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Ensaio 
Equipamento Céu São Mateus 
AO Alexandre Tripiciano 
Equipe Leste II
Aproximações dos Meios de Procedimentos Experimentais e Colaborativos. 
Como parar e pensar sobre determinado assunto? 
Quais as suas inquietações... 
Traduzir aproximações compartilhar pesquisas de maneiras continuadas. 
Nascer de uma explosão silenciosa, crescer para todos os lados e expandir. 
Isso só é possível quando se joga junto, se permitir ao erro, quando se tem uma equipe que escuta e joga junto. Quando existe um lugar um espaço aonde você compartilha, troca suas inseguranças e experiências e inexperiências, ansiedades, preocupações, conquistas, e elas são acolhidas. 
Como construir coletivamente e por ela ser construído, esta ideia de correr riscos mexer com a adrenalina ir cada vez mais alto de galho em galho e poder cair... "Em que medida AOs e vocacionados em processo de criação direcionam os seus olhares para os detritos e fragilidades como possíveis materialidades artísticas? 
"Qual é o espaço necessário para que uma ação que tem a intenção de estabelecer trocas abra espaço para a imprevisibilidade, para a possibilidade do 'erro' e da queda?" 
Acreditar que é possível, que por mais que pareça impossível instaurar algum processo, alguma coisa, chegar entre o Ceu e a Terra em algum lugar ou não. É possível sim! Mas tem que insistir existir, ter muita fé e não desistir. Para depois poder existir. Existir de varias maneiras, em vários lugares, diversas situações, com diferentes pessoas, contextos e histórias…
Acredito no que gera uma grande potencia nos vocacionados é o de conviver mais e ensinar menos, todos motivados por uma inexplicável vontade de desejos o de continuar a prosseguir contar suas histórias e estar juntos. Isto fortalece os processos artísticos e que consigam pensar sobre suas próprias criações, em seus próprios movimentos. A importância de ter uma ideia própria, alimentá-la e dar-lhe forma. Conhecer suas histórias e escutar suas expectativas e desejos. Como se movimentam o que ficou dos nossos encontros, compartilhando saberes e sabores das trocas de dança com os vocacionados. 
Fazer parte deste projeto é mais do que fazer aulas, apresentar danças, ver vídeos, ir ao teatro ou a exposições. 
É fazer parte da grande teia cultural da cidade, sendo um agente cultural que faz, reflete e atua nessa cidade nesta pluralidade cultural.
As aulas no Céu São Mateus tiveram início no mês de abril de 2014. Neste momento inicial, o objetivo maior era conhecer os corpos ali presentes ver o que foi construído do ano anterior dar continuidade, conhecer suas histórias e escutar suas expectativas e desejos. Esta interação com o grupo foi primordial para elaborar uma estratégia de ação: criar um ambiente prazeroso para o treinamento corporal e para a criação artística que respeitasse as diferenças individuais e contemplasse o coletivo. 
A heterogeneidade da turma que vai de senhoras até adolescentes, com ou sem experiência em dança foi decisivo na escolha e na implementação dos diversos procedimentos. A atenção o olhar o lugar da escuta do grupo, o espaço-tempo aos poucos foi reconhecido a construção de cada um e do outro. 
Assim fomos agregando novos elementos aos processos desenvolvidos nos encontros durante o ano. Enriquecendo positivamente as múltiplas possibilidades da dança, tanto no treinamento corporal como na criação artística. 
Esse teve como base principal o diálogo entre a Capoeira Angola e o Contato Improvisação. Porém, ao longo da pesquisa, os diferentes repertórios dos vocacionados foram agregando novos elementos aos processos desenvolvidos nos encontros. Alguns desses foram: as danças urbanas, a gastronomia, a fotografia o vídeo etc. Devo dizer que essas enriqueceram positivamente as múltiplas possibilidades da Dança, tanto no treinamento corporal como nos processos artísticos.
Os encontros têm um caráter dinâmico e espontâneo. Preocupei-me em construir um ambiente criativo que incentivasse a busca de uma dança própria de cada indivíduo, mas que, ao mesmo tempo, desvendasse as singularidades do grupo. Acredito que de tal forma pude ampliar as referencias artísticas contemplando as diferentes demandas que o programa vocacional abarca: bailarinos, capoeiristas, adolescentes, estudantes da comunidade, pessoas de terceira idade e muitas pessoas entre o céu e a terra. Respeitar os diferentes ritmos de aprendizado e disponibilidade para a criação parece-me ser a única forma de se pensar a forma e o conteúdo que um grupo tão heterogêneo de pessoas propõe. 
Alongamentos; jogos individuais e coletivos; atividades lúdicas e de musicalidades foram utilizadas tanto para acordar o corpo como para aguçar a percepção dos sentidos. Essa atitude visa desenvolver a consciência corporal. 
Os jogos de improvisações abordavam tanto os conteúdos pertinentes a dança (como espaço, tempo, peso, equilíbrio, deslocamentos, níveis, apoios, rolamentos, toques, respiração, direções, foco, estruturas corporais ─ esqueleto, músculos, pele, órgãos) como também temas sugeridos ou emergidos da realidade dos vocacionados. 
Ao longo do percurso foram utilizados como recursos metodológicos materiais videográficos, imagens e textos. Proporcionando, assim, uma maior profundidade às apreciações e construção dos protocolos. Foi percebido que os vocacionados passaram a achar muito interessante estes procedimentos já que solicitavam cada vez mais referências. A partir dos protocolos foi possível
selecionar com mais detalhes e de maneira mais dirigida os materiais videográficos pertinentes às ansiedades e curiosidades dos participantes. 
Enquanto Artista-Orientador A.O. pesquisador, sempre senti uma inquietação quanto as formas de comunicação que utilizamos para nos expressarmos no dia a dia. As formas como o tempo e o espaço são geridas em nossa sociedade os simetriza de uma forma regular e constante. No entanto, a própria natureza não é regular e não está habitada por corpos simétricos. A construção da cultura também se dá por assimetrias refletidas em situações e movimentos contraditórios, que, de uma forma ou de outra, estão presentes na historicidade dos corpos. 
A ação de criar uma dança nestes corpos históricos também acontece dessa forma: entre contradições, assimetrias, descobertas e sistematizações do novo. Entendo o corpo como uma história que contamina e é contaminado simultaneamente pelo seu entorno. Ao fazer isso, estudamos suas possibilidades, criamos e desejamos estar em cena, deixando nossa assinatura no espaço-tempo. 
Minha busca está na possibilidade de diálogo entre as assimetrias. Dada a presente situação, na comunicação entre o individual e o coletivo que propõe reflexões sobre algumas temáticas como: grupo-indivíduo, semelhança- diferença, conformidade-desacordo, tensão-relaxamento, impossibilidade- possibilidade.
No decorrer dos encontros, os vocacionados apresentaram maior disponibilidade e abertura para os processos artísticos. Foi notável como ela passou a ser mais rica e profunda após as parcerias estabelecidas com o esporte, a educação e propostas que desenvolvermos nas ações culturais. Entre os bate-papos e trocas de receitas, com o próprio equipamento, a Bienal, grupos e escolas no entorno, criaram espaços de interação de troca do qual utilizamos para despertar fortalecer os sentidos artísticos olfativos, de gustativos, sonoros e tácteis. 
A busca do processo estabelecido foi primordialmente aguçar os sentidos (realmente perceber as sensações) e traduzi-las em movimento, transformando as descobertas em linguagem cênica. 
O conceito de espaço não convencional foi trabalhado através da realização de aulas na quadra poliesportiva, Pick Nick em parques da região no espaço fama, nos jardins e feiras. Realizamos intervenções performáticas utilizando projeções de imagens em muros na arquitetura do equipamento da comunidade, fomos a exposições de fotografia e pintura no SESC Belenzinho, SESC Pinheiros, Banco do Brasil, assistimos espetáculos de dança na Funarte, Galeria Olido, Centro Cultural São Paulo, participamos de Jans de dança. Os procedimentos apresentados envolviam a busca a manipulação a observação e a pensar o corpo, assim como a reflexão e pesquisa de movimentos a partir das sensações e impressões que caracterizam o conceito de espaço não convencional. Dessa forma ultrapassamos a simples reprodução e avançamos para a criação das danças individuais-coletivas. 
Os vocacionados passaram a pensar em seus movimentos e na improvisação como novos conhecimentos que fazem sentido para a criação. A
ideia é que consigam pensar sobre suas próprias criações, em seus próprios movimentos. 
Para a Ação Cultural procurei tentar desperta a vontade de dançar nas mais diversas pessoas. Desde adolescentes, chef de cozinha, donas de casas, pessoas afins da comunidade os B. Boys. Posso dizer que foi furtuita minhas tentativas, pois vários destes com os quais me encontrei passaram a desejar outros treinamentos corporais e demonstraram interesse em entender mais profundamente o intercambio entre as linguagens artísticas. 
Quanto ao tema de Autonomia, Emancipação e Sustentabilidade propõem que os vocacionados mobilizem-se para tirar o DRT e apresentar um projeto para o VAI. E foi conquistado pelo grupo que oriento NPC Habitat e outros de meus vocacionados já estão no mesmo caminho desenvolvendo escrevendo e criando células coreográficas solicitadas para tais projetos. Acredito que esse seja o caminho para uma profissionalização artística e processos criativos emancipatórios que o programa vocacional almeja. 
E assim continuar a proporcionar encontros artísticos aonde se pode experimentar e vivenciar a troca de processos e experimentações que despertem os diferentes sentidos de pensar o corpo em suas danças. 
“Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além” 
( Paulo Leminski)
Entre o Ceu e a Terra...

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  • 3. Acredito no que gera uma grande potencia nos vocacionados é o de conviver mais e ensinar menos, todos motivados por uma inexplicável vontade de desejos o de continuar a prosseguir contar suas histórias e estar juntos. Isto fortalece os processos artísticos e que consigam pensar sobre suas próprias criações, em seus próprios movimentos. A importância de ter uma ideia própria, alimentá-la e dar-lhe forma. Conhecer suas histórias e escutar suas expectativas e desejos. Como se movimentam o que ficou dos nossos encontros, compartilhando saberes e sabores das trocas de dança com os vocacionados. Fazer parte deste projeto é mais do que fazer aulas, apresentar danças, ver vídeos, ir ao teatro ou a exposições. É fazer parte da grande teia cultural da cidade, sendo um agente cultural que faz, reflete e atua nessa cidade nesta pluralidade cultural.
  • 4. As aulas no Céu São Mateus tiveram início no mês de abril de 2014. Neste momento inicial, o objetivo maior era conhecer os corpos ali presentes ver o que foi construído do ano anterior dar continuidade, conhecer suas histórias e escutar suas expectativas e desejos. Esta interação com o grupo foi primordial para elaborar uma estratégia de ação: criar um ambiente prazeroso para o treinamento corporal e para a criação artística que respeitasse as diferenças individuais e contemplasse o coletivo. A heterogeneidade da turma que vai de senhoras até adolescentes, com ou sem experiência em dança foi decisivo na escolha e na implementação dos diversos procedimentos. A atenção o olhar o lugar da escuta do grupo, o espaço-tempo aos poucos foi reconhecido a construção de cada um e do outro. Assim fomos agregando novos elementos aos processos desenvolvidos nos encontros durante o ano. Enriquecendo positivamente as múltiplas possibilidades da dança, tanto no treinamento corporal como na criação artística. Esse teve como base principal o diálogo entre a Capoeira Angola e o Contato Improvisação. Porém, ao longo da pesquisa, os diferentes repertórios dos vocacionados foram agregando novos elementos aos processos desenvolvidos nos encontros. Alguns desses foram: as danças urbanas, a gastronomia, a fotografia o vídeo etc. Devo dizer que essas enriqueceram positivamente as múltiplas possibilidades da Dança, tanto no treinamento corporal como nos processos artísticos.
  • 5. Os encontros têm um caráter dinâmico e espontâneo. Preocupei-me em construir um ambiente criativo que incentivasse a busca de uma dança própria de cada indivíduo, mas que, ao mesmo tempo, desvendasse as singularidades do grupo. Acredito que de tal forma pude ampliar as referencias artísticas contemplando as diferentes demandas que o programa vocacional abarca: bailarinos, capoeiristas, adolescentes, estudantes da comunidade, pessoas de terceira idade e muitas pessoas entre o céu e a terra. Respeitar os diferentes ritmos de aprendizado e disponibilidade para a criação parece-me ser a única forma de se pensar a forma e o conteúdo que um grupo tão heterogêneo de pessoas propõe. Alongamentos; jogos individuais e coletivos; atividades lúdicas e de musicalidades foram utilizadas tanto para acordar o corpo como para aguçar a percepção dos sentidos. Essa atitude visa desenvolver a consciência corporal. Os jogos de improvisações abordavam tanto os conteúdos pertinentes a dança (como espaço, tempo, peso, equilíbrio, deslocamentos, níveis, apoios, rolamentos, toques, respiração, direções, foco, estruturas corporais ─ esqueleto, músculos, pele, órgãos) como também temas sugeridos ou emergidos da realidade dos vocacionados. Ao longo do percurso foram utilizados como recursos metodológicos materiais videográficos, imagens e textos. Proporcionando, assim, uma maior profundidade às apreciações e construção dos protocolos. Foi percebido que os vocacionados passaram a achar muito interessante estes procedimentos já que solicitavam cada vez mais referências. A partir dos protocolos foi possível
  • 6. selecionar com mais detalhes e de maneira mais dirigida os materiais videográficos pertinentes às ansiedades e curiosidades dos participantes. Enquanto Artista-Orientador A.O. pesquisador, sempre senti uma inquietação quanto as formas de comunicação que utilizamos para nos expressarmos no dia a dia. As formas como o tempo e o espaço são geridas em nossa sociedade os simetriza de uma forma regular e constante. No entanto, a própria natureza não é regular e não está habitada por corpos simétricos. A construção da cultura também se dá por assimetrias refletidas em situações e movimentos contraditórios, que, de uma forma ou de outra, estão presentes na historicidade dos corpos. A ação de criar uma dança nestes corpos históricos também acontece dessa forma: entre contradições, assimetrias, descobertas e sistematizações do novo. Entendo o corpo como uma história que contamina e é contaminado simultaneamente pelo seu entorno. Ao fazer isso, estudamos suas possibilidades, criamos e desejamos estar em cena, deixando nossa assinatura no espaço-tempo. Minha busca está na possibilidade de diálogo entre as assimetrias. Dada a presente situação, na comunicação entre o individual e o coletivo que propõe reflexões sobre algumas temáticas como: grupo-indivíduo, semelhança- diferença, conformidade-desacordo, tensão-relaxamento, impossibilidade- possibilidade.
  • 7. No decorrer dos encontros, os vocacionados apresentaram maior disponibilidade e abertura para os processos artísticos. Foi notável como ela passou a ser mais rica e profunda após as parcerias estabelecidas com o esporte, a educação e propostas que desenvolvermos nas ações culturais. Entre os bate-papos e trocas de receitas, com o próprio equipamento, a Bienal, grupos e escolas no entorno, criaram espaços de interação de troca do qual utilizamos para despertar fortalecer os sentidos artísticos olfativos, de gustativos, sonoros e tácteis. A busca do processo estabelecido foi primordialmente aguçar os sentidos (realmente perceber as sensações) e traduzi-las em movimento, transformando as descobertas em linguagem cênica. O conceito de espaço não convencional foi trabalhado através da realização de aulas na quadra poliesportiva, Pick Nick em parques da região no espaço fama, nos jardins e feiras. Realizamos intervenções performáticas utilizando projeções de imagens em muros na arquitetura do equipamento da comunidade, fomos a exposições de fotografia e pintura no SESC Belenzinho, SESC Pinheiros, Banco do Brasil, assistimos espetáculos de dança na Funarte, Galeria Olido, Centro Cultural São Paulo, participamos de Jans de dança. Os procedimentos apresentados envolviam a busca a manipulação a observação e a pensar o corpo, assim como a reflexão e pesquisa de movimentos a partir das sensações e impressões que caracterizam o conceito de espaço não convencional. Dessa forma ultrapassamos a simples reprodução e avançamos para a criação das danças individuais-coletivas. Os vocacionados passaram a pensar em seus movimentos e na improvisação como novos conhecimentos que fazem sentido para a criação. A
  • 8. ideia é que consigam pensar sobre suas próprias criações, em seus próprios movimentos. Para a Ação Cultural procurei tentar desperta a vontade de dançar nas mais diversas pessoas. Desde adolescentes, chef de cozinha, donas de casas, pessoas afins da comunidade os B. Boys. Posso dizer que foi furtuita minhas tentativas, pois vários destes com os quais me encontrei passaram a desejar outros treinamentos corporais e demonstraram interesse em entender mais profundamente o intercambio entre as linguagens artísticas. Quanto ao tema de Autonomia, Emancipação e Sustentabilidade propõem que os vocacionados mobilizem-se para tirar o DRT e apresentar um projeto para o VAI. E foi conquistado pelo grupo que oriento NPC Habitat e outros de meus vocacionados já estão no mesmo caminho desenvolvendo escrevendo e criando células coreográficas solicitadas para tais projetos. Acredito que esse seja o caminho para uma profissionalização artística e processos criativos emancipatórios que o programa vocacional almeja. E assim continuar a proporcionar encontros artísticos aonde se pode experimentar e vivenciar a troca de processos e experimentações que despertem os diferentes sentidos de pensar o corpo em suas danças. “Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além” ( Paulo Leminski)
  • 9. Entre o Ceu e a Terra...