O documento descreve o papado de Gregório Magno no século VI, considerado o primeiro papa medieval. Ele aumentou o poder do bispo de Roma, expandiu o cristianismo na Inglaterra através da missão de Agostinho e enfrentou desafios do avanço do Islã no período.
História da Igreja I: Aula 8: Império e Cristianismo Latino Teutônico (1/2)
1. Império e Cristianismo latino-teutônico
Surgimento e desenvolvimento
História Eclesiástica I
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Idade Média
Escolha normal: 476 (queda do Império do Ocidente) a 1453 (queda do
Império do Oriente).
Escolha do autor: 590 (ascensão de Gregório Magno) a 1517 (Reforma).
Termo usado primeiramente por Christopher Kellner (1634-1680) em livro
publicado em torno de 1669, dividindo a história em três períodos: Antiga,
que acabava em 325, Moderna, a partir de 1453, quando a queda de
Constantinopla gerou um influxo de eruditos e manuscritos gregos, e a Idade
Média, entre as duas, por conta da aparente esterilidade intelectual e
ausência de cultura clássica. Somente os 500 primeiros anos (500-1000)
são considerados como Idade das Trevas, apesar de pensadores iluministas
caracterizarem toda a Idade Média como Idade das Trevas, por ter ocultado
a luz da razão.
Nesta era, aconteceu a fragmentação do Império Romano em três porções:
3. O primeiro papa medieval
Gregório (540-604), nascido nos turbulentos tempos em
que o Império Oriental tentava reconquistar a metade
ocidental do Império perdida para as forças teutônicas,
de família tradicional, nobre e rica de Roma, se tornaria
um dos grandes bispos romanos, motivo pelo qual é um
dos que recebeu a alcunha de “O Grande”, ou Magno.
Sua formação jurídica o prepararia para a vida pública, estudando o latim,
apesar de não saber grego ou hebraico. Conhecia as obras de Ambrósio,
Jerônimo e Agostinho, mas não conhecia os clássicos gregos.
Escolhido prefeito de Roma em 573, abriu mão da fortuna que herdara do
pai (a mãe entrara para um convento após a morte do esposo) e usou o
patrimônio para construir sete mosteiros na Itália, sendo o mais
importante erigido no palácio de seu pai.
4. O primeiro papa medieval
Torna-se monge no mesmo período, sendo embaixador
do bispo de Roma em Constantinopla de 578 a 585. Ao
voltar a Roma, foi eleito abade do mosteiro de Santo
André. Tornou-se monge por entender que o ascetismo
era uma forma de glorificar a Deus.
Com a morte de Pelágio na epidemia de 590, foi eleito
para sucedê-lo no trono papal. Um dos mais nobres líderes da Igreja Romana, impressionou sua
geração com sua renúncia a sua grande riqueza. Via-se como “servo dos
servos de Deus”. Era missionário zeloso, sendo instrumento na conquista
dos ingleses ao cristianismo. Foi um grande administrador da igreja,
graças a sua formação jurídica, habilidade e bom senso.
Era supersticioso e crédulo, com seus Diálogos (593) demonstrando isso.
Surpreendentemente, não se interessou em conhecer o idioma grego ou
5. O primeiro papa medieval
Sua maior obra foi aumentar o poder do bispo de Roma.
Não reivindicava para si o título de papa, mas exerceu
todos os seus poderes e prerrogativas. Cuidou das
igrejas da Gália, Espanha, Bretanha, África e Itália,
indicando outros bispos e enviando a estola do ofício
àqueles que indicara ou cujos nomes ratificava.
Contestou a iniciativa de João, o Jejuador, patriarca de Constantinopla,
de reivindicar o título de bispo ecumênico, ou universal, aceitando um
status de coordenação para os patriarcas da igreja. Quando João e o
imperador questionaram tal situação, Gregório aguardou até a queda do
mesmo e a ascensão de Focas ao trono imperial para fazer as pazes
com ele, em troca de apoio a seu governo. Apesar de Focas ter matado a
esposa e a família do imperador anterior, Gregório aceitou seu apoio e foi
reconhecido como o “chefe de todas as Igrejas”.
6. O primeiro papa medieval
Não aceitou o título de “papa universal” que o patriarca
de Alexandria queria para si, preferindo “servo dos
servos”. Não permitiu, porém, que ninguém mais
reivindicasse o título de papa e exerceu seu poder.
Graças a sua afirmação e influência, nenhum bispo ou
metropolita do Ocidente arriscou ir contra sua vontade. Seu zelo missionário foi deflagrado quando viu alguns meninos loiros de
olhos azuis vendidos como escravos em Roma. Quando ouviu que eram
anglos, afirmou que eram, na verdade, anjos, e ao saber que eram de um
lugar chamado “Deira” (reino em Yorkshire), afirmou que os livraria “da
ira” de Deus através da obra missionário. Comissionou o monge
Agostinho a ir à Bretanha e levar o evangelho aos bretões. Ali chegou em
597 e logo converteu o rei de Kent ao cristianismo. O romanismo entrou
então em conflito com a Igreja Celta do sul, vencendo afinal em 663.
Também conseguiu que Recaredo, regente dos visigodos, renunciasse
7. O primeiro papa medieval
Gregório tornou o episcopado de Roma em um dos mais
ricos da Igreja, graças a seu trabalho como adminstrador.
Com o que arrecadou, agiu como guardião da paz no
Ocidente, subjugando a ameaça lombarda e fazendo-o
também abandonar o arianismo e converter-se à fé
católica.
Também organizou o canto gregoriano, que ganharia maior importância na
igreja que o canto desenvolvido por Ambrósio.
Grande pregador, com uma mensagem de desafio para os tempos de crise
em que viveu. Trazia sermões práticos e que salientavam a humanidade e
piedade, apesar de trabalhar muito com a alegoria.
Produziu algumas obras, como Magna Moralia, comentário do livro de Jó, e
Livro do Cuidado Pastoral, que trata de teologia pastoral, ocupando-se dos
prerrequisitos para o ministério, virtudes indispensáveis e valor da
8. O primeiro papa medieval
Gregório demonstrou também ser um grande teólogo, apontado entre Jerônimo,
Ambrósio e Agostinho como um dos quatro grandes doutores da Igreja Ocidental.
Construiu os fundamentos da teologia romana sustentada até Tomás de Aquino e
sua Summa Teológica.
Entendia que o homem era pecador por nascimento e escolha, mas discordava de
Agostinho ao afirmar que o homem não herdava a culpa de Adão, mas somente o
pecado, como se fosse uma doença. A vontade era livre e apenas sua bondade
fora perdida. Aceitava a predestinação, limitando-a aos eleitos. A graça não era
irresistível, pois estava fundamentada na presciência divina e, em alguns casos,
nos méritos do homem.
Defendia as boas obras e aceitava o purgatório como um lugar onde as almas
seriam purificadas, antes de entrar nos céus.
Sustentava a inspiração verbal da Bíblia mas aceitava a tradição no mesmo nível.
Modificou o Cânone da Missa, de forma a considerar a ceia como um sacrifício do
corpo e do sangue de Cristo.
9. Expansão e retraimento do Cristianismo
Podemos considerar que o cristianismo sofreu alguns
desafios no período entre os anos 590 e 800. Entre estes
desafios, identificamos:
Conversão de povos bárbaros pagãos.
Reconquista de tribos teutônicas que aceitavam a forma
ariana de cristianismo.
Resistência aos avanços do nascente Islã.
10. Islamismo
Religião fundada por Maomé (570-632), beduíno de origem semita que
ganhava a vida como condutor de camelos. Na época, a região da
península arábica era povoada por tribos beduínas semitas que viajavam
de oásis em oásis para comerciar com os moradores de Meca e Medina.
Guerras entre as tribos eram frequentes, exceto durante tréguas anuais
para peregrinação a Meca, onde cultuavam a pedra negra na Caaba.
Maomé conheceu jovem o cristianismo e o judaísmo em viagem com seu
tio à Síria e à Palestina. Casou-se com uma rica viúva, Khadijah, ficando
livre para suas meditações religiosas.
Em 610, sentiu um chamado divino para proclamar o monoteísmo na
região. Em 3 anos, fez 12 convertidos, quase todos de sua família.
Por conta de sua pregação contra a idolatria, teve que fugir de Meca para
Medina em 622. Tal fuga, conhecida como hégira, tornou-se o primeiro
11. Islamismo
Após a morte de Maomé, os novos líderes começaram a propagar a sua
nova fé através de conquistas militares e coerção. Nos cem anos
seguintes, Síria (638), Egito (c. 640) e Pérsia (650) caíram e se
converteram à nova fé. Em Jerusalém, a Mesquita de Omar foi construída
em 638.
O avanço do islã foi inicialmente detido no Império Oriental pela defesa
comandada por Leão, o Isáurico, em 718. Porém, na parte ocidental, os
maometanos atravessaram o estreito de Gibraltar e iniciaram uma
conquista pela Península Ibérica, sendo finalmente detidos por Carlos
Martelo na cidade de Tours, em 732.
Apesar da conquista coercitiva de territórios para sua fé, os islâmicos
mostraram-se tolerantes com os povos das regiões anexadas, permitindo
que praticassem sua fé. Com a era da conquista encerrada por volta de
750, construíram uma civilização baseada na cultura grega na cidade de
12. Islamismo - características
Religião monoteísta e escriturística, é a última das três grandes religiões
mundiais a ser fundada.
Possui como principal fonte de fé o Alcorão. A obra, 2/3 maior que o NT,
possui 114 capítulos (suras), do maior em conteúdo ao menor, que possui
apenas três versículos. Por isso, é um livro repetitivo e desorganizado.
A crença em um Deus, Alá, é o tema central. Alá fez conhecida sua vontade
através de 25 profetas, entre os quais Abraão (Ibrahim), Moisés e Cristo.
Para eles, porém, Maomé é o maior e último profeta.
Negam a divindade de Cristo e sua morte na cruz.
Propõe uma submissão passiva à vontade de Alá.
Após o julgamento, os fieis gozarão de um paraíso sensual ou o terror do
inferno.
O bom islâmico reza cinco vezes por dia em direção a Meca e recita
diariamente o credo. Jejum e obras de caridade são importantes. Devem
13. Islamismo - consequências
A expansão islâmica deixou marcas culturais e religiosas na Europa
Ocidental:
Assimilou e levou à Europa Ocidental, através da Espanha árabe, a filosofia grega
de Aristóteles, levando os teólogos escolásticos medievais a tentar integrar o
pensamento científico grego e a teologia cristã através do método dedutivo de
Aristóteles, que chegou a eles através da tradução de seus escritos feita por
Averróes.
Enfraquecimento das porções oriental e ocidental da Igreja com as perdas
pessoais e territoriais para o Islã. As do Oriente foram piores, com o
desaparecimento da Igreja do Norte da África e o domínio da Terra Santa e do
Egito.
Centralização da atividade missionária no noroeste da Europa.
Surgimento da controvérsia iconoclasta em função da acusação dos muçulmanos
de idólatras, por terem esculturas e imagens na igreja.
Fortalecimento da figura do bispo de Roma, com a queda do patriarcado de
14. Avanço missionário no Ocidente
Ilhas britânicas: Igreja Irlandesa envia missionários aos suíços (Columbano)
e escoceses (Columba).
Igreja escocesa aceita o controle romano no séc. VIII, mas invasões vikings
nos sécs. VIII e IX a enfraquecem e entra em declínio no séc. X.
Conquista dos nortúmbrios por Aidano, monge de Iona, mosteiro fundado
por Columba. Na região funda um mosteiro e se torna bispo em 634.
Consegue a plena cooperação de Oswald, soberano anglo-saxão que viveu
em exílio entre cristãos irlandeses e escoceses. Ao morrer, em 651,
estabelecera um forte cristianismo celta.
No sul da Inglaterra, o monge Agostinho, prior do mosteiro de Santo André,
em Roma, é enviado por Gregório Magno como chefe de um grupo de
monges missionários.
Em Kent, conseguem alcançar o rei Etelberto, marido da cristã Bertha, que o
influenciou em benefício dos missionários. Após o primeiro encontro, ao ar
livre para que os “poderes mágicos” de Agostinho não o alcançassem, se
15. Avanço missionário no Ocidente
Alemanha: Bonifácio (680-754) colocou as tribos teutoas sob a influência do
evangelho e autoridade papal. Recebeu autorização papal em 718 para
pregar o evangelho na Alemanha.
Lá, reza a lenda que derrubou um carvalho consagrado a Thor e ergheu uma
capela com a madeira.
Conquistou Hesse e a Turíngia ao evangelho e foi elevado a arcebispo em
732 por Gregório III.
Foi o primeiro a usar mulheres missionárias, como sua prima Lioba (c. 710-
799), mulher versada nas Escrituras, pais da Igreja e lei canônica.
Posteriormente, Carlos Magno “converte” os saxões na fronteira oriental do
seu Império com a força das armas.
16. Avanço missionário no Ocidente
Países Baixos: Willibrord (658-679) conquista regiões da Holanda e Bélgica à
lealdade ao papa por volta de 690.
Itália: O sul da Itália era dominado por lombardos arianos de 568 a 675.
Gregório I conseguiu evitar problemas com sua influência sobre a princesa
Teudelinda da Baviera, esposa de dois reis lombardos sucessivos. O monge
irlandês Columbano visitou a região em 610 e levou muitos lombardos a
renunciarem a fé ariana. Em 675, os reis lombardos e a maioria do povo já
haviam aceitado a fé ortodoxa romana.
Espanha: Os visigodos arianos também foram um desafio. Recaredo (rei entre
586 e 601) anunciou no Sínodo de Toledo, em 589, que renunciava a fé ariana
em prol da ortodoxia. Muitos nobres e bispos arianos o seguiram, mas a
conquista não foi completa e a rivalidade entre as facções favoreceu a conquista
muçulmana no séc. VII.
No Oriente, Cirilo (826-869) e seu irmão Metódio converteram os eslavos
morávios na metade do séc. IX, traduzindo a Bíblia depois de desenvolver o
alfabeto e a forma escrita para ela. Os morávios, posteriormente, ficaram sob
17. Renascimento do Império no Ocidente
No final do séc. VIII, a situação da Igreja era perigosa. Os papas se viram
submetidos a pressões sobre sua reivindicação de poder secular feitas a
partir de 590. Os imperadores orientais constantemente achavam que a
Igreja devia se submeter ao soberano estatal. Os lombardos investiram
contra os portões de Roma seguidamente no período.
Por conta de tais perigos, a Igreja buscou um aliado poderoso que apoiasse
suas reivindicações de poder espiritual e posses temporais na Itália.
Os escolhidos foram os reis da França, nação unificada na antiga região da
Gália desde o séc. V e que tinha poder militar suficiente para acudir os
bispos de Roma quando fossem ameaçados.
18. Dinastia Merovíngia
Clóvis I (c. 466-511) foi o primeiro a unificar os francos e
completar a conquista dos territórios da atual França.
Casou-se com uma princesa borgonhesa, Clotilde (474-
545) e anexou seus territórios, além de outros
conquistados em batalha. A estabilidade da região é
devida à unificação de todas as tribos francas do Reno
sob sua direção.
Clóvis aceitou o cristianismo por influência da esposa e em parte pelo que
entendeu ser uma ajuda divina numa guerra. A partir de sua conversão, em
496, levou os francos a defenderem o papado contra seus inimigos
temporais e deram ao papado territórios que manteriam como posses
temporais por mais de um milênio
Seus filhos não tiveram sua habilidade. Logo o controle dos negócios do
Estado passou para as mãos de um funcionário, o prefeito do palácio,
19. Dinastia Carolíngia
Pepino de Heristal foi o primeiro desses prefeitos a reunir as
posses divididas de Clóvis. De 687 a 714 controlou os francos
e tornou o cargo de prefeito do palácio uma posição
hereditária, sendo preenchida por seus descendentes.
Carlos Martelo (c. 689-741), seu filho ilegítimo, tomou as funções de prefeito
após 714. Ganhou notoriedade com a vitória sobre os muçulamanos em
Tours, em 732, sujeitando a Igreja Romana a si. Apoiou a obra de Bonifácio
por entender que, se convertidos ao cristianismo, os povos dalém do Reno
seriam fáceis de se lidar.
Seu sucessor foi Pepino, o Breve (c. 714-768), que governou com seu irmão
de 741 a 747, quando seu irmão entrou para um mosteiro. Primeiro rei
carolíngio, pois tomou para si o título de rei em 751, juntamente com o posto
de prefeito do palácio, quando ajudou o papa Zacarias contra os lombardos
arianos, ganhando seu favor e depondo o último rei merovíngio, Childerico
20. Dinastia Carolíngia
Com o domínio de Pepino no trono franco, o papa Zacarias conseguiu o
apoio necessário, recebendo expedições francas para combater os arianos
em 754 e 756. Em 754 também prometeu terras ao papa Estevão II na
região central de Roma. A Doação de Pepino, como ficou conhecida, teve
significado especial para o papa de Roma, pois a cidade foi fundada em 754
a.c. A doação foi o fundamento dos Estados Papais que o papa manteve até
a união do povo italiano em 1870.
Possivelmente como inspiração por esta doação, nesta época foi forjada a
famosa Doação de Constantino, que seria uma doação de terras, posses e
poder secular em gratidão a supostos milagres realizados pelo bispo romano
Silvério ao imperador, com sua mudança para Constantinopla sendo uma
forma dele não interferir nos direitos imperiais do papa. Este documento foi
desbancado em 1440 por Lorenzo Valla, na primeira obra de crítica histórica
que temos conhecimento, onde afirma que o documento foi forjados séculos
21. Dinastia Carolíngia
Após Pepino, reinou Carlos Magno (742-814), seu
filho. Homem forte, de mais de 2 metros de altura,
com rosto vivaz e longa cabeleira branca, davam-lhe
ar de dignidade. Gostava de caça, equitação e
natação e era culto, levando-o a combinar banquetes
com audições de música ou leitura em voz alta.
Dedicou-se também à religião, apesar de em sua vida privada possuir
concubinas junto com sua esposa, em seu palácio.
Era homem de guerra, participando de cerca de 50 campanhas militares
durante seu reinado, para tentar acabar com a anarquia em seus domínios e
expandir suas fronteiras para a Itália e para a Alemanha. Anexou toda a Itália
ao sul de Roma e a maior parte da atual Alemanha aos seus domínios na
atual França.
22. Dinastia Carolíngia
Carlos Magno construiu uma forte burocracia para
fiscalização de seu grande Império, que foi dividido
em várias áreas, compreendendo vários ducados.
Homens conhecidos como missi dominici tinham a
função de visitar os duques para inspecionar suas
contas, anunciar novos decretos ou leis e verificar a
manutenção da ordem.
Favoreceu a Igreja, comparando-a à alma assim como o Estado era o corpo
do homem. Reconfirmou as doações de Pepino, em 774, mas cria que a
Igreja não deveria contestar as decisões do Estado e que os bispos
deveriam se submeter a ele.
Sua coroação como Imperador dos romanos se deu por ter salvo Leão III de
um grupo que quase o matou, abrigando-o em sua corte. De volta a Roma,
Leão III foi inocentado das acusações contra ele em um concílio.
23. Dinastia Carolíngia
Após a coroação de Carlos Magno no Natal
de 800, imaginava-se que surgiria um
Império Universal, paralelo à Igreja
Universal. Acreditava-se, na época, que o
Reino de Deus tinha dois braços: o
espiritual, presidido pelo papa, e o temporal,
responsabilidade do imperador.
Os conflitos desta relação logo surgiram: O Imperador recebia
de Deus poder sobre os homens e delegava a autoridade ao
papa sobre as almas, ou vice-versa? Essa pergunta duraria
séculos para ser resolvida.
24. Dinastia Carolíngia - consequências
Desenvolvimento cultural, reconhecido como Renascença Carolíngia.
Desenvolvimento educacional, com a vinda de Alcuíno de York para sua
corte, assumindo a liderança de sua escola palaciana em Aachen, onde
seus filhos e dos nobres proeminentes eram educados. A escrita cursiva, em
letras minúsculas, foi desenvolvida nessa época por Alcuíno e outros.
Produção de homens e escolas responsáveis pela passagem à universidade
medieval dos conceitos básicos de seu currículo, o trívio e o quadrívio,
adaptado da educação superior romana por Marciano Capella no séc. V.
Assimilação da filosofia clássica e cristã pela cultura germânica.
Recomendação aos abades de abertura de escolas no mosteiro para que os
intérpretes da Bíblia pudessem ser homens instruídos que compreendessem
e interpretassem corretamente as Escrituras.
25. A Igreja e o Império no Oriente
Carlos Magno tentou a reunificação do Oriente e do Ocidente em um só
Império, sem sucesso, quando cortejou a imperatriz Irene.
Durante o período, a igreja oriental enfrentou o problema da controvérsia
iconoclasta. Leão III, em decretos de 726 e 730, impediu o uso de imagens
na Igreja e determinou sua destruição, mas Carlos Magno fez uma
declaração a seu favor. O segundo Concílio de Niceia, em 787, permitiu a
veneração, mas não adoração, de imagens. Na Igreja Oriental, foi permitido
apenas ícones.
A Igreja Oriental fez pouco pelo desenvolvimento de sua teologia, exceto
pela obra de João Damasceno (c. 675-c.749), que formulou ideias teológicas
que correspondiam à Summa de Tomás de Aquino. Sua Fonte de
Conhecimento, em três livros, tornou-se autoridade para a Igreja Oriental, e
o terceiro livro, Da Fé Ortodoxa, síntese da teologia desenvolvida pelos Pais
e pelos Concílios, tornou-se o padrão de ortodoxia na parte oriental do
Império.
26. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983