E 2003........................................................................ 68 3.2. O CONCEITO DE MISSÃO À LUZ DO P LANO PARA A VIDA E MISSÃO ....................................... 75 3.3. MISSÃO EM DAVID BOSCH................................................................................................. 77 3.4. CONTEXTUALIZAÇÃO E INCULTURAÇÃO NA MISSÃO ........................................................... 80 3.5. A PRÁXIS RELIGIOSA NA MISSÃO METODISTA NO NORDESTE ................................................ 84 3.5.1. Breve retomada e análise do contexto da práxis religiosa no Nordeste.................................................85 3.5.2. Modelo de auto-sustento na práxis religiosa do Metodismo no Nordeste do Brasil.............................88 3.5.3. Modelo de auto-proclamação/propagação ou expansão missionária.....................................................90 3.5.4. Modelo Social: em busca de uma missão libertadora (solidariedade em situações de desesperança) .........................................................................................................................................................................................91 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................103 TESES, DISSERTAÇÕES E MONOGRAFIAS.........................................................................................105 P ERIÓDICOS DA IGREJA METODISTA ........................................................................................107 DOCUMENTOS DA IGREJA METODISTA.....................................................................................109 SITES DA INTERNET ................................................................................................................110 ANEXOS ................................................................................................................................111 INFORMAÇÕES ESSENCIAIS PARA A COMPREENSÃO DOS ANEXOS ...................112 ANEXO 1: ENTREVISTA COM DORIVAL RODRIGUES BEULKE ..............................114 1.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................114 1.2. P REPARO .........................................................................................................................114 1.3. ENVIO .............................................................................................................................115 1.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................115 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................119 ANEXO 2: ENTREVISTA COM ROBERT H. SPENCER .................................................121 2.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................121 2.2. P REPARO .........................................................................................................................121 2.3. ENVIO .............................................................................................................................121 2.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................122
  • 3. Sumário 3 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................124 ANEXO 3: ENTREVISTA COM FRED MORRIS..............................................................126 3.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................126 3.2. P REPARO .........................................................................................................................126 3.3. ENVIO .............................................................................................................................127 3.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................127 3.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................130 3.6. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................131 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................133 ANEXO 4: ENTREVISTA COM BISPO ADOLFO EVA RISTO DE SOUZA ...................135 4.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................135 4.2. P REPARO .........................................................................................................................135 4.3. ENVIO .............................................................................................................................136 4.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................136 4.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................138 4.6. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................139 4.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................140 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................142 ANEXO 5: ENTREVISTA COM ARLETE QUARESMA..................................................144 5.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................144 5.2. P REPARO .........................................................................................................................144 5.3. ENVIO .............................................................................................................................145 5.4. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................146 5.5. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS................................................................................................147 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................149 ANEXO 6: ENTREVISTA COM MARIA RAIMUNDA LOPES MONTEIRO.................151 6.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................151 6.2. P REPARO .........................................................................................................................152 6.3. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................152 6.4. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................153 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................154 ANEXO 7: ENTREVISTA COM JANE MENESES BLACKBURN ..................................156 7.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................156 7.2. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................157 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................160 ANEXO 8: ENTREVISTA COM WILSON DE CARVALHO ............................................162
  • 4. Sumário 4 8.1. VOCAÇÃO ........................................................................................................................162 8.2. P REPARO .........................................................................................................................162 8.3. ENVIO .............................................................................................................................163 8.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ......................................................................163 8.5. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................164 8.6. DOCUMENTOS DA IGREJA .................................................................................................165 8.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ...............................................................................................165 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................168 ANEXO 9: ENTREVISTA COM ROMEU SCHIRMER E ÉLIDA FAGUNDES ..............170 9.1. HISTÓRIA.........................................................................................................................170 9.2. ECLESIOLOGIA .................................................................................................................173 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................175 ANEXO 10: ENTREVISTA COM JOSIAS TERENZI PINTO...........................................177 10.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................177 10.2. P REPARO .......................................................................................................................178 10.3. ENVIO............................................................................................................................178 10.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................179 10.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................180 10.6. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................181 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................182 ANEXO 11: ENTREVISTA COM ELY TEODORO DA SILVA ........................................184 11.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................184 11.2. P REPARO .......................................................................................................................184 11.3. ENVIO............................................................................................................................185 11.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................185 11.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................188 11.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................190 11.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................191 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................194 ANEXO 12: ENTREVISTA COM FRANCISCO PORTO DE ALMEIDA ........................196 12.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................196 12.2. ENVIO............................................................................................................................197 12.3. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................197 12.5. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................198 12.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................199 12.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS .............................................................................................199 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................201
  • 5. Sumário 5 ANEXO 13:ENTREVISTA COM O REV.WILLIAN.F.ROGER ......................................203 13.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................203 13.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO .........................................................................................203 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................206 ANEXO 14: ENTREVISTA COM BISPO PAULO AYRES DE MATOS ..........................208 14.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................208 14.2. P REPARO .......................................................................................................................209 14.3. ENVIO............................................................................................................................210 14.4. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................210 14.6. DOCUMENTOS DA IGREJA................................................................................................213 14.7. EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS ..............................................................................................215 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................220 ANEXO 15: ENTREVISTA COM O BISPO ADRIEL DE SOUZA MAIA........................222 15 .1. VOCAÇÃO .....................................................................................................................222 15.2. P REPARO .......................................................................................................................222 15.3. ENVIO............................................................................................................................223 15.4. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................223 15.5. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................226 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................229 ANEXO 16: ENTREVISTA COM DAVID ORSI ................................................................231 16.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................231 16.2. ECLESIOLOGIA ...............................................................................................................231 16.3. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................233 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................234 ANEXO 17: ENTREVISTA COM MARLENE T. KITTER BATISTA..............................236 17.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................236 17.2. DESAFIOS E OPORTUNIDADES ..........................................................................................237 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................239 ANEXO 18: ENTREVISTA COM JOÃO RIBEIRO DA SILVA ........................................241 18.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................241 18.2. P REPARO .......................................................................................................................241 18.3. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................241 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................243 ANEXO 19: ENTREVISTA COM JOSÉ GERALDO CARDOSO .....................................245 19.1. VOCAÇÃO......................................................................................................................245
  • 6. Sumário 6 19.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA ....................................................................245 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR....................................................248 ANEXO 20: ENTREVISTA COM MARISA FERREIRA FREITAS COUTINHO ...........250 20.1. VIDA PESSOAL................................................................................................................250 20.2. ESTRUTURA ECLESIÁSTICA .............................................................................................251 TERMO DE COMPROMISSO DO ENTREVISTADOR ......................................................263
  • 7. Introdução O interesse pela pesquisa ora proposta advém de uma paixão pessoal pela obra missionária, que ocasionou, ao longo dos anos de ministério pastoral, grande dedicação ao tema. Da mesma forma, isso se reflete na caminhada acadêmica, com o desenvolvimento de pesquisas na área de missões, metodismo e eclesiologia. Além disso, a participação em diversos programas da Igreja Metodista, bem como visitas a cidades, igrejas e campos missionários, ocasionaram um prévio conhecimento da situação e caminhada da Igreja Metodista no Nordeste. Desse convívio, resulta ainda o estabelecimento de laços significativos com pastoras/as, missionários/as e leigos/as que ali residem. Esta convivência e conhecimento adquirido possibilitam- me verificar a necessidade de propor, por meio desta pesquisa, a análise e conseqüente geração de informações para leitores e pesquisadores afins com o tema proposto, quiçá propiciando caminhos e alternativas para os impasses encontrados. Esta pesquisa analisa criticamente, na perspectiva da práxis religiosa, a história, a estratégia de implantação e a configuração do metodismo no Nordeste do Brasil, desde seu início, em 1946, na Bahia; posteriormente, em 1960, a partir de Recife, e sua expansão até o ano de 2003. Metodologia Pela natureza metodológica deste trabalho, ele se configura de forma bibliográfica (com consulta de documentos específicos) e coleta de dados por meio de pesquisa de campo.
  • 8. Introdução 8 Inicialmente, a pesquisa prevê a recuperação histórica do processo de implantação do Metodismo no Nordeste, por meio de levantamento bibliográfico e de dados de campo, utilizando os livros de história do Metodismo disponíveis, os documentos da Igreja produzidos no período histórico abordado e materiais diversos , tais como, jornais, revistas e demais meios de comunicação utilizados pela Igreja Metodista e entidades cooperadoras. Pretende-se, ainda, verificar como as pessoas enviadas na condição de missionárias metodistas compreendem sua missão, seu perfil e sua atuação no Nordeste, e observar Igrejas, campos missionários e comunidades em suas formas de organização e atuação, apontando pontos de aproximação e distanciamento das estratégias propostas pela organização da Igreja. Há vários métodos em Ciências Sociais, pelos quais se pode escrever uma obra. O método utilizado nesta pesquisa foi o método histórico-crítico, como referencial para interpretar os sinais do período em análise. Lakatos e Marconi o definem da seguinte forma: Partindo do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituiç ões e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função. Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de suas formações e de suas modificações.1 Para as autoras, o método histórico-crítico preenche os vazios dos fatos e acontecimentos, apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos. Dentro dessa perspectiva, o método histórico-crítico possibilita a análise dos contextos sócio-políticos, econômicos, religiosos e eclesiológicos que determinaram a inserção, o envio dos primeiros missionários e a configuração e expansão do Metodismo em terras nordestinas. Com o propósito de se fazer um resgate da memória missionária em uma leitura pastoralista, será utilizada como metodologia a história oral, uma forma de abordagem reconhecida como metodologia de pesquisa por vários autores como na obra “Uso e abuso da 1 LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1993, p.81-82.
  • 9. Introdução 9 história oral”, organizada por Marieta Ferreira e Joanina Amado. Por exemplo, Maria de Queiroz afirma, nesta obra, que a história oral é um termo amplo, que recobre uma quantidade de relatos a respeito de fatos não registrados por outro tipo de documentação ou cuja documentação se quer completar 2 . A história oral é um método que visa fazer conexão e inserção com a história e as ciências sociais. É um método utilizado desde a Antiguidade; porém, no século XVIII, quando a história se constituiu como disciplina, é que ela ficou relegada a um plano secundário em função da história escrita. A metodologia em história oral representa o núcleo da investigação, não sendo simplesmente uma parte acessória, mas ordenando procedimentos na entrevista e dando possibilidades de análise crítica em cada pesquisa. O historiador pode, a partir da informação oral, construir os fatos, ajuntando as peças que remontam a riqueza da história. Nesta dissertação, será feita uma pesquisa de campo, entendendo-se por campo o recorte espacial que corresponde à abrangência em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto de investigação. É objetivo desta pesquisa, na perspectiva do método histórico-oral, utilizar a pesquisa semi- estruturada, com um roteiro que divide as perguntas em blocos, possibilitando ao sujeito plena liberdade para emitir seu conhecimento e lembrança, resgatando assim a memória ou história oral. As entrevistas serão feitas mediante gravações e preenchimento de questionário com a presença e interação direta entre o pesquisador e os atores sociais, sendo complementadas por uma prática de observação participante, levando em conta o comportamento de cada elemento social dos atores. Desenvolvimento Esta dissertação é constituída de três capítulos. No primeiro, será tratado os aspectos culturais, bem como a colonização e divisão geográfica do Nordeste do Brasil e, ainda, os aspectos históricos da implantação e expansão do Metodismo. Dessa forma, será possível contextualizar com maior fidelidade o cenário em que o Metodismo se inseriu e as formas pelas quais foi implantado e se desenvolveu. 2 FERREIRA, Marieta M. e AMADO, Joanina (org.). Uso e abuso da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998, p.14-15.
  • 10. Introdução 10 No segundo capítulo, será analisada a forma pela qual a Igreja Metodista se estruturou e se organizou, a partir do modelo eclesiástico já utilizado no sudeste do Brasil. Serão abordadas as etapas de configuração como Região Missionária do Nordeste, desde a existência como Campo Missionário Geral. No terceiro capítulo, será feita uma reflexão crítica, com base nas pesquisas de campo, referências teóricas de David Bosch3 e o conceito de missão do Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista4 e o referencial conceitual de crescimento de Igrejas de Orlando Costas. Serão analisados os modelos da práxis religiosa do metodismo no Nordeste do Brasil, seus desafios e oportunidades, a partir de três modelos: modelo de auto-proclamação/propagação ou expansão missionária; b) modelo de auto-sustento; c) modelo social, em busca de missão contextualizada (isto é, solidariedade em situações de desesperança). Nesta perspectiva, será analisada a práxis missionária da Igreja Metodista entre 1946 e 2003, período delimitado para esta pesquisa, tendo em vista que foi a partir de 1946 que o metodismo iniciou sua expansão para o Nordeste do Brasil. O limite de 2003 se dá com um marco significativo, que é a eleição da primeira mulher ao episcopado da Igreja no Brasil, sendo sua designação para o Nordeste. Na análise, pretende-se averiguar a configuração da práxis missionária metodista nos documentos da Igreja e aplicabilidade na realidade da Região Missionária do Nordeste, considerando suas características culturais, o processo de implantação e desenvolvimento do metodismo. Outra base de análise será o modelo de organização administrativa utilizado no seu processo de estruturação e emancipação administrativa. A partir dos modelos indicados na pesquisa, com os dados históricos levantados e memórias mostradas nas entrevistas, abrem-se caminhos, horizontes, para uma revisão histórica da missão metodista no Nordeste do Brasil. Caminhos que possibilitam a busca de formas de aprofundamento da práxis na missão integral e contextualizada. Esta pesquisa é um projeto que constitui em possibilidades de abrir para pesquisadores/as, novos caminhos que requer, portanto, um maior espaço de tempo e de pesquisa na academia. Não se pretende, com estas reflexões, chegar a respostas deterministas, 3 4 BOSCH, David J. Missão transformadora. São Leopoldo: Sinodal. 2002 IGREJA METODISTA. Plano para a vida e a missão da igreja. São Paulo: Unimep, 1982.
  • 11. Introdução 11 fechadas, mas sim, abrir o debate para maior compreensão do desenvolvimento do Metodismo no Nordeste do Brasil, confirmando a vocação e a práxis missionárias metodistas.
  • 12. Capítulo 1 Implantação e expansão do metodismo no Nordeste do Brasil Antes de abordar propriamente o processo de implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil, será analisado os aspectos culturais, bem como a história da colonização e a divisão geográfica do Nordeste e definir o conceito cultura 5 , que perpassa essas questões. Dessa forma, será possível contextualizar com maior fidelidade o cenário em que o Metodismo se inseriu e as formas pelas quais foi implantado no Nordeste do Brasil. O conceito de cultura é amplo e diversificado. Para fins deste trabalho, porém, serão tomadas como referências as definições Julio de Santana e Paulo Sues. Para Paulo Suess, “ cultura é um projeto coletivo que se realiza em todas as dimensões relevantes para a vida humana: no campo material e ideológico, no social e político, no econômico e religioso”. 6 Para Júlio Santana, a cultura é “a forma de vida social de um povo, transmitida pela tradição na qual o indivíduo se insere, leva adiante suas realizações, descobre e faz seu 5 FEATHERSTONE, Mike. O desmanche da cultura: globalização, pós-modernidade e identidade. São Paulo: Studio Nobel, 1995. Nesta obra, o autor trabalha a formação e deformação da atividade cultural e dá uma contribuição sobre o conceito de modernismo e pós-modernismo. Ele analisa os efeitos de processos que dissociaram a cultura do social: o desgaste do ideal de vida frente à onda de consumismo e a deformação da cultura. Para uma compreensão maior do tema, na obra Inculturação e Sincretismo, Paulo Suess afirma que cultura pode significar as grandes realizações do espírito humano, ou ainda significar superestrutura ou ideologia, bem como designa a diferença específica de cada grupo social e povo. SCHMIDT, Ervino e ALTMANN, Walter. Inculturação e sincretismo. São Bernardo do Campo: Conic &IEPG, 1995, p.21. 6 SUESS, Paulo. Evangelizar a partir dos projetos históricos dos outros. São Paulo: Paulus, 1995, p.10.
  • 13. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 13 um sistema de valores. Assim, a cultura é anterior ao indivíduo que acolhe em seu seio”7 . Estas definições nortearão a presente análise da realidade cultural nordestina na qual o metodismo se inseriu e se expandiu. A cultura, no contexto do Nordeste, se expressa pela religião; pelas músicas nordestinas (frevo, samba, maracatu, ciranda); pelo folclore; artesanato; culinária típica. Esses elementos são heranças dos nativos que ocupavam a região antes da colonização; pelos negros que ali chegaram, escravizados e pelos colonizadores europeus (portugueses, franceses e holandeses). Esses elementos culturais marcaram a história do Nordeste brasileiro em sua formação como sociedade, como se verá a seguir. 1.1. Aspectos gerais da história e realidade do Nordeste Para entender a realidade nordestina, é preciso conhecer o processo de colonização, povoamento, posse e uso da terra, além das atividades ali desenvolvidas e as relações sociais e de capital e trabalho. 1.1.1. Colonização e produção de riquezas Após a chegada dos portugueses, em 1500, o Nordeste era freqüentado e visitado pelos franceses8 , que faziam trocas com os índios, adquirindo mercadorias como pau-brasil e papagaios, de grande valor na Europa. A tinta vermelha extraída do pau-brasil foi usada como carmim no vestuário dos cortesões e burgueses europeus por três séculos. Já no final do século XVI, os holandeses 9 se lançaram à conquista das terras nordestinas recém-cultivadas com cana. Eles eram protestantes calvinistas, tendo pouca relação com os conquistadores e com os habitantes da terra. Mais tarde, foram expulsos pela 7 SANT’ANNA, Júlio de. Pelas trilhas do mundo, a caminho do reino. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985, p.38. 8 Segundo Carlos Caldas, em 1555, aconteceu a primeira tentativa missionária protestante no Brasil, com os franceses, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Esse período é descrito nos livros de história como a invasão francesa. Eles enviaram uma expedição, liderada por Nicolau Durand Villegaignon, com o objetivo de estabelecer a França Antártica. Nessa expedição, estavam presentes alguns missionários enviados por João Calvino, líder da nascente Igreja Reformada, na Suíça de língua francesa. Sob a perspectiva dos portugueses, a presença francesa constituiu uma invasão, mas Caldas também afirma que a chegada dos portugueses tem a mesma característica, considerando os habitantes originais da terra. CALDAS, Carlos. O último missionário. São Paulo: Mundo Cristão, 2001, p.20. 9 Caldas também comenta a segunda experiência missionária no Brasil, ocorrida em 1630, no Nordeste, com os reformados holandeses. O primeiro capítulo da obra O último missionário aborda as “ondas missionárias estrangeiras” no Brasil. CALDAS, Carlos. O último missionário, p.19-34.
  • 14. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 14 rebeldia pernambucana, que ficou registrada como a Restauração Pernambucana, um importante episódio da história brasileira e nordestina 10 . Para Mendonça 11 , essa foi também a mais duradoura tentativa de implantar uma civilização protestante no Brasil, de origem reformada. Não há indícios de que a intenção deles tenha sido religiosa, no sentido de uma visão da terra prometida. O mais simples seria ver, nesse empreendimento holandês, a expansão colonialista e capitalista da Companhia das Índias, visando ao comércio de açúcar. Mendonça e Prócoro Velasques diferenciam os primeiros grupos protestantes que chegaram ao Brasil entre “protestantismo de migração”12 e “protestantismo de missão”, de acordo com as motivações de seu trabalho missionário. 13 Segundo esses autores, a catequese holandesa cresceu e chegou a preparar um catecismo trilingüe (tupi, holandês e português) para a evangelização das tribos onde o catecismo desempenha as funções básicas de orientar e instruir pessoas na religião. 14 Além da catequese e evangelização, Érmito Almeida acrescenta que a missão holandesa construiu templos em Pernambuco, Olinda, Recife, Itamaracá, e organizou hospitais, escolas, casas de assistência social, orfanatos. Também mantinha um grupo de exortadores e consoladores, que visitavam os doentes. 15 Contudo, pode-se dizer que a colonização efetiva do Nordeste se deu pelo s portugueses, até mesmo em conseqüência direta das explorações dos franceses e das invasões holandesas. Preocupada com os exploradores, a Coroa Portuguesa enviou colonos para o Brasil e instituiu o sistema de capitanias hereditárias. 10 GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, p.39 MENDONÇA, Antônio G. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1995. As páginas 23 a 33 abordam a presença dos primeiros grupos religiosos no Nordeste do Brasil. 12 No grupo de protestantismo de imigração está a Igreja de Confissão Luterana. Sobre sua história, veja PRIEN, Hans Jurgen. Formação da igreja evangélica no Brasil. Petrópolis/São Leopoldo: Vozes/Sinodal, 2001. O autor aborda a formação das comunidades luteranas no Brasil e a organização de seus Sínodos. 13 Segundo Mendonça e Prócoro Velasques, “protestantismo de imigração” envolve as Igrejas Luterana e Anglicana, que aqui chegaram e se dedicaram aos cultos com os próprios imigrantes. Esses grupos tinham uma ligação com a cultura religiosa européia. O protestantismo de missão reúne as denominações Batista, Presbiteriana, Congregacional, Episcopal e Metodista. São grupos de ligação com a cultura religiosa americana. MENDONÇA, Antônio G. e VELASQUES, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola/Ciências da Religião, 1990. 14 MENDONÇA, Antônio G. e VELASQUES, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil, p.26. 15 ALMEIDA. Érmito de. Perfil de uma igreja cristã urbana. Belo Horizonte: Editora Clama, 2003, p.65. 11
  • 15. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 15 Dessa forma, o imenso território foi doado a fidalgos sem terras que haviam “merecido” o favor real. Eles deveriam colonizar as capitanias às próprias custas. O Brasil foi dividido em 17 capitanias. A capitania de Pernambuco recebeu o nome de Nova Lusitânia. Em Olinda, foi construída a sede do governo. Em Pernambuco, foi inserido o cultivo da cana, com a construção de engenhos para a fabricação de açúcar. O donatário tinha por direito escravizar a população nativa para usá- la no cultivo da terra. Os habitantes da terra nesse período eram indígenas e não se adaptaram à agricultura. Visando solucionar o problema da mão-de-obra, foi iniciada a transferência dos negros africanos, que foram escravizados para a plantação da cana. Multiplicaram-se então os canaviais e os engenhos, vindo o “progresso”. “No início do século XVII, a cidade de Olinda era a maior e mais rica cidade de todo o continente americano; na Bahia ocorria igual fenômeno e sua capital rivalizava com Olinda”. 16 O Nordeste foi a região mais rica da América Portuguesa durante três séculos. Por todo o período colonial e metade do Império, constituiu-se no principal gerador de riquezas para o Reino de Portugal e, depois, para o Império Brasileiro 17 . O algodão foi cultivado desde os primeiros anos de colonização, mas não representou maior valor econômico até a segunda metade do século XVIII, quando passaram a ser utilizados tecidos nas vestimentas de escravos. Já a pecuária nordestina nasceu da necessidade de transportar a cana do campo até os engenhos, bem como mover a moenda. Para tais atividades, foram necessários animais de trabalho, principalmente os bois. Também havia necessidade da carne para a alimentação dos moradores dos engenhos e das populações nas cidades. Mesmo com o cultivo do algodão e o surgimento da pecuária, a produção da cana-de-açúcar foi o elemento fundamental na formação da sociedade no Nordeste. Garcia afirma que “a cana-de-açúcar, cultivada há 450 anos, tem sido o principal sustentáculo econômico do Nordeste. Ela foi responsável, pela chamada ‘aristocracia canavieira’, um grupo de famílias que ainda hoje domina, política e economicamente, boa parte do Nordeste”. 18 16 GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.39. GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.28 18 GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.30 17
  • 16. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 16 O Nordeste foi uma fonte de enriquecimento para os europeus; em sua maioria, portugueses, que aqui chegaram pobres e fizeram fortunas com a exportação do açúcar ou a importação de mercadorias não produzidas na Colônia. 1.1.2. Relações sociais Os primeiros colonizadores encontraram o Brasil povoado por diversos grupos indígenas nativos; alguns deles nômades. Esses povos não se adaptaram ao trabalho pesado e sedentário nos canaviais e fugiram para as matas. Os índios também se tornaram guias para as conquistas dos sertões e serviram como guerreiros em defesa dos engenhos de açúcar na luta contra os piratas e os invasores holandeses. À época da colonização, houve também a falta de mulheres brancas no Brasil. Os portugueses se relacionaram com as índias, o que propiciou o nascimento dos mamelucos, isto é, mestiços de brancos com índios. Nesse período, houve choques e lutas culturais. A cultura indíge na foi absorvida pela portuguesa; as populações nativas foram dizimadas, sendo alguns povos totalmente extintos. No Manifesto da Comissão Indígena 500 anos (1999), 98 diferentes povos originários fizeram a seguinte denúncia: “Os conquistadores chegaram com fome de ouro e sede de sangue, empunhando em uma das mãos armas e na outra a cruz, para abençoar e recomendar as almas de nossos antepassados, o que daria lugar ao desenvolvimento, ao cristianismo, à civilização, e à exploração das riquezas naturais”. 19 No Nordeste, não houve um encontro de culturas 20 , mas sim um choque entre as civilizações, o que Leonardo Boff chama de “negação pura e simples da reciprocidade”, acrescentando que “o descobrimento foi o encobrimento do outro e um ato de violência contra ele”. Essa realidade foi bem expressa nos versos de Carlos Drumond de Andrade: “A civilização que sacrifica povos e culturas antiqüíssimas é uma farsa amoral”. 21 19 Apud BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos? Petrópolis: Vozes, 2000, p.16 BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.45-47. Boff afirma que, no Brasil, há várias culturas: de dominação; de mimetismo; de resistência dos oprimidos; de libertação. Para ele, o quadro histórico da colonização do Brasil trouxe como efeito a produção, a consolidação e o aprofundamento de nossa dependência, em razão da natureza colonial, neocolonial, escravista e sempre dependente de nossa formação histórico-social. Nossa cultura é dividida e contraditória, paradoxalmente esperançosa, formada por expressões que convivem sincronicamente. 21 BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.19 20
  • 17. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 17 Dessa forma, segue Boff que, para o “Brasil, visto a partir da praia onde estavam as populações originárias, a chegada dos portugueses significou uma invasão. Eles ocuparam as terras, submeteram os indígenas e construíram não só uma nação autônoma mas um entreposto comercial e depois uma colônia para enriquecer a metrópole. O impacto foi tão grande que significou uma dizimação da população indígena até seu quase extermínio, um desastre de proporções inimagináveis”22 . 1.1.3. Aspectos culturais O Nordeste é uma região de contrastes. Para muitos, o que vem à memória quando se fala em Nordeste é uma região de miséria, secas periódicas, fome, pobreza, além do coronelismo praticado pelos proprietários das terras. É também a lembrança do cangaço, associada a Lampião e Maria Bonita, etc. Para Carlos Garcia, o Nordeste é um bolsão de pobreza, o maior do mundo, onde dois terços da população vivem em situação de pobreza absoluta. Entretanto, o Nordeste não é apenas isto. Existem vários nordestes, com características climáticas, humanas e até culturais diferenciadas entre si. Existem até nordestes ricos, pequenas ilhas de riqueza incrustadas num imenso mar de miséria.23 Foi no Nordeste que se deu, com maior intensidade, a miscigenação dos três blocos étnicos formadores da sociedade brasileira, sendo destacada a presença do negro e do índio, especialmente nos elementos culturais: folclore, artesanato, música, dança, o samba 24 , 22 BOFF, Leonardo. Que Brasil queremos?, p.16. GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.8. 24 O samba é uma dança animada com um ritmo forte e característico. Originou-se na África e foi levado para a Bahia pelos escravos que trabalhavam nas plantações de açúcar. A dança gradualmente perdeu sua natureza ritualista e eventualmente se tornou a dança nacional brasileira. Na época de carnaval no Rio de Janeiro (que colocou o samba no mapa ocidental), os baianos das plantações de açúcar viajavam das aldeias até o Rio para as festas anuais. Gradualmente, a batida sutil e a nuança interpretativa do samba levavam-no rua acima, dançando nos cafés e eventualmente até nos salões de baile. Tornou-se a alma da dança do Brasil. (extraído de http://www.mercuri.com.br/samba.html 14/09/04). A coreografia do samba é acompanhada de música em 23 compasso binário e ritmo sincopado. Tradicionalmente utilizada como divertimento dos africanos no período da escravidão, empregava apenas instrumentos de percussão, na sua grande maioria. Nos dias atuais, há utilização de instrumentos de corda como o violão e o cavaquinho. Atualmente, existem muitos tipos de samba. Alguns particularmente de Estados ou Cidades. Isso se deve, sobretudo, à grande extensão territorial e vasta herança cultural do Brasil. O samba sofreu grandes mudanças em várias partes do País e passou a receber denominações particulares como: Samba de roda: Um dos componentes tira a melodia enquanto os demais batem palmas e respondem ao ritmo de atabaques. Samba de umbigada: É uma dança de roda com convite intimatório para substituir o dançarino solista. Samba duro: Samba de pernada,
  • 18. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 18 ritmo de origem inequivocamente negra e dançado com esse nome nos canaviais nordestinos pelos escravos desde os primeiros anos de colonização 25 . Com o negro escravizado, vieram também a religião, a culinária, a linguagem, o vestuário, a música. O frevo, dança típica de Recife, é derivado dos dobrados executados pelas bandas militares. O baião ou xaxado é nascido entre os vaqueiros no semi-árido. O maracatu, quase africano puro, também foi tocado nos c anaviais. E ainda a ciranda, tocada e dançada nos canaviais, originária das cantigas de roda européias. 26 Há uma imensa riqueza folclórica no Nordeste, marcada pela fusão das culturas ibérica, africana e indígena. Pode-se citar os autos de Natal, trazidos pelos portugueses. O pastoril é o mais conhecido e executado deles. O bumba-meu-boi (ou, simplesmente, boi) gira em torno de um boi que morre e ressuscita, uma manifestação comum à sociedade pastoril. O caboclinho, manifestação carnavalesca, é totalmente indígena. 27 O aspecto religioso também é fundamental na formação cultural do Nordeste. A influência religiosa oficial certamente foi a católica, porque “o catolicismo funcionava mais como um definidor dos projetos portugueses, considerados ortodoxos e mesmo apostólicos, e os dos Estados concorrentes foram considerados heréticos por serem todos considerados protestantes”28 . O Nordeste é profundamente ligado a seus santos e devoções. As festas religiosas nordestinas são grandes manifestações de fé. Em Juazeiro do Norte, acontece a Festa do Padre Cícero. Em Mossoró, a Festa de Santa Luzia. Em Pernambuco, Festa de Nossa Senhora da Conceição. Na Bahia, acontece a Festa do Senhor do Bonfim. No Piauí, a Festa de São Raimundo Nonato. No Maranhão, a Festa de São José do Ribamar. E ainda, Festa da Lapinha, em Maceió; Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, em Areia Branca e a Festa de São Sebastião, venerado em quase todo o Nordeste. 29 No aspecto literário, pode-se dizer que foi na planície do Nordeste contemplativo que brotaram os grandes romancistas, um grupo de “rebelados”. Saiu do Nordeste resignado a primeira fornada de verdadeiros romancistas brasileiros, chamados de proletários porque se meteram por lugares escusos, onde só os pobres penetram e de lá vieram com um che iro travoso de vida. Romancistas que substituíram as mulheres fatais, os heróis bem acabados e o amor impossível pela vida simples mas esgravatada apenas para homens. Acompanhamento feito por atabaques e pandeiros (extraído http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/ 14/09/04). 25 GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.12. GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.12 27 GARCIA, Carlos. O que é o Nordeste Brasileiro, p.13 28 HOORNAERT, Eduardo. A Igreja no Brasil Colônia: 1550-1800, São Paulo: Brasiliense, 1982, p.67 29 Jornal Expositor Cristão, 1ª e 2ª quinzena de julho de 1987, p.6 26 de:
  • 19. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 19 a fundo, espremida, desmascarada, sem constrangimentos hipócritas. Foi o clima humano do Nordeste que amadureceu o verdadeiro sentido de brasileirismo. No Nordeste brasileiro nasceu uma leva de romancistas possuidores dum sentido integral da realidade do povo. Pode-se citar Graciliano Ramos, identificado de corpo e alma com a miséria nordestina; Jorge Amado, que se injetou de sentimento negro até se contaminar por completo, agindo intelectualmente como símbolo da raça; Raquel de Queiroz, com o corpo solto pelas ruas, mas o coração sempre consciente batendo dentro das grades das cadeias, de encontro a outros corações sentenciados; José Américo, em seus escritos, sentiu até a medula a tragédia da seca. O talento desses homens (mulheres) veio dar à literatura nordestina um caráter de sinceridade e absoluta seriedade da realidade brasileira.30 Nessa dimensão, não se pode deixar de mencionar Gilberto Freyre e sua obra, Casa Grande e Senzala, 31 um estudo sociológico e antropológico da sociedade patriarcal brasileira, especificamente da que se desenvolveu no Nordeste, em função da cana-de-açúcar. E ainda “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, 32 clássico que trata da terra, do homem e da luta, descrevendo a Guerra de Canudos. Esses são elementos dos mais variados aspectos culturais originados e experimentados durante o período de colonização e de organização do Nordeste brasileiro. 30 CASTRO, Josué. Documentário do Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1968, p.60. Gilberto Freyre, pernamb ucano, morador de Apipucos, no Recife. Era descendente de senhores de engenho. Em 1933, após exaustiva pesquisa em arquivos nacionais e estrangeiros, publicou Casa-Grande & Senzala, revolucionando os estudos no Brasil, por causa dos conceitos utilizados e da qualidade literária. Suas informações provêm de diários dos senhores de engenho e da vida pessoal de seus próprios antepassados. As plantações de cana em Pernambuco foram apresentadas como cenário das relações íntimas e do cruzamento das três etnias: índios, africanos e portugueses. Já houve várias edições do livro. Como orientação, cita-se aqui: FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003. 32 Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões”, abordando a realidade nordestina no contexto da Guerra de Canudos. Em 2002, a obra completou 100 anos. “Já foram publicadas mais de 80 edições brasileiras do livro, além de traduções para 11 idiomas e uma versão portuguesa. Na Biblioteca Nacional estão registrados 32 volumes diferentes de Os Sertões. A Editora Francisco Alves já publicou o livro 39 vezes. Os Sertões foi lançado pela Livraria Laemmert, que pertencia ao editor Francisco Alves. A editora passou a publicar a obra com o próprio nome a partir da quarta edição, em 1911. Em suas muitas versões, a Francisco Alves já editou o texto acrescido de mapas, ilustrações, biografia, e outros apêndices. Em 1979 lançou sua 29ª edição do livro, uma edição comemorativa do 70º aniversário de morte do autor. (...) A Ediouro, que já editou Os Sertões por 25 vezes, programou para agosto de 2002 uma edição especial em comemoração aos 100 anos do livro. O volume será impresso pelo selo Prestígio Editorial, com tipologia diferente, maior e com espaçamento que facilita a leitura. Também trará ilustrações e notas explicativas. (...) A Ateliê Editorial, em parceria com o Arquivo do Estado e a Imprensa Oficial, lançou uma edição de Os Sertões comentada por Leopoldo M. Bernucci, professor brasileiro que dirige o Departamento de Línguas Espanhola e Portuguesa e de Literatura Hispânica e Lusobrasileira da Universidade do Texas. (...) de Euclides da Cunha, cronologia da vida e obra do autor, vinte páginas de iconografia e prefácio de Bernucci. Em 1982 a editora Cultrix publicava Os Sertões pela terceira vez. Era uma edição didática, com mapas e dados biográficos, preparada pelo professor Alfredo Bosi, com cotejo e estabelecimento de textos do professor Hersilio Angelo. A edição crítica mais conhecida foi lançada em 1984 pela editora Ática, com introdução e organização de Walnice Nogueira Galvão. Ainda hoje são publicadas novas edições com as análises de Walnice, uma das mais conceituadas estudiosas da obra de Euclides. Em 1986, a Tecnoprint colocou nas livrarias uma versão com seleção, introdução e vocabulário de Olímpio de Souza Andrade. A mesma editora lançou em 1990 edição com prefácio de M. Cavalcanti Proença”. Informações extraídas do site: http://www.estadao.com.br/sertoes/olivro/pg_005.htm(copyright de 2003). 31
  • 20. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 20 Uma cultura com marcas de sacrifícios e vitimização de um lado, e de elementos ricos, por outro. Nesse contexto, o Metodismo fez suas primeiras tentativas de incursão e implantação. 1.1.4. Divisão Geográfica do Nordeste O Nordeste brasileiro compreende nove Estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, além do Território Federal de Fernando de Noronha e parte do norte de Minas Gerais. Ele é composto por uma área de 1.660.359 quilômetros quadrados e está dividido em quatro grandes regiões naturais: Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte. A Mata é uma região de clima tropical úmido e deve seu nome ao fato de ter sido originalmente coberta por densas e exuberantes florestas. O Agreste e a região do Sertão têm clima tropical semi-árido, sujeito a secas periódicas, e ocupam 60% do território nordestino. O Meio-Norte é uma região de transição entre o Nordeste, o norte e o centro-oeste brasileiro. 1.2. As primeiras tentativas de implantação do metodismo no Nordeste Os primeiros missionários metodistas que chegaram ao Brasil foram oriundos dos Estados Unidos. A Igreja Metodista naquele país estava dividida em duas ramificações: Norte e Sul. Entre eles, destacam-se Fountain E. Pitts 33 , Justin R. Spaulding 34 e Daniel P. Kidder 35 . Este último chegou em 13 de janeiro 1838, como missionário metodista e agente da Sociedade Bíblica Americana, sendo o primeiro a viajar para o Nordeste do Brasil. Ele estabeleceu-se no Rio de Janeiro, juntamente com Spaulding, e realizou extensas viagens missionárias a várias cidades. Viajou de navio para Santos e no lombo de uma mula para São Paulo. Em meados de 1839, Kidder decidiu viajar para outras regiões do Brasil. Ele embarcou, em 1º de junho de 1839, num vapor da companhia de navegação criada pelo 33 Pastor da Igreja Mckendree de Nashville, Estado do Tennessee, EUA. Quando jovem, aos 27 anos de idade, conseguiu recursos próprios e veio ao Brasil, chegando ao Rio de Janeiro no dia 19 de agosto de 1835. Organizou a primeira Sociedade Metodista ou Congregação, como eram chamadas. Cabe a ele o pioneirismo do Evangelho no Brasil, cf. KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista. São Paulo: Imprensa Metodista. Junta Geral de Educação Cristã, 1968, p.25. 34 Oriundo de Nova Iorque, memb ro da Igreja Metodista da Conferência da Nova Inglaterra. Como missionário, chegou ao Brasil no dia 29 de abril de 1836, para formar a Missão Metodista, juntamente com Pitts e Kidder. 35 Escritor, no regresso aos Estados Unidos escreveu dois volumes intitulados Reminiscências de viagens e permanências nas províncias do norte do Brasil, tratando de suas viagens ao Rio de Janeiro, São Paulo e norte e Nordeste do Brasil. Cf. KIDDER, Daniel P. Reminiscências de viagens e permanências nas províncias do norte do Brasil. São Paulo: Itatiaia & Universidade de São Paulo, 1980.
  • 21. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 21 governo imperial, com destino a Maranhão, Pará e Recife, levando Bíblias, Novos Testamentos, folhetos e saltérios 36 . Após o retorno de sua viagem, sua esposa Cyntia Harriet Kidder com 22 anos, adoeceu, morrendo em 16 de abril de 1840, sendo a primeira perda do contingente missionário no metodismo brasileiro. Eles tinham apenas quatro anos de casados, e dois filhos. Diante do acontecimento, Kidder retornou aos Estados Unidos, onde serviu em vários ministérios da Igreja Metodista. 37 Dessa forma, pode-se perceber que o metodismo teve sua primeira incursão no sudeste do Brasil, contando com a iniciativa de um missionário indo para o norte e Nordeste, como compoltor, distribuindo Bíblias e folhetos de evangelismo. Mas as primeiras tentativas missionárias fracassaram. Outras tentativas de implantação do metodismo aconteceram com as missões de William (ou, em português, Guilherme) Taylor, da Igreja Metodista Episcopal (norte dos EUA). Em 1880, Taylor veio ao Brasil e trouxe alguns missionários para trabalhar em Belém do Pará: Justus Henry Nelson e sua esposa 38 , além de Walter Gregg. Durante os 15 dias em que esteve ali, Taylor deixou organizada uma escola para crianças brasileiras, tendo a Bíblia como livro de leitura. Em 1º de julho de 1883, organizou-se a Igreja Metodista Episcopal39 . O rev. Taylor ainda visitou as capitais do Maranhão, Pernambuco e Bahia, visando à abertura de trabalhos de sustento próprio. Via de regra, instalava-se uma escola para facilitar o acesso às famílias. Também essas tentativas fracassaram e as equipes retornaram para a América do Norte. 36 KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista, p.33-37. KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista, p. 46 38 Justus H. Nelson chegou a Belém do Pará em 19 de junho de 1880. Ele foi pioneiro do Metodismo naquela cidade, pregando em português, de 1882 a 1925. Fundou também um jornal evangélico, O Apologista Cristão, do qual foi redator e escritor. Ele era professor de inglês, francês, alemão e português. Devido a seus escritos de caráter religioso, nos quais se referia à adoração de imagens prevalecente no Brasil, ficou encarcerado por quatro meses. Nelson era missionário da Igreja Metodista Episcopal. Faleceu nos Estados Unidos, em 1937. Informações sobre ele aparecem em REILY, Duncan. A. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste; ROCHA, Isnard. Histórias da história do metodismo no Brasil: dos primórdios à proclamação da República. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1967; SALVADOR, José Gonçalves. História do Metodismo no Brasil. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista. 1982 e LONG, Eula K. Do meu velho baú metodista. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1968. Sobre a história do metodismo no norte do Brasil, existe uma compilação em português, com o título Metodismo na Amazônia, pelo historiador metodista, Duncan Alexander Reily, missionário norte-americano, enviado ao Brasil. Atualmente, depois de décadas atuando como pastor, professor e escritor, aposentou-se e reside em Campinas, SP. REILY, Duncan A . Metodismo na Amazônia: a obra pioneira de Justus Nelson (1880-1925). São Bernardo do Campo: Faculdade de Teologia e IMS, 1982 e ainda MARQUES, Natanael Garcia. História da missão metodista na Rondônia. São Bernardo do Campo: Umesp, 2001 (Dissertação) e SILVA, Geoval Jacinto da. Manaus, mais um desafio para os metodistas. Informativo Conexão, 3ª Região Eclesiástica, São Paulo, dezembro de 1994, p.8-9. 39 SALVADOR, José Gonçalves. História do Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1982,p.56 37
  • 22. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 22 Em Recife, várias equipes de missionários tentaram iniciar o trabalho metodista. Todas acabaram retornando sem sucesso, devido às dificuldades enfrentadas e problemas de adaptação. Pode-se citar R obert e Charles Shelton e esposas; posteriormente, Dr. Wray e Beatti; e ainda George W. Martin. Em 1882, chegaram a Recife F. F. Roose e sua esposa, mas estes também retornaram. Benjamin Nind 40 ficou em Recife por 12 anos. 41 Se, por um lado, a Igreja Metodista Episcopal do Norte dos Estados Unidos se preocupava com a implantação do metodismo no norte e Nordeste do Brasil, mas fracassava em seus ideais de missionários com sustento próprio, a Igreja Metodista Episcopal do Sul desenvolvia, no sudeste brasileiro, o trabalho com sustento dos missionários, instalando-se de forma definitiva. Também implantava escolas em pleno desenvolvimento. Quando as tentativas da Igreja Episcopal dos Estados Unidos fracassaram, a Igreja Metodista, já estabelecida no sudeste do país, retomou a proposta de iniciar o trabalho metodista no Nordeste, enviando o primeiro missionário. 1.2.1. O metodismo no Nordeste: rev. Benedito Natal Quintanilha Sendo as tentativas para a implantação de uma missão metodista no Nordeste ligadas à Igreja Metodista Episcopal do Sul (Estados Unidos), somente 16 anos após a autonomia do metodismo brasileiro (ocorrida em 1930) é que a Igreja Metodista no Brasil toma a iniciativa de começar um trabalho missionário naquela região. Essa decisão foi tomada durante o 5º Concílio Geral, realizado em Piracicaba, SP, nos dias 14 a 26 de fevereiro de 1946. A cidade estabelecida como prioridade missionária foi Salvador, BA 42 O Secretário de Missão da Igreja Metodista era o rev. Augusto Schwab. A Junta Geral de Missões e Evangelização decidiu enviar um pastor para iniciar o avanço em direção ao Nordeste; sendo designado para isso o rev. Benedito Natal Quintanilha 43 . Ele, sua esposa, Eunice, e três filhos, ao chegarem a Salvador, se hospedaram no Hotel Chile. A seguir, alugaram uma casa grande, situada na Praça Duque de Caxias. Em 40 Ele era membro da Igreja Metodista do Norte, Estados Unidos, e foi recrutado pela Missão Taylor. Chegou a Recife em 1880. Era músico e professor de piano e inglês. Leigo, auxiliava outras igrejas em Recife, onde ficou até 1892, quando regressou aos Estados Unidos, devido à saúde abalada de sua esposa. A ele se deve o primeiro hinário em português e o Manual de Doutrina de Adoração. Cf. KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista., p.139. 41 KENNEDY, Eula Long. Do meu velho baú metodista., p.140 42 Jornal Expositor Cristão, 4 de abril de 1946, p.5. 43 O rev. Benedito Natal Quintanilha nasceu em Silveira, em 1909. Converteu-se a Cristo em Birigüi, SP, durante uma pregação do bispo C. B. Dawsey. Ele era superintendente distrital e pastor da Igreja Metodista em Ourinhos quando decidiu servir como missionário em Salvador, Bahia, em 1946.
  • 23. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 23 1º de junho de 1946, naquela residência, aconteceu a primeira pregação do pastor, marcando assim a chegada do metodismo às terras baianas. O rev. Benedito Natal Quintanilha escreveu uma carta às igrejas metodistas em todo o Brasil, que também foi publicada no periódico oficial da Igreja naquele ano. Ele apresentou um relatório de sua acolhida na cidade e também expressou seu sentimento sobre a cultura religiosa do povo baiano, avaliando o que o esperava no trabalho de evangelização, conforme o trecho abaixo demonstra: Percorrendo todas as feiras dos subúrbios e os portos pequenos, constatei muita superstição, idolatria e pecados outros. Quase abri a boca para pregar diante desse quadro desolador. Gente tão boa, comum, tantas possibilidades, e em estado tão triste. Sei que o evangelho do Senhor muito fará para a grandeza, bem-estar e felicidade deste povo. 44 Nesta época, morava em Salvador o casal Plínio Barbosa Martins e Dorcas Siqueira Martins. Ela era membro da Igreja Metodista Central de São Paulo 45 . O trabalho começou a crescer e ter apoio das autoridades da Igreja Metodista do Sudeste, colhendo os primeiros frutos. No Expositor Cristão aparece o seguinte relato: No dia 7 de dezembro de 1947, o bispo César Dacorso Filho batiza os primeiros convertidos em Salvador, Bahia, sendo Sebastião Janones da Silva, Maria Ribeiro dos Santos, Augusto Camargo e Hilda Moreno Camargo. A cerimônia foi realizada na casa paroquial na rua Damasceno nº 702... Neste mesmo dia foram batizadas as primeiras crianças: Marlene Moreno Camargo e Juraci Moreno Camargo.46 Em 29 de março de 1949, foi fundada a Igreja Metodista Central de Salvador, juntamente com um ambulatório médico para atender a população da cidade. O rev. Augusto Schwab, visitou a missão na Bahia e declarou: O trabalho é magnífico. O rev. Quintanilha e esposa são responsáveis pelo progresso feito e são a esperança do futuro. O ponto de pregação é um dos melhores, a propriedade é linda e o método de começar o trabalho já está dando resultado. 47 O pioneiro da fase definitiva do metodismo em terras nordestinas permaneceu em Salvador por seis anos, sendo substituído no processo de itinerância da Igreja Metodista. 44 Jornal Expositor Cristão, 1ª quinzena de janeiro de 1948, p.8. Jornal Expositor Cristão, 22 de maio 1946, p.6. 46 Jornal Expositor Cristão, 1ª quinzena de janeiro de 1948, p.8. 47 Jornal Expositor Cristão, 25 de março de 1948, p.6. 45
  • 24. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 24 1.2.2. Segundo missionário em Salvador O rev. Messias Amaral dos Santos foi designado para substituir o rev. Quintanilha em Salvador. No Expositor Cristão, o rev. Messias aponta as dificuldades para dar continuidade ao trabalho missionário e também tece elogios às estratégias então adotadas pelos idealizadores do trabalho missionário no Nordeste: Salvador será para mim um novo marco na política usada por nossa Igreja na instalação de seus novos trabalhos. Houve fé nos homens que idealizaram a instalação da Igreja Metodista no Brasil na capital baiana, fé e visão larga... Iniciamos o trabalho metodista na Bahia como nunca fora iniciado em parte alguma de nossa pátria. Não fomos para um canto da rua de um bairro afastado, numa salinha pequena... Tudo foi diferente do que tem sido feito nestes setenta e sete anos no Brasil. Não convém ao metodismo entrar em Recife de outra maneira48 . Segundo o rev. Messias, o ano de 1953 foi repleto de lutas na tarefa que lhe coube como missionário na capital baiana. No final do período, a balança acusava a perda de seis quilos... No ano de 1952, ele havia viajado treze mil, oitocentos e quarenta e quatro quilômetros. Para ele, as estatísticas falavam de progresso animador em quase todos os setores, embora ressaltasse a necessidade de uma revisão no trabalho iniciado, ao afirmar: os números são frios demais para fazer vibrar a sua alma... o rol da Igreja está sofrendo um revisão que levará a cancelar alguns nomes. Temos três pontos de pregações muito bem assistidos... O ambulatório continua desempenhando uma notável obra de assistência social, atendendo diariamente dezenas de pessoas.49 A implantação do metodismo começou com boas perspectivas, mesmo em meio às dificuldades no processo de continuidade. Entretanto, o avanço ainda se faz necessário, dada a realidade de que o metodismo sempre teve um número pequeno na totalidade do Estado baiano. A expansão seguinte no Nordeste ocorre somente na década de 1960, e vai em direção a Recife, Pernambuco. 1.2.3. Expansão em Recife, PE Segundo o rev. Omar Daibert, então Secretário Geral de Missão, o Nordeste era um desafio aceito pela Igreja. Eram 30 milhões de brasileiros a reclamar “uma integração, um compartilhar com eles seus problemas, lutas, misérias e esperanças... Há progresso no 48 49 Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.3. Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.4.
  • 25. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 25 Nordeste e a Junta Geral de Evangelização 50 tem como estratégia de expansão de seu trabalho aquela região”51 . Diante desta realidade, a Igreja prosseguiu na proposta de avançar missionariamente no Nordeste do Brasil. A partir de Salvador, o metodismo alarga suas fronteiras e expande-se para Recife. Os primeiros estudos começaram em 1946, com o rev. Quintanilha, que encontra em Recife o casal Orlando e Elizabeth Reinaux Cordeiro 52 . O rev. Messias Amaral, no dia 6 de janeiro de 1954, por ordem da Junta Geral de Missões, viajou a Recife, para estudar as possibilidades da instalação do trabalho metodista em mais uma capital do Nordeste 53 . No ano de 1957, há, por parte de líderes da Igreja Metodista, questionamentos sobre a demora em iniciar o trabalho em Recife. A nota do Expositor Cristão é contundente: “Desde 1950, por ocasião do Concílio Geral em Porto Alegre é que estamos ouvindo o grito: AGORA RECIFE! Mas que demora! Dizem os que têm estado em Recife que é uma das mais lindas e progressistas cidades do atual Brasil” 54 . E, finalmente, em 1959, a Junta Geral de Missões, responsável pela evangelização e expansão missionária metodista nesse período, fez um apelo e diversos candidatos se apresentaram. Em seu relatório, o Secretário da Junta Geral de Missões e Evangelização, rev. Duncan Alexander Reily, informou que fora adquirido um terreno na Rua Santo Elias, no Bairro Espinheiro, em 1954. No dia 28 de junho de 1959, foi feito o lançamento da pedra fundamental, com a presença do rev. Natanael Inocêncio do Nascimento, do bispo Isaías Fernandes Sucasas, e do rev. Duncan Alexander Reily. Para assumir a missão, foi escolhido o casal Dorival Rodrigues Beulke 55 e Miriam Beulke. No dia 29 de fevereiro de 1960, eles chegaram a Recife e alugaram uma casa 50 As Juntas Gerais, neste período, eram órgãos pelos quais a Igreja administrava, na área geral, os interesses definidos dos vários setores em que desenvolvia suas atividades. Havia três: Junta Geral de Missões e Evangelização, Junta Geral de Educação Cristã e Junta Geral de Ação Social. Cada uma era composta por quatro presbíteros e quatro leigos, eleitos pelo Concílio Geral, e um bispo-assistente designado pelo Colégio Episcopal. A cada Junta correspondia um Secretário Geral com função executiva, eleito pelo Concílio Geral. In: IGREJA METODISTA. Cânones. São Paulo: Imprensa Metodista, 1965, p.111-112. 51 Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1968, p.1. 52 Jornal Expositor Cristão, 20 de maio de 1946, p.6. 53 Jornal Expositor Cristão, 3 de junho de 1954, p.6. 54 Jornal Expositor Cristão, 5 de setembro de 1957 55 O rev. Dorival Rodrigues Beulke nasceu em São Gabriel. Formou-se na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. Casou-se com Miriam. Pioneiro do Metodismo no Nordeste, ficou preso em Recife, PE, durante o regime militar de 1964. Conferir entrevista no anexo 1.
  • 26. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 26 próxima ao terreno adquirido. Realizaram o primeiro culto no dia 27 de março, na casa alugada, com uma assistência de 32 pessoas 56 . Em carta enviada ao Secretário Geral de Evangelização, o rev. Beulke afirma que a garagem da casa alugada foi transformada em salão de culto. As primeiras famílias a congregar na missão metodista em Recife foram Uchyôa e Freire 57 . No Expositor Cristão de maio de 1960, encontra-se o registro de que “a família Beulke são os embaixadores metodistas no Recife”58 . Dentro do processo de implantação do metodismo e objetivando a formação da jovem igreja, realizou-se ali a primeira Escola Dominical, no dia 1º de janeiro de 1961 59 . O trabalho se expandiu para o bairro Caixa D’água – Torre, num barraco na periferia, pertencente a Cecília Alves Falcão. A igreja adquiriu o barraco, na Rua Rio de Janeiro. Em 30 de junho de 1962, essa frente missionária foi implantada, passando a ser chamada Capela João Wesley. O projeto era iniciar uma escola primária para 100 alunos e adquirir duas áreas próximas, para ampliar a obra, o que aconteceu no ministério do rev. Francisco de Oliveira, que comprou o terreno na Rua José Bonifácio, onde a igreja foi instalada 60 . O terceiro trabalho metodista em Recife foi no bairro Baberibe, hoje conhecido como Caixa Dágua,na cidade de Olinda. Bueyer construiu um pequeno salão e a missão adquiriu 40 bancos desmontáveis para uso na evangelização. No dias 19 e 20 de abril de 1966, o bispo Natanael Inocêncio do Nascimento (1ª Região, Rio de Janeiro), também bispo do Norte e Nordeste, acompanhado do rev. Omar Daibert, Secretário Geral de Missões e Evangelização, esteve em Recife, inaugurando o primeiro salão de culto nos bairros da Torre e Caixa D’água. 61 Naquela época, segundo o Expositor Cristão, 30% das crianças da capital, Recife, morriam de desnutrição e doenças. A edição de março de 1963 traz uma reportagem 56 IGREJA METODISTA DO BRASIL. Atas, registros e documentos do VIII Concílio Geral. São Paulo: Imprensa Metodista, 1960, p.216. 57 IGREJA METODISTA DO BRASIL. Atas, registros e documentos do VIII Concílio Geral, p.16 58 Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1960, p.11. 59 Jornal Expositor Cristão, 1º de junho de 1960, p.5 60 Jornal Expositor Cristão, 15 de agosto de 1961, p.1. 61 Conferir a entrevista do Rev Dorival Rodrigues Beulke no anexo nº 1
  • 27. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 27 completa, mostrando que a igreja chegou ao Nordeste preocupada com a evangelização e com a religião social, conforme o trecho extraído abaixo: A Igreja Metodista começou uma obra missionária que não visa tão somente à alma, mas também ao corpo. A irmã missionária, Gladys Oberlin, é a pregoeira das virtudes da salvação pela fé tanto quanto da salvação do corpo pelos recursos do MPF.62 Através de palestras, demonstrações, filmes, mesas redondas, vai ela fazendo a obra de alertar pais, professores, pastores e autoridades, quanto à importância de salvar a saúde do povo humilde, que vive à beira da falência física. Num parque, 400 crianças têm sua dieta reforçada, três vezes ao dia, com essa farinha ‘milagrosa’.63 No Bairro da Torre, onde já funcionava o trabalho m etodista, 100 crianças eram assistidas diariamente pela ação missionária da Sra. Oberlin. 64 O metodismo chegava com a seguinte estratégia: evangelismo; culto ao ar- livre, série de conferências evangelizantes, educação cristã, Escola Dominical e ação social. Entre os programas, destacavam-se os centros para a distribuição de alimentos, nos quais as famílias recebiam orientações. E ainda, jardim da infância para crianças de 4 a 6 anos, curso primário para 41 crianças que podiam aprender a ler e escrever; alfabetização de adultos duas vezes por semana (e, entre os alunos, havia uma senhora de 72 anos). Em apenas quatro anos de trabalho missionário, já se podiam perceber os sinais da missão realizada a favor da vida e do próximo em Recife, como é descrito a seguir: É interessante notar que as pessoas que recebem orientação sobre alimentação e higiene e realmente a seguem, apresentam dentro de poucos meses melhoras em seu estado de saúde. Em alguns casos, o progresso é extraordinário. O interesse em melhorar a alimentação faz com que algumas pessoas cultivem hortas para o plantio de verduras. Esta missionária tem sido incansável em ajudar o povo a prevenir doenças. Nota-se, por exemplo, que as pessoas estão aprendendo a calçar chinelos ou sapatos a fim de evitar a verminose. O progresso é evidente na saúde e bem-estar físico, também pode ser observado na vida espiritual. Embora em escala relativamente pequena, um milagre de corpos mais sadios, maior visão espiritual e uma redução de números de analfabetos está se passando em Recife. Um milagre que ocorre freqüentemente, pois à medida que procura fortalecer os corpos famintos, a igreja cuida também das almas em busca de alimento espiritual. 65 Ainda no contexto eclesiástico, aconteceu, em 1962, em Recife, o Congresso 62 MPF: a sigla, em inglês, tem o seguinte significado: Mult Purpose Food. Era uma farinha vitaminada oriunda dos Estados Unidos, distribuída a pessoas carentes como reforço alimentar para suprir deficiências alimentares. 63 Jornal Expositor Cristão, 1º de março de 1963, p.1. 64 Gladys Oberlin, missionária da Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos chegou ao Brasil em 1962. Designada para trabalhar em Recife, serviu por vários anos, retornando aos Estados Unidos. 65 Jornal Expositor Cristão, 1º de março de 1963, p.5.
  • 28. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 28 “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”, conhecido como “Conferência do Nordeste”66 . Esse encontro fortaleceu o compromisso da Igreja com o evangelho social, na realidade sócioreligiosa em que vivia o país. O rev. Almir dos Santos 67 descreve a importância desta Conferência da seguinte maneira: “A Conferência do Nordeste é uma tentativa para encontrar novas formas de ação da Igreja na situação revolucionária que vive o povo brasileiro na hora presente. A Igreja deve estar disposta, inclusive, a mudar as suas estruturas eclesiásticas, se necessário for, para melhor cumprira a sua missão no mundo atual.”68 A década de 1960 foi um período de grandes mudanças no Brasil e de influências dos movimentos de avivamentos religiosos nas igrejas, lado a lado com a secularização e quebra de paradigmas na missão da Igreja. Em 1964, aconteceu a revolução, o golpe militar. A juventude se levantou com força e resistência, tanto na sociedade como na igreja. Era um tempo de propostas de renovação e conflitos. Houve um fortalecimento dos trabalhadores rurais e urbanos, assim como de estudantes. Intensas articulações políticas, de inspiração socialista ou ênfases similares, aconteciam. “Com isso, crescia o respectivo debate político- ideológico, que influenciava as igrejas e as reflexões teológicas”69 . O discurso religioso e missionário da Igreja passava por uma forte mudança. Odilon Chaves afirma que havia uma “efervescência” ante a atuação da Igreja nos problemas sociais 70 . Foram escritos artigos como “Pastor foi a assembléia de ferroviários grevistas”, “O crime do silêncio”, “A sobrevivência da democracia”; “Cristianismo, ópio do povo”; “Por que os crentes devem sindicalizar-se?” 71 , entre outros. Em 1964, o rev. Beulke foi preso 72 , por se envolver com as questões e movimentos sociais e com o Evangelho para os necessitados. Ele ficou sob júdce e foi 66 Todas as palestras da Conferência foram publicadas em dois volumes, no ano de 1962. O Volume Um intitulase “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”. O Volume Dois intitula-se “Conferência do Nordeste”. As obras estão disponíveis na biblioteca da Faculdade de Teologia. Não constam dos volumes edição nem editora. 67 Almir dos Santos foi bispo metodista e presidiu a comissão organizadora desta Conferência. O rev. Dorival Beulke foi o tesoureiro. 68 SANTOS. Almir dos. “Cristo e o processo e revolucionário”. In: Jornal Expositor Cristão, outubro de 1962, ano 77, nº 20, p.7. 69 RIBEIRO, Cláudio e LOPES, Nicanor. 20 anos depois: a vida e a missão da igreja em foco. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002, p.10. José Bittencourt Filho, em sua obra, Matriz religiosa brasileira (Petrópolis: Vozes e Koinonia), p.129-136, nos dá uma compreensão detalhada do período. 70 O momento social e religioso brasileiro na década de 1960 é apresentado nos capítulos 8 e 9 de CHAVES, Odilon Massolar. História da evangelização do metodismo brasileiro. São Bernardo do Campo: IMS, 1985 (Dissertação). 71 CHAVES, Odilon Massolar. História da evangelização do metodismo brasileiro, p.175. 72 Em suas palavras: “Em 1964, acabei preso por me envolver com as questões sociais e com o Evangelho para os necessitados. Fui acusado de comunista e passei quase todo o ano de 1964 na cadeia, numa cela com 36 presos políticos, um espaço em que cabiam apenas cinco pessoas”. Conferir entrevista no anexo nº 1.
  • 29. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 29 indiscriminadamente acusado de comunista e posto numa cela com 36 presos políticos, um espaço em que cabiam apenas cinco pessoas. Depois de ser interrogado e nada comprovado a seu respeito, ele foi colocado em liberdade condicional e, finalmente, pôde retornar a São Paulo, para o convívio de sua família. Mas ele não foi o único a sofrer restrições por sua postura. No contexto político da ditadura militar atravessado pelo país, quem se envolvesse no setor social, junto aos pobres e marginalizados, ou na classe operária, era passível de sofrer perseguição e acusação, prisão e até tortura. Qualquer pessoa que tivesse uma consciência política de engajamento e compromisso social era tida como comunista. No âmbito da Igreja Metodista, além do rev. Beulke, também o rev. Fred Morris viveu tal situação, entre outros. Na Igreja Católica, um dos exemplos mais contundentes é a experiência de Dom Helder Câmara, 73 bispo de Olinda, PE, visto como ameaça ao sistema dominante e opressor, imposto pelo regime militar. O atual presidente da República, Luiz Inácio da Silva 74 , então líder do movimento sindical em São 73 D. Helder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza N. Sra. da Assunção, a atual Fortaleza, CE, em 07/02/1909. Aos 14 anos, iniciou seus estudos no seminário e foi ordenado padre em 1931. Atuou, como padre, junto aos setores da sociedade e em Educação. Trabalhou, nos anos 50, na articulação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A seguir, foi consagrado bispo. Por sua atu ação, foi indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Um grupo de países europeus criou o Prêmio Popular da Paz, sendo ele um dos agraciados. Morreu aos 90 anos, em 1999, em Olinda, PE, como arcebispo. Dom Helder sempre teve uma relação fraterna e ecumên ica com a Igreja Metodista. Em 1967, foi paraninfo dos formandos na Faculdade de Teologia, em Rudge Ramos, SBC. Em 7 de agosto de 1971, o Centro Comunitário de Caixa D’água, em Olinda, PE, foi inaugurado e Dom Helder Câmara esteve presente. Para maior comp reensão da sua vida, sugere -se a leitura da obra de CASTRO, Marcos de. Dom Helder: misticismo e santidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 74 Nordestino, pobre e retirante, Luiz Inácio da Silva nasceu em Garanhuns, PE, em 27 de outubro de 1945, data do registro da Certidão de Nascimento. Mas Lula prefere adotar a certeza da mãe, que garantiu que o filho veio ao mundo no dia 6 do mesmo mês. Curiosamente, são as datas do primeiro e segundo turnos da sucessão de 2002, a quarta disputada pelo nordestino. De uma família de lavradores pobres, Lula é um dos oito filhos de Aristides e Eurídice. A mãe é apontada como a pessoa que mais marcou sua infância. Quando Eurídice estava grávida de Lula, o pai deixou a família em Garanhuns para tentar a vida em Santos, São Paulo. Em 1956, d. Eurídice decidiu seguir o marido. Vendeu a terra que tinha, colocou a família num pau-de-arara e desceu rumo à cidade portuária. Em Santos, a decepção. Aristides tinha se casado novamente com uma prima da mãe de Lula. Lula é casado há 28 anos com Marisa Letícia Lula da Silva, sua segunda mulher. A primeira, Maria de Lourdes da Silva, morreu em 1970. O presidente tem cinco filhos: Marcos Cláudio, de 31 anos, Lurian, 29, Fábio Luiz, 28, Sandro Luiz, 23, e Luiz Cláudio, 17. O petis ta estudou até a 5ª série do Ensino Fundamental, antigo curso primário. Foi numa escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) que obteve o diploma técnico de torneiro mecânico. Quando exercia a profissão, perdeu o dedo mínimo da mão esquerda numa prensa. A profissão abriu o caminho para o futuro líder sindical e da esquerda brasileira (extraído do site Terra-eleições: http://noticias.terra.com.br/eleicoes/est/lula/lulavida.html). Lula começou a ter contato com o movimento sindical por meio de seu irmão José Ferreira da silva, conhecido como Frei Chico. Em 1969, o Sindicato de Diadema e São Bernardo do Campo realizou uma eleição para escolher sua nova diretoria e Lula foi eleito secretário suplente. Em 1972, ele foi eleito primeiro secretário e, em 1975, presidente do Sindicato, com 92% dos votos, passando a representar 100 mil trabalhadores. Em 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC Paulista. A repressão policial e a inexistência de políticos no Congresso Nacional que representassem os trabalhadores fizeram com que Lula pensasse em criar o Partido dos Trabalhadores. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais e representantes dos movimentos sociais. Em 1980, nova greve provocou a intervenção do Governo Federal no Sindicato e a prisão de Lula e outros líderes sindicais. Com base na Lei de Segurança Nacional, Lula e outros dirigentes sindicais foram condenados a 31 dias
  • 30. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 30 Bernardo do Campo, SP, e várias lideranças sofreram perseguição nesse período. Após sua soltura, o rev. Beulke não teve seu pacto missionário renovado com a Igreja, que selecionou um novo missionário para assumir seu lugar e dar continuidade ao trabalho missionário em Recife. 1.2.4. Segundo missionário em Recife, PE Em outubro de 1963, foi enviado o casal rev. Francisco de Oliveira e D. Dirce de Oliveira, em substituição à família Beulke, que tirou licença e permaneceu em Recife, estudando e trabalhando. O rev. Francisco chegou a Recife e procurou dar continuidade ao trabalho missionário. Pode-se perceber que a visão de crescimento, os sonhos e a expansão continuam. Em uma carta enviada ao Expositor Cristão, ele declara: Recife será, no futuro, para o norte e Nordeste, o que São Paulo é para os Estados do sul do país. Temos duas congregações, 200 alunos nas Escolas Dominicais e mais uma centena de membros, o trabalho avança decididamente. Precisamos com urgência de um harmônio para a congregação em Caixa D’água e (2) equipamentos para o ambulatório em organização no mesmo bairro (mesas para exames).75 É interessante que a Igreja começou a ocupar o seu lugar naquela metrópole. No dia 2 de agosto, foi inaugurado o primeiro conjunto coral da Igreja Metodista em Recife, com um membro veterano (Paulo Duarte) da igreja. Os demais eram pessoas recém-chegadas à comunidade. No final da década de 1960, o metodismo tinha 100 membros em duas congregações: Caixa D’água e Torre. O pastor era o rev. Roberto L. Spencer76 , o terceiro pastor em Recife. Sua esposa era Jane Spencer. Ele contava com dois seminaristas: Lauro Cruz Reis, que estava concluindo o Curso de Bacharel em Teologia no Seminário Presbiteriano, e Rodolfo Mamaniconde.. Havia uma escola primária, mantida pela Igreja. de prisão. Em 1986, ele foi eleito o Deputado Federal mais votado do País para a Assembléia Constituinte. Em 1989, o PT o lançou à disputa da Presidência da República Federativa do Brasil. Ele foi derrotado no segundo turno. Em 1994 e 1998, voltou a se candidatar e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso. Em 27 de outubro de 2002, aos 57 anos, foi eleito Presidente da República Federativa do Brasil com quase 53 milhões de votos (extraído do site: https://www.planalto.gov.br/bio_01/lula.pdf03/05/2004). 75 Jornal Expositor Cristão, 1 de dezembro de 1964, p.8. 76 Missionário da I greja Metodista Unida, Estados Unidos, veio ao Brasil enviado pela Junta de Ministérios Globais (entidade responsável por envio de missionários a várias partes do mundo), em 1962. Preparou-se na Escola de Estudos em Português de Campinas, SP, de 1963 a 1966. Pastoreou a Igreja Metodista de Copacabana. Em 1967, retornou aos Estados Unidos e em 1968 foi ser missionário em Recife, PE. Conferir entrevista no anexo 2.
  • 31. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 31 1.2.5. Fred Morris, missionário americano torturado em Recife O rev. Fred Morris, após terminar o curso de Bacharel em Teologia nos Estados Unidos, ouviu falar sobre o Brasil por meio do Dr. Gerson Soares Veiga 77 e se entusiasmou muito pela idéia de trabalhar aqui como missionário. Além do curso de Teologia, o rev. Morris possuía Mestrado em Sociologia Urbana. Sua vinda como missionário foi possível por meio de uma parceria entre a Junta de Ministérios Globais, nos Estados Unidos, e a Igreja Metodista do Brasil. Como forma de preparo, ele passou por sete meses de treinamento nos Estados Unidos. Em 1964, ele veio ao Brasil e foi nomeado para as Igrejas de Teresópolis, Itaipava e Cuiabá. Este ano também foi dedicado ao estudo da língua portuguesa. Após dois anos, foi transferido para a Igreja Metodista de Pilares, no Rio de Janeiro, sendo também nomeado Secretário Regional de Educação Cristã, na Primeira Região Eclesiástica. Em setembro de 1970, por convite do Secretário de Ação Social, rev. João Paraíba Daronch da Silva 78 , ele foi enviado ao Nordeste, após a saída do rev. Robert Spencer. 79 De 1970 a 1974, foi organizado e construído o Centro Comunitário de Caixa D’água, em Olinda, PE, na propriedade comprada no período do rev. Dorival Beulke. Até então, ali havia apenas um barracão. O rev. Fred Morris permaneceu em Recife de setembro de 1970 a maio de 1973. Depois disso, passou um período de três meses nos Estados Unidos. Na volta, trabalhou como gerente numa fábrica de blocos de concreto, com João Bayer, sendo ainda eleito diretor do Centro Comunitário de Caixa D’água. Travou também relações ecumênicas, desenvolvendo um relacionamento pastoral com Dom Helder Câmara. Em 1974, uma série de episódios sérios marcaram a vida do rev. Morris no Nordeste. Certo dia, ele foi à casa do ex- monitor de cursos do Centro Comunitário, resolver algumas pendências do trabalho. Mas o rapaz estava desaparecido, sendo procurado pela polícia. Havia ali dois militares, que detiveram o rev. Morris por algumas horas. Em julho, a 77 Gerson Soares Veiga foi professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista,Diretor Geral do Instituto Metodista de Ensino Superior em São Bernardo do Campo, SP. 78 João Parahyba Daronch da Silva foi professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, em São Bernardo do Campo, SP. Ele foi o tradutor do livro “A Igreja, Corpo de Cristo”, publicado pela Junta Geral de Ação Social da Igreja Metodista, por meio da Imprensa Metodista, em 1966. Também foi Secretário da Junta Geral de Ação Social e um colaborador na publicação do Credo Social da Igreja Metodista, em 1968. 79 Dados fornecidos por Fred Morris, em entrevista concedida em 26 de outubro de 2003, em Lake Junalaska, Carolina do Norte, Estados Unidos, conforme Anexo 3.
  • 32. Capítulo 1: Implantação e expansão do Metodismo no Nordeste do Brasil 32 revista Times publicou um artigo sobre Dom Helder Câmara, chamando-o de “o pastor dos pobres no Nordeste” e criticando o regime militar, abordando temas como tortura, fome, economia, direitos humanos, etc. Os líderes do regime acharam que o rev. Morris havia escrito o artigo. Os fatos ligados ao artigo, o episódio envolvendo o ex-monitor do centro comunit ário e a relação com Dom Helder Câmara, bem como os trabalhos desenvolvidos entre os marginalizados da sociedade foram as causas que levaram o rev. Morris à prisão no dia 30 de setembro, ficando encarcerado por 17 dias. Depois de ser torturado, os militares esperaram o seu restabelecimento e nesta ocasião ele foi escoltado para o Rio de Janeiro, de onde foi deportado para os Estados Unidos por um ato do Presidente Ernesto Geisel, sendo considerado pessoa nociva aos interesses nacionais 80 . 1.2.6. Ministério do rev. Adolfo Evaristo de Souza Em 1971, o rev. Adolfo Evaristo de Souza 81 chegou a Recife, para substituir o rev. Robert Spencer 82 . Ele assumiu os trabalhos pastorais no bairro da Torre e Caixa D’água. Foi um período de expansão do metodismo em Recife. Novas frentes missionárias foram abertas em Jaboatão dos Guararapes, Cordeiro, Nova Descoberta, João Pessoa, Campina Grande. Esses trabalhos estavam sob a responsabilidade do rev. Adolfo, que ali permaneceu de 1971 a 1980, atuando na Igreja Metodista da Torre. Em 1981, tornou-se pastor da Igreja Metodista em Campina Grande e João Pessoa. Em 1982, retornou a São Paulo, capital, para pastorear em sua região de origem83 . O metodismo, em sua expansão em Recife, iniciou mais um trabalho no bairro Prazeres, em 2 de maio de 1971. Um grupo da Igreja, liderado pelo rev. Adolfo, começou a realizar visitação e evangelismo ali, sendo que em agosto do mesmo ano foi inaugurado um local de reuniões e cultos, realizados nos sábados à noite. A Escola Dominical acontecia à tarde 84 . 80 Os detalhes da experiência do rev. Morris no Nordeste encontram-se na entrevista do anexo 3. Veja também Compartilhar Pastoral. Informativo da Região Missionária do Nordeste, Ano VI, nº 64, 2003, p.6. Na matéria jornalística, Fred Morris conta seu seqüestro, tortura e prisão durante 17 dias, pelos policiais brasileiros. 81 Adolfo Evaristo de Souza, paulista, fez o Curso Básico de Teologia pela Igreja Metodista. Em 1981, foi para Recife como missionário. Ao retornar do Nordeste, em 1982, foi eleito bispo da Igreja Metodista. Conferir entrevista no Anexo 4. 82 Conferir entrevista com Robert Spencer no Anexo 2. 83 Conferir entrevista no Anexo 4. 84 Jornal Expositor Cristão, 15 de outubro de 1969, p.8.