Aula 33 estabilização, política cambial e competitividade - plano real
Aula 18 o regime de acumulação sob a dominância financeira e a nova ordem (economia brasileira)
1. O Brasil sob a Nova Ordem
A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos
governos Collor a Lula
Rosa Maria Marques e
Mariana Ribeiro Jansen Ferreira
Organizadoras
1ª Edição | 2010 |
2. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a
Nova Ordem no Brasil
Rosa Maria Marques
3. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Introdução
As diferentes contribuições presentes neste livro têm como ponto de
partida a compreensão de que o capitalismo das últimas décadas foi
dominado pela face mais perversa do capital financeiro (capital
portador de juros), isto é, pelo capital fictício.
Essa nova realidade se impôs soberana e modificou o quadro
econômico, social e político de praticamente todos os países. E o
Brasil não ficou imune às forças que determinaram e movimentaram o
novo mundo que se descortinou com a instalação dessa dominância.
4. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
1. O Regime de Acumulação sob a Dominância Financeira
Nos anos 1980, quando os Estados Unidos e Inglaterra capitanearam
a desregulamentação monetária e financeira, a
descompartimentalização dos mercados financeiros nacionais e a
desintermediação bancária, os defensores do livre mercado
entenderam que finalmente, depois de décadas, a economia teria
liberdade para desenvolver todo seu potencial.
Dessa forma, depois de 30 anos, o capital portador de juros retornou
soberano e se colocou no centro das relações sociais e econômicas do
mundo contemporâneo.
5. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Vários foram os fatores que determinaram a retomada do poder do
capital financeiro.
Entre eles se destaca a decisão dos Estados Unidos e da Grã Bretanha
de implementar a liberação do movimento dos capitais e a
desregulamentação de seus sistemas financeiros, e de medidas que
promovessem a centralização dos fundos líquidos, de empresas e das
famílias.
A esses fatores “institucionais” somou-se o fato de, no início da crise
(evidente para todos a partir de meados dos anos 1970), as empresas
norte-americanas localizadas no exterior terem colocado seus lucros
não reinvestidos na City de Londres, dando início ao surgimento dos
eurodólares.
6. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
A essa imensa disponibilidade de capital, adicionou-se a oriunda do
petróleo, os petrodólares, base dos empréstimos realizados para os
países do então chamado Terceiro Mundo e, portanto, da dívida
externa brasileira.
O retorno do capital portador de juros foi acompanhado pela
construção de uma nova relação entre os diferentes componentes do
capital (portador de juros, industrial e comercial) e por uma nova
correlação de forças entre o capital e o trabalho, desfavorável a este
último.
Apesar das medidas assumidas por diferentes governos, a crise não se
restringe ao sistema financeiro e começa a tocar a produção e o
consumo, configurando-se em uma crise de superprodução.
7. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
2. A Nova Ordem no Brasil: de Collor a Lula
A adoção do pensamento neoliberal na determinação da política
econômica brasileira pode ser claramente situada no início do governo
Fernando Collor de Mello.
Ao mesmo tempo, no período chamado de desenvolvimentista
(ditadura militar), o Estado definia a política salarial e regulamentava
os preços de produtos considerados essenciais.
Dessa forma, o período democrático antes da ascensão de Collor à
presidência da República, ou seja, do governo José Sarney, pode ser
visto como uma transição entre o passado desenvolvimentista e a
política econômica fundada no neoliberalismo.
8. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Embora o resto do mundo estivesse firmemente questionando a
presença do Estado na economia, na determinação das políticas
sociais e salariais e nos serviços de transporte, entre outros, a
hegemonia política necessária para realizar as chamadas “reformas”
no País não tinha ainda sido formada, em razão de dois fatores
fundamentais.
De um lado, a democratização recente, plena de mobilizações de
diferentes setores da sociedade, especialmente dos trabalhadores,
estava voltada para a obtenção de salários, condições melhores de
trabalho e novos direitos sociais.
9. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Por outro, a não resolução da dívida externa e da inflação crônica e
ascendente paralisava o Estado brasileiro, de modo que ele não podia
adotar qualquer política perene.
No primeiro pleito direto depois de finda a ditadura militar, Collor foi
eleito à presidência da República, derrotando o candidato do Partido
dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva, e, assim que empossado,
lançou um plano ambicioso de combate à inflação, com o início da
abertura comercial e das privatizações.
Mas foi somente durante o governo Fernando Henrique Cardoso que,
de fato, a política econômica foi totalmente subordinada ao
pensamento neoliberal, aos interesses dos credores (internacionais e
nacionais) e ao capital financeiro em geral.
10. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
No plano da inflação, é preciso lembrar que o Plano Real, que resultou
na retomada da estabilidade da moeda, foi realizado na gestão de
Itamar Franco, vice de Collor que assumiu a presidência quando de
seu afastamento, mas sob a pasta de Fernando Henrique Cardoso,
então ministro da Fazenda.
Durante o governo Lula, não foi abandonada a política econômica
realizada por FHC – muito pelo contrário, pode-se dizer que ela foi
aprofundada.
As mudanças ocorridas no sistema financeiro começaram em 1988,
quando o Banco Central (Bacen) permitiu que as instituições, que
antes funcionavam com apenas uma carteira, se transformassem em
bancos múltiplos.
11. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Segundo o estudo realizado por Cássia Bömer Galvão no Capítulo 7,
no período de 1994 a 2007 ocorreram 4.715 fusões e aquisições no
País, das quais 56,63% tiveram participação de capital estrangeiro
Em relação ao mercado de trabalho, estruturalmente precário e
concentrador, e com um nível baixo de salário médio praticado, todos
os governos tentaram, a partir de 1990, de todas as formas, torná-lo
ainda mais flexibilizado e barato.
Assim, mesmo que as leis trabalhistas da época de Getúlio Vargas
ainda não tenham sido eliminadas, começou-se a praticar o contrato
de trabalho por tempo parcial, introduziu-se um sistema de
remuneração variável, e foi flexibilizada a jornada de trabalho
mediante a criação do banco de horas.
12. Capítulo 1
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3. O Governo Lula e sua Base de Apoio
Em 1980, quando foi criado o Partido dos Trabalhadores no Colégio
Sion, em São Paulo, o elemento dinâmico do movimento era
constituído pelos trabalhadores organizados em torno de seus
sindicatos.
Do ponto de vista de classe, o governo Lula é um governo burguês
que tem em sua direção tanto antigos líderes sindicais e intelectuais
vinculados ao PT como os mais convictos neoliberais.
Os neoliberais presentes no governo, capitaneando a área econômica,
definem a relação com os credores em geral e com o FMI, bem como
todos os aspectos da política econômica a ser seguida, subsumindo as
demais áreas de atuação do governo aos seus objetivos.
13. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
Dominância Financeira e a Nova Ordem
no Brasil
Em sua reeleição, Lula recebeu 58,3 milhões de votos (60,8% dos
votos válidos), apesar de denúncias de corrupção de membros de sua
equipe terem marcado todo o período de sua primeira gestão, e isso
ter sido basicamente o teor do discurso de seus opositores durante
suas campanhas.
O governo Lula deu início a um tempo de um “um novo populismo”, a
cujos desdobramentos ainda estamos assistindo.
Isso porque esse governo necessita, para se manter no poder, além de
cumprir a agenda que ficou pendente ao final da gestão FHC, construir
uma base de sustentação política confiável (e, por isso, sólida), o que
somente pode ser feito a partir da população mais pobre e com menos
experiência organizativa.
14. Capítulo 1
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no Brasil
3.1 O novo populismo
O populismo no Brasil nasceu com Getúlio Vargas e foi caracterizado,
entre outros aspectos, pela capacidade de o Estado conter e
manipular o movimento de massas organizado.
Na época de Getúlio, o populismo se fundava nas massas organizadas
e contra suas direções tradicionais, fazendo dos sindicatos agentes de
sustentação de seu projeto nacional.
Já o “novo populismo” não só não pode se apoiar no movimento
organizado, salvo se ele estiver sob seu controle, como está a serviço
dos interesses do capital internacional, em especial do financeiro.
15. Capítulo 1
O Regime de Acumulação sob a
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no Brasil
A utilização política dos trabalhadores organizados em seus sindicatos,
associações e/ou movimentos apresenta limites extremamente
estreitos, dados pela própria contradição entre o cumprimento da
agenda, e a necessidade de uma condução que priorize recompor os
serviços públicos sucateados e a aplicação de uma política salarial
adequada, entre outros aspectos.
Qualquer mobilização mais firme por parte dos trabalhadores
organizados constitui uma ameaça ao governo.
Já a nova base de apoio, formada principalmente pelos beneficiários
do Bolsa Família, diluída em todo o País e tendo em comum somente
sua baixa renda, não constitui uma ameaça.
16. Capítulo 1
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no Brasil
O desenho de uma nova base de apoio do governo Lula – a partir do
desenvolvimento de programas de transferência de renda – completa-
se, no âmbito maior da proteção social, com a destruição daquilo que
se avançou na Constituição de 1988.
Em nome da estabilidade, do crescimento e do cumprimento dos
“contratos” com os credores internacionais e nacionais, abandona-se a
idéia de universalização das políticas sociais, adotando-se as antigas
formas assistencialistas para os pobres e deixando para os demais
(embora não ricos), como única alternativa, o mercado.