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ensino de 1º e 2º graus (hoje ensino fundamental e médio) e as práticas pedagógicas dos
                                                                                                                   professores em sala de aula. Esse questionamento que existia naquela época atravessou
                                                                                                                   décadas e continua a existir e em alguns casos até mesmo mais acirrados, quando os alunos
                                                                                                                   participam das aulas e observam as relações que ocorrem na escola.
                     A formação do professor de geografia:                                                                 Ao falar que hoje os debates estão mais acirrados, lembramos que os alunos têm
                             algumas reflexões parcelares                                                          maior dificuldade na leitura de um texto de Geografia, embora possam falar sobre os pro-
                                                                                                                   blemas do bairro, da cidade e até do mundo. Mas falam de forma fragmentária, pois esse
                                          Nídia Nacib Pontuschka                                                   aluno recebe informações das diferentes mídias e da internet.
                               Faculdade de Educação e Depto de Geografia da USP
                                               www.nidia@usp.br
                                                                                                                   O Professor Idealizado
                                                                                                                             A maior parte dos alunos enfatizavam as boas qualidades pessoais, individuais
                                                                                                                   do professor, como profissional, e a importância da relação aluno e professor na maneira
                                                  “Achar a voz”, na opinião dos eruditos, significa descobrir um
                                                  jeito de escrever que expresse de modo fiel e atraente o seu
                                                                                                                   como trabalhavam com o conhecimento já produzido historicamente.
                                                  próprio modo de pensar, o seu jeito de sentir o mundo. Autor              No plano idealizado, os licenciandos lembravam os valores que os professores
                                                  que “acha sua voz” escreve em paz consigo mesmo. Quem            deveriam ter, sem considerá-los como um ser de carne osso com defeitos, boas qualidades
                                                  “acha a sua voz” não se prende ou se intimida pelo o que o       e necessidades de sobrevivência. O professor, para eles, deveria ser um abnegado e não
                                                  povo vai pensar, do que escreve, ou pelo o que os críticos vão   um ser humano com suas características de personalidade, sua história de vida, como um
                                                  dizer da sua obra. (H.B. Cavalcanti, 2010)
                                                                                                                   trabalhador da educação e com sua maneira própria de ensinar.
                                                                                                                            Um dos alunos da época afirmou que: o bom professor era aquele que viajou
          Há décadas, procuro “achar a minha voz”, estou lendo o livro de Cavalcanti em que                        muito, leu muito, foi formado em uma boa universidade, que seja humilde e que esteja
há passagens que levam o escritor a se rever em sua trajetória.1                                                   sempre aprendendo mais. Este depoimento colocou o que ele almejava no bom professor,
          A minha principal atividade profissional desde 1986 é Formar Professor, mas hoje                         mas mesmo para os anos noventa a situação já havia se modificado muito, ele colocou as
escrever sobre este tema não é tão fácil, porque ser professor e principalmente de Geografia                       características de um educador provavelmente da classe média alta, que tem condições de
torna-se uma tarefa cada vez mais complexa. O que me leva a pensar sobre as mudanças                               vida que os professores, de modo geral, estão muito distantes de ter.
ocorridas, desde o início da década de 1990, até os nossos dias.                                                            Se as representações dos alunos para a época eram idealizadas, imagine o leitor,
                                                                                                                   o que dizer da atualidade em que as condições salariais e de trabalho do professor se tor-
          As perguntas que faço: essas mudanças promoveram melhoria na formação de
                                                                                                                   naram mais precárias. Poucos são egressos de boas escolas de ensino superior e os livros
professores? O que contribuiu na melhoria do ensino e aprendizagem da Geografia no
                                                                                                                   não didáticos são quase um luxo para a baixa remuneração do professor que ainda ministra
ensino fundamental e médio? Ao invés de avançar houve retrocesso? Goodson, ao analisar
                                                                                                                   aulas em duas ou mais escolas para garantir a sua sobrevivência e a da família.
a questão do currículo, talvez nos ajude em nossas reflexões parcelares.
                                                                                                                            As condições de trabalho do professor e o que se oferece nas escolas públicas e nas
          Com este pensamento resolvi pensar em algumas das representações dos alunos
                                                                                                                   particulares que, em grande número, são verdadeiras empresas, onde não existe equilíbrio
de Prática de Ensino de Geografia da Faculdade Educação da USP sobre “ser professor”,
                                                                                                                   entre a educação e o lucro. O status de PROFESSOR sofreu uma profunda queda e muitos
no início dos anos 1990.
                                                                                                                   tentam continuar no magistério, submetendo-se a inúmeras pressões das políticas públicas
          Os estagiários da disciplina da época, muito próximos da volta da Geografia para
                                                                                                                   implantadas pelas Secretarias da Educação e Ministério da Educação. As políticas mudam
as 5ªs e 6ªs séries e da efervescência das discussões sobre a Geografia Crítica com a elabo-
                                                                                                                   de governo para governo, mas não auxiliam a prática do professor na digna tarefa de ensinar
ração da Proposta Curricular para o Ensino de Geografia da CENP - Coordenadoria de
                                                                                                                   e tampouco o aluno na tarefa de aprender e de se abrir para o mundo.
Estudos e Normas Pedagógicas, da SEE São Paulo, 1986 já questionavam o vácuo existente
entre os debates teóricos da Geografia relativas aos eixos temáticos apresentados para o

1. Cavalcanti, H.B. Ensaios de um Nordestino Ausente. Nashville, Tennessee, US, 2010, p. 114.


                                                      1                                                                                                        2
O Diálogo e a Relação Democrática                                                               Negação do Ensino Tradicional de Geografia
         Os licenciandos valorizavam o professor que estabelecia na classe um diálogo                    De modo geral, os alunos da Prática de Ensino negavam o ensino da Geografia Tra-
inteligente com os alunos de Geografia e mantinham relação democrática, onde havia              dicional, mas não explicavam as razões. Eles afirmavam que não deviam ensinar a Geografia
trocas de ideias e experiências sempre facilitadoras da aprendizagem e simultaneamente          Tradicional, mas não declaravam como a Geografia colaboraria com o desenvolvimento do
do trabalho pedagógico do mestre.                                                               raciocínio espacial: a Geografia Crítica com suas diferentes linhas e versões, a Geografia
         A questão do diálogo ou da dialogicidade, resgatando Paulo Freire ainda persiste na    baseada na fenomenologia, a Geografia Cultural? Enfim, qual Geografia?
universidade, nos discursos de governos e em alguns documentos oficiais, mas pergunto:                   No entanto, alguns deles consideravam que a Geografia tinha o papel de contribuir
será que está incorporado na ação de educar?                                                    para que o jovem entendesse a sua posição e o seu papel no interior da sociedade e que o
         Segundo depoimentos de estagiários e alunos da Licenciatura presentes nas escolas      professor devia mais instigar o aluno a pensar do que a reproduzir.
públicas, isso está muito longe de se realizar. São muitos os fatores que podem explicar esta
situação, mas nos atrevemos a dizer que o aluno mudou, o professor mudou e a sociedade          Saberes dos alunos
capitalista neoliberal tem um poder maior na dinâmica social e na relação com as institui-
ções públicas, priorizando o privado e o mercado em detrimento do público.                               Houve também a preocupação de que o professor considerasse o saber ou os sabe-
                                                                                                res preexistentes dos alunos, fossem eles adquiridos informalmente ou fruto de conteúdos
Livros Didáticos e Apostilas                                                                    trabalhados na própria escola em outras situações, e que esses saberes fossem tomados
                                                                                                como pontos de partida para o desenvolvimento de temáticas de grande significado para
         Nos anos de 1990, já se fazia a crítica ao livro didático, quando era o único ins-     a compreensão do espaço geográfico e de seus conceitos estruturantes.
trumento de trabalho do aluno; no entanto, cada professor era livre para escolher o autor                Considerar o saber do aluno é uma postura do educador que se abriu para a edu-
que melhor se adequasse aos seus alunos, mesmo que, muitas vezes, a escolha não se              cação desde que os estudos de Jean Piaget chegaram ao Brasil, na década de 1960 e foram
mostrasse como a melhor.                                                                        sendo inseridos na prática pedagógica de diferentes escolas superiores da educação e de
         As críticas dos docentes às apostilas para a preparação ao vestibular, implementadas   outras disciplinas, assim como na Geografia. Isto ocorreu quando ainda a preocupação
pelos cursinhos, ainda não haviam penetrado no âmbito das escolas públicas, mas isso vai        central era o conteúdo e não a criança ou o adolescente. Com o conhecimento da psicoge-
acontecer com maior intensidade na década de 2000.                                              nética, o aluno passou a ser o centro do processo educacional e o conteúdo tornou-se um
         Os modelos aplicados à educação eram motivo de crítica pelos estagiários, pois         meio para educar e não mais o fim. À medida que os conteúdos deixam de ser fins em si
eles se colocavam contra os modelos que todos os alunos deviam perseguir passo a passo.         mesmo e passam a ser meios, eles podem promover a interação com a realidade dos alunos
Consideramos que no movimento da vida deve haver espaço para o inesperado e o inusi-            articulada às contradições da sociedade e a deter instrumentos para a construção de uma
tado. Cito alguns exemplos, se houver um eclipse em São Paulo, alunos e professores não         visão articulada e crítica do mundo.
poderão assistir porque quem determina a pseudo formação do aluno são as apostilas e não                 Os licenciandos com diferentes formas de expressão referiam-se sempre ao termo
o professor e a prática construída com muito esforço durante anos de estudo e de trabalho.      realidade relacionada à sociedade e natureza. Sobre a natureza não falavam explicitamente,
         O mesmo pode-se afirmar para as catástrofes recentemente acontecidas em São            mas usavam termos como ambiente, meio ambiente, acontecimentos f ísicos, Geografia
Luís do Paraitinga – SP e nas áreas serranas do Rio de Janeiro ou para os alagamentos
                                                                                                Física. É preciso lembrar que a Geografia Crítica, com fundamentos teóricos de Marx,
que têm assolado as cidades nas regiões Sudeste e Sul. Os alunos e a população em geral
                                                                                                colocavam a Geografia Humana superando a Geografia Física.
não podem compreender as ocorrências, bastante tristes, pelos noticiários televisivos e
jornais. As catástrofes resultaram de um profundo desconhecimento da Geografia pelos            O acervo acadêmico da Geografia cresce, mas as dúvidas permanecem
poderes públicos e pela a população em geral que não sabe ou não têm informações mais
precisas para escolher o seu local de moradia e não podem prever os riscos que correm com                No entanto, a dualidade Geografia Humana e Geografia Física persistia e ainda
determinadas escolhas pouco pensadas. A discussão sobre esses fatos tinha que penetrar          persiste até hoje, embora alguns geógrafos afirmem que só existe a Geografia Humana,
nas salas de aula e ser geograficamente estudados, uma vez que o objetivo da educação é         pois os aspectos f ísicos estão nela inseridos. Mas na prática o que se observa é a separa-
preparar os jovens para uma vida melhor.                                                        ção em áreas distintas; isto pode ser constatado na Pós Graduação e na organização dos

                                             3                                                                                              4
departamentos. A posição da cartografia na Geografia é dúbia, pois está inserida na área     porque o que educa são as apostilas prontas, embora não avaliadas, em contraste com os
da Geografia Física, porém a linguagem cartográfica é necessária e utilizada tanto no tra-   os livros didáticos avaliados pelo PNLD – Plano Nacional do Livro Didático.
tamento geográfico de fenômenos f ísicos como nos humanos.                                            Nos discursos de hoje muitas das preocupações das décadas passadas continuam
          Um dos alunos se pronunciou sobre o professor de Geografia da seguinte forma:      a ser analisadas em dissertações e teses de pós graduandos sobre a Formação do Professor
é aquele que se preocupa em relacionar o que ele leciona com o que acontece no dia a dia     de Geografia. No entanto, outras aspirações dos alunos praticamente foram abortadas no
de cada um, não se prendendo apenas ao livro didático (...) preocupa-se em desenvolver em    momento em que apostilas foram introduzidas nas escolas públicas do Estado de São Paulo
seus alunos o espírito crítico e não permitir que decorem coisas que não contribuirão em     e em Secretarias de Educação de prefeituras que assumiram as apostilas de cursinhos ou de
nada para o seu crescimento intelectual.                                                     empresas milionárias que se propuseram a pensar pelos professores, tirando a autonomia
          Ao lembrar esses depoimentos, notamos que muitas preocupações continuam a          da reflexão necessária para a elaboração dos planos de aula nas diferentes modalidades de
existir e que o tempo de duas décadas não conseguiu melhorar a educação, embora tenha        cursos, onde a geografia esteja incluída.
havido o aumento significativo de pesquisas tanto educacionais como eminentemente                     Nota-se que em escolas do Estado e em certas escolas municipais, em decorrência
geográficas. As questões detectadas nos anos 90 continuam na pauta.                          das reformas educacionais, houve verdadeiro retrocesso na formação de alunos e profes-
                                                                                             sores. Por outro lado, os programas de Mestrado e Doutorado das Universidades não se
Modelos educacionais
                                                                                             deram por vencidos e continuaram a realizar investigações científicas sobre as diferentes
         Houve alunos que se puseram contra modelos educacionais, pois a vida é extrema-     dimensões da Formação do Professor. Para reconhecer este avanço, basta tomar os Anais
mente dinâmica e contraditória e não daria conta da formação do professor e nem do aluno.    dos Encontros da AGB – ENG, o Encontro de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE, o
Mas na primeira década do século 21, os modelos apareceram haja vista a implementação        Encontro de Prática de Ensino de Geografia – ENPEG e os encontros do Fala Professor,
do Currículo que inicialmente apareceu como proposta para logo ser considerada como          para se ter conhecimento do que se produz neste País do ponto de vista da Geografia como
o Currículo Oficial da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para todas as disci-    Ciência e como Geografia Escolar. Essa produção não mais se restringe a São Paulo, Rio de
plinas, incluindo a Geografia.                                                               Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre; hoje atinge as capitais e cidades maiores de todas
         Em 1996, fazia-se uma crítica ao livro didático, quando era a única bibliografia    as regiões brasileiras.
do aluno em sala de aula (em muitas partes do Brasil ainda é a única). No entanto, cada
professor tinha liberdade para escolher o autor que melhor se adequasse às características   Interdisciplinaridade
de seus alunos e aos objetivos gerais da escola, mesmo que muitas vezes a escolha não
                                                                                                      Na atualidade são analisadas temáticas significativas que emergem de pesquisas
tenha sido a melhor.
         Em relação às apostilas de Geografia também havia críticas. No entanto, elas        acadêmicas, tais como a interdisciplinaridade, a relação entre as escolas públicas e as uni-
eram utilizadas apenas nas aulas de cursinhos de preparação aos vestibulares. Este uso       versidades que tratam da formação de professores; relação entre a geografia, a literatura e
infelizmente expandiu-se na última década. Passou a ser utilizada nas escolas do ensino      as artes atualmente estão valorizadas e disponibilizadas para o grande público. Na ficção,
básico com a anuência e aquisição do material pelas prefeituras do País. O Estado de São     o tempo, o espaço, o lugar, a paisagem, o território e o movimento da sociedade estão
Paulo fez um currículo baseado em um conjunto de apostilas para o Ensino Fundamental         presentes. O uso de diferentes tipos de linguagem precisa ser utilizado de forma compro-
e Médio, no qual está a essência para a avaliação dos alunos, via SARESP, ENEM e para os     metida, mostrando o valor da Geografia e o valor das artes nas práticas pedagógicas. As
concursos de ingresso ao magistério.                                                         artes têm valor por elas próprias. Essa relação entre as disciplinas pode também ocorrer
         O aluno afirmava não acreditar em um modelo para a educação, porém em nossos        nas escolas públicas não atreladas a currículos fechados feitos por órgãos autoritários que
dias, temos modelos implantados para todos obedecerem passo a passo. Se houver um            não acreditam, ou fazem que não acreditam na capacidade do professor de pensar, ensinar
eclipse em São Paulo, alunos e professores não poderão assistir porque quem determina a      e de aprender.
pseudo formação do aluno são as apostilas e não o professor. A prática pedagógica cons-               Aqui a título de exemplo, lembro o filme Central do Brasil, de Walter Sales, que
truída com muito esforço durante anos de estudo e de trabalho foi deixada de lado. Os        apesar de ficção pode ser o norteador de um trabalho interdisciplinar de vários professores,
acontecimentos inusitados e inesperados, que dizem respeito à vida de todos nós, não podem   porque essa ficção se fundamenta na realidade vivida por muitos brasileiros, principalmente
fazer parte do currículo ativo. Esses acontecimentos não poderão ser vistos e analisados     nordestinos que vivem em cidades grandes, nos sertões semi áridos ou na zona da mata.

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O filme por si só não é suficiente para conhecer o Brasil do ponto de vista geográfico            Se a docência é uma atividade intelectual e prática, o professor precisa ter fami-
diante da diversidade cultural, f ísica, paisagística e econômica existente nos 8,5 milhões de    liaridade com os processos investigativos, uma vez que os conteúdos são construções teó-
km2, mas permite a discussão de tempo espaço; de condições socioeconômicas vividas no             ricas, frutos de pesquisas. A prática pedagógica requer reflexão crítica, constante criação
país, da religiosidade do povo nordestino, das estratégias que o povo cria para sobreviver.       e recriação do conhecimento e das metodologias de ensino.
Deve ser dada oportunidade aos alunos para que compreendam a linguagem cinemato-
gráfica como a interação de diferentes artes combinadas para chegar ao belo, ao estético e        Espaço e Poder
à crítica social. Pode ser o ponto de partida e o de motivação para conhecer o nosso País.
         Inúmeras vezes já afirmei que a escola, sobretudo a pública, é o lugar do conhe-                  Um outro aspecto da pesquisa a ser considerado na Geografia é a relação existente
cimento multidisciplinar e interdisciplinar. Ela é apenas multidisciplinar quando 7 ou 8          ente espaço e poder. Muitas pessoas e até mesmo grupos de profissionais ou de famílias
professores de disciplinas específicas trabalham isoladamente com os mesmos alunos sem            sentem e sofrem as pressões que o poder ou os poderes têm sobre eles, mas não conseguem
que se saiba a relação de sua disciplina com as demais. Porém, se dois ou mais professores        entender que os processos produzidos historicamente são responsáveis pela dominação.
se reunirem para descobrir juntos sobre quem são seus alunos e o que eles necessitam para                  Aí a pesquisa tem o poder de revelar fatos até então escondidos ou escamoteados,
crescer do ponto de vista do conhecimento da Geografia, da História e das demais Ciências         ou seja, a capacidade que as pessoas ou grupos têm de se aproximar do real.
e Artes, poderão chegar a identificar o objetivo da construção do conhecimento com os                      Na Geografia, assim como na escola, o espaço é palco de profundas interações. É
alunos, abrindo o caminho da interdisciplinaridade.                                               imprescindível a busca das relações entre espaço e poder. Essa relação somente pode ser
                                                                                                  encontrada no interior de um contexto onde as complexas relações precisam ser entendidas
Pesquisa como princípio educativo                                                                 para desvelar o poder presente e exercido no espaço geográfico. A pesquisa, ao exigir a
         Alguns poderão dizer que isso é impossível na escola de hoje, mas não se pode            problematização de seu objeto, a fundamentação teórica e a aplicação de metodologias que
saber antes de tentar. Um professor aprende com o outro, amplia o relacionamento com              apontem os melhores caminhos para responder as questões, também se constitui como um
os colegas de profissão e minimiza o medo que se pode ter da crítica.                             valioso instrumento de poder, que permite detectar como ele é exercido em determinadas
         Outra dimensão ausente, tanto nas reflexões da formação inicial como no cotidiano        instituições, a exemplo, do espaço social escola.
da escola básica, é a inclusão da pesquisa como princípio educativo. Aqui lembramos de
Pedro Demo e de outros pesquisadores que se preocupam com a formação de professores               Para não concluir
e consideram que a pesquisa educa e forma.
                                                                                                           Apesar de as políticas públicas de educação impostas ignorarem as investigações
         Há algum tempo, discute-se a necessidade de incorporar a pesquisa e os proces-
                                                                                                  educacionais realizadas nas universidades com trabalhos que duram de 2 a 4 anos ou até
sos de investigação nos cursos de formação docente. A bibliografia hoje (2011) está mais
                                                                                                  mais, as pesquisas continuam, os intercâmbios com pesquisadores e geógrafos de outros
ampla e apoia a pesquisa como princípio educativo e formativo de professores e de alunos
                                                                                                  países se realizam e o retorno de professores sobretudo da escola pública para a universi-
da escola básica. A pesquisa precisa ser concebida como dimensão privilegiada da relação
                                                                                                  dade para cursos e atividades acadêmicas acontecem. Assim são colocadas em discussão:
entre a teoria e a prática sendo, portanto, necessário redimensionar seu papel na formação
                                                                                                  a formação do professor, os currículos manifestos, o currículo real que se concretiza co-
do professor. A ideia é ressaltar a sua importância na construção de uma atitude cotidiana
de compreensão dos processos educativos. A pesquisa pode ser um processo aglutinador              tidianamente na prática pedagógica do professor e os melhores caminhos metodológicos
da reflexão crítica, facilitadora da aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos, na busca       para ensinar e aprender a Geografia.
de autonomia na interpretação mais consistente de aspectos da realidade.                                   Perguntamos ainda porque o acervo produzido cientificamente sobre a Formação
         Apesar da importância dessa questão, persiste ainda a ideia de que o professor da        do Professor e o Ensino de Geografia e de outras disciplinas curriculares, disponibilizados
escola básica não precisa pesquisar, ou pior ainda, que nas escolas formadoras de profes-         em livros, teses e dissertações, muitos já digitalizados, não são incorporados nas Políticas
sores a investigação científica pode estar ausente. Tal posição reforça a concepção de que        Públicas de Educação dos diferentes governos estaduais ou municipais? Essas políticas
o professor seria um simples transmissor ou repassador de informações, mero usuário do            mudam, mas não mexem na essência, ou seja, na melhor maneira de formar nossos pro-
produto do conhecimento científico construído por outros e que somente um bacharel ou             fessores, crianças e jovens para enfrentar os desafios que a vida, a profissão, a história e as
equivalente teria condições de fazer investigações científicas.                                   políticas partidárias sempre nos impõem.

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O fortalecimento da formação inicial e continuada do professor, a relação cada
vez mais forte entre a universidade e as escolas públicas do ensino fundamental e médio
constituem a esperança de mudanças no cenário educacional do país. No entanto, é es-
sencial que o professor tenha condições de analisar o que existe por trás dessas políticas
implementadas.
         Para finalizar posso afirmar que: ainda não encontrei a minha voz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRÉ, Marli. Ensinar a pesquisar... como e para que? In:Educação formal e não for-
mal, processos formativos e saberes pedagógicos: desafios para a inclusão social.
Recife:XIII ENDIPE. p. 221-233.
BAILLY,A. et al. Les concepts de la géographie humaine. 2ed.Paris :Masson, 1994.
CAVALCANTI, H.B. Ensaios de um Nordestino Ausente. Nashville, Tennessee, US,
2010.
DEMO, Pedro. Saber Pensar. São Paulo: Cortez- Instituto Paulo Freire, 2000.
FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O Caminho se faz caminhando – Conversas sobre
educação e mudança social. Petrópolis - RJ:Vozes, 2003.
GOODSON, Ivor. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995.
INRP –Institut Nacional de Recherche Pédagogique. La Formation aux Didactiques.
Actes du Colloque. Paris : INRP, 1990.
PINHEIRO, Antonio Carlos. O Ensino de Geografia no Brasil- Catálogo de Dissertações
e Teses. Goiânia – GO: Ed. Vieira, 2005.
PONTUSCHKA, N.N., PAGANELLI, T.I. e CACETE, N.H. Para Ensinar e Aprender
Geografia. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
VENTURI, Luís Antonio Bittar. (org) Praticando Geografia – técnicas de campo e labo-
ratório. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.




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A formação do professor de geografia questões parcelares

  • 1. ensino de 1º e 2º graus (hoje ensino fundamental e médio) e as práticas pedagógicas dos professores em sala de aula. Esse questionamento que existia naquela época atravessou décadas e continua a existir e em alguns casos até mesmo mais acirrados, quando os alunos participam das aulas e observam as relações que ocorrem na escola. A formação do professor de geografia: Ao falar que hoje os debates estão mais acirrados, lembramos que os alunos têm algumas reflexões parcelares maior dificuldade na leitura de um texto de Geografia, embora possam falar sobre os pro- blemas do bairro, da cidade e até do mundo. Mas falam de forma fragmentária, pois esse Nídia Nacib Pontuschka aluno recebe informações das diferentes mídias e da internet. Faculdade de Educação e Depto de Geografia da USP www.nidia@usp.br O Professor Idealizado A maior parte dos alunos enfatizavam as boas qualidades pessoais, individuais do professor, como profissional, e a importância da relação aluno e professor na maneira “Achar a voz”, na opinião dos eruditos, significa descobrir um jeito de escrever que expresse de modo fiel e atraente o seu como trabalhavam com o conhecimento já produzido historicamente. próprio modo de pensar, o seu jeito de sentir o mundo. Autor No plano idealizado, os licenciandos lembravam os valores que os professores que “acha sua voz” escreve em paz consigo mesmo. Quem deveriam ter, sem considerá-los como um ser de carne osso com defeitos, boas qualidades “acha a sua voz” não se prende ou se intimida pelo o que o e necessidades de sobrevivência. O professor, para eles, deveria ser um abnegado e não povo vai pensar, do que escreve, ou pelo o que os críticos vão um ser humano com suas características de personalidade, sua história de vida, como um dizer da sua obra. (H.B. Cavalcanti, 2010) trabalhador da educação e com sua maneira própria de ensinar. Um dos alunos da época afirmou que: o bom professor era aquele que viajou Há décadas, procuro “achar a minha voz”, estou lendo o livro de Cavalcanti em que muito, leu muito, foi formado em uma boa universidade, que seja humilde e que esteja há passagens que levam o escritor a se rever em sua trajetória.1 sempre aprendendo mais. Este depoimento colocou o que ele almejava no bom professor, A minha principal atividade profissional desde 1986 é Formar Professor, mas hoje mas mesmo para os anos noventa a situação já havia se modificado muito, ele colocou as escrever sobre este tema não é tão fácil, porque ser professor e principalmente de Geografia características de um educador provavelmente da classe média alta, que tem condições de torna-se uma tarefa cada vez mais complexa. O que me leva a pensar sobre as mudanças vida que os professores, de modo geral, estão muito distantes de ter. ocorridas, desde o início da década de 1990, até os nossos dias. Se as representações dos alunos para a época eram idealizadas, imagine o leitor, o que dizer da atualidade em que as condições salariais e de trabalho do professor se tor- As perguntas que faço: essas mudanças promoveram melhoria na formação de naram mais precárias. Poucos são egressos de boas escolas de ensino superior e os livros professores? O que contribuiu na melhoria do ensino e aprendizagem da Geografia no não didáticos são quase um luxo para a baixa remuneração do professor que ainda ministra ensino fundamental e médio? Ao invés de avançar houve retrocesso? Goodson, ao analisar aulas em duas ou mais escolas para garantir a sua sobrevivência e a da família. a questão do currículo, talvez nos ajude em nossas reflexões parcelares. As condições de trabalho do professor e o que se oferece nas escolas públicas e nas Com este pensamento resolvi pensar em algumas das representações dos alunos particulares que, em grande número, são verdadeiras empresas, onde não existe equilíbrio de Prática de Ensino de Geografia da Faculdade Educação da USP sobre “ser professor”, entre a educação e o lucro. O status de PROFESSOR sofreu uma profunda queda e muitos no início dos anos 1990. tentam continuar no magistério, submetendo-se a inúmeras pressões das políticas públicas Os estagiários da disciplina da época, muito próximos da volta da Geografia para implantadas pelas Secretarias da Educação e Ministério da Educação. As políticas mudam as 5ªs e 6ªs séries e da efervescência das discussões sobre a Geografia Crítica com a elabo- de governo para governo, mas não auxiliam a prática do professor na digna tarefa de ensinar ração da Proposta Curricular para o Ensino de Geografia da CENP - Coordenadoria de e tampouco o aluno na tarefa de aprender e de se abrir para o mundo. Estudos e Normas Pedagógicas, da SEE São Paulo, 1986 já questionavam o vácuo existente entre os debates teóricos da Geografia relativas aos eixos temáticos apresentados para o 1. Cavalcanti, H.B. Ensaios de um Nordestino Ausente. Nashville, Tennessee, US, 2010, p. 114. 1 2
  • 2. O Diálogo e a Relação Democrática Negação do Ensino Tradicional de Geografia Os licenciandos valorizavam o professor que estabelecia na classe um diálogo De modo geral, os alunos da Prática de Ensino negavam o ensino da Geografia Tra- inteligente com os alunos de Geografia e mantinham relação democrática, onde havia dicional, mas não explicavam as razões. Eles afirmavam que não deviam ensinar a Geografia trocas de ideias e experiências sempre facilitadoras da aprendizagem e simultaneamente Tradicional, mas não declaravam como a Geografia colaboraria com o desenvolvimento do do trabalho pedagógico do mestre. raciocínio espacial: a Geografia Crítica com suas diferentes linhas e versões, a Geografia A questão do diálogo ou da dialogicidade, resgatando Paulo Freire ainda persiste na baseada na fenomenologia, a Geografia Cultural? Enfim, qual Geografia? universidade, nos discursos de governos e em alguns documentos oficiais, mas pergunto: No entanto, alguns deles consideravam que a Geografia tinha o papel de contribuir será que está incorporado na ação de educar? para que o jovem entendesse a sua posição e o seu papel no interior da sociedade e que o Segundo depoimentos de estagiários e alunos da Licenciatura presentes nas escolas professor devia mais instigar o aluno a pensar do que a reproduzir. públicas, isso está muito longe de se realizar. São muitos os fatores que podem explicar esta situação, mas nos atrevemos a dizer que o aluno mudou, o professor mudou e a sociedade Saberes dos alunos capitalista neoliberal tem um poder maior na dinâmica social e na relação com as institui- ções públicas, priorizando o privado e o mercado em detrimento do público. Houve também a preocupação de que o professor considerasse o saber ou os sabe- res preexistentes dos alunos, fossem eles adquiridos informalmente ou fruto de conteúdos Livros Didáticos e Apostilas trabalhados na própria escola em outras situações, e que esses saberes fossem tomados como pontos de partida para o desenvolvimento de temáticas de grande significado para Nos anos de 1990, já se fazia a crítica ao livro didático, quando era o único ins- a compreensão do espaço geográfico e de seus conceitos estruturantes. trumento de trabalho do aluno; no entanto, cada professor era livre para escolher o autor Considerar o saber do aluno é uma postura do educador que se abriu para a edu- que melhor se adequasse aos seus alunos, mesmo que, muitas vezes, a escolha não se cação desde que os estudos de Jean Piaget chegaram ao Brasil, na década de 1960 e foram mostrasse como a melhor. sendo inseridos na prática pedagógica de diferentes escolas superiores da educação e de As críticas dos docentes às apostilas para a preparação ao vestibular, implementadas outras disciplinas, assim como na Geografia. Isto ocorreu quando ainda a preocupação pelos cursinhos, ainda não haviam penetrado no âmbito das escolas públicas, mas isso vai central era o conteúdo e não a criança ou o adolescente. Com o conhecimento da psicoge- acontecer com maior intensidade na década de 2000. nética, o aluno passou a ser o centro do processo educacional e o conteúdo tornou-se um Os modelos aplicados à educação eram motivo de crítica pelos estagiários, pois meio para educar e não mais o fim. À medida que os conteúdos deixam de ser fins em si eles se colocavam contra os modelos que todos os alunos deviam perseguir passo a passo. mesmo e passam a ser meios, eles podem promover a interação com a realidade dos alunos Consideramos que no movimento da vida deve haver espaço para o inesperado e o inusi- articulada às contradições da sociedade e a deter instrumentos para a construção de uma tado. Cito alguns exemplos, se houver um eclipse em São Paulo, alunos e professores não visão articulada e crítica do mundo. poderão assistir porque quem determina a pseudo formação do aluno são as apostilas e não Os licenciandos com diferentes formas de expressão referiam-se sempre ao termo o professor e a prática construída com muito esforço durante anos de estudo e de trabalho. realidade relacionada à sociedade e natureza. Sobre a natureza não falavam explicitamente, O mesmo pode-se afirmar para as catástrofes recentemente acontecidas em São mas usavam termos como ambiente, meio ambiente, acontecimentos f ísicos, Geografia Luís do Paraitinga – SP e nas áreas serranas do Rio de Janeiro ou para os alagamentos Física. É preciso lembrar que a Geografia Crítica, com fundamentos teóricos de Marx, que têm assolado as cidades nas regiões Sudeste e Sul. Os alunos e a população em geral colocavam a Geografia Humana superando a Geografia Física. não podem compreender as ocorrências, bastante tristes, pelos noticiários televisivos e jornais. As catástrofes resultaram de um profundo desconhecimento da Geografia pelos O acervo acadêmico da Geografia cresce, mas as dúvidas permanecem poderes públicos e pela a população em geral que não sabe ou não têm informações mais precisas para escolher o seu local de moradia e não podem prever os riscos que correm com No entanto, a dualidade Geografia Humana e Geografia Física persistia e ainda determinadas escolhas pouco pensadas. A discussão sobre esses fatos tinha que penetrar persiste até hoje, embora alguns geógrafos afirmem que só existe a Geografia Humana, nas salas de aula e ser geograficamente estudados, uma vez que o objetivo da educação é pois os aspectos f ísicos estão nela inseridos. Mas na prática o que se observa é a separa- preparar os jovens para uma vida melhor. ção em áreas distintas; isto pode ser constatado na Pós Graduação e na organização dos 3 4
  • 3. departamentos. A posição da cartografia na Geografia é dúbia, pois está inserida na área porque o que educa são as apostilas prontas, embora não avaliadas, em contraste com os da Geografia Física, porém a linguagem cartográfica é necessária e utilizada tanto no tra- os livros didáticos avaliados pelo PNLD – Plano Nacional do Livro Didático. tamento geográfico de fenômenos f ísicos como nos humanos. Nos discursos de hoje muitas das preocupações das décadas passadas continuam Um dos alunos se pronunciou sobre o professor de Geografia da seguinte forma: a ser analisadas em dissertações e teses de pós graduandos sobre a Formação do Professor é aquele que se preocupa em relacionar o que ele leciona com o que acontece no dia a dia de Geografia. No entanto, outras aspirações dos alunos praticamente foram abortadas no de cada um, não se prendendo apenas ao livro didático (...) preocupa-se em desenvolver em momento em que apostilas foram introduzidas nas escolas públicas do Estado de São Paulo seus alunos o espírito crítico e não permitir que decorem coisas que não contribuirão em e em Secretarias de Educação de prefeituras que assumiram as apostilas de cursinhos ou de nada para o seu crescimento intelectual. empresas milionárias que se propuseram a pensar pelos professores, tirando a autonomia Ao lembrar esses depoimentos, notamos que muitas preocupações continuam a da reflexão necessária para a elaboração dos planos de aula nas diferentes modalidades de existir e que o tempo de duas décadas não conseguiu melhorar a educação, embora tenha cursos, onde a geografia esteja incluída. havido o aumento significativo de pesquisas tanto educacionais como eminentemente Nota-se que em escolas do Estado e em certas escolas municipais, em decorrência geográficas. As questões detectadas nos anos 90 continuam na pauta. das reformas educacionais, houve verdadeiro retrocesso na formação de alunos e profes- sores. Por outro lado, os programas de Mestrado e Doutorado das Universidades não se Modelos educacionais deram por vencidos e continuaram a realizar investigações científicas sobre as diferentes Houve alunos que se puseram contra modelos educacionais, pois a vida é extrema- dimensões da Formação do Professor. Para reconhecer este avanço, basta tomar os Anais mente dinâmica e contraditória e não daria conta da formação do professor e nem do aluno. dos Encontros da AGB – ENG, o Encontro de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE, o Mas na primeira década do século 21, os modelos apareceram haja vista a implementação Encontro de Prática de Ensino de Geografia – ENPEG e os encontros do Fala Professor, do Currículo que inicialmente apareceu como proposta para logo ser considerada como para se ter conhecimento do que se produz neste País do ponto de vista da Geografia como o Currículo Oficial da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para todas as disci- Ciência e como Geografia Escolar. Essa produção não mais se restringe a São Paulo, Rio de plinas, incluindo a Geografia. Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre; hoje atinge as capitais e cidades maiores de todas Em 1996, fazia-se uma crítica ao livro didático, quando era a única bibliografia as regiões brasileiras. do aluno em sala de aula (em muitas partes do Brasil ainda é a única). No entanto, cada professor tinha liberdade para escolher o autor que melhor se adequasse às características Interdisciplinaridade de seus alunos e aos objetivos gerais da escola, mesmo que muitas vezes a escolha não Na atualidade são analisadas temáticas significativas que emergem de pesquisas tenha sido a melhor. Em relação às apostilas de Geografia também havia críticas. No entanto, elas acadêmicas, tais como a interdisciplinaridade, a relação entre as escolas públicas e as uni- eram utilizadas apenas nas aulas de cursinhos de preparação aos vestibulares. Este uso versidades que tratam da formação de professores; relação entre a geografia, a literatura e infelizmente expandiu-se na última década. Passou a ser utilizada nas escolas do ensino as artes atualmente estão valorizadas e disponibilizadas para o grande público. Na ficção, básico com a anuência e aquisição do material pelas prefeituras do País. O Estado de São o tempo, o espaço, o lugar, a paisagem, o território e o movimento da sociedade estão Paulo fez um currículo baseado em um conjunto de apostilas para o Ensino Fundamental presentes. O uso de diferentes tipos de linguagem precisa ser utilizado de forma compro- e Médio, no qual está a essência para a avaliação dos alunos, via SARESP, ENEM e para os metida, mostrando o valor da Geografia e o valor das artes nas práticas pedagógicas. As concursos de ingresso ao magistério. artes têm valor por elas próprias. Essa relação entre as disciplinas pode também ocorrer O aluno afirmava não acreditar em um modelo para a educação, porém em nossos nas escolas públicas não atreladas a currículos fechados feitos por órgãos autoritários que dias, temos modelos implantados para todos obedecerem passo a passo. Se houver um não acreditam, ou fazem que não acreditam na capacidade do professor de pensar, ensinar eclipse em São Paulo, alunos e professores não poderão assistir porque quem determina a e de aprender. pseudo formação do aluno são as apostilas e não o professor. A prática pedagógica cons- Aqui a título de exemplo, lembro o filme Central do Brasil, de Walter Sales, que truída com muito esforço durante anos de estudo e de trabalho foi deixada de lado. Os apesar de ficção pode ser o norteador de um trabalho interdisciplinar de vários professores, acontecimentos inusitados e inesperados, que dizem respeito à vida de todos nós, não podem porque essa ficção se fundamenta na realidade vivida por muitos brasileiros, principalmente fazer parte do currículo ativo. Esses acontecimentos não poderão ser vistos e analisados nordestinos que vivem em cidades grandes, nos sertões semi áridos ou na zona da mata. 5 6
  • 4. O filme por si só não é suficiente para conhecer o Brasil do ponto de vista geográfico Se a docência é uma atividade intelectual e prática, o professor precisa ter fami- diante da diversidade cultural, f ísica, paisagística e econômica existente nos 8,5 milhões de liaridade com os processos investigativos, uma vez que os conteúdos são construções teó- km2, mas permite a discussão de tempo espaço; de condições socioeconômicas vividas no ricas, frutos de pesquisas. A prática pedagógica requer reflexão crítica, constante criação país, da religiosidade do povo nordestino, das estratégias que o povo cria para sobreviver. e recriação do conhecimento e das metodologias de ensino. Deve ser dada oportunidade aos alunos para que compreendam a linguagem cinemato- gráfica como a interação de diferentes artes combinadas para chegar ao belo, ao estético e Espaço e Poder à crítica social. Pode ser o ponto de partida e o de motivação para conhecer o nosso País. Inúmeras vezes já afirmei que a escola, sobretudo a pública, é o lugar do conhe- Um outro aspecto da pesquisa a ser considerado na Geografia é a relação existente cimento multidisciplinar e interdisciplinar. Ela é apenas multidisciplinar quando 7 ou 8 ente espaço e poder. Muitas pessoas e até mesmo grupos de profissionais ou de famílias professores de disciplinas específicas trabalham isoladamente com os mesmos alunos sem sentem e sofrem as pressões que o poder ou os poderes têm sobre eles, mas não conseguem que se saiba a relação de sua disciplina com as demais. Porém, se dois ou mais professores entender que os processos produzidos historicamente são responsáveis pela dominação. se reunirem para descobrir juntos sobre quem são seus alunos e o que eles necessitam para Aí a pesquisa tem o poder de revelar fatos até então escondidos ou escamoteados, crescer do ponto de vista do conhecimento da Geografia, da História e das demais Ciências ou seja, a capacidade que as pessoas ou grupos têm de se aproximar do real. e Artes, poderão chegar a identificar o objetivo da construção do conhecimento com os Na Geografia, assim como na escola, o espaço é palco de profundas interações. É alunos, abrindo o caminho da interdisciplinaridade. imprescindível a busca das relações entre espaço e poder. Essa relação somente pode ser encontrada no interior de um contexto onde as complexas relações precisam ser entendidas Pesquisa como princípio educativo para desvelar o poder presente e exercido no espaço geográfico. A pesquisa, ao exigir a Alguns poderão dizer que isso é impossível na escola de hoje, mas não se pode problematização de seu objeto, a fundamentação teórica e a aplicação de metodologias que saber antes de tentar. Um professor aprende com o outro, amplia o relacionamento com apontem os melhores caminhos para responder as questões, também se constitui como um os colegas de profissão e minimiza o medo que se pode ter da crítica. valioso instrumento de poder, que permite detectar como ele é exercido em determinadas Outra dimensão ausente, tanto nas reflexões da formação inicial como no cotidiano instituições, a exemplo, do espaço social escola. da escola básica, é a inclusão da pesquisa como princípio educativo. Aqui lembramos de Pedro Demo e de outros pesquisadores que se preocupam com a formação de professores Para não concluir e consideram que a pesquisa educa e forma. Apesar de as políticas públicas de educação impostas ignorarem as investigações Há algum tempo, discute-se a necessidade de incorporar a pesquisa e os proces- educacionais realizadas nas universidades com trabalhos que duram de 2 a 4 anos ou até sos de investigação nos cursos de formação docente. A bibliografia hoje (2011) está mais mais, as pesquisas continuam, os intercâmbios com pesquisadores e geógrafos de outros ampla e apoia a pesquisa como princípio educativo e formativo de professores e de alunos países se realizam e o retorno de professores sobretudo da escola pública para a universi- da escola básica. A pesquisa precisa ser concebida como dimensão privilegiada da relação dade para cursos e atividades acadêmicas acontecem. Assim são colocadas em discussão: entre a teoria e a prática sendo, portanto, necessário redimensionar seu papel na formação a formação do professor, os currículos manifestos, o currículo real que se concretiza co- do professor. A ideia é ressaltar a sua importância na construção de uma atitude cotidiana de compreensão dos processos educativos. A pesquisa pode ser um processo aglutinador tidianamente na prática pedagógica do professor e os melhores caminhos metodológicos da reflexão crítica, facilitadora da aprendizagem e do desenvolvimento dos alunos, na busca para ensinar e aprender a Geografia. de autonomia na interpretação mais consistente de aspectos da realidade. Perguntamos ainda porque o acervo produzido cientificamente sobre a Formação Apesar da importância dessa questão, persiste ainda a ideia de que o professor da do Professor e o Ensino de Geografia e de outras disciplinas curriculares, disponibilizados escola básica não precisa pesquisar, ou pior ainda, que nas escolas formadoras de profes- em livros, teses e dissertações, muitos já digitalizados, não são incorporados nas Políticas sores a investigação científica pode estar ausente. Tal posição reforça a concepção de que Públicas de Educação dos diferentes governos estaduais ou municipais? Essas políticas o professor seria um simples transmissor ou repassador de informações, mero usuário do mudam, mas não mexem na essência, ou seja, na melhor maneira de formar nossos pro- produto do conhecimento científico construído por outros e que somente um bacharel ou fessores, crianças e jovens para enfrentar os desafios que a vida, a profissão, a história e as equivalente teria condições de fazer investigações científicas. políticas partidárias sempre nos impõem. 7 8
  • 5. O fortalecimento da formação inicial e continuada do professor, a relação cada vez mais forte entre a universidade e as escolas públicas do ensino fundamental e médio constituem a esperança de mudanças no cenário educacional do país. No entanto, é es- sencial que o professor tenha condições de analisar o que existe por trás dessas políticas implementadas. Para finalizar posso afirmar que: ainda não encontrei a minha voz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, Marli. Ensinar a pesquisar... como e para que? In:Educação formal e não for- mal, processos formativos e saberes pedagógicos: desafios para a inclusão social. Recife:XIII ENDIPE. p. 221-233. BAILLY,A. et al. Les concepts de la géographie humaine. 2ed.Paris :Masson, 1994. CAVALCANTI, H.B. Ensaios de um Nordestino Ausente. Nashville, Tennessee, US, 2010. DEMO, Pedro. Saber Pensar. São Paulo: Cortez- Instituto Paulo Freire, 2000. FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O Caminho se faz caminhando – Conversas sobre educação e mudança social. Petrópolis - RJ:Vozes, 2003. GOODSON, Ivor. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995. INRP –Institut Nacional de Recherche Pédagogique. La Formation aux Didactiques. Actes du Colloque. Paris : INRP, 1990. PINHEIRO, Antonio Carlos. O Ensino de Geografia no Brasil- Catálogo de Dissertações e Teses. Goiânia – GO: Ed. Vieira, 2005. PONTUSCHKA, N.N., PAGANELLI, T.I. e CACETE, N.H. Para Ensinar e Aprender Geografia. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. VENTURI, Luís Antonio Bittar. (org) Praticando Geografia – técnicas de campo e labo- ratório. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. 9