Este documento discute os pressupostos revelacionais na cultura e pressupostos comunicacionais na língua, e como eles influenciam a comunicação. Apresenta como diferentes culturas atribuem significado a sonhos, cantos dos moribundos, e outros fenômenos. Também discute a noção de evidencialidade linguística e como diferentes línguas indicam a origem da informação de forma gramatical ou lexical.
3. “As coisas que nós sabemos vocês não
Sabem. As coisas que vocês sabem nós
também sabemos!”
Produzido por Silas de
Lima – Baseado na
Sociedade Wayãpi
(Amapá)
4. Tamũ kã rebikuharet
As tradições dos
nossos ancestrais
“Nós observamos tabus e resguardos baseados nas
experiências dos nossos pais.
5. Tamũ kã dza?o aret –
As estórias e ensinos
dos ‘nossos’
antepassados
“Bem, vocês estão lendo os escritos de Moisés e
achamos interessantes, só que nós também temos a
palavra de nossos antepassados e ela é tão importante
quanto o seu livro.”
6. Monã tara mõe kã
dza?o / dzidzera aret
Palavras ou cânticos
dos moribundos.
— O seu povo costuma prestar atenção quando alguém está
para morrer? Eles escutam o cântico dos moribundos?
— Não.— respondi.
— Chii!! Que gente insensível a sua! Nosso povo faz questão de
ouvir as últimas palavras de quem está para morrer. Não somos
desatenciosos como vocês. É por isso que sabemos.
7. Padze kã dz?o/murũha
aret
Palavras dos xamãs
“Bem, nossos pajés sabem muito. Eles podem nos indicar
onde está o bando de porcos do mato para nossos caçadores. Se
ocorre uma doença, eles podem fazer uma fumaça com ervas e
outras coisas que vão subir e indicar a origem da doença para nos
vingarmos do despacho que outros fizeram.”
8. Morawã
(anormalidades)
Mistérios,
pressentimentos
ou presságios
“Nós prestamos atenção aos sinais ao nosso redor. O canto da sigau
é muito importante. Quando ela fica zangada (cantando de modo
diferente), isso é um aviso. Animais quando agem fora do seu
habitual, sempre trazem “avisos” de coisas importantes que podem
acontecer conosco. Se você vir um pássaro noturno de dia, preste
atenção; é um aviso mesmo.
9. Noné pouwai aret
Os sonhos
“Vocês dão atenção para os sonhos? Vocês sabem que durante o
sonho nosso espírito/alma faz viagens extra corporais e visita
lugares diferentes? Olha, quando a gente sonha existe um ‘recado’
que alguém está querendo passar pra gente. Os sonhos são muito
importantes.”
12. A Evidencialidade
Em todas as línguas humanas, há formas
para se indicar a origem da informação, o que
pode ser manifesto gramatical ou lexicalmente.
Todas as línguas humanas, nesse sentido,
apresentam formas para apontar ou ocultar a
fonte da informação em uma determinada
cadeia de elocução, o que é uma estratégia
comunicativa fundamental para os falantes.
Algumas línguas apresentam sistemas evidenciais
elaborados em que há marcas linguísticas específicas as
quais são utilizadas para codificar as diferentes experiências
cognitivas constitutivas de um dado conteúdo proposicional.
13. Outras, não, uma vez que nem
todas as línguas têm a evidencialidade
como uma categoria gramatical, o que
aponta para a necessidade de se
delimitar os domínios categoriais da
evidencialidade.
Conforme Jacobsen (1986), citado por Dendale e
Tasmowski (2001), o termo evidencialidade foi
primeiramente visto em uma compilação feita por Franz
Boas em 1947. Todavia Jakobson (1957), com a publicação
do livro Shifters, Verbal Categories and the Russian Verbs,
popularizou o uso do termo Evidencial como rótulo para
uma categoria verbal que sinalizava acerca da fonte da
informação sobre a qual a afirmação do falante estava
baseada.
14. Antes disso, no entanto, Boas
(1911) e Sapir (1921), segundo
Dendale e Tasmowski (2001), já
aceitavam a importância do
domínio semântico da
evidencialidade centrado na fonte da informação ou no
conhecimento do falante.
De lá para cá, as referências feitas à fonte de informação são
vinculadas a atitudes sobre o status epistêmico da informação,
uma vez que, de acordo com Dendale e Tasmowski (2001), os
marcadores linguísticos que codificam tais domínios semânticos
são os mesmos geralmente. De acordo com Aikhenvald e
Dixon (2001), a evidencialidade é uma categoria gramatical
obrigatória cujo primeiro significado é a fonte de informação.
15. Segundo a terminologia de Chafe (1986),
em seu sentido amplo, essa noção estaria
relacionada à fonte da informação quanto
à questão de se o falante realmente viu
aquilo sobre o que ele está falando, ou se
ele apenas tece conjecturas sobre a
ocorrência de um dado evento baseado em alguma evidência,
ou ainda se alguém lhe contou um determinado fato, ou se ele
apenas ouviu falar sobre tal fato.
Aikhenvald e Dixon (2001) afirmam que todas as línguas têm
algum mecanismo para expressar a fonte de informação,
muito embora nem todas as línguas tenham a evidencialidade
como uma categoria gramatical. Línguas como o inglês, o
japonês e o português utilizam significados lexicais para
especificar opcionalmente a fonte da informação.
16. Ao que tudo indica, a posição mais
encontrada na literatura sobre evidencialidade e
modalidade é a de inclusão, em que uma noção
está atrelada à outra, ou seja, um domínio
encontra-se dentro do escopo semântico do
outro. Há aí duas possibilidades: uma em que se
admite que a função dos marcadores evidenciais
é indicar o grau de compromisso do falante com
a verdade da sua proposição. Tal posição é a de
Chafe (1986), que concebe a modalidade
epistêmica no domínio da evidencialidade.
A outra posição, defendida por Palmer (1986), localiza a
evidencialidade no escopo da modalidade epistêmica.
Assim o grau de comprometimento do falante com aquilo
que ele diz pode incluir o “ouvir dizer”, ou discurso
reportado, e a inferência, ou experiência sensorial.