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Contribuição
dos povos africanos
para o conhecimento
científico e tecnológico
universal
Lázaro Cunha
3
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
CONTRIBUIÇÃO DOS POVOS AFRICANOS PARA O CONHECIMENTO
CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO UNIVERSAL
O estudo e o acompanhamento do processo histórico da população africana e afro-
brasileira é muito mais que uma gratidão aos milhões de mulheres e homens que fornece-
ram as bases culturais e técnicas para a emersão do que hoje chamamos nação brasileira.
Essa atitude se configura em uma ação inteligente de quem deseja para o país a promoção
de um desenvolvimento social sustentável. Uma vez que, a essa temática estão associadas
questões fundamentais como: o nível de respeito que os brasileiros e brasileiras têm de si
mesmos, em face da história de seu país e da capacidade desse povo de promover as
mudanças necessárias para atingirem um maior equilíbrio social e econômico. Com efeito,
um sistema educacional que realmente pretende fornecer as bases para esse desenvolvi-
mento precisa possibilitar aos seus estudantes o conhecimento do seu próprio povo, sob
pena de não gerar nesses estudantes auto-estima suficiente para fortalecê-los perante os
desafios da vida, para a concretização dos empreendimentos para o desenvolvimento social.
UM BREVE HISTÓRICO DAS CONTRIBUIÇÕES
DOS POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA
PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO UNIVERSAL
Se considerarmos que a ciência e a tecnologia são campos do conhecimento utiliza-
dos, em essência, na compreensão e manejo do ambiente que nos cerca, podemos
depreender que todos os povos, em seus mais remotos momentos históricos, foram dota-
dos de conhecimento científico e tecnológico (apresentando entre si peculiaridades quanto
a conceitos, objetivos e métodos empregados) para atender aos níveis de complexidade de
suas sociedades. O desenvolvimento das nações nessas áreas do conhecimento deve-se,
principalmente, às particularidades dos seus processos históricos e culturais. Isso não está
relacionado com maior ou menor grau de inteligência ou aptidão de certos agrupamentos
humanos. É interessante enfatizar essa questão para dissiparmos teorias racistas a respei-
to da suposta inferioridade de determinados grupos humanos em relação a outros no que se
refere à capacidade cognitiva para empreender o desenvolvimento em suas sociedades.
No ano de 1758, o botânico sueco Carolus Linnaeus - o responsável pela criação do
atual sistema de classificação dos seres vivos - deu à humanidade o nome científico de
Homo sapiens e a classificou em quatro subespécies: os vermelhos americanos, “geniosos,
despreocupados e livres”; os amarelos asiáticos, “severos e ambiciosos”; os negros africa-
nos, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos europeus, evidentemente, “ativos, inteligentes e
4
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
engenhosos”. Em 1855 - Arthur Gobineau escreveu o Ensaio Sobre a Desigualdade da
Raça Humana, que é tido como a bíblia do racismo moderno, e que considera que a misci-
genação é a causa da decadência das nações. No Brasil, o médico Raimundo Nina Rodrigues
foi discípulo de Gobineau, e considerava, por exemplo, que os rituais de candomblé eram
uma patologia dos negros.
Esses trabalhos acadêmicos demonstram o papel social da ciência, enquanto instru-
mento de legitimação de políticas racistas que ajudaram a consolidar uma sociedade que
cultua uma hierarquização racial e que, no Brasil, adicionado à teoria da democracia racial
de Gilberto Freyre, contribuiu para a manutenção do atual quadro de desigualdades raciais.
Apesar dessas teorias terem perdido suas validades científicas, elas continuam ten-
do um fortíssimo efeito na sociedade, a ponto de criar modelos mentais que identificam os
negros e índios como seres inferiores, os quais foram “resgatados pelo pioneirismo do des-
cobrimento e a benevolência das campanhas religiosas dos europeus portugueses”.
Ao discutirmos “ As contribuições dos povos africanos e da diáspora para o conheci-
mento científico e tecnológico universal”, faremos uma exposição em torno de algumas das
principais conquistas científicas e tecnológicas dos africanos e afro-brasileiros e divulgare-
mos alguns dos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores que promoveram uma
valiosíssima reconstituição científica da história do continente africano e da diáspora. Dese-
jamos com isso, disponibilizar algumas informações que ajudem na reflexão a respeito do
papel dos povos africanos e da diáspora no contexto do desenvolvimento local (Brasil) e
global da Humanidade, entendendo que isso será fundamental para que os jovens estudan-
tes e professores, leitores desse texto, passem a ter uma imagem positiva e mais verdadei-
ra em relação à população negra1
. Segmento populacional majoritário em estados como a
Bahia e que corresponde a cerca de 46% da população brasileira.
O EUROCENTRISMO NA HISTÓRIA DA CIÊNCIA
As grandes distorções históricas a respeito do legado cultural e científico dos povos
africanos e afro-descendentes resultam principalmente da predominância do eurocentrismo
na história oficial. E a classificação do eurocentrismo como um “simples etnocentrismo”2
(
fenômeno universal que expressa a tendência de um indivíduo ou grupo humano em pautar
a compreensão do mundo a partir do seu ponto de vista, centro ou referência) aplicado aos
europeus se constitui em um equívoco e uma minimização do seu papel, pois, segundo
1 Consideramos nesse grupo os tidos como pardos.
2 Segundo Elisa Larkin Nascimento, o conceito de etnocentrismo originou-se na antropologia que, estu-
dando grupos humanos pequenos e “primitivos”, aplicou-lhe o termo.
5
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
Nascimento (1994), o eurocentrismo possui três características fundamentais que o diferen-
ciam do sentido original do etnocentrismo:
a) o eurocentrismo não está associado ou restrito a uma só etnia, pois existem
inúmeros grupos étnicos na Europa;
b) como ideologia, o eurocentrismo abstrai os elementos comuns a muitos gru-
pos e articula uma visão generalizada, a partir de suas referências históricas
clássicas: grega e romana;
c) a conjunção violência e falsificação histórica, que o eurocentrismo fez uso
para se impor enquanto referencial universal à humanidade. Essa iniciativa, de
fato, deu suporte à afirmação da suposta superioridade física, econômica, religi-
osa e social dos grupos étnicos europeus perante os outros grupos étnicos.
A negação do passado científico e tecnológico dos povos africanos e a exacerbação do
seu “caráter lúdico” foi uma das principais façanhas do eurocentrismo e que ainda hoje abala
fortemente a auto-estima da população africana e da diáspora, pois os “métodos”, “conceitos”
e muitos cientistas europeus deram a impressão ao restante do mundo, de que as popula-
ções africanas não tiveram uma contribuição relevante para a construção do conhecimento
universal. Isso fica bastante evidente em vários trabalhos de pesquisas empreendidos por
cientistas preconceituosos que descreveram a África como um continente eternamente pré-
histórico, bárbaro, cujos habitantes, no geral, se apresentam como seres bestiais, incapazes
de construir ou transmitir conhecimentos relevantes. Para Hengel (1956 apud NASCIMEN-
TO,1994, p.91-96), por exemplo: a África seria “ uma terra da criancice, que jaz além do dia da
história consciente, envolvida na manta escura da noite”. Hengel conclui que “ entre os ne-
gros, os sentimentos morais são extremamente fracos, ou melhor dizendo, inexistentes”. Pelo
exposto, não resta dúvida a respeito da dificuldade dos pesquisadores anti-racistas em
desconstruir essa falsa impressão a respeito dos povos africanos e da diáspora, sobretudo no
ambiente acadêmico ( estruturado sobre parâmetros também eurocêntricos).
O movimento de revisão e contestação científica dessa “ suposta história oficial da huma-
nidade” deve tributos a cientistas e historiadores como Cheick Anta Diop, Theophile Obenga,
Molefi K. Asante, Ivan Van Sertima, George G.M. James, Kabengele Munanga, Elisa Larkin
Nascimento, Carlos Comitini, Helena Teodoro Lopes, Sueli Carneiro, Nei Lopes e outros. O
mérito reside justamente no fato de terem desafiado acadêmicos eurocêntricos (historiadores
que têm como referência o tradicional modo europeu de observar a história) a uma reflexão a
respeito de a quem se deve realmente creditar a primazia do nascimento da humanidade e do
processo civilizatório, além de questionar os parâmetros preconceituosos de análise histórica,
ainda vigentes no meio acadêmico em relação aos povos africanos e da diáspora.
6
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
Esses importantes estudos, aos poucos, não só têm tomado campo nas universida-
des brasileiras, mas, principalmente, têm instrumentalizado militantes, especialmente edu-
cadores negros e negras que desenvolvem atividades em movimentos sociais em prol da
cidadania da população negra no Brasil. Essa mudança de perspectiva tem sido acompa-
nhada de conquistas importantes, como é o caso da recente aprovação da Lei 10.639, que
versa sobre o ensino da história da África nas escolas.
LEGADO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DE POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA
A MEDICINA
O título de “Pai da Medicina” atribuído ao grego Hipócrates corresponde a mais um
equívoco cometido pelo domínio europeu na descrição dos processos históricos dos outros
povos. A condição de Pai da Medicina seria mais apropriada ao cientista e clínico egípcio
Imhontep, que quase três mil anos antes de Cristo praticava quase todas as técnicas bási-
cas da medicina. O Egito possuía uma ciência médica e farmacológica sistematizada e
muito desenvolvida, cujas recentes descobertas mostram que os cientistas egípcios tiveram
a capacidade de promover cirurgias complexas como as cerebrais, de catarata ou o
engessamento de membros com ossos quebrados, conhecer substâncias cicatrizantes e
anestésicos.
O avanço da medicina foi impulsionado, principalmente, pelo desenvolvimento da
técnica de mumificação que consistia em um conjunto de procedimentos químicos e físicos
que visavam à preservação dos corpos, já que o sistema religioso no Egito pregava que,
para se alcançar a vida eterna, a alma dos mortos precisava de um corpo. A mumificação
permitiu o acesso ao interior do corpo humano e, com isso, os egípcios passaram a conhe-
cer o sistema circulatório, o funcionamento de cada órgão e a relação entre eles. O pioneirismo
dos egípcios na medicina em relação aos outros povos deve-se ao fato de que muitos povos
da época tinham a crença de que a abertura dos corpos dos mortos fosse um desrespeito
ou achavam que as almas escapariam dos corpos (como pensavam os sumérios e assírios).
Essas conquistas da medicina egípcia estão registradas em “ papiros médicos” encontrados
em sítios arqueológicos no Egito. Esses documentos descreviam com detalhes procedi-
mentos médicos - “O batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta” (texto
extraído de papiro datado de 1550 a.C.).
Outra característica da medicina desenvolvida pelos egípcios foi a especialização que
possibilitou o desenvolvimento, por exemplo, da odontologia que, naquela época, já usava
brocas e praticava os procedimentos de colocação de prótese e drenagem de abscessos.
Os métodos contraceptivos também já eram do conhecimento dos egípcios. O papiro
Ebers relata que “para permitir à mulher cessar de conceber por um, dois ou três anos:
partes iguais de acácia, caroba e tâmaras; moer junto com um henu de mel, um emplastro
7
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
é molhado nele e colocado em sua carne.” Um “henu” equivale a cerca de 450 mililitros. Até
a gravidez poderia ser prevista com testes de urina3
.
Ilustração Rogério Nunes (SUPER INTERESSANTE, 2003, p. 48).
Os relatos acima demonstram o potencial de um povo negro africano. E para que
não tenhamos dúvidas a respeito da origem desse povo tão desenvolvido vejamos o de-
poimento do grego Heródoto que é tido como o “Pai da História”, no capítulo XXII, do II
livro da sua obra que fala da origem do Nilo, ele diz que na região por onde este corre é “o
calor tão intenso que torna os homens negros”. Esse comentário é importante para a
afirmação dos povos negros, enquanto capazes de edificar uma sociedade como a egíp-
cia e desqualificar algumas produções Holliwoodianas que embranqueciam a origem dos
africanos antigos a ponto de inserir com bastante naturalidade a figura de Elizabete Taylor
e outros artistas brancos como artistas principais interpretando egípcios “legítimos”, en-
quanto, aos negros era reservado o papel de figurante. O que dava a impressão de serem
resultado da migrações de países africanos vizinhos. Reforçando a tese do povoamento
de uma suposta raça branca que teria fundado o Egito e, portanto, tributária de todas as
conquistas científicas e tecnológicas desse país.
O avanço no campo da medicina também foi constatado em outras partes do conti-
nente africano. Um exemplo bastante interessante é mencionado por VAN SERTIMA(1983),
segundo ele, R.W.Felkin, cirurgião inglês que visitava em 1879 a região africana que hoje
3 Para saber mais consulte a revista Super Interessante (edição 191, agosto de 2003).
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Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
compreende Uganda, testemunhou e registrou uma cesariana feita por médicos do povo
Banyoro, demonstrando profundo conhecimento dos conceitos e técnicas de assepsia,
anestesia, hemostasia, cauterização, e outros. Essa descrição demonstra o equívoco que é
classificar como magia ou curandeirismo o conhecimento acumulado por esses povos afri-
canos. O tratamento desrespeitoso das produções cinematográficas aliado à paixão pelo
exótico de alguns historiadores europeus prejudicou, em muito, a concepção, pelo público,
da existência de uma medicina objetiva, científica e eficaz na África.
ASTRONOMIA
Nesse campo do conhecimento é interessante citar as contribuições dos antigos
africanos da nação Dogon, situados na região do antigo Mali. Eles já tinham conhecimento
da existência do “pequenino satélite da estrela Sirius, o Sirius B, invisível a olho nu. Denomi-
navam-no Potolo, e desenhavam, com exata precisão, a sua órbita em torno de Sírius.
Reproduziam a sua trajetória em desenhos que conferem precisamente com a órbita obser-
vada pela astronomia moderna. Ainda mais conhecedores de oitenta e seis elementos fun-
damentais, os Dogon sabem identificar as propriedades do metal que compõe o satélite,
que chamavam sagala, mais brilhante que o ferro e tão pesado que todos os seres terres-
tres juntos não seriam capazes de levantá-lo. No período de um ano, Sirius B roda uma vez
em torno de seu próprio eixo, evento celebrado pelos Dogon com o festival bado. Esta
rotação ainda não é conhecida dos astrônomos modernos, que, no entanto, já confirmaram
a órbita de cinqüenta anos que os Dogon constataram para outra estrela que órbita Sirius.
Enfim, nas palavras de um cientista ocidental, os Dogon conhecem, sem apoio de qualquer
instrumento da ciência moderna, coisas que “não têm o menor direito de saber” (Brecher
1977). Amplamente documentado, porém, pelos antropólogos franceses Marcel Griaule e
Germaine Dieterlen e outros, o conhecimento dos Dogon efetivamente ultrapassa em muito
aquilo que, de acordo com os cânones da ciência ocidental eurocentrista, essa “ tribo primi-
tiva” poderia saber” (NASCIMENTO, 1994, p.27).
Os egípcios, por sua vez, constataram há quatro milênios que, a cada 1461 anos,
sempre no mesmo dia, a brilhante estrela Sirius se encontrava no mesmo lugar em que o
Sol nascia. O interesse dos egípcios por Sirius se justificava, também, porque ela assinala-
va a data mais importante para eles: quando ela nascia a leste, anunciava a enchente do rio
Nilo, cujo lodo fertilizava os campos e assegurava farta colheita.
A respeito do estado avançado da astronomia dos africanos egípcios é interessante
termos mais uma vez o depoimento de Heródoto, o “ Pai da História” . Nascimento,(1994,
p.27) afirma que segundo Heródoto(século IV aC):
[...] todos são unânimes em afirmar que os egípcios foram os primeiros a estabe-
9
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
lecer a noção de ano, dividindo este em doze partes, segundo o conhecimento
que possuíam dos astros. Parece-me serem eles nisso muito mais hábeis do que
os gregos, que, para conservar a ordem das estações, acrescentam ao começo
do terceiro ano um mês intercalado, enquanto os egípcios fazem cada mês de
trinta dias, acrescentando a todos os anos cinco dias mais [...].
ENGENHARIA, ARQUITETURA E MATEMÁTICA
A riqueza das realizações tecnológicas dos povos africanos é muito bem documenta-
da na obra Black in Science: ancient and modern de Van Sertima (1983). O autor cita, por
exemplo, os resultados da experiência dos professores de antropologia Peter Schimidt e o
professor de engenharia Donald Avery (ambos da Universidade de Brown, Estados Unidos),
no continente africano. Em 1978, esses pesquisadores anunciaram que tomaram ciência da
tecnologia usada pelo povo Haya (povo de fala banto, habitante de uma região da Tanzânia
perto do Lago Vitória) entre 1500-2000 anos atrás, para produzirem aço em fornos que
atingiam temperaturas mais altas que os fornos europeus fossem capazes (200ºC a 400ºC
de diferença) até o século XIX. “O professor Peter Schmidt conseguiu reproduzir, junto com
Na foto, parte do muro de um “templos” da Gran-
de Zimbábue, que integra um conjunto gigantesco de
ruínas de pedra e que foi edificado a partir do século IX
por povos bantos da nação Xona, construtora do fabulo-
so e legendário império do Monopata, que resistiu à do-
minação dos portugueses até 1880. Foto: Van Sertima
(1983).
Desenho, em escala, da curva cuja definição está
indicada no diagrama egípcio ao lado. Desenhos: Van
Sertima (1983, p. 77).
10
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
os Haya a antiga tecnologia de fundição, a partir da tradição oral guardada pelos anciões,
capazes de resgatar e reconstituir as técnicas antigas de engenharia”. (SHORE, 1983 apud
NASCIMENTO, 1994, p.27).
Essa tecnologia não se restringiu ao Lago Vitória. Outras investigações constataram
que essa tecnologia metalúrgica difundiu-se em outras áreas como Ruanda e Uganda.
Outra obra de engenharia bastante impressionante pelos seus recursos tecnológicos
são as ruínas da muralha do complexo urbano do Grande Zimbábue. Nessa monumental
construção as pedras são colocadas uma em cima da outra, sem cimento, de forma seme-
lhante às construções dos sítios históricos do Peru (Macchu Picchu e Cuzco).
A construção das pirâmides do antigo Egito também é um exemplo da grande contri-
buição dada pelos povos africanos à engenharia e à arquitetura. A matemática envolvida
nessas construções é realmente impressionante. O uso de coordenadas retangulares para
desenhar curvas e a precisão de até 0,07º aplicada no traçado de ângulos demonstra o
avançado estágio da matemática nesse país africano.
Isso nos faz refletir sobre a apropriação ou o crédito que é dado aos gregos, como
Pitágoras e outros, a respeito do pioneirismo do desenvolvimento do conhecimento mate-
mático da geometria.
Em sua tese de doutorado, Gerdes (1985, p.46) faz referência a essa visão
eurocêntrica da história do conhecimento matemático: “As ‘histórias’ dominantes da
matemática sugerem que (quase) não houve matemática fora da Europa, ‘esquecen-
do’ de que a colonização contribuiu para a estagnação e eliminação de tradições cien-
tíficas nas Américas, África, Ásia e Austrália”.
Diagrama de um arquiteto egípcio, pro-
vavelmente da terceira dinastia. No desenho,
são utilizados coordenadas retangulares para
desenhar uma curva. Desenhos: Van Sertima
(1983, p. 77).
11
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
A NAVEGAÇÃO
A navegação também foi um ponto forte do legado dos povos africanos. No Egito, a
tecnologia naval já era suficientemente desenvolvida a ponto de terem realizado a circuna-
vegação da África cerca de 2000 anos antes do suposto pioneirismo dos Portugueses.
[...] há fortes indícios de que alguns dos louros atribuídos aos fenícios preci-
sam ser divididos com os egípcios. A vela mais antiga de que se tem notícia,
por exemplo, é egípcia e foi encontrada dobrada dentro de uma múmia em
Tebas, de cerca de 1000 a.C. Os mais antigos modelos de barcos a vela dos
fenícios de Tiro e Cartago datam do século 8 a.C. Os egípcios foram os
primeiros a projetar barcos pensando previamente no destino que eles teri-
am. Modelos militares eram diferentes dos cargueiros, que por sua vez não
se pareciam com os utilizados para lazer ou cerimônias religiosas. Eles cria-
ram os melhores barcos militares e a frota mais veloz. A chamada nau de
Quéops, com 47 metros de comprimento e datada da Quarta Dinastia (2589
a 2566 a.C.), é a mais antiga embarcação desse porte encontrada até hoje.
Num barco ainda maior, durante o governo do Necho II (610 a 595 a.C.), eles
já haviam realizado a circunavegação da África.
Quem acredita que o primeiro navegador a dobrar o cabo das Tormentas, no
sul da África, foi o português Bartolomeu Dias, em 1488, precisa rever seus
conceitos. (SUPERINTERESSANTE; 2003, p.48-49).
Na foto, a embarcação Ra I do pesquisador no-
rueguês Heyerdahl que foi construída por africanos do
Lago Chade, reproduz a mais primitiva engenharia na-
val desenvolvida pelos antigos egípcios. O Ra I fez a
travessia transatlântica , apesar de um problema técni-
co que resultou da não reprodução de uma das indica-
ções dos africanos.Foto: Van Sertima (1976).
12
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
O LEGADO CIENTÍFICO E TENOLÓGICO DOS AFRO-BRASILEIROS4
O rigor imposto pela escravidão no Brasil não foi o suficiente para destruir uma cultu-
ra milenar, como é o caso da cultura africana, que no Brasil foi reelaborada com o objetivo
de continuar orientando os seus descendentes. A ciência e a tecnologia desenvolvidas pe-
los africanos, enquanto formas de expressão de sua cultura, foram muito abaladas com o
processo escravocrata, uma vez que todo um continente foi desestruturado para saciar a
ganância dos colonizadores europeus e, nesse sentido, não foram poupadas as crianças,
os jovens, nem os adultos - bases importantes para o fluxo do conhecimento; o desenvolvi-
mento de novas idéias e a manutenção de um sistema educacional que propiciasse um
maior desenvolvimento social para os povos africanos e da diáspora.
Ao chegar no Brasil, os africanos foram inseridos como seres sem passado e tiveram
a sua condição humana negada. Considerando o aspecto emocional no desempenho
cognitivo, o que dizer das condições dadas aos africanos e afro-descendentes para produ-
zir conhecimento no contexto da sociedade escravocrata brasileira?
Mais uma vez, o “determinismo histórico” não se confirmou e em meio à sociedade
escravocrata e pós-abolicionista emergem personagens afro-brasileiros que deram contri-
buições importantíssimas para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil. Os
engenheiros André Rebouças e Teodoro Sampaio e o Médico Juliano Moreira representam
bem a superação desses afro-brasileiros.
André Rebouças, retrato a óleo de Túlio Magnaini, in A
mão Afro-brasileira, editado por TENENGE, 1988. Foto: João
Carlos Parreira Horta Araújo (1988).
André Rebouças, baiano de Cachoeira, nascido
em 1838, formou-se em engenharia, ciências físicas e
matemática, na escola Militar do Rio de Janeiro, onde
posteriormente, foi professor. Sua carreira foi marcada
por grandes conquistas tecnológicas como a constru-
ção pioneira de docas no Rio de Janeiro, na Bahia, em
Pernambuco e no Maranhão; implantou junto com seu
irmão, o também engenheiro Antônio Rebouças, o sis-
tema de abastecimento de água do Rio de Janeiro- Realizações que o posicionaram como uma
das maiores autoridades brasileiras em engenharia hidráulica. O túnel Rebouças que liga a
4 Além dos afro-brasileiros é interessante consultar o livro de C.R. Gibbs. Black Inventors from África to
América ou o livro de Ivan Van Sertima. Black in Science, Ancient and Modern.
13
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
zona Norte à zona Sul do Rio de Janeiro é uma homenagem ao seu trabalho e ao de seu irmão
pelo desenvolvimento da engenharia no Brasil.
Além da contribuição no campo científico-tecnológico, André Rebouças foi um dos
principais militantes do movimento abolicionista e responsável por diversos artigos contra a
escravidão. Foi também um estudioso da questão agrária e a sua conexão com o processo
de inclusão social dos ex-escravos, chegando a escrever um projeto de legislação que pre-
via o assentamento de ex-escravos em terras do Império e iniciativas educacionais para a
inserção desses na sociedade.
André Rebouças morreu tragicamente em 1898, na Ilha da Madeira, quando estava no
exílio, após a queda do Imperador D. Pedro II, que era seu amigo.
JULIANO MOREIRA
Nascido em Salvador, em 1873, Juliano Moreira foi uma grande referência da medici-
na brasileira. Formou-se em medicina e cirurgia em 1891, doutorando-se com a tese “
Etiologia da Sífilis Maligna Precose”, ganhando nota máxima da banca examinadora da facul-
dade da Bahia, onde foi, durante algum tempo, professor assistente de clínica médica. No Rio
de Janeiro, foi nomeado diretor do Hospital
Nacional dos Alienados. Com seus esforços
junto ao Ministério do Interior conseguiu a apro-
vação de uma lei de assistência aos doentes
mentais. Realizou uma grande reforma no Hos-
pital Nacional, renovando-o, ampliando-o e apli-
cando métodos inovadores no tratamento psi-
quiátrico. Por esse trabalho foi nomeado dire-
tor geral da assistência a psicopatas onde per-
maneceu por vinte e oito anos.
Juliano Moreira. Foto Reprodução: E. Bieber, co-
leção IHGB-RJ Araújo (1988).
Sua atuação no campo da pesquisa cien-
tífica foi notável: na Sociedade de Medicina e
Cirurgia Baiana, nascida por sua inspiração,
pesquisou sobre doenças como o botão
endêmico ou botão-de-Biska, doença endêmica crônica, de tipo granulomatoso e ulcerativo,
observada principalmente no norte da África, daí seu segundo nome, alusão a uma cidade
da Argélia. Sua pesquisa ajudou na identificação dessa doença no Brasil.
14
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
Juliano Moreira, durante sua brilhante carreira intelectual, publicou mais de uma centena
de títulos entre trabalhos científicos e de outra natureza, temos em destaque: Assistência aos
Alienados no Brasil (1906), Lês maladies mentales au Brésil (1907), A contribution to the study
of dementia paralítica in Brazil (1907) e A evolução da medicina brasileira (1908).
Seus trabalhos tiveram reconhecimento internacional. Juliano Moreira foi membro de
inúmeras instituições científicas internacionais como: a Antropolegische Gesellchaft, de Mu-
nique; a Société de Médicine, de Paris; a Médico-Legal Society, de Nova York; e a Médico-
Psychological Association, de Londres.
O Hospital Colonial Juliano Moreira, em Jacarepaguá, é uma homenagem à trajetória
vitoriosa desse afro-brasileiro em prol da medicina no Brasil.
TEODORO SAMPAIO
Nascido em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, em 1855, filho da escrava Domingas
da Paixão e do senhor de engenho Francisco Antônio da Costa Pinto, pai que nunca o
legitimou. Na falta do pai, sua instrução foi assumida pelo tio, comendador Manuel Lopes
da Costa Pinto, que o enviou para São Paulo e, posterior-
mente, para um colégio interno (Colégio São Salvador) no
Rio de Janeiro.
No ano de 1877, aos 22 anos de idade, Teodoro
Sampaio forma-se na recém-criada Escola Politécnica
Fluminense, fazendo-se sócio do Instituto Politécnico Brasi-
leiro, ao mesmo tempo que retorna a Salvador para comprar
a alforria da mãe escrava. Posteriormente ele, radica-se em
São Paulo, onde inicia a carreira profissional de engenheiro
civil.
Teodoro Sampaio, fotografia Plus Ultra, 1937, Foto: coleção
IHGB-RJ Reprodução: João Carlos Parreira Horta. Araújo (1988).
Natrajetóriadesseimportanteintelectualbrasileirocons-
tam: a reconstrução do velho prédio da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus em Salva-
dor; a sua eleição como Deputado Federal; a publicação de obras importantes como O Tupi na
geografia nacional (1901), Atlas dos Estados Unidos do Brasil (1908), A posse do Brasil Meridi-
onal, e outros. Sua nomeação para diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
recém-inaugurada Universidade de São Paulo (USP) foi muito importante para o fortalecimento
da principal universidade do país, uma vez que foi responsável pela vinda de grandes intelectuais
internacionais para compor o corpo docente da USP.
15
Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha
Ao apresentarmos um breve histórico das conquistas tecnológicas e científicas dos povos
e indivíduos africanos e afro-brasileiros esperamos que esses exemplos estimulem os profissi-
onais de educação a utilizar as referências históricas da população africana e da diáspora para
encorajar os estudantes negros e negras e não negros a terem orgulho das contribuições do
negro para a construção do nosso país, transcendendo a tradicional referência aos elementos
culturais (culinária, dança, música e linguagem) as quais, apesar da importância, não foram as
únicas expressões da capacidade intelectual dos povos africanos que foram trazidos para este
país; se estabeleceram e deram também sustentação técnica e econômica à sociedade Brasi-
leira.
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05 contribuicao povos-africanos técnicas

  • 1. Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal Lázaro Cunha
  • 2.
  • 3. 3 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha CONTRIBUIÇÃO DOS POVOS AFRICANOS PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO UNIVERSAL O estudo e o acompanhamento do processo histórico da população africana e afro- brasileira é muito mais que uma gratidão aos milhões de mulheres e homens que fornece- ram as bases culturais e técnicas para a emersão do que hoje chamamos nação brasileira. Essa atitude se configura em uma ação inteligente de quem deseja para o país a promoção de um desenvolvimento social sustentável. Uma vez que, a essa temática estão associadas questões fundamentais como: o nível de respeito que os brasileiros e brasileiras têm de si mesmos, em face da história de seu país e da capacidade desse povo de promover as mudanças necessárias para atingirem um maior equilíbrio social e econômico. Com efeito, um sistema educacional que realmente pretende fornecer as bases para esse desenvolvi- mento precisa possibilitar aos seus estudantes o conhecimento do seu próprio povo, sob pena de não gerar nesses estudantes auto-estima suficiente para fortalecê-los perante os desafios da vida, para a concretização dos empreendimentos para o desenvolvimento social. UM BREVE HISTÓRICO DAS CONTRIBUIÇÕES DOS POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO UNIVERSAL Se considerarmos que a ciência e a tecnologia são campos do conhecimento utiliza- dos, em essência, na compreensão e manejo do ambiente que nos cerca, podemos depreender que todos os povos, em seus mais remotos momentos históricos, foram dota- dos de conhecimento científico e tecnológico (apresentando entre si peculiaridades quanto a conceitos, objetivos e métodos empregados) para atender aos níveis de complexidade de suas sociedades. O desenvolvimento das nações nessas áreas do conhecimento deve-se, principalmente, às particularidades dos seus processos históricos e culturais. Isso não está relacionado com maior ou menor grau de inteligência ou aptidão de certos agrupamentos humanos. É interessante enfatizar essa questão para dissiparmos teorias racistas a respei- to da suposta inferioridade de determinados grupos humanos em relação a outros no que se refere à capacidade cognitiva para empreender o desenvolvimento em suas sociedades. No ano de 1758, o botânico sueco Carolus Linnaeus - o responsável pela criação do atual sistema de classificação dos seres vivos - deu à humanidade o nome científico de Homo sapiens e a classificou em quatro subespécies: os vermelhos americanos, “geniosos, despreocupados e livres”; os amarelos asiáticos, “severos e ambiciosos”; os negros africa- nos, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos europeus, evidentemente, “ativos, inteligentes e
  • 4. 4 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha engenhosos”. Em 1855 - Arthur Gobineau escreveu o Ensaio Sobre a Desigualdade da Raça Humana, que é tido como a bíblia do racismo moderno, e que considera que a misci- genação é a causa da decadência das nações. No Brasil, o médico Raimundo Nina Rodrigues foi discípulo de Gobineau, e considerava, por exemplo, que os rituais de candomblé eram uma patologia dos negros. Esses trabalhos acadêmicos demonstram o papel social da ciência, enquanto instru- mento de legitimação de políticas racistas que ajudaram a consolidar uma sociedade que cultua uma hierarquização racial e que, no Brasil, adicionado à teoria da democracia racial de Gilberto Freyre, contribuiu para a manutenção do atual quadro de desigualdades raciais. Apesar dessas teorias terem perdido suas validades científicas, elas continuam ten- do um fortíssimo efeito na sociedade, a ponto de criar modelos mentais que identificam os negros e índios como seres inferiores, os quais foram “resgatados pelo pioneirismo do des- cobrimento e a benevolência das campanhas religiosas dos europeus portugueses”. Ao discutirmos “ As contribuições dos povos africanos e da diáspora para o conheci- mento científico e tecnológico universal”, faremos uma exposição em torno de algumas das principais conquistas científicas e tecnológicas dos africanos e afro-brasileiros e divulgare- mos alguns dos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores que promoveram uma valiosíssima reconstituição científica da história do continente africano e da diáspora. Dese- jamos com isso, disponibilizar algumas informações que ajudem na reflexão a respeito do papel dos povos africanos e da diáspora no contexto do desenvolvimento local (Brasil) e global da Humanidade, entendendo que isso será fundamental para que os jovens estudan- tes e professores, leitores desse texto, passem a ter uma imagem positiva e mais verdadei- ra em relação à população negra1 . Segmento populacional majoritário em estados como a Bahia e que corresponde a cerca de 46% da população brasileira. O EUROCENTRISMO NA HISTÓRIA DA CIÊNCIA As grandes distorções históricas a respeito do legado cultural e científico dos povos africanos e afro-descendentes resultam principalmente da predominância do eurocentrismo na história oficial. E a classificação do eurocentrismo como um “simples etnocentrismo”2 ( fenômeno universal que expressa a tendência de um indivíduo ou grupo humano em pautar a compreensão do mundo a partir do seu ponto de vista, centro ou referência) aplicado aos europeus se constitui em um equívoco e uma minimização do seu papel, pois, segundo 1 Consideramos nesse grupo os tidos como pardos. 2 Segundo Elisa Larkin Nascimento, o conceito de etnocentrismo originou-se na antropologia que, estu- dando grupos humanos pequenos e “primitivos”, aplicou-lhe o termo.
  • 5. 5 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha Nascimento (1994), o eurocentrismo possui três características fundamentais que o diferen- ciam do sentido original do etnocentrismo: a) o eurocentrismo não está associado ou restrito a uma só etnia, pois existem inúmeros grupos étnicos na Europa; b) como ideologia, o eurocentrismo abstrai os elementos comuns a muitos gru- pos e articula uma visão generalizada, a partir de suas referências históricas clássicas: grega e romana; c) a conjunção violência e falsificação histórica, que o eurocentrismo fez uso para se impor enquanto referencial universal à humanidade. Essa iniciativa, de fato, deu suporte à afirmação da suposta superioridade física, econômica, religi- osa e social dos grupos étnicos europeus perante os outros grupos étnicos. A negação do passado científico e tecnológico dos povos africanos e a exacerbação do seu “caráter lúdico” foi uma das principais façanhas do eurocentrismo e que ainda hoje abala fortemente a auto-estima da população africana e da diáspora, pois os “métodos”, “conceitos” e muitos cientistas europeus deram a impressão ao restante do mundo, de que as popula- ções africanas não tiveram uma contribuição relevante para a construção do conhecimento universal. Isso fica bastante evidente em vários trabalhos de pesquisas empreendidos por cientistas preconceituosos que descreveram a África como um continente eternamente pré- histórico, bárbaro, cujos habitantes, no geral, se apresentam como seres bestiais, incapazes de construir ou transmitir conhecimentos relevantes. Para Hengel (1956 apud NASCIMEN- TO,1994, p.91-96), por exemplo: a África seria “ uma terra da criancice, que jaz além do dia da história consciente, envolvida na manta escura da noite”. Hengel conclui que “ entre os ne- gros, os sentimentos morais são extremamente fracos, ou melhor dizendo, inexistentes”. Pelo exposto, não resta dúvida a respeito da dificuldade dos pesquisadores anti-racistas em desconstruir essa falsa impressão a respeito dos povos africanos e da diáspora, sobretudo no ambiente acadêmico ( estruturado sobre parâmetros também eurocêntricos). O movimento de revisão e contestação científica dessa “ suposta história oficial da huma- nidade” deve tributos a cientistas e historiadores como Cheick Anta Diop, Theophile Obenga, Molefi K. Asante, Ivan Van Sertima, George G.M. James, Kabengele Munanga, Elisa Larkin Nascimento, Carlos Comitini, Helena Teodoro Lopes, Sueli Carneiro, Nei Lopes e outros. O mérito reside justamente no fato de terem desafiado acadêmicos eurocêntricos (historiadores que têm como referência o tradicional modo europeu de observar a história) a uma reflexão a respeito de a quem se deve realmente creditar a primazia do nascimento da humanidade e do processo civilizatório, além de questionar os parâmetros preconceituosos de análise histórica, ainda vigentes no meio acadêmico em relação aos povos africanos e da diáspora.
  • 6. 6 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha Esses importantes estudos, aos poucos, não só têm tomado campo nas universida- des brasileiras, mas, principalmente, têm instrumentalizado militantes, especialmente edu- cadores negros e negras que desenvolvem atividades em movimentos sociais em prol da cidadania da população negra no Brasil. Essa mudança de perspectiva tem sido acompa- nhada de conquistas importantes, como é o caso da recente aprovação da Lei 10.639, que versa sobre o ensino da história da África nas escolas. LEGADO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO DE POVOS AFRICANOS E DA DIÁSPORA A MEDICINA O título de “Pai da Medicina” atribuído ao grego Hipócrates corresponde a mais um equívoco cometido pelo domínio europeu na descrição dos processos históricos dos outros povos. A condição de Pai da Medicina seria mais apropriada ao cientista e clínico egípcio Imhontep, que quase três mil anos antes de Cristo praticava quase todas as técnicas bási- cas da medicina. O Egito possuía uma ciência médica e farmacológica sistematizada e muito desenvolvida, cujas recentes descobertas mostram que os cientistas egípcios tiveram a capacidade de promover cirurgias complexas como as cerebrais, de catarata ou o engessamento de membros com ossos quebrados, conhecer substâncias cicatrizantes e anestésicos. O avanço da medicina foi impulsionado, principalmente, pelo desenvolvimento da técnica de mumificação que consistia em um conjunto de procedimentos químicos e físicos que visavam à preservação dos corpos, já que o sistema religioso no Egito pregava que, para se alcançar a vida eterna, a alma dos mortos precisava de um corpo. A mumificação permitiu o acesso ao interior do corpo humano e, com isso, os egípcios passaram a conhe- cer o sistema circulatório, o funcionamento de cada órgão e a relação entre eles. O pioneirismo dos egípcios na medicina em relação aos outros povos deve-se ao fato de que muitos povos da época tinham a crença de que a abertura dos corpos dos mortos fosse um desrespeito ou achavam que as almas escapariam dos corpos (como pensavam os sumérios e assírios). Essas conquistas da medicina egípcia estão registradas em “ papiros médicos” encontrados em sítios arqueológicos no Egito. Esses documentos descreviam com detalhes procedi- mentos médicos - “O batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta” (texto extraído de papiro datado de 1550 a.C.). Outra característica da medicina desenvolvida pelos egípcios foi a especialização que possibilitou o desenvolvimento, por exemplo, da odontologia que, naquela época, já usava brocas e praticava os procedimentos de colocação de prótese e drenagem de abscessos. Os métodos contraceptivos também já eram do conhecimento dos egípcios. O papiro Ebers relata que “para permitir à mulher cessar de conceber por um, dois ou três anos: partes iguais de acácia, caroba e tâmaras; moer junto com um henu de mel, um emplastro
  • 7. 7 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha é molhado nele e colocado em sua carne.” Um “henu” equivale a cerca de 450 mililitros. Até a gravidez poderia ser prevista com testes de urina3 . Ilustração Rogério Nunes (SUPER INTERESSANTE, 2003, p. 48). Os relatos acima demonstram o potencial de um povo negro africano. E para que não tenhamos dúvidas a respeito da origem desse povo tão desenvolvido vejamos o de- poimento do grego Heródoto que é tido como o “Pai da História”, no capítulo XXII, do II livro da sua obra que fala da origem do Nilo, ele diz que na região por onde este corre é “o calor tão intenso que torna os homens negros”. Esse comentário é importante para a afirmação dos povos negros, enquanto capazes de edificar uma sociedade como a egíp- cia e desqualificar algumas produções Holliwoodianas que embranqueciam a origem dos africanos antigos a ponto de inserir com bastante naturalidade a figura de Elizabete Taylor e outros artistas brancos como artistas principais interpretando egípcios “legítimos”, en- quanto, aos negros era reservado o papel de figurante. O que dava a impressão de serem resultado da migrações de países africanos vizinhos. Reforçando a tese do povoamento de uma suposta raça branca que teria fundado o Egito e, portanto, tributária de todas as conquistas científicas e tecnológicas desse país. O avanço no campo da medicina também foi constatado em outras partes do conti- nente africano. Um exemplo bastante interessante é mencionado por VAN SERTIMA(1983), segundo ele, R.W.Felkin, cirurgião inglês que visitava em 1879 a região africana que hoje 3 Para saber mais consulte a revista Super Interessante (edição 191, agosto de 2003).
  • 8. 8 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha compreende Uganda, testemunhou e registrou uma cesariana feita por médicos do povo Banyoro, demonstrando profundo conhecimento dos conceitos e técnicas de assepsia, anestesia, hemostasia, cauterização, e outros. Essa descrição demonstra o equívoco que é classificar como magia ou curandeirismo o conhecimento acumulado por esses povos afri- canos. O tratamento desrespeitoso das produções cinematográficas aliado à paixão pelo exótico de alguns historiadores europeus prejudicou, em muito, a concepção, pelo público, da existência de uma medicina objetiva, científica e eficaz na África. ASTRONOMIA Nesse campo do conhecimento é interessante citar as contribuições dos antigos africanos da nação Dogon, situados na região do antigo Mali. Eles já tinham conhecimento da existência do “pequenino satélite da estrela Sirius, o Sirius B, invisível a olho nu. Denomi- navam-no Potolo, e desenhavam, com exata precisão, a sua órbita em torno de Sírius. Reproduziam a sua trajetória em desenhos que conferem precisamente com a órbita obser- vada pela astronomia moderna. Ainda mais conhecedores de oitenta e seis elementos fun- damentais, os Dogon sabem identificar as propriedades do metal que compõe o satélite, que chamavam sagala, mais brilhante que o ferro e tão pesado que todos os seres terres- tres juntos não seriam capazes de levantá-lo. No período de um ano, Sirius B roda uma vez em torno de seu próprio eixo, evento celebrado pelos Dogon com o festival bado. Esta rotação ainda não é conhecida dos astrônomos modernos, que, no entanto, já confirmaram a órbita de cinqüenta anos que os Dogon constataram para outra estrela que órbita Sirius. Enfim, nas palavras de um cientista ocidental, os Dogon conhecem, sem apoio de qualquer instrumento da ciência moderna, coisas que “não têm o menor direito de saber” (Brecher 1977). Amplamente documentado, porém, pelos antropólogos franceses Marcel Griaule e Germaine Dieterlen e outros, o conhecimento dos Dogon efetivamente ultrapassa em muito aquilo que, de acordo com os cânones da ciência ocidental eurocentrista, essa “ tribo primi- tiva” poderia saber” (NASCIMENTO, 1994, p.27). Os egípcios, por sua vez, constataram há quatro milênios que, a cada 1461 anos, sempre no mesmo dia, a brilhante estrela Sirius se encontrava no mesmo lugar em que o Sol nascia. O interesse dos egípcios por Sirius se justificava, também, porque ela assinala- va a data mais importante para eles: quando ela nascia a leste, anunciava a enchente do rio Nilo, cujo lodo fertilizava os campos e assegurava farta colheita. A respeito do estado avançado da astronomia dos africanos egípcios é interessante termos mais uma vez o depoimento de Heródoto, o “ Pai da História” . Nascimento,(1994, p.27) afirma que segundo Heródoto(século IV aC): [...] todos são unânimes em afirmar que os egípcios foram os primeiros a estabe-
  • 9. 9 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha lecer a noção de ano, dividindo este em doze partes, segundo o conhecimento que possuíam dos astros. Parece-me serem eles nisso muito mais hábeis do que os gregos, que, para conservar a ordem das estações, acrescentam ao começo do terceiro ano um mês intercalado, enquanto os egípcios fazem cada mês de trinta dias, acrescentando a todos os anos cinco dias mais [...]. ENGENHARIA, ARQUITETURA E MATEMÁTICA A riqueza das realizações tecnológicas dos povos africanos é muito bem documenta- da na obra Black in Science: ancient and modern de Van Sertima (1983). O autor cita, por exemplo, os resultados da experiência dos professores de antropologia Peter Schimidt e o professor de engenharia Donald Avery (ambos da Universidade de Brown, Estados Unidos), no continente africano. Em 1978, esses pesquisadores anunciaram que tomaram ciência da tecnologia usada pelo povo Haya (povo de fala banto, habitante de uma região da Tanzânia perto do Lago Vitória) entre 1500-2000 anos atrás, para produzirem aço em fornos que atingiam temperaturas mais altas que os fornos europeus fossem capazes (200ºC a 400ºC de diferença) até o século XIX. “O professor Peter Schmidt conseguiu reproduzir, junto com Na foto, parte do muro de um “templos” da Gran- de Zimbábue, que integra um conjunto gigantesco de ruínas de pedra e que foi edificado a partir do século IX por povos bantos da nação Xona, construtora do fabulo- so e legendário império do Monopata, que resistiu à do- minação dos portugueses até 1880. Foto: Van Sertima (1983). Desenho, em escala, da curva cuja definição está indicada no diagrama egípcio ao lado. Desenhos: Van Sertima (1983, p. 77).
  • 10. 10 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha os Haya a antiga tecnologia de fundição, a partir da tradição oral guardada pelos anciões, capazes de resgatar e reconstituir as técnicas antigas de engenharia”. (SHORE, 1983 apud NASCIMENTO, 1994, p.27). Essa tecnologia não se restringiu ao Lago Vitória. Outras investigações constataram que essa tecnologia metalúrgica difundiu-se em outras áreas como Ruanda e Uganda. Outra obra de engenharia bastante impressionante pelos seus recursos tecnológicos são as ruínas da muralha do complexo urbano do Grande Zimbábue. Nessa monumental construção as pedras são colocadas uma em cima da outra, sem cimento, de forma seme- lhante às construções dos sítios históricos do Peru (Macchu Picchu e Cuzco). A construção das pirâmides do antigo Egito também é um exemplo da grande contri- buição dada pelos povos africanos à engenharia e à arquitetura. A matemática envolvida nessas construções é realmente impressionante. O uso de coordenadas retangulares para desenhar curvas e a precisão de até 0,07º aplicada no traçado de ângulos demonstra o avançado estágio da matemática nesse país africano. Isso nos faz refletir sobre a apropriação ou o crédito que é dado aos gregos, como Pitágoras e outros, a respeito do pioneirismo do desenvolvimento do conhecimento mate- mático da geometria. Em sua tese de doutorado, Gerdes (1985, p.46) faz referência a essa visão eurocêntrica da história do conhecimento matemático: “As ‘histórias’ dominantes da matemática sugerem que (quase) não houve matemática fora da Europa, ‘esquecen- do’ de que a colonização contribuiu para a estagnação e eliminação de tradições cien- tíficas nas Américas, África, Ásia e Austrália”. Diagrama de um arquiteto egípcio, pro- vavelmente da terceira dinastia. No desenho, são utilizados coordenadas retangulares para desenhar uma curva. Desenhos: Van Sertima (1983, p. 77).
  • 11. 11 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha A NAVEGAÇÃO A navegação também foi um ponto forte do legado dos povos africanos. No Egito, a tecnologia naval já era suficientemente desenvolvida a ponto de terem realizado a circuna- vegação da África cerca de 2000 anos antes do suposto pioneirismo dos Portugueses. [...] há fortes indícios de que alguns dos louros atribuídos aos fenícios preci- sam ser divididos com os egípcios. A vela mais antiga de que se tem notícia, por exemplo, é egípcia e foi encontrada dobrada dentro de uma múmia em Tebas, de cerca de 1000 a.C. Os mais antigos modelos de barcos a vela dos fenícios de Tiro e Cartago datam do século 8 a.C. Os egípcios foram os primeiros a projetar barcos pensando previamente no destino que eles teri- am. Modelos militares eram diferentes dos cargueiros, que por sua vez não se pareciam com os utilizados para lazer ou cerimônias religiosas. Eles cria- ram os melhores barcos militares e a frota mais veloz. A chamada nau de Quéops, com 47 metros de comprimento e datada da Quarta Dinastia (2589 a 2566 a.C.), é a mais antiga embarcação desse porte encontrada até hoje. Num barco ainda maior, durante o governo do Necho II (610 a 595 a.C.), eles já haviam realizado a circunavegação da África. Quem acredita que o primeiro navegador a dobrar o cabo das Tormentas, no sul da África, foi o português Bartolomeu Dias, em 1488, precisa rever seus conceitos. (SUPERINTERESSANTE; 2003, p.48-49). Na foto, a embarcação Ra I do pesquisador no- rueguês Heyerdahl que foi construída por africanos do Lago Chade, reproduz a mais primitiva engenharia na- val desenvolvida pelos antigos egípcios. O Ra I fez a travessia transatlântica , apesar de um problema técni- co que resultou da não reprodução de uma das indica- ções dos africanos.Foto: Van Sertima (1976).
  • 12. 12 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha O LEGADO CIENTÍFICO E TENOLÓGICO DOS AFRO-BRASILEIROS4 O rigor imposto pela escravidão no Brasil não foi o suficiente para destruir uma cultu- ra milenar, como é o caso da cultura africana, que no Brasil foi reelaborada com o objetivo de continuar orientando os seus descendentes. A ciência e a tecnologia desenvolvidas pe- los africanos, enquanto formas de expressão de sua cultura, foram muito abaladas com o processo escravocrata, uma vez que todo um continente foi desestruturado para saciar a ganância dos colonizadores europeus e, nesse sentido, não foram poupadas as crianças, os jovens, nem os adultos - bases importantes para o fluxo do conhecimento; o desenvolvi- mento de novas idéias e a manutenção de um sistema educacional que propiciasse um maior desenvolvimento social para os povos africanos e da diáspora. Ao chegar no Brasil, os africanos foram inseridos como seres sem passado e tiveram a sua condição humana negada. Considerando o aspecto emocional no desempenho cognitivo, o que dizer das condições dadas aos africanos e afro-descendentes para produ- zir conhecimento no contexto da sociedade escravocrata brasileira? Mais uma vez, o “determinismo histórico” não se confirmou e em meio à sociedade escravocrata e pós-abolicionista emergem personagens afro-brasileiros que deram contri- buições importantíssimas para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil. Os engenheiros André Rebouças e Teodoro Sampaio e o Médico Juliano Moreira representam bem a superação desses afro-brasileiros. André Rebouças, retrato a óleo de Túlio Magnaini, in A mão Afro-brasileira, editado por TENENGE, 1988. Foto: João Carlos Parreira Horta Araújo (1988). André Rebouças, baiano de Cachoeira, nascido em 1838, formou-se em engenharia, ciências físicas e matemática, na escola Militar do Rio de Janeiro, onde posteriormente, foi professor. Sua carreira foi marcada por grandes conquistas tecnológicas como a constru- ção pioneira de docas no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão; implantou junto com seu irmão, o também engenheiro Antônio Rebouças, o sis- tema de abastecimento de água do Rio de Janeiro- Realizações que o posicionaram como uma das maiores autoridades brasileiras em engenharia hidráulica. O túnel Rebouças que liga a 4 Além dos afro-brasileiros é interessante consultar o livro de C.R. Gibbs. Black Inventors from África to América ou o livro de Ivan Van Sertima. Black in Science, Ancient and Modern.
  • 13. 13 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha zona Norte à zona Sul do Rio de Janeiro é uma homenagem ao seu trabalho e ao de seu irmão pelo desenvolvimento da engenharia no Brasil. Além da contribuição no campo científico-tecnológico, André Rebouças foi um dos principais militantes do movimento abolicionista e responsável por diversos artigos contra a escravidão. Foi também um estudioso da questão agrária e a sua conexão com o processo de inclusão social dos ex-escravos, chegando a escrever um projeto de legislação que pre- via o assentamento de ex-escravos em terras do Império e iniciativas educacionais para a inserção desses na sociedade. André Rebouças morreu tragicamente em 1898, na Ilha da Madeira, quando estava no exílio, após a queda do Imperador D. Pedro II, que era seu amigo. JULIANO MOREIRA Nascido em Salvador, em 1873, Juliano Moreira foi uma grande referência da medici- na brasileira. Formou-se em medicina e cirurgia em 1891, doutorando-se com a tese “ Etiologia da Sífilis Maligna Precose”, ganhando nota máxima da banca examinadora da facul- dade da Bahia, onde foi, durante algum tempo, professor assistente de clínica médica. No Rio de Janeiro, foi nomeado diretor do Hospital Nacional dos Alienados. Com seus esforços junto ao Ministério do Interior conseguiu a apro- vação de uma lei de assistência aos doentes mentais. Realizou uma grande reforma no Hos- pital Nacional, renovando-o, ampliando-o e apli- cando métodos inovadores no tratamento psi- quiátrico. Por esse trabalho foi nomeado dire- tor geral da assistência a psicopatas onde per- maneceu por vinte e oito anos. Juliano Moreira. Foto Reprodução: E. Bieber, co- leção IHGB-RJ Araújo (1988). Sua atuação no campo da pesquisa cien- tífica foi notável: na Sociedade de Medicina e Cirurgia Baiana, nascida por sua inspiração, pesquisou sobre doenças como o botão endêmico ou botão-de-Biska, doença endêmica crônica, de tipo granulomatoso e ulcerativo, observada principalmente no norte da África, daí seu segundo nome, alusão a uma cidade da Argélia. Sua pesquisa ajudou na identificação dessa doença no Brasil.
  • 14. 14 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha Juliano Moreira, durante sua brilhante carreira intelectual, publicou mais de uma centena de títulos entre trabalhos científicos e de outra natureza, temos em destaque: Assistência aos Alienados no Brasil (1906), Lês maladies mentales au Brésil (1907), A contribution to the study of dementia paralítica in Brazil (1907) e A evolução da medicina brasileira (1908). Seus trabalhos tiveram reconhecimento internacional. Juliano Moreira foi membro de inúmeras instituições científicas internacionais como: a Antropolegische Gesellchaft, de Mu- nique; a Société de Médicine, de Paris; a Médico-Legal Society, de Nova York; e a Médico- Psychological Association, de Londres. O Hospital Colonial Juliano Moreira, em Jacarepaguá, é uma homenagem à trajetória vitoriosa desse afro-brasileiro em prol da medicina no Brasil. TEODORO SAMPAIO Nascido em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, em 1855, filho da escrava Domingas da Paixão e do senhor de engenho Francisco Antônio da Costa Pinto, pai que nunca o legitimou. Na falta do pai, sua instrução foi assumida pelo tio, comendador Manuel Lopes da Costa Pinto, que o enviou para São Paulo e, posterior- mente, para um colégio interno (Colégio São Salvador) no Rio de Janeiro. No ano de 1877, aos 22 anos de idade, Teodoro Sampaio forma-se na recém-criada Escola Politécnica Fluminense, fazendo-se sócio do Instituto Politécnico Brasi- leiro, ao mesmo tempo que retorna a Salvador para comprar a alforria da mãe escrava. Posteriormente ele, radica-se em São Paulo, onde inicia a carreira profissional de engenheiro civil. Teodoro Sampaio, fotografia Plus Ultra, 1937, Foto: coleção IHGB-RJ Reprodução: João Carlos Parreira Horta. Araújo (1988). Natrajetóriadesseimportanteintelectualbrasileirocons- tam: a reconstrução do velho prédio da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus em Salva- dor; a sua eleição como Deputado Federal; a publicação de obras importantes como O Tupi na geografia nacional (1901), Atlas dos Estados Unidos do Brasil (1908), A posse do Brasil Meridi- onal, e outros. Sua nomeação para diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da recém-inaugurada Universidade de São Paulo (USP) foi muito importante para o fortalecimento da principal universidade do país, uma vez que foi responsável pela vinda de grandes intelectuais internacionais para compor o corpo docente da USP.
  • 15. 15 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha Ao apresentarmos um breve histórico das conquistas tecnológicas e científicas dos povos e indivíduos africanos e afro-brasileiros esperamos que esses exemplos estimulem os profissi- onais de educação a utilizar as referências históricas da população africana e da diáspora para encorajar os estudantes negros e negras e não negros a terem orgulho das contribuições do negro para a construção do nosso país, transcendendo a tradicional referência aos elementos culturais (culinária, dança, música e linguagem) as quais, apesar da importância, não foram as únicas expressões da capacidade intelectual dos povos africanos que foram trazidos para este país; se estabeleceram e deram também sustentação técnica e econômica à sociedade Brasi- leira. BIBLIOGRAFIA ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Edi- ções Loyola, 2000. BAIARDI, Amílcar. Sociedade e Estado no apoio à ciência e à tecnologia: uma análise histórica. São Paulo: Hucitec,1996. COMITINI, Carlos. África: O povo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982. D’ AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996. DIAMOND, Jared M. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2002. GERDES, Paulus. Sobre o despertar do pensamento geométrico. Curitiba: Editora da Ufpr, 1992. GRINSPUN, Mírian P. S. Zippin (Org.). Educação tecnológica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez,1999. JAMES, George G.M. Stolen Legacy, Greek Philosophy is Stolen Egyptian Philosophy. Trenton, New Jersey: Africa World Press,1992 KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1995. MAYOR, Frederico; FORTI, Augusto. Ciência e poder. Brasília: Unesco, 1998. NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Sankofa: resgate da cultura afro-brasileira. Rio de Ja- neiro: Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileira (SEAFRO), 1994. v.1. VAN SERTIMA, Ivan (Org.). Black in science, ancient and modern. New Brunswick (EUA); Oxford (RU): Transaction Books, 1983. ______. They came before columbus. New york: Random House, 1976.
  • 16. 16 Contribuição dos povos africanos para o conhecimento científico e tecnológico universal - Lázaro Cunha