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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
       FACHS – Curso de Psicologia
               PUC – SP




            Projeto de Iniciação Cientifica




                 Pesquisa Individual




           Orientação: Paula Regina Peron

          Pesquisador: Diego Amaral Penha




                    São Paulo
                        2010
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                                     Resumo




       O objetivo desta pesquisa é investigar quais os mecanismos psíquicos
subjacentes aos motivos que levam espectadores a assistir filmes de terror.
Secundariamente, a pesquisa pretende relacionar sonhos e os pesadelos a tais
filmes, partindo da concepção de que a produção de cinema e a produção de
sonhos possuem dinâmicas e metas semelhantes sob a ótica psicanalítica.
       A Psicanálise é um dos caminhos para o estudo do psiquismo humano. A
partir de seu método interpretativo o inconsciente pode ser estudado, inclusive na
análise de produções artísticas.
       O filme Silent Hill (Terror em Silent Hill, 2006) será utilizado como
representante da categoria terror por se tratar de um filme de relevância no mercado
cinematográfico e por contar com características básicas do gênero de terror. Uma
análise dos conteúdos abordados pelo filme e suas técnicas de produção de medo,
será usada para representar como a sétima arte produz reações psíquicas nos
espectadores.
      O Cinema, desde sua mais precoce aparição, tem como objetivo atingir o
imaginário humano, confundindo ficção com realidade. A função da sétima arte está
extremamente ligada com a reação dos espectadores. O Cinema como
representação fantasiosa da realidade auxilia e requer auxilio da Psicanálise para
compreender o sentido dos desejos humanos.
       Assim, a partir de reflexões sobre como o Cinema e a Psicanálise podem
atuar juntos, este trabalho busca compreender pela perspectiva psicanalítica quais
são os motivos que levam pessoas a gostarem de filmes de terror.


      Palavras-chaves: psicanálise, cinema, filmes de terror, pulsão de morte.
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                                       Introdução




      Ao sentarmos em uma poltrona confortável para assistir um filme, olhamos
fixamente para a tela em branco que logo estará nos transportando para um mundo
imaginário, em que o que mais desejamos dele é o prazer. Queremos viver o ator,
queremos nos aventurar por lugares desconhecidos, queremos sonhar.
       Um filme, por outro lado, brota do imaginário de outrem. É dotado do anseio
de ser divulgado, o autor quer que sua criação, seu ideal de imagem seja dividido.
Camila Sampaio (2000) diz que: “[...] a experiência do sonho, ou o desejo humano
de compartilhar os sonhos, está na própria origem da possibilidade do cinema...”
(p.46), o filme, assim como o sonho, é uma porta para a psique, que pode nos levar
para dentro, ou trazer algo para fora.
       Assim como nos sonhos, o cinema proporciona a possibilidade de escapar à
regra, fazer o proibido, liberando a psique para gozar de tais efeitos por mérito da
expressão artística. Temos no cinema a “maquina do prazer” (Sampaio, 2000, p.47)
para sonharmos acordados e mais uma vez tentarmos saciar os nossos desejos
pulsantes.
       Porém algo perturba nossos sonhos, algumas vezes acordarmos sufocantes
durante a madrugada, temos pesadelos. Conscientemente, estes não nos parecem
ser prazerosos, pelo contrario desejaríamos nunca tê-los, pois estes nos dificultam o
sono e despertam uma angustia terrível deixando-nos com medo. E assim como nos
sonhos, em filmes também podemos ter pesadelos, pois, “[...] existem filmes que nos
fazem sonhar para proteger nosso sono [...] e, existem filmes que nos acordam,
despertam, instigam [...]” (Magalhães, 2008, p.89). Um exemplo de tais filmes são os
do gênero terror.
      Se pudéssemos escolher entre ter ou não pesadelos, com certeza
escolheríamos não tê-los. Mas como podemos observar, escolhemos
propositalmente ver filmes de terror, por mais contraditório que pareça escolhemos
sonhar pesadelos acordados. Gastamos tempo, dinheiro e atenção para nos
assustarmos. Onde está o prazer nisto? Realmente buscamos prazer nestes filmes?
Se não, o que buscamos?
      A busca para compreender os sentidos que as imagens cinematográficas
podem receber de seus espectadores tem sido campo da psicanálise por algum
tempo. Temas psicanalíticos como identificação, projeção, introjeção e sublimação
fazem parte dos métodos cinematográficos de cativar o público e arrastá-los para o
mundo da realidade imaginária, apesar de nem sempre utilizar-se da mesma
nomenclatura que a psicanálise.
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       A psicanálise nos diz sobre mecanismos da psique que não buscam o prazer.
A pulsão de morte teorizada por Freud é o impulso agressivo, voltado ao objeto, que
tende a redução completa das tensões entre desejos, ou seja, busca o
aniquilamento do objeto para o retorno ao estado inorgânico, sem o desejar. É nesse
sentido que a psicanálise pode nos ajudar a responder quais são os motivos para o
terror no cinema, pois ela nos diz sobre o que não gostamos de saber que
gostamos.
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                            Delimitação do tema de pesquisa




     Esta pesquisa pretende trabalhar o fenômeno dos filmes de terror, sob a
perspectiva psicanalítica. Conceitos psicanalíticos serão usados para esquematizar
qual a dinâmica psíquica envolvida para pessoas gostarem de tais filmes.
     O objeto de estudo da Psicanálise é o inconsciente. Freud (1915) utilizou-se
deste termo para definir que durante a sua prática analítica buscaria dentro do
psiquismo de seus pacientes conteúdos recalcados, desagradáveis, que há muito
haviam escapado à consciência, entrando em um estado de esquecimento.
Recalque é uma das operações pelas quais a psique se defende dos conflitos
pulsionais. O recalque age sobre os representantes psíquicos das pulsões no
inconsciente.
    A segunda teoria pulsional de Freud (1920) traz a divisão das forças pulsionais
do aparelho psíquico em pulsões de vida e pulsões de morte. O autor explica que o
próprio amor objetal é dividido entre estas duas polaridades, “Amor (ou afeição)” e o
“Ódio (ou agressividade)” (Freud, 1920, p.35). Para ele a pulsão de morte é mais
primitiva, pois ela entra em ação “a serviço da função sexual” (Freud, 1920, p.35). O
desejo de controlar o objeto desejado coincide com o aniquilamento dele.
Posteriormente, durante o desenvolvimento psíquico, a pulsão sádica se isola e a
pulsão sexual agora tem primazia sobre o objeto, por enquanto. Poder-se-ia
verdadeiramente dizer que o sadismo que for expulso do ego apontou o caminho
para os componentes libidinais do instinto (pulsão) sexual e que estes o seguiram
para o objeto. (Freud, 1920, p.35)
       Após a criação da segunda tópica, Freud afirma que o ego lida com conflitos
inconscientes (Id), morais (Superego) e do mundo externo. Assim o ego passa a ser
compreendido como sede da angústia na psique, podendo produzir e sentir
angústia. Nesse contexto a angústia causa o recalque, sendo este uma reação do
ego a eventos tidos como perigosos para a psique. (Freud, 1923, p.10-25)
       Outra maneira defensiva de lidar com a angústia é através do mecanismo de
projeção. A projeção aparece sempre como uma defesa, como a atribuição ao outro
– pessoa ou coisa – de qualidades, de sentimentos, de desejos que o sujeito recusa
ou desconhece em si. (Laplanche e Pontalis, 2008, p.376). Com a projeção o
indivíduo defende-se, deslocando para um objeto os seus desejos inconscientes. A
psicanálise trata do termo introjeção para referir-se ao movimento defensivo
contrário à projeção. Introjeção é o movimento de apropriação do mundo externo
pela psique. Sobre a oposição projeção e introjeção:
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       [...] o “ego-prazer purificado” constitui-se por uma introjeção de tudo o que é
fonte de prazer e por uma projeção para fora de tudo o que é ocasião de desprazer.
(Laplanche e Pontalis, 2008, p.248)
        Os autores referem-se aqui ao principio de prazer e a tendência do ego de
satisfazer seus desejos, adquirindo tudo que é bom para si próprio e expulsando o
que é ruim. Estes movimentos psíquicos de defesa são ferramentas integrantes da
constituição da personalidade do sujeito. A identificação se dá através destes
movimentos, pois esta é um processo psicológico pelo qual alguém adquire
propriedades de um objeto e se transforma segundo este modelo (Laplanche e
Pontalis, 2008). Este movimento é de grande valia quando buscamos estudar o
efeito que filmes possuem nos espectadores, pois quando assistimos a um filme
identificamo-nos com um ou mais personagens, ou seja, adquirimos para nós algo
específico de tal personagem, integrando-o ao nosso universo psíquico. Por outro
lado a identificação também se estabelece de forma projetiva, ou seja, depositando
em algum objeto externo a possibilidade de realização de seu próprio desejo. Este é
um movimento também observado quando nos identificamos com personagens, e
estes realizam por nós nossos desejos recalcados.
       As identificações e introjeções que um sujeito faz estruturam suas imagens
psíquicas inconscientes. Estas virão a constituir suas imagens oníricas por meio de
mecanismos como condensação e deslocamento, movimentos típicos dos sonhos.
Os sonhos são para Freud (1910 [1916]) o caminho mais seguro para atingir o
inconsciente na psicanálise, pois neles as resistências da psique estão afrouxadas e
os conteúdos inconscientes esquecidos podem ser acessados. Nos sonhos a psique
busca a realização de desejos que lhe foram recusados durante o dia. Citando Freud
(1910 [1916]: “[...] a interpretação de sonhos, quando não a estorvam em excesso as
resistências do doente, leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos [...]”
(p.45), sendo assim dentro de sonhos temos a alternativa possível encontrada por
nossos desejos que não puderam ser realizados.
      A interpretação de sonhos freudiana se mostra eficaz na tentativa de alcançar
conteúdos inconscientes da psique, dando sentido às imagens oníricas, muitas
vezes, sem sentido. Identificar quais mecanismos estão corroborando para a
formação dessas imagens nos dão pistas para a compreensão do funcionamento da
psique.
        Se pretendermos descobrir por quais razões alguém assiste a um filme de
terror, a resposta pode ser encontrada na identificação dos mecanismos por trás da
criação das imagens cinematográficas, pois segundo Sampaio (2000): “[...] o cinema
(é) o instrumento apropriado para a descrição da vida mental profunda [...]” (p.47),
ou seja, tal qual um sonho um filme pode ser usado para atingir conteúdos
inconscientes, não de um individuo, mas de todo o público espectador.
      Utilizaremos nesta pesquisa o filme “Terror em Silent Hill” (2006), pois este
filme teve grande repercussão no universo cinematográfico. O filme lucrou
US$97.607.453 e seu orçamento foi de US$50 milhões. O filme é baseado no
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enredo de uma série de jogos virtuais da KONAMI Corporation, esta é uma das
razões pela qual foi um dos quatro filmes da Sony Pictures a ocupar a primeira
colocação nas bilheterias dos Estados Unidos da América no ano de 2006 (França,
2010). Silent Hill trata de dois mundos paralelos: um real, em que vivemos e um que
está dentro, e é atravessado pelo psiquismo de uma garota que fora atormentada e
torturada na infância. Seus maiores temores agora são os temores das pessoas que
ficam presas em seu mundo imaginário.
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                                    Problematização




      O medo, a ansiedade e o estresse têm suas importâncias evolutivas.
Segundo Loiola (2010) eles deixam os indivíduos preparados para a maioria das
adversidades, aumentando sua eficiência. Ainda citando a autora, quando:
       [...] o cérebro percebe uma ameaça, um sistema chamado circuito do medo
entra em ação. Formado por núcleos cerebrais como a amígdala e o hipocampo, ele
libera neuro-hormônios e neurotransmissores para defender o organismo. (Loiola,
2010, p.38)
       Ou seja, sentir medo fora das salas de cinema é desagradável, porém é um
mecanismo de defesa evolutivo útil para proteger a integridade do próprio
organismo. Podemos pensar que filmes de terror podem nos ajudar evolutivamente
a nos preparar para algum evento desconfortante futuro, mas esta afirmação não
explicaria o fato de alguém realmente procurar um filme de terror no seu momento
de lazer, para se divertir. Se nos detivermos ao pensamento bioquímico
chegaríamos à conclusão de que os filmes de terror seriam evolutivamente
importantes para constituir os mecanismos de defesa orgânicos e que assisti-los
seria uma tarefa desconfortável mais importante. Não é o que observamos.
       O hábito de assistir estes tipos de filmes é, para certas pessoas, prazeroso.
Partindo de pressupostos psicanalíticos, o sujeito que assiste possui pulsões
inconscientes que operam sobre as imagens recebidas de um filme. Este já é
dotado, como obra artística, por inúmeros anseios e desejos depositados nele por
todas as pessoas que o produziram. São vários inconscientes agindo juntos, atores,
diretores, escritores, operadores de câmeras, cenógrafos, sonoplastas, dublês,
maquiadores e uma infinidade de outros profissionais atuando juntos para criar uma
obra completa que represente o que o espectador poderá compreender como, por
exemplo, o terror. Esta criação é dotada de conteúdos inconscientes. Conteúdos
subjetivos são lançados ao espectador, e este dialeticamente impõe seus próprios
conteúdos subjetivos inconscientes nas imagens e conceitos registrados por seu
raciocínio.
        Como, então, este espectador opera frente a um filme de terror? E quais são
as técnicas cinematográficas utilizadas para levar este espectador a operar de tal
maneira? Barbosa (1996), em seu estudo sobre a poética do cine-terror detalha as
técnicas cinematográficas de trazer a tona no espectador o medo. Para descrever as
técnicas de suspense o autor explica as “Estratégias de temporalização” (Barbosa,
1996, p.23). Estas podem ocorrer de duas maneiras, produzindo duas reações
distintas entendidas como medo.
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      A primeira é uma técnica de produção de ansiedade. Sabemos que algo vai
acontecer com um personagem, porém este não divide do mesmo saber. Os cortes
entre cenas vão se tornando mais demorados e a trilha sonora contribui para
aumentar a ansiedade. O outro (monstro) é introduzido lentamente no foco e quando
está totalmente visível para o espectador é que ocorre o ataque. Não
necessariamente ocorre um susto, mas depois do ataque os cortes entre cenas
ficam extremamente acelerados, e o espectador sente-se dentro de um conflito de
imagens. (Barbosa, 1996, p. 25-28)
       A segunda técnica, em sua maioria das vezes, ocorre quando o personagem
sabe qual perigo o está à espera. Da mesma maneira do anterior o tempo entre
cortes é diminuído para criar o terreno de ansiedade mais uma vez. Desta vez ao
invés de o outro (monstro) ser introduzido lentamente em foco, ele é apresentado
entre cortes e em sintonia com uma variação brusca da trilha sonora, que assusta,
seguida do ataque e rápidos cortes de cena novamente. (Barbosa, 1996, p.25-28)
       Estas técnicas produzem reações nos espectadores, pois estes já sabem o
que esperar de tais filmes. Ou por já terem experimentado situações de medo,
ansiedade e susto, ou por já terem assistido a um filme de terror. “Esse gênero não
ganha nada escondendo que cenas aterrorizantes virão. É importante que desde o
início o espectador fique na espera de que algo virá para causar-lhe medo.”
(Barbosa, 1996, p.13)
      Segundo Freud as reações de:
              “„Susto‟, „medo‟ e „ansiedade‟ são palavras impropriamente
       empregadas como expressões sinônimas; são, de fato, capazes de uma
       distinção clara em sua relação com o perigo. A „ansiedade‟ descreve um
       estado particular de esperar o perigo ou preparar-se para ele, ainda que
       possa ser desconhecido. O „medo‟ exige um objeto definido de que se tenha
       temor. „Susto‟, contudo, é o nome que damos ao estado em que alguém fica,
       quando entrou em perigo sem estar preparado para ele, dando-se ênfase ao
       fator da surpresa.” (Freud, 1920, p.8)
       Fazer esta diferenciação nos é útil, pois cada reação é estabelecida em uma
categoria de tempo específica. A ansiedade por descrever o estado de esperar está
voltada para o futuro, ou seja, possibilidade de prever as relações causais de
eventos. O medo é fixo em um objeto que está no presente, mesmo se este objeto
não está no mesmo lócus do sujeito, sua imagem é presente na psique. E o susto é
a reação que ocorre após (mesmo que seja em milésimos de segundo) a aparição
surpresa e sem previsão de algo, por tanto está vinculada ao passado, a um evento
que já ocorreu.
      Os sustos podem gerar a próxima ansiedade, quando objetos que lhe foram
assustadores no ocorrido (os sustos) estão em mente, lhe deixando com medo de
uma possível situação desagradável. De fato toda essa cadeia é desagradável, de
tal maneira que Freud preocupou-se sobre o que de fato ocorriam nos pesadelos.
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Estes foram alguns dos motivos que levaram Freud a elaborar a sua segunda teoria
pulsional.
       Sua questão era a seguinte: Por que a psique iria em alguma circunstância
querer reproduzir situações desprazerosas durante o sono? O próprio Freud,
parcialmente responde está pergunta:
        “Se não quisermos que os sonhos dos neuróticos traumáticos abalem nossa
        crença no teor realizador de desejos dos sonhos, teremos ainda aberta a
        nós uma saída: podemos argumentar que a função de sonhar, tal como
        muitas pessoas, nessa condição está perturbada e afastada de seus
        propósitos, ou podemos ser levados a refletir sobre as misteriosas
        tendências masoquistas do ego.” (Freud, 1920, p.8)
        Esta ultima proposta, juntamente com outras, levou Freud a desenvolver sua
teoria de que as pulsões não mais se dividiriam em pulsões de auto-conservação e
pulsão sexual, como acreditava e sim em pulsões de vida (Sexuais e auto-
conservação) e pulsões de morte, estas dotadas de agressividade para com o
objeto. Como já afirmei Freud ainda vai além, afirma que a pulsão de morte seria
primitiva e anterior à pulsão de vida, o que nos leva a pensar que assistir um filme
de terror não é tão diferente de ter um pesadelo.
      Ainda sobre a ansiedade Freud (1910 [1916]) afirma que esta é uma reação
do ego que tem por meta recalcar desejos violentos. Também afirma que a
ansiedade é constituinte do pesadelo e que a forte presença dela pode ter conexão
com um forte foco do sonho na satisfação de desejos violentos recalcados. (p.44)
       A questão de desejos recalcados nos leva a uma questão importante: “O que
ocorre com estes desejos recalcados ao se assistir um filme de terror?” Este é um
debate clássico e atual que não se fixa apenas a filmes de terror, mas também inclui
filmes eróticos e violentos. Estes filmes realmente incitam o que apresentam ou pelo
contrario, satisfazem os desejos recalcados e preparam os jovens para a difícil
tarefa de viver em sociedade e abdicar-se de seus desejos?
      Esta pesquisa tem como objetivo secundário contribuir para a produção de
conhecimento nesta área. Temas como este são recorrentes em debates televisivos
e acadêmicos. Será que o fato de um garoto entrar em um cinema com uma
submetralhadora está inter-relacionado com o filme que estava em cartaz? (Ferrera,
2004). Durante a exibição do filme “Clube da Luta” (1999), o ex-estudante de
medicina Mateus da Costa Meira matou três pessoas e colocou em risco a vida de
mais 15 no MorumbiShopping em São Paulo. O fato de estar passando um filme
compreendido como violento teria influenciado a ação do garoto? Filmes realmente
podem nos influenciar desta maneira?
      Estas não são questões de fácil resolução, porém a compreensão
psicanalítica dos mecanismos que fazem alguém assistir filmes de terror pode servir
de contribuição para futuros debates sobre o tema.
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                                      Objetivos




        Esta pesquisa tem como objetivo específico reconhecer e trabalhar em
conceitos psicanalíticos quais mecanismos psíquicos fazem pessoas gostarem de
assistir filmes de terror.
     Como objetivo geral esta pesquisa pretende contribuir para a produção de
conhecimento acerca dos estudos entre Psicanálise e Cinema.
      Esta pesquisa, também secundariamente, procura contribuir para a produção
de conhecimento em relação ao fenômeno social cinema de terror, podendo ser
futuramente parâmetro para novas pesquisas.
      A inserção de um aluno em graduação no universo de produção acadêmica
também consta como objetivo geral, pois o programa de iniciação cientifica serve
como incentivo aos alunos para produzirem conhecimento dentro da universidade.
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                                   Quadro teórico




        A pesquisa se embasará na Psicanálise Freudiana, que tem como objeto de
estudo geral a psique humana e objeto específico o Inconsciente. O método de tal
teoria é baseado em sua situação analítica que pode ser transposta para o mundo
artístico. Seus métodos de interpretação da subjetividade são as bases para esse
tipo de estudo.
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                                      Metodologia




      Um filme de terror pode ser campo de investigação psicanalítico, pois trata de
conteúdos inconscientes e é eliciador de dinâmicas psíquicas inconscientes em
quem o assiste. Segundo Violante (2000) “[...] a pesquisa em Psicanálise também
pode ocorrer em situação extra-analítica.“ (p.110), isto é, o campo de pesquisa em
Psicanálise não se limita ao estudo e compreensão das dinâmicas inconscientes
apenas dentro de um consultório, mas amplia-se para todo o ambiente humano,
dotado de marcas do inconsciente. Para Violante (2000) [...] a metapsicologia tem a
pretensão de ir além da psicologia, o que quer dizer [...] realizar um percurso que
transcende o comportamento. (p.112)
       A arte é compreendida pela autora como um dos possíveis saberes
psicanalíticos, desde que se problematize o objeto de estudo de tal maneira que a
Psicanálise seja invariavelmente necessária para a efetivação da pesquisa (Violante,
2000, p.115). E por que não a sétima arte? O cinema como arte também pode ser
campo da pesquisa em Psicanálise. O cinema permite, nos conta Sampaio (2000),
que o homem [...] represente para si a realidade do mundo que o rodeia [...] (p.30)
através da linguagem, tema indiscutivelmente constituinte do campo psicanalítico.
As dinâmicas psíquicas influenciadas pelos estímulos cinematográficos podem ser
compreendidas a partir da teoria psicanalítica. Para a Psicanálise estas dinâmicas
são atravessadas pelos movimentos inconscientes que terão influência sobre a
simbolização da percepção de tais estímulos. Portanto diferentes indivíduos terão
diferentes dinâmicas psíquicas frente a um filme de terror que levaram a diferentes
tipos de simbolização. Para explorar o cinema e os filmes de terror temos que
considerá-los em complexa relação polissêmica com o aparelho psíquico, não
unideterminada, nem unidimensional, pois segundo Rezende (1993) "investigar (...)
é interpretar a polissemia das situações observadas." (p.104), ou seja, não podemos
que um fenômeno psíquico é determinado por uma causa só, e sim por uma
complexidade de causas.
       É nos escritos freudianos e no seu método de investigação e interpretação,
por exemplo, de sonhos, que basearemos nosso estudo sobre o cinema, devido à
possibilidade, já referida de aproximação dos temas, pois “[...] a teoria tem por
função vincular a singularidade do experimentado à universalidade dos conceitos, e
no caso da psicanálise isso é realizado através da noção de mecanismos psíquicos”
(Mezan, 1993, p.5). Aqui temos o que pretendemos retribuir à teoria. Os estudos dos
mecanismos psíquicos que operam frente a um filme de terror servirão de
contribuição ao conhecimento psicanalítico quando generalizados.
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                                   Plano de atividades




       Esta pesquisa consiste em uma pesquisa teórica a partir de dados do filme
escolhido. O aluno (Diego Amaral Penha) deverá, portanto, assistir ao filme “Terror
em Silent Hill” (2006), fazer um levantamento bibliográfico teórico sobre os assuntos
abordados pela pesquisa em relação ao filme, discutir os dados colhidos com o
orientador e produzir a pesquisa.
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                                          Cronograma




Agosto/2010      Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema: Terror no Cinema                Discussão com o orientador
                 O que já foi escrito?                 Elaboração da Introdução.
Setembro/2010    Destrinchamento do Filme (Silent Assisti-lo           com    viés    em
                 Hill):                                Psicanálise
                 Levantamento bibliográfico sobre      Discussão com o orientador
                 o filme e de seus pontos mais         Elaboração      do    resumo   do
                 importantes.                          filme.
Outubro/2010     Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema: O Medo em Freud.                Discussão com o orientador
                 - Sonhos/Pesadelos                    Elaboração do capítulo sobre
                                                       Medo.
Novembro/2010    Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema:    O       Medo    em    outros Discussão com o orientador
                 Psicanalistas.                        Elaboração do capítulo sobre
                 - Sonhos/Pesadelos                    Medo.
Dezembro/2010    Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema:     O       Medo    fora    da Discussão com o orientador
                 Psicanálise.                          Elaboração do capítulo sobre
                 - Sonhos/Pesadelos                    Medo.
Janeiro/2011     Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema: Técnicas de produção de Discussão com o orientador
                 Medo no Cinema.                       Elaboração do capítulo sobre
                                                       técnicas cinematográficas.
Fevereiro/2011   Levantamento bibliográfico:           Leitura e fichamento
                 Tema: Cinema e Psicanálise.           Discussão com o orientador
                 Subjetivação e Identificação          Início     da    elaboração    do
                 Relatório parcial                     capítulo      sobre   Cinema    e
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                                                   Psicanálise
                                                   Elaboração do relatório parcial.
Março/2011    Levantamento bibliográfico:          Leitura e fichamento
              Tema: Cinema e Psicanálise.          Discussão com o orientador
              Dinâmica de pulsões no cinema.       Continuação da elaboração do
                                                   capítulo      sobre   Cinema     e
                                                   Psicanálise.
Abril/2011    Levantamento bibliográfico:          Leitura e fichamento
              Tema:    Cinema     e   Psicanálise. Discussão com o orientador
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                                                   Filme.
Maio/2011     Conclusão e retoques finais          Redação
              Conclusão do trabalho.               Discussão com o orientador
                                                   Início     da    elaboração     da
                                                   conclusão.
Junho/2011    Conclusão e retoques finais          Redação
              Conclusão do trabalho.               Discussão com o orientador
                                                   Continuação da elaboração da
                                                   conclusão.
Julho/2011    Relatório final                      Redação
                                                   Discussão com o orientador
                                                   Finalização da elaboração da
                                                   conclusão
Agosto/2011   Entrega do relatório final           Entrega do relatório final
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                                      Bibliografia




      SAMPAIO, Camila Pedral. Cinema e potência do imaginário. In:
Psicanálise, cinema e estéticas de subjetivação. Giovanna Bartucci (org.). Rio de
Janeiro: Imago, 2000.
        MAGALHÃES, Sonia Campos. Cinema, Sonho e psicanálise. Cogito, 2008,
vol.9, p.86-90. ISSN 1519-9479.
     CARVALHO, Ana Cecília. O processo de criação na produção literária: um
depoimento. Psicol. Cienc. Prof., 1994, vol14, no.1-3,p.4-9. ISSN 1414-9893.
      KEHL, Maria Rita. Imagens da violência e violência das imagens.
Disponível em: <www.mariaritakehl.psc.br Acesso em: 26 mar. 2010 >
        FRANÇA, Viviane. Terror em Silent Hill (Silent Hill). Disponível em:
http://www.bocadoinferno.com/romepeige/silent.html Acesso em: 7 abr. 2010>
        Wikipédia – Enciclopédia livre. Silent Hill (filme). Disponível        em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Silent_Hill_(filme) Acesso em : 7 abr. 2010>
       FERREIRA, Carlos. Justiça de SP condena "atirador do shopping" a 120
anos               de               prisão.             Disponível            em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u95219.shtml Acesso em: 30 mar.
2010>
      LOIOLA, Rita. Todo Mundo Em Pânico. Galileu, São Paulo, v.222, n.1, p. 37-
45, 2010.
      RUDGE, Ana Maria. Jones e Lacan: pesadelos, demônios e angustia.
Pulsional ver. Psicanálise; 18(181):80-87, mar. 2005.
      COELHO, Julie. Apreciação e Sublimação: ensaio sobre arte e
psicanálise. São Paulo, 2009. 114p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) –
Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica.
       BARBOSA, André Schaer. A POÉTICA DO CINE-TERROR, um estudo
sobre a produção do medo. Salvador, 1996. 52p. Dissertação (Bacharelado em
Jornalismo) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia.
      FREUD, Sigmund. Das Unbewusste, 1915. Apud LAPLANCHE, Jean e
PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins
Fontes, 2008.
      LAPLANCHE, Jean e PONTALIS,               Jean-Bertrand.   Vocabulário   de
Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
18



       FREUD, Sigmund (1920). Além do Princípio do Prazer. In: Edição Standart
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. 3. Ed. Rio de Janeiro:
Imago, 1977.
      FREUD, Sigmund (1923). O ego e o ID. In: Edição Standart Brasileira das
Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. 3. Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
      FREUD, Sigmund (1910 [1916]). Sigmund Freud – Os Pensadores, Cinco
lições de Psicanálise, A História do Movimento Psicanalítico e Esboço de
Psicanálise – Seleção de Jayme Salomão. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 2005.
      VIOLANTE, Maria Lucia Vieira. Pesquisa em Psicanálise. In: Ciência,
Pesquisa, Representação e Realidade em Psicanálise. Raul Albino Pacheco Filho,
Nelson Coelho Junior, Miriam Debieux Rosa (org.). São Paulo: Educ, 2000.

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Projeto de pesquisa

  • 1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACHS – Curso de Psicologia PUC – SP Projeto de Iniciação Cientifica Pesquisa Individual Orientação: Paula Regina Peron Pesquisador: Diego Amaral Penha São Paulo 2010
  • 2. 2 Resumo O objetivo desta pesquisa é investigar quais os mecanismos psíquicos subjacentes aos motivos que levam espectadores a assistir filmes de terror. Secundariamente, a pesquisa pretende relacionar sonhos e os pesadelos a tais filmes, partindo da concepção de que a produção de cinema e a produção de sonhos possuem dinâmicas e metas semelhantes sob a ótica psicanalítica. A Psicanálise é um dos caminhos para o estudo do psiquismo humano. A partir de seu método interpretativo o inconsciente pode ser estudado, inclusive na análise de produções artísticas. O filme Silent Hill (Terror em Silent Hill, 2006) será utilizado como representante da categoria terror por se tratar de um filme de relevância no mercado cinematográfico e por contar com características básicas do gênero de terror. Uma análise dos conteúdos abordados pelo filme e suas técnicas de produção de medo, será usada para representar como a sétima arte produz reações psíquicas nos espectadores. O Cinema, desde sua mais precoce aparição, tem como objetivo atingir o imaginário humano, confundindo ficção com realidade. A função da sétima arte está extremamente ligada com a reação dos espectadores. O Cinema como representação fantasiosa da realidade auxilia e requer auxilio da Psicanálise para compreender o sentido dos desejos humanos. Assim, a partir de reflexões sobre como o Cinema e a Psicanálise podem atuar juntos, este trabalho busca compreender pela perspectiva psicanalítica quais são os motivos que levam pessoas a gostarem de filmes de terror. Palavras-chaves: psicanálise, cinema, filmes de terror, pulsão de morte.
  • 3. 3 Introdução Ao sentarmos em uma poltrona confortável para assistir um filme, olhamos fixamente para a tela em branco que logo estará nos transportando para um mundo imaginário, em que o que mais desejamos dele é o prazer. Queremos viver o ator, queremos nos aventurar por lugares desconhecidos, queremos sonhar. Um filme, por outro lado, brota do imaginário de outrem. É dotado do anseio de ser divulgado, o autor quer que sua criação, seu ideal de imagem seja dividido. Camila Sampaio (2000) diz que: “[...] a experiência do sonho, ou o desejo humano de compartilhar os sonhos, está na própria origem da possibilidade do cinema...” (p.46), o filme, assim como o sonho, é uma porta para a psique, que pode nos levar para dentro, ou trazer algo para fora. Assim como nos sonhos, o cinema proporciona a possibilidade de escapar à regra, fazer o proibido, liberando a psique para gozar de tais efeitos por mérito da expressão artística. Temos no cinema a “maquina do prazer” (Sampaio, 2000, p.47) para sonharmos acordados e mais uma vez tentarmos saciar os nossos desejos pulsantes. Porém algo perturba nossos sonhos, algumas vezes acordarmos sufocantes durante a madrugada, temos pesadelos. Conscientemente, estes não nos parecem ser prazerosos, pelo contrario desejaríamos nunca tê-los, pois estes nos dificultam o sono e despertam uma angustia terrível deixando-nos com medo. E assim como nos sonhos, em filmes também podemos ter pesadelos, pois, “[...] existem filmes que nos fazem sonhar para proteger nosso sono [...] e, existem filmes que nos acordam, despertam, instigam [...]” (Magalhães, 2008, p.89). Um exemplo de tais filmes são os do gênero terror. Se pudéssemos escolher entre ter ou não pesadelos, com certeza escolheríamos não tê-los. Mas como podemos observar, escolhemos propositalmente ver filmes de terror, por mais contraditório que pareça escolhemos sonhar pesadelos acordados. Gastamos tempo, dinheiro e atenção para nos assustarmos. Onde está o prazer nisto? Realmente buscamos prazer nestes filmes? Se não, o que buscamos? A busca para compreender os sentidos que as imagens cinematográficas podem receber de seus espectadores tem sido campo da psicanálise por algum tempo. Temas psicanalíticos como identificação, projeção, introjeção e sublimação fazem parte dos métodos cinematográficos de cativar o público e arrastá-los para o mundo da realidade imaginária, apesar de nem sempre utilizar-se da mesma nomenclatura que a psicanálise.
  • 4. 4 A psicanálise nos diz sobre mecanismos da psique que não buscam o prazer. A pulsão de morte teorizada por Freud é o impulso agressivo, voltado ao objeto, que tende a redução completa das tensões entre desejos, ou seja, busca o aniquilamento do objeto para o retorno ao estado inorgânico, sem o desejar. É nesse sentido que a psicanálise pode nos ajudar a responder quais são os motivos para o terror no cinema, pois ela nos diz sobre o que não gostamos de saber que gostamos.
  • 5. 5 Delimitação do tema de pesquisa Esta pesquisa pretende trabalhar o fenômeno dos filmes de terror, sob a perspectiva psicanalítica. Conceitos psicanalíticos serão usados para esquematizar qual a dinâmica psíquica envolvida para pessoas gostarem de tais filmes. O objeto de estudo da Psicanálise é o inconsciente. Freud (1915) utilizou-se deste termo para definir que durante a sua prática analítica buscaria dentro do psiquismo de seus pacientes conteúdos recalcados, desagradáveis, que há muito haviam escapado à consciência, entrando em um estado de esquecimento. Recalque é uma das operações pelas quais a psique se defende dos conflitos pulsionais. O recalque age sobre os representantes psíquicos das pulsões no inconsciente. A segunda teoria pulsional de Freud (1920) traz a divisão das forças pulsionais do aparelho psíquico em pulsões de vida e pulsões de morte. O autor explica que o próprio amor objetal é dividido entre estas duas polaridades, “Amor (ou afeição)” e o “Ódio (ou agressividade)” (Freud, 1920, p.35). Para ele a pulsão de morte é mais primitiva, pois ela entra em ação “a serviço da função sexual” (Freud, 1920, p.35). O desejo de controlar o objeto desejado coincide com o aniquilamento dele. Posteriormente, durante o desenvolvimento psíquico, a pulsão sádica se isola e a pulsão sexual agora tem primazia sobre o objeto, por enquanto. Poder-se-ia verdadeiramente dizer que o sadismo que for expulso do ego apontou o caminho para os componentes libidinais do instinto (pulsão) sexual e que estes o seguiram para o objeto. (Freud, 1920, p.35) Após a criação da segunda tópica, Freud afirma que o ego lida com conflitos inconscientes (Id), morais (Superego) e do mundo externo. Assim o ego passa a ser compreendido como sede da angústia na psique, podendo produzir e sentir angústia. Nesse contexto a angústia causa o recalque, sendo este uma reação do ego a eventos tidos como perigosos para a psique. (Freud, 1923, p.10-25) Outra maneira defensiva de lidar com a angústia é através do mecanismo de projeção. A projeção aparece sempre como uma defesa, como a atribuição ao outro – pessoa ou coisa – de qualidades, de sentimentos, de desejos que o sujeito recusa ou desconhece em si. (Laplanche e Pontalis, 2008, p.376). Com a projeção o indivíduo defende-se, deslocando para um objeto os seus desejos inconscientes. A psicanálise trata do termo introjeção para referir-se ao movimento defensivo contrário à projeção. Introjeção é o movimento de apropriação do mundo externo pela psique. Sobre a oposição projeção e introjeção:
  • 6. 6 [...] o “ego-prazer purificado” constitui-se por uma introjeção de tudo o que é fonte de prazer e por uma projeção para fora de tudo o que é ocasião de desprazer. (Laplanche e Pontalis, 2008, p.248) Os autores referem-se aqui ao principio de prazer e a tendência do ego de satisfazer seus desejos, adquirindo tudo que é bom para si próprio e expulsando o que é ruim. Estes movimentos psíquicos de defesa são ferramentas integrantes da constituição da personalidade do sujeito. A identificação se dá através destes movimentos, pois esta é um processo psicológico pelo qual alguém adquire propriedades de um objeto e se transforma segundo este modelo (Laplanche e Pontalis, 2008). Este movimento é de grande valia quando buscamos estudar o efeito que filmes possuem nos espectadores, pois quando assistimos a um filme identificamo-nos com um ou mais personagens, ou seja, adquirimos para nós algo específico de tal personagem, integrando-o ao nosso universo psíquico. Por outro lado a identificação também se estabelece de forma projetiva, ou seja, depositando em algum objeto externo a possibilidade de realização de seu próprio desejo. Este é um movimento também observado quando nos identificamos com personagens, e estes realizam por nós nossos desejos recalcados. As identificações e introjeções que um sujeito faz estruturam suas imagens psíquicas inconscientes. Estas virão a constituir suas imagens oníricas por meio de mecanismos como condensação e deslocamento, movimentos típicos dos sonhos. Os sonhos são para Freud (1910 [1916]) o caminho mais seguro para atingir o inconsciente na psicanálise, pois neles as resistências da psique estão afrouxadas e os conteúdos inconscientes esquecidos podem ser acessados. Nos sonhos a psique busca a realização de desejos que lhe foram recusados durante o dia. Citando Freud (1910 [1916]: “[...] a interpretação de sonhos, quando não a estorvam em excesso as resistências do doente, leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos [...]” (p.45), sendo assim dentro de sonhos temos a alternativa possível encontrada por nossos desejos que não puderam ser realizados. A interpretação de sonhos freudiana se mostra eficaz na tentativa de alcançar conteúdos inconscientes da psique, dando sentido às imagens oníricas, muitas vezes, sem sentido. Identificar quais mecanismos estão corroborando para a formação dessas imagens nos dão pistas para a compreensão do funcionamento da psique. Se pretendermos descobrir por quais razões alguém assiste a um filme de terror, a resposta pode ser encontrada na identificação dos mecanismos por trás da criação das imagens cinematográficas, pois segundo Sampaio (2000): “[...] o cinema (é) o instrumento apropriado para a descrição da vida mental profunda [...]” (p.47), ou seja, tal qual um sonho um filme pode ser usado para atingir conteúdos inconscientes, não de um individuo, mas de todo o público espectador. Utilizaremos nesta pesquisa o filme “Terror em Silent Hill” (2006), pois este filme teve grande repercussão no universo cinematográfico. O filme lucrou US$97.607.453 e seu orçamento foi de US$50 milhões. O filme é baseado no
  • 7. 7 enredo de uma série de jogos virtuais da KONAMI Corporation, esta é uma das razões pela qual foi um dos quatro filmes da Sony Pictures a ocupar a primeira colocação nas bilheterias dos Estados Unidos da América no ano de 2006 (França, 2010). Silent Hill trata de dois mundos paralelos: um real, em que vivemos e um que está dentro, e é atravessado pelo psiquismo de uma garota que fora atormentada e torturada na infância. Seus maiores temores agora são os temores das pessoas que ficam presas em seu mundo imaginário.
  • 8. 8 Problematização O medo, a ansiedade e o estresse têm suas importâncias evolutivas. Segundo Loiola (2010) eles deixam os indivíduos preparados para a maioria das adversidades, aumentando sua eficiência. Ainda citando a autora, quando: [...] o cérebro percebe uma ameaça, um sistema chamado circuito do medo entra em ação. Formado por núcleos cerebrais como a amígdala e o hipocampo, ele libera neuro-hormônios e neurotransmissores para defender o organismo. (Loiola, 2010, p.38) Ou seja, sentir medo fora das salas de cinema é desagradável, porém é um mecanismo de defesa evolutivo útil para proteger a integridade do próprio organismo. Podemos pensar que filmes de terror podem nos ajudar evolutivamente a nos preparar para algum evento desconfortante futuro, mas esta afirmação não explicaria o fato de alguém realmente procurar um filme de terror no seu momento de lazer, para se divertir. Se nos detivermos ao pensamento bioquímico chegaríamos à conclusão de que os filmes de terror seriam evolutivamente importantes para constituir os mecanismos de defesa orgânicos e que assisti-los seria uma tarefa desconfortável mais importante. Não é o que observamos. O hábito de assistir estes tipos de filmes é, para certas pessoas, prazeroso. Partindo de pressupostos psicanalíticos, o sujeito que assiste possui pulsões inconscientes que operam sobre as imagens recebidas de um filme. Este já é dotado, como obra artística, por inúmeros anseios e desejos depositados nele por todas as pessoas que o produziram. São vários inconscientes agindo juntos, atores, diretores, escritores, operadores de câmeras, cenógrafos, sonoplastas, dublês, maquiadores e uma infinidade de outros profissionais atuando juntos para criar uma obra completa que represente o que o espectador poderá compreender como, por exemplo, o terror. Esta criação é dotada de conteúdos inconscientes. Conteúdos subjetivos são lançados ao espectador, e este dialeticamente impõe seus próprios conteúdos subjetivos inconscientes nas imagens e conceitos registrados por seu raciocínio. Como, então, este espectador opera frente a um filme de terror? E quais são as técnicas cinematográficas utilizadas para levar este espectador a operar de tal maneira? Barbosa (1996), em seu estudo sobre a poética do cine-terror detalha as técnicas cinematográficas de trazer a tona no espectador o medo. Para descrever as técnicas de suspense o autor explica as “Estratégias de temporalização” (Barbosa, 1996, p.23). Estas podem ocorrer de duas maneiras, produzindo duas reações distintas entendidas como medo.
  • 9. 9 A primeira é uma técnica de produção de ansiedade. Sabemos que algo vai acontecer com um personagem, porém este não divide do mesmo saber. Os cortes entre cenas vão se tornando mais demorados e a trilha sonora contribui para aumentar a ansiedade. O outro (monstro) é introduzido lentamente no foco e quando está totalmente visível para o espectador é que ocorre o ataque. Não necessariamente ocorre um susto, mas depois do ataque os cortes entre cenas ficam extremamente acelerados, e o espectador sente-se dentro de um conflito de imagens. (Barbosa, 1996, p. 25-28) A segunda técnica, em sua maioria das vezes, ocorre quando o personagem sabe qual perigo o está à espera. Da mesma maneira do anterior o tempo entre cortes é diminuído para criar o terreno de ansiedade mais uma vez. Desta vez ao invés de o outro (monstro) ser introduzido lentamente em foco, ele é apresentado entre cortes e em sintonia com uma variação brusca da trilha sonora, que assusta, seguida do ataque e rápidos cortes de cena novamente. (Barbosa, 1996, p.25-28) Estas técnicas produzem reações nos espectadores, pois estes já sabem o que esperar de tais filmes. Ou por já terem experimentado situações de medo, ansiedade e susto, ou por já terem assistido a um filme de terror. “Esse gênero não ganha nada escondendo que cenas aterrorizantes virão. É importante que desde o início o espectador fique na espera de que algo virá para causar-lhe medo.” (Barbosa, 1996, p.13) Segundo Freud as reações de: “„Susto‟, „medo‟ e „ansiedade‟ são palavras impropriamente empregadas como expressões sinônimas; são, de fato, capazes de uma distinção clara em sua relação com o perigo. A „ansiedade‟ descreve um estado particular de esperar o perigo ou preparar-se para ele, ainda que possa ser desconhecido. O „medo‟ exige um objeto definido de que se tenha temor. „Susto‟, contudo, é o nome que damos ao estado em que alguém fica, quando entrou em perigo sem estar preparado para ele, dando-se ênfase ao fator da surpresa.” (Freud, 1920, p.8) Fazer esta diferenciação nos é útil, pois cada reação é estabelecida em uma categoria de tempo específica. A ansiedade por descrever o estado de esperar está voltada para o futuro, ou seja, possibilidade de prever as relações causais de eventos. O medo é fixo em um objeto que está no presente, mesmo se este objeto não está no mesmo lócus do sujeito, sua imagem é presente na psique. E o susto é a reação que ocorre após (mesmo que seja em milésimos de segundo) a aparição surpresa e sem previsão de algo, por tanto está vinculada ao passado, a um evento que já ocorreu. Os sustos podem gerar a próxima ansiedade, quando objetos que lhe foram assustadores no ocorrido (os sustos) estão em mente, lhe deixando com medo de uma possível situação desagradável. De fato toda essa cadeia é desagradável, de tal maneira que Freud preocupou-se sobre o que de fato ocorriam nos pesadelos.
  • 10. 10 Estes foram alguns dos motivos que levaram Freud a elaborar a sua segunda teoria pulsional. Sua questão era a seguinte: Por que a psique iria em alguma circunstância querer reproduzir situações desprazerosas durante o sono? O próprio Freud, parcialmente responde está pergunta: “Se não quisermos que os sonhos dos neuróticos traumáticos abalem nossa crença no teor realizador de desejos dos sonhos, teremos ainda aberta a nós uma saída: podemos argumentar que a função de sonhar, tal como muitas pessoas, nessa condição está perturbada e afastada de seus propósitos, ou podemos ser levados a refletir sobre as misteriosas tendências masoquistas do ego.” (Freud, 1920, p.8) Esta ultima proposta, juntamente com outras, levou Freud a desenvolver sua teoria de que as pulsões não mais se dividiriam em pulsões de auto-conservação e pulsão sexual, como acreditava e sim em pulsões de vida (Sexuais e auto- conservação) e pulsões de morte, estas dotadas de agressividade para com o objeto. Como já afirmei Freud ainda vai além, afirma que a pulsão de morte seria primitiva e anterior à pulsão de vida, o que nos leva a pensar que assistir um filme de terror não é tão diferente de ter um pesadelo. Ainda sobre a ansiedade Freud (1910 [1916]) afirma que esta é uma reação do ego que tem por meta recalcar desejos violentos. Também afirma que a ansiedade é constituinte do pesadelo e que a forte presença dela pode ter conexão com um forte foco do sonho na satisfação de desejos violentos recalcados. (p.44) A questão de desejos recalcados nos leva a uma questão importante: “O que ocorre com estes desejos recalcados ao se assistir um filme de terror?” Este é um debate clássico e atual que não se fixa apenas a filmes de terror, mas também inclui filmes eróticos e violentos. Estes filmes realmente incitam o que apresentam ou pelo contrario, satisfazem os desejos recalcados e preparam os jovens para a difícil tarefa de viver em sociedade e abdicar-se de seus desejos? Esta pesquisa tem como objetivo secundário contribuir para a produção de conhecimento nesta área. Temas como este são recorrentes em debates televisivos e acadêmicos. Será que o fato de um garoto entrar em um cinema com uma submetralhadora está inter-relacionado com o filme que estava em cartaz? (Ferrera, 2004). Durante a exibição do filme “Clube da Luta” (1999), o ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira matou três pessoas e colocou em risco a vida de mais 15 no MorumbiShopping em São Paulo. O fato de estar passando um filme compreendido como violento teria influenciado a ação do garoto? Filmes realmente podem nos influenciar desta maneira? Estas não são questões de fácil resolução, porém a compreensão psicanalítica dos mecanismos que fazem alguém assistir filmes de terror pode servir de contribuição para futuros debates sobre o tema.
  • 11. 11 Objetivos Esta pesquisa tem como objetivo específico reconhecer e trabalhar em conceitos psicanalíticos quais mecanismos psíquicos fazem pessoas gostarem de assistir filmes de terror. Como objetivo geral esta pesquisa pretende contribuir para a produção de conhecimento acerca dos estudos entre Psicanálise e Cinema. Esta pesquisa, também secundariamente, procura contribuir para a produção de conhecimento em relação ao fenômeno social cinema de terror, podendo ser futuramente parâmetro para novas pesquisas. A inserção de um aluno em graduação no universo de produção acadêmica também consta como objetivo geral, pois o programa de iniciação cientifica serve como incentivo aos alunos para produzirem conhecimento dentro da universidade.
  • 12. 12 Quadro teórico A pesquisa se embasará na Psicanálise Freudiana, que tem como objeto de estudo geral a psique humana e objeto específico o Inconsciente. O método de tal teoria é baseado em sua situação analítica que pode ser transposta para o mundo artístico. Seus métodos de interpretação da subjetividade são as bases para esse tipo de estudo.
  • 13. 13 Metodologia Um filme de terror pode ser campo de investigação psicanalítico, pois trata de conteúdos inconscientes e é eliciador de dinâmicas psíquicas inconscientes em quem o assiste. Segundo Violante (2000) “[...] a pesquisa em Psicanálise também pode ocorrer em situação extra-analítica.“ (p.110), isto é, o campo de pesquisa em Psicanálise não se limita ao estudo e compreensão das dinâmicas inconscientes apenas dentro de um consultório, mas amplia-se para todo o ambiente humano, dotado de marcas do inconsciente. Para Violante (2000) [...] a metapsicologia tem a pretensão de ir além da psicologia, o que quer dizer [...] realizar um percurso que transcende o comportamento. (p.112) A arte é compreendida pela autora como um dos possíveis saberes psicanalíticos, desde que se problematize o objeto de estudo de tal maneira que a Psicanálise seja invariavelmente necessária para a efetivação da pesquisa (Violante, 2000, p.115). E por que não a sétima arte? O cinema como arte também pode ser campo da pesquisa em Psicanálise. O cinema permite, nos conta Sampaio (2000), que o homem [...] represente para si a realidade do mundo que o rodeia [...] (p.30) através da linguagem, tema indiscutivelmente constituinte do campo psicanalítico. As dinâmicas psíquicas influenciadas pelos estímulos cinematográficos podem ser compreendidas a partir da teoria psicanalítica. Para a Psicanálise estas dinâmicas são atravessadas pelos movimentos inconscientes que terão influência sobre a simbolização da percepção de tais estímulos. Portanto diferentes indivíduos terão diferentes dinâmicas psíquicas frente a um filme de terror que levaram a diferentes tipos de simbolização. Para explorar o cinema e os filmes de terror temos que considerá-los em complexa relação polissêmica com o aparelho psíquico, não unideterminada, nem unidimensional, pois segundo Rezende (1993) "investigar (...) é interpretar a polissemia das situações observadas." (p.104), ou seja, não podemos que um fenômeno psíquico é determinado por uma causa só, e sim por uma complexidade de causas. É nos escritos freudianos e no seu método de investigação e interpretação, por exemplo, de sonhos, que basearemos nosso estudo sobre o cinema, devido à possibilidade, já referida de aproximação dos temas, pois “[...] a teoria tem por função vincular a singularidade do experimentado à universalidade dos conceitos, e no caso da psicanálise isso é realizado através da noção de mecanismos psíquicos” (Mezan, 1993, p.5). Aqui temos o que pretendemos retribuir à teoria. Os estudos dos mecanismos psíquicos que operam frente a um filme de terror servirão de contribuição ao conhecimento psicanalítico quando generalizados.
  • 14. 14 Plano de atividades Esta pesquisa consiste em uma pesquisa teórica a partir de dados do filme escolhido. O aluno (Diego Amaral Penha) deverá, portanto, assistir ao filme “Terror em Silent Hill” (2006), fazer um levantamento bibliográfico teórico sobre os assuntos abordados pela pesquisa em relação ao filme, discutir os dados colhidos com o orientador e produzir a pesquisa.
  • 15. 15 Cronograma Agosto/2010 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: Terror no Cinema Discussão com o orientador O que já foi escrito? Elaboração da Introdução. Setembro/2010 Destrinchamento do Filme (Silent Assisti-lo com viés em Hill): Psicanálise Levantamento bibliográfico sobre Discussão com o orientador o filme e de seus pontos mais Elaboração do resumo do importantes. filme. Outubro/2010 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: O Medo em Freud. Discussão com o orientador - Sonhos/Pesadelos Elaboração do capítulo sobre Medo. Novembro/2010 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: O Medo em outros Discussão com o orientador Psicanalistas. Elaboração do capítulo sobre - Sonhos/Pesadelos Medo. Dezembro/2010 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: O Medo fora da Discussão com o orientador Psicanálise. Elaboração do capítulo sobre - Sonhos/Pesadelos Medo. Janeiro/2011 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: Técnicas de produção de Discussão com o orientador Medo no Cinema. Elaboração do capítulo sobre técnicas cinematográficas. Fevereiro/2011 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: Cinema e Psicanálise. Discussão com o orientador Subjetivação e Identificação Início da elaboração do Relatório parcial capítulo sobre Cinema e
  • 16. 16 Psicanálise Elaboração do relatório parcial. Março/2011 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: Cinema e Psicanálise. Discussão com o orientador Dinâmica de pulsões no cinema. Continuação da elaboração do capítulo sobre Cinema e Psicanálise. Abril/2011 Levantamento bibliográfico: Leitura e fichamento Tema: Cinema e Psicanálise. Discussão com o orientador Análise do Filme. Elaboração da Análise do Filme. Maio/2011 Conclusão e retoques finais Redação Conclusão do trabalho. Discussão com o orientador Início da elaboração da conclusão. Junho/2011 Conclusão e retoques finais Redação Conclusão do trabalho. Discussão com o orientador Continuação da elaboração da conclusão. Julho/2011 Relatório final Redação Discussão com o orientador Finalização da elaboração da conclusão Agosto/2011 Entrega do relatório final Entrega do relatório final
  • 17. 17 Bibliografia SAMPAIO, Camila Pedral. Cinema e potência do imaginário. In: Psicanálise, cinema e estéticas de subjetivação. Giovanna Bartucci (org.). Rio de Janeiro: Imago, 2000. MAGALHÃES, Sonia Campos. Cinema, Sonho e psicanálise. Cogito, 2008, vol.9, p.86-90. ISSN 1519-9479. CARVALHO, Ana Cecília. O processo de criação na produção literária: um depoimento. Psicol. Cienc. Prof., 1994, vol14, no.1-3,p.4-9. ISSN 1414-9893. KEHL, Maria Rita. Imagens da violência e violência das imagens. Disponível em: <www.mariaritakehl.psc.br Acesso em: 26 mar. 2010 > FRANÇA, Viviane. Terror em Silent Hill (Silent Hill). Disponível em: http://www.bocadoinferno.com/romepeige/silent.html Acesso em: 7 abr. 2010> Wikipédia – Enciclopédia livre. Silent Hill (filme). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Silent_Hill_(filme) Acesso em : 7 abr. 2010> FERREIRA, Carlos. Justiça de SP condena "atirador do shopping" a 120 anos de prisão. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u95219.shtml Acesso em: 30 mar. 2010> LOIOLA, Rita. Todo Mundo Em Pânico. Galileu, São Paulo, v.222, n.1, p. 37- 45, 2010. RUDGE, Ana Maria. Jones e Lacan: pesadelos, demônios e angustia. Pulsional ver. Psicanálise; 18(181):80-87, mar. 2005. COELHO, Julie. Apreciação e Sublimação: ensaio sobre arte e psicanálise. São Paulo, 2009. 114p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica. BARBOSA, André Schaer. A POÉTICA DO CINE-TERROR, um estudo sobre a produção do medo. Salvador, 1996. 52p. Dissertação (Bacharelado em Jornalismo) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia. FREUD, Sigmund. Das Unbewusste, 1915. Apud LAPLANCHE, Jean e PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2008. LAPLANCHE, Jean e PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
  • 18. 18 FREUD, Sigmund (1920). Além do Princípio do Prazer. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. 3. Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1977. FREUD, Sigmund (1923). O ego e o ID. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. 3. Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1977. FREUD, Sigmund (1910 [1916]). Sigmund Freud – Os Pensadores, Cinco lições de Psicanálise, A História do Movimento Psicanalítico e Esboço de Psicanálise – Seleção de Jayme Salomão. São Paulo: Nova Cultura Ltda, 2005. VIOLANTE, Maria Lucia Vieira. Pesquisa em Psicanálise. In: Ciência, Pesquisa, Representação e Realidade em Psicanálise. Raul Albino Pacheco Filho, Nelson Coelho Junior, Miriam Debieux Rosa (org.). São Paulo: Educ, 2000.