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            e special
‘República’
de adultos
Comuns entre
universitários,
moradias
coletivas
viram opção
econômica




                                                                                                                                                                                   fotos: Rebeka Figueiredo
para quem
já deixou de
frequentar
a faculdade
  Rebeka Figueiredo
  rebeka.figueiredo@folhauniversal.com.br




A
          troca de experiências,
          a economia de dinhei-
          ro e a possibilidade de
          morar em espaços
confortáveis e bem localizados
têm levado adultos com bons
empregos e curso superior a
dividir a casa com pessoas que
                                             ORGANIZAÇÃO: No apartamento das oito moças, não há regras
não fazem parte da família e                 definidas, mas até o cardápio (à dir.) é compartilhado
que, muitas vezes, nem se co-
nheciam antes da parceria.
    É o caso da psicóloga An-
drea Cristina, de 27 anos, que              dividir uma casa é um proces-      tomar alguma decisão impor-                                      profissionais (52%), seguido por
vive com mais três pessoas em               so parecido com o casamen-         tante. Vai tolerar, ou conversar,                                estudantes (41%). “A demanda é
um sobrado alugado na época                 to. “Cada pessoa traz hábitos      fazer uma grosseria ou mesmo        País lidera                  muito forte em todas as cidades,
em que ela ainda era estudante.             diferentes, mas, quando estão      mudar de casa”, diz.                                             e isso deve crescer”, diz Dennis
                                            dispostas a mudar, isso permite       O Brasil já é o principal
                                                                                                                   mercado de                   Volkmann, gerente do site no
O lugar tem duas salas, quatro
quartos, área externa com jar-              a inauguração de uma nova cul-     mercado de aluguel de quartos       aluguel de                   Brasil, acrescentando que São
dim e mobília dos anos 1950                 tura”. Segundo ela, morar com      na América Latina, segundo o        quartos na                   Paulo, Rio de Janeiro, Belo Ho-
herdada do bisavô dela. “Nunca              outros por opção leva a “deci-     EasyQuarto, site para locação                                    rizonte, Curitiba e Porto Alegre
chamei esse espaço de repúbli-              sões de crescimento”. “A pessoa    de dormitórios pela internet        américa latina,              são as cidades mais procuradas.
ca, é uma casa de família.”                 vai ser cutucada pela forma de     presente em 37 países. O portal     indica portal                    Andrea Cristina conta ter
    Para Ana Bock, professora               ser do outro. Isso traz movimen-   recebe 200 mil visitas por mês                                   ficado incomodada com a falta
de psicologia social da PUC-SP,             to e mudanças. Ela sempre vai      no País. A procura maior é de                                    de interação dentro da casa
- DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012                        especial                                                                                               13




                                      logo que chegou. “Aqui não
                                      é só um lugar funcional para
                                      dormir”, define. A estudante de
                                      Rádio e TV Amália Viana, de
                                        24 anos, mora com Andrea




                                                                                                                                                                                             arte: eder santos
                                           desde que chegou da Bahia,
                                             há quase 4 anos. “A van-
                                              tagem é que a gente se
                                                respeita. Quando dis-
                                                 cordamos de algo, fa-
                                                  lamos abertamente”,
                                                   diz Amália. Andrea
                                                    reclama que às ve-
                                                    zes falta iniciativa
                                                    de alguns morado-
                                                    res. “O ideal é que
                                                    todos tenham bom
                                                   senso, que vai de la-
                                                  var a louça a pagar as
                                                 contas.”
                                                    A casa ainda é for-
                                              mada pela comunicó-
                                            loga Mirley, de 29 anos, e
                                          pelo economista João, de 24
                                       anos, que chegou há 6 meses e
                                      já provocou mudanças quanto
                                      à integração do grupo. Foi João                                                                                         de 23 anos, na casa desde fe-




                                                                                                                                              demetrio koch
                                      quem incentivou uma peque-                                                                                              vereiro. “Nunca tinha morado
                                                                           espaço LIBERADO: Moradora não gosta de guardar sapatos no quarto
                                      na reforma no local, executada       e colegas permitem que ela os coloque no corredor                                  com tantas pessoas, mas não é
                                      com a ajuda de todos.                                                                                                   difícil como eu pensava. Nin-
                                          Integração é a palavra que                                                                                          guém fica sozinha.”
                                      define um apartamento duplex                                                                                                Ivi Silva, de 29 anos, que
                                                                                                                                                              mora há 18 meses no aparta-
                                                                                                                                                              mento, tem a mesma opinião.
                                       COMPARTILHAR                                                                                                           “São várias ideias, vira uma
                                       MORADIA É UMA                                                                                                          conversa coletiva. Quando al-
Há uma tendência de                                                                                                                                           guém está triste, tentamos aju-
                                       BOA OPÇÃO PARA                                                                                                         dar”. Mas não foi sempre assim,
homens e mulheres                      QUEM PRECISA                                                                                                           acrescenta Letícia. “Já moramos
permanecerem                           ECONOMIZAR,
                                                                                                                                                              com pessoas que não pensavam
                                                                                                                                                              no grupo. Hoje, temos uma for-
solteiros por mais                     AFIRMA PROFESSOR                                                                                                       mação equilibrada, com espírito
tempo, ou se                                                                                                                                                  de coletividade.” Para a psicólo-
separarem após                                                                                                                                                ga Ana Bock, as moças estão no
                                      localizado em uma das regiões                                                                                           caminho certo. “A franqueza e o
um relacionamento                     mais agitadas da capital paulista                                                                                       acolhimento sempre ajudam. É
amoroso. Essas                        e habitado por oito mulheres,                                                                                           mais gostoso quando as pessoas
                                      entre 19 e 29 anos. A moradora                                                                                          buscam a convivência afetiva.”
pessoas não querem                    mais antiga é a designer gráfi-                                                                                             Na ampla sala do aparta-
mais ficar na casa                    co Letícia Anguito, de 23 anos,                                                                                         mento, as garotas se reúnem
dos pais, mas não                     que vive ali há 4 anos. “Quan-                                                                                          para ver seriados na televisão,
                                      do cheguei, minha irmã mais                                                                                             conversar sobre o dia a dia e or-
perdem de vista                       velha já morava aqui com ami-                                                                                           ganizar festas. O espaço é ocu-
a possibilidade de                    gas. Não sabemos quem trouxe                                                                                            pado por quatro sofás, um col-
                                      os sofás e a mobília. Até o ano                                                                                         chão de casal, duas mesas com
compartilhar sua vida                 passado, o contrato de aluguel                                                                                          computadores e uma prateleira
Carla Diéguez, docente da Escola      estava assinado por uma ex-                                                                                             com livros e DVDs.
     de Sociologia e Política de SP   -moradora que hoje vive na                                                                                                  A organização, admitem as
                                      França”, brinca Letícia.                                                                                                meninas, é a principal dificulda-
                                          A reportagem da Folha                                                                                               de. “São muitas pessoas, acaba
                                      Universal foi recebida com                                                                                              ficando bagunçado”, argumen-
                                      um convite para o jantar. O                                                                                             ta Letícia. Uma faxineira ajuda
                                      arroz de forno com calabresa e                                                                                          na limpeza uma vez por sema-
                                      queijo foi preparado pela desig-                                                                                        na. Quando a bagunça cresce,
                                      ner de produtos Natália Yatye,                                                                                          elas conversam e deixam
14                                                                             especial                                           DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012 -




bilhetes. “Na casa dos pais te-
mos comodidade. Aqui, se dei-




                                                                                                                                                                                           fotos: demetrio koch
xar bagunçado, vai ficar”, conta
a assistente de marketing Thais
Avelar Reis, de 23 anos, que está
há 1 ano e 8 meses no local e há
90 dias levou a irmã Flávia, de
19 anos, para morar com o gru-
po. “É um desafio, mas somos
uma família”, declara a desig-
ner de produtos Michele Hori
Mendes, de 23 anos. Há 2 anos
e 5 meses ela mora no local com
a radialista Natália, sua irmã gê-
mea. “Precisamos ter paciência,

ALUGAR IMóveis                                                                                                                                           túlio Vargas (FGV). No ano, o
RESIDENCIAIS ficou                                                                                                                                       índice acumula alta de 6,02% e,
                                                                                                                                                         em 12 meses, de 7,68%.
11,87% mais caro                                                                                                                                             Para João Maria Andra-
NOS ÚLTIMOS 12                                                                                                                                           des, professor de Economia
MESES, INFORMA                                                                                                                                           Familiar da Universidade Es-
                                                                                                                                                         tadual do Oeste do Paraná, o
o secovi-SP                                                                                                                                              compartilhamento é uma boa
                                                                                                                                                         opção para pessoas que pre-
relevar e abrir mão de algumas                                                                                                                           cisam economizar. “Solteiros
coisas. Sou mais independente,
amadureci”, diz a radialista.
                                                                                                                                                         Cientista social
    O fator financeiro também
pesou na decisão das garotas                                                                                                                             não descarta
para dividir a moradia. Ape-                                                                                                                             problemas se
nas em São Paulo, o valor da
locação de imóveis residenciais                                                                                                                          decisão de dividir
subiu 11,87% nos últimos 12                                                                                                                              espaço for apenas
meses, segundo o Sindicato da                                                                                                                            financeira
Habitação (Secovi-SP). O Índi-
ce Geral de Preços - Mercado
(IGP-M), usado para reajustar
a maioria dos contratos de alu-                                                                                                                          e separados podem se juntar
guel, também subiu 1,38% na          UNIDAS: Andréa Cristina (esq.) e Amália Viana mostram o armário onde guardam alimentos.                             em grupos para racionalizar
segunda prévia de agosto, de         Acima (à dir.), recado com a letra de Amália avisa que foi ela quem comeu o risoto preparado pela amiga             os custos e conviver com in-
acordo com a Fundação Ge-                                                                                                                                divíduos em situação seme-
                                                                                                                                                         lhante. Isso ajuda na inserção
                                                                                                                                                         social e na relação com os
                                                                                                                                                         amigos”, analisa.
                                                                                                                                                            Foi o que fez a auditora
                                                                                                                                                         Mauridete Oliveira, de 31 anos,
                                                                                                                                                         que, após separar-se do ma-




                                                                                                                                                          Dividir uma casa é um
                                                                                                                                                          processo parecido com
      arte: eder santos




                                                                                                                                                          o do casamento. A
                                                                                                                                                          pessoa vai ser cutucada
                                                                                                                                                          pela forma de ser
                                                                                                                                                          do outro e isso traz
                                                                                                                                                          movimento e mudanças

                                                                                                                                                          Ana Bock, professora de Psicologia
                                                                                                                                                                           Social da PUC-SP
- DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012                            especial                                                                                              15

rido, vive há 3 meses com uma




                                                                                                         Rebeka Figueiredo
colega de trabalho. “Estou gos-
tando e me sinto segura. No mês
passado, viajei para a China e a                                                                                             Superar desafios
                                                                                                                             é a missão diária
casa não ficou abandonada”.
    Já o arquiteto Lucas Basa-
glia, de 26 anos, divide o apar-
tamento de três quartos do pai
dele, localizado em uma região                                                                                                   No apartamento das oito moças, não há regras
nobre de São Paulo, com um                                                                                                   definidas e tudo é conversado. Durante a manhã,
administrador e um designer.                                                                                                 por exemplo, elas respeitam o horário de trabalho
“Somos muito tranquilos. To-                                                                                                 de cada uma para definir a ordem de uso do único
dos deveriam morar com ami-                                                                                                  banheiro. Todo mês, uma dupla fica responsável por
gos para aprender a se organi-                                                                                               fazer as contas das despesas coletivas. Para facilitar a
zar”, aconselha o arquiteto, que                                                                                             comunicação, o grupo criou uma conta na rede so-
poupa dinheiro para o futuro                                                                                                 cial Facebook, além de trocar e-mails durante o dia.
economizando com a divisão.                                                                                                  “Compartilhamos coisas divertidas”, explica Letícia
    A cientista social Carla Di-                                                                                             Anguito. Na sala, uma coleção de 100 esmaltes serve
éguez, docente da Fundação                                                                                                   de salão de beleza coletivo. As garotas também orga-
Escola de Sociologia e Política                                                                                              nizam festas com os amigos. No ano passado, uma
de São Paulo, destaca que o as-                                                                                              confraternização reuniu mais de 70 pessoas e gerou
pecto econômico é importante,                                                                                                reclamações. “O zelador não gostou e a casa ficou
mas algumas mudanças na so-                                                                                                  toda suja”, relembra Letícia.
ciedade podem indicar outros                                                                                                     Já no sobrado onde vive Andrea Cristina, uma
motivos. “Há uma tendência                                                                                                   festa ajudou a arrecadar dinheiro para a geladeira.
                                                                                                                             “Um amigo desenhou o convite, distribuímos na
                                                                                                                             faculdade e trouxemos uma banda”, diz Andrea. A
                                                                                                                             psicóloga conta que outra festa com os atuais mo-
                                                                                                                             radores foi responsável pelo estreitamento dos laços
                                                                                                                             entre eles. As despesas coletivas ficam presas com
                                                                                                                             ímãs na geladeira e o grupo tem uma conta conjun-
                                                                                                                             ta no banco. Andrea reclama de louças mal lavadas.
                                                           cozinha: Um dos pontos de possível
                                                           conflito na moradia em grupo                                      Para resolver, ela criou um sistema de duas buchas:
                                                                                                                             uma apenas para lavar copos, e outra para lavar pra-
                                                                                                                             tos e panelas. Amália Viana
                                                                                                                             também não gosta de su-
                                                                                                                             jeira. “Tem gente que
                                                                          de homens e mulheres per-
                                                                                                                             faz coleção de copos
                                                                          manecerem solteiros por mais
                                                                                                                             na pia”. Para evitar o
                                                                          tempo, ou se separarem após
                                                                                                                             desperdício de água,
                                                                          um relacionamento amoroso.
                                                                                                                             Andrea junta as rou-
                                                                          Essas pessoas não querem mais
                                                                                                                             pas de todos na máqui-
                                                                          ficar na casa dos pais, mas não
                                                                                                                             na de lavar. “Morar
                                                                          perdem de vista a possibilidade
                                                                                                                             junto é um exercício
                                                                          de compartilhar a sua vida”, diz
                                                                                                                             de tolerância, temos
                                                                          Carla, acrescentando que mo-
                                       Vantagens                          rar junto é gratificante, mas se
                                                                                                                             estilos    diferentes,
                                                                                                                             mas conseguimos
                                                                          a decisão for apenas financeira,
                                       de dividir                         problemas podem aparecer.
                                                                                                                             uma        sintonia”,
                                                                                                                             resume Andrea.
                                                                              Na opinião da cabeleireira e
                                       a casa                             maquiadora Camila de Souza
                                                                          Laurindo, de 27 anos, o barato
                                       Viver com
                                                                                                                                                                       ntos




                                                                          às vezes sai caro. Bem localiza-
                                                                                                                                                             o: eder sa




                                       amigos torna a                     da e com preço baixo, a pensão
                                                                          onde mora tem regras rígidas
                                                                                                                                                    ilustraçã




                                       vida mais leve                     e os moradores não se comu-
                                                                          nicam. “Não posso trazer nem
                                       art




                                                                          minha mãe aqui.” Viver em es-
                                          e: e
                                              der




                                                                          paços de confinamento pode le-
                                                  san
                                                     to




                                                                          var ao isolamento, analisa João
                                                       s




                                                                          Maria Andrades.

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'República' de adultos

  • 1. 12 DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012 - e special ‘República’ de adultos Comuns entre universitários, moradias coletivas viram opção econômica fotos: Rebeka Figueiredo para quem já deixou de frequentar a faculdade Rebeka Figueiredo rebeka.figueiredo@folhauniversal.com.br A troca de experiências, a economia de dinhei- ro e a possibilidade de morar em espaços confortáveis e bem localizados têm levado adultos com bons empregos e curso superior a dividir a casa com pessoas que ORGANIZAÇÃO: No apartamento das oito moças, não há regras não fazem parte da família e definidas, mas até o cardápio (à dir.) é compartilhado que, muitas vezes, nem se co- nheciam antes da parceria. É o caso da psicóloga An- drea Cristina, de 27 anos, que dividir uma casa é um proces- tomar alguma decisão impor- profissionais (52%), seguido por vive com mais três pessoas em so parecido com o casamen- tante. Vai tolerar, ou conversar, estudantes (41%). “A demanda é um sobrado alugado na época to. “Cada pessoa traz hábitos fazer uma grosseria ou mesmo País lidera muito forte em todas as cidades, em que ela ainda era estudante. diferentes, mas, quando estão mudar de casa”, diz. e isso deve crescer”, diz Dennis dispostas a mudar, isso permite O Brasil já é o principal mercado de Volkmann, gerente do site no O lugar tem duas salas, quatro quartos, área externa com jar- a inauguração de uma nova cul- mercado de aluguel de quartos aluguel de Brasil, acrescentando que São dim e mobília dos anos 1950 tura”. Segundo ela, morar com na América Latina, segundo o quartos na Paulo, Rio de Janeiro, Belo Ho- herdada do bisavô dela. “Nunca outros por opção leva a “deci- EasyQuarto, site para locação rizonte, Curitiba e Porto Alegre chamei esse espaço de repúbli- sões de crescimento”. “A pessoa de dormitórios pela internet américa latina, são as cidades mais procuradas. ca, é uma casa de família.” vai ser cutucada pela forma de presente em 37 países. O portal indica portal Andrea Cristina conta ter Para Ana Bock, professora ser do outro. Isso traz movimen- recebe 200 mil visitas por mês ficado incomodada com a falta de psicologia social da PUC-SP, to e mudanças. Ela sempre vai no País. A procura maior é de de interação dentro da casa
  • 2. - DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012 especial 13 logo que chegou. “Aqui não é só um lugar funcional para dormir”, define. A estudante de Rádio e TV Amália Viana, de 24 anos, mora com Andrea arte: eder santos desde que chegou da Bahia, há quase 4 anos. “A van- tagem é que a gente se respeita. Quando dis- cordamos de algo, fa- lamos abertamente”, diz Amália. Andrea reclama que às ve- zes falta iniciativa de alguns morado- res. “O ideal é que todos tenham bom senso, que vai de la- var a louça a pagar as contas.” A casa ainda é for- mada pela comunicó- loga Mirley, de 29 anos, e pelo economista João, de 24 anos, que chegou há 6 meses e já provocou mudanças quanto à integração do grupo. Foi João de 23 anos, na casa desde fe- demetrio koch quem incentivou uma peque- vereiro. “Nunca tinha morado espaço LIBERADO: Moradora não gosta de guardar sapatos no quarto na reforma no local, executada e colegas permitem que ela os coloque no corredor com tantas pessoas, mas não é com a ajuda de todos. difícil como eu pensava. Nin- Integração é a palavra que guém fica sozinha.” define um apartamento duplex Ivi Silva, de 29 anos, que mora há 18 meses no aparta- mento, tem a mesma opinião. COMPARTILHAR “São várias ideias, vira uma MORADIA É UMA conversa coletiva. Quando al- Há uma tendência de guém está triste, tentamos aju- BOA OPÇÃO PARA dar”. Mas não foi sempre assim, homens e mulheres QUEM PRECISA acrescenta Letícia. “Já moramos permanecerem ECONOMIZAR, com pessoas que não pensavam no grupo. Hoje, temos uma for- solteiros por mais AFIRMA PROFESSOR mação equilibrada, com espírito tempo, ou se de coletividade.” Para a psicólo- separarem após ga Ana Bock, as moças estão no localizado em uma das regiões caminho certo. “A franqueza e o um relacionamento mais agitadas da capital paulista acolhimento sempre ajudam. É amoroso. Essas e habitado por oito mulheres, mais gostoso quando as pessoas entre 19 e 29 anos. A moradora buscam a convivência afetiva.” pessoas não querem mais antiga é a designer gráfi- Na ampla sala do aparta- mais ficar na casa co Letícia Anguito, de 23 anos, mento, as garotas se reúnem dos pais, mas não que vive ali há 4 anos. “Quan- para ver seriados na televisão, do cheguei, minha irmã mais conversar sobre o dia a dia e or- perdem de vista velha já morava aqui com ami- ganizar festas. O espaço é ocu- a possibilidade de gas. Não sabemos quem trouxe pado por quatro sofás, um col- os sofás e a mobília. Até o ano chão de casal, duas mesas com compartilhar sua vida passado, o contrato de aluguel computadores e uma prateleira Carla Diéguez, docente da Escola estava assinado por uma ex- com livros e DVDs. de Sociologia e Política de SP -moradora que hoje vive na A organização, admitem as França”, brinca Letícia. meninas, é a principal dificulda- A reportagem da Folha de. “São muitas pessoas, acaba Universal foi recebida com ficando bagunçado”, argumen- um convite para o jantar. O ta Letícia. Uma faxineira ajuda arroz de forno com calabresa e na limpeza uma vez por sema- queijo foi preparado pela desig- na. Quando a bagunça cresce, ner de produtos Natália Yatye, elas conversam e deixam
  • 3. 14 especial DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012 - bilhetes. “Na casa dos pais te- mos comodidade. Aqui, se dei- fotos: demetrio koch xar bagunçado, vai ficar”, conta a assistente de marketing Thais Avelar Reis, de 23 anos, que está há 1 ano e 8 meses no local e há 90 dias levou a irmã Flávia, de 19 anos, para morar com o gru- po. “É um desafio, mas somos uma família”, declara a desig- ner de produtos Michele Hori Mendes, de 23 anos. Há 2 anos e 5 meses ela mora no local com a radialista Natália, sua irmã gê- mea. “Precisamos ter paciência, ALUGAR IMóveis túlio Vargas (FGV). No ano, o RESIDENCIAIS ficou índice acumula alta de 6,02% e, em 12 meses, de 7,68%. 11,87% mais caro Para João Maria Andra- NOS ÚLTIMOS 12 des, professor de Economia MESES, INFORMA Familiar da Universidade Es- tadual do Oeste do Paraná, o o secovi-SP compartilhamento é uma boa opção para pessoas que pre- relevar e abrir mão de algumas cisam economizar. “Solteiros coisas. Sou mais independente, amadureci”, diz a radialista. Cientista social O fator financeiro também pesou na decisão das garotas não descarta para dividir a moradia. Ape- problemas se nas em São Paulo, o valor da locação de imóveis residenciais decisão de dividir subiu 11,87% nos últimos 12 espaço for apenas meses, segundo o Sindicato da financeira Habitação (Secovi-SP). O Índi- ce Geral de Preços - Mercado (IGP-M), usado para reajustar a maioria dos contratos de alu- e separados podem se juntar guel, também subiu 1,38% na UNIDAS: Andréa Cristina (esq.) e Amália Viana mostram o armário onde guardam alimentos. em grupos para racionalizar segunda prévia de agosto, de Acima (à dir.), recado com a letra de Amália avisa que foi ela quem comeu o risoto preparado pela amiga os custos e conviver com in- acordo com a Fundação Ge- divíduos em situação seme- lhante. Isso ajuda na inserção social e na relação com os amigos”, analisa. Foi o que fez a auditora Mauridete Oliveira, de 31 anos, que, após separar-se do ma- Dividir uma casa é um processo parecido com arte: eder santos o do casamento. A pessoa vai ser cutucada pela forma de ser do outro e isso traz movimento e mudanças Ana Bock, professora de Psicologia Social da PUC-SP
  • 4. - DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012 especial 15 rido, vive há 3 meses com uma Rebeka Figueiredo colega de trabalho. “Estou gos- tando e me sinto segura. No mês passado, viajei para a China e a Superar desafios é a missão diária casa não ficou abandonada”. Já o arquiteto Lucas Basa- glia, de 26 anos, divide o apar- tamento de três quartos do pai dele, localizado em uma região No apartamento das oito moças, não há regras nobre de São Paulo, com um definidas e tudo é conversado. Durante a manhã, administrador e um designer. por exemplo, elas respeitam o horário de trabalho “Somos muito tranquilos. To- de cada uma para definir a ordem de uso do único dos deveriam morar com ami- banheiro. Todo mês, uma dupla fica responsável por gos para aprender a se organi- fazer as contas das despesas coletivas. Para facilitar a zar”, aconselha o arquiteto, que comunicação, o grupo criou uma conta na rede so- poupa dinheiro para o futuro cial Facebook, além de trocar e-mails durante o dia. economizando com a divisão. “Compartilhamos coisas divertidas”, explica Letícia A cientista social Carla Di- Anguito. Na sala, uma coleção de 100 esmaltes serve éguez, docente da Fundação de salão de beleza coletivo. As garotas também orga- Escola de Sociologia e Política nizam festas com os amigos. No ano passado, uma de São Paulo, destaca que o as- confraternização reuniu mais de 70 pessoas e gerou pecto econômico é importante, reclamações. “O zelador não gostou e a casa ficou mas algumas mudanças na so- toda suja”, relembra Letícia. ciedade podem indicar outros Já no sobrado onde vive Andrea Cristina, uma motivos. “Há uma tendência festa ajudou a arrecadar dinheiro para a geladeira. “Um amigo desenhou o convite, distribuímos na faculdade e trouxemos uma banda”, diz Andrea. A psicóloga conta que outra festa com os atuais mo- radores foi responsável pelo estreitamento dos laços entre eles. As despesas coletivas ficam presas com ímãs na geladeira e o grupo tem uma conta conjun- ta no banco. Andrea reclama de louças mal lavadas. cozinha: Um dos pontos de possível conflito na moradia em grupo Para resolver, ela criou um sistema de duas buchas: uma apenas para lavar copos, e outra para lavar pra- tos e panelas. Amália Viana também não gosta de su- jeira. “Tem gente que de homens e mulheres per- faz coleção de copos manecerem solteiros por mais na pia”. Para evitar o tempo, ou se separarem após desperdício de água, um relacionamento amoroso. Andrea junta as rou- Essas pessoas não querem mais pas de todos na máqui- ficar na casa dos pais, mas não na de lavar. “Morar perdem de vista a possibilidade junto é um exercício de compartilhar a sua vida”, diz de tolerância, temos Carla, acrescentando que mo- Vantagens rar junto é gratificante, mas se estilos diferentes, mas conseguimos a decisão for apenas financeira, de dividir problemas podem aparecer. uma sintonia”, resume Andrea. Na opinião da cabeleireira e a casa maquiadora Camila de Souza Laurindo, de 27 anos, o barato Viver com ntos às vezes sai caro. Bem localiza- o: eder sa amigos torna a da e com preço baixo, a pensão onde mora tem regras rígidas ilustraçã vida mais leve e os moradores não se comu- nicam. “Não posso trazer nem art minha mãe aqui.” Viver em es- e: e der paços de confinamento pode le- san to var ao isolamento, analisa João s Maria Andrades.