SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 4
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Para marcar a passagem dos anos, os tupis tomavam como base a frutificação
dos cajueiros, que se dá uma vez por ano, entre os meses de dezembro e
janeiro. Em cada safra de caju, guardava-se uma castanha em uma cabaça.
A contagem das castanhas indicava a idade dos indivíduos.
MAIO 201346
foCo
EtnomatEmática,
por mAriânGelA de AlmeidA
Antes da Matemática, a Etnomatemática
já estava informalmente presente no
dia a dia do ser humano. É ela que
ajuda a compreender os conceitos e
práticas de uma disciplina que leva a
fama de mal amada por muitos alunos.
Professores a têm utilizado para mostrar
que contar e resolver problemas são
ações diretamente ligadas a andar de
bicicleta, jogar bola, jogar videogame...
A Etnomatemática é uma visão mais
ampla da história e da filosofia da Ma-
temática, que tem aplicações pedagó-
gicas e caminha de mãos dadas com a
Antropologia. Seu papel é ajudar a re-
conhecer e entender a Matemática de
uma cultura ou de um grupo.
Isto porque indivíduos e povos de-
senvolvem, ao longo de sua história,
técnicas de reflexão, de observação e
habilidades para explicar, entender
e saber responder às suas necessida-
des de sobrevivência e de transcendên-
cia nos mais diversos ambientes natu-
rais, sociais e culturais.
O homem primitivo, por exemplo,
para construir uma lança, teve de apli-
car conhecimentos matemáticos – for-
ma, comprimento, peso e força para
lançá-la e alcançar determinado alvo.
Tudo isso sem nunca ter frequentado
os bancos escolares.
O agricultor sabe determinar a dis-
tância ideal entre as mudas da planta-
ção. O feirante calcula quantas caixas
de determinado produto deverá com-
prar para vender.
Descobrir, reconhecer e acolher esses
usos da Matemática é o principal objeti-
vo da Etnomatemática, que gera uma in-
terdisciplinaridade natural. Para explicar
determinadas situações é preciso anali-
sar seus aspectos geográficos, políticos,
históricos, culturais e assim por diante.
Geografia,História,Ciências,enfim,todas
as disciplinas se unem à Etnomatemática.
muito prazEr!
MAIO 2013 47
O professor Ubiratan D’Ambrosio,
Doutor em Matemática e Professor
Emérito da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), considerado um
dos maiores experts sobre o tema no
mundo, dedica-se à Etnomatemática
há 40 anos. “O conceito surgiu nos
anos 1970 para mostrar que a Mate-
mática não é fruto só do pensamento
grego. Outros povos fizeram e fazem
Matemática para comparar, ordenar,
classificar”, explica. E cita Macchu
Picchu: “Aquela civilização construiu
uma cidade sem ter qualquer contato
com a cultura grega. Ergueu monumen-
tos que resistem até hoje às catástrofes
naturais, utilizando, inclusive, sofisti-
cados conceitos de geometria”.
A ética e o resgate
da dignidade
A Etnomatemática também acolhe
e amplia os conhecimentos prévios
que os alunos levam para a escola. “Os
meninos constroem pipas sofisticadas,
antes mesmo de terem acesso aos con-
ceitos de medidas e formas”, explica o
professor Ubiratan. E acrescenta: “Os
‘nativos digitais’ também criaram uma
cultura entre eles, que aprenderam na
lan house, nos games, não na escola”.
É aqui que entra outra caracterís-
tica importante da Etnomatemática: a
ética para resgatar a dignidade do ser
humano. A escola, muitas vezes, acaba
excluindo crianças que chegam com
seus conhecimentos preconcebidos e
são convencidas a deixá-los de lado.
“É preciso aceitar o conhecimento do
outro e, em alguns casos, mostrar que
existem outras formas de pensar e agir,
até mais fáceis, que a criança vai apren-
der por observação e conclusão, não
por imposição”, comenta Ubiratan.
Quando a Etnomatemática conduz
o aprendizado, os alunos começam a
perceber o quanto a Matemática é im-
portante e prazerosa.
“Jogos fazem parte de todas as
culturas. Na sala de aula, alguns deles
trazem à tona vários conceitos matemá-
ticos. Certos textos também são usados
com essa finalidade. O professor pode
Arte indígena: O artesanato dos povos indíge-
nas brasileiros reúne a utilidade do objeto aos
conceitos matemáticos, como forma e volume.
A beleza dos detalhes coloridos também é ins-
pirada nos conceitos da geometria, trabalhando
figuras planas e simetria.
Ossos de Ishango: A ferramenta de osso de
babuíno, datada entre 18.000 e 20.000 a.C.,
tem um pedaço de quartzo incrustado, utilizado
para escrever. Tudo indica que os traços grava-
dos nos ossos eram para registrar contagens.
Tabletes babilônicos: Datados entre 1900 a.C. e
1700 a.C., registram aulas de Matemática e edu-
cação praticadas pelos povos da Mesopotâmia
(atual Iraque), contrariando a crença ocidental
de que a história da Matemática começou com
os gregos.
pedir aos alunos que leiam uma maté-
ria sobre construção civil, por exemplo,
mostrando as várias etapas para erguer
uma casa. Depois, na discussão do tex-
to, emergem noções matemáticas. As-
sim, exploram-se práticas sociais que
favorecem a construção de significados
na disciplina”, explica Luiz Márcio Ime-
nes, professor de Matemática e autor de
livros didáticos.
A Etnomatemática também possi-
bilita a integração de culturas, trazen-
do novas realidades ao universo dos
alunos com o objetivo de potencializar
a resolução de problemas. Em um de
seus livros, o professor Imenes trans-
creve um relato do pesquisador Paulus
Gerdes sobre uma prática de pescado-
res de Moçambique. Para defumar os
peixes, eles riscam uma circunferência
no terreno, usando um barbante e duas
estacas amarradas em suas extremida-
des. Cravam uma delas no chão e man-
têm o barbante esticado. Com a outra
estaca desenham a curva. Depois, no
centro, fazem uma fogueira e cada pei-
xe, atravessado por uma varinha, é fixa-
do sobre a circunferência. Desse modo,
todos ficam à mesma distância da fo-
gueira, recebendo quantidade igual
de calor, sendo defumados ao mesmo
tempo. “O professor pode simular essa
experiência com seus alunos na quadra
da escola”, propõe.
“a etnomatemática
sensibiliza o
aluno, dá sentido
à matemática,
e isso Gera
aprendizado.”
luiz márcio imenes
MAIO 201348
foCo
“A Etnomatemática sensibiliza o
aluno, dá sentido à Matemática, e isso
gera aprendizado”, conclui.
os professores e a
etnomatemática
Embora o tema ainda não seja mui-
to discutido nos cursos de formação
de professores, a Etnomatemática,
quando adotada pelo educador, vai
muito além de oferecer orientações
pedagógicas à sala de aula. “A princi-
pal contribuição da Etnomatemática na
formação de professores não é dar a
conhecer uma lista de exemplos exóti-
cos de manifestações de conhecimen-
tos matemáticos, mas possibilitar a
reflexão e a transformação pessoal que
esse contato com a diversidade cultural
pode trazer, construindo outra postura
político-pedagógica diante dos saberes
dos alunos e diante da própria Mate-
mática como disciplina”, ressalta Maria
Cecília Fantinato, Mestre e Doutora em
Educação e Coordenadora do Grupo de
Etnomatemática da Universidade Fede-
ral Fluminense.
Maria Cecília acredita que a pers-
pectiva da Etnomatemática contribui
para uma prática docente diferencia-
da. “O trabalho educativo na linha da
Etnomatemática envolve mudanças
que extrapolam os limites da sala de
aula individual. Um trabalho de proje-
tos, por exemplo, combina com esta
linha, e pode envolver professores de
diferentes áreas do conhecimento de
uma mesma escola”, justifica.
Exemplo dessa possibilidade é a ex-
periência da professora Cristiane Coppe
de Oliveira, docente da Universidade
Federal de Uberlândia, que trabalha com
formação inicial de professores no Pro-
grama Institucional de Bolsas de Inicia-
ção à Docência (Pibid), da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensi-
no Superior (Capes), do Governo Federal.
Em 2012, ela desenvolveu, com os
bolsistas do projeto Diversidade Cul-
tural, atividades envolvendo as cultu-
ras indígena, africana e afro-brasileira.
Uma delas, que usou os conceitos da
Etnomatemática, foi implementada du-
rante a Semana da Consciência Negra
em duas escolas – uma municipal e ou-
tra estadual – de Ituiutaba, MG.
O objetivo era desmitificar que a
questão do negro se resume ao período
da escravidão, resgatando valores da cul-
tura afro, tanto da África como do Brasil.
interdisciplinaridade a
serviço do aprendizado
A primeira atividade do projeto
Diversidade Cultural foi conhecer e fazer
o munguzá, receita africana muito conhe-
cidanoNordestebrasileiroeporalgumas
religiões de matriz africana. Antes de ela-
borar o prato, os alunos tiveram contato
com sua origem, falaram da cultura afri-
cana, de como ela foi incorporada pelos
brasileiros. Durante a confecção da recei-
ta, aplicaram conceitos matemáticos – as
unidades de medidas – e de Química,
aprendendo a composição dos elemen-
tos químicos e tendo contato, pela pri-
meira vez, com a tabela periódica.
A outra atividade envolveu a repro-
dução da Adinkra, da nação Ashanti, de
Gana, e também do povo Gyaman, da
Costa do Marfim. O tecido Adinkra reúne
símbolos que representam provérbios e
aforismos. É uma linguagem de ideogra-
mas impressos, em padrões repetidos,
sobre um tecido de algodão, que reflete
um sistema de valores humanos univer-
sais: família, integridade, tolerância, har-
monia e determinação, dentre outros.
A atividade gerou várias oportuni-
dades de aprendizado. Além do resgate
dos valores culturais africanos, possibi-
litou a análise dos conceitos matemáti-
cos relacionados à geometria e simetria.
A terceira atividade foi jogar o Man-
cala, também de origem africana, pro-
vavelmente no Egito Antigo (2000 a.C),
praticado pelos povos de Suriname e
Costa do Marfim, que originalmente
desenhavam o tabuleiro na areia.
Para Cristiane, “a Etnomatemática
é uma postura que pode ajudar o edu-
cador a aperfeiçoar sua prática. Ele se
torna um professor pesquisador, que
não está fechado apenas para a Mate-
mática, porque dialoga com as Ciências
Humanas”, explica.
PArA sAber mAis
Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade, de Ubiratan
D’Ambrosio. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Etnomatemática: novos desafios teóricos e pedagógicos, Maria Cecília
Fantinato (org.) Niterói: Editora da UFF, 2009.
• www.cbem4.ufpa.br
para saber mais detalhes sobre o jogo mancala, acesse:
• www.jogos.antigos.nom.br/mancala.asp
Crianças jogando mancala.
MAIO 2013 49

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Dcn educação escolar indígena
Dcn educação escolar indígenaDcn educação escolar indígena
Dcn educação escolar indígena
marcaocampos
 
PNAIC - Ano 2 educação do campo
PNAIC - Ano 2   educação do campoPNAIC - Ano 2   educação do campo
PNAIC - Ano 2 educação do campo
ElieneDias
 
EducaçãO Escolar Indígena
EducaçãO Escolar IndígenaEducaçãO Escolar Indígena
EducaçãO Escolar Indígena
culturaafro
 

Was ist angesagt? (20)

Educacação Escolar Indígena e Qualidade de Vida.
 Educacação Escolar Indígena e Qualidade de Vida. Educacação Escolar Indígena e Qualidade de Vida.
Educacação Escolar Indígena e Qualidade de Vida.
 
Texto 03 A criança, a educaçaõ infantil e o ensino fundamental de nove anos
Texto 03   A criança, a educaçaõ infantil e o ensino fundamental de nove anosTexto 03   A criança, a educaçaõ infantil e o ensino fundamental de nove anos
Texto 03 A criança, a educaçaõ infantil e o ensino fundamental de nove anos
 
Tendencias e perspectivas do ensino de história
Tendencias e perspectivas do ensino de históriaTendencias e perspectivas do ensino de história
Tendencias e perspectivas do ensino de história
 
Projeto diversidade cultural na educação infantil
Projeto diversidade cultural na educação infantilProjeto diversidade cultural na educação infantil
Projeto diversidade cultural na educação infantil
 
Dcn educação escolar indígena
Dcn educação escolar indígenaDcn educação escolar indígena
Dcn educação escolar indígena
 
TRANSVERSALIDADE E A RENOVAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA
TRANSVERSALIDADE E A RENOVAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIATRANSVERSALIDADE E A RENOVAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA
TRANSVERSALIDADE E A RENOVAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA
 
Orientações curriculares 2011
Orientações curriculares 2011Orientações curriculares 2011
Orientações curriculares 2011
 
Educação patrimonial
Educação patrimonialEducação patrimonial
Educação patrimonial
 
PNAIC - Ano 2 educação do campo
PNAIC - Ano 2   educação do campoPNAIC - Ano 2   educação do campo
PNAIC - Ano 2 educação do campo
 
Gibis na aula de educação física
Gibis na aula de educação física Gibis na aula de educação física
Gibis na aula de educação física
 
Relato de experiencia Diversidade Cultural - 2014
Relato de experiencia Diversidade Cultural - 2014Relato de experiencia Diversidade Cultural - 2014
Relato de experiencia Diversidade Cultural - 2014
 
Portifólio pronto
Portifólio prontoPortifólio pronto
Portifólio pronto
 
EducaçãO Escolar Indígena
EducaçãO Escolar IndígenaEducaçãO Escolar Indígena
EducaçãO Escolar Indígena
 
Culturas e Histórias dos Povos Indígenas
Culturas e Histórias dos Povos IndígenasCulturas e Histórias dos Povos Indígenas
Culturas e Histórias dos Povos Indígenas
 
Diversidade educacao
Diversidade educacaoDiversidade educacao
Diversidade educacao
 
Projeto Diversidade Cultural - Prof. Iria Rejane
Projeto Diversidade Cultural - Prof. Iria RejaneProjeto Diversidade Cultural - Prof. Iria Rejane
Projeto Diversidade Cultural - Prof. Iria Rejane
 
Educação Escolar Indígena
Educação Escolar IndígenaEducação Escolar Indígena
Educação Escolar Indígena
 
História local: Entre o ensino e a pesquisa
História local: Entre o ensino e a pesquisaHistória local: Entre o ensino e a pesquisa
História local: Entre o ensino e a pesquisa
 
Historia da educação silvana
Historia da educação  silvanaHistoria da educação  silvana
Historia da educação silvana
 
Educação indígena
Educação indígenaEducação indígena
Educação indígena
 

Andere mochten auch (7)

História e ensino criativo acção 6 - lisboa
História e ensino criativo   acção 6 - lisboaHistória e ensino criativo   acção 6 - lisboa
História e ensino criativo acção 6 - lisboa
 
Potências de 10
Potências de 10Potências de 10
Potências de 10
 
R4103111114
R4103111114R4103111114
R4103111114
 
Tenologia
TenologiaTenologia
Tenologia
 
Textil b tarea6_ribarolaferreira
Textil b tarea6_ribarolaferreiraTextil b tarea6_ribarolaferreira
Textil b tarea6_ribarolaferreira
 
História e Ensino Criativo Reflexão Final
História e Ensino Criativo Reflexão FinalHistória e Ensino Criativo Reflexão Final
História e Ensino Criativo Reflexão Final
 
História e ensino criativo Final
História e ensino criativo FinalHistória e ensino criativo Final
História e ensino criativo Final
 

Ähnlich wie Revista Educatrix

Etnomatematica: uma alternativa Metodológica
Etnomatematica: uma alternativa MetodológicaEtnomatematica: uma alternativa Metodológica
Etnomatematica: uma alternativa Metodológica
Etnomatem
 
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdfSLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
JuniorMx1
 
Etnomatemática e a cultura amazônica
Etnomatemática e a cultura amazônicaEtnomatemática e a cultura amazônica
Etnomatemática e a cultura amazônica
Augusto Bello
 
Correio educação
Correio educaçãoCorreio educação
Correio educação
Damisa
 
A história da matemática como instrumento para a
A história da matemática como instrumento para aA história da matemática como instrumento para a
A história da matemática como instrumento para a
dalvamar
 

Ähnlich wie Revista Educatrix (20)

Etnomatematica: uma alternativa Metodológica
Etnomatematica: uma alternativa MetodológicaEtnomatematica: uma alternativa Metodológica
Etnomatematica: uma alternativa Metodológica
 
Etnomatemática
EtnomatemáticaEtnomatemática
Etnomatemática
 
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdfSLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
SLIDEjzjdkdkdkdkdieiie DE BERNARDO ETNO..pdf
 
A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA atraves dos tempos.pptx
A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA atraves dos tempos.pptxA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA atraves dos tempos.pptx
A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA atraves dos tempos.pptx
 
Multicultuiralismo
MulticultuiralismoMulticultuiralismo
Multicultuiralismo
 
Semana ed. 2010
Semana ed. 2010Semana ed. 2010
Semana ed. 2010
 
ClippIFF Edição outubro 2017
ClippIFF Edição outubro 2017ClippIFF Edição outubro 2017
ClippIFF Edição outubro 2017
 
Etno
EtnoEtno
Etno
 
Etnomatemática e a cultura amazônica
Etnomatemática e a cultura amazônicaEtnomatemática e a cultura amazônica
Etnomatemática e a cultura amazônica
 
Correio educação
Correio educaçãoCorreio educação
Correio educação
 
Projeto educação patrimonial espno pps
Projeto educação patrimonial espno ppsProjeto educação patrimonial espno pps
Projeto educação patrimonial espno pps
 
Matemática e arte
Matemática e arteMatemática e arte
Matemática e arte
 
MH - Etnomatematica.pptx
MH - Etnomatematica.pptxMH - Etnomatematica.pptx
MH - Etnomatematica.pptx
 
Monografia Amanda Matemática 2006
Monografia Amanda Matemática 2006Monografia Amanda Matemática 2006
Monografia Amanda Matemática 2006
 
Pcnem1
Pcnem1Pcnem1
Pcnem1
 
Pcnem
PcnemPcnem
Pcnem
 
A história da matemática como instrumento para a
A história da matemática como instrumento para aA história da matemática como instrumento para a
A história da matemática como instrumento para a
 
Escola, cultura e sociedade
Escola, cultura e sociedadeEscola, cultura e sociedade
Escola, cultura e sociedade
 
Por que etnomatemática.pptx
Por que etnomatemática.pptxPor que etnomatemática.pptx
Por que etnomatemática.pptx
 
Aula 1 a história e o ensino de matemática
Aula 1   a história e o ensino de matemáticaAula 1   a história e o ensino de matemática
Aula 1 a história e o ensino de matemática
 

Mehr von Andréa Thees

YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptxYouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
Andréa Thees
 
Um gráfico vale mais que mil palavras
Um gráfico vale mais que mil palavrasUm gráfico vale mais que mil palavras
Um gráfico vale mais que mil palavras
Andréa Thees
 
Aula 3 chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
Aula 3   chagas 2000 - questionário na pesquisa científicaAula 3   chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
Aula 3 chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
Andréa Thees
 

Mehr von Andréa Thees (20)

Análise de videoaulas de matemática do YouTube - Comunic Curta.pptx
Análise de videoaulas de matemática do YouTube - Comunic Curta.pptxAnálise de videoaulas de matemática do YouTube - Comunic Curta.pptx
Análise de videoaulas de matemática do YouTube - Comunic Curta.pptx
 
YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptxYouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
YouTube e Educação Matemática - CEDERJ.pptx
 
THEES_Andrea_2019_Defesa da Tese_Aprendi no YouTube
THEES_Andrea_2019_Defesa da Tese_Aprendi no YouTubeTHEES_Andrea_2019_Defesa da Tese_Aprendi no YouTube
THEES_Andrea_2019_Defesa da Tese_Aprendi no YouTube
 
THEES_Andrea_2019_Tese_Aprendi no YouTube_I Learned on YouTube
THEES_Andrea_2019_Tese_Aprendi no YouTube_I Learned on YouTubeTHEES_Andrea_2019_Tese_Aprendi no YouTube_I Learned on YouTube
THEES_Andrea_2019_Tese_Aprendi no YouTube_I Learned on YouTube
 
Através do corte e da dobra: transformar o espaço
Através do corte e da dobra: transformar o espaçoAtravés do corte e da dobra: transformar o espaço
Através do corte e da dobra: transformar o espaço
 
Coleção Explorando o Ensino - Matemática - Volume 17 - MEC
Coleção Explorando o Ensino - Matemática - Volume 17 - MECColeção Explorando o Ensino - Matemática - Volume 17 - MEC
Coleção Explorando o Ensino - Matemática - Volume 17 - MEC
 
Apresentação comunicaçao ANPEd - 2013
Apresentação comunicaçao ANPEd - 2013Apresentação comunicaçao ANPEd - 2013
Apresentação comunicaçao ANPEd - 2013
 
Um gráfico vale mais que mil palavras
Um gráfico vale mais que mil palavrasUm gráfico vale mais que mil palavras
Um gráfico vale mais que mil palavras
 
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - Cronograma e programa da disciplina
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - Cronograma e programa da disciplinaEstatística Aplicada à Educação 2015-1 - Cronograma e programa da disciplina
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - Cronograma e programa da disciplina
 
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - Ementa
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - EmentaEstatística Aplicada à Educação 2015-1 - Ementa
Estatística Aplicada à Educação 2015-1 - Ementa
 
Matemática na Educação I - 2015-1 - Programa e ementa da disciplina
Matemática na Educação I - 2015-1 - Programa e ementa da disciplinaMatemática na Educação I - 2015-1 - Programa e ementa da disciplina
Matemática na Educação I - 2015-1 - Programa e ementa da disciplina
 
Matemática na Educação I - 2015-1 - Cronograma e conteúdo da disciplina
Matemática na Educação I - 2015-1 - Cronograma e conteúdo da disciplinaMatemática na Educação I - 2015-1 - Cronograma e conteúdo da disciplina
Matemática na Educação I - 2015-1 - Cronograma e conteúdo da disciplina
 
Relatório de autoavaliação discente - Educação e Saúde
Relatório de autoavaliação discente - Educação e SaúdeRelatório de autoavaliação discente - Educação e Saúde
Relatório de autoavaliação discente - Educação e Saúde
 
Relatório de autoavaliação discente - Ciências Naturais na Educação
Relatório de autoavaliação discente - Ciências Naturais na EducaçãoRelatório de autoavaliação discente - Ciências Naturais na Educação
Relatório de autoavaliação discente - Ciências Naturais na Educação
 
Processo de avaliação 2 - grupos e temas
Processo de avaliação 2 - grupos e temasProcesso de avaliação 2 - grupos e temas
Processo de avaliação 2 - grupos e temas
 
Seminário de Letramento Matemático
Seminário de Letramento MatemáticoSeminário de Letramento Matemático
Seminário de Letramento Matemático
 
Medidas de centralidade
Medidas de centralidadeMedidas de centralidade
Medidas de centralidade
 
Aula 1 - Ensinoaprendizagem de matemática
Aula 1 - Ensinoaprendizagem de matemáticaAula 1 - Ensinoaprendizagem de matemática
Aula 1 - Ensinoaprendizagem de matemática
 
Educação Matemática na Educação Infantil
Educação Matemática na Educação InfantilEducação Matemática na Educação Infantil
Educação Matemática na Educação Infantil
 
Aula 3 chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
Aula 3   chagas 2000 - questionário na pesquisa científicaAula 3   chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
Aula 3 chagas 2000 - questionário na pesquisa científica
 

Kürzlich hochgeladen

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
PatriciaCaetano18
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
sh5kpmr7w7
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
marlene54545
 

Kürzlich hochgeladen (20)

Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemáticaSlide - SAEB. língua portuguesa e matemática
Slide - SAEB. língua portuguesa e matemática
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptxGÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
GÊNERO CARTAZ - o que é, para que serve.pptx
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVAEDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
 

Revista Educatrix

  • 1. Para marcar a passagem dos anos, os tupis tomavam como base a frutificação dos cajueiros, que se dá uma vez por ano, entre os meses de dezembro e janeiro. Em cada safra de caju, guardava-se uma castanha em uma cabaça. A contagem das castanhas indicava a idade dos indivíduos. MAIO 201346 foCo
  • 2. EtnomatEmática, por mAriânGelA de AlmeidA Antes da Matemática, a Etnomatemática já estava informalmente presente no dia a dia do ser humano. É ela que ajuda a compreender os conceitos e práticas de uma disciplina que leva a fama de mal amada por muitos alunos. Professores a têm utilizado para mostrar que contar e resolver problemas são ações diretamente ligadas a andar de bicicleta, jogar bola, jogar videogame... A Etnomatemática é uma visão mais ampla da história e da filosofia da Ma- temática, que tem aplicações pedagó- gicas e caminha de mãos dadas com a Antropologia. Seu papel é ajudar a re- conhecer e entender a Matemática de uma cultura ou de um grupo. Isto porque indivíduos e povos de- senvolvem, ao longo de sua história, técnicas de reflexão, de observação e habilidades para explicar, entender e saber responder às suas necessida- des de sobrevivência e de transcendên- cia nos mais diversos ambientes natu- rais, sociais e culturais. O homem primitivo, por exemplo, para construir uma lança, teve de apli- car conhecimentos matemáticos – for- ma, comprimento, peso e força para lançá-la e alcançar determinado alvo. Tudo isso sem nunca ter frequentado os bancos escolares. O agricultor sabe determinar a dis- tância ideal entre as mudas da planta- ção. O feirante calcula quantas caixas de determinado produto deverá com- prar para vender. Descobrir, reconhecer e acolher esses usos da Matemática é o principal objeti- vo da Etnomatemática, que gera uma in- terdisciplinaridade natural. Para explicar determinadas situações é preciso anali- sar seus aspectos geográficos, políticos, históricos, culturais e assim por diante. Geografia,História,Ciências,enfim,todas as disciplinas se unem à Etnomatemática. muito prazEr! MAIO 2013 47
  • 3. O professor Ubiratan D’Ambrosio, Doutor em Matemática e Professor Emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considerado um dos maiores experts sobre o tema no mundo, dedica-se à Etnomatemática há 40 anos. “O conceito surgiu nos anos 1970 para mostrar que a Mate- mática não é fruto só do pensamento grego. Outros povos fizeram e fazem Matemática para comparar, ordenar, classificar”, explica. E cita Macchu Picchu: “Aquela civilização construiu uma cidade sem ter qualquer contato com a cultura grega. Ergueu monumen- tos que resistem até hoje às catástrofes naturais, utilizando, inclusive, sofisti- cados conceitos de geometria”. A ética e o resgate da dignidade A Etnomatemática também acolhe e amplia os conhecimentos prévios que os alunos levam para a escola. “Os meninos constroem pipas sofisticadas, antes mesmo de terem acesso aos con- ceitos de medidas e formas”, explica o professor Ubiratan. E acrescenta: “Os ‘nativos digitais’ também criaram uma cultura entre eles, que aprenderam na lan house, nos games, não na escola”. É aqui que entra outra caracterís- tica importante da Etnomatemática: a ética para resgatar a dignidade do ser humano. A escola, muitas vezes, acaba excluindo crianças que chegam com seus conhecimentos preconcebidos e são convencidas a deixá-los de lado. “É preciso aceitar o conhecimento do outro e, em alguns casos, mostrar que existem outras formas de pensar e agir, até mais fáceis, que a criança vai apren- der por observação e conclusão, não por imposição”, comenta Ubiratan. Quando a Etnomatemática conduz o aprendizado, os alunos começam a perceber o quanto a Matemática é im- portante e prazerosa. “Jogos fazem parte de todas as culturas. Na sala de aula, alguns deles trazem à tona vários conceitos matemá- ticos. Certos textos também são usados com essa finalidade. O professor pode Arte indígena: O artesanato dos povos indíge- nas brasileiros reúne a utilidade do objeto aos conceitos matemáticos, como forma e volume. A beleza dos detalhes coloridos também é ins- pirada nos conceitos da geometria, trabalhando figuras planas e simetria. Ossos de Ishango: A ferramenta de osso de babuíno, datada entre 18.000 e 20.000 a.C., tem um pedaço de quartzo incrustado, utilizado para escrever. Tudo indica que os traços grava- dos nos ossos eram para registrar contagens. Tabletes babilônicos: Datados entre 1900 a.C. e 1700 a.C., registram aulas de Matemática e edu- cação praticadas pelos povos da Mesopotâmia (atual Iraque), contrariando a crença ocidental de que a história da Matemática começou com os gregos. pedir aos alunos que leiam uma maté- ria sobre construção civil, por exemplo, mostrando as várias etapas para erguer uma casa. Depois, na discussão do tex- to, emergem noções matemáticas. As- sim, exploram-se práticas sociais que favorecem a construção de significados na disciplina”, explica Luiz Márcio Ime- nes, professor de Matemática e autor de livros didáticos. A Etnomatemática também possi- bilita a integração de culturas, trazen- do novas realidades ao universo dos alunos com o objetivo de potencializar a resolução de problemas. Em um de seus livros, o professor Imenes trans- creve um relato do pesquisador Paulus Gerdes sobre uma prática de pescado- res de Moçambique. Para defumar os peixes, eles riscam uma circunferência no terreno, usando um barbante e duas estacas amarradas em suas extremida- des. Cravam uma delas no chão e man- têm o barbante esticado. Com a outra estaca desenham a curva. Depois, no centro, fazem uma fogueira e cada pei- xe, atravessado por uma varinha, é fixa- do sobre a circunferência. Desse modo, todos ficam à mesma distância da fo- gueira, recebendo quantidade igual de calor, sendo defumados ao mesmo tempo. “O professor pode simular essa experiência com seus alunos na quadra da escola”, propõe. “a etnomatemática sensibiliza o aluno, dá sentido à matemática, e isso Gera aprendizado.” luiz márcio imenes MAIO 201348 foCo
  • 4. “A Etnomatemática sensibiliza o aluno, dá sentido à Matemática, e isso gera aprendizado”, conclui. os professores e a etnomatemática Embora o tema ainda não seja mui- to discutido nos cursos de formação de professores, a Etnomatemática, quando adotada pelo educador, vai muito além de oferecer orientações pedagógicas à sala de aula. “A princi- pal contribuição da Etnomatemática na formação de professores não é dar a conhecer uma lista de exemplos exóti- cos de manifestações de conhecimen- tos matemáticos, mas possibilitar a reflexão e a transformação pessoal que esse contato com a diversidade cultural pode trazer, construindo outra postura político-pedagógica diante dos saberes dos alunos e diante da própria Mate- mática como disciplina”, ressalta Maria Cecília Fantinato, Mestre e Doutora em Educação e Coordenadora do Grupo de Etnomatemática da Universidade Fede- ral Fluminense. Maria Cecília acredita que a pers- pectiva da Etnomatemática contribui para uma prática docente diferencia- da. “O trabalho educativo na linha da Etnomatemática envolve mudanças que extrapolam os limites da sala de aula individual. Um trabalho de proje- tos, por exemplo, combina com esta linha, e pode envolver professores de diferentes áreas do conhecimento de uma mesma escola”, justifica. Exemplo dessa possibilidade é a ex- periência da professora Cristiane Coppe de Oliveira, docente da Universidade Federal de Uberlândia, que trabalha com formação inicial de professores no Pro- grama Institucional de Bolsas de Inicia- ção à Docência (Pibid), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensi- no Superior (Capes), do Governo Federal. Em 2012, ela desenvolveu, com os bolsistas do projeto Diversidade Cul- tural, atividades envolvendo as cultu- ras indígena, africana e afro-brasileira. Uma delas, que usou os conceitos da Etnomatemática, foi implementada du- rante a Semana da Consciência Negra em duas escolas – uma municipal e ou- tra estadual – de Ituiutaba, MG. O objetivo era desmitificar que a questão do negro se resume ao período da escravidão, resgatando valores da cul- tura afro, tanto da África como do Brasil. interdisciplinaridade a serviço do aprendizado A primeira atividade do projeto Diversidade Cultural foi conhecer e fazer o munguzá, receita africana muito conhe- cidanoNordestebrasileiroeporalgumas religiões de matriz africana. Antes de ela- borar o prato, os alunos tiveram contato com sua origem, falaram da cultura afri- cana, de como ela foi incorporada pelos brasileiros. Durante a confecção da recei- ta, aplicaram conceitos matemáticos – as unidades de medidas – e de Química, aprendendo a composição dos elemen- tos químicos e tendo contato, pela pri- meira vez, com a tabela periódica. A outra atividade envolveu a repro- dução da Adinkra, da nação Ashanti, de Gana, e também do povo Gyaman, da Costa do Marfim. O tecido Adinkra reúne símbolos que representam provérbios e aforismos. É uma linguagem de ideogra- mas impressos, em padrões repetidos, sobre um tecido de algodão, que reflete um sistema de valores humanos univer- sais: família, integridade, tolerância, har- monia e determinação, dentre outros. A atividade gerou várias oportuni- dades de aprendizado. Além do resgate dos valores culturais africanos, possibi- litou a análise dos conceitos matemáti- cos relacionados à geometria e simetria. A terceira atividade foi jogar o Man- cala, também de origem africana, pro- vavelmente no Egito Antigo (2000 a.C), praticado pelos povos de Suriname e Costa do Marfim, que originalmente desenhavam o tabuleiro na areia. Para Cristiane, “a Etnomatemática é uma postura que pode ajudar o edu- cador a aperfeiçoar sua prática. Ele se torna um professor pesquisador, que não está fechado apenas para a Mate- mática, porque dialoga com as Ciências Humanas”, explica. PArA sAber mAis Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade, de Ubiratan D’Ambrosio. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. Etnomatemática: novos desafios teóricos e pedagógicos, Maria Cecília Fantinato (org.) Niterói: Editora da UFF, 2009. • www.cbem4.ufpa.br para saber mais detalhes sobre o jogo mancala, acesse: • www.jogos.antigos.nom.br/mancala.asp Crianças jogando mancala. MAIO 2013 49