– O Céu espera-nos. Correspondência à chamada do Senhor. Ajudar os outros a não recusar o convite.
– O convite para participarmos da intimidade divina. Não existem desculpas razoáveis para não comparecermos à Ceia do Rei.
– Vontade salvífica de Cristo. As nossas ânsias apostólicas devem abarcar todas as almas
O CRISTÃO E O MEIO AMBIENTE: o homem como jardineiro
Meditação diária de francisco carvajal 37. os convidados ao banquete
1. Meditação diária de Falarcom Deus
Francisco Fernández Carvajal
TEMPO COMUM. VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO. CICLO A
37. OS CONVIDADOS AO BANQUETE
– O Céu espera-nos. Correspondência à chamada do Senhor. Ajudar os outros a não recusar o
convite.
– O convite para participarmos da intimidade divina. Não existem desculpas razoáveis para não
comparecermos à Ceia do Rei.
– Vontade salvífica de Cristo. As nossas ânsias apostólicas devem abarcar todas as almas.
I. A LITURGIA DESTE DOMINGO apresenta-nos a salvação como um banquete
régio, símbolo da salvação e de todos os bens, a que Deus nos convida. E o Senhor dos
exércitos preparará neste monte para todos os povos fiéis um banquete de manjares
suculentos... E neste monte há-de tirar o véu que cobria todos os povos... Aniquilará a
morte para sempre; e o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces1.
Desde os tempos antigos e através de símbolos facilmente compreensíveis, os
Profetas tinham anunciado o Céu como o destino definitivo da humanidade. O próprio
Deus nos conduziria até esse monte santo. Assim o expressa o Salmo responsorial: O
Senhor é meu pastor..., conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma,
Ele guia-me por sendas direitas... Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não
temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me
enchem de confiança. A bondade e a graça hão-de acompanhar-me todos os dias da
minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.2.
Jesus é o nosso Pastor e convida-nos de mil maneiras a segui-lo, mas não quer
obrigar-nos a acompanhá-lo contra a nossa vontade. Nisto consiste o mistério do mal: os
homens podem recusar esse convite. O Evangelho da Missa fala-nos dessa recusa. O
Reino dos Céus é semelhante a um rei, que preparou o banquete de bodas para seu
2. filho. E, segundo o costume, mandou os seus servos a casa dos convidados para lhes
recordar que já estava tudo preparado e que os esperava. Para sua surpresa, os
convidados não quiseram ir. E o Senhor, desejando expressar a solicitude de Deus para
com os seus filhos, relata na parábola que o soberano tornou a enviar os seus
servidores: Enviou de novo outros servos, dizendo ordenando-lhes: Dizei aos
convidados: Eis que preparei o meu banquete,,,, A bondade de Deus fica patente nesta
divina insistência e na exuberância das iguarias: os meus touros e animais cevados já
estão mortos, e tudo está pronto; vinde às núpcias. Apesar disso, os convidados. não
fizeram caso e foram um para a sua casa de campo, outro para os seus negócios.
Outros lançaram mão dos servos e, depois de os terem maltratado, mataram-nos. Em
outras parábolas (a dos vinhateiros, por exemplo), exigia-se algo devido, o fruto daquilo
que se tinha confiado a uns homens para que o administrassem; aqui, no entanto, nada
se exige..., tudo é oferecido. E é rejeitado! Jesus deve ter relatado esta parábola com
muita pena. É a recusa ao amor de Deus através dos séculos.
Os convidados podem estar representados hoje, entre outros, por esses homens
que, absorvidos nos seus assuntos e negócios terrenos, parecem não necessitar de
Deus para nada. E quando são avisados de que o Céu os espera, reagem com
violência, como na parábola. Apesar de tudo, temos a santa obrigação de aproximar-nos
deles, “de os sacudir da sua modorra, de abrir horizontes diferentes e amplos à sua
existência aburguesada e egoísta, de lhes complicar santamente a vida, de fazer que se
esqueçam de si mesmos e compreendam os problemas dos outros. Se não, não és bom
irmão dos teus irmãos, os homens, que estão necessitados desse «gaudium cum pace»
– desta alegria e desta paz, que talvez não conheçam ou tenham esquecido” 3.
Muitos corresponderão e chegarão a tempo ao banquete.
II. A IMAGEM DO BANQUETE é considerada em outros lugares da Sagrada
Escritura como símbolo de intimidade e de salvação. Eis que estou à porta e bato. Se
alguém ouvir a Minha voz, e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e
ele comigo4. A solicitude de Deus, a sua ânsia de uma maior intimidade com cada
homem, bate-lhe à porta constantemente. Abre-me, minha irmã, minha amiga..., porque
a minha cabeça está cheia de orvalho, e os cachos dos meus cabelos cheios de gotas
da noite5, diz Deus à alma de tantas maneiras. Como é a nossa correspondência às mil
chamadas que o Senhor nos faz chegar? Como é a nossa oração, que nos franqueia a
3. intimidade com Deus? Não nos esquivamos com desculpas fáceis a um compromisso
que nos convida a um amor mais firme, a uma correspondência mais profunda?
Rejeitar o convite divino é algo muito grave; viver como se Deus não tivesse
importância e o encontro com Ele estivesse tão distante que não valesse a pena
preparar-se para ele, é pôr em risco a salvação eterna. Perante a salvação, bem
absoluto, não há nenhuma desculpa que seja razoável: nem campos, nem negócios,
nem saúde, nem bem-estar... Hoje, os pretextos que alguns invocam para não atender
aos amáveis convites do Senhor são iguais ou parecidos aos que lemos na parábola. De
qualquer modo, “o facto continua a ser o mesmo: não aceitam a salvação de Deus e
excluem-se dela voluntariamente por preferirem outra coisa. Ficam com o que escolhem,
perdem o que rejeitam” 6.
Mas o Senhor quer que a sua casa fique cheia; a sua atitude é sempre
salvadora: Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes,
convidai-os para as núpcias. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que
encontraram, maus e bons. Ninguém é excluído da intimidade divina. Só fica de fora
aquele que se afasta por vontade própria, aquele que resiste ao amável convite do
Senhor, insistentemente repetido.
“Ajuda-nos, Senhor – exclamava Santo Agostinho –, a deixar-nos de desculpas más
e vãs e a comparecer a esse banquete... Que a soberba não seja impedimento para
irmos ao festim, que não nos emproemos com jactância, nem uma má curiosidade nos
apegue à terra, distanciando-nos de Deus, nem a sensualidade estorve as delícias do
coração. Faz que compareçamos... Quem se apresentou ao banquete a não ser os
mendigos, os doentes, os coxos, os cegos? [...] Iremos como pobres, pois convida-nos
Aquele que, sendo rico, se fez pobre por nós. Iremos como doentes, porque não
precisam de médico os sãos, mas os que não estão bem de saúde. Viremos como
aleijados e diremos: Endireita os meus passos conforme a tua palavra (Sal 118, 113).
Iremos como cegos e te pediremos: Ilumina os meus olhos para que jamais durma na
morte (Sal 12, 4) ”7.
III. IDE, POIS, às encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os
para as núpcias... São palavras dirigidas a nós, a todos os cristãos, pois a vontade
salvífica de Deus é universal8; abarca todos os homens de todas as épocas. Cristo, no
seu amor pelos homens, procura com paciência infinita a conversão de cada alma,
4. chegando ao extremo de morrer na Cruz. Cada homem pode dizer de Jesus: Amou-me
e Se entregou a Si mesmo por mim9.
Desta atitude salvadora do Mestre participamos todos os que desejamos ser seus
discípulos. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram...
Como a Jesus, nós deve interessar a salvação de todas as almas. O porteiro que nos
indica a porta do elevador, o médico que nos faz chegar uma receita, a senhora que
sobe para o autocarro na paragem ao lado da nossa, as crianças saindo que saem do
colégio, o professor que anuncia o dia do exame... todos estão sujeitos a vigilância
divina e , por esta razão, uma parte importante do nosso zelo apostólico. “Repara bem:
há muitos homens e mulheres no mundo, e nem um só deles deixa o Mestre de chamar.
Chama-os a uma vida cristã, a uma vida de santidade, a uma vida de eleição, a uma
vida eterna” 10
Temos de sentir toda a urgência de levar as almas, uma a uma, até o Senhor. A
mesma solicitude com que Cristo nos anima e conforta é a que devemos ter em relação
àqueles com quem convivemos diariamente, seguindo o conselho que nos vem do
século II: “Leva a todos sobre ti, como a ti te leva o Senhor” 11.
Temos de abrir novos horizontes a muitas existências, tantas vezes fechadas numas
aspirações puramente terrenas, curtas; descobrir-lhes a necessidade de procurar Deus
com confiança, de conversar com Ele como se conversa com um amigo; ensiná-los a
trabalhar por Deus, oferecendo-lhe frequentemente as suas ocupações para que
ganhem sentido e nobreza; ajudá-los a encontrar a raiz de muitas das suas vacilações,
do vazio interior que às vezes experimentam... Ninguém deve passar ao nosso lado sem
que as nossas palavras e as nossas obras lhe falem de Deus. O pensamento da sua
salvação eterna e da sua felicidade temporal – que não alcançarão à margem de Deus –
animar-nos-á a procurar todas as ocasiões – sem medo de sermos inoportunos, mas
sempre amavelmente – para que, com paciência, a chamada do Senhor chegue até
eles. A sua ignorância religiosa e a sua visão pobre e terrena das coisas deve doer-nos.
A Virgem Nossa Senhora ensinar-nos-á a tratar cada pessoa com o afecto com que
Ela olha para o seu Filho, pois todas essas pessoas com quem estamos em relação são
filhos de Deus, filhos de Santa Maria.
(1) Is 25, 6-10; Primeira leitura da Missa do vigésimo oitavo domingo do Tempo Comum, ciclo A; (2) Sal
22, 1-6; Salmo responsorial da Missa do vigésimo oitavo domingo do Tempo Comum, ciclo A; (3) Bem-