Enquanto profissional de pesquisa, acredito que a problematização sobre as nossas práticas cotidianas é elemento essencial para um exercício mais ético e mais comprometido com o nome e responsabilidade que esta atividade carrega consigo. Por isso, esta palestra pretende discutir sobre a relação pesquisador-pesquisado ao longo dos anos e para aonde a mesma parece estar caminhando num cenário futuro.
O questionamento que pretendo apresentar para a discussão com o público ouvinte se caracteriza pela reflexão sobre as relações de poder que jazem subjacentes às lógicas de construção dos objetos de pesquisa enquanto tais. Não é de hoje que antropólogos discutem estes assuntos e não ignoro que muito já se avançou quando o tema é como deixar de fato nossos entrevistados falarem.
Ainda assim, sigo me questionando: como garantir que o que fazemos não é uma fraude? Dado que a tão sonhada neutralidade seja mesmo inalcançável, ainda assim seria possível estabelecer um patamar mínimo a partir do qual pudéssemos falar sobre nossas descobertas sem gerar um mal-estar ou criarmos enunciados que passem por cima das construções daqueles com os quais lidamos?
Essas são algumas questões que pretendo discutir, trazendo elementos concretos das práticas cotidianas do profissional de pesquisa. Espero criar um campo descritivo sobre o pesquisador na contemporaneidade a partir do qual possamos de fato aprimorar nossas práticas, abordagens e criações.
Sobre a palestrante
Doutora em Sociologia pela USP, sempre trabalhei com a parte mais “mão na massa” da profissão – pesquisa empírica com técnicas qualitativas (grupos de discussão, etnografias, entrevistas em profundidade, fóruns online). Meu mestrado foi sobre consumo popular e o doutorado sobre uso de celulares e sempre fiz mais etnografias do que uma socióloga normalmente faria.
Transito bem entre o mundo prático e o mundo das ideias e consigo transformar rapidamente informação em insights. Já passei por institutos de pesquisa (Data Popular, TNS) e desde 2013 trabalho de forma independente, atendendo a institutos como Offina Sophia, Shopper Vista, Blend, IBOPE e consultorias de UX, como Handmade UX. Em 2017, passei a dedicar parte do meu tempo para desenvolver projetos de pesquisa de UX sob medida para a startup sueca Instabridge AB.
https://www.linkedin.com/in/claudiascire/
UXConf BR 2023 - Gilmar Gumier - Design de Futuros - A internet na terceira i...
Existe pesquisa sem relação de poder?
1. Existe pesquisa sem relação de
poder?
Claudia Sciré
clascire@gmail.com
Oferecimento:
2.
3. Mas o que é poder?
Latim – ‘possum’ = ser capaz de
Teoria Social: a capacidade de
induzir ou influenciar o
comportamento de outra pessoa,
impor sua vontade sobre os outros:
- VIOLÊNCIA
- LEIS/ REGRAS
- COSTUMES/ CULTURA
10. COMO SURGE A PESQUISA?
Surgimento no século XVIII
enquanto disciplina, mas suas
raízes já estavam dadas na época
das navegações;
Expedições “científicas”
Contexto social
11. COMO SURGE A PESQUISA?
Contato com o outro: colonialismo
e conversão religiosa;
O “selvagem” como elemento a ser
estudado, mas não enquanto fato,
mas enquanto aberração.
Contexto ideológico
16. “o trabalho de campo é
sobretudo uma atividade
construtiva ou criativa, pois
os fatos etnográficos ‘não
existem’ e é preciso um
‘método para a descoberta de
fatos invisíveis por meio da
inferência construtiva’
(Malinowski, 1935, vol.1,
p.317)”.
17. FAZER TRABALHO DE
CAMPO EM 3 PREMISSAS:
DESCER DO SALTO;
PERDER A NOÇÃO DE SI
MESMO;
1) Distanciamento
24. FAZER TRABALHO DE
CAMPO EM 3 PREMISSAS:
1) Distanciamento
2) Tornar estranho aquilo que aos
entrevistados é familiar
3) Abandonar a propria lógica
e passar a pensar conforme a
lógica do outro
25. EMPATIA X ALTERIDADE
empatia
(julgamento)
- Você usa a sua
lógica para se
colocar no lugar do
outro
alteridade (sem pré-
noções)
-Você esquece a sua
lógica;
-assume que não sabe
nada e observa o outro
e tenta explicar os
motivos e razões dessa
lógica
26.
27. RISCOS
Voltar a julgar o outro;
Tomá-lo a partir da própria lógica;
Impor muita racionalidade ao que é
cultural;
Tomar palavras pelo real;
Analisar discursos ipsis-literis, sem
abordar a lógica que está por trás
daquilo que as pessoas dizem.
28. É PRECISO ESTAR ATENTO...
Qual segmento social x entrevistadx
pertence;
Como seus gostos pessoais e práticas
dialogam com o universo simbólico do
qual faz parte?
Qual regime de códigos culturais suas
práticas reforçam? A quais se opõem?
29.
30.
31.
32. A RESPOSTA ESTÁ MAIS EM
NÓS DO QUE NOS OUTROS
“A antropologia é a maneira de
pensar quando o objeto é outro
e exige a nossa própria
transformação” (Magnani,
2002).
33. JÁ QUE É PRA CRIAR
VERDADES...
Que sejam:
democráticas
provocadoras
questionadoras
capazes de embasar transformações
naquilo que acreditamos
34. ELES TÊM O DIREITO
de saber como foram desenhados
e de responder à nossa verdade sobre
eles