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Convencionalismo e Sexismo 
numa população universitária 
Pedro Alexandre Costa 
UIPES, Instituto Superior de Psicologia Aplicada; Universidade da Beira 
Interior 
Henrique Pereira 
Universidade da Beira Interior 
Isabel Leal 
UIPES, Instituto Superior de Psicologia Aplicada 
Projecto financiado pela Fundação para a Ciência e 
Tecnologia
Sexismo 
Sexismo pode ser encarado como uma 
forma de preconceito que tem por base 
uma atitude negativa inflexível contra as 
mulheres 
(Allport, 1954)
Sexismo Ambivalente 
• Sabe-se hoje que Sexismo é um construto 
multidimensional, caracterizado por: 
– Hostilidade 
– Benevolência (ou Proteção Paternalista) 
• Estas duas formas de preconceito servem como 
mecanismos de manutenção de uma 
desigualdade de género em diferentes 
contextos (Glick & Fiske, 1997; 2001) 
• Da mesma forma, há também preconceito 
sexista ambivalente contra os homens.
Objetivo 
• O presente estudo teve como objetivo 
avaliar as atitudes sexistas numa 
população universitária portuguesa, tendo 
em conta as diferenças de género nos 
níveis de preconceito e a sua relação com 
crenças socialmente convencionais.
Caracterização amostral 
• Participantes recrutados em duas 
universidades: Instituto Superior de Psicologia 
Aplicada e Universidade da Beira Interior 
• 271 estudantes responderam a um questionário 
online 
• Idade: 18 – 52 anos (x=27, dp=8) 
• 69% sexo feminino, 31% sexo masculino 
• 98% heterossexuais, 81% solteiros, 71% 
católicos
Instrumentos 
1) Inventário de Sexismo Ambivalente (ISA; 
Glick & Fiske, 1996) dividido em sexismo hostil 
e sexismo benevolente contra as mulheres; 
2) Inventário de Ambivalência em relação aos 
Homens (IAH; Glick & Fiske, 1999) dividido em 
sexismo hostil e sexismo benevolente contra 
os homens; 
3) Escala de Convencionalismo Social (ECS; 
Costa, Pereira & Leal) que consiste nas 
crenças sobre justiça social e valores sociais 
convencionais.
Resultados (1) 
Quadro 1 - Limite máximo e mínimo, média e desvio padrão nos três 
instrumentos, medidos numa escala Likert de 5 pontos 
ISA IAH ECS 
1.40 - 4.10 1.00 - 3.95 1.30 - 3.80 
2.73 (.54) 2.61 (.57) 2.61 (.54) 
Sexismo hostil Sexismo hostil Justiça Social 
1.11 - 4.33 1.00 - 4.50 1.00 - 3.80 
2.70 (.71) 2.74 (.69) 2.21 (.64) 
Sexismo benevolente Sexismo benevolente Valores sociais 
1.36 - 4.27 1.00 - 4.20 1.00 - 5.00 
2.75 (.63) 2.48 (.68) 3.02 (.77)
Resultados (II) 
Quadro 2 – Correlações entre os Inventários de Sexismo Ambivalente 
e Escala de Convencionalismo Social 
ISA SH SB IAH HH BH ECS JS VS 
ISA --- 
.790 
* 
.825 
* 
.713 
* 
.410 
* 
.783 
* 
.484 
* 
.373 
* .370* 
IAH 
.713 
* 
.448 
* 
.695 
* --- 
.836 
* 
.833 
* 
.441 
* 
.316 
* .357* 
ECS 
.484 
* 
.421 
* 
.364 
* 
.441 
* 
.244 
* 
.494 
* --- 
.711 
* .813* 
* P < .001
Resultados (III) 
Quadro 3 - Diferenças de género nos níveis de sexismo ambivalente e 
de convencionalismo social 
Homens Mulheres 
N=85 N=186 
Sexismo hostil 2.98 (.84) 2.57 (.61) t(269)=4.575* 
Sexismo benevolente 2.90 (.62) 2.68 (.63) t(269)=2.669** 
Hostilidade homens 2.50 (.69) 2.85 (.67) t(269)=4.041* 
Benevolência 
homens 2.69 (.75) 2.38 (.63) t(269)=3.498** 
Justiça social 2.30 (.67) 2.18 (.62) t(269)=1.453 
Valores sociais 3.11 (.90) 2.97 (.70) t(269)=1.330 
*p<.001 
*p<.05
Conclusões 
• Como esperado, o modelo de Sexismo 
Ambivalente proposto por Glick e Fiske (1996; 
1999), assente numa diferenciação entre 
sexismo hostil e sexismo benevolente e 
constante em diferentes culturas, também se 
verificou em Portugal. 
• Os homens revelaram maiores níveis de 
hostilidade e de benevolência em relação às 
mulheres e maiores níveis de benevolência em 
relação aos homens. As mulheres, em 
contraste, revelam maiores níveis de hostilidade 
contra os homens.
Conclusões 
• O sexismo em relação às mulheres é mais 
prevalente em homens, mas as mulheres 
demonstraram hostilidade contra os homens, 
sinalizando uma luta de género presente no 
contexto Português. Esta realidade é ainda mais 
preocupante se for tido em conta a idade jovem 
desta população, que continuará a perpetuar 
estas atitudes no futuro com reflexos directos no 
acesso a oportunidades de emprego, no bem-estar 
e na qualidade de vida de homens e 
mulheres.
Agradeço a sua atenção! 
Para informações sobre o estudo, ou sobre 
a validação das Escalas de Sexismo 
Ambivalente contactar: 
Pedro Alexandre Costa - 
pcosta@ispa.pt

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Convencionalismo e sexismo

  • 1. Convencionalismo e Sexismo numa população universitária Pedro Alexandre Costa UIPES, Instituto Superior de Psicologia Aplicada; Universidade da Beira Interior Henrique Pereira Universidade da Beira Interior Isabel Leal UIPES, Instituto Superior de Psicologia Aplicada Projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia
  • 2. Sexismo Sexismo pode ser encarado como uma forma de preconceito que tem por base uma atitude negativa inflexível contra as mulheres (Allport, 1954)
  • 3. Sexismo Ambivalente • Sabe-se hoje que Sexismo é um construto multidimensional, caracterizado por: – Hostilidade – Benevolência (ou Proteção Paternalista) • Estas duas formas de preconceito servem como mecanismos de manutenção de uma desigualdade de género em diferentes contextos (Glick & Fiske, 1997; 2001) • Da mesma forma, há também preconceito sexista ambivalente contra os homens.
  • 4. Objetivo • O presente estudo teve como objetivo avaliar as atitudes sexistas numa população universitária portuguesa, tendo em conta as diferenças de género nos níveis de preconceito e a sua relação com crenças socialmente convencionais.
  • 5. Caracterização amostral • Participantes recrutados em duas universidades: Instituto Superior de Psicologia Aplicada e Universidade da Beira Interior • 271 estudantes responderam a um questionário online • Idade: 18 – 52 anos (x=27, dp=8) • 69% sexo feminino, 31% sexo masculino • 98% heterossexuais, 81% solteiros, 71% católicos
  • 6. Instrumentos 1) Inventário de Sexismo Ambivalente (ISA; Glick & Fiske, 1996) dividido em sexismo hostil e sexismo benevolente contra as mulheres; 2) Inventário de Ambivalência em relação aos Homens (IAH; Glick & Fiske, 1999) dividido em sexismo hostil e sexismo benevolente contra os homens; 3) Escala de Convencionalismo Social (ECS; Costa, Pereira & Leal) que consiste nas crenças sobre justiça social e valores sociais convencionais.
  • 7. Resultados (1) Quadro 1 - Limite máximo e mínimo, média e desvio padrão nos três instrumentos, medidos numa escala Likert de 5 pontos ISA IAH ECS 1.40 - 4.10 1.00 - 3.95 1.30 - 3.80 2.73 (.54) 2.61 (.57) 2.61 (.54) Sexismo hostil Sexismo hostil Justiça Social 1.11 - 4.33 1.00 - 4.50 1.00 - 3.80 2.70 (.71) 2.74 (.69) 2.21 (.64) Sexismo benevolente Sexismo benevolente Valores sociais 1.36 - 4.27 1.00 - 4.20 1.00 - 5.00 2.75 (.63) 2.48 (.68) 3.02 (.77)
  • 8. Resultados (II) Quadro 2 – Correlações entre os Inventários de Sexismo Ambivalente e Escala de Convencionalismo Social ISA SH SB IAH HH BH ECS JS VS ISA --- .790 * .825 * .713 * .410 * .783 * .484 * .373 * .370* IAH .713 * .448 * .695 * --- .836 * .833 * .441 * .316 * .357* ECS .484 * .421 * .364 * .441 * .244 * .494 * --- .711 * .813* * P < .001
  • 9. Resultados (III) Quadro 3 - Diferenças de género nos níveis de sexismo ambivalente e de convencionalismo social Homens Mulheres N=85 N=186 Sexismo hostil 2.98 (.84) 2.57 (.61) t(269)=4.575* Sexismo benevolente 2.90 (.62) 2.68 (.63) t(269)=2.669** Hostilidade homens 2.50 (.69) 2.85 (.67) t(269)=4.041* Benevolência homens 2.69 (.75) 2.38 (.63) t(269)=3.498** Justiça social 2.30 (.67) 2.18 (.62) t(269)=1.453 Valores sociais 3.11 (.90) 2.97 (.70) t(269)=1.330 *p<.001 *p<.05
  • 10. Conclusões • Como esperado, o modelo de Sexismo Ambivalente proposto por Glick e Fiske (1996; 1999), assente numa diferenciação entre sexismo hostil e sexismo benevolente e constante em diferentes culturas, também se verificou em Portugal. • Os homens revelaram maiores níveis de hostilidade e de benevolência em relação às mulheres e maiores níveis de benevolência em relação aos homens. As mulheres, em contraste, revelam maiores níveis de hostilidade contra os homens.
  • 11. Conclusões • O sexismo em relação às mulheres é mais prevalente em homens, mas as mulheres demonstraram hostilidade contra os homens, sinalizando uma luta de género presente no contexto Português. Esta realidade é ainda mais preocupante se for tido em conta a idade jovem desta população, que continuará a perpetuar estas atitudes no futuro com reflexos directos no acesso a oportunidades de emprego, no bem-estar e na qualidade de vida de homens e mulheres.
  • 12. Agradeço a sua atenção! Para informações sobre o estudo, ou sobre a validação das Escalas de Sexismo Ambivalente contactar: Pedro Alexandre Costa - pcosta@ispa.pt